O Poder do hábito: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios

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O autor do livro é um conhecido jornalista norte americano chamado Charles Duhigg. Com este livro o autor realizou um trabalho jornalístico com centenas de fontes e estudos e através deles demonstra que os hábitos, dos mais simples aos mais complexos, são a base de nossa vida. Ele defende que ao entendermos como os hábitos funcionam, podemos usá-los a nosso favor para atingir os nossos objetivos e obter sucesso na vida.

Duhigg apresenta um conceito chamado de “loop do hábito”, que é composto por três partes: a deixa, a rotina e a recompensa. Ele diz que os hábitos são formados quando a deixa (evento, local ou emoção) desencadeia uma rotina (ou um comportamento diário) a qual gera uma recompensa. Quanto mais repetimos este “loop” mais automatizado e arraigado ele se torna em nosso cérebro.

 

Para a nossa alegria e tranquilidade, Duhigg traz inúmeros exemplos de pessoas que conseguiram mudar seus hábitos e defende que podemos alterar ou mudá-los, mesmo os mais difíceis e prejudiciais, se compreendermos como o “loop” acontece e aplicarmos algumas técnicas de modificação do comportamento como por exemplo o estabelecimento de metas específicas, a visualização e a substituição de hábitos.

Para o autor o hábito nada mais é do que as atividades do dia a dia que executamos de forma automática, sem pensar. Por exemplo, pentear o cabelo, escovar os dentes ou até mesmo o caminho que percorremos para chegar ao trabalho todos os dias. Para ele, nossa mente funciona visando otimizar e acelerar nosso dia a dia. Para isso, automatiza nossas ações e os torna em hábitos para que gaste sua energia e concentração em outras coisas que exigem mais da nossa atenção.

O autor demonstra então como os hábitos são formados e a forma como influenciam positiva e negativamente as nossas vidas. Para isto, recorre a conceitos e explicações de áreas como a psicologia e neurociência. Duhigg então explica o ciclo neurológico do desenvolvimento de um hábito e pontua que a formação dele se estabelece em 3 pilares: a deixa, a rotina e a recompensa.

A Deixa

A deixa é o gatilho, o estímulo antecedente que dispara em seu cérebro para começar uma rotina. Ele pode se apresentar de muitas formas (sentimentos, locais, coisas), desta forma conseguir identificar a deixa é o que faz com que um indivíduo consiga caminhar em direção a mudança. No livro ele cita o seu próprio exemplo quando conta que costumava comer donuts todas as tardes e por isso engordou. Ao analisar o fato, percebeu que fazia isso porque se sentia sozinho e então se dirigia a cafeteria para socializar e conversar, o que culminava no consumo dos donuts. Ao identificar a deixa, passou então a introduzir uma nova rotina que viabilizasse o abandono deste vício em donuts. É preciso entender que o jornalista se sentia recompensado ao conversar com as pessoas e não ao comer e desta forma poderia associar a sua recompensa com algo mais saudável.

A Rotina

A rotina é a atividade que é sempre realizada após a deixa ser ativada. Aqui o autor destaca que para mudar a rotina é preciso identificar o seu gatilho. Sem isso, provavelmente não haverá mudança de rotina.

A Recompensa

A recompensa é o prêmio que você recebe.  Ela naturalmente desperta sentimentos que vão ficar guardados até a próxima vez que o indivíduo se deparar com a deixa. Por isso, o hábito vai se reforçando em um looping infinito.

Ainda sobre o seu hábito de comer os donuts, o autor então observou que: estava engordando devido a comer donuts no meio da tarde. Ele observou que a deixa dele era (sentir-se sozinho no meio da tarde), a rotina (pegar um donuts) e a recompensa (poder conversar com as pessoas que estavam na cafeteria). Ao identificar os três pilares do seu hábito, o autor programou seu alarme do relógio para o horário em que normalmente sentia essa necessidade de conversar com alguém e colocou como meta ir até a mesa de amigo e conversar por 10 minutos. Segundo ele, os primeiros dias foram os mais difíceis e por vezes, ele ignorou o alarme e o plano estabelecido e por consequência terminava comendo o donuts e sentia-se frustrado. No entanto, ao seguir seu plano à risca, finalizava o dia sem comer o donut e satisfeito com seu progresso. Desta forma, com o passar dos dias, o novo comportamento passou a ser automático e ele já nem precisava mais do alarme. Passados seis meses desta nova rotina, relatou que todo dia, por volta das três e meia, levantava de sua mesa, passava dez minutos conversando com algum amigo no escritório e então voltava para sua mesa e isso já acontecia de forma automática e sem que pensasse a respeito. Tornou-se um hábito.

