Startup contribui para educação mais acessível à estudantes neurodivergentes

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14 de abril – Dia Nacional da Luta pela Educação Inclusiva | Vencedora do Prêmio Nacional de Gestão Educacional – PNGE 2025, a plataforma Prova Adaptada permite aos educadores remodelar as avaliações e atividades didáticas dos professores para diferentes perfis de atípicos

Com o objetivo de promover a equidade no ambiente educacional, a plataforma Prova Adaptada, uma solução disruptiva 100% nacional, tem se destacado como uma importante aliada de escolas e educadores no processo de adaptação pedagógica para estudantes com diferentes perfis neurodivergentes.

Desenvolvida por uma equipe multidisciplinar sob a liderança da Professora Regiane Fagotto (Pedagoga e Fonoaudióloga), e composta por especialistas em educação inclusiva e profissionais experientes de tecnologia da informação, a plataforma permite, em poucos segundos, a personalização de avaliações e atividades didáticas autorais de acordo com as necessidades específicas de estudantes com Dislexia, Baixa visão, Discalculia, Altas Habilidades/Superdotação, Transtorno do Espectro Autista (TEA), e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Comandada  pelos empreendedores Cadu Arruda e Fabio Tavares, a startup Prova Adaptada tem como missão apoiar a construção de um modelo educacional mais inclusivo, por meio da aplicação de tecnologia acessível e eficaz. Desde o seu lançamento, em agosto de 2024, a plataforma já está presente em centenas de instituições de ensino privadas em todo o país, impactando diretamente mais de 10 mil alunos da educação infantil ao ensino médio. Recentemente, iniciou também sua expansão para a rede pública de ensino.

A meta da empresa é alcançar mais de mil escolas parceiras até o final de 2025. Esse avanço foi reconhecido nacionalmente com a conquista do Prêmio Nacional de Gestão Educacional – PNGE 2025, concedido pelo GEduc, considerado o “Oscar” da Educação pelo setor educacional no Brasil.

Segundo dados do Ministério da Saúde (2022), cerca de 7,6% dos jovens brasileiros entre 6 e 17 anos apresentam TDAH, enquanto o Censo Escolar 2023 aponta mais de 600 mil estudantes diagnosticados com TEA. Ao todo, estima-se que existam aproximadamente 7 milhões de estudantes neurodivergentes no país, que necessitam de abordagens educacionais específicas e atividades adaptadas.

Apesar das exigências legais que estabelecem a obrigatoriedade de profissionais especializados e de um Plano Educacional Individualizado (PEI) para cada aluno com necessidades específicas, o Censo Escolar 2023, do Ministério da Educação, revela que apenas 12% dos professores possuem a formação adequada, e cerca de 85% das escolas públicas ainda não implementaram o PEI.

A Prova Adaptada surge, portanto, como uma solução estratégica e escalável, alinhada às diretrizes de inclusão e aos compromissos institucionais com a educação de qualidade para todos. O principal objetivo da plataforma é não deixar nenhum aluno para trás.

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Desvendando a diferenciação na sala de aula: estratégias para a Prática Pedagógica Inclusiva

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A diferenciação é uma abordagem proativa para ajustes no conteúdo, processo ou produto de aprendizagem dos alunos.

Débora Gerbase – Professora e Autora de livros missgerbase@gmail.com – @deboragerbase

A diferenciação pedagógica, ainda que teoricamente simples, e que promove um ambiente inclusivo em uma sala de aula diversa, desafia educadores que, infelizmente, ainda não sabem como implementá-la de uma maneira eficaz suas práticas de ensino. Compreender e aplicar a diferenciação embora seja desafiador, é inegável que ela gera um impacto positivo na aprendizagem dos alunos. Apesar das barreiras enfrentadas, a prática constante e a dedicação são cruciais para superar os desafios e colher os frutos que a diferenciação produz na aprendizagem dos alunos.

Sabemos da importância, na sociedade contemporânea, da valorização das diferenças nas nossas práticas pedagógicas principalmente no contexto educacional atual. É de extrema importância atender às necessidades individuais dos alunos em uma sociedade em constante transformação. Ao nos depararmos com uma sala de aula diversa, com alunos com deficiências ou altas habilidades, a adaptação das aulas torna-se imperativa. Contudo, a implementação dessas adaptações, denominadas diferenciação, é frequentemente percebida como uma tarefa complexa e que causa muita angústia e confusão nos educadores.

O que é diferenciação?

Tomlinson (2015) nos ensina que a diferenciação é uma abordagem proativa para ajustes no conteúdo, processo ou produto de aprendizagem dos alunos. Tomlinson e Imbeau (2011) oferecem insights valiosos, esclarecendo que diferenciação não é um acréscimo ao planejamento regular, mas uma abordagem intrínseca à instrução. O planejamento diferenciado considera as diferenças de prontidão, interesse e perfil de aprendizado dos alunos, oferecendo caminhos diversos para atingir padrões compartilhados.

Quais estratégias de diferenciação podem ser utilizadas?

 Conforme Tomlinson (2014), elas podem acontecer na:

     Diferenciação no Conteúdo – Ajustando a complexidade das atividades para atender às necessidades individuais;

  1.     Diferenciação no Processo – Disponibilizando uma variedade de estratégias e materiais que contemplam diferentes estilos de aprendizagem;
  2.     Diferenciação no Produto – Permitindo diferentes formas de apresentação (oral, escrita, visual);
  3.     Diferenciação no Ambiente de Aprendizagem – Configurando e organizado visualmente o espaço para conforto e confiança.

 Entretanto, apesar dos benefícios da implementação da diferenciação nas práticas pedagógicas, algumas barreiras ainda precisam ser superadas. Educadores frequentemente apontam algumas dificuldades que não permitem que a diferenciação aconteça adequadamente, como:

  •         Ansiedade do Professor: A ansiedade em relação à implementação da diferenciação é uma barreira comum. Promover o conhecimento aos professores sobre a natureza flexível e adaptativa da diferenciação pode ajudar a reduzir esse receio.
  •         Falta de Recursos Adequados: Muitos educadores se veem limitados por uma falta de recursos, sejam eles materiais ou tempo. Explorar opções criativas e integrar a diferenciação ao planejamento regular pode superar essa barreira.
  •         Treinamento Insuficiente: A falta de treinamento específico em diferenciação é um desafio real. Investir em desenvolvimento profissional contínuo pode capacitar os professores a aplicarem estratégias diferenciadas com confiança.

 Estratégias para superar desafios

 Estimular a colaboração entre professores pode ser um catalisador poderoso para a implementação bem-sucedida da diferenciação. Compartilhar experiências, estratégias e recursos pode enriquecer a prática de todos. Reconhecendo que a diferenciação é uma jornada, os professores podem começar com adaptações simples e progredir gradualmente. Isso reduz a pressão inicial e permite uma transição mais suave.

 Além do que já foi dito, implementar um ciclo contínuo de avaliação e ajuste é fundamental. Wormeli (2017) destaca a importância de ajustar as estratégias avaliativas para refletir a diversidade de estilos de aprendizagem, níveis de prontidão e interesses dos alunos. Ao diferenciar a avaliação, os professores podem verdadeiramente capturar o progresso individual, indo além de uma abordagem única para todos.

 A complexidade da diferenciação pedagógica, apesar de sua simplicidade teórica, desafia muitos educadores que se deparam com a necessidade de promover um ambiente inclusivo. Ela não é apenas uma estratégia; é uma filosofia que reconhece e celebra a diversidade na sala de aula. No contexto educacional que está em constante transformação, compreender sua importância e implementá-la eficazmente requer um comprometimento contínuo por parte dos educadores. Ao desvendar os princípios e estratégias da diferenciação, os professores estarão mais bem equipados para criar ambientes de aprendizagem que atendam verdadeiramente às necessidades individuais de cada aluno.

 Maiores informações sobre como implementar a diferenciação em sala de aula podem ser encontradas no livro “A realidade diversa na sala de aula: como lidar com a inclusão e a educação socioemocional na escola”, no primeiro capítulo intitulado: A diferenciação na sala de aula diversa, escrito por mim.

