Inacreditável: a violência psicológica mascarada pelo medo

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A minissérie americana de drama intitulada- Inacreditável (Unbelievable) de 2019, conta uma história em volta de três mulheres: duas investigadoras e uma jovem de 18 anos que se chama Marie. Ela cresceu em vários lares adotivos e por ser muito introvertida, não tem muitos amigos. Esta minissérie é baseada em fatos reais e na reportagem de 2015 “Uma inacreditável história de estupro”.

A vida de Marie muda completamente quando ela passa por uma situação de violência, pois um homem invade seu apartamento e a estupra.  Ela foi submetida a passar por constrangimentos e foi fotografada durante o ataque.

Marie resolve dar queixa da violência sofrida, mas não foram recolhidas provas da agressão e durante o interrogatório Marie começa a apresentar algumas falas inconstantes que fazem com que os investigadores comecem a desconfiar se ela estava mesmo dizendo a verdade. Essa dúvida não parte apenas dos policiais, mas também dos seus pais adotivos que suspeitam do discurso. Pois, segundo eles, ela estava apresentando poucas reações emocionais diante do fato que ela disse ter ocorrido e que poderia estar apenas chamando a atenção, já que Marie sempre foi considerada “problemática”.

Devido aos comentários das pessoas, à enorme pressão, sofrimento e medo que começou a vivenciar, Marie decide assumir que mentiu aos investigadores e que tudo foi apenas invenção da sua mente ou que poderia ter sido um sonho. Estes fatos remetem que a violência psicológica pode ser conceituada como a forma mais pessoal de agressão contra a mulher, através da qual as palavras provocam sofrimento, pressão, poder para ferir, fragilizar e impactar a autoestima da mulher (SIQUEIRA, ROCHA, 2019).

Fonte: encurtador.com.br/iDIP4

Siqueira e Rocha, (2019) mencionam que as causas deste tipo de violência podem ser ocasionadas por ciúmes, influência cultural, bebidas alcoólicas, políticas públicas, visão conservadora, histórico de violência familiar do agressor e interrupção do apoio da família.

Em Inacreditável, Marie não conseguiu apoio de seus pais adotivos que a pressionaram para contar o que realmente aconteceu, sempre remetendo ao seu comportamento do passado, o que a fazia se sentir culpada e até mesmo duvidar se ela mesma não teria inventado toda a história. Fonseca e Lucas (2006) afirmam que quando a mulher não consegue apoio dos seus familiares e tem a dinâmica familiar interrompida, ela entra em um estado de vulnerabilidade maior, pois se sente sozinha, contribuindo para que o agressor continue com os episódios de violência. E neste caso da minissérie os próprios pensamentos, sentimentos e lembranças da agressão sexual vivida se tornaram o motivo que a deixou muito vulnerável e mais retraída.

Enquanto os investigadores decidem arquivar o caso, já que Marie confessou que havia mentido, em Colorado outra investigadora chamada Karen Duvall investiga outro estupro e decide unir forças com Grace Rasmussen do Departamento de Polícia de Westminster ao descobrir que as duas estavam com um caso de estuprador em série em mãos, pois vários casos de estupro com as mesmas características do caso de Marie foram denunciados.

Fonte: encurtador.com.br/ctCKV

Em cada um dos casos, as vítimas foram submetidas a constrangimentos e também foram fotografadas. Ao finalizar a agressão, o criminoso conseguiu não deixar pistas para que fossem recolhidas provas do crime. Marie continuou sofrendo as consequências da agressão por três anos, e foi taxada de mentirosa pela sua família e amigos. Ela tentou seguir sua vida. As autoras Siqueira e Rocha (2019) citam que a mulher em situação de violência sofre consequências como o esgotamento emocional, se sente cansada, perde o interesse em cuidar de si mesma, isola-se e sofre perdas significativas na qualidade de vida. A minissérie retrata todas estas consequências na vida de Marie, onde ela se encontra completamente sozinha, amedrontada, e sem esperança de conquistar algo melhor na vida.

Em 2011, após reunirem pistas e provas, as investigadoras Grace e Karen conseguem prender Chris McCarthy, um ex-militar que estuprava mulheres que moravam sozinhas e na sua casa escondia provas das violências cometidas, inclusive fotos que comprovavam as agressões. Durante a análise das fotos, as investigadoras conseguiram encontrar a foto de Marie e dessa forma conseguiram reabrir o caso dela, que posteriormente foi inocentada da acusação de falso testemunho.

A minissérie finaliza com Marie agradecendo as investigadoras por terem contribuído para que voltasse a se sentir segura, mesmo que não tenha tido nenhum contato com as duas. 

Esta história nos faz pensar em quantos casos acontecem em que as vítimas permanecem caladas por causa do medo e do sofrimento e tem que seguir a vida tentando esquecer. Em muitos casos o agressor é uma pessoa próxima, como pai, irmão, cunhado, tio, mãe, cônjuge ou um amigo.

Fonte: encurtador.com.br/mCEKZ

Recentemente foi sancionada a Lei 14.188 que inclui ao Código Penal Brasileiro o crime de violência psicológica contra a Mulher.

A Lei 14.188/21, inseriu o artigo 147-B no Código Penal:

Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação. (BRASIL, 2021, Art. 147-B)

A pena para este crime é de seis meses a dois anos e também tem uma multa. A violência psicológica contra a mulher tem crescido muito e esta lei surge como uma forma de proteger e trazer mais segurança para as mulheres. Mesmo com a lei em vigor, os danos à saúde mental das vítimas são muitos e faz-se necessário um acompanhamento psicológico e intervenções com as redes de apoio das vítimas que também sofrem com efeitos da agressão (SIQUEIRA, ROCHA, 2019).

Esta minissérie nos mostra como a violência contra a mulher está inserida culturalmente. Marie não teve o apoio de sua própria família pois por ela ter tido comportamentos “problemáticos”, não acreditaram no que ela disse. A história nos leva a refletir que muitas pessoas que passam por situação de violência sexual tem seu sofrimento intensificado quando não conseguem a confiança e credibilidade da família, cônjuge e amigos. Marie passou por momentos de tristeza e culpa por ter que ouvir as pessoas de sua rede de apoio não acreditarem no seu relato.

Ressalto que a culpa pela violência cometida não é da mulher e que existem redes de apoio para acolhimento de mulheres que estão nesta situação e que elas têm direito a assistência em saúde e que nos casos de violência sexual há medidas específicas para evitar gravidez indesejada e ISTs. As redes de apoio que mulheres em situação de violência podem procurar são o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, através do número telefônico 180 e nas situações em que há agressão física, são resguardadas pela Lei Maria da Penha. A lei assegura que qualquer mulher, independente da classe, raça, etnia, orientação sexual, religião, cultura, devem ter direito, oportunidades e facilidades de viver sem violência familiar e doméstica e também o direito de preservar sua saúde física, mental, moral, intelectual e social. (BRASIL, 2006).