O autor começa então a demonstrar que é extremamente importante criar uma associação entre a deixa e a recompensa. E ressalta que o próprio indivíduo pode criar essa deixa e incorporar em sua rotina hábitos que culminem em algo prazeroso, agindo em seu favor e fugindo das armadilhas da automatização da vida. Desta forma, terá estabelecido uma estratégia para a mudança de hábitos.

Duhigg também aborda em seu livro, o conceito de hábitos angulares (aqueles que influenciam em outras áreas da vida). Por exemplo, a atividade física, que colabora para um bem-estar físico e emocional.

Fica claro no livro que entender a origem de seus hábitos e quais as recompensas que eles envolvem, será uma forma eficiente de desenvolver estratégias que promoverão a mudança de qualquer hábito da sua vida. Vale dizer que alguns serão mais difíceis de serem modificados e a mudança exigirá mais tempo, esforço e dedicação. No entanto, à medida que você entende como um hábito funciona e identifica a deixa, a rotina e a recompensa, você ganha poder sobre ele e porque não dizer que você retoma o controle daquilo que faz todos os dias, sendo mais assertivo e direcionando seus esforços para algo que realmente te trará resultados positivos nas mais diversas áreas da vida.

Referências:

DUHIGG, Charles. O Poder do hábito: porque fazemos o que fazemos na vida e nos negócios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.

 

 

 

 

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A aquisição de um novo hábito requer tempo, força de vontade e repetição

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Criar uma rotina mais saudável, alimentar-se melhor, ter sono de qualidade, cultivar laços sociais positivos, cuidar da mente, fazer uma atividade física, começar um curso novo sempre são metas colocadas no fim de ano para serem realizadas no ano novo que se inicia. As pessoas ficam mais propensas a mudanças de hábitos, o problema é que muitos objetivos ficam, somente, no papel, e o comportamento continua igual ao ano anterior.

O ato de mudar demanda uma quebra de paradigma para que reais transformações aconteçam na rotina do indivíduo. Ou seja, uma mudança de mentalidade que requer esforço para a inserção de novos costumes, para começar o dia com bons hábitos; mesmo encontrando na maioria das vezes dificuldades para a inserção desses novos hábitos, podendo ser vistos como comportamentos governados por regras, que sendo formuladas podem ser mais aceitáveis do que apenas seguidas.

Para muitos, a ideia de introduzir um novo hábito na rotina acaba sendo algo considerado difícil, e muitas das vezes, visto como praticamente impossível. No entanto, é importante lembrar que após o hábito existir, não é possível acabar com ele, e sim modificá-lo, e mudar um velho hábito, que, caso o estímulo para o mesmo volte como era a princípio, esse mesmo hábito ressurgirá imediatamente. Duhigg (2012) ao retratar as ideias de Claude Hopkins certifica que “para mudar um velho hábito, você precisa abordar um anseio antigo. Precisa manter as mesmas deixas e recompensas de antes, e alimentar o anseio inserindo uma nova rotina.”

Fonte: encurtador.com.br/hvwJK

Conforme Covery (2014), a mudança de hábito está relacionada a transformação do caráter, é preciso ser “de dentro para fora” para que realmente exista uma eficácia pessoal e interpessoal. “A abordagem de dentro para fora privilegia um processo contínuo de renovação baseada nas leis naturais que governam o crescimento e o progresso humanos”.

A força de vontade é um pontapé inicial para a formação de novos hábitos, mas para permanecer é preciso consistência e muito esforço diário. As histórias de pessoas bem-sucedidas, que servem de inspiração, ajudam até um certo ponto, pois quando a motivação acaba o que sobra é a disciplina.  Nesse contexto, que Goleman (2005) reforça a ideia de que a inteligência emocional ajuda traçar metas, desenvolver a inteligência intelectual, por meio do gerenciamento das emoções.  Ou seja, a administração das emoções pode ser um meio para a elaboração de novos hábitos, os quais não tenham uma memória volátil, mas sim duradoura.

Caso queira começar sua mudança hoje, segue algumas ideias para a construção de novos hábitos: Primeiramente, não tente mudar de uma só vez, um passo de cada vez, já que seu cérebro está recebendo novos estímulos. Anote tudo em um caderno, mas não o deixe guardado em uma gaveta, deixei- a vista para sempre lembrar de seu objetivo.

