Evento especial celebra o dia da consciência surda e promove a inclusão
26 de setembro de 2023 Greice Soccal Olinger
Mural
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Em comemoração ao Dia Internacional do Surdo, o Núcleo de Atendimento Educacional Especializado ao Discente – ALTERIDADE tem o prazer de anunciar um evento especial que busca promover a conscientização e a inclusão das pessoas surdas na nossa comunidade. O evento, intitulado “DIA DA CONSCIÊNCIA SURDA“, acontecerá no dia 27/09/2023 na SALA 222, do PRÉDIO 2, da ULBRA em Palmas/TO.
O Dia Internacional do Surdo, celebrado em todo o mundo entre os dias 23 a 27 de setembro, é uma ocasião significativa que nos convida a reconhecer a riqueza da cultura surda e a importância da inclusão e igualdade de direitos para as pessoas surdas. Esta data especial nos lembra que a surdez não é uma limitação, mas sim uma parte valiosa da diversidade humana. É uma oportunidade para honrar as conquistas e contribuições das comunidades surdas, promover o uso da língua de sinais e sensibilizar a sociedade para a necessidade de garantir que todas as pessoas, independentemente de sua capacidade auditiva, tenham igualdade de oportunidades e acesso a serviços e recursos adequados.
DETALHES DO EVENTO:
Data: 27/09/2023
Horário: das 9h às 11h
Local: Sala 222, Prédio 2 da ULBRA
Endereço: Av. Joaquim Teotônio Segurado, 1501 – Plano Diretor Expansão Sul, Palmas – TO, 77019-900.
PROGRAMAÇÃO:
O evento contará com uma variedade de atividades, incluindo uma magnífica palestra com o Palestrante Surdo Sérgio Gomes Silva e os participantes terão, além dessa experiência única, a possibilidade de receber um certificado de participação ao final do evento.
INSCRIÇÕES:
A participação no evento é gratuita, mas as inscrições são limitadas. Para garantir seu lugar, acesse https://forms.gle/P5nSyrt2dnopEKm26 e preencha o formulário de inscrição. Se você precisar de serviços de interpretação de língua de sinais ou outras acomodações especiais, informe-nos durante o processo de inscrição.
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A família Bélier: a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como ferramenta de aprendizagem para o deficiente auditivo
26 de março de 2022 Josélia Martins Araújo da Silva Santos
Filme
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Através da análise do filme é possível perceber que o mesmo nos apresenta uma adolescente denominada Paula, que enfrenta questões comuns de sua idade, dentre elas os problemas e desafios na escola, brigas com os pais e amigos, mas trazendo em seu roteiro algo de extrema relevância a ser discutido.
Os seus pais e seu irmão são surdos sendo ela a responsável por traduzir a língua de sinais nas conversas com as pessoas que os cercam. A Psicopedagogia em linhas gerais é um campo extremamente amplo e valioso, afinal ao longo do curso foi algo que se tornou pouco a pouco cada vez mais evidente, inclusive sabemos que a audição é o órgão do sentido que possibilita a percepção de sons no ser humano, sendo que a mesma é o primeiro sentido a ser apurado antes mesmo de a criança nascer, além disso a audição é o principal canal pelo qual a linguagem e a fala são desenvolvidas, é primordial para o relacionamento humano independente de suas diferenças tornando de fato a inclusão uma realidade.
O modelo inclusivo sustenta-se em uma filosofia que advoga a solidariedade e o respeito mútuo às diferenças individuais, cujo ponto central está na relevância da sociedade aprender a conviver com as diferenças. A inclusão apresenta-se como uma proposta adequada, que se mostra disposta ao contato com as diferenças, porém não necessariamente satisfatória para aqueles que, tendo necessidades especiais, necessitam de uma série de condições que, na maioria dos casos, não têm sido propiciadas (LACERDA, 2006, p. 166).
Apesar de todos os estudos históricos acerca da importância da Psicopedagogia nesse processo de construção e formação do indivíduo, é necessário salientar que diante disso é imprescindível que se criem leis para inclusão que seja eficaz de fato e assim gere igualdade, por isso a importância de a criança ser inserida no aprendizado de Libras desde muito pequena. Destaca-se a fala abaixo como aspecto a ser analisado no decorrer do presente trabalho apresentado:
Fundamentar a educação de surdos nesta teorização cultural contemporânea sobre a identidade e a diferença parece ser o caminho hoje. […] A modalidade da ‘diferença’ se fundamenta na subjetivação cultural. Ele surge no momento que os surdos atingem sua identidade, através da diferença cultural, surge no espaço pós-colonial. Neste espaço não mais há a sujeição ao que é do ouvinte, não ocorre mais a hibridação, ocorre a aprendizagem nativa própria do surdo. (PERLIN E STRÖBEL, 2008, P. 19).
