O Rei Leão sob a perspectiva da Psicologia Analítica

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O Rei Leão é um remake do desenho animado O Rei Leão, de 1994. E foi inspirado em partes da obra Hamlet, de William ShakespeareO longa retrata a historia do leão Simba, que é o herdeiro do trono da Pedra do Reino em uma floresta africana, e sua jornada enfrentando os perigos inerentes a essa função.

Para iniciar a análise do filme é importante analisarmos a figura do leão. O leão é tido como o rei dos animais. Na alquimia ele desempenha um papel muito importante. Ele é um aspecto do Rei alquímico. O rei, nos tempos mais antigos, era considerado a manifestação de Deus na Terra. Psicologicamente sua figura pode ser associada à imagem do Self, aquele centro regulador da psique que se torna uma representação da atitude coletiva nos contos de fadas.

Von Franz (2005) diz que o rei incorpora um princípio divino, do qual depende o bem-estar físico e psíquico de toda a nação. É o princípio divino na sua forma mais visível, é sua encarnação e sua moradia. Nos contos de fadas e na alquimia, o Rei precisa sempre ser renovado. Ele ora se apresenta velho, ou doente, ou com algum problema, e precisa de um substituto a altura para o cargo. Ele precisa morrer!

Fonte: encurtador.com.br/puACY

Conforme Von Franz (1984), o leão representa a natureza ctônica, o aspecto terreno do símbolo do Rei, pois ao morrer o Rei vai para o interior da terra, onde será renovado. Ele é um símbolo solar, portanto segue a trajetória do Sol, tendo que morrer de tempos em tempos. Por isso, o filme retrata o drama arquetípico, onde os aspectos da consciência precisam de renovação constante. A descida ao mundo dos mortos, o confronto com a sombra e a posterior renovação é algo essencial para todo processo de transformação, tanto coletivo, como individual. A tônica do filme é justamente o ciclo morte e vida. Algo muito bem explicitado na fala do rei Mufasa para seu filho Simba sobre os ciclos da vida e a morte como processo de transformação.

O filme inicia com o nascimento de Simba, filho do Rei Mufasa, o que traz logo a inveja de Scar, irmão do Rei. O filme é baseado em Hamlet de Shakespeare. Na peça Claudio mata seu irmão, o Rei, e casa-se com a rainha, Gertrudes. O filho do Rei, o príncipe Hamlet, é atormentado pelo fantasma do pai para vingar a família e retomar o trono e a honra, matando o criminoso. Após muita hesitação, Hamlet realiza o desejo paterno (vindo do além-túmulo).

O drama do filme e da peça retrata a jornada do herói, onde ele precisa encarar a sombra paterna. Vemos isso em várias sagas, como por exemplo, Star Wars, onde o heroi Luke Skywalker precisa matar o pai. O irmão do rei Scar, com inveja, monta uma armadilha para tomar o poder, matando Mufasa e ainda fazendo o pequeno Simba se sentir culpado pela morte do pai.  Scar simboliza a sombra do rei. Aliás, um tema arquetípico esse dos dois irmãos, o bom e justo, e o ruim e invejoso. 

Fonte: encurtador.com.br/zFZ14

Simba é o herói da trama, ele irá viver a jornada típica de vários heróis, onde precisa se afastar de sua tribo, descobrir seus talentos, conhecer seus aliados, provar o seu valor e retomar o seu lugar de direito. Já adulto, é então convencido da sua missão: tirar do poder o usurpador e restabelecer a ordem no reino.  

Sem o rei legitimo todo o reino passa pela devastação, pois um rei saudável é responsável pela fertilidade da terra e do povo. Com a morte do rei sua sombra faz a aparição da sombra do rei. A ganância, a inveja e a morte se apresentam. Isso significa que de tempos em tempos a consciência é embotada pelo principio do poder (leão). Um obscurecimento da consciência, onde a ganância, o assassínio, o crime, a cobiça fazem sua aparição. 

A união do usurpador com as hienas para subir ao trono é bastante simbólico. Elas representam na historia a escória da sociedade, o que há de mais repulsivo. A fome delas é infinita, ou seja, a ganância é desmedida. O herói então deve provar ser capaz de enfrentar essa sombra de frente. É a partir do enfrentamento dessas forças sombrias que o ser humano atinge um novo patamar de consciência e maturidade.