Biografia:

 Débora Gerbase é uma professora e tradutora que atua nas áreas de inglês, português e português para estrangeiros. Atualmente, reside em São Paulo, onde concluiu sua formação em Letras – Tradução e Pedagogia e, posteriormente, obteve pós-graduação em Psicopedagogia e Formação de Docentes para o Ensino Superior.

Além de seu trabalho como educadora, Débora é autora dos livros “Sem pé nem cabeça – Expressões idiomáticas em português” e “Manual de Sobrevivência para o Professor Esgotado”, e coordenadora e coautora do livro “A realidade diversa na sala de aula: como lidar com a inclusão e a educação Socioemocional nas escolas” e coautora do livro “Alfabetização Bilíngue: benefícios e mitos na formação de crianças bilíngues”. Tem paixão pelo ensino e aprendizagem, bem como por seu compromisso com o sucesso de seus alunos.

Referências:

 Tomlinson, C. A. The differentiated classroom: Responding to the needs of all learners. ASCD, 2014.

Tomlinson, C. A. “What Is Differentiated Instruction?” Reading Rockets, 2015. Disponível em: https://www.readingrockets.org/article/what-differentiated-instruction. Acesso em 03 de março de 2023.

Tomlinson, C. A. e Imbeau M. B. Managing a differentiated classroom: a practical guide. Scholastic, 2011.

Wormeli, R. “Fair Isn’t Always Equal: Assessing and Grading in the Differentiated Classroom.” ASCD, 2017.

 

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A inclusão do aluno autista no Ensino Superior Brasileiro

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Como o Brasil está promovendo a inclusão educacional no ensino superior para alunos com Transtorno do Espectro Autista, garantindo igualdade de oportunidades e acessibilidade conforme as diretrizes internacionais?

A inclusão educacional tem sido uma pauta essencial nas políticas públicas de educação no Brasil, em consonância com as diretrizes internacionais de educação inclusiva. O acesso ao ensino superior por alunos com deficiências, transtornos e condições atípicas, como o autismo, é garantido pela legislação brasileira, que preconiza a igualdade de oportunidades e a oferta de recursos de acessibilidade para atender as necessidades específicas de cada estudante.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um dos transtornos do desenvolvimento e é caracterizado por déficits na interação social recíproca e comunicação, bem como por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. O TEA é considerado um espectro porque engloba uma ampla gama de sintomas e níveis de gravidade, variando desde formas mais leves até formas mais severas (Dos Santos, Ferreira & Ferreira, 2019).

Geralt/Pixabay

Inclusão no ambiente acadêmico

O TEA é classificado como um transtorno do desenvolvimento devido aos seus efeitos nas áreas-chave do desenvolvimento infantil. As dificuldades de interação social e comunicação podem impactar o desenvolvimento de habilidades sociais, linguísticas e emocionais, que são essenciais para o crescimento saudável e para o funcionamento adequado em diferentes contextos, como na escola, em casa e na comunidade (Associação Americana de Psicologia, 2013).

No âmbito educacional, alguns dos desafios comuns que os alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem enfrentar na escola incluem dificuldades na interação social e nas habilidades de comunicação. Eles podem ter dificuldade em estabelecer e manter relacionamentos com colegas, interpretar pistas sociais sutis e compreender regras sociais não escritas. A comunicação pode ser um desafio, tanto na expressão quanto na compreensão verbal e não verbal. Isso pode afetar sua capacidade de se expressar, seguir instruções verbais e participar de discussões em sala de aula (Carvalho, 2022).

Nos últimos anos, tem-se observado um progressivo aumento na presença de alunos autistas no ensino superior brasileiro. Esse crescimento pode ser atribuído a uma maior conscientização sobre a importância da inclusão, bem como ao acesso a programas e políticas de suporte educacional (Aguilar & Rauli, 2020; Dos Santos et al, 2020; Shibuta & da Costa, 2021).

As instituições de ensino superior têm buscado adaptar-se para acolher esses estudantes, oferecendo recursos de acessibilidade, formação para professores e equipes multidisciplinares para auxiliar na integração e no desenvolvimento acadêmico e social dos alunos autistas. Contudo, embora existam avanços nesse contexto, a efetivação da inclusão no ensino superior demanda a superação de barreiras que ainda persistem (Barbosa & Gomes, 2019).

A inclusão do aluno autista no ensino superior brasileiro ainda enfrenta desafios significativos. Questões relacionadas à infraestrutura, formação docente, conscientização da comunidade acadêmica e adaptação curricular demandam atenção contínua. Além disso, é essencial fortalecer a cooperação entre instituições de ensino, pesquisadores e órgãos governamentais para aprimorar políticas inclusivas e favorecer a inserção plena do aluno autista no contexto universitário (Nascimento, Kador & Teixeira, 2022).

A inclusão do aluno autista no ensino superior brasileiro é um tema de relevância crescente, mas ainda enfrenta desafios significativos. A maioria das pesquisas existentes concentra-se na educação básica, revelando uma lacuna significativa na literatura acadêmica referente à inclusão de estudantes autistas no ensino superior brasileiro.

As evidências disponíveis indicam que as metodologias ativas podem ser ferramentas valiosas para a inclusão do aluno autista, pois se fundamentam em abordagens pedagógicas participativas e colaborativas, proporcionando maior interação e engajamento entre docentes e discentes. No entanto, a escassez de estudos direcionados ao contexto do ensino superior brasileiro dificulta a compreensão abrangente dos desafios específicos que esses alunos enfrentam nesse nível educacional.

As lacunas encontradas nesta revisão narrativa sugerem a necessidade urgente de pesquisas mais aprofundadas e específicas sobre a inclusão do aluno autista no ensino superior. É essencial que pesquisadores e educadores direcionem seus esforços para investigar os fatores que impactam o acesso e o desempenho acadêmico de estudantes autistas nesse contexto. Além disso, estudos longitudinais que acompanhem a trajetória desses alunos ao longo de sua experiência no ensino superior podem fornecer insights valiosos sobre as estratégias pedagógicas e de apoio que melhor atendem às suas necessidades.

Outra lacuna importante identificada é a falta de enfoque nas perspectivas dos próprios alunos autistas. Compreender suas experiências, desafios e percepções é fundamental para a criação de um ambiente acadêmico verdadeiramente inclusivo. Pesquisas qualitativas que envolvam entrevistas, grupos focais ou outras abordagens participativas podem fornecer uma visão mais holística e humanizada sobre a inclusão desses estudantes no ensino superior.

Por fim, é fundamental que as instituições de ensino superior adotem uma postura proativa ao implementar políticas e práticas inclusivas, garantindo que estudantes autistas tenham acesso a recursos e apoios adequados para que possam prosperar em suas jornadas acadêmicas. A criação de programas de formação para docentes e equipe administrativa também é crucial para a construção de um ambiente educacional acolhedor e empático, que valorize a diversidade e as necessidades individuais de cada aluno.

A promoção de uma educação inclusiva requer o compromisso conjunto de pesquisadores, educadores e instituições para fornecer um ambiente de aprendizado que valorize e respeite a diversidade, garantindo que todos os alunos, incluindo aqueles com autismo, possam alcançar seu pleno potencial acadêmico e pessoal.

Miliana Augusta Pereira Sampaio

Doutora em Educação na Amazônia – EDUCANORTE / UFT

Mestra em Educação – UFT

Esp. em Analise de Comportamento Aplicada (ABA) ao Transtorno do Espectro do Autismo

Neuropsicopedagoga Clínica

Esp. em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva

Psicopedagoga Clínica

Esp. em Psicomotricidade

Esp. em Ludopedagogia

Esp. em Educação Especial e Educação Inclusiva

Esp. em Planejamento e Docência para o Ensino Superior

Mediadora de PEI I – Programa de Enriquecimento Instrumental – CBM – Israel (Reabilitação Cognitiva)

Habilitada no Trabalho Psicopedagógico de crianças com Autismo pela Ciência ABA e Método PECS

SCREENER – Avaliadora da Síndrome de Irlen e Distúrbios do Processamento da Visão

Mediadora do Método Glia e Piafex (Funções Executivas)

Mediadora de Neurofeedback

REFERÊNCIAS

Aguilar, C. P. C., & Rauli, P. F. (2020). Desafios da inclusão: a invisibilidade das pessoas com Transtorno do Espectro Autista no ensino superior. Revista Educação Especial36, 1-26.