O aprendizado de Libras desde estágios iniciais é de grande relevância para que busque uma educação que contemple suas necessidades, pois justamente isso implica em preparar os professores para que estejam comprometidos com a aprendizagem e o desenvolvimento, atentos para as diversidades de modo geral.
Dentro do próprio contexto psicopedagógico é importante discutirmos que é através dessa atitude e comportamento que se construirá uma sociedade solidária, consciente e preparada para conviver com as diversidades. A inclusão veio justamente ampliar as possibilidades para construir uma sociedade mais justa, dando oportunidades para todos de ocuparem seus espaços, buscando conquistar sua autonomia. Uma lição que não se encontra em livros ou nos bancos acadêmicos, como respeitar, entender e reconhecer o outro de maneira integral e humana.
A partir do momento em que nos reservamos a discutir a temática abordada consequentemente fomos capazes de perceber de maneira ainda mais evidente que a nossa formação acadêmica nos faz refletir e concluir se estamos agindo de acordo com o que é moral e ético, ao psicopedagogo cabe promover a inclusão, diminuindo as barreiras intelectuais e sociais para que os sujeitos possam ter as mesmas oportunidades na sociedade e no mundo do trabalho.
Seguindo a mesma discussão, sabe-se que uma das conquistas dos deficientes auditivos foi o reconhecimento do bilinguismo, o direito de se manifestarem através de sua língua própria sendo está superior, um complemento para que o surdo se escolarize formalmente, fator de grande relevância no trabalho apresentado.
Compreende-se, portanto, que tais profissionais precisam estar preparados para lidar com o sujeito que necessita de uma atenção mais especial, inclusive que para isso é necessário que se criem estratégias e soluções que possam melhorar o convívio, sensibilizando, conscientizando e motivando os mesmos, para que os objetivos sejam alcançados por todos. Observe a fala abaixo como base de justificativa para a discussão apresentada:
Porém, os cursos de formação de psicopedagogos devem ter como finalidade, no que se refere aos futuros profissionais, a criação de uma consciência crítica sobre a realidade que eles vão trabalhar e o oferecimento de uma fundamentação teórica que lhes possibilite uma ação psicopedagógico eficaz (GOLDEFELD, 2002, p.68).
A partir dessa perspectiva é interessante ressaltar que a inclusão é acolher as pessoas sem exceção de cor, classe social, condições físicas e psicológicas. Recusar-se a ensinar é crime. As principais causas da deficiência auditiva nem sempre são identificadas, sendo que existem vários fatores que podem levar a essa perda, com isso é importante salientarmos alguns fatores relevantes, dentre os quais se destaca:
Causas pré-natais: Onde a criança adquire a surdez através da mãe no período de gestação, decorrentes de desordens genéticas ou hereditárias relativas a consanguinidade, ao fator Rh, a doenças infectocontagiosas, etc.;
Causas perinatais: a criança fica surda porque surgem problemas no parto como prematuridade, pós-maturidade, inóxia, fórceps, infecção hospitalar e outros;
Causas pós-natais: a criança fica surda porque surgem problemas após seu nascimento como meningite, remédios tóxicos em excesso, sífilis adquirida sarampo, caxumba, exposição contínua a resíduos ou sons muito alto, traumatismo craniano e outras. (STREIECHEN, 2012, p.17).
Apresenta-se ainda nos mesmos estudos que a Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002, identifica a libras como a linguagem materna e mais usada pela comunidade surda do Brasil. Em 22 de dezembro de 2005 o presidente Luís Inácio Lula da Silva e o ministro da educação Fernando Haddad assinaram o Decreto nº 5.626 regulamentando a Lei nº 10.436, que dispõe sobre a linguagem Brasileira de Sinais – LIBRAS.
Interessante destacarmos ainda que a libras é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão utilizada por pessoas surdas, inclusive ainda é evidente que possui um sistema linguístico de natureza visual-motora com estrutura gramatical própria, portanto uma língua autônoma.