Fonte: encurtador.com.br/iFGM8

O filme fala dos ciclos da vida. E o conflito e o drama fazem parte desse ciclo. Mufasa deixa isso bem claro em seu diálogo com o filho. Ele simboliza o rei do mundo, onde toda a criação está de acordo com seus princípios, inclusive a vida de Scar (o usurpador).

Em diversos mitos e contos de fadas, o tesouro é guardado por um leão, ou um dragão, ou uma serpente. Ou seja, o conflito é inerente ao ciclo da vida e a condição para se chegar a totalidade e a sabedoria. Os reis anteriores a Mufasa fizeram isso, e nesse momento ele prepara o filho para esse importante rito de iniciação.

Von Franz (1984) diz: “Não se pode chegar perto do Self, e do significado da vida, sem que se passe pelo fio da navalha da cobiça e das trevas, e dos aspetos sombrios da personalidade.” No processo de individuação, um reino precisa ser quebrado e posteriormente reconstruído em um novo patamar. A regência da consciência precisa de cada vez mais conhecimento dos aspectos sombrios. É o momento onde se perde a sabedoria e somos tomados pelo usurpador.

Fonte: encurtador.com.br/HKLW1

A sombra não pode se manter tempo de mais reprimida. É nesse embate com ela que podemos crescer. Conforme Von Franz (1006):

“O caso é que, se reprimirmos a sombra, veremos apenas meia pessoa. É por isso que há na literatura essas histórias em que o diabo rouba a sombra de alguém. A pessoa acaba ficando nas garras do diabo. Precisamos da sombra. Ela nos conserva com os pés no chão, ela nos relembra da nossa incompletude e nos proporciona traços complementares. Seríamos na verdade muito pobres se fôssemos apenas o que imaginamos ser.”

 

Contudo, aquela voz do pai justo e o herói também estão presentes interiormente no ser humano. Por mais que Simba fuja com sentimento de culpa e vá viver de forma despreocupada em um paraíso, a voz do pai está lá. A voz do seu chamado continuará a ecoar. Essa voz se fez presente na figura feminina da leoa Nala.  Nala como uma figura de anima, uma guia como Ariadne, conduz o heroi ao seu destino. Ao que lhe cabe de fato. Ela representa a alma do heroi, sua fonte de inspiração. 

Simba após seu reencontro com Nala entra na selva, e encontra Rafiki, um primata conselheiro de Mufasa. Rafiki diz à Simba que Mufasa está “vivo” e leva-o a uma lagoa. Simba vê o “pai” nele mesmo e percebe que deve tomar o seu lugar de direito como o rei das Terras do Reino. Ele não pode fugir de seu passado e seu destino.

Rafiki representa o velho sábio, o mestre superior e protetor. Ele é um daimon imortal que penetra com a luz do sentido a obscuridade caótica da vida. Ele é o iluminador, o professor e mestre, um psicopompo (guia das almas) (Jung, 2000). Esse é o momento que a sabedoria volta a atuar e nos mostrar o caminho de nossa individuação. Ela pode aparecer personificada em um mestre, ou terapeuta, ou simplesmente em um sonho que nos reconecta novamente conosco. 

Simba se reconecta com o reino e a sabedoria dentro de si mesmo. Com isso ele pode confrontar a sombra e restabelecer a situação saudável do reino. Ou seja, o filme nos mostra que a consciência precisa desses ciclos para atingir um novo patamar. E que a sabedoria está em aceitar esses confrontos necessários para nosso crescimento. Assim como na jornada do heroi, precisamos buscar nossos aliados (os dons que existem dentro de nós) e aceitar a voz interior que nos mostra (mesmo em meio ao caos) qual é o verdadeiro caminho da nossa individuação. 

REFERÊNCIAS: 

BOA, F & VON FRANZ, M. L. O caminho dos sonhos. Cultrix. São Paulo, 1996.

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2 ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 2000.

VON FRANZ, M. L. A interpretação dos contos de fada. 5 ed. Paulus. São Paulo: 2005.