American Psychiatric Association (APA). (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders: DSM-5 (5th ed.). Arlington: American Psychiatric Publishing.

Carvalho, F. V. B., et al. (2022). Um olhar sobre o autismo e sua especificação na educação infantil. Em Autismo: Avanços e Desafios-Volume 3, 3(1), 83-95.

Dos Santos, L. B., de Oliveira Ferreira, L. M., & Ferreira, M. R. A. (2019). Autismo e inclusão: A percepção de um grupo de docentes acerca da inclusão do aluno autista na Rede Municipal em Teresina-Piauí. Em Editora Realize (Ed.), Anais do VI Congresso Nacional de Educação (CONEDU), Campina Grande.

Dos Santos, W. F., Santana, V. S., Dias, L. D. S. S., Teixeira, C. M. D. Á., & Pondé, M. P. (2020). A Inclusão da Pessoa com Autismo no Ensino Superior. Revista Entreideias: educação, cultura e sociedade9(3).

Nascimento, S. M. C., Kador, C. L., & Teixeira, C. S. S. (2022). Formação em ensino superior e inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista: uma revisão narrativa da literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde15(10), e11176-e11176.

Shibuta, V., da Costa, I. F., & dos Santos, F. P. (2021). Inclusão Do Autista No Ensino Superior Público. Psicologia e Saúde em debate7(2), 1-11.

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Psicologia e seu compromisso com a transformação social: por uma escola democrática e inclusiva

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A relação entre escola e sociedade é inextricável, a Psicologia, então, emerge como uma ferramenta essencial para promover a educação democrática e inclusiva que o Brasil tanto precisa. Por meio da compreensão das dinâmicas psicológicas envolvidas no processo educacional, as psicólogas escolares desempenham um papel fundamental na construção de um ambiente escolar saudável que não apenas instrui, mas também humaniza, e transforma realidades.

Nesse sentido, além da Psicologia, o Serviço Social, historicamente, têm apresentado significativa contribuição para o campo da Educação, que se faz com diferentes saberes. Profissionais dessas áreas auxiliam tanto na construção do projeto político-pedagógico quanto nos processos de ensino-aprendizagem, contribuindo também para a melhora das relações entre docentes, alunos, comunidade escolar e famílias. Com a aprovação da Lei nº 13.935/2019, todas as instituições públicas de educação básica no país devem agora contar com a presença de psicólogas, psicólogos e assistentes sociais em suas equipes multiprofissionais. Essa medida representa uma ferramenta crucial para a consolidação de um ensino público inclusivo, de qualidade e que assegura direitos.

A participação dessas(es) profissionais no ambiente escolar desempenha um papel fundamental no aprimoramento de processos essenciais como o desenvolvimento, implementação e reformulação de currículos, projetos pedagógicos, políticas e procedimentos educacionais. O serviço deve aprimorar métodos, técnicas e instrumentos para subsidiar a formulação e o replanejamento de planos escolares e contribuir para a qualidade de vida da comunidade escolar, envolvendo-se em ações e projetos de combate aos preconceitos e à violência na escola.

A psicologia escolar tem como um dos guias principais, o documento Referências Técnicas para Atuação de Psicólogas(os) na Educação Básica, edição revisada, elaborado no âmbito do Centro de Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP). As Referências Técnicas têm como propósito orientar a atuação de psicólogas(os) na Educação Básica, seguindo as diretrizes da Política Nacional de Educação e os princípios teóricos e éticos da Psicologia. Este documento visa contribuir para aprimorar a qualidade da Educação, buscando que as práticas psicológicas estimulem a reflexão e a abordagem crítica dos desafios presentes no contexto educacional brasileiro.

Entender que é necessário uma certa estrutura primária que precede o ato de aprender é a maior ferramenta da psicologia na escola, ou seja, a psicóloga escolar estar atenta à questões como por exemplo: Como garantir acesso a recursos e oportunidades educacionais de qualidade, independentemente da origem socioeconômica, etnia, gênero ou localização geográfica de cada estudante; Como criar ambientes educacionais inclusivos que atendam às necessidades de alunos com diferentes habilidades, origens culturais e estilos de aprendizagem; Como preparar os alunos para serem cidadãos globais, com uma compreensão ampla de questões globais, multiculturalismo e respeito à diversidade; Além disso, a psicologia escolar deve pensar em como melhorar a formação de professores para garantir que eles estejam equipados com as habilidades necessárias para enfrentar os desafios contemporâneos da educação.

A busca por uma educação democrática implica no reconhecimento e na valorização de todas as vozes na comunidade escolar, pois a atuação da psicologia escolar deve se comprometer a agir a partir da realidade específica de cada escola, levando em consideração sua história, seu território, buscando entender como essas complexidades são encontradas no ambiente educacional a fim de superar possíveis adversidades. Entender as necessidades dos diversos agentes escolares, desde os administrativos e pedagógicos até os estudantes, pais e membros da comunidade, é crucial para criar estratégias que contribuam efetivamente para a melhoria da qualidade de vida de todas essas pessoas. Nesse sentido, a Psicologia Escolar possui as ferramentas necessárias para compreender realidades e contribuir para esse ideal, na medida em que promove práticas que fortalecem a gestão educacional democrática. No contexto da educação pública, a psicologia pode ser capaz de potencializar e ampliar as possibilidades que a escola tem de proporcionar melhor qualidade de vida a seu público, a fim minimizar as desigualdades e injustiças vividas em nosso país.

O papel da psicologia na educação vai além de análises individuais e isoladas; por exemplo, um estudante faltoso nem sempre é um estudante desinteressado pelos estudos, pode ser um aluno que está sem material escolar, ou que está passando por alguma situação de constrangimento em sala de aula por parte dos colegas, ou muitas vezes é uma questão de não conseguir estar em sala de aula, o que pode ser sintoma de alguma transtorno a ser investigado.

Nesse sentido, as intervenções psicológicas na escola não se limitam ao âmbito acadêmico, elas estendem-se aos arredores da escola através de escutas e pesquisas, se estende ao âmbito familiar através de visitas domiciliares de busca ativa, escutas, acolhimentos e orientações. Questões complexas da sociedade como a fome, a violência doméstica, uso de álcool e drogas, são identificadas neste serviço, sendo possível atuar e intervir através do acionamento da Rede de serviços de assistência social e psicologia se for o caso.

Dentro da escola, a psicóloga tem a responsabilidade e abordar temas pertinentens às questões sociais como o bullying, o racismo, uso de substâncias, gravidez na adolescência, trabalho infantil, abuso sexual, violação de direitos e prevenção ao suicídio por meio de ações preventivas e educativas, sempre com muita sensibilidade, ética e respeito. A Psicologia escolar não apenas reage a esses problemas, mas também trabalha proativamente para combater essas problemáticas, promovendo uma cultura de respeito e compreensão.

A relação entre aluno e professor é essencial para criar um ambiente propício ao aprendizado. O psicólogo social, nesse contexto, busca compreender as dinâmicas presentes, identificando possíveis desafios e promovendo intervenções que fortaleçam essas relações. Ao entender as necessidades de ambos os lados, trabalha para construir um ambiente onde a aprendizagem seja não apenas eficaz, mas também enriquecedora para todos os envolvidos.

A inserção da família no processo educativo é um aspecto muitas vezes negligenciado por ambas as partes, família e escola, mas é de grande importância. A psicóloga escolar atua como um elo entre ambos, buscando promover uma colaboração ativa compreendendo as dinâmicas familiares, desafios e expectativas do processo de aprendizado, nesse sentido, é fundamental criar uma parceria que beneficie o desenvolvimento acadêmico e emocional do aluno.