Faz-se necessário que os profissionais de saúde, assistência social e segurança pública sejam treinados para realizar um atendimento mais humanizado a fim de garantir acolhimento, direitos civis e a dignidade das mulheres.

FICHA TÉCNICA

Título: Inacreditável (Unbelievable)

Ano: 2019

Gênero: Drama/Crime

Emissora: Netflix

1 temporada

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (2021). Lei nº 14.188, de 28 de julho de 2021. Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o tipo penal de violência psicológica contra a mulher.. Lex. Diário Oficial da União, 28 jul. 2021. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/norma/3462817. Acesso em: 04 set. 2021

BRASIL. Constituição (2006). Lei nº 11.340/2006, de 07 de agosto de 2006. Lex. Diário Oficial da União, 07 ago. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 04 set. 2021.

DA FONSECA, P. M.; LUCAS, T. N. S. Violência doméstica contra a mulher e suas consequências psicológicas. Disponível em: http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/152.pdf. Acesso em 01 set. 2021

SIQUEIRA, C A; ROCHA, E S S. Violência psicológica contra a mulher: Uma  análise  bibliográfica  sobre causa e consequência desse fenômeno. Disponível em: https://arqcientificosimmes.emnuvens.com.br/abi/article/view/107/63. Acesso em 01 set. 2021

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A voz feminista de Nísia Floresta

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“Por que os homens se interessam em nos separar das ciências a que temos tanto direito como eles, senão pelo temor de que partilhemos com eles, ou mesmo os excedamos na administração dos cargos públicos, que quase sempre tão vergonhosamente desempenham?” – Nísia Floresta

Dionísia Gonçalves Pinto foi uma educadora que teve como principal frente de atuação a luta pelo feminismo no Brasil. Nascida em 1810 na cidade de Papari, Rio Grande do Norte, aquela que viria ser reconhecida a primeira educadora feminista do Brasil, teve uma vida marcada por ideais que contrariavam a sociedade vigente da época, ao qual buscava prevalecer o respeito e garantia de igualdade a todos os cidadãos, sem qualquer distinção.

Assumiu o pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta, quando resolveu escrever para um jornal chamado “O Espelho das Brasileiras”, editado em Recife-PE. O Nome adotado para se expressar nos meios de comunicação da época, demonstrava o seu amor pelo País e principalmente pelo reconhecimento de sua luta e necessidade de mudanças na sociedade, principalmente a respeito do lugar que a mulher ocupava na época.

Nísia teve uma vida itinerante e por esse motivo, teve contato com diferentes cenários de luta que se estabelecia no período. Em Goiânia, teve seu primeiro acesso aos ideias liberais, um traço característico encontrado em seu pai, sua grande referência.

Um fato considerado importante na vida de Nísia, diz respeito ao seu rompimento de um casamento arranjado aos treze anos, algo considerado uma atitude corajosa, em tempos com tradição conservadora, uma situação que marca a sua história, pois na vida adulta seguia firme em desconstruir a posição da mulher imposta por uma sociedade machista, algo que se atualiza quando observamos a necessidade de continuidade de discussões já levantadas à época dessa personagem que tem grande importância para o feminismo no Brasil.

Fonte: encurtador.com.br/eMNPX

Seus primeiros escritos datam de 1831 e tem como pauta mulheres nas antigas culturas, que foram gradativamente sendo ampliadas para discussões acerca dos motivos das mulheres não ocuparem cargos de comando, ou mesmo, de não estarem nas universidades, algo que acende um debate que impacta as elites patriarcais da época.

Aos vinte e dois anos publica seu primeiro livro “Direitos das mulheres e injustiças dos homens”, sendo também considerado um dos mais importantes e que marca a expansão de sua luta. Nesse livro, Nísia faz uma provocação quanto ao predomínio dos homens em relação às mulheres, numa perspectiva de direito e enfrentamento ao conservadorismo rígido, indicando que a mulher precisava buscar um espaço até então ocupado somente pelos homens.

Nísia sofre perdas que influenciam a sua história de luta, primeiro a de seu pai e posteriormente de seu marido, algo que a fez assumir um papel de liderança junto a sua família, bem como a convicção do seu papel e também da sua capacidade enquanto mulher de desenvolver diversas atividades, até então reconhecida aos homens, o que reforçou seu empenho em continuar firme nos seus ideais feministas no país.

A autora de diversos escritos voltados para o contexto da mulher, reconheceu a importância de expandir as barreiras literárias para atuação voltada para a educação, sendo então a primeira mulher a fundar e dirigir um colégio voltado para meninas no Rio de Janeiro, ao qual tinha como foco a emancipação feminina.

Fonte: encurtador.com.br/vzLM9

Nísia trazia em seu discurso, o retrato da insatisfação ao qual viviam várias mulheres que tinham que se calar frente ao domínio patriarcal, que permaneciam sufocadas ou mesmo anuladas, diante de um contexto de supremacia masculina. No entanto, seus debates foram de suma importância para o levantamento de questões que se inserem até hoje nos espaços de discussões a respeito dessa temática. Muito se avançou e também muito ainda tem que se avançar, quando ainda encontramos espaços em que a mulher se ver necessitando provar sua capacidade e ver reconhecido os direitos adquiridos ao longo de vários anos de luta.

Nísia morreu em meados de 1885, vítima de uma pneumonia, mas com certeza, se encontrava a frente de seu tempo e hoje se constitui uma inspiração para nós mulheres, pois enfrentou adversidades impostas a ela numa época em que sua voz para não ser calada servia de um pseudônimo, ou mesmo, sofria fortes repressões às suas atitudes numa sociedade conservadora.

No entanto, sua voz ecoou e hoje ressoa nas nossas lutas diárias, reflete em todos os sucessos alcançados e principalmente, na constante busca em ver nossos direitos reconhecidos e efetivados. Nísia deixa um legado singular, pois diante de um contexto tão desfavorável não se intimidou, ao contrário, sua vida foi motivada pelos seus ideais feministas.

O olhar dessa grande mulher foi um importante ponto de partida para as reflexões que se inserem diante da emancipação das mulheres no brasil e de como isso impacta nas relações sociais na atualidade, desde a prática cotidiana de funções domésticas, até a ocupação de grandes espaços então somente ocupados por homens em outros tempos.