Fonte: encurtador.com.br/tCISZ

Uma dica de ouro para uma mudança real, comece a conviver com grupos sociais, os quais já possuem o hábito que deseja adquirir. Por exemplo, se deseja ser um corredor, procure um grupo de corrida. Por fim, mantenha um planejamento de metas, crie boas estratégias elaboradas, mantenha o foco e não desista, é possível mudar.

 

REFERÊNCIAS

Duhigg, Charles. O poder do hábito [recurso eletrônico]: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios / Charles Duhigg ; tradução Rafael Mantovani. – Rio de Janeiro : Objetiva, 2012.

COVEY, Stephen R. Os 7 Hábitos das pessoas altamente eficazes. Rio de Janeiro: Bestseller, 2014.

GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

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O “novo normal”: da experiência à prática do ensino remoto nos últimos anos de formação

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A nova realidade de isolamento social, iniciada em 2020, somente intensificou em minha vida de forma exacerbada a rotina que eu já possuía antes da pandemia, de modo que quase não teve alterações, exceto pelas aulas na modalidade remota.

Apesar de ser pregada como mais flexível e vantajosa para o aprendizado, a realidade se mostrou totalmente destoante da teoria, a “simples” mudança no método de ensino se mostrou desastrosa.  Más conexões, poucos recursos tecnológicos foram os primeiros sinais da dificuldade que seria enfrentada. Posteriormente, a adaptação da rotina para aprender assistir aulas no seio familiar, sendo mãe, se tornou uma tarefa extremamente desafiadora. Por possuir TOC, uma necessidade de organização exacerbada, a “comodidade” do estudo domiciliar resultou no descontrole de toda a rotina de afazeres, tendo em vista o ambiente inadequado corroborado pelas intervenções familiares.

Essa nova realidade, esse “novo normal”, explicitou ainda mais alguns aspectos presentes no país, como a desigualdade social, por exemplo. Como COSTA (2020) expõe, há um despreparo do aluno para as habilidades socioeconômicas, além da inabilidade, a falta de recursos foi escancarada quando observado o equipamento de apoio de alguns ante os demais. No ensino remoto tudo favorece uma boa qualidade de internet, bons equipamentos sonoros, bom maquinário tecnológico, e nem todos o possuem.

Fonte: Figura 2 https://bitlybr.com/GySX

A crise global impactou a vida de todas as pessoas, forçando-as a saírem da zona de conforto no que tange o aprendizado, de modo que foram experimentadas várias reações, positivas e negativas com relação ao atual cenário pandêmico. Muitos tentaram ignorar os avisos e riscos de contaminação, tantos outros buscaram se proteger e se isolaram antes mesmo de serem decretados os lockdowns mundo à fora. Tal situação reforça os ensinos de BAUMAN quando diz que são as reações diante das crises que mudam o mundo, e não o contrário. Eu mesma tive muita dificuldade, como dito, em me adaptar o ensino remoto, não possuía estrutura.

Em virtude do contexto pandêmico, particularidades foram fortalecidas, obrigando-nos, como indivíduos, compostos por papéis sociais, a adquirir e melhorar a capacidade que temos de nos relacionarmos com o outro e superar desafios de maneira saudável e equilibrada, como autoconsciência, estoicismo e capacidade coletiva, além de instituições e de outros arcabouços grupais que estão à frente de novas adaptações, o desafio da normalidade.

Agregado a essas e muitas outras questões, foi possível distinguir dois caminhos a seguir: um deles passei a chamar de “caminho simples”, e outro seria o “caminho complexo”. No primeiro, tive que aprender me adaptar com o ensino à distância, buscando agir com proficiência, para caracterizar a minha realidade social com a de todos e derivar do conhecimento e da tecnologia disponível com a qual precisei lidar, resumidamente precisei tornar aquela situação em algo habitual. No segundo, o mais complexo, tive que ressignificar assim como muitos o meu saber fazer, meu saber querer e meu saber agir, em prol de um bem maior que visa garantir a preservação da vida de um modo geral.

Fonte: encurtador.com.br/ptDV2

Não posso deixar de enfatizar, que com a modalidade do ensino online/remoto perdi o limite do que é momento de descanso e o que é momento de trabalho, estou o tempo inteiro conectada, com o corpo estático, sentada à frente de uma tela, com fones de ouvido durante muitas horas o que ajudou a me sobrecarregar, tornando-me ainda mais ansiosa e com menos disposição do que com a agitação de antes.