As dificuldades internas da unidade escolar, como a comunicação entre setores e a saúde mental dos profissionais, não devem ser ignoradas pela psicóloga escolar, pois a mesma deve ser facilitadora, promovendo a comunicação efetiva entre os diferentes setores da escola, criando espaços de diálogo e entendimento, promovendo estratégias que contribuam para um ambiente de trabalho mais saudável, mais coeso e colaborativo.

Reconhece-se que o bom funcionamento da escola depende do bem-estar de todos os envolvidos, então a preocupação com a saúde mental dos profissionais é um elemento central na atuação da psicóloga escolar. É necessário implementar ações que visam prevenir o adoecimento no ambiente de trabalho, promovendo estratégias de autocuidado, oferecendo suporte emocional e, quando necessário, encaminhando para profissionais especializados.

Outro ponto importante no trabalho desenvolvido na escola, é a escuta, o acolhimento e a orientação psicológica oferecidos aos estudantes e aos pais desempenham um papel crucial na promoção do bem-estar emocional e na construção de relacionamentos saudáveis, promovendo não apenas a integração da família no ambiente educativo, mas também fortalecendo os laços familiares.

Diante do que surge a partir de cada realidade escolar é necessário a realização de grupos e oficinas temáticas que contribuam com a discussão saudável de temas pertinentes a vivência de cada ser humano dentro ou fora da escola, a fim de alcançar o desenvolvimento social e emocional dos alunos, promovendo uma compreensão mais ampla de questões importantes que atravessam suas próprias vidas. Além disso, palestras sobre temas pertinentes, como sexualidade na adolescência, não apenas informam, mas também geram discussões significativas sobre questões relevantes na vida dos estudantes.

Por fim, a psicóloga escolar pode realizar pareceres psicológicos e encaminhamentos, uma prática que contribui para o entendimento mais profundo das necessidades individuais dos alunos, permitindo uma abordagem personalizada e eficaz.

Em resumo, a Psicologia desempenha um papel crucial na construção de uma escola que transcende seu papel tradicional, tornando-se um agente ativo na transformação social. A promoção de uma educação democrática e inclusiva não é apenas uma meta, mas uma jornada contínua que exige a colaboração de educadores, psicólogos, assistentes sociais, pais e toda a comunidade escolar. Ao integrar a Psicologia de maneira holística na educação, estamos moldando não apenas estudantes acadêmicos, mas cidadãos responsáveis e conscientes, capazes de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 13.935 de 11 de dezembro de 2019. Dispõe sobre a prestação de serviços de psicologia e de serviço social nas redes públicas de educação básica. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/l13935.htm>

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (BRASIL). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) na educação básica / Conselho Federal de Psicologia. — 2. ed. — Brasília: CFP, 2019.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (BRASIL). A(o) psicóloga(o) e a(o) assistente social na rede pública de educação básica: orientações para regulamentação da Lei nº 13.953, de 2019 / Conselho Federal de Psicologia e Conselho Federal de Serviço Social. — 1. ed. — Brasília: CFP, 2020.

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Desafios e estratégias para inclusão efetiva de alunos com TEA no Sistema Educacional Brasileiro

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Uma Análise Crítica das Barreiras Atuais e Propostas de Intervenção para Promover a Plena Participação e Desenvolvimento dos Alunos com Transtorno do Espectro Autista nas Instituições de Ensino do Brasil

No contexto educacional contemporâneo, a inclusão e garantia de direitos para alunos com transtorno do espectro autista (TEA) constituem um dos temas mais relevantes. O autismo, caracterizado como uma condição neurodiversa que influencia a comunicação e o comportamento, exige uma abordagem educacional especializada e sensível. As legislações e políticas educacionais brasileiras evoluíram significativamente para atender a essas necessidades, criando um ambiente de aprendizado mais inclusivo e equitativo para todos.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, estabelecida em 2008, garante o Atendimento Educacional Especializado (AEE), oferecendo uma gama de recursos e possibilidades para assegurar uma educação de qualidade que considere a diversidade dos alunos na sala de aula (Brasil; 2008). Garcia, Bacarin e Leonardo (2018) destacam que as escolas têm o compromisso de atender à diversidade humana, adaptando-se às necessidades individuais de cada aluno, sem excluir aqueles considerados “diferentes”.

As crenças e experiências dos professores exercem uma influência significativa sobre o processo ensino-aprendizagem. Conforme Sanini e Bosa (2015), as crenças dos educadores, moldadas por suas vivências, impactam diretamente na educação tanto de alunos com deficiência quanto daqueles sem deficiência. No entanto, apesar da existência de políticas públicas de inclusão, há desafios no processo de inclusão de crianças com autismo, como evidenciado em estudos brasileiros que apontam para as dificuldades enfrentadas pelos professores nesse contexto (Schmidt et al., 2016).

O ensino de crianças com TEA é complexo, devido aos desafios impostos pelo próprio espectro, que inclui déficits em comportamento, socialização e comunicação. Pimentel e Fernandes (2014) observam que, embora essas crianças apresentem desenvolvimento desadaptado nessas áreas, são capazes de extrair e internalizar algumas pistas do meio linguístico para uso contextual em sua vida social.

A inclusão eficaz de um aluno com TEA implica na necessidade dos professores de estabelecerem vínculos com seus alunos e entenderem a dinâmica das relações entre eles, para então elaborar estratégias de ensino que beneficiem a aprendizagem de toda a turma. Tais estratégias devem estimular a participação e interação entre os alunos (Favoretto; Lamônica, 2014).

Pesquisas indicam que estratégias diferenciadas adotadas pelos professores favorecem a aprendizagem de alunos com TEA (Aporta; Lacerda, 2018; Favoretto; Lamônica, 2014). No entanto, é comum que os professores criem representações sociais sobre o aluno com TEA, seu diagnóstico e desenvolvimento, influenciando a prática pedagógica. Favoretto e Lamônica (2014) sugerem a necessidade de os professores buscarem atualizações de conhecimento sobre o assunto, incluindo suporte de uma equipe interdisciplinar para lidar com as questões internas e aspectos relacionados à educação desses alunos.

As concepções dos professores sobre inclusão e a construção de vínculos com a escola e com o aluno são cruciais neste processo. Alves (2016) destaca a importância do trabalho colaborativo entre o professor da turma e o educador especial para favorecer o ensino-aprendizagem de uma criança com TEA.

Dessa forma, fica evidente que a inclusão de alunos com TEA no sistema educacional brasileiro é um processo complexo que requer não apenas políticas públicas robustas, mas também uma abordagem pedagógica adaptada e sensível por parte dos educadores, considerando as necessidades individuais de cada aluno e promovendo um ambiente de aprendizado inclusivo e justo para todos.

                                                                                    Fonte: Pixabay, imagem de Tho-Ge

A Lei Berenice Piana (Lei Federal n° 12.764/12) representa um marco significativo na educação inclusiva de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. Essa legislação aborda os mecanismos para a efetivação dos direitos à educação das pessoas com TEA, incluindo a garantia de diagnóstico precoce, tratamento, terapias, educação e proteção social (Souza Junior, 2023). No entanto, apesar dessas garantias legais, a inclusão efetiva desses indivíduos no sistema educacional enfrenta desafios práticos e conceituais.

No contexto do ensino superior, por exemplo, Tiago Abreu, mestre em Comunicação e autor do livro “O que é neurodiversidade?”, destaca a subnotificação de casos de autismo como um desafio significativo. Muitos indivíduos com autismo não se declaram como tal ou não são diagnosticados, resultando em uma evasão não identificada nas universidades. Essa situação é agravada pela falta de demanda concreta por ações que permitam a permanência desses estudantes no ambiente universitário (Vaz; 2023).

Além disso, William Chimura, ativista autista e pesquisador de Tecnologias Digitais para Educação, salienta que o conceito de aprendizagem, especialmente em relação ao autismo, é mais amplo do que a educação formal. A aprendizagem ocorre continuamente e de maneira atípica no autismo. Ele também destaca a importância da intersetorialidade no desenvolvimento de políticas e ações para o atendimento à pessoa com TEA, conforme preconizado pela Lei Berenice Piana (Vaz; 2023).