Referências:

ALBERTON, M.; CASTRO, A. M. A.; EGGERT, E. Nísia Floresta A mulher que ousou desafiar sua época: educação e feminismo. Poiésis – Revista de Pós-Graduação em Educação, Tubarão, v.3, n.5, p.46-55, 2010. Disponível em: https://silo.tips/download/nisia-floresta-a-mulher-que-ousou-desafiar-sua-epoca-feminismo-e-educaao. Acesso em: 24 ago de 2021.

DUARTE, C. L. Feminismo e literatura no Brasil. Estudos avançados, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/6fB3CFy89Kx6wLpwCwKnqfS/?format=pdf&lang=pt.

Acesso em: 24 ago de 2021.

ITAQUY, A. C. de O. Nísia floresta: ousadia de uma feminista no brasil do século XIX. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Licenciatura Plena em História, do Departamento de Humanidades e Educação da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Disponível em:https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/bitstream/handle/123456789/2730/NISIA%20FLORESTA%20PDF.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 24 ago de 2021

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“Elize Matsunaga – Era uma vez um crime”: conteúdos psicológicos da controversa série brasileira

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A série brasileira “Elize Matsunaga – Era uma vez um crime” é um documentário televisivo original da Netflix em parceria com a produtora Boutique Filmes, dirigida por Eliza Capai. A produção lançada em julho de 2021, tem conteúdo com censura 14 anos, melancólico focado, especialmente, nos sintomas psicológicos e jurídicos da autora confessa de um dos crimes mais impactantes da história recente do país ocorrido em 19 de maio de 2012.

Figura 1 – (Crédito: Reprodução/Netflix)

A série explora fotos e vídeos de conteúdo intimista do antigo casal, apresenta vasto material jornalístico veiculado à época do julgamento, as falas de amigos, familiares e de especialistas sobre o caso oferecendo, e, por fim, destaca-se por conter muitas horas de declarações diretas de Elize tomadas durante uma saída oficial do ressesso de páscoa da prisão de Tremembé em 2019, falando em primeira pessoa, com iluminação e enquadramentos ajustados para fazer audiência sentir-se em frente a ela, olhando nos olhos, com expressiva proximidade.

Os episódios da série são: 1 – Estado civil: viúva; 2 – Uma vida de princesa; 3 – A infeliz ideia de Eliza e 4 – Ecos de um crime.

Figura 2- (Crédito: Reprodução/Netflix)

São apresentados temas de muito relevo para a psicologia e psicanálise, sadismo, masoquismo, depressão, e psicopatia foram conceitos diversas vezes mencionados pelos que tentavam enquadrar e compreender a subjetividade complexa da autora do crime bárbaro.

No julgamento, tanto a defesa como a acusação fundavam seus argumentos e aspectos psicológicos relativos a Elize. Os primeiros arguiam que a pena do crime deveria ser afastada, atenuada ou reduzida, pois no momento que atitou no marido, e esquartejou o corpo dele e o transportou em malas, ela não respondia por suas ações, pois estava tomada por violenta emoção.

Segundo a defesa, a autora do crime teve uma crise de ansiedade decorrente de longo período do medo que sentia de ser machucada e morta pelo marido, e tal medo estaria justificado no longo período de violência psicológica sofrida por ela contexto do casamento.

Já a acusação também faz uso da psicologia para pedir aumento da pena de Elize, que teria cometido o crime por motivo torpe, por mero ciúme e a associa a figura estigmatizada da mulher que deseja ser Cinderela, e ter “uma vida de princesa”, deixar as raízes humildes e ascender socialmente por meio do casamento do qual ela não estaria disposta a abrir mão.

Figura 3 – (Crédito: Reprodução/Netflix)

Neste contexto, entre argumentos de defesa e de acusação as personalidades de Elize e do marido assassinado tornam-se objeto de diversas discussões e especulações ao longo da série num esforço de compreensão e categorização da barbárie.

Como exemplo, tem-se a apresentação ao público de “fatos novos” que poderiam justificar para o público os comportamentos de Elize. Isso porque, foi descrito o impacto da morte prematura do pai na história dela. Foram retratados a vida difícil em termos de condições materiais que a família enfrentava e o contexto rural e muito rústico que ela viveu a infância e adolescência.

Além disso, tem-se um possível abuso sexual que ela teria sofrido aos 15 anos, perpetrado pelo padrasto e que teria marcado profundamente sua subjetividade e, por fim, a experiência vivida como profissional do sexo que a levou a sair do contexto familiar e a conhecer o futuro marido.

Por fim, vale destacar a releitura feminista que a série se propõe a fazer tanto do crime em si questionando diversos pontos de pré-conceitos ligados ao fato de a autora ser uma mulher, ter sido profissional do sexo e ter agido motivada por ciúmes, destacando, ainda, diversos casos famosos como o de Ângela Dinis morta pelo marido nos anos 60. O crime de Elize teria o mesmo fim caso fosse cometido por um homem? Fica a dúvida necessária e o convite à reflexão.

FICHE TÉCNICA

Elize Matsunaga – “Era uma vez um crime”

Ano produção: 2021

Dirigido por Eliza Capai

Classificação – Não recomendado para menores de 14 anos

Gênero: Documentário

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Estupro culposo não existe!

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Cada vez mais ASSUSTADOR SER MULHER….
Mulheres , VAMOS NOS UNIR! Nesse caso, vocês não precisam se declararem FEMINISTAS para se INDIGNAREM…. Basta SERMOS MULHERES….. eu preciso escrever sobre isso…

E essa nova ABERRAÇÃO do judiciário brasileiro: O ESTUPRO CULPOSO?

QUE NOJO! ESTUPRO é ESTUPRO e ponto final.
Cansada de ser ” atropelada” diariamente por um sistema de convenções sociais que nos IMPÕEM UM MOLDE para que sejamos consideradas MULHERES DE BEM.Porque DECIDI SER INDEPENDENTE, já ouvi cada ABSURDO ” Eu disse para a minha mãe que a senhora é MARAVILHOSA. Mas, ela disse que a senhora tem algum defeito grave porque nunca casou “- Como se o SUCESSO de uma Mulher tivesse diretamente ligado ao casamento. Não casou? Tem defeito! Aff!

” Olá! Tudo bem? Sozinha? Precisando de companhia?”- nas noites que ouso sair para curtir minha solitude. Como se NENHUMA MULHER TIVESSE O DIREITO DE SAIR SÓ PARA FICAR SÓ…

Ouvir Boa música, tomar um bom vinho e se inspirar para escrever….Não Pode? Sempre a mulher tem que estar acompanhada? E se sair só? “Está procurando homem, com certeza!”- pensam muitos.

“A senhora fez reserva só para uma pessoa?”. Respondo ” Sim! Estou só”..
O atendente responde atônito ” A senhora está viajando Sozinha?”..Como se viajar só fosse atributo somente dos homens ” fortes e destemidos”.
” A senhora não tem marido, nem namorado, nem ficante, nem ” peguete” ..nem um ” contatinho”?

