Vestimenta, comida, saúde mental e os perigos do “fast-food”

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Passamos a vida apressados! E como a grande parte do que já é tendência, pegamos dos EUA. Estamos na época do fast-food. Ao pé da letra “acelerado, ligeiro”, um adjetivo para instituir qualquer coisa que seja elaborada de maneira frenética e de custo momentâneo. Há o fast food, o fast fashion, o fast friend e até as fast News — sínteses breves e de assimilação acessível.

A sugestão era incluir, na heterogeneidade da nossa vivência, algo agradável e momentâneo, um espaço e uma pausa. O pensamento não é maléfico, a controvérsia é que a comida rápida virou parte do dia-a-dia. Sustentando a premissa de que não existe nada mais duradouro do que o momentâneo, o fast estabeleceu-se. E os contratempos estão diante dos nossos olhos.

O pioneiro dessa dinâmica foi o fast food. Começou de maneira acanhada. Era meramente uma escolha alimentar para no momento em que não temos tempo de nos alimentar direito. Parou de constituir uma prerrogativa eventual, cresceu-se a frequência, transformou um hábito, o hábito converteu-se agora em cultura e nesta ocasião o que fazer. O total de adultos com excesso de peso no Brasil teve um aumento de 67,8% entre 2006 e 2018.

Fonte: encurtador.com.br/dnvwL

O fast food, ou junk food, produziu um dano similar na cultura que o criou, os EUA. As comidas preparadas de maneiras vertiginosas e manuseadas por conveniência, como sanduíches e pizzas, converteram-se em um subsidio cultural que mudou os costumes — e a saúde — dos indivíduos que moram nos EUA.

A consequência é que as pessoas que moram nos EUA detêm a população de obesos maior do mundo. Não é um contrassenso: uma especifica comida de fast food — sanduíche, refrigerante e batatas fritas — contem cerca de 1500 calorias. Nesta ocasião, literalmente é a quantidade de calorias de necessitaríamos consumir em um dia inteiro. E com um agravante: como é carente em nutrientes, não oferta os nutrientes essenciais que o organismo precisa, prontamente, após de duas horas, a fome retorna.

Uma alimentação salutar, que é igual em calorias, a carência por alimentação só virá depois de cinco horas. Se fosse apenas a obesidade já seria estarrecedor, visto que ela é o acesso para inúmeras doenças. Contudo, com mais intensidade. O fast food tem grande quantidade de gorduras más, açúcar, sal e múltiplos condimentos que podem provocar doenças como diabetes, gastrite, hipertensão, colesterol elevado.

Fonte: encurtador.com.br/uzAMV

E o perigo não está limitado às grades de fast-food, esse perigo está também nos supermercados. Os alimentos processados, refinados e enlatados contemporizam os mesmos danos. Não só no Brasil; no fundamento da globalização, o fast food se deslocou dos EUA e desbravou o mundo. A cifra de crianças obesas no Brasil tem estágios crescentes e até países com hábitos alimentares saudáveis, como a França, também já tem sinais da obesidade. E como se não bastasse, atualmente, surgiu mais um artefato para burlar corações e mentes: o hambúrguer gourmet. As hamburguerias contemporâneas já são um feito pelo mundo e vieram para ficar.

Depois da estrutura física, olhe para a sua vestimenta. comenta-se na socialização da moda. A liquidação é grande. Todos festejam e consomem — mais ou menos que toda semana. Para sustentar o capitalismo girando, os estilistas de moda lançam todo dia novos modelos e eles são elaboradas para não durarem, porque na semana seguinte tem mais modelos.

O engenho da indústria têxtil não pode parar. O conceito da fast fashion são vestimentas Semi descartáveis. Após um mês já podem ser descartadas — ou o modelo não está mais na moda ou o tecido já não aguenta mais lavagens. O produto é que a indústria do vestuário é uma das mais competitivas e agressivas do mundo e as suas malevolências não são limitadas ao bolso de quem consome.

Fonte: encurtador.com.br/hvyMZ
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Dia Internacional das Pessoas com Deficiência celebra o crescimento de 89% de novas contratações na indústria de acessibilidade

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As vendas dispararam no mercado de acessibilidade, e com isso as vagas temporárias também. Elas representam cerca de 400 mil vagas e faz girar a economia do setor. SP, RS, RJ, MG, Brasília, PR e SC, são os estados que mais contratam.