Essas análises evidenciam que, apesar dos avanços legais trazidos pela Lei Berenice Piana, ainda existem barreiras significativas para a efetiva inclusão educacional de pessoas com TEA. É necessário um esforço contínuo para superar os obstáculos práticos e conceituais, bem como promover uma conscientização mais ampla sobre as necessidades educacionais desses indivíduos.

As legislações e políticas educacionais brasileiras, como a Constituição Federal e a Lei nº 12.764/12, demonstram um compromisso com a inclusão e o acesso igualitário à educação para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, essas medidas enfrentam desafios significativos na prática.

Um dos maiores desafios é a preparação dos professores para receber alunos com autismo. Muitas vezes, os educadores não estão adequadamente capacitados para lidar com as necessidades específicas desses alunos, o que pode comprometer o processo de inclusão (Oliveira, 2020). Além disso, alunos com TEA apresentam características variadas que podem afetar suas relações com outras pessoas e sua linguagem, exigindo apoio especializado no processo de ensino-aprendizagem (Oliveira, 2020).

Outro aspecto crítico é a necessidade de adaptar o currículo para atender às diferenças individuais dos alunos. Essa adaptação curricular é essencial para promover a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno com autismo (Oliveira, 2020).

Além disso, é necessário desenvolver metodologias de aprendizagem específicas para que o aluno com TEA consiga se comunicar e se desenvolver adequadamente. Isso exige do professor não apenas formação acadêmica, mas também sensibilidade e perspicácia para compreender e trabalhar com esses alunos (Oliveira, 2020).

Portanto, enquanto as legislações e políticas estabelecem a base para a inclusão de alunos com TEA, a implementação efetiva desses direitos educacionais exige uma abordagem mais holística, que inclua capacitação profissional adequada, adaptações curriculares e metodologias de ensino especializadas.

A Constituição Federal do Brasil desempenha um papel crucial na garantia dos direitos educacionais das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela assegura a educação como um direito de todos, estabelecendo a igualdade de condições de acesso e permanência na escola para todos, incluindo alunos com TEA. Essa garantia é reforçada pela Lei nº 12.764/12, que assegura direitos fundamentais como a vida digna, a integridade física e moral, a segurança e o lazer, além de proteção contra abusos e explorações (Jus.com.br, 2016).

No entanto, a inclusão efetiva de alunos com TEA vai além das garantias legais. Ela requer práticas educacionais adaptadas e professores capacitados para atender às necessidades específicas desses alunos. Isso envolve não apenas a adaptação curricular, mas também o desenvolvimento de um ambiente acolhedor e compreensivo, que respeite as particularidades do autismo. A realidade mostra que, apesar do arcabouço legal robusto, a implementação prática ainda se encontra distante do ideal, com lacunas nas políticas sociais, falta de informação, conscientização e capacitação profissional para lidar com alunos autistas (Viana, 2023).

Em conclusão, os direitos educacionais das pessoas com TEA no Brasil estão bem estabelecidos e protegidos por uma série de leis e políticas. Essas medidas são fundamentais para assegurar a igualdade de oportunidades e a inclusão efetiva no ambiente escolar. Contudo, a implementação desses direitos requer uma mudança cultural e a adoção de práticas pedagógicas inclusivas. A educação é um direito de todos, e garantir seu acesso a pessoas com TEA é um passo crucial para construir uma sociedade mais justa e inclusiva.

 

 

REFERÊNCIAS

  1. Alves, D. E. (2016). O autismo e o processo de inclusão na perspectiva escolar: análise de caso na escola Professora Ondina Maria Dias, em Tijucas/Santa Catarina. Curso de Especialização EaD Gênero e Diversidade na Escola. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, SC, Brasil.
  2. Aporta, A.; Lacerda, C. B. F. (2018). Estudo de Caso sobre Atividades Desenvolvidas para um Aluno com Autismo no Ensino Fundamental I. Revista Brasileira de Educação Especial, 24(1), 45-58.
  3. Brasil. (2008). Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf.
  4. Conteúdo Jurídico. (2023). A importância da Lei 12.764 para a efetivação do direito à educação da criança autista. Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/50207/a-importncia-da-lei-12-764-para-a-efetivao-do-direito-educao-da-criana-autista.
  5. Favoretto, N. C.; Lamônica, D. A. C. (2014). Conhecimentos e necessidades dos professores em relação aos transtornos do espectro autístico. Revista Brasileira de Educação Especial, 20(1), 103-116.
  6. Garcia, R. A. B.; Bacarin, A. P. S., & Leonardo, N. S. T. (2018). Acessibilidade e permanência na educação superior: percepção de estudantes com deficiência. Psicologia Escolar e Educacional, 22(spe), 33-40. https://dx.doi.org/10.1590/2175-3539/2018/035.
  7. Jus.com.br. (2016). Lei nº 12.764/2012: Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/48333/lei-n-12-764-2012-direitos-da-pessoa-com-transtorno-do-espectro-autista.
  8. Lume UFRGS. (2023). Lei Berenice Piana: O direito dos autistas à educação, análise das opiniões de usuários sobre a efetividade da legislação e principais desafios. Disponível em: www.lume.ufrgs.br.
  9. Pimentel, A. G. L.; Fernandes, F. D. M. (2014). A perspectiva de professores quanto ao trabalho com crianças com autismo. Audiology: Communication Research, 19(2), 171-178.
  10. Portal CNJ. (2023). Lei Berenice Piana: Ensino para autistas demanda dados e iniciativa no sistema de ensino. Disponível em: www.cnj.jus.br.
  11. Revista Educação Pública. (2020). Autismo e inclusão escolar: os desafios da inclusão do aluno autista. Disponível em: educacaopublica.cecierj.edu.br.
  12. Sanini, C.; Bosa, C. A. (2015). Autismo e inclusão na educação infantil: Crenças e autoeficácia da educadora. Estudos de Psicologia 20(3), 173-183.
  13. Schmidt, C.; Nunes, D. R. P.; Pereira, D. M.; Oliveira, V. F.; Nuernberg, A. H.; Kubaski, C. (2016). Inclusão escolar e autismo: uma análise da percepção docente e práticas pedagógicas. Psicologia: teoria e prática, 18(1), 222-235
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Evento especial celebra o dia da consciência surda e promove a inclusão

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Em comemoração ao Dia Internacional do Surdo, o Núcleo de Atendimento Educacional Especializado ao Discente – ALTERIDADE tem o prazer de anunciar um evento especial que busca promover a conscientização e a inclusão das pessoas surdas na nossa comunidade. O evento, intitulado “DIA DA CONSCIÊNCIA SURDA“, acontecerá no dia 27/09/2023 na SALA 222, do PRÉDIO 2, da ULBRA em Palmas/TO.

O Dia Internacional do Surdo, celebrado em todo o mundo entre os dias 23 a 27 de setembro, é uma ocasião significativa que nos convida a reconhecer a riqueza da cultura surda e a importância da inclusão e igualdade de direitos para as pessoas surdas. Esta data especial nos lembra que a surdez não é uma limitação, mas sim uma parte valiosa da diversidade humana. É uma oportunidade para honrar as conquistas e contribuições das comunidades surdas, promover o uso da língua de sinais e sensibilizar a sociedade para a necessidade de garantir que todas as pessoas, independentemente de sua capacidade auditiva, tenham igualdade de oportunidades e acesso a serviços e recursos adequados.

DETALHES DO EVENTO:

 

Data: 27/09/2023

Horário: das 9h às 11h

Local: Sala 222, Prédio 2 da ULBRA

Endereço: Av. Joaquim Teotônio Segurado, 1501 – Plano Diretor Expansão Sul, Palmas – TO, 77019-900.

PROGRAMAÇÃO:

O evento contará com uma variedade de atividades, incluindo uma magnífica palestra com o Palestrante Surdo Sérgio Gomes Silva e os participantes terão, além dessa experiência única, a possibilidade de receber um certificado de participação ao final do evento.

