Ser indígena hoje em dia tem sido completamente difícil, exige muita resistência, principalmente quando se trata de ocupar espaços urbanos. Há ainda forte preconceito e discriminação para aqueles que buscam um espaço diante da sociedade, ou melhor, para aqueles que buscam estabilidade social. Diante desse texto venho expressar meus mais sinceros sentimentos de tristezas à essa sociedade que diz apoiar nossas lutas, porém, superficialmente.
Por muito tempo me deparei com comentários ofensivos disfarçado de “brincadeira”, como: “indígenas não tem direito de falar”, “você só conseguiu entrar na faculdade porque é indígena”, “índio tem dinheiro, porque é bancado pela Funai”, “é indígena mas tem iPhone”, “índio é bicho preguiçoso”, “nem parece indígena, você é bonita” e entre outros inúmeros comentários completamente maldosos. Até quando teremos que passar o pano diante de uma realidade completamente prejudicial à nossa saúde mental?
Até quando precisamos normalizar atitudes ofensivas levando na esportiva por serem ditas por pessoas próximas? Talvez você não tenha se encaixado diante desse contexto, mas eu te convido a refletir de que forma você tem agido diante dessas circunstâncias. Ser indígena em espaço urbano não necessariamente é abrir mão de sua cultura e costumes, mas sim abrir mão de seus medos, traumas, preconceitos e estando disposto a enfrentar a desvalorização cultural. Que a partir do momento que você lê esse texto, você possa se sensibilizar ao ponto de abraçar nossas causas indígenas, buscando respeitar nossos espaços e direitos, inclusive constitucionais.
Diante disso, para nós indígenas é de grande importância ocuparmos esses espaços, não apenas por buscar reconhecimento, mas sim em busca de recursos que possa nos qualificar, por exemplo à educação que instrumentaliza o indivíduo a ser um profissional qualificado e ético, que contribui não apenas para a nossa comunidade indígena como para a comunidade urbana. Enfim, a cidade também deve ser um local de afirmação dos direitos indígenas de forma que sejamos tratados com respeito em qualquer espaço que desejamos permanecer.
Compartilhe este conteúdo:
Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas simboliza desafios e resistência para preservação de tradições culturais milenares
A data é oficialmente celebrada desde 2008 e marca a luta por direitos e representa a preservação de uma herança cultural que é a história do povo brasileiro
O Dia Nacional dos Povos Indígenas, 07 de fevereiro, celebra a cultura e a história de um povo que é a própria história brasileira. A data traz para a pauta a necessidade de atender reivindicações, garantindo os direitos dos povos originais do Brasil, como demarcação de terras, preservação dos territórios e conservação da identidade, da cultura e de suas tradições milenares.
Celebrada anualmente, a data foi oficializada no Brasil em 2008, pela Lei nº 11.696, em homenagem ao líder indígena Sepé Tiaraju, morto em 7 de fevereiro de 1756, durante a invasão espanhola da Colônia de Sete Povos das Missões, que exigia a retirada da população Guarani que ali vivia fazia 150 anos.
De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, há 896.917 indígenas no país, sendo que desse total cerca de 60% vivem em terras indígenas oficialmente reconhecidas pelo governo federal. Destes, 324.834 moram nas cidades e 572.083 em áreas rurais, sendo a região norte a que possui a maior população indígena do país.
Povos Indígenas do Tocantins
No Tocantins, há aproximadamente 14.118 indígenas, divididos em dez etnias, sendo elas: Apinaje, Xerente, Krahô, Karajá Xambioá, Karajá, Javaé, Avá Canoeiro, Krahô Kanela, Kanela do Tocantins e Krahô Takaywrá. Sendo 11.560 pessoas vivendo em terras indígenas e 2.558 fora do território.
Em apoio a causa, a Secretaria de Estado da Cidadania e Justiça (Seciju), por meio da Diretora de Direitos Humanos (DDH), trabalha a articulação com órgãos representativos de defesa, proteção e promoção aos direitos desses povos. A diretora de Direitos Humanos da Seciju, Sabrina Ribeiro, explica que a Pasta trabalha para o fomento de políticas públicas para garantia de direitos. “Trabalhamos com articulação e iniciativas voltadas para a promoção e proteção dos direitos dos povos indígenas do Tocantins”, ressalta a gestora.