Por outro lado, o que de fato tive que deixar de planejar durante esses quase dois anos de pandemia? Mais uma vez, àquela tão sonhada viagem de férias ficou ao léu, os encontros aos finais de semana com amigos e familiares no almoço de domingo ou datas festivas, os passeios, as compras, o convívio diário com pessoas diferentes, o tato, o abraço, o olhar daquelas (es) que não contactamos todos os dias foram ficando cada vez mais escassos, deixando em nós um vazio pela perda desses momentos e ao mesmo tempo um alívio por saber que havia um motivo de força maior por traz de todo esse mal que assola a humanidade.

No que concerne à minha formação acadêmica, às mudanças não foram bruscas, tendo em vista que antes mesmo de surgir esse vírus (Covid-19), eu já tinha uma vida isolada, num ritmo desacelerado e pacato. E, que, só precisei me adaptar à nova modalidade de ensino, me familiarizar com o processo, num ritmo totalmente diferente do normal por englobar não só os aspectos educacionais, familiares etc., o que não significa que não houve desgaste e frustrações ao longo desse período que se aliou a problemas advindos de outrora e até atuais, em que se tornou apenas a ponta do iceberg para desencadeamento de transtorno relacionado às incertezas do futuro.

Por fim, o último ano de curso posso afirmar que veio carregado de novas formas de conhecimento, novas formas de agir, novos processamentos, ensinando-nos a lidar com o novo, não se limitando apenas ao atendimento físico, mas também digital como o online (mesmo sabendo que já existia) se fortalecendo e mostrando cada vez mais a necessidade de um profissional de psicologia que busque garantir a saúde mental e o bem-estar dos indivíduos, independentemente do momento de crise.

REFERÊNCIAS

BLIKSTEIN, Paulo; CAMPOS, Fabio; FERNANDEZ, Cassia; MACEDO, Livia, COELHO, Raquel; CARNAÚBA, Fernando; e, HOCHGREB-HÄGELE, Tatiana. Como estudar em tempos de pandemia. Revista Época. Disponível em: < https://oglobo.globo.com/epoca/como-estudar-em-tempos-de-pandemia-24318249>. Publicado em 22/03/2020. Acesso em 15/08/2021.

MÜLLER, Cristiane Dreher. Impactos da pandemia de Covid-19 na educação brasileira. Escritório Dreher. Disponível em: < https://escritoriodreher.com.br/impactos-da-pandemia-de-covid-19-na-educacao-brasileira/>. Acesso em 15/08/2021.

PRADO, Adriana. Sociólogo polonês cria tese para justificar atual paranoia contra a violência e a instabilidade dos relacionamentos amorosos. Revista Istoé. Disponível em: < https://istoe.com.br/102755_VIVEMOS+TEMPOS+LIQUIDOS+NADA+E+PARA+DURAR+/>. Acesso em 15/08/2021.

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David Hume: o hábito como máxima

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Iremos abordar as principais ideias e estudos do importante filósofo escocês, historiador e empirista David Hume, que nasceu em Edimburgo, no ano de 1711. Hume foi conhecido por aplicar o padrão de que não há ideias inatas e que todo o conhecimento vem da experiência que nos permite saber sobre causa e efeito. Um dos principais objetivos do filósofo é o de encontrar limites do conhecimento humano, que para ele irão se revelar através das experiências, logo, passando a ter lugar central na filosofia do século XVIII.

Hume aponta para um novo cenário de pensamento ao introduzir os métodos experimentais aos fenômenos mentais. Para ele, todo o nosso conhecimento de mundo e o nosso processo de conhecimento se dão pelas percepções ou pelas ideias formadas por elas, baseando parte dos nossos raciocínios em acontecimentos que nossa experiência define como “prováveis”. Assim, ele diz que determinadas conclusões que chegamos sobre o mundo e as coisas não são fundamentadas na razão, mas, fundamentadas numa crença que obtemos pela regularidade com que as nossas experiências se repetem se tornando um hábito, um costume. As percepções são definidas como fenômenos que se dão pela mente através das sensações internas ou externas, garantindo assim a existência do objeto, logo que, ele só é percebido quando existe. Ele as subdivide em duas classes: impressões e ideias.