FICHA TÉCNICADO FILME
Título: La Famille Bélier (Original)
Ano produção: 2014
Dirigido por: Eric Lartigau
Estreia: 25 de Dezembro de 2014 (Brasil )
Duração: 106 minutos
Classificação: 12 – Não recomendado para menores de 12 anos
Gênero: Comédia, Drama, Música
Referências:
GOLDFELD, Marcia. A Criança Surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócia interativa. 2 eds. Editora: Plexos, 2002.
LACERDA, C. A inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência de inclusão escolar de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta experiência. Caderno cedes. Campinas, mai.-ago. 2006, v. 26, nº 69, p. 163-84.
Ministério da Educação. Secretaria da Educação Especial. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989.
PERLIN, G. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C. (org.). A Surdez um Olhar Sobre as Diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
STREIECHEN, Elisiane Manhoso. Língua Brasileira de Sinais: LIBRAS; ilustrado por Sérgio Streiechen. Guarapuava: UNICENTRO, 2012.
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Profa. Dra. Ana Beatriz compõe Rede de Leitura Inclusiva no Tocantins
A Rede de Leitura Inclusiva é um projeto mobilizado pela Fundação Dorina Nowill para Cegos na perspectiva de fomentar o acesso à Leitura e à informação para pessoas com deficiência, fornecer livros acessíveis e engajar os profissionais que atuam como intermediários da leitura.
Fonte: Arquivo Pessoal – Abertura contando a história do GT Palmas – Tocantins
O 2º Encontro de Leitura Inclusiva do GT Palmas – Tocantins aconteceu no último dia 04/10/19 no SESC – Centro de Atividades, organizado pela parceria das representantes do SESC, Geovana Lima, da UFT, Alessandra Santarém, e Ana Beatriz, do CEULP/ULBRA, por meio do Núcleo de Apoio ao Discente – Alteridade, mobilizada pela Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Fonte: Arquivo Pessoal – Thaís (bibliotecária do CEULP/ ULBRA), Anny e Ana Beatriz (do Alteridade), Carla Silvestre (do ITPAC) e Ângela Vitória (intérprete do Alteridade)
Nesse encontro foram convidadas pessoas de várias instituições de ensino públicas e privadas, de bibliotecas e vários órgãos envolvidos na divulgação da leitura, arte e cultura inclusiva, com o intuito de estreitar o relacionamento e disseminar ações de inclusão, garantindo o direito ao acesso de pessoas com deficiência.
Fonte: Arquivo Pessoal
O encontro teve como objetivos a retomada das ações da rede, divulgação das ações da rede, convite para a partição de novos membros e a divulgação da inclusão de sessão de cinema com audiodescrição na programação do Cine SESC, que na ocasião projetou o filme “A Filha de Ninguém”.
Fonte: Arquivo Pessoal – Ilma declamando um poema e Thainá interpretando em LIBRAS.
Do que se trata
A Rede de Leitura Inclusiva é um projeto mobilizado pela Fundação Dorina Nowill para Cegos na perspectiva de fomentar o acesso à Leitura e à informação para pessoas com deficiência, fornecer livros acessíveis e engajar os profissionais que atuam como intermediários da leitura para que este público também seja contemplado em suas atividades.
Fonte: Arquivo Pessoal – Psicóloga Carla F. Silvestre, cega, egressa do CEULP, conversando com Angelita Garcia e o público sobre como é ser uma leitora cega.
Esta ação acontece em âmbito nacional onde cada Estado é mobilizado a formar Grupos de Trabalho para que construam novas ações de leitura e inclusão ou potencializem as já existentes. O GT do Tocantins (Palmas) foi criado em junho de 2015 quando, a Fundação Dorina Nowill, a partir da visita de Perla Assunção, convidou profissionais de várias instituições e iniciou as atividades do grupo. Dentre estes profissionais se encontra a profa. do curso de Psicologia do Ceulp, Dra. Ana Beatriz Dupré.
Fonte: Arquivo Pessoal – Profa. Thainá da UFT Porto Nacional apresenta projeto de extensão.
A partir de então, várias reuniões e eventos aconteceram, tendo o 1º Encontro de Leitura Inclusiva do Tocantins ocorrido no CEULP/ ULBRA, em agosto de 2015. Em agosto de 2016 ocorreu o 1º Encontro da Rede de Leitura Inclusiva, em São Paulo, ocasião em que a Profa. Dra. Ana Beatriz Dupré Silva, coordenadora do Alteridade, esteve presente.
Fonte: Arquivo Pessoal – Apresentação do Boi Encantado, pelo grupo Encantados Contadores de Histórias, de Santa Catarina, que lançou o CD com a história cantada e com audiodescrição.