VON FRANZ, M. L. A Individuação dos contos de fada. 3 ed. Paulus. São Paulo: 1984.

FICHA TÉCNICA DO FILME

Fonte: encurtador.com.br/aflD1

O REI LEÃO
Diretor: 
Jon Favreau
Elenco: 
Ícaro Silva,Donald Glover,Beyoncé Knowles-Carte
Gênero: 
Aventura,Animação
Ano:
2019

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A necessidade de um herói e o problema da projeção do Self

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Quando acolhemos uma pessoa como “herói”, existe uma idéia de depositar uma esperança de salvação e que todos os atos do mesmo são justificáveis e seguidos às cegas. Isso, no final das contas, é uma projeção do Self

A onda de nomear “heróis” não vem de hoje, e há a necessidade de sentir o seu ideal defendido por um ser acima de todos, que detém um nível de poder – seja imaginário ou real – para concretizar os desejos daquele que projeta. Isto é o que Carl Jung classifica como projeção do Self (por inabilidade em se autodesenvolver, o sujeito passa a apostar as suas fichas em terceiros, na vã esperança de se redimir do processo de transformação interior).

É importante diferenciar, no entanto, a Jornada do Herói Mitológico,  que é o caminho de autodesenvolvimento que cada um de nós está “condenado” a realizar, e a projeção do Self, quando recusamos fazer nosso próprio percurso, terceirizando-o (que é o que pretendo abordar neste texto). Sobre o mito do herói, pode ser visto na vida cotidiana (quando dona Maria incorpora o papel de líder de seu bairro), nas grandes estruturas arquetípicas da mitologia e nas histórias em quadrinhos (que são uma espécie de mitologia atualizada do mundo).

Atualmente, as projeções do Self (que podem bem ser confundidas com a Jornada do Herói), se replicam no meio político (aliás, onde há configuração social, eis lá a eclosão de estruturas arquetípicas). Campbell (2007) afirma que a tarefa do herói de hoje em dia não é a mesma de antigamente onde se lutava explicitamente contra as trevas (muito embora, metaforicamente, as trevas significam as limitações impostas pela Sombra, que deve ser integrada para ser potencializadora), e sim aquele disposto a restaurar a ordem, corrigir um erro que seria o início da sua jornada. Neste caso, é necessário observar qual de fato é o arquétipo que opera no político. Pois, em muitos casos, o que pode ocorrer em tais personagens é a ação a partir do princípio do poder, como já explicitou Adler.

Fonte: encurtador.com.br/yDKMR

Em continuação, nota-se que desde tempos anteriores, há uma repetição de padrões em pessoas reconhecidas como “heróis/heroínas”. Alguns exemplos são Getúlio Vargas, que é conhecido ainda hoje como pai dos pobres e primeiro político a lançar sua força sobre a classe operária estabelecendo a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT); Lula, um espelho da classe metalúrgica refletida na Presidência da República, a personificação do poder de ascender e ocupar o lugar da elite burguesa e, hoje, está preso e é réu em terceira instância; Newton Hidenori (japonês da Federal) que ficou conhecido por conduzir presos da Operação Lava Jato e foi preso por facilitar contrabando; Moro, que foi eleito herói do povo, atualmente é Ministro da justiça com várias provas que ele não é quem parecia ser e, finalmente, o presidente do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, que podemos deixar suas atitudes diante da mídia falar por si só.

Quando acolhemos uma pessoa como “herói”, existe uma idéia de depositar uma esperança de salvação e que todos os atos do mesmo são justificáveis e seguidos às cegas. Então defender o oposto de uma opinião te caracteriza como um vilão, alguém que está atacando diretamente o outro lado e se aliando ao inimigo. Como dizia Nietzsche em um de seus aforismos, “um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos”. Ora, certamente não é deste herói arquetípico que a Psicologia Analítica se debruça, pois para que ocorra de modo consistente a Jornada, é necessário iniciar o processo de Individuação (normalmente, depois da Metanóia, que é a grande crise existencial que, acredita-se, todos terão de passar). E a Individuação não coaduna com projetos pessoais escusos, muito menos com o princípio do Poder. Basta lembrar uma célebre frase de Jung, para quem “onde há poder, não há amor. Ambos se excluem mutuamente”.