Fonte: http://zip.net

Segundo Hume (1992) as impressões caracterizam as percepções atuais que temos das coisas, as sensações vividas e fortes advindas de tal experiência. Segundo Hume, as impressões são “nossas percepções mais vividas, sempre que ouvimos, ou vemos, ou sentimos, ou amamos, ou odiamos, ou desejamos, ou exercemos nossa vontade”. As ideias são caracterizadas como mais fracas e menos vivas, pois são consideradas cópias das impressões, tendo elas como base e origem. Para o filósofo, essa diferenciação entre impressões e ideias está relacionada entre o sentir e o pensar.

Hume, assim, foi um filósofo que soube explicar os problemas que se referem à natureza e limites do entendimento humano. Suas opiniões exercem influência na atualidade; problemas filosóficos difíceis e de profundidade foram expostos por ele de maneira clara e objetiva, exercendo fascínio, contagiando outros filósofos importantes. O empirismo pregado por Hume (1992) termina por alcançar sua obra, tornando assim uma Filosofia proclamada ceticista; a ciência fundamente-se caprichosamente de certas teorias tais como: o costume, o hábito, a associação de ideias, partindo do pressuposto de que qualquer coisa ou algo seja do jeito que é, por que acreditamos que é assim mesmo; exatamente partindo da ideia do costume e do hábito, das associações das ideias.

Contudo a dimensão ontológica de conceitos como substância e existência, na teoria proposta pela filosofia ceticista de Hume, em análise, ousamos pensar que perderam o sentido evaporando em simples, puras, e meras sensações. Apontando sempre para a razão, como fonte inquietante e agitada, mesmo diante de absurdos e proposições formuladas em qualquer época ou por qualquer Nação.

Fonte: http://zip.net

Para Matos (2007, vol.5, p.5), Hume define uma parte crucial dos processos cognitivos do ser humano em termos da relação deste com o ambiente, no qual, para ele, as crenças causais produzidas pelo hábito possuem um papel na sobrevivência e bem estar de seu portador. Marcondes (1997) sustenta a tese de que por força do hábito, acabamos com regularidade e mesmo por repetição projetando em nossa realidade, algo como se de fato existisse. Portanto, a causalidade seria tão somente uma maneira própria de percebermos o que é real, negando causalidade como parte do que seja naturalmente do mundo.

Era considerado por muitos como cético, porém seu pensamento indica nesse sentido ser descrito como naturalismo, por assim deixar claro que os impulsos humanos naturais, seria apenas uma maneira de descrever o conhecimento e não fundamentá-los; ressaltando ainda que sob essa ótica de Hume, tanto o ceticismo quanto o naturalismo andam de certa forma em compatibilidade, em consonância.

Hume reconheceu que a ciência está repleta de informações sobre o mundo, minunciosamente e detalhadas; para ele, essa mesma ciência está carregada com teorias, contudo nunca produzirá uma “lei da natureza” (HUME, 2011, p. 153). Com isso, o autor apresenta fortes convicções contra o racionalismo, afirmando que é a crença que está no centro de nosso desejo de ter o conhecimento, negando assim a supremacia da razão, e o hábito sim, seria o nosso guia para tais pretensões.

Fonte: http://zip.net

Assim o hábito funciona como um guia, se não existe uma justificativa digamos racional para uma posição indutiva, no caso o hábito poderia ser uma excelente guia, um direcionamento. Nesse ponto, o autor demonstra a sua preocupação ao adquirirmos tal “hábito mental”, sendo que a precaução se torna importante em sua aplicação; considerando-se que ao medirmos a causa e o efeito ocorridos nesses dois eventos, obviamente que a comprovação de sucessivos acontecimentos acorridos outrora, a julgar que são imutáveis e regularmente em sintonia entre os mesmos. Portanto, o hábito como um guia, nada mais é que a previsibilidade de que todo e qualquer acontecimento ocorrido no passado, invariavelmente acontecerá novamente, por outro lado, a causa de um não será necessariamente do outro, ainda que ambos devam estar em contato entre si.

 Vejo o sol nascer toda manhã. Adquiro o hábito de esperar o sol nascer toda manhã. Aprimoro isso no julgamento “o sol nasce toda manhã”. O julgamento não pode ser empírico porque não posso observar o nascer futuro do sol. Esse julgamento não pode ser uma verdade de lógica, pois é concebível que o sol não nasça (ainda que altamente improvável). Não tenho fundamento racional para minha crença, mas o hábito me diz que ela é provável. O hábito é o grande guia da vida. (HUME, 2011, p. 151). A filosofia defendida por David Hume assume inquietantes conclusões, posicionando nossas crenças de certa forma niveladas ao pensamento lógico, científico e conseguinte pela própria natureza das coisas do mundo. 