Os direitos dos indígenas estão expressos e resguardados na Carta Magna de 1988 que confere o direito à diferença, assegurando a eles o respeito às suas tradições, crenças, costumes, língua, organização social, além do direito à demarcação de suas terras pelo Governo Federal.
Direito à Educação
O Decreto nº 6.861 de maio de 2009, dispõe sobre a Educação Escolar Indígena estabelecendo sua estruturação fundamentada na participação dos povos indígenas, observada a sua territorialidade e respeitando suas necessidades e especificidades, primando pela valorização da cultura e da afirmação e manutenção de sua diversidade étnica; além do fortalecimento das práticas socioculturais e da língua materna de cada comunidade indígena.
Cotas em Universidades e em Concursos públicos
Mais uma ação afirmativa em favor dos indígenas ao longo dos anos veio com a Lei 12.711 de 2012 que estabelece a obrigatoriedade da reserva de vagas nas Universidades e Institutos Federais para etnias indígenas. Outro ganho tem sido a destinação de vagas em concursos públicos ou processos seletivos por alguns Estados Brasileiros aos povos originários. No âmbito da União, a Defensoria Pública da União (DPU) destinou 5% do total de vagas para candidatos que possuem ascendência indígena, por meio da Resolução 141 de 2018.
Direito à Saúde
Em atenção à saúde indígena, a Lei nº 9.836 de 1999 criou os Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei) que prestam assistência integral e acompanhamento médico aos povos que vivem em territórios e nas cidades, seguindo as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).
Morando em territórios rurais ou em áreas urbanas, os povos indígenas têm tido uma expressão maior em vários espaços da sociedade, como na política. Desde meados dos anos 2000, os povos originários tem marcado participação nas eleições, fruto de suas mobilizações, com destaque para o último pleito em 2020, onde o número de candidaturas indígenas cresceu 88%, saindo de 1.175 candidaturas em 2016 para 2.111 candidatos indígenas nas eleições em todo o país, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A Pandemia do Coronavírus
Neste período pandêmico, que iniciou em março de 2020, os desafios para os povos indígenas foram enormes devido às restrições impostas no combate à transmissão do Covid-19. Nesse sentido, o Tocantins foi um dos primeiros Estados da Federação a inserir a saúde indígena no Plano de Contingência, levando orientações às lideranças indígenas sobre protocolos de prevenção das autoridades mundiais em saúde, o que acarretou na restrição de acesso às terras indígenas como meio de prevenção ao contágio.
Os povos indígenas que vivem em territórios estão entre os grupos prioritários para imunização da primeira dose da vacina, segundo o Plano Nacional de Vacinação apresentado pelo governo federal. No Tocantins, 7.886 doses foram distribuídas para imunizar parte dessa população.
Para a coordenadora do Conselho Indigenista Missionário da Regional Goiás-Tocantins (CIMI/TO), Eliane Franco Martins, a pandemia agravou problemas estruturais nas terras indígenas e trouxe à tona fragilidades ainda persistentes. “Além de terem perdidos seus entes queridos, principalmente os anciãos das aldeias, figuras essenciais no repasse do conhecimento das tradições do povo, ficaram impossibilitados de fazer seus rituais, visitar os familiares em outras aldeias, passaram dificuldades e enfrentaram o preconceito das cidades com o vírus”, lamenta a coordenadora.
Durante a manhã do dia 11 de maio de 2019, a turma de Estágio básico 1 do CEULP/Ulbra juntamente com a equipe de estagiários do portal (En)Cena – Saúde Mental em movimento, foram em uma visita à aldeia Salto – Xerente, em Tocantínia-TO, sendo guiados pelas professoras Ana Letícia Odorizzi e Muriel Rodrigues com a participação especial do psicólogo Rogério Marquezan, que realizou pesquisas na mesma comunidade e é bem aceito por eles; que anteriormente nos proporcionou um momento de esclarecimento no qual ideias equivocadas sobre como é o modo de vida indígena foram extinguidas.