INSCRIÇÕES:

A participação no evento é gratuita, mas as inscrições são limitadas. Para garantir seu lugar, acesse https://forms.gle/P5nSyrt2dnopEKm26 e preencha o formulário de inscrição. Se você precisar de serviços de interpretação de língua de sinais ou outras acomodações especiais, informe-nos durante o processo de inscrição.

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Marcos Mion e sua influência na inclusão escolar

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Marcos Chaib Mion, nascido 20/05/1979, em São Paulo, é um apresentador, ator e ativista social brasileiro principalmente na causa autista, a qual se engajou após ter um filho autista. Mion é formado desde 2005 em comunicação social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Débora Rosa de Oliveira Ribeiro (Acadêmica de Psicologia) – deboraribeiro86@rede.ulbra.br

 

Marcos Chaib Mion possui ascendência árabe, por parte materna, e italiana, por parte paterna. Nasceu em uma família de classe média alta de São Paulo, sendo o segundo filho do médico e professor da Universidade de São Paulo (USP) Décio Mion Júnior, e da psicóloga e psicanalista Carmem Chaib Mion. Ele teve uma formação com forte base literária e voltada para o teatro, tendo uma preferência particular pela obra de Shakespeare. Com apenas 17 anos já dava aulas de artes cênicas.

Mion iniciou sua carreira na televisão como ator, em 1999, no seriado da TV Globo Sandy & Junior. Após completar seu contrato em 2000, transferiu-se para a MTV, que já tinha o aprovado em um teste anterior, apresentando os programas Supernova e Piores Clipes do Mundo. Em 2001, ele fez o filme De Cara Limpa, em que interpretava André. Com o sucesso do programa Piores Clipes do Mundo, foi para a Rede Bandeirantes em 2002, apresentando o programa Descontrole, que se caracterizava pelo humor espontâneo e escrachado em função de improvisos ao vivo. Suas atuações se deram em várias emissoras e partes dos meios de comunicação, atualmente em Agosto de 2021, o apresentador assinou contrato com a TV Globo e Multishow. Ele foi cotado pela TV Globo para conduzir e encerrar o programa Caldeirão até o final de 2021, cumprindo o plano comercial deixado pelo programa Caldeirão do Huck. Em Outubro de 2021, a pedido e apelo do público, o apresentador foi efetivado no programa, substituindo oficialmente Luciano Huck nas tardes de sábado da emissora. Em março de 2022, o programa foi reformulado e recebeu o título de Caldeirão com Mion. No Multishow, canal pertencente ao Grupo Globo, o apresentador apresenta as transmissões do Rock in Rio e Lollapalooza

Fonte: Instagram Pessoal

Marcos Mion e Família

Em 1994, o irmão mais velho de Mion, Marcelo, faleceu ao cair do vão livre do MASP, enquanto celebrava a aprovação no vestibular de medicina da Universidade de São Paulo. O episódio deixou Mion, que tinha apenas 14 anos, com uma depressão que chegou a levar a um peso de 103 quilos na adolescência. Ele atribui ao teatro, além do tratamento medicamentoso e psicológico, a sua maior motivação para buscar a cura da depressão. Em 1996, aos 17 anos, Mion sofreu um acidente de carro enquanto voltava de uma boate com seu melhor amigo, Carlos. Uma moto ultrapassou o semáforo enquanto o carro passava, batendo fortemente contra o veículo. Carlos, que dirigia, foi atingido e faleceu.

Em 18 de março de 2005, Mion se casou com a designer de moda Suzana Gullo. O casal tem três filhos, Romeo (nascido em 23 de junho de 2005), Donatella (nascida em 19 de setembro de 2008) e Stefano (nascido em 29 de março de 2010). Em 2007, aos dois anos de idade, seu filho Romeo foi diagnosticado com autismo

Defesa da causa autista

Os esforços de Mion pela causa de pessoas com transtornos do espectro autista foram reconhecidos com a aprovação da Lei Romeo Mion (Lei nª 13.977/2020), que habilita a criação da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), que atesta a prioridade nas áreas de saúde, educação e assistência social para pessoas afetadas pelo transtorno. A lei recebeu o nome do seu filho, Romeo, diagnosticado com autismo aos dois anos de idade.

A atuação de Mion também reflete na Educação Inclusiva, sendo considerado como ativista na Educação Inclusiva, quando menciona em suas falas sobre a experiência com a educação do filho Romeo e as escolas brasileiras, reforçando a relevância de um ambiente acolhedor e inclusivo. “Inclusão não é favor. Inclusão não é que a escola está sendo legal. É um direito. Então, pais e mães de crianças especiais, assim como eu, não esqueçam isso, certo?” Com seu ativismo, Mion já ajudou a aprovar duas leis importantes. Uma delas dá direito à jovens com deficiência intelectual a terem uma carteirinha de identificação. A outra pede que o Censo inclua a contagem de autistas entre a população brasileira. “Foi uma vitória. Mas o que aconteceu? Cancelaram o Censo. Damos um passo e tomamos duas rasteiras”, lamentou.

Fonte: Instagram Pessoal

Marcos Mion e o filho Romeo

Em entrevista publicada em 2021 pelo Extra, o artista criticou as falas do Ministro da Educação, Milton Ribeiro, sobre crianças com deficiência intelectual “atrapalharem” o aprendizado das outras em sala de aula. “Esse cara é um irresponsável. No momento em que você se torna uma pessoa que tem que representar os interesses públicos e não tem empatia, você está no lugar errado. Ele não tinha que estar lá”, protestou o mais novo funcionário da Globo.

Em outra ocasião, Marcos Mion usou as redes sociais para questionar a fala do vereador Maurício Rufino Barbosa (PP), que utiliza o codinome Maurício Bem Estar, durante a discussão na primeira sessão legislativa de 2023, em Araçatuba-SP, sobre atendimento na rede municipal de ensino de crianças com Autistas. Escreveu: “Em pleno 2023, ainda tem vereador falando abertamente sobre excluir autistas das escolas ??? Questionando os direitos conquistados?”.

O acesso à educação e o direito à aprendizagem são garantias constitucionais universais, ou seja, previstas a todos os brasileiros como dever do Estado e da família. A diversidade de experiências, habilidades, contextos e capacidades entre estudantes é uma realidade que deve ser celebrada através de práticas educacionais inclusivas. Nas últimas décadas, a insistência em modelos pedagógicos padronizados demonstrou ser pouco eficiente, de modo que o presente e o futuro da educação consistem na promoção da diversidade como um valor inegociável. Quanto mais respeitados em suas diferenças, mais os estudantes e educadores avançam, sejam eles pessoas com ou sem deficiência.

A inclusão garante direitos e promove a aprendizagem, estimulando a autonomia e a independência das pessoas com deficiência em todas as fases da vida. Dessa forma, o Brasil estabeleceu na Meta 4 do Plano Nacional de Educação o objetivo de universalizar para a população de 4 a 17 anos com deficiência o acesso à educação de acordo com o modelo de inclusão. A abordagem prioriza o direito de todos os estudantes frequentarem as salas regulares, combatendo qualquer discriminação. Além disso, a meta prevê espaços de atendimento educacional especializado (AEE), como medida complementar e não substitutiva da sala de aula comum, que podem ser frequentados pelos estudantes com deficiência no contraturno. O AEE tem por objetivo identificar demandas específicas e elaborar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem barreiras existentes, garantido a inclusão e autonomia dos estudantes

Livros

Mion lançou, em 2016, o livro infantil A Escova de Dentes Azul, com ilustrações de Fabiana Shizue. O livro retrata o pedido de Natal de Romeo, primogênito do apresentador, que é autista. Em 2018, Marcos Mion lançou o livro Pai de Menina, uma combinação de dicas para aproximação de pais e filhas e propostas práticas de fortalecimento desse vínculo.