Fonte: http://zip.net/bgtHLz

Segundo Matos (2007) o pensamento de Hume se constitui a partir de como a natureza humana se relaciona com outras formas existentes da natureza, com outros humanos em particular, mas no geral com todo o ambiente, não incluindo apenas os seres vivos, mas bem como o próprio meio e suas condições. Essa relação, intermediada pela ultimação que o hábito leva o ser humano a compreender, aparece na forma de uma correspondência, ou harmonia, entre o ambiente e o comportamento do indivíduo que o conhece.

De acordo com Hume, tudo o que conhecemos tem por base as nossas experiências. Por isso, ele afirma que algumas conclusões que chegamos sobre o mundo e as coisas não tem por base a razão, mas o hábito. O hábito no empirismo humano é um princípio que opera sobre a imaginação, que contribui para entender os objetos conforme eles surgem na mente humana para formar ideias vivas e intensas. Portanto, o hábito auxiliará a mente com relação às concepções ao que se pode esperar do futuro. O hábito é uma disposição inata, uma espécie de instinto natural que nenhum raciocínio pode produzir ou evitar. Como é possível observar neste parágrafo:

Este outro princípio que leva a mente a fazer estas inferências causais sem estarem embasadas na observação e na experiência, é o costume (hábito). O hábito é tudo o que vem de uma repetição passada, sem acrescentar novo raciocínio ou conclusão, e nele toda crença humana se origina. Ele é um princípio de associação que não depende do raciocínio, tendo origem em experiências passadas de associação de impressões que tendem a se repetir, é um instinto que a natureza colocou no homem. É devido a este princípio que “a partir da simples sucessão conjugada, nós inferimos o nexo necessário” (COMTE, 2010, p. 220).

O fato de vermos regularmente uma relação entre A e B, por exemplo, faz com que sempre que vemos A, lembremo-nos de B. Além disso, o que é possível conhecer é fundamentado em relações de causa, ou seja, na causalidade; que é a ideia segundo a qual todo efeito deve ter uma causa. Sendo assim, este conhecimento é baseado na crença que adquirimos pela regularidade com que as nossas experiências se repetem, produzindo o hábito. Assim, é possível dizer que para Hume a mente humana mente é um grande acervo de percepções, pois todas as nossas ideias têm origem na impressão sensível; e que não estamos diante de uma conexão necessária na relação entre causa e efeito, mas diante de uma associação baseada na regularidade de eventos que ocorrem na experiência.

Fonte: http://zip.net/bptJrc

O hábito é também visto como um instrumento de sobrevivência, algo que está de acordo com sabedora da natureza e dele derivam os efeitos de causa. Estes efeitos ou inferências causais têm como estrutura instintos advindos da sabedoria da natureza. É necessário agir para sobreviver e ter instintivos para poder agir é fundamental. Sendo assim, evidencia-se que por através do hábito, a natureza impele o homem à ação.

Em sua teoria, Hume ao tratar a indução de maneira filosófica termina por abalar de certa forma, as estruturas do racionalismo, exatamente por ampliar a importância do papel do hábito sobre a crença e sobre a vida de todos nós.  Explanando sobre tema controverso, da indução, Hume acaba por influenciar outros pensadores que assim darão continuidade e sustentação da sua teoria: Kant que anunciou um despertar de dogmas, ao ler tais conclusões; e Karl Popper que assume a indução de Hume como uma certeza. Por conseguinte, a crença não poderá ser racionalizada, não será fundamentada, contudo sendo o hábito um bom e grande guia, tornarão prováveis e possíveis às evidências. Para Hume, o homem sábio regula o que acredita com o fundamento, ainda quando improvável.

REFERÊNCIAS:

ARANHA, M. L. de A. e MARTINS, M. H. P. Filosofando – Introdução à Filosofia. São Paulo, Ed. Moderna, 1993.

BERKELEY. G. e HUME, D. Os Pensadores – Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano: Tradução:  Antônio Sergio…[et al]. São Paulo, Nova Cultural, 1992.

CABRAL, C. A. Filosofia. São Paulo, Editora Pillares, 2006

MAGEE, B. História da Filosofia. São Paulo, Edições Loyola, 1999.

MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: Dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 1997.

MATOS, J. C. M. Instinto e razão na natureza humana, segundo Hume e Darwin. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662007000300002. Acesso em: 2007. Vol. 05.