Fonte: encurtador.com.br/jkRW9

No cenário político e num clima de polarização de narrativas, ignorar determinados comportamentos dessas pessoas reconhecidas como “heróis” vai de encontro com o que Freud (1990) define como idealização, onde uma pessoa adquire uma perfeição total que não pode ser contestada. Existe então a idealização de uma pessoa que detenha algum tipo de poder e um inimigo em comum que será combatido, onde os meios justificam os fins.

Deste modo, enquanto se mantiver essa idéia de uma luta contra a fonte de todo o mal a história se repetirá e uma possível melhoria real não será alcançada. Assim se faz necessário uma reavaliação dos fatores que levam a determinadas escolhas dos representantes em todas as áreas. Só assim para que ocorra a chamada função transcendente, quando há a síntese das ações numinosas com as sombrias, num movimento de crescimento interior que desencoraja a criação de discursos rasteiros e polarizados.

REFERÊNCIAS:

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Ed Pensamento, 2007.

FREUD, S. Sobre o narcisismo: uma introdução. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. v. 14. Rio de Janeiro: Imago, 1990.

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Homem-Aranha no Aranhaverso: as várias faces de um mesmo super-herói

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Melhor Filme de Animação

O último filme da série fugiu um pouco da realidade, e principalmente do que os fãs já estavam acostumados. Além de ter sido transformado em animação, com uma pegada estilo história em quadrinhos, o enredo não girou em torno de Peter Parker.

A gigante Marvel Comics juntamente com a Sony Pictures Entertainment (Columbia Pictures) lançou o primeiro filme do Homem-Aranha nos cinemas em 2002, com o icônico Tobey Maguire, que se eternizou como Peter Parker. Maguire protagonizou até o 3º filme do super-herói, em 2007, e essa foi sua última aparição como Homem-Aranha. Após alguns anos, o ator Andrew Garfield assumiu essa enorme responsabilidade, porém, assim como Tobey, não se firmou no papel. Até a chegada do cômico e divertido Tom Holland, que com uma carinha de bebê conquistou o coração, e os risos de milhares de telespectadores.

O último filme da série fugiu um pouco da realidade, e principalmente do que os fãs já estavam acostumados. Além de ter sido transformado em animação, com uma pegada estilo história em quadrinhos, o enredo não girou em torno de Peter Parker, mas sim de Miles Morales. Miles é um adolescente como qualquer outro que está descobrindo seu lugar no mundo, e recebe grande apoio da família, principalmente de seu pai, com o qual tem uma proximidade maior. No entanto sua maior referência é seu tio paterno, que vive a vida sem regras, se diverte e viaja quando quer. Enquanto isso, o pai de Miles é um policial sério e apaixonado pelo que faz.

Fonte: encurtador.com.br/cdxEW

Sem muita surpresa, a história do filme contempla os passos da Jornada do Herói descrita pelo antropólogo Joseph Campbell, que perpassa desde a saída do indivíduo (Miles) de sua zona de conforto como “pessoa normal”, para o chamado à aventura, a negação desse chamado, mas após essa recusa uma intensa reflexão, e finalmente a aceitação desse desafio e a convicção de que o chamado só pode ser cumprido pelas suas próprias mãos, competência e força de vontade.

Outra grande questão tratada, não apenas nesse filme, mas na maioria das indicações ao Oscar 2019, é o Zeitgeist Negro. Uma onda poderosa de empoderamento negro que veio para mostrar o atual espírito da época em que vivemos. Assunto esse que precisa ser tratado mais do que nunca, pois apesar dos grandes avanços em relação ao racismo, ainda vivemos em uma cultura segregacionista e violenta, quando se trata de diferenças.

Fonte: encurtador.com.br/qvxIR

A comunicação com as outras dimensões

A ação do filme finalmente começa quando noticia-se que Peter Parker, o famoso e amado super-herói de Nova York, está morto. Após um combate contra o Rei do Crime, ele acaba sendo derrotado, porém passa a responsabilidade de salvador da cidade para Miles Morales, que assim que encontra Peter, descobre seus novos super-poderes e habilidades, mesmo assim ainda não sabendo como usá-los.