Ao chegar fomos muito bem recebidos, como devolutiva a sua calorosa recepção ofertamos o café-da-manhã e depois fomos conhecer a aldeia, repleta de casas de tijolos e barro, campo de futebol, muitas crianças que nos olhavam com curiosidade e simpatia. A professora de cultura indígena Maria Helena cantou uma música em homenagem ao dia das mães na língua nativa da tribo: Macro Jê, contou um pouco sobre dons e espíritos em que acreditam, foi uma ótima oportunidade para conhecer sua cultura entrando diretamente em contato.
Conhecer pessoalmente a forma que eles vivem foi uma quebra de estereótipos (por exemplo: “cultura ultrapassada, índio não trabalha”) que só incentiva a invisibilidade e desprezo a esses povos. E como é importante trabalhar o olhar através do relativismo cultural onde não há cultura melhor que a outra, respeitar a cosmologia dos povos indígenas que lutam desde a colonização até hoje por seu direito de existir, reconhecer e preservar sua cultura sendo tão complexa e bem construída, revelando a essência da natureza e do ser humano original, e que foi o ponto de partida do Brasil que hoje conhecemos.
Fonte: Arquivo Pessoal
A respeito da atuação da psicologia no contexto da saúde indígena, infelizmente o psicólogo não compõe a equipe multidisciplinar que os atende, então ainda tem um longo caminho a trilhar para a inclusão dessa profissão. Ademais, ao pensar em psicologia indígena tendemos a imaginar atendimento clínico devido ao modelo biomédico que nos persegue, entretanto, inicialmente a psicologia indígena propõe a superação de preconceitos, criação de políticas públicas que incluem a diversidade e igualdade, promoção de diálogos, e claro suporte emocional e mental tanto aos indígenas, dentro do seu contexto sociocultural, como aos membros que prestam serviços.
Sou grata por ter aprendido tanto em tão pouco tempo, admiro esse povo que apesar do genocídio, discriminação, falta de reconhecimento e suporte, continua resistindo, mas é tempo de mudar a história, seguir e alcançar seus direitos, suas terras, seu valor e legado perante todos.
No sábado, 11 de maio de 2019, a Equipe (En)cena acompanhou a Turma de Estágio Básico I em uma visita a aldeia Salto do povo Xerente, localizada em Tocantínia-TO. A visita foi conduzida pelas professoras Muriel e Ana Letícia e pelo professor Rogério Marquezan (UFT). A visita teve como objetivo: oportunizar os acadêmicos a entrar em contato com a dimensão social do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra. A Equipe (En)cena foi convidada a fazer a cobertura do evento, e desde então já fiquei bastante animada.
O que vem à sua cabeça quando você escuta as palavras “índio” e “aldeia”? Na minha sempre vinha o que eu vi representado na literatura e alguns filmes. Ou seja, já imaginava vários índios nus, todos bem pintados, uma aldeia cheia de ocas, um rio enorme como fonte de alimento, peixe assado, muitas penas, flechas, um cacique bem idoso e nada de tecnologia. E foi com este pensamento que fui a aldeia indígena Salto, do povo Xerente, e quando cheguei lá, foi um momento de reflexão e desconstrução.
Ao chegar na aldeia já dei de cara com várias crianças e adultos vestindo roupas comuns, um galpão enorme para realizar reuniões e festas, várias casas de tijolos, um enorme campo de futebol, banheiro, energia e água encanada. Fiquei por um tempo tentando avistar o cacique, e logo descubro que o cacique estava do meu lado. Nunca imaginei, pois o homem que estava ao meu lado era jovem. Me perguntei: mas caciques não são caciques justamente por que têm mais experiência? Então por que não um idoso? Diante disto tudo fiquei um pouco confusa, confesso.
Ao visitarmos a casa da Dona Maria Madalena, índia, historiadora, professora e autora de alguns livros indígenas meu coração saltitava de alegria. Ela cantou uma música indígena linda para nossa chegada e disse com alegria o quanto estava feliz com nossa presença. A historiadora contou que na cultura Xerente tudo tem dono, um espírito, desde a água até a folha da árvore. Ou seja, é costumeiro pedir permissão para fazer uso de qualquer coisa. Caso o espírito não permita o uso, as consequências podem ser doenças físicas ou psicológicas. E a cura ou o tratamento é feita pelo pajé, que é considerado o médico dos médicos.