O Livro da Filosofia. Tradução: Douglas Kim. São Paulo, Globo, 2011.

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O hábito como guia da vida

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O texto “O hábito é o grande guia da vida humana” aborda alguns conceitos de David Hume (1711-1776) sobre o Empirismo. Hume afirma que nem tudo pode ser explicado pela razão e possui um olhar crítico sobre o racionalismo. Segundo ele existem dois tipos de raciocínios que são denominados como o “dilema de Hume”: o demonstrativo e o provável, onde o raciocínio demonstrativo é considerado evidente, por olharmos e termos a certeza do resultado, e o raciocínio provável exige uma evidência empírica, ou seja, uma busca por aquele resultado. Para Hume esses raciocínios são considerados hábitos construídos pelo homem ao longo da sua vida, como por exemplo, todos sabem que amanhã o sol irá nascer novamente, isso é consequência do condicionamento que nos faz acreditar que todos os dias serão iguais.

No livro “Sobre Comportamento e Cognição”, de Júlio C. de Rose fala sobre o comportamento humano com base no Behaviorismo de B.F. Skinner; o autor divide o comportamento em operante e respondente. O comportamento respondente pode ter respostas condicionadas, referentes a acontecimentos e experiências anteriores, por exemplo, ao sentir o cheiro do limão ou ouvir a palavra limão já causa uma salivação, resposta de estímulos antecedentes. Essa resposta se dá pelo fato do indivíduo já conhecer o limão e lembrar-se do seu gosto forte. Isso se assemelha a teoria de Hume sobre o raciocínio demonstrativo.

O comportamento operante se conceitua como ‘operador do ambiente’, onde não existem relações com estímulos anteriores. Segundo Skinner o comportamento altera o ambiente e a partir dessas alterações, causa a mudança no comportamento do indivíduo. Como dirigir, falar ou andar é preciso ter um aprendizado para que chegue até o resultado. Esse comportamento é semelhante ao raciocínio provável de David Hume.

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Fonte: http://migre.me/vrE2k

David Hume na sua teoria, ressaltada no texto “o hábito é o grande guia da vida humana”, na introdução vem tratar do dilema de Hume que argumentou energicamente contra a noção de “ideias inatas”, princípio central do racionalismo. Ele fez primeiramente ao dividir o conteúdo da mente em dois tipos de fenômenos e, depois, perguntando como eles se relacionam com o outro. O problema para Hume, é que muito frequentemente temos ideias que não podem ser sustentadas por nossas impressões. Há hábito mental que interpreta uniformidade na repetição regular, assim como uma conexão causal naquilo que ele chamou de “conjunção constante” de eventos.

William M. Baum em seu livro “Compreendendo o Behaviorismo” aponta no vocabulário técnico da análise do comportamento que a observação científica consiste na formação de discriminações. Uma das atividades mais básicas da ciência é a identificação. O astrônomo olha para a estrela e diz, – aquela é uma gigante vermelha. O biólogo olha para uma estrutura em um corpo celular e diz, – isso é uma mitocôndria.

Da mesma forma a mensuração consiste em dizer ou escrever algo (comportamento operante), e como resultado de olhar algum instrumento (estímulo discriminativo). Essas discriminações compartilham um aspecto peculiar: o cientista não apenas faz descriminações baseadas nas formas, na leitura do contador ou no padrão de números, mas também se comporta de forma a produzir o estímulo discriminativo. Os cientistas são particularmente gratificados pela formação de novas discriminações que são chamadas de descobertas.

Em sentido geral contingência pode significar qualquer relação de dependência entre eventos ambientais ou entre eventos comportamentais (SOUZA D.G, 1995). Por exemplo, podemos ver o nascer do sol toda manhã e inferir que ele nascerá novamente amanhã. Mas a alegação de que a natureza segue esse padrão uniforme é justificável? Alegar que o sol nasce amanhã é um raciocínio demonstrativo (porque o oposto não envolve contradição lógica) nem um raciocínio provável, porque não podemos experimentar já o futuro nascer do sol. Uma relação de dependência não existe quando alguém abre a janela e um relâmpago corta o espaço. Os dois eventos podem ocorrer temporalmente próximos, mas de modos totalmente independentes: o relâmpago teria ocorrido quer abrisse ou não a janela (SOUZA D.G, 1995).