Após esses primeiros momentos, os GT´s passaram a desenvolver atividades em suas regiões, sendo sempre apoiados pela Fundação Dorina Nowill. E, no último mês de agosto, a Profa. Dra. Ana Beatriz, juntamente com a bibliotecária da UFT, campus Porto Nacional, Alessandra Santarém, e a produtora cultural do SESC, Geovana Lima, foram convidadas a participar do 2º Encontro da Rede de Leitura Inclusiva, em São Paulo.
Fonte: Arquivo Pessoal – Os autores Francisco Hélito, cego, Edimilson Sacramento, cego, e Lázaro Ramos, falam de suas produções lançadas em Braille. Na foto também aparecem Perla Assunção e Angelita Garcia, da Fundação Dorina Nowill, articuladoras da Rede de Leitura Inclusiva.Fonte: Arquivo Pessoal – Materiais recebidos durante o evento e que estão disponíveis no Alteridade.
E assim, durante três dias, reafirmou-se a importância de promover o acesso à leitura a todas as pessoas, assim como a projetos culturais, para uma formação global e cidadã. Nesse encontro se reuniram representantes de todos os GT’s que compõem a Rede de Leitura Inclusiva, de forma que todas as ações pudessem ser compartilhadas. Além disso, foi apresentada a pesquisa Cenário da Leitura Acessível no Brasil, do Data Folha.
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Uma análise das dificuldades de percepção auditiva sob a perspectiva da Gestalt
O presente texto tem por finalidade apresentar o caso de Juliana e Ana, bem como traçar uma discussão a respeito das principais dificuldades de pessoas com percepção auditiva reduzida ou ausente, além dos conceitos da abordagem Gestalt que têm relação com estes casos.
Em geral, considera-se a dificuldade de aprendizagem uma constelação de fatores de ordem pessoal, familiar, emocional, pedagógica e social. Também, pode ser problema neurológico que afeta a capacidade de cérebro para entender, recordar ou comunicar informações (SMITH, 2007).
Ao observar a Gestalt nas situações que norteiam a vida daqueles que têm dificuldade ou ausência da percepção auditiva, questiona-se a respeito da efetividade dessa abordagem nesses casos. Assim, a partir dos estudos realizados, conclui-se que há evidências de que essa abordagem é eficaz, além da fácil compreensão dos conceitos característicos da mesma em relação à aprendizagem dessas pessoas.
A seguir, é apresentado a descrição do caso considerando a teoria da Gestalt para análise teórica e por fim são apresentadas estratégias e técnicas para o aprimoramento da aprendizagem tanto no âmbito acadêmico quanto social.
GESTALT E SUA TEORIA DA APRENDIZAGEM
Fonte: encurtador.com.br/dvBER
A Gestalt foi criada pelos psicólogos alemães Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka. Teoria que afirma que o todo, é maior que a soma das partes. E o significado não vem da soma das partes, mas da capacidade humana de perceber sua organização o que se denomina por insight.
A Gestalt não era exatamente uma teoria de aprendizagem, mas uma teoria psicológica. O seu conceito teoria mais importante para o estudo da aprendizagem é o de “insight” – súbita percepção de relações entre elementos de uma situação problemática. Uma característica da aprendizagem por insight é que algumas situações são mais favoráveis do que outras na eliciação do insight. Com isso, em uma situação de ensino, caberia ao professor selecionar condições nas quais a aprendizagem por insight poderia ser facilitada: por exemplo, mostrar ao aluno que a solução de um problema alcançada por insight é facilmente aplicável a outros problemas (OSTERMANN, CAVALCANTI, 2010, p.17).
A visão gestaltista é de que a aprendizagem resulta na formação de traços de memória e a característica mais importante é que o material aprendido, como qualquer informação perceptual, tende a adquirir a melhor estrutura possível (prãgnaz) devido às leis da organização perceptual.
RELATOS DE CASOS
Os casos relatados a seguir são baseados em dados reais obtidos através uma entrevista com duas pessoas deficientes auditivas. Para tanto, foram utilizados nomes fictícios- Juliana e Ana.
Caso Juliana
Juliana, uma moça de 22 anos, professora de Libras, que perdeu sua capacidade auditiva aos 7 meses de vida devido à uma doença chamada meningite e que começou a aprender libras aos 13 anos de idade.