Dona Maria nos contou também que o respeito às diferentes famílias é muito importante. Em momento de reunião política, cada família tem seu momento de fala sem interrupções. Os mais velhos são ouvidos atentamente, e isto é ensinado desde a infância. Assim como a língua indígena Macro Jê, é ensinada as crianças até os 5 anos, e só depois disso que elas aprendem o português.
No fim do passeio fomos conhecer o rio. Descemos uma ladeira cheia de obstáculos em meio a natureza, com vários indiozinhos nos guiando. Ao chegar no local, que maravilha, uma água maravilhosa, com uma brisa sem explicação. Eu só queria mergulhar. Eu e alguns colegas entramos com a roupa que estávamos no corpo. Que sensação incrível, que prazer entrar e me banhar na mesma água que este povo forte e guerreiro também faz o mesmo. Me senti tão viva e aproveitei cada momento.
Ao chegar em casa eu refleti bastante. Pensei em toda história do índio no Brasil, da forma que a terra foi tomada de suas mãos. Foram feitos de escravos. E mesmo séculos depois, com toda tecnologia, a aldeia Salto do povo Xerente continua praticando sua cultura, aprenderam a conviver com a cultura do homem branco sem perder a identidade indígena, encontraram equilíbrio nas duas coisas.
Diante de toda experiência vivida, carrego no peito um emaranhado de sentimentos um tanto quanto ambivalente. É um misto de alegria com tristeza, pois a tristeza me invade quando penso no sofrimento que a história do índio no Brasil é contada. Mas meu coração também se enche de alegria ao ver de perto que cada índio daquela aldeia vive a identidade indígena, independente de morar em uma oca ou em uma casa de tijolo.
A visita me fez refletir sobre minha própria história enquanto mulher negra, descendente de escravos. Me fez pensar nos meus antepassados e ao invés de olhar com pena, olhei com admiração. Que povo forte. Que mesmo com o passar do tempo, que jamais percamos nossas raízes. Que o respeito à diferença seja uma lei de todos, pois independentemente da cor, raça, cultura e status, ninguém é melhor do que ninguém. Hoje sigo fortalecida e com o coração cheio de gratidão por quem fui, por quem sou e por quem serei.
Compartilhe este conteúdo:
Psicologia promove evento com Professor e alunos indígenas da UFT em parceria com a disciplina de Sociedade
16 de fevereiro de 2019 Sonielson Luciano de Sousa
Notícias
Compartilhe este conteúdo:
Os estudantes indígenas fazem parte do PET, o Programa de Educação Tutorial
As 19h do próximo dia 25, no miniauditório 543 no Ceulp/Ulbra, o prof. Dr. André Demarchi e um grupo de alunos da UFT irão participar de uma roda de conversa com alunos do curso de Psicologia e de outros cursos do Ceulp/Ulbra que estejam matriculados na disciplina de Sociedade e Contemporaneidade, ás segundas, sob a docência dos profs. Me. Sonielson Sousa e Dra. Valdirene Cássia.
André, que é antropólogo, e os estudantes irão abordar os desafios das comunidades indígenas frente a um crescente cenário de intolerância. Neste sentido, ninguém melhor que os próprios afetados por este panorama para falar sobre o assunto. O evento faz parte de uma ação extensionista denominada ‘Diálogos Contemporâneos’, ligada ao curso de Psicologia como interdisciplinaridade com Sociedade e Contemporaneidade.
Os estudantes indígenas fazem parte do PET, o Programa de Educação Tutorial que é desenvolvido por grupos de estudantes, com tutoria de um docente, organizados a partir de cursos de graduação das Instituições de Ensino Superior do país, orientados pelo princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Conexões de Saberes –O PET/Conexões de Saberes para Estudantes Indígenas tem como objetivo principal o de contribuir com as ações afirmativas da UFT, no que tange a permanência dos estudantes indígenas no Ensino Superior, por meio de ações específicas e estratégicas que atendem a educação bilíngue, intercultural, específica e diferenciada, de modo a desenvolver ações de extensão junto às comunidades escolares indígenas do Estado do Tocantins, a partir de suas necessidades e anseios, no âmbito das manifestações culturais e de autoafirmação indígena.