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Fonte: http://migre.me/vrCJw

Hume explicou isso simplesmente como “natureza humana”, um hábito mental que interpreta uniformidade na repetição regular, assim como uma conexão casual naquilo que ele chamou de “conjunção constante” de eventos. Na realidade esse tipo de raciocínio indutivo, que é à base da ciência, nos instiga a interpretar nossas inferências como “lei” da natureza. Mas apesar do que possamos pensar essa prática não pode ser justificado pelo argumento racional.

Uma formulação adequada da interação entre um organismo e seu ambiente deve-se especificar três coisas: (1) a ocasião em que a resposta ocorre; (2) a própria resposta e (3) a consequência os reforçadores. As inter-relações entre elas são as contingências de reforço. (SKINNER, 1953, p.5 apud SOUZA D.G, 1995).

Todorav (2007) no seu artigo “A psicologia como estudo das interações”, vem trazer a interação entre o organismo e o ambiente como possível caracterização do objeto de estudo da psicologia, tendo o ser humano como centro de investigações, a partir dos aspectos da análise do comportamento.

O homem é um ser em ação que interfere e é influenciado pelo contexto que faz parte. Essa dinâmica molda o comportamento do sujeito de acordo com as experiências vividas e adquiridas ao decorrer da sua história pessoal com o mundo. Neste sentido, na teoria de David Hume, em relação à interação do sujeito com o meio, é explicito quando ele questiona que nem tudo pode ser explicado pela racionalização, pois existem ações que não podem ser justificadas de forma lógica, mas se sabem que acontecem chamado essas inferências de hábitos/crenças que vão sendo construídos ao logo da história.

De acordo com Todorav (2007, p.57), “em todas as orientações da psicologia, a história passada de interações organismos-ambiente tem um papel essencial na explicação de interações presentes… presume-se que o organismo age agora não apenas em função de ambientes externos presentes”, ou seja, o ser humano é persuadido por evidências passadas que interferem no seu comportamento atual. Sendo que para compreender o seu comportamento, é importante considerar a constituição do organismo pela interação entre o ambiente externo (físico e social) e o ambiente interno (biológico e histórico).

Antes mesmo da existência da análise do comportamento e questões voltadas para as interações organismo-ambiente, Hume com a sua filosofia já ressaltava que o homem tem a capacidade de observar padrões constantes e inferir que estes acontecimentos ocorreram novamente no futuro. Este raciocínio indutivo estar relacionado com a competência do homem de coligir ações a partir de proeminências do passado.

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Fonte: http://migre.me/vrDc8

Nesse seguimento, Hume com seu dilema a respeito da racionalização, adverte que muitas coisas não podem ser explicadas pelo raciocínio demonstrativo – onde a verdade e a falsidade são auto-evidentes – e nem pelo raciocínio prováveis – evidências empíricas -, assim na ausência destas explicações racional, o hábito, a causa e efeito são respostas, que vão sendo condicionadas no decorrer da vida e que mostra que amanhã certas coisas serão simplesmente as mesmas, como o nascer do sol. Por isso Hume afirma que “o habito é o grande guia da vida”.

Após a leitura dos textos pode-se inferir que o comportamento humano pode ser explicado de diversas maneiras, tendo em vista que Hume traz de forma considerável os conceitos de dois tipos de raciocínios que são o raciocínio demonstrativo que é considerado evidente, por olharmos e termos a certeza do resultado, e o raciocínio provável que exige uma evidência empírica, ou seja, uma busca por aquele resultado.

Em seguida Skinner traz em sua Teoria a interação entre o organismo e o ambiente, ou seja, que através de estímulos externos o comportamento é representado.  O sujeito é moldado pelo contexto em que está inserida, sua história de vida e sua relação com o mundo. Todorav (2007) traz uma rica contribuição explicando que o ser humano é persuadido por evidências passadas que interferem no seu comportamento atual. Pois para compreender o comportamento do sujeito, é importante considerar a constituição do organismo pela interação entre o ambiente externo (físico e social) e o ambiente interno (biológico e histórico).

 

REFERÊNCIAS:

BANACO, R. A. (Org.). O que e comportamento?. Sobre comportamento e cognição. v.1. p. 79-81, 1995. São Paulo: Arbytes.

BAUM, W. M (1999). Compreender o Behaviorismo. Porto Alegre. Art Med, p. 125-153.

TODOROV, João Cláudio. A psicologia como estudo de interações. Psicologia: Teoria e pesquisa, Brasília, v. 23. p. 57. 61, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v23nspe/10.pdf>. Acesso em: 06 set 2016.

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