Quando ser gostoso(a), basta!

Não sou preconceituosa. Mas depois de um bate-papo entre professores, e no grupo estavam especialistas, mestres, doutorandos, chegamos a uma quase conclusão. (Coisa rara, quando há muitos pensadores reunidos….rsss). E não foi nada teórico sobre uma questão social ou educacional específica, nem sobre uma estratégia de ensino que pode ajudar nossos alunos a se interessarem ou ressignificarem os conteúdos que levamos até eles.

Foi sobre uma questão do cotidiano. E por isso comecei este texto anunciando que não sou preconceituosa.

Então, vamos lá. Nem beleza. Nem inteligência. Mas sim gostosura.  Imagino que você já esteja pensando, será que é sobre isso mesmo que ela está escrevendo? Sim, é sim. Pode crer.

E vou usar uma expressão relacionada à um dos sentidos dos humanos: o paladar.

– Delícia!

Já ouviu esta? A gente normalmente usa este termo para definir algo gostoso. Quando se refere a um produto, alimento, bebida que se experimentou, tudo bem. Mas e quando se adota este termo quando se deseja falar de ou sobre alguém, que também já se experimentou. Tá valendo?

Enfim, é a contemporaneidade juntando os sentidos, na chamada sinestesia, ou mistura de planos sensoriais diferentes.

Para dizer se é ou está gostoso, é preciso provar. Certo? E como se prova? O gosto se sente pela boca. A língua é parte deste conjunto. Um beijo pode ser o exame para detectar o sabor. O primeiro, o inicial.

Mas para chegar onde quero é preciso voltar ao começo. Aos professores que discutiam uma questão do cotidiano. E aí, ao rumo que seguiu este bate-papo.

Para ser ‘gostoso’ não é preciso ser bonito, nem inteligente. E surge aí, um desafio. Em tempos de tecnologias contemporâneas, é preciso descobrir a própria gostosura. Ou desmistifica-la, para construí-la, se preciso for.

Para ser ‘gostoso’ não é preciso ser forte, malhado. Só que pode ser também. Não é condição sine qua non. Eu prefiro cérebro, sentimento. Acho que aí reside muita gostosura. Mas é a maturidade, e não a idade, que define e percebe isso. Não é cérebro de derramar intelectualidade, blablabla. É cérebro para perceber, entender, ouvir. É cérebro, que denota vida, vivência.

Eu gosto do belo. Quem não gosta?

É bom, é gostoso, contemplar a beleza. Faz bem pra gente. E porque estou mencionando a beleza, lembro um provérbio popular, complementado com ironia na minha adolescência. “Beleza acaba mas feiura aumenta”.

A indústria da beleza – cirurgia plástica estética, cosmetologia – investe milhões de dinheiros para perpetuar a juventude e valorizar traços de ‘boniteza’, escondendo ou fazendo desaparecer aquilo que desagrada. Eu confesso, também sou adepta dos tais comprimidos pesquisados que prometem mais colágeno, mais elasticidade, menos rugas, mais brilho para o cabelo etc, etc. Não condeno quem investe nisso, não condeno, mas não é tudo. Neste aspecto, só é gostoso quem pode pagar ou quem tem a sorte de agradecer a boa natureza.

E sim, por fim, a parte bem-humorada do fim da conversa entre professores. Nas lápides da vida (no túmulo mesmo), dificilmente se é lembrado pelas pesquisas que fez, pelos livros que escreveu, quanto dinheiro ganhou ou quantos alunos orientou. Muito provavelmente, sem qualquer mágoa, seremos mais lembrados pelo estilo fashion ou não, pelo jeito espalhafatoso ou não, pelo perfume, cabelo penteado ou despenteado, braço malhado, perna bem torneada, cintura definida. É difícil, mas a gostosura tem preço e sabor. Que nem a intelectualidade consegue mensurar.