Com a carga dessa enorme responsabilidade, Morales não faz ideia de como, nem por onde começar. Até então achando que era o único Homem-Aranha, Miles tem uma grande surpresa quando após o funcionamento da máquina do Rei do Crime, aparece Peter B. Parker, ou seja, o famoso Peter Parker, porém alguns anos mais velho e alguns quilos a mais.

Fonte: encurtador.com.br/jEZ15

Com esse encontro Miles pensa que seus medos e inseguranças após essa nova responsabilidade irão acabar, já que ele tem outro Homem-Aranha para ensiná-lo a ser um super-herói, mas na verdade a única coisa que o velho Parker quer, é voltar para sua dimensão. Neste sentido, em um desses “treinamentos”, surge nada mais nada menos do que uma Mulher-Aranha, conhecida como Gwen Stacey. Mais uma vez a Marvel se supera nas surpresas, e principalmente sustenta o empoderamento feminino que cada dia mais ganha espaço no cotidiano.

E quando pensa que já surgiram “Aranhas” demais, ainda conta-se com a presença do Homem-Aranha Noir, que se apresenta todo de preto, como se fosse constituído de uma sombra de história em quadrinhos. Também surge o Spider-Ham, conhecido como Porco-Aranha, com um carisma e comicidade sem igual. E, por último, Peni Parker, uma estudante de Ensino Médio, com características dos Animes Japoneses, que conta com a ajuda de um parceiro que é um robô muito interativo e com uma avançada tecnologia.

Fonte: encurtador.com.br/ghHIS

Após o encontro de todos, agora eles têm um grande desafio: impedir que o Rei do Crime faça o acelerador entre dimensões funcionar, pois se isso acontecer não será possível voltarem para suas respectivas dimensões. No meio de todo esse problema, ainda tem a insegurança de Miles, que é apenas um adolescente que recebeu uma enorme responsabilidade e não sabe como agir diante dela.

Nesse momento Morales busca a ajuda de seus pais, porém não se sente à vontade para contar-lhes o que realmente o aflige, pois sabe que seu pai não era um grande fã dos serviços de Peter Parker, que agora pertencem ao Miles. Mas independente da clareza com seus pais, Morales sabe que sua casa sempre será um lugar seguro, cheio de amor e compreensão.

Com isso, o novo Homem-Aranha cria coragem para construir seu legado e ajudar seus novos amigos a voltarem para suas dimensões. Como se é esperado, eles conseguem destruir os planos do Rei do Crime, e cada um volta para sua dimensão. Miles fica feliz em conseguir ajudar e com uma sensação de dever cumprido, e sabe que sempre que precisar buscar forças interiores para vencer seus futuros desafios, lembrará das grandes amizades que conquistou durante essa jornada.

“A pessoa que ajuda as outras porque isso deve ser feito, e porque é a coisa certa a se fazer, é sem dúvidas uma super-heroína”. Stan Lee.

FICHA TÉCNICA :

HOMEM-ARANHA NO ARANHAVERSO

Título Original: Spider-Man: Into the Spider-Verse
Direção: Peter Ramsey, Bob Persichetti, Rodney Rothman
Elenco: Shameik Moore, Hailee Steinfeld, Jake Johnson,
Nicolas Cage,Kimiko Glenn
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Animação

REFERÊNCIAS:

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Homem-Aranha_no_cinema

[2] https://observatoriodocinema.bol.uol.com.br/criticas/2018/12/critica-homem-aranha-no-aranhaverso

[3] CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. Tradução de Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Pensamento/Cultrix, 1989.

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Guardiões da Galáxia 2: aspectos da jornada do herói

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Melhores Efeitos Visuais

Os Guardiões da Galáxia são: Peter Quill, Gamora, Drax, Rocket e Baby Groot. Peter Quill é o líder dos Guardiões e é conhecido como Senhor das Estrelas e é nele que o texto vai focar. O filme inicia com a líder de uma raça alienígena chamada Soberana, Ayesha que contrata os Guardiões para impedir um monstro inter-dimensional de roubar valiosas baterias. Peter já se estabeleceu como herói e líder e agora parte em uma nova etapa de seu desenvolvimento. Após uma confusão os Guardiões acabam sendo perseguidos pelas naves de Ayesha, e acabam sendo salvos por uma misteriosa nave e logo descobrem que se trata de Ego, o Planeta Vivo. Ego se revela o pai de Peter.