Que ABSURDO! Essa é problemática, FATO! .
Como se para sermos completas, temos que ter sempre a presença masculina ao lado…Se não temos, ALGO ESTÁ ERRADO!
Nós, Mulheres, independente da idade, vivemos sob a égide da submissão à presença masculina. Vocês já perceberam?

Já escrevi mil vezes, que MULHER EMPODERADA é aquela que luta e conquista O QUE ELA QUISER SER….Casada…Solteira….Enrolada….Antenada…..Desligada…
Estar acompanhada é Maravilhoso…mas se ” não rolar”…estamos bem! Somos independentes, lembram?

A decisão é nossa! Respeitem-nos!

Nós somos donas do nosso corpo! Aprendam, de uma vez por todas:
1- Ser simpática e educada não significa ” dar mole”…
2- Sair sozinha não significa ” estar disponível”
3- Meu corpo…Minhas regras…
4- NÃO É NÃO!

ESTUPRO CULPOSO NÃO EXISTE!

Cada corpo de mulher violado, sem consentimento, VIOLENTA TODAS NÓS!

Por isso, JAMAIS DEFENDA UM ESTUPRADOR! JAMAIS!

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Abertas inscrições ao X Congresso Internacional de Direitos Humanos que começa dia 6/11, no TJTO, com conferencistas de seis países

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Abertas inscrições ao X Congresso Internacional de Direitos Humanos que começa dia 6/11, no TJTO, com conferencistas de seis países Na sua décima edição, o Congresso Internacional de Direitos Humanos será realizado mais uma vez em Palmas, de 6 a 8 de novembro próximo, na Escola Superior da Magistratura Tocantinense (Esmart) e no Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO), reunindo conferencistas do Brasil, Estados Unidos, França, Espanha, Bélgica e Angola em debates focados em Segurança Humana e Desenvolvimento Socioambiental.

Antecendendo aos debates, das 8 às 12 horas, na Esmat, serão realizados minicursos  com quatro quatro temas, sob a coordenação do professor doutor Aloísio Alencar Bolwerk e a mestranda Laís de Carvalho Lima. “O enfrentamento das Fakes News como Política Pública de Combate à Desinformação” é um dos assuntos em pauta.

Ainda na Esmat, e sob o comando da mestre Débora Honório Galan, acontecerá o Cinedebate com a exibição dos filmes – “À Espera” e “Nós” -, abordando, respectivamente, direitos da criança e do adolescente e direitos de refugiados. E, como nove temas, entre os quais “Teoria e Prática Humanizada em Direito e Gênero”, a Esmat sediará ainda as discussões sobre Boas Práticas do Mestrado.

Fonte: encurtador.com.br/qLQY9

A Esmat também sediará a atividade Boas Práticas do Mestrado, coordenada pela mestre Débora Honório Galan e na qual serão abordados nove temas, entre os quais “Instrução Básica e Periódica para Estagiários no Âmbito das Turmas Recursais do TJTO”.

Já a abertura oficicial do Congresso acontecerá no auditório do TJTO, às 19 horas, seguida da Conferência Magna Estados Unidos da América, a ser ministrada pela professora doutora Elizabeth Abi-Mershed, com atuação destacada na Secretária Executiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), sobre “O Trabalho no Sistema Interamericano e o Papel dos Juízes.

Também das 8 às 12 horas, as conferências continuam no dia 7, entre elas a da doutora Valdirene Daufemback (UnB), sobre os “Desafios da Segurança Pública no Brasil nos próximos anos”. A programação do dia será fechada com dois workshops – “Segurança Alimentar: Resíduos de Agrotóxicos nos Alimentos” e a “Psicanálise do do Fim do Mundo”.

Fonte: encurtador.com.br/ehopX

Já o último dia do Congresso será aberto com a Exposição de Painéis (Integração do programa de Mestrado PJDH com a graduação e pós-graduação) no Hall do Auditório TJTO. Haverá ainda outras seis conferências, uma delas ministrada pelo desembargador Marco Villas Boas, diretor-geral da Esmat, com o tema “Os limites do desenvolvimento da Amazônia Continental”. Entre esses debates, acontecerá também o lançamento da Revista Esmat – edição especial Luso-Brasileira.

E após a última conferência do evento –  a Conferência Ilanud– ONU/Brasil, sob o tema “Domínio da Segurança Humana no Mundo”, com o professor  doutor Edmundo Alberto Branco de Oliveira, haverá a solenidade de entrega do certificado aos melhores painéis de cada eixo temático e as melhores boas práticas, com sorteio de livros. 

Fonte: encurtador.com.br/uxQT3

Histórico do Congresso

Organizado pelo Mestrado em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos (PJDH), o Congresso tem ainda como parceiros realizadores o Centro de Estudos Sociais, da Universidade de Coimbra, o Instituto de Ciências Jurídico-Políticas, o Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Universidade Federal do Tocantins (UFT).

O tradicional Congresso, realizado anualmente em Palmas, tem como foco levar o público acadêmico e a sociedade a refletirem sobre os Direitos Humanos, pensados como direitos básicos de todos – civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, difusos e coletivos. Faça sua inscrição pelo site.

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O que é violência obstétrica e como se defender na justiça

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Depois da mulher esperar nove meses, vem o tão aguardado momento de ter o bebê. Porém, o sonho pode se tornar pesadelo, principalmente, por conta de maus tratos físicos, verbais, psicológicos, ou até mesmo a negligência, vindos dos profissionais da saúde que seriam, em tese, responsáveis pelos bons cuidados durante a gestação, parto ou o pós-parto. Essas práticas são chamadas de violências obstétricas.

Segundo a psicóloga Raquel Mello, há mulheres que são submetidas a rotinas rígidas e muitas vezes desnecessárias, que não respeitam os seus corpos ou seus desejos. Há casos de enfermeiros e médicos que fazem ameaças, chacotas, omitem informações relevantes. “Há gestantes que, infelizmente, são obrigadas a passar por procedimentos sem sua autorização ou contra sua vontade”.

Mello alerta que quando uma mulher enfrenta tal situação traumática, pode desenvolver com maior risco de quadros depressivos, transtornos de ansiedade, fobias, compulsão alimentar, distúrbios do sono entre outros. “O dano psicológico pode demorar muito tempo para sanar. Vai depender muito de cada mulher e da intensidade que foi o impacto psicológico”.

Fonte: encurtador.com.br/pBJ13

– O suporte emocional será fundamental para a recuperação, que terá uma base muito forte na família. Os parentes precisam apoiar muito a mulher em suas demandas durante a gestação e procurar os cuidados de especialistas responsáveis – ressalta.