Referências:

MARCOS MION. Wikipedia, 2023. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcos_Mion>. Acesso em: 15/09/2023;

MARCOS MION FALA SOBRE EDUCAÇÃO DE FILHO AUTISTA: “INCLUSÃO NÃO É FAVOR”, Ana Maria, 2021. Disponível em: < https://revistaanamaria.com.br/noticias/familiafilhos/marcos-mion-fala-sobre-educacao-de-filho-autista-inclusao-nao-e-favor.phtml>. Acesso em: 15/09/2023;

MARCOS MION DETONA MINISTRO DA EDUCAÇÃO: “ESSE CARA É UM IRRESPONSÁVEL”, Metrópoles, 2021. Disponível em: < https://www.metropoles.com/celebridades/marcos-mion-detona-ministro-da-educacao-esse-cara-e-um-irresponsavel >. Acesso em: 15/09/2023.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM DIREITO INEGOCIÁVEL.; Observatório do Ensino Médio e Gestão, 2023. Disponível em:  <https://observatoriodeeducacao.institutounibanco.org.br/em-debate/conteudo-multimidia/detalhe/educacao-inclusiva-um-direito-inegociavel?utm_source=google&utm_medium=cpc&utm_campaign=GH-TRAFEGO-TOPO-DE-FUNIL&utm_content=group_ad3_Educacao_inclusiva&utm_term=inclus%C3%A3o%20na%20escola&utm_source=&utm_medium=&utm_campaign=&utm_content=&utm_term=inclus%C3%A3o%20na%20escola&gclid=CjwKCAjwjaWoBhAmEiwAXz8DBUuGjtJjtJJxoBJwbLnZRa-_7dbFHP3uPZmWa3NSMfSdcplwl-7xSBoCUGMQAvD_BwE>. Acesso em: 15/09/2023.

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Debate acerca da vivência LGBTQIAP+ dentro do contexto universitário

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Nas universidades a verdadeira inclusão se concretiza quando se adotam práticas visíveis, como os programas de ações afirmativas, como as cotas. Além disso, essa inclusão depende de uma administração universitária que prioriza a gestão social, o que significa tomar medidas democráticas, igualitárias, participativas, colaborativas e diversas, com decisões que valorizem a solidariedade em vez de focar exclusivamente em aspectos econômicos, conforme Moreira (et al. 2011).

Ainda segundo Moreira, também é crucial promover a inovação social, por meio da criação de projetos que buscam integrar e dar oportunidades aos menos favorecidos. Todos esses elementos se baseiam em um modelo de ação comunicativa e dialógica, em que os envolvidos na ação reconhecem a importância dessas práticas e concordam com sua validade. Embora possa parecer uma utopia, essa abordagem tem o potencial de se tornar realidade com empenho e dedicação.

Em muitos cenários educacionais, ainda não estão adequadamente equipados para abordar as diversas manifestações da sexualidade. Com frequência, os preconceitos e a discriminação são perpetuados nesse contexto, quer de forma velada ou até mesmo de maneira explícita. Isso torna a permanência de indivíduos LGBT um ato genuíno de enfrentamento.

A inclusão deve ser um ato que promova o crescimento humano, organizacional e social por meio de um processo abrangente de compartilhamento de conhecimentos, valores e crenças. Isso implica em integrar as minorias através de práticas que levam em consideração as circunstâncias materiais reais em que vivem, e, ao mesmo tempo, evitar a reprodução dos estigmas e exclusões presentes na sociedade (Magalhães et al., 2017).

E para falar mais sobre a vivência LGBTQIAP+ no contexto universitário, o EnCena convidou Karen Oliveira, lésbica, jornalista e atualmente formada em Psicologia e atuante na área, fazendo uso da teoria Sistêmica e atuante da Terapia Afirmativa, que é para o público LGBTQIAP+ .

Encena: Sabemos que você agora é uma profissional de psicologia. Durante seus estudos, como percebeu a preparação dos futuros psicólogos em relação ao atendimento e apoio às questões específicas enfrentadas pela comunidade LGBT?

 

Karen: Pela minha experiência, no contexto acadêmico faltam debates, inserção de disciplinas focadas na temática e preparação científica. Apesar de sabermos que nas universidades que ofertam cursos de Psicologia há variação de grades curriculares, em geral elas abordam essa temática de forma superficial. Por exemplo, durante toda a minha graduação não foi falado sobre psicoterapia afirmativa, que é focada em pessoas LGBTQIAP+. O meu conhecimento sobre essa vertente foi resultado apenas de estudo próprio. A falta de visibilidade traz consequências negativas tanto para os estudantes, que serão futuros psicólogos, quanto para os que virão a ser seus pacientes. Portanto, ainda falta preparação a nível institucional e capacitação dos acadêmicos quanto a ferramentas, postura e ética no atendimento desse grupo minoritário.

 

Encena: Como mulher lésbica, você sentiu segurança para expressar sua orientação sexual durante os estudos universitários? Poderia compartilhar um pouco sobre sua experiência nesse sentido?

 

Karen: Em alguns momentos sim, mas, como já mencionei, esse debate foi muito raso dentro do ambiente acadêmico durante a minha graduação. Infelizmente, na minha vivência, em algumas situações, faltou acolhimento e não houve muito espaço e/ou visibilidade, causando estresse de minoria e potencialização de mecanismos de defesa.

 

Encena: À medida que você avançou na carreira, atualmente como psicóloga, você sente que a aceitação da diversidade sexual é mais efetiva nos ambientes profissionais do que nos contextos acadêmicos? Por quê?

 

Karen: Acredito que é difícil haver uma aceitação totalmente efetiva, visto que a construção social é heteronormativa e o Brasil é o país que lidera o ranking de mortes pelo crime de LGBTfobia. Há situações de homofobia em todos os espaços. Mas, talvez pela hierarquização institucional existente na universidade, quando existe o título de ser uma profissional, pode ser que haja mais respeito em alguns espaços, além da possibilidade de atendimento ao público LGBTQIAP+. Mas, ainda enquanto profissionais, infelizmente não estamos imunes ao preconceito e às violências.

 

Encena: Em sua opinião, quais são os principais desafios que as universidades ainda enfrentam quando se trata de garantir a inclusão e o respeito aos direitos LGBT?

 

Karen: Acredito que seja necessário as universidades desenvolverem mecanismos de acolhimento, inserção, inclusão, integração, respeito, validação e métodos para a permanência dos estudantes que fazem parte da comunidade. É importante que a temática seja trabalhada com professores, que sejam promovidas palestras, rodas de conversa e projetos que abordem a inclusão. Também há a necessidade da criação de mais disciplinas que falem sobre gênero e sexualidade e que haja, para além do papel, intolerância com os preconceitos que possam ser vivenciados.

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“Como estrelas na terra” – toda criança é especial

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Como Estrelas na Terra é um drama que retrata a exclusão social em face do que é diferente. Tal temática ainda é presente e traz sofrimento em todas as dimensões da vida, o que torna a referida obra cinematográfica comovente e atual, muito embora tenha sido lançada em 2007.

A falta de sensibilidade humana, o desconhecimento em relação à saúde mental e o desenvolvimento humano, a rigidez de determinadas personalidades, a surdez de algumas pessoas (profissionais) resvalam, por vezes, em intenso sofrimento, potencializado quando o tratamento de determinados transtornos é retardado, destruindo a autoestima daqueles que “gritam” por socorro.

 A narrativa central acontece no interior de uma escola de ensino fundamental, especialmente nas brincadeiras de futebol com o protagonista, Ishaan Awasth, de dez anos idade, que sofre de dislexia.

O desconhecimento daqueles que o cercam quanto aos verdadeiros motivos do déficit de aprendizagem levam o personagem a apresentar reações que potencializam as suas dificuldades, como a rebeldia no comportamento, a tristeza e o isolamento, sem olvidar de todo o sofrimento psicológico, emocional, neurológico e social de Ishaan.

A dislexia se configura em um distúrbio genético que embaralha o aprendizado, dificultando a realização da leitura e da escrita. O cérebro, por razões ainda não totalmente esclarecidas, apresenta dificuldade para encadear as letras e formar as palavras, e não relaciona direito os sons às sílabas formadas. Ishaan Awasth sentia angústia porque não conseguia aprender a escrever e nem a ler, quando comparado aos demais alunos.