Juliana relata que teve um processo de aprendizagem difícil pois seus professores não eram capacitados para lidar com surdos e, segundo ela, é difícil para o surdo compreender a linguagem escrita, algo completamente compreensível visto que Libras não é uma representação gestual do Português e tem estruturas de construção gramatical diferenciadas (Oliveira; Walter, 2016; Faria, 2011)
Juliana ainda cita que continua encontrando dificuldades em seu meio acadêmico pois faltam profissionais de libras e ainda quando existem, não são suficientes para o processo de inclusão do surdo. Além das escolas e universidades, Juliana fala da importância de intérpretes em locais públicos e privados pois saber libras é contribuir para o desenvolvimento dessa comunidade que, segundo o censo do IBGE em 2010, constitui 9,7 milhões de pessoas que têm deficiência auditiva; desses, 2.147.366 milhões apresentam deficiência auditiva severa, situação em que há uma perda entre 70 e 90 decibéis (dB). Cerca de um milhão são jovens até 19 anos.
Juliana relata sempre ter tido o apoio da família, mas que ela não é maioria. Nem todas as famílias, apesar de apoiarem, sabem como lidar com esse tipo de situação ou se informam e aprendem o suficiente para auxiliar seus filhos. Juliana mora em Araguaína e faz parte de um grupo de apoio chamado CIL – Central de Interpretação de Libras, que auxilia os surdos na comunicação durante atendimentos públicos, tem guia intérprete, encaminha os surdos para cursos, auxilia a respeito dos seus direitos garantidos em lei, dentre outras coisas.
Fonte: encurtador.com.br/bhjku
Caso Ana
Ana, tem 21 anos, mora em Porto Nacional- TO, sua família mora em Palmas-TO, faz faculdade de Letras Libras e nasceu surda.
A entrevistada diz que, uma das suas maiores dificuldades é na área da saúde, já que vê como algo muito importante para o ser humano. E uma das barreiras que encontra é a falha de comunicação dos médicos com os surdos, e comenta que já recebeu medicamento errado por isso. Além disso, a não aceitação de um intérprete nessas consultas é outra limitação, e sugere então que, os profissionais na saúde aprendam a língua de sinais para que possam se comunicar com os surdos sem a necessidade de um intérprete.
Já na área acadêmica, ela diz não sentir tanta dificuldade e limitações, embora perceba que às vezes a comunicação não é muito clara, porque as pessoas não são fluentes em libras. Ela afirma que a ausência dessas dificuldades é devido ao curso que ela faz, que é de Letras e Libras, portanto as pessoas estão ali para serem capacitadas nisso e para evitar que outros surdos tenham que enfrentar essas e outras dificuldades.
Ana relata que não foi estimulada a aprender libras desde pequena, pois sua família não tinha conhecimento sobre o que era a língua de sinais. E embora algumas pessoas tentassem uma comunicação por meio de sinalização, ela não aceitava, achava estranho. Ao completar seus 13 anos, quando mudou para outra cidade, encontrou uma intérprete e outra pessoa surda, foram elas que conseguiram ter contato com Ana. A partir do momento em que começou a vê-las sinalizando é que se interessou por isso. Ela diz que oralizava quando criança, mas quando viu essas duas pessoas sinalizando, se identificou mais com a língua de sinais. Portanto, hoje ela é acadêmica do curso de Letras Libras e futura professora de língua de sinais.
Quanto a sua família, Ana percebe que eles sentem orgulho por ela ser surda. Percebe que eles compreendem as falhas que ela têm, mas que confiam nela e sabem que é capaz. Afirma que a família a estimula e dá liberdade para que ela sozinha possa aprender e ter conhecimento de mundo. Compreende que a família a ensinou muito, mas que ela foi atrás de complementos para sua própria aprendizagem.
Ana afirma que os surdos são diferentes entre si. A maioria das famílias de surdos possuem uma mente muito fechada, muitas dificuldades: não confiam; não acreditam nas capacidades do surdo; e são como uma prisão para eles, assim não dando liberdade para que possam sozinhos conhecer o mundo. Por isso há muitos surdos doentes (depressivos), pois estão presos pela própria família.
Existem diversos grupos de surdos, explica Ana. São eles grupos sociais, que combinam de ir para festas, praia, reuniões em casas de amigos. Mas também existem os grupos das instituições de apoio, como: a associação de surdos, CRAS, igrejas, faculdades, entre outros.