Para a advogada Thaisa Beiriz, do escritório Trotta e Beiriz Advocacia, umas das principais razões da violência obstétrica é a ausência de atualização por parte dos médicos, pois muitos são resistentes a mudar as práticas que aprenderam na época da faculdade, bem como estudar a medicina baseada em evidências cientificas.

– Hoje, a medicina com base em evidências é muito utilizada, já que todos os procedimentos analisados passam por extenso estudo pelos especialistas, sempre visando a qualidade da saúde do paciente – comenta.

A advogada lembra que outro problema observado é a falta de humanização e empatia dos profissionais da saúde com as gestantes. Ela diz que os casos mais comuns envolvem negar atendimento ou impor dificuldade para que a gestante receba os serviços a que tem direito, ou quando os profissionais realizam práticas e intervenções desnecessárias e violentas. “Há médicos que forçam a saída do bebê empurrando a barriga da mãe, até mesmo subindo em cima delas, para acelerar o processo”.

Fonte: encurtador.com.br/oKNS8

– Esse procedimento é chamado de Manobra de Kristeller, já banido pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa manobra é agressiva e consiste em pressionar a parte superior do útero para facilitar e acelerar a saída do bebê, podendo causar várias lesões graves – explica.

Ela lembra ainda que há casos que envolvem comentários ofensivos e humilhantes à gestante, inferiorizando-a por sua raça, idade, condição socioeconômica ou número de filhos. “Em outras situações, o profissional causa na mulher sentimentos de medo, abandono, insegurança e instabilidade emocional”.

Como defesa, Thaisa ressalta que a família e a gestante precisam estar atentas para qualquer indício de má conduta médica. Caso suspeite de algo, a primeira coisa a se fazer é se cercar do maior número de provas possíveis, dentre elas, requerer cópia do prontuário médico no hospital. “Não deixe de procurar um profissional qualificado para buscar seus direitos na justiça para ser indenizada pelos danos sofridos”.

– Também não deixe de denunciar o médico no Conselho Regional de Medicina, no Ministério Público, para o Disque-Saúde, no número 136. Faça ainda uma reclamação na ouvidoria do hospital. Caso seja um hospital particular, a denúncia pode ser feita na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Quando não nos calamos, impedimos que mais uma família se torne vítima dessa prática – conclui.

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Justiça determina que Estado do Tocantins construa hospital para presos com doenças mentais em 2 anos

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A decisão atende à ação ordinária ajuizada pelo Centro de Direitos Dom Jaime Collins, Centro de Direitos Humanos de Cristalândia e a Associação Estadual de Direitos Humanos do Tocantins (MEDH). 

Como parte do projeto Mutirãozinho, realizado pelo Núcleo de Apoio às Comarcas (NACOM), em Guaraí, a juíza Wanessa Lorena Martins de Sousa Motta determinou, na última quarta-feira (29), que o governo do Estado construa um Hospital de Custódia para abrigar presos em tratamento psiquiátrico. A obra deve ser concluída no prazo de dois anos.

A decisão atende à ação ordinária ajuizada pelo Centro de Direitos Dom Jaime Collins, Centro de Direitos Humanos de Cristalândia e a Associação Estadual de Direitos Humanos do Tocantins (MEDH), alegando que “várias pessoas encontram-se presas em celas de cadeias do Estado, sem qualquer tratamento psiquiátrico, quando são portadores de transtornos mentais (esquizofrenia, etilismo crônico, retardamento, etc) e deveriam cumprir pena de medida de segurança em estabelecimento adequado, qual seja um hospital de custódia”.

Foto: Divulgação

Ao julgar o caso, a magistrada considerou a Lei de Execução Penal – LEP (BRASIL, 1984), que estabelece, em seu artigo 5º, que os hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico destinam-se a pessoas que cometeram algum crime, mas que são inimputáveis ou semi-imputáveis. Para os casos em que a inimputabilidade for comprovada, ao invés de ser aplicada uma pena ou medida alternativa, será aplicada uma medida de segurança.

“Portanto, grande a necessidade da sociedade deste Estado em ter um local que abrigue os doentes mentais que praticaram algum ilícito que seja típico penalmente, a fim de possibilitar aos mesmos o retorno de forma saudável à sociedade, sem apresentar nenhum tipo de ‘risco’ ou ‘perigo’ a si mesmo e às pessoas a sua volta”, concluiu a juíza.

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Maria da Penha: a luta sobrepujando a dor

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“Um dia, ele tinha chegado de viagem de tarde, e nós tínhamos um compromisso com uma amiga. Nós saímos pra fazer essa visita, voltamos, arrumei as crianças na cama e fui dormir. Eu acordei com um estampido dentro do quarto. Eu fui me mexer e não consegui, então eu pensei: ‘puxa, o Marco me matou’”. [1]

Cearense, bioquímica e dona de uma história de sofrimento que teve repercussões internacionais, Maria da Penha Maia Fernandes é uma brasileira que não descansa no combate à violência doméstica. Seu nascimento data o ano de 1945, na cidade de Fortaleza, [4] onde cresce e forma-se na UFC. Mais tarde torna-se mestre em Parasitologia em Análises Clínicas, pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP [2]. Por ironia do destino a escolha da sua área profissional deu-se pelo desejo de diminuir a dor das pessoas, por meio de medicamentos [3], mal sabia ela que em breve sofreria agruras e dores que as medicações não poderiam resolver.

Fonte: http://migre.me/wc8ty
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Foi no período de pós-graduação na USP que Maria conheceu o futuro marido e pais de suas filhas, era ele Marco Antônio Heredia Viveros. Colombiano e também bolsista na mesma universidade, era graduado em Economia. Durante o namoro foi um rapaz de saltar olhares, de “bom” porte físico e muito prestativo, mas passava por grandes dificuldades financeiras para manter o lazer com a companheira, esta era quem o custeava [3]. Aflorados por um sentimento conjugal, casaram-se e logo tiveram a primeira filha. Devido a não naturalização e desemprego de Marco e uma segunda gestação do casal, decidiram sem êxito ir para cidade natal de Maria da Penha.

Em 1983, após um bom tempo da transição do marido prestativo para o economista bem-sucedido, agressivo com a esposa e filhas e com graves problemas emocionais, aconteceu a primeira tentativa de homicídio, um tiro nas costas enquanto ela dormia. Posteriormente, após quatro meses entre internação e cirurgias, ao retornar para casa ela sofre a segunda tentativa, quase é eletrocutada ao tentar usar o seu próprio chuveiro. Então se inicia a sua peregrinação por justiça – denúncias, audiências e descaso do sistema judiciário Brasileiro – que se estendeu por 19 anos.