Ayesha. Fonte: https://goo.gl/Y5uE55

Peter traz a marca clássica do herói solar: a dupla filiação. O “duplo nascimento” corresponde àquele tema mitológico do herói, o qual considera que este descende de dois pais divinos e humanos. E o costume de dar ao recém-nascido, além de seus pais carnais, dois padrinhos de batismo, isto é, um godfather e uma godmother, como são chamados em inglês, cuja incumbência principal é cuidar do bem-estar espiritual do batizando. Eles representam o par divino, que aparece no nascimento anunciando o tema do “duplo nascimento” (JUNG, 2008).

O herói solar costuma ser fruto do amor entre uma humana mortal e um alienígena, um ser imortal, vindo do céu. A fecundação de uma mulher humana por um Deus, é um tema mitológico recorrente. A mulher é uma virgem escolhida para dar à luz ao herói, um semideus. A virgem não significa virgindade física, mas sim aquela que não se casa, que é unificada em si mesma e tem papel próprio. Seu filho é um Deus, ou semideus que a precede.

Mãe de Peter Quill e Ego. Fonte: https://goo.gl/F5kRWP

A base da história do herói solar é o duplo nascimento. Primeiro ele nasce da mãe, e a assimila posteriormente, para depois nascer do Pai. Conforme Campbell (2007), o herói tem o duplo nascimento. O segundo nascimento iniciatório seria por meio do pai. Quando o herói é morte e ressuscitado.

Os antigos e sangrentos ritos de passagem masculinos representam esse nascimento iniciatório pelo pai, onde os meninos saiam da casa materna para serem iniciados nos mistérios masculinos. A morte e ressurreição de Tammuz, de Adônis, de Mitra, de Vírbio, de Átis e de Osíris são representantes desse mistério na Mitologia.

Na igreja cristã temos como exemplo a mitologia da Queda e da Redenção, da Crucificação e da Ressurreição, do “segundo nascimento” do batismo, da marca iniciatória no rosto quando da Confirmação [Crisma], da deglutição simbólica da Carne e da ingestão simbólica do Sangue, representando o mistério de forma solene e, por vezes, de modo efetivo, sendo assim unidos às imagens imortais da força iniciatória, através da operação sacramentai na qual o homem, desde o início dos seus dias na Terra, afastou os terrores de sua fenomenalidade e ascendeu à visão transfiguradora do ser imortal (CAMPBELL, 2007). A ideia central, portanto, da jornada do herói é o nascimento para o espírito. A espiritualização, a verticalização da vida cotidiana, da matéria, do corpo.

Fonte: https://goo.gl/QdtECp

Conforme Neumann (1995) as fases de desenvolvimento da consciência passam pelos estágios matriarcal e patriarcal. Esses estágios arquetípicos são um fato transpessoal que domina a história da humanidade e do indivíduo. Peter conhece seu pai Ego que o leva ao seu planeta, que é uma parte dele. Ele explora a sua origem celeste e descobre seus dons latentes.

Ego é um alienígena que assumiu uma aparência humana para viajar pelo universo e interagir com outras espécies, e assim conheceu e se apaixonou pela mãe de Quill, Meredith. Após a morte da mãe, Quill foi criado por Yondu, que foi pago por Ego para sequestrar o menino, mas o mercenário nunca entregou o menino. Aqui se observa o tema mitológico da dupla filiação do herói. O pai celeste (um Deus) e o pai humano. Em termos psicológicos representam o pai pessoal e o pai transpessoal.

Yondu e Peter Quill (jovem). Fonte: https://goo.gl/SF9bHr
Peter Quill e Ego.

Campbell (2007), aponta que uma das fases da jornada do herói é a “sintonia com o pai”. Nesse momento da jornada o herói pode encontrar uma figura que representa a autoridade patriarcal. “Pai” e “filho” frequentemente são rivais pelo domínio do universo. Para entender o pai e, com isso, entender a si mesmo, o herói deve enfrentar e se reconciliar com essa figura de autoridade.