São Paulo, novembro de 2020: Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 24% da população brasileira é composta por pessoas que possuem algum tipo de deficiência. E por conta da quarentena, as pessoas com mobilidade reduzida passaram a adaptar as residências e, com isso, aquecer a indústria que não foi contaminada pela Covid-19.

O setor movimenta R$ 5,5 bilhões ao ano. Apenas um fabricante, do interior paulista, registrou aumento nas vendas e já estima um faturamento de R$ 22 milhões para 2021. RJ, RS, SP E MG são os estados que mais consomem produtos de acessibilidade.

Segundo a Projeção da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem) é que cerca de 400 mil vagas temporárias devem ser criadas no último trimestre. O crescimento foi de 89,5%, em relação ao ano anterior. Além das vagas, cresceram também, as vendas de barras e piso antiderrapante, devido as pessoas quererem evitar as quedas durante o isolamento social.

Para o CEO da Planeta Acessível, Marcelo Costa, tornar espaços de lazer acessíveis a todos os públicos é mais que uma simples obra.”… crianças, idosos e portadores de necessidade especial ou mobilidade reduzida, exigem atenção redobrada. A demanda na pandemia aumentou. “Vendemos cerca de 300 mil itens e estimamos um faturamento de R$ 22 milhões para 2021”, contou Costa, que projeta um faturamento de R$ 22 milhões em 2021 e já incluiu no planejamento do próximo anos a arrecadação de 2% das vendas do elevador de piscina para projetos inclusivos.

E visando o tempo de isolamento social, e com o intuito de dar mais independência, autonomia e qualidade de vida, em especial às pessoas com restrições motoras, a Planeta Acessível, a maior indústria fabricante de produtos para acessibilidade do Brasil e especialista em objetos de adaptações de ambiente para manter a segurança, aumentando ainda expectativa de vida, inovou e criou o MOBlife, uma linha de elevadores de transferência para a piscina, totalmente à base de energia solar, dispensando o uso de cabos e fiações externas.

Pesquisa realizada pela USP (Universidade Federal de São Paulo), 29% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano e 13% caem de forma recorrente – neste período de pandemia e isolamento social, o número chegou a 30%. Segundo balanço do CEO, entre os itens mais adquiridos estão além do elevador da piscina, outros itens estão liderando as vendas. Entre eles, Barra de Apoio, Alarme Audiovisual, Banco Articulado para banho, Fechadura Acessível e Fita Antiderrapante para Banho. “Há uma procura significativa desses produtos nos Estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais”. Finaliza o empresário.

Sobre a Planeta Acessível: Maior indústria fabricante de produtos para acessibilidade do Brasil. Entre os produtos mais fabricados para construção civil, órgão públicos e residências estão a barra de apoio, piso tátil, placas de sinalização em braile e agora começam a produzir o elevador de piscina. Apoiam eventos e grandes feiras como Equipotel e Feicon, além de abraçar causas de inclusivas de responsabilidade social. A fábrica possui 70 funcionários prevê uma receita anual de R$ 22 milhões a partir de 2021.

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Epidemia de Doenças Mentais em Tempos de Capitalismo Ultraliberal

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Não é necessário ser especialista para ver “a olho nu” o que algumas pesquisas, aqui e acolá já constataram: as desordens psíquicas ou psiquiátricas estão em uma reta ascendente. Diante desta realidade, as perguntas que vou fazer a seguir não são de modo algum inéditas, mas precisam ser repetidamente levantadas: Será que estamos mesmo adoecendo mais da nossa psique? Será que estamos apenas conseguindo diagnosticar, pelo avanço das ciências médicas e psicológicas, problemas que antes não conseguíamos? Ou será que ampliamos tanto o espectro do que é considerado “patológico” que transformamos quase tudo em doença mental?

Diferentemente de outros campos da medicina, a psiquiatria traz consigo uma particularidade, especialmente no que se refere ao diagnóstico, já que grande parte das doenças mentais não é comprovada por exame. Ou seja, mesmo que o sujeito não apresente nenhuma anomalia ou disfunção que possa ser observada em um laboratório de análises clínicas ou de imagem, ainda assim, por um conjunto de sintomas e sinais, ele pode ser diagnosticado como portador de algum transtorno mental. Essa peculiaridade leva a algumas questões éticas que perseguem a psiquiatria desde o seu nascimento: Qual é o limite que distingue a loucura da normalidade? Como fazer esta medição?

 

Fonte: https://goo.gl/hx2jx7

A novela Machadiana, O Alienista, ilustra bem esse incômodo ético. Simão Bacamarte é o médico que envereda pelo ramo da psiquiatria e que, autorizado pelo rigor da sua ciência, acaba por internar todos os cidadãos de Itaguaí, até que só resta ele mesmo fora do hospício. Publicada pela primeira vez em 1882, o texto de Machado de Assis nos soa mais como uma profecia. Hoje, o DSM – Bíblia da psiquiatria americana exportada para o mundo que está na sua V edição – transforma quase todos os nossos mal-estares em patologia.

Mas, diante das três questões que levantei no início do texto, defendo que, a última responda mais ao que temos tomado como direção em nossos tempos de capitalismo ultraliberal. Ampliamos sobremaneira o limite utilizado para diagnosticar os males que atormentam nosso ser, transformando-os em alguma doença, de preferência medicalizável. E seria ingenuidade pensar que isso se deve a um suposto avanço científico que “descobriu” novas doenças. A verdade é que “fabricamos” novas doenças, e para um propósito muito simples, para que sejam vendidas no mercado.

Fonte: https://goo.gl/BkZ6x2

Dany Dufour – em A arte de reduzir as cabeças – vai dizer que, o avanço do capitalismo, representa a morte do sujeito crítico kantiano e do sujeito neurótico freudiano; ambos sujeitos modernos. Ele nos lembra que, tal como formula Lacan quando nos diz que “o inconsciente é a política”, esse Outro que já está posto aí quando chegamos ao mundo não é um organismo fixo, ele modifica ao longo do tempo, o que, consequentemente, interfere no tipo de sujeito que irá emergir em determinada época. Assim sendo, o sujeito dos nossos tempos – balizado pelo Outro da política do capitalismo ultraliberal – seria o sujeito pós-moderno; um sujeito sem limites. Na busca da radicalidade da sua “liberdade” tal sujeito rejeita se submeter a qualquer tipo de categoria ou determinação, seja no campo da sexualidade, da identidade ou da geração. Ao rejeitar o recalque como estratégia, acreditando que assim teria mais garantia de satisfação, o sujeito pós-moderno favorece a plenitude do capitalismo, afinal, quanto menos barreiras (externas ou internas), mais interessante a esse modelo político-econômico. Se o sujeito que faz mover o capitalismo é o consumidor, ele é tanto mais interessante quanto mais flexível, descontruído e mutante for. O novo capitalismo, dirá Dufour, tem como objetivo principal destruir sistematicamente todas as instituições e todas as referências culturais e simbólicas que possam entravar a livre circulação das mercadorias.

Mas, voltando ao tema dessa nossa psiquiatria que serve ao mercado de consumo, é curioso que, em tempos de defesa irrestrita a tantas “liberdades individuais”, as diferenças que emergem sejam cada vez mais capturadas pelo mercado, incluindo o de diagnósticos e medicamentos. Atenta a tanta diversidade, a indústria farmacêutica – uma das três mais poderosas do mundo – não para de crescer e de se diversificar. Todo dia há uma nova pílula para cada novo mal-estar do ser.

Fonte: https://goo.gl/g2z98E

E enquanto o sujeito freudiano tinha interesse em decifrar seu mal-estar, interrogá-lo para saber mais sobre seus sintomas e o véu que os encobria, o sujeito pós-moderno não quer saber nada sobre isso, na medida em que não acredita que haja qualquer simbólico que o anteceda e o determine de algum modo. O sujeito pós-moderno parece querer viver sem referências, ou seja, sem passado, usa o seu presente para consumir e o futuro para pagar a fatura do cartão. E, sem uma barreira identitária ou simbólica que o marque e que o determine em seu passado, temos sujeitos que não se sentem impelidos a escolher entre uma coisa e outra, já que eles podem, tranquilamente, querer as duas coisas. E se sabemos que desejar implica em escolher entre uma coisa e outra, o sujeito que interessa ao nosso tempo não deseja, pois ele quer tudo. Então, que consumidor maravilhoso ele se tornou!

Para esse mal-estar sem passado, sem recalque e sem desejo, resta a prateleira de medicamentos, que serve muito bem à nossa epidemia de doenças do ser, chamadas de mentais, quem sabe apenas para caber no discurso da ciência. Talvez não seja possível resgatar o sujeito freudiano, mas, talvez seja necessário sustentar uma ética do desejo, tal como a psicanálise propõe. Isso significa escutar o sintoma como algo que diz da matéria-prima da qual fomos feitos e que serve, sobretudo, para nos manter desejantes. Tal ética inaugurada por Freud nos alerta que é impossível eliminar todos os nossos sintomas sem perder junto com eles, aquilo que representa nosso estilo de ser, aquilo que nos aproxima da obra de arte e nos afasta de sermos mera cópia de um original previamente definido, higienizado, polido e considerado normal.

Nesse sentido, o deprimido de nossos tempos, talvez, seja menos doente do que supomos. Quem sabe seja apenas esse sujeito que foi alijado do desejo e que, consumindo a si mesmo, nos denuncia que consumir não é a saída?

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Medicalização da vida

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Jurema Barros Dantas, psicóloga, mestre e doutora em psicologia social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, nos apresenta o artigo “Tecnificação da vida: uma discussão sobre o discurso da medicalização da sociedade”, onde traz à tona que o uso abusivo de terapias e medicamentos na atualidade tem se demonstrado como um traço de atitudes relevante da cultura ocidental, visto que as problemáticas sociais do homem vêm sendo cada vez mais interpretadas por um discurso biomédico. Onde tudo e todos necessitam de cura, onde nada é visto como natural ou passageiro, onde o bem-estar corre contra o relógio e precisa-se de tudo pra já, agora!

Considerando que hoje somos corrompidos pelas facilidades para alcançar a ‘felicidade instantânea’ a resolução dos conflitos foi deixada de lado. Sofrer? Só para os mal-informados ou não abonados financeiramente, pois o magnífico comercio da industria farmacêutica fornece tudo, mas com seu devido preço!

O alto valor que se dá ao conhecimento científico e ao discurso médico faz com que cada acontecimento natural do nosso cotidiano seja visto de forma técnica. Dantas (2009) traz uma discussão acerca dessa tecnificação da vida e desse discurso que faz com que a sociedade seja guiada pelo discurso da medicalização. Ela faz uma comparação onde a suposta eficácia das medicações é vista como algo que serve de engrenagem para dar um ‘up!’ na vida do individuo ou deixar aquele problema esquecido em meio a tantas formas tecnificadas de enfrentar o cotidiano.

Dantas (2009) também defende que a medicalização não deve ser vista só como um evento isolado a ser previamente definido, mas como uma série de práticas que acabam fazendo com que o medicamento se torne uma forma de resolução rápida para todo e qualquer problema de vida da atualidade. Como fruto disso, não somente a indústria farmacêutica vem enriquecendo cada vez mais, como também a sociedade parece estar cada vez mais anestesiada com as descobertas cada vez mais recentes que prometem desde a perda de peso até o controle dos filhos.

O discurso que tem guiado a sociedade é um discurso mágico e mítico, onde tudo acontece em um piscar de olhos, sociedade essa que podemos entender como ‘sociedade da preguiça’, onde o sofrimento e os dramas existenciais são guiados por um discurso médico e transformados de forma química, ingerida de rápida e eficaz para resolução dos problemas que atravessam naturalmente a vida na contemporaneidade.

Infelizmente, com o fácil acesso ao conhecimento cientifico, incorporamos cada vez mais ao nosso cotidiano um modo de experimentação, de expressão, motivação e desejos baseados nas substancias artificiais e paliativas para o bom viver na atualidade. Precisamos cada vez mais perceber que a vida e a forma de existir não é uma doença e que viver inclui todos os riscos de experimentação, escolha, decepção. A medicina vem sim avançando cada vez mais com intuito de melhorar as condições de vida de cada um e cabe a nós dosar até que ponto esses avanços nos aprisionam e acabam nos tornando em uma sociedade medicalizada.

No artigo em questão fica evidente que estamos inseridos em uma sociedade que evita o conflito e se ‘afunda’ num discurso técnico onde os medicamentos e os discursos médicos se mostram como ‘soluções’ para situações que deveriam ser vivenciadas normalmente na vida de cada sujeito, considerando que é na crise que evoluímos e não com os embotamentos trazidos pela maravilhas da medicina. Para complementar essa discussão indicamos o livro “Por que a Psicanálise?” de Elizabeth Roudinesco que trata, com detalhes, do como a sociedade contemporânea nos afasta de questões existenciais, necessárias para o desenvolvimento do espírito humano, em troca de soluções fast-food, rápidas e, supostamente, seguras.

REFERÊNCIAS:

Dantas, J. B., Tecnificação da vida: Uma discussão sobre o discurso da medicalização da sociedade. Revista de Psicologia, Set/Dez, 2009. Disponível emhttp://www.uff.br/periodicoshumanas/index.php/Fractal/article/view/202, acesso dia 26/11/2012.

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O Direito à Preguiça

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LAFARGUE, Paul. O Direito à Preguiça. São Paulo: Editora Claridade, 2003.

O Direito à Preguiça, de Paul Lafargue, é uma crítica social atual, apesar de abordar o regime capitalista no seu molde inicial. O livro narra uma sociedade alienada e emudecida pelo calor de sua própria ignorância e falta de critícidade, tal qual a da nossa contemporaneidade.

O livro divide-se em um prólogo e quatro capítulos, ordenados em uma sequencia lógica, inicialmente situando o leitor no contexto histórico à medida que segue com a descrição das problemáticas acarretadas pelo trabalho.

A sociedade descrita por Lafargue corresponde a um período da história em que, a supervalorização da moeda e o intento de empresários em tornarem-se uma potência capital, moviam o mundo. O autor defende que os burgueses, com a benção da igreja, eram os que detinham o controle sobre o capital, assim como o domínio sobre trabalho e a força bruta dos operários, estes por sua vez, atuavam passivamente, barganhando a troco de pão por seu suor. Para Lafargue, a igreja é uma das principais responsáveis por essa sociedade vendida, e voltada unicamente para o trabalho, por ele, tão criticado.

Seria ela, a igreja, a criadora e mantenedora do “Dogma Desastroso”, mistificado e fantasiado pelas belas palavras dos sacerdotes, que estimulavam e cegavam os homens em busca de um prazer ilusório, creditado no trabalho.

Uma estranha loucura dominou as classes operárias, das nações onde reina a civilização capitalista […]. Essa loucura é o amor ao trabalho, a paixão moribunda que absorve as forças vitais do individuo e de sua prole até o esgotamento. (LAFARGUE, p.19, 2003).

O autor afirma que o trabalho excessivo nas indústrias, cega, embrutece e adoece o homem. É uma medida de controle social, pois se o homem não tem forças, ele não luta. Para Lafargue, o patriarcado burguês retira do homem seu direito à liberdade, e cria uma cultura toda voltada à satisfação monetária, onde fantasiosamente é pregado que: quanto mais suor gasto, mais dinheiro e melhores condições de vida. E a classe proletária, a fim de atingir um estado ilusório de felicidade, fundamentado no capital, adere aos modelos e parâmetros burgueses.

No capitulo seguinte, a “Benção do Trabalho”, o autor expõe que os regimes de 14 horas de trabalho diários nas fabricas, levou os operários a adoecerem, e a morrerem, cada vez mais cedo. Para calar o proletariado, a burguesia falsamente prega o infortúnio do ofício como uma benção. E, sem perceber, o homem se vê imerso num regime neoescravocrata e sem escapatória, em um ciclo vicioso, onde ele é, em toda a sua ignorância, senhor e servo, ao ser obrigado a consumir o seu próprio produto, e sem poder questionar. Era uma atividade ironicamente injusta e igualitária, que não dispensava e não distinguia homens, nem mulheres, e nem crianças. Todos eram bem vindos e podiam contribuir com a produção.

No capitulo “Depois da Superprodução”, Lafargue demonstra como o homem desperta para sua condição miserável e alienada. Pois quanto mais suor e mais tempo gasto, mais pobre e miserável o homem se torna. Consumido pelo seu sonho nunca alcançado, o homem cada vez menos é dono de seu próprio destino, e frustrado, perde a vontade de lutar, de ser, de buscar.

[…] Sublimes cérebros que abarcavam todo o pensamento humano, que fim levaram? Estamos muito diminuídos e muito degenerados. As privações, a batata, o vinho com fucsina e a aguardente prussiana, sabiamente combinados com o trabalho forçado, debilitaram nosso corpo e diminuíram nosso espírito. (LAFARGUE, p.42, 2003).

No capitulo final, segundo Lafargue, nasce a sociedade moderna, “Dançando conforme a música”, criticada e bestificada pelo autor. Lafargue defende uma sociedade onde homens e mulheres trabalhem não mais que 3 horas por dia, onde crianças tenham o direito de serem crianças, e de se apropriem de sua ingenuidade. Uma sociedade onde pessoas vivam mais, sem serem abusadas e/ou exploradas em função do capital. Um regime onde as pessoas não são um mero acaso da evolução, como uma macrossistema em expansão, mas, seres abençoados e dotados de direitos e de uma vida. Pois uma sociedade doente, nada mais é que o reflexo da doença de nossos homens.

Paul Lafargue, nasceu em 1842. Era um marxista e totalmente contrário ao sistema do trabalho que escravizava, sem pudor algum, o corpo e a alma dos homens. Fez, em seu livro, uma crítica ao sistema do capital, que previa os rumos e mazelas nas quais à sociedade atual se perderia. Suicidou-se em 1911 juntamente com sua esposa.

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Quando ser gostoso(a), basta!

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Não sou preconceituosa. Mas depois de um bate-papo entre professores, e no grupo estavam especialistas, mestres, doutorandos, chegamos a uma quase conclusão. (Coisa rara, quando há muitos pensadores reunidos….rsss). E não foi nada teórico sobre uma questão social ou educacional específica, nem sobre uma estratégia de ensino que pode ajudar nossos alunos a se interessarem ou ressignificarem os conteúdos que levamos até eles.

Foi sobre uma questão do cotidiano. E por isso comecei este texto anunciando que não sou preconceituosa.

Então, vamos lá. Nem beleza. Nem inteligência. Mas sim gostosura.  Imagino que você já esteja pensando, será que é sobre isso mesmo que ela está escrevendo? Sim, é sim. Pode crer.

E vou usar uma expressão relacionada à um dos sentidos dos humanos: o paladar.

– Delícia!

Já ouviu esta? A gente normalmente usa este termo para definir algo gostoso. Quando se refere a um produto, alimento, bebida que se experimentou, tudo bem. Mas e quando se adota este termo quando se deseja falar de ou sobre alguém, que também já se experimentou. Tá valendo?

Enfim, é a contemporaneidade juntando os sentidos, na chamada sinestesia, ou mistura de planos sensoriais diferentes.

Para dizer se é ou está gostoso, é preciso provar. Certo? E como se prova? O gosto se sente pela boca. A língua é parte deste conjunto. Um beijo pode ser o exame para detectar o sabor. O primeiro, o inicial.

Mas para chegar onde quero é preciso voltar ao começo. Aos professores que discutiam uma questão do cotidiano. E aí, ao rumo que seguiu este bate-papo.

Para ser ‘gostoso’ não é preciso ser bonito, nem inteligente. E surge aí, um desafio. Em tempos de tecnologias contemporâneas, é preciso descobrir a própria gostosura. Ou desmistifica-la, para construí-la, se preciso for.

Para ser ‘gostoso’ não é preciso ser forte, malhado. Só que pode ser também. Não é condição sine qua non. Eu prefiro cérebro, sentimento. Acho que aí reside muita gostosura. Mas é a maturidade, e não a idade, que define e percebe isso. Não é cérebro de derramar intelectualidade, blablabla. É cérebro para perceber, entender, ouvir. É cérebro, que denota vida, vivência.

Eu gosto do belo. Quem não gosta?

É bom, é gostoso, contemplar a beleza. Faz bem pra gente. E porque estou mencionando a beleza, lembro um provérbio popular, complementado com ironia na minha adolescência. “Beleza acaba mas feiura aumenta”.

A indústria da beleza – cirurgia plástica estética, cosmetologia – investe milhões de dinheiros para perpetuar a juventude e valorizar traços de ‘boniteza’, escondendo ou fazendo desaparecer aquilo que desagrada. Eu confesso, também sou adepta dos tais comprimidos pesquisados que prometem mais colágeno, mais elasticidade, menos rugas, mais brilho para o cabelo etc, etc. Não condeno quem investe nisso, não condeno, mas não é tudo. Neste aspecto, só é gostoso quem pode pagar ou quem tem a sorte de agradecer a boa natureza.

E sim, por fim, a parte bem-humorada do fim da conversa entre professores. Nas lápides da vida (no túmulo mesmo), dificilmente se é lembrado pelas pesquisas que fez, pelos livros que escreveu, quanto dinheiro ganhou ou quantos alunos orientou. Muito provavelmente, sem qualquer mágoa, seremos mais lembrados pelo estilo fashion ou não, pelo jeito espalhafatoso ou não, pelo perfume, cabelo penteado ou despenteado, braço malhado, perna bem torneada, cintura definida. É difícil, mas a gostosura tem preço e sabor. Que nem a intelectualidade consegue mensurar.

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