Fonte: http://migre.me/wc8ut
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Somente mediante a publicação de sua autobiografia no livro “Sobrevivi… Posso contar”, em 1994, e quatro anos depois com o auxílio do CEJIL (Centro pela Justiça e Direito Internacional) e do CLADEM (Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher) foi que Maria da Penha conseguiu notoriedade para seu caso. Aliando-se, denunciaram o Brasil para Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da Organização dos Estados Americanos (OEA) [4]. Desse modo:

O Brasil foi responsabilizado pela maneira negligente com que os casos de violência contra a mulher eram julgados no país. Foi a própria OEA que exigiu do governo brasileiro a criação de uma legislação específica. Foi criado um consórcio de ONGs e juristas para discutir e fazer um projeto de lei. Foram feitas várias audiências públicas, e o projeto foi aprovado pelo Congresso com unanimidade. [1]

Ainda nesse contexto, foi criado um projeto de lei (pelo Governo Federal via Secretaria de Políticas Públicas da Mulher), aprovado na Câmera e no Senado, que tornou-se (no dia 7 de agosto de 2016) a atual Lei 11.340, mais conhecida como Lei Maria da Penha. Esta cria mecanismos para coibir qualquer tipo de violência contra mulher no âmbito doméstico e familiar [5], visto que até então havia “tolerância” de natureza patriarcal em relação a tal fato.

Fonte: http://migre.me/wc8tV
Fonte: http://migre.me/wc8tV

No que tange aos fundamentos da Logoterapia desenvolvida por Viktor Frankl (1991), onde a busca de sentido na vida é a força motivadora do ser humano, o sofrimento de Maria da Penha pode ter lhe suscitado um sentido para sua vida. De acordo com Frankl (1991) pode-se satisfazer a vontade de sentido (da vida) por três maneiras distintas: trabalho, amor e sofrimento. Este último “consiste em transformar uma tragédia pessoal num triunfo, em converter nosso sofrimento numa conquista humana” [6]. É nessa perspectiva que Maria sai da mera passividade de sofrer, transmutando-se num ser ativo que não cessa ao alcançar a justiça para sua fatalidade, mas que encontra sentido em auxiliar suas semelhantes na luta contra a violência doméstica, as quais passam ou podem passar por algo análogo.

Nesse ínterim, Maria da Penha – ícone internacional da luta, perseverança e resiliência – é o exemplo vivo que a luta se sobrepõe à dor. Até mesmo a paraplegia, causada pelas tentativas de homicídio por parte do marido, não foi capaz de pará-la no decurso de sua peleja para puni-lo e aos demais brasileiros que de alguma forma agridem a mulher. A partir da Lei 11.340/2006, também foram criados outros meios confronto  em prol da justiça, como: o disque 180 (Central de atendimento à mulher), o Observatório para Implementação da Lei Maria da Penha (LMP), a Campanha “Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penha – A lei é mais forte e o Instituto Maria da Penha (IMP), o qual é fundadora.

FB-MariadaPenha1

Premiações e reconhecimentos [7]:

  • Sanção da Lei (07/08/2006)
  • Medalha Jorge Careli – Rio De Janeiro – (08/2009)
  • Batismo do Navio “Sergio Buarque de Holanda” Porto de Mauá – (2010)
  • Reedição do Livro “Sobrevivi…Posso Contar” (2010)
  • Comenda Mulher Coragem – Promoção de Direitos Humanos, concedida pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil (04/2010)
  • Ordem de Cruz de Dama Isabel la Católica, concedida pela Embaixada da Espanha no Brasil (09/2011)
  • Ordem Rio Branco
  • TEDEX Fortaleza – Apresentação de Maria da Penha no 1º Tedex em Fortaleza (06/2012)
  • Women in the World faz doação ao Instituto Maria da Penha (12/2012)
  • Participação de Maria da Penha na Campanha do World Bank “Homem não bate em Mulher” (03/2013)
  • Prêmio de Direitos Humanos 19ª Edição- Categoria Igualdade de Gênero (12/2013)
  • Prêmio Rio Mar Mulher (03/2015)
  • Medalha da Abolição Ceará – (04/2015)
  • Troféu Rosa de Ouro – FECAPES Clube (06/2015)
  • Prêmio Cláudia Hors Concours 2016 (10/2016)
  • Prêmio Franco-Alemão de Direitos Humanos e Estado De Direitos (12/2016)

REFERÊNCIAS:

[1] VELASCO, glória. ‘Foi a glória’, diz Maria da Penha sobre criação da lei há 10 anos.  Jornal G1, São Paulo, 01 ago. 2016. Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2016/08/foi-gloria-diz-maria-da-penha-sobre-criacao-da-lei-ha-10-anos.html>. Acesso em 03 de março de 2017.

[2] FERNANDES, Maria da Penha Maia & GUERREIRO, Cláudia. Perfil – Maria da Penha. Desafios do desenvolvimento, ano 10, 77. ed., Brasília, 07 out. 2013. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2938:catid=28&Itemid=23>. Acesso em 03 de março de 2017.

[3] FERNANDES, Maria da Penha Maia. Sobrevivi… Posso contar. 2. ed. Fortaleza: Armazém da Cultura, 2014.

[4] Maria da Penha. Disponível em: http://www.institutomariadapenha.org.br/2016/index.php/sobre-maria-da-penha/minha-historia>. Acesso em 02 de março de 2017.

[5] REPÚBLICA, Presidência da. LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em 02 de março de 2017.

[6] FRANKLViktor Emil. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. São Paulo: Vozes, 1991.

[7] Premiações e Reconhecimentos. Disponível em: <http://www.institutomariadapenha.org.br/2016/index.php/sobre-maria-da-penha/premiacoes-e-reconhecimentos>. Acesso em 02 de março de 2017.

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Batman v Superman: os heróis lidando com o trauma e a melancolia

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Em 2014, quando foi anunciado pela primeira vez o título oficial do filme Batman v Superman: A Origem da Justiça, previa-se um sucesso impactante na indústria de adaptações das histórias em quadrinhos. O filme é dirigido por Zack Snyder (de 300, Watchman e de seu antecessor Man of Steel) e chegou às telas do cinema mundial em março de 2016, tendo um elenco de peso com nomes como Ben Affleck, Henry Cavill, Gal Gadot e uma responsabilidade gigantesca quanto aos fãs de histórias em quadrinhos: retratar a Trindade Sagrada da DC Comics de um modo inovador e avassalador, além de apresentar a trama de toda uma sequência de filmes que se seguira até 2020.

No longa, Batman questiona a índole de Superman, e vê o Homem de Aço como uma ameaça a toda humanidade devido a seu poder demasiado grande; no meio do conflito dos dois heróis, o antagonista Lex Luthor manipula as peças para que tudo ocorra a seu favor e vontade. Com aproximadamente 151 minutos de duração em sua versão para as telonas, o filme ainda está em cartaz, por isso, se ainda não viu, corra para os cinemas, pois o texto contém Spoilers de alguns pontos cruciais para a trama.

A película foi um sucesso para muitos fãs e gerou polêmica nas mídias. A crítica ficou extremamente dividida entre ódio e amor profundo, notas boas ou extremamente ruins, mas esse texto não se trata de uma crítica e, sim, uma espécie de análise dos muitos pontos viáveis às mesmas que estão presentes no filme.

Superman

Ao analisar separadamente os protagonistas, destacar primeiramente o caso de Superman se faz necessário, levando-se em consideração o fato de Batman v Superman dar sequência a Man of Steel, filme que como mencionado antes também tem como diretor Snyder e busca nos recontar as origens do Homem de Aço. Para o entendimento completo da trama contada em Batman v Superman se faz necessário assistir Man of Steel.

Grande parte da humanidade admira Superman

Superman (Henry Cavill), ou para os mais fanáticos Kal-El, está a dezoito meses agindo como super-herói e vivendo sua vida dupla humana, usando a identidade do repórter Clark Kent, logo após a tentativa de invasão ao planeta Terra no filme anterior (Man of Steel). Ele voa por aí salvando vidas, apagando incêndios e tirando gatos de cima das árvores enquanto lá embaixo, em terra firme, o mundo lida com as consequências do salvamento do mundo, que com toda a certeza foi no mínimo conturbado – afinal, a cidade de Metrópoles foi praticamente dizimada por inteiro na luta entre Superman e Zod (o vilão de Man of Steel).

O Homem de Aço é uma figura controversa, em alguns momentos do filme ouvimos a frase: “Realmente precisamos do Superman? ”; A humanidade teme os poderes de Clark, teme sua capacidade e é aí que os conflitos se iniciam em sua mente. Ele se vê sozinho no universo, pois foi forçado a dizimar o que restava de sua espécie em detrimento do bem para a humanidade. Agora, sendo membro de uma raça em extinção, Clark se encontra em meio a um dilema entre seus poderes, a responsabilidade (ou a não responsabilidade) de usá-los para fazer o bem, a discordância quanto à ação do misterioso Morcego de Gotham e as pessoas que o rejeitam por medo dos ocorridos em Metrópoles – realmente não é todo dia que alguém destrói uma cidade com as próprias mãos.

Batman

As cenas iniciais de Batman v Superman nos mostram um velório, logo após isso vemos que uma criança está assistindo ao enterro dos pais – nesse momento decorre uma cena interessantíssima onde essa mesma criança cai em um buraco cheio de morcegos, guarde essa informação; em sequência há um salto no tempo e o espectador é lavado há alguns meses (dezoito meses) antes do tempo presente no filme, ali é possível observar a batalha ocorrida em Metrópoles por outra ótica.

Dessa vez o evento é mostrado pelos olhos das pessoas que estavam na cidade durante o embate, assistindo de perto a destruição causada pela luta entre Superman e Zod, e é nesse instante – cena que de certa forma chega a ser assustadora, pois da perspectiva de quem está nas ruas, os destruidores o fazem sem piedade – que nos é apresentado de fato o outro protagonista do filme, Bruce Wayne, o Batman (Ben Affleck). Bruce estava na cidade indo para uma das sedes de sua companhia, viu toda a destruição e o impacto negativo da salvação que o Homem de Aço estava trazendo.

Bruce durante a Batalha de Metrópoles

Bruce Wayne agiu em segredo por quase duas décadas como vigilante em Gotham no passado e para ele, mesmo Clark salvando o mundo, ele é o “miserável que trouxe a guerra a nós”. Bruce simplesmente não consegue confiar em Superman, pois para ele seu poder imensurável é instável e em sua mente ele tem o dever de combater esse ser que pode vir a se tornar uma ameaça. É nesse ponto que o filme se fundamenta, se enganando quem pensa que é uma luta injustificada, com muita computação gráfica e ação. Não, com toda certeza não: Batman v Superman retrata um conflito de ideais entre os protagonistas, conflito que visa colocar em xeque a opinião de quem está assistindo e percorre o filme de ponta a ponta.

Trauma e Melancolia

Para falar de fatos que marcariam a vida do Cavaleiro das Trevas é interessante analisar não só as cenas do filme, mas também olhar para a fonte de inspiração delas: as histórias em quadrinhos. Dependendo do autor ou no caso de filmes, o roteirista, existem diferenças tênues quanto ao passado de Bruce e a sua gênese como Batman. Porém, um fato é sempre recorrente: os pais dele morrem quando o mesmo era uma criança; Bruce a partir desse ponto passa a ser criado por seu mordomo Alfred, este que ocupa a função de mentor, guiando-o à medida que se desenvolve.

Bruce e Alfred 

Após a morte de seus genitores, ele fica obcecado por vingança. Com a ajuda desse novo mentor, treina durante o resto de sua infância e adolescência para poder combater o crime no futuro. Quando se torna adulto, começa então a agir como Batman, adota o símbolo do morcego, este se tratando de outro trauma – como dito anteriormente ele cai em uma espécie de buraco quando ainda era criança, lá é atacado por morcegos e esse episódio marca o jovem Bruce profundamente, fazendo-o levar esse medo consigo daí em diante.

Sigmund Freud, ao escrever sobre a melancolia, explica que ela

se caracteriza, em termos psíquicos, por um abatimento doloroso, uma cessação do interesse pelo mundo exterior, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição da autoestima, que se expressa em recriminações e ofensas à própria pessoa e pode chegar a uma delirante expectativa de punição. (Freud, 1917)

Bruce Wayne do filme atuou como Batman secretamente por muitos anos e nos é mostrado como um sujeito melancólico e perturbado por todo o passado e as marcas em sua personalidade. Ele sofre de pesadelos com o túmulo dos pais, morcegos carnívoros gigantes, possíveis futuros apocalípticos como consequência da realização de suas paranoias, entre outras coisas que algumas vezes o fazem titubear na hora de pensar com clareza. Somando isso ao fato de ele rememorar constantemente a cena de seus pais morrendo – guarde essa informação também – tem-se como resultado um indivíduo que sofre psicologicamente com toda essa carga de conteúdos traumáticos em sua mente.