Quill aprende que também é um Celestial (raça alienígena do pai) e a manipular o poder que existe em si. Assim ele descobre em si a autoridade em transformar a sua realidade. Ego revela a Quill que visitou milhares de mundos, onde plantou mudas de si próprio para transformá-los em extensões de si mesmo, contudo, elas só poderiam ser ativadas pelo poder de um segundo Celestial. Ele buscou criar esse ser, engravidando várias fêmeas. Porém, seus filhos não conseguiram acessar o poder Celestial como ele, então Ego os matou. Aqui se apresenta a face sombria do Pai.

Fonte:https://goo.gl/NBzbUB

A estrutura do “pai”, pessoal ou transpessoal, é dúplice como a da mãe: positiva e negativa. Na mitologia, há ao lado do pai positivo e criador, o pai negativo e destruidor. Ambas as imagens acham-se tão vivas na alma do homem moderno quanto estiveram nas projeções da mitologia (Neumann, 1995). Assim como é necessário enfrentar a mãe terrível, o herói também precisa se confrontar com o lado sombrio da autoridade paterna.

Esse lado pode aparecer nos contos de fadas como o ogro devorado. Sobre isso Campbell (2007), diz:

“Pois o aspecto ogro do pai é um reflexo do próprio ego da vítima derivado da maravilhosa lembrança da proteção materna que foi deixada para trás, mas só depois de ter sido projetada, bem como do fato de a idolatria fixadora daquela inexistência pedagógica constituir por si própria a falta, no sentido de pecado, que nos mantém paralisados e que impede a alma potencialmente adulta de alcançar uma visão mais equilibrada e realista do pai e, em consequência, do mundo. A sintonia consiste, essencialmente, em levar a efeito o abandono do problemático monstro autogerado o dragão que se considera Deus (o superego) e o dragão que se considera o Pecado (o id reprimido). Mas essa ação requer o abandono do apego ao próprio ego, e aí reside a dificuldade. Devemos ter fé em que o pai é misericordioso; assim, devemos confiar nessa misericórdia. Com isso, o centro da crença é afastado da tenaz apertada e escamosa do deus atormentador, e os ogros ameaçadores desaparecem.”

Fonte: https://goo.gl/LYKhMv

Quill recebe o reconhecimento por parte do pai criador (quando Ego reconhece nele a mesma força que existe em si), e precisa enfrentar o lado sombrio em si mesmo, que consiste no enfrentamento da inflação do seu próprio ego. Há uma tendência do ego humano em se identificar com os conteúdos do inconsciente coletivo, e assim inflar.

O poder transpessoal do pai pode causar uma separação da consciência com relação a realidade terrena, levando a um processo de dissociação do ego. Os deuses punem aqueles que se identificam com a divindade. Um exemplo clássico dessa inflação desastrosa é o voo de Ícaro. Peter tem sucesso nessa luta, assassinando Ego. Após isso ele se reconcilia com Yondu. Assimilando os dois aspectos positivos e negativos do pai transpessoal, Peter retira a projeção de seu pai humano. Ao confrontar com a instância transpessoal do pai, há uma transformação da personalidade do herói. No filme, Quill se torna maduro e estabelece sua ética interna. Ele se identificou com pai, ou seja, conheceu o pai em si, deixando de ser o eterno filho, podendo agora chegar ao poderio e a realeza.

FICHA TÉCNICA 

GUARDIÕES DA GALÁXIA – VOL. 2

Diretor: James Gunn
Elenco: Chris Pratt, Zoe Saldana, Bradley Cooper, Vin Diesel, Chris Sullivan;
País: EUA
Gênero: HQs/Heróis Aventura Ficção Fantasia
Ano: 2017

Referências:

CAMPBELL, J. O herói de mil faces. São Paulo, Pensamento: 2007.

HARDING, E. M. Os Mistérios da Mulher. 4 ed. São Paulo: Paulus, 2007.

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

NEUMANN, E. História da Origem da Consciência. 10 ed. Cultrix. São Paulo: 1995.

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