 O cérebro do menino não diferenciava algumas letras do alfabeto. Ele trocava o “B” pelo “D”; o “R” pelo “S”; e o “H” pelo “T”. Fazia confusão na ordem de certas letras. Essa condição disléxica pode ser identificada durante a leitura, observada na escrita e no processo de soletração das palavras, considerando que é essencial, na aprendizagem, relacionar sons com os símbolos (objetos) e saber o significado deles. Ishaan Awasth padecia dessa habilidade básica que facilita o desenvolvimento do aprendizado.

                                                                                     Fonte: https://www.jornaldafranca.com.br/

Ishaan Awasth vivencia o sentimento de humilhação, de vergonha, de constrangimento, de Billings, quando posto de castigo e tudo isso é vivido com frequência e sentido por ele com intensidade.

Tais fatos ocorriam na escola, no seio familiar e nas brincadeiras de criança, fazendo com que, em decorrência das dificuldades mencionadas, suplantavam situações em que o coloca em desigualdade em relação aos cérebros das crianças da mesma idade que não tinham tal condição neurológica.

 Houve uma situação na qual a professora solicitou ao estudante Ishaan que realizasse uma leitura em sala de aula em tom de voz que todos os presentes pudessem ouvi-lo. O garoto tentou explicar à professora que “as letras estavam dançando”. Em razão disso, as risadas tomaram contam da turma e a professora se irritava e ordenava para Ishaan que “lesse as letras dançarinas”. Devido ao transtorno neurológico, Ishaan não conseguiu fazer a leitura e foi tachado pejorativamente de “burro”, “retardado”, “preguiçoso” e, logo após, expulso da sala de aula.

A direção da escola, sem a expertise necessária para entender o real problema de Ishaan, que não se tratava de indisciplina, mas sim, de um transtorno neurológico (dislexia), chamou os pais do garoto para uma reunião. Entre as falas, disse aos genitores que “algumas crianças têm menos sorte e para elas existem escolas especiais”. E informou, ainda, que Ishaan vê os livros como inimigos e que o ato de ler e escrever se assemelha, para ele, a uma punição. Justificou, ainda, aos responsáveis, que a criança pede licença o tempo todo para ir ao banheiro e que as atividades dela, tanto escolar quanto as tarefas de casa, não melhoravam, indicando-o a transferência.

A família anunciou a Ishaan sobre a mudança de escola. E como era “rebelde”, iria para um internato, causando-o angústia, pesadelos e sofrimento. Suplicava-os para deixar em casa! Fazia promessa de melhorar, mas sem o seu consentimento, seus pais o levaram, sob o argumento de que era o “melhor” a ser feito. Foi para o colégio interno cujo lema é “Disciplinar Cavalos Selvagens”. Chegando lá, sentiu falta da mãe, do irmão, da casa, da rotina familiar, de tudo. Acometeu-se de uma imensa tristeza, de uma falta de ânimo, de um isolamento social, de um desinteresse generalizado.

Durante aula de artes, o professor da disciplina se apresentou aos alunos de forma criativa, sensível, observador e atento, dançando e cantando. Em determinado momento, ele solicitou que os alunos iniciassem uma pintura. Todos começaram, mas Ishaan não se animou. O educador logo percebeu o desinteresse e a falta de ânimo do garoto e ficou preocupado. E a partir de então, iniciou uma investigação e percebeu um padrão de escrita incomum, o que o levou a concluir que se tratava de um transtorno neurológico – dislexia.

                                                                                                           Fonte: https://www.netflix.com/br

 Ishaan estava com a sua autoconfiança destruída e sem vontade de fazer suas atividades. O educador ampliou várias possibilidades criativas para desenvolver a aprendizagem do menino e, por consequência, a sua autoestima. Os sinais de melhora logo começaram a aparecer, como uma rosa murcha que recebe água.

É interessante ressaltar que a melhora do garoto não se deu devido ao fato da descoberta do transtorno, mas em decorrência da metodologia usada, da paciência, da sensibilidade, da criatividade, do respeito e de muita vontade de ajudá-lo, de erguê-lo e dar vida ao menino, valorizando a habilidade de pintura de Ishaan – algo em comum entre o professor e aluno.

Pertinente ressaltar que o educador, para trabalhar a autoestima do menino, apresentou grandes referências mundiais de personagens históricos, que apesar do transtorno, obtiveram sucesso, como: Albert Einstein, Agatha Christie, Pablo Picasso e Leonardo da Vinci. Para o processo de aprendizagem, em relação à escrita, utilizou-se dos sentidos – a própria pele, audição, tato, olfato. Usava o meio ambiente, a arte, associava o símbolo ao objeto, tudo para que Ishaan absorvesse e aprendesse de forma a suprir exatamente a sua necessidade de aprender, de forma leve, criativa e dinâmica. Um verdadeiro exemplo de empatia e amor.

De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (2016), o transtorno é considerado específico de aprendizagem e é de origem neurobiológica, caracteriza-se por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração.

Há pouco tempo criou-se a Lei nº 14.254/2021, que dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos com dislexia ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem.

No artigo 3º da referida Lei, subscreve-se que os educandos com dislexia, TDAH ou outro transtorno de aprendizagem que apresentam alterações no desenvolvimento da leitura e da escrita, ou instabilidade na atenção, que repercutam na aprendizagem, devem ter assegurado o acompanhamento específico direcionado à sua dificuldade, da forma mais precoce possível, pelos seus educadores no âmbito da escola em que estão matriculados e podem contar com o apoio e orientação da área de saúde, de assistência social e de outras políticas públicas existentes no território.

Percebe-se que a elaboração da Lei foi um passo importante para iniciar a mudança, mas ainda precisa de outras ações para que ocorra a alteração de paradigma para que de fato a inclusão social aconteça na prática. Exige-se esforço, empenho, dedicação, pesquisa, estudo e os recursos em todos os níveis, além da adequação da estrutura física e da adaptação à realidade.

 

Os possíveis sinais — Alguns sinais na pré-escola

  • Dispersão;
  • Fraco desenvolvimento da atenção;
  • Atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem;
  • Dificuldade de aprender rimas e canções;
  • Fraco desenvolvimento da coordenação motora;
  • Dificuldade com quebra-cabeças;
  • Falta de interesse por livros impressos

Alguns sinais na idade escolar

  • Dificuldade na aquisição e automação da leitura e da escrita;
  • Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras);
  • Desatenção e dispersão;
  • Dificuldade em copiar de livros e da lousa;
  • Dificuldade na coordenação motora fina (letras, desenhos, pinturas etc.) e/ou grossa (ginástica, dança etc.);
  • Desorganização geral, constantes atrasos na entrega de trabalho escolares e perda de seus pertences;
  • Confusão para nomear entre esquerda e direita;
  • Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas etc.;
  • Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas;

O psiquiatra Carl Jung cunhou a frase: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. Essa sabedoria é convidativa para que haja o pensamento crítico acerca da praxe profissional. Será que só a teoria basta para que o profissional exerça o ofício? Uma profissão que lida com o ser humano condiz com uma personalidade rígida? O que é necessário para escolher uma profissão coerente à personalidade e ao desejo?

A escola deve ser um ambiente de compreensão, acolhimento, amor e respeito – um ambiente seguro, com uma metodologia criativa, sensível e um ensino inclusivo e adaptado, repleto de profissionais competentes e com uma escuta acurada e atenta.

A sociedade precisa se engajar mais, respeitar mais e denunciar qualquer tipo de violência, além de se atentar mais quanto aos governantes que são colocados, em ambientes públicos e decisórios, como nas câmaras de vereadores, nas prefeituras, no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto.

 

Referências:

ASSOCIÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA. Disponível em: https://www.dislexia.org.br/o-que-e-dislexia/ . Acessado em 04 de setembro de 2023.

LEI Nº 14.254, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2021Dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos com dislexia ou Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14254.htm. Acessado em 05 de setembro de 2023.

PAPALIA, D. E. e FELDMAN, R. D. (2013). Desenvolvimento Humano. Porto Alegre, Artmed, 12ª ed.

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