Um dos sonhos de Batman durante o filme, esse porém, tem um tom profético aos fãs

Agora tratando do Superman, em um panorama geral das mídias (quadrinhos e filmes), pode ser até uma surpresa para alguns, mas a história de Kal-El é tão pesarosa quanto a de Batman. Clark é o último filho de seu planeta, Krypton, que foi dizimado devido a um desastre natural. Antes de o planeta entrar em colapso seus pais o colocaram em uma espécie de espaçonave feita para viajar milhares de anos-luz, com o objetivo de chegar a Terra, onde foi achado por Jonathan e Martha Kent e batizado como Clark Kent. Aqui o jovem Clark cresceu, descobriu seus poderes e começa a agir como super-herói. Ele perde os pais terráqueos alguns anos depois; na versão mais recente das HQs em um acidente de carro e no filme Man of Steel, o Sr. Kent morre durante um tornado.

Momento da morte de Jonathan Kent, pai de Clark. Cena de “Man of Steel”

Em Bartman v Superman a origem dessa carga traumática na mente de Clark vem do filme anterior, pois ele foi forçado a dizimar os membros remanescentes de sua raça, em vista de que eles desejavam dominar o planeta e escravizar os humanos. A partir dali, quando a trama do filme atual se desenrola, ele se viu sozinho no Universo, mas ainda assim com um planeta inteiro de pessoas para ajudar, pessoas que passaram a depositar adoração messiânica nele, outras também que questionaram seus atos de boa-fé e o atacaram com palavras, chegando a despreza-lo e tentar o expulsar do planeta. O Superman desse filme é com toda a certeza o mais humano já retratado: ele sente angústia por ser injustiçado, sente raiva por falaram mal dele, sente amor por sua companheira Lois e por sua mãe de modo descomunal – e o que mais revoltou algumas pessoas – ele está sim sujeito a ser manipulado.

Clark e o vilão Zod, ao fim da Batalha de Metrópolis. Cena de Man of Steel

“Martha? Porque disse esse nome!?”

Bum, clímax do filme. O vilão Lex Luthor – não anteriormente citado, porém parte crucial da trama – capturou Martha Kent (Diane Lane) e atraiu Superman para sua armadilha, usando a vida de sua mãe como barganha. Lex força Clark a escolher entre a vida dela e a de Bruce Wayne. O tempo começa a correr para Clark, que só tem uma hora para resolver seu problema; em uma cena deletada do filme, que estará presente no Blu-ray estendido do mesmo, ele parte a procura de sua mãe antes do confronto e ouve todo o clamor, os gritos desesperados e qualquer possível sinal de crime ocorrendo na cidade naquele exato momento, porém o lado egoísta e humano pesa em sua escolha, o lado que faz com que decisões difíceis sejam tomadas e ele escolhe por confrontar Batman para assim salvar sua mãe.

Lex Luthor, subjugando Superman

Após uma tentativa de diálogo e os primeiros golpes desferidos por Batman, a luta se inicia e sem muita descrição sobre a mesma, Clark se contém durante a luta. Para não matar seu adversário que é um humano, Batman se utiliza de gás feito com Kryptonita, um mineral Kryptoniano nocivo para os seres do mundo de Clark e derrota seu adversário se aproveitando desta fraqueza. Do mesmo pedaço de mineral que usou para fazer o gás Bruce fez uma lança, único objeto capaz de matar Superman naquele momento.

Eis que nesse instante surge a frase que dividiu a opinião dos espectadores: “Salve a Martha”. Nesse momento Bruce hesita e começa a questionar sobre o que Clark queria dizer e o porquê de ter dito aquele nome. Lois chega e explica tudo a Bruce que em um lampejo de consciência entende a loucura que era essa briga entre os dois; entende que o real inimigo está lá fora. Eles unem forças para combater o verdadeiro mal por trás de tudo.

“Salve a Martha…”

Então o espectador se pergunta: é isso? Um diz o nome da mãe do outro e fica tudo na paz? – Bom, na verdade as coisas vão um pouco além disso. Se voltarmos na história de Batman, veremos que há algo em comum nos dois heróis, pois o nome da mãe de Bruce também é Martha – (Risos) Ah, melhor ainda? As mães deles têm o mesmo nome e a coisa se resolve assim, fácil? – Não exatamente, de novo.

Tente pensar como Bruce Wayne por um instante: Você é um homem que cresceu assombrado pelos fantasmas de seu passado, vive completamente atormentado pela morte de seus pais, e um estranho de repente fala um nome familiar, que você tem evitado por anos, um nome que relembra todo o seu sofrimento, te faz reviver toda a dor e o trauma de ver seus pais morrerem em sua frente. Até o mais sombrio dos heróis hesitou nessa hora e com uma solução aparentemente simples, mas com uma profundidade e um apelo sentimental tão grandes é que o antagonismo dos dois heróis tem seu desfecho.

Após outros diálogos e a aparição da Mulher Maravilha (Gal Gadot), um dos protagonistas tem sua trama concluída de certa forma ali. E baseado no famoso arco de histórias, “A Morte do Superman”, a terceira e última parte do filme se inicia. Após uma luta exaustiva entre a Trindade e o monstro Doomsday, o fim chega para Superman, que como nas HQs se sacrifica para derrotar o vilão indestrutível – mais uma pequena referência a toda a coisa messiânica que envolve o Homem de Aço.

O sacrifício final. Cena retirada de “A Morte do Superman”, por Dan Jurgens

Em conclusão, para Superman, o conceito de melancolia que melhor se aplicaria é o da filósofa brasileira Marcia Tiburi. Ela que trata da Melancolia como sinônimo de criação. A partir de um episódio melancólico desencadeado por todos os acontecimentos de sua vida até aquele momento, Clark vê iniciar-se um processo de destruição para que depois haja a criação. O filme se encaminha para o fim com Superman se entregando a destruição, após todo o desenrolar de fatos da película. É possível ver o ser inseguro, frágil e indócil, partir em direção a criatura que seria seu fim, para que um novo começo pudesse existir e no lugar dele, o Superman que todos conhecem – o estereótipo de herói, bondoso, certo de si e imparável – pudesse nascer das cinzas de um antigo eu.

REFERÊNCIAS:

FREUD, Sigmund, 1917. Luto e Melancolia. p.172-173.

TIBURI, Marcia, 2008. Saber e Sofrer. Disponível em <http://www.marciatiburi.com.br/textos/saberesofrer.htm>

Café Filosófico: Tristeza, por Márcia Tiburi. Programa disponível em <http://www.cpflcultura.com.br/wp/2013/07/29/tristeza-marcia-tiburi/ > – Acessado em 08/01/2015;

FICHA TÉCNICA DO FILME:

BATMAN VS SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA

Direção: Zack Snyder
Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Jesse Eisenberg, Gal Gadot;
Ano: 2016
País: EUA
Classificação: 12

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