Segundo Ana, o maior vilão é na área da saúde, pois ainda vê que a barreira de comunicação é muito grande. Portanto, Ana deixa essa mensagem: “O que eu desejo, o que eu quero, é que vocês tenham essa consciência de aprender…de deixar o intérprete. E caso não queiram a presença do intérprete, que sejam fluentes em língua de sinais, que aprendam a língua de sinais, mas que não seja algo básico, que sejam fluentes para que a gente possa se sentir…ter uma auto-estima maior.”
Fonte: encurtador.com.br/uxAMZ
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
A percepção auditiva, por mais que não seja publicamente difundida é algo intrínseco a todo ser humano e necessita, portanto, de um breve resumo com o objetivo de que sua essência possa ser devidamente absorvida. Desta forma, Buriti e Rosa (2014), em um estudo sobre percepção auditiva em escolares com dislexia, afirmam que a percepção auditiva ocorre por que as células sensíveis a um determinado estímulo- chamada de células receptoras- dão início ao processamento de um sinal acústico audível.
Assim, compreende-se a percepção auditiva como a capacidade que o ser humano possui para compreender os estímulos sonoros externos, ou seja, é a capacidade de interpretar os sons, sendo que, assim como quase tudo na vida, existem os casos de deficiência ou deformidades que impedem o bom funcionamento de determinado órgão, o que sugere uma hipótese neurológica ou neurogênica.
No caso em questão, trata-se da dificuldade na percepção auditiva, que ocorre quando não há um bom funcionamento no processamento de um sinal acústico, que terá por consequência uma má interpretação da mensagem recebida, não absorção do conteúdo, levando até mesmo na confusão de comandos, dessa forma a interpretação errônea do que foi previamente designado.
A deficiência na percepção auditiva pode ter várias causas: hereditária (quando a criança herda um gene defeituoso de um ou ambos os pais), acidente (ocorre durante a concepção da criança ou em qualquer outra ocasião que cause lesões cerebrais), erros no desenvolvimento cerebral (disfunção no processo de desenvolvimento da pessoa, impossibilitando assim, sua completa e perfeita função neurológica) e desequilíbrios neuroquímicos (decorrente do desequilíbrio químico cerebral, ocasionado pela injeção de tóxicos no corpo, como álcool, cocaína e outras substâncias nocivas).
Apesar de pouco conhecidas, existem não só dificuldades, mas também padrões gerais para sua identificação, seja pelo esforço e concentração durante uma oração (virar a cabeça para que “a mensagem penetre o cérebro”); prefere ler uma notícia a ter que assistir o jornal; ler um livro a ver um filme; possui dificuldades de distinguir sons; tem facilidade na compreensão visual; possui pouco interesse musical.
Fonte: encurtador.com.br/qORT4
Em detrimento dos fatos narrados, ocorrem as dificuldades de socialização e aprendizado, de acordo com Smith (2007), a compreensão sobre a temática não é de conhecimento geral, sendo que, em sua grande maioria, até mesmo entre profissionais da educação, ocorre um pré-conceito sobre um aluno, tratando-o como menos capaz ou de menor capacidade cognitiva, conforme se observa: “Ano após ano, muitos desses jovens são erroneamente classificados como tendo baixa inteligência, insolência ou preguiça. Eles são constantemente instados, por adultos ansiosos e preocupados com seu desempenho acadêmico, a corrigirem-se ou a esforçarem-se” (SMITH, 2007, p.14).
É importante ressaltar que as crianças que possuem dificuldades na percepção auditiva geralmente são invisibilizadas socialmente tanto dentro do âmbito escolar quanto familiar. As dificuldades podem gerar novos mecanismos adaptativos não somente para a criança em questão, mas para o meio do qual ela participa.
DISCUSSÃO DOS CASOS
O Insight
O insight pode ser compreendido como a capacidade advinda de uma clareza súbita para resolver determinado problema. Köhler (1969, p.163), entende que essa clareza parte de uma “reorganização de certos materiais” , então é possível dizer que, para que haja um insight, é necessário que haja antes um repertório de conhecimentos no intelecto do indivíduo. Como, então, um surdo haveria de ter um insight?
Como a Juliana citou, é difícil para um surdo compreender a linguagem escrita e, em muitas ocasiões, a fala também devido a falta de intérpretes. Isso não significa, portanto, que o mesmo não tem conhecimento sobre outras situações que envolvem o seu próprio cotidiano. É mais fácil para um surdo ter um insight para resolver um problema enfrentado pelo surdo do que o ouvinte, já que seu repertório de conhecimento e vivência da área é bem maior, e o contrário também procede. Mas é possível ampliar esse repertório para que haja inclusão dos surdos em diversas áreas, como a profissional, por exemplo. Para isso a Libras se torna peça chave, pois permite que o surdo compreenda e se faça compreendido.
Libras e os quatro (4) Princípios da Gestalt
Fonte: encurtador.com.br/cnpIM
Libras é a sigla para Língua Brasileira de Sinais, e se manifesta pelo conjunto de formas gestuais utilizadas para comunicação entre surdos e ouvintes. Ela se diferencia entre países e entre regiões também. Apesar de haver semelhanças com a língua portuguesa, a linguagem de sinais envolve diferentes níveis linguísticos. O surdo no Brasil acaba sendo forçado a ser bilíngue pois deve aprender não somente Libras como a língua de seu país, no caso o português. No Brasil, a língua brasileira de sinais foi estabelecida através da Lei nº 10.436/2002, como a língua oficial das pessoas surdas, que a compreende como um sistema de natureza visual-motora.
Embora o surgimento das Libras não tenha sido inspirado pela teoria da Gestalt, é possível perceber os princípios dessa abordagem na sua formação.
Princípio do Fechamento: visto como um ato de completar uma figura ou ideia, a Linguagem de Sinais é vista como complexa para os ouvintes pois ela te dá as partes para que você, através de estudo e vivência, as complete, tal complexidade pode ser explicada pelo fato da Juliana e Ana terem se interessado em aprender somente aos 13 anos de idade;
Princípio da Continuidade: pode-se dizer que os símbolos se apresentam com a necessidade de uma continuidade que se dá de forma gestual posteriormente;
Princípio da Similaridade: além de se assimilar muito com as formas da escrita brasileira, a linguagem de sinais se assimila também às formas daquilo que se pode ver, relacionando os símbolos aos gestos.
Princípio da Proximidade: esse campo acontece de forma semelhante para o surdo e para o ouvinte, já que depende do campo visual. A exemplo temos o teclado, a proximidade de todas as formas constrói uma composição visual: o teclado.
O Professor
Fonte: encurtador.com.br/ezAR9
Apesar de ideal, o professor nem sempre precisa saber falar em Libras quando há a presença de um intérprete, porém o mesmo é responsável pela busca teórica e elaboração de técnicas que atendam às necessidades do surdo. Recursos visuais se fazem extremamente necessários, conforme Campello (2008, p. 115) “a modalidade viso-espacial, como um dos recursos visuais, é defendida pelos sujeitos surdos na perspectiva de uma política visual da língua de sinais como um conjunto de experiências culturalmente produzidas”. Mas como vimos nas entrevistas, só a sala de aula não resolve os problemas enfrentados por eles. Se tratando de sistema educacional, é necessária uma escola com todos os departamentos adaptados para atender de forma abrangente os surdos.
A realidade na escola e na sociedade, para o surdo, é uma educação bilíngue, sendo fundamental que o professor consiga lidar de forma dinâmica com as duas línguas, que, nesse caso, trata-se da sua língua oficial – o português – e da língua de sinais, a fim de escolher métodos e oferecer às crianças surdas condições para serem alfabetizadas de acordo com as exigências básicas da educação (BRITO, 2012; 2015; FARIA, 2011; OLIVEIRA, 2011; OLIVEIRA; WALTER, 2016).
ESTRATÉGIAS
Existem algumas estratégias de ensino para a obtenção da aprendizagem de alunos com problemas na percepção auditiva. Dentre elas, a utilização de vocabulários com gravuras, apresentação de filme com legenda, desenhar; fazer detalhes; esquematizar idéias no quadro, utilizar cores diferentes; setas e símbolos, utilizar slides com o máximo de detalhes de informações visuais possíveis (imagens,desenhos e figuras) além de usar ilustrações associadas com frases curtas,fotos ,mapas ,entre outros.
Vale ressaltar que é necessário os pais criarem estímulos visuais para que a criança surda possa chegar a uma compreensão correta daquilo que está sendo discutido. Portanto, verifica-se a importância na relação com os pais, e como eles devem ajustar-se criativamente para receber e lidar com as dificuldades na percepção auditiva dessa criança (SMITH, 2007).
Deve-se considerar as limitações que podem surgir no caminho da família, entretanto é de suma importância que eles assumam a responsabilidade diante da mesma e se comportem de forma assertiva, compreendendo o baixo desempenho que ela pode obter em algumas tarefas, e contribuindo para conscientizar os outros campos sociais que ela participa acerca da sua limitação e as implicâncias que a mesma pode desencadear.
Smith (2007) também comenta que o papel da escola é propiciar um ambiente adaptado e inclusivo à criança resguardando seus direitos e prezando pelo seu desenvolvimento cognitivo no que tange a escolaridade. Assim, é imprescindível que o professor espere o aluno copiar primeiro para depois fazer a explicação, aplicar as matérias de maneira reduzida e bem trabalhada para uma aprendizagem eficaz, dar tempo e ter paciência com eles ,para que ele possa prestar atenção no intérprete e depois escrever no caderno. Além disso, os pais devem manter-se atentos ao papel desempenhado pela escola, fazendo a ponte entre os outros profissionais que atendem a mesma e entre a escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que as dificuldades de aprendizagem englobam diferentes causas, as quais podem afetar o desempenho acadêmico, ou seja, a criança apresenta um baixo desempenho inesperado em relação ao que ela deveria fazer e o que ela realmente faz.
Na percepção auditiva, percebe-se que a maior dificuldade está na comunicação, tendo em vista que a Língua Brasileira de Sinais se configura como a língua oficial do surdo e são poucas as pessoas que têm domínio dela para a eficaz comunicação através de símbolos e isso dificulta a interação social, com profissionais da saúde, bem como professores.
Além disso, pôde-se perceber o quanto os princípios da Gestalt de estão relacionados com as estratégia utilizadas para o estabelecimento de uma aprendizagem de pessoas com problemas no processamento auditivo. Tais estratégias evidenciam a importância da utilização de recursos visuais com símbolos, cores, imagens, compreensão por parte dos pais e professores do baixo desempenho que ela pode obter em algumas tarefas, e incentivá-la em suas atividades acreditando que é capaz de ter uma vida mais independente e de desenvolver suas potencialidades.
REFERÊNCIAS
BRITO, J. B. Alfabetização de crianças e jovens: superando desafios da inclusão escolar. Dissertação. Programa de Pós-Graduação em Educação, UFRN. Natal, 2012.
BURITI, A. K. L; ROSA, M.R.D. Percepção auditiva em escolares com dislexia: uma revisão sistemática. Rev. psicopedag. [online]. 2014, vol.31, n.94, pp. 82-88. ISSN 0103-8486. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862014000100010> acesso em: 24 nov 2018.
BRITO, R. S. O professor e o processo de alfabetização do aluno surdo. Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Pedagogia, UFRN, Campus Caicó. Caicó, 2015.
CAMPELLO, A.R.S. Aspectos da visualidade na educação de surdos. 2008. 245 f. Tese (Doutorado) – Curso de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.
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Libras – brasileiros nascidos no Brasil com língua diferente
O Portal En(Cena), entrevista e conta a história de um mineiro, simples torneiro mecânico, que decidiu investir no aprendizado da língua de sinais para ajudar na comunicação de seu filho que, nasceu surdo.
Foto: Gabriela Fachine Brito
Jacob Augusto Ferreira, 47, Tradutor/Interprete de Libras/LP do CEULP/ULBRA, Pós graduado em tradução/interpretação e docência em libras pela Unintese. Tudo começou quando seu filho, Rangel Barbosa Ferreira, nasceu no ano de 1990, logo dois anos depois, Jacob Augusto, descobriu que seu filho Rangel, tinha limitação sensorial.
Nessa época, as escolas públicas e privadas não aceitavam alunos com essas limitações do tipo surdez, sendo encaminhados para a Associação de Pais eAmigos dos Excepcionais – APAE, frequentando lá por vários anos. Aos 08 anos de idade, o torneiro mecânico percebeu que seu filho não desenvolvia e nem mesmo sabia ler e escrever. “Meu filho fazia tudo como as outras crianças, só não se comunicava como elas”, foi aí que, Jacob Augusto, conheceu a língua de sinais no ano de 1997, através de informações de uma caríssima amiga. Sua amiga, vendo seu desespero resolveu lhe ajudar. “Quando conheci língua de libras, em uma semana tive um resultado positivo com meu filho que não tive em 07 anos”, afirma.
Naquela época, 1997, Jacob Augusto diz ter tentando falar com os professores sobre línguas de sinais, e descobriu que eles já tinham conhecimento de libras, mas que, esse tipo de didática era proibido. “Diziam eles que o mundo é dos ouvidos e que, uma criança que não aprender a falar, ela não vai ter lugar no mundo”, Jacob lamenta que naquela época, acreditavam os docentes que, o uso dos sinais atrofiava o cérebro das crianças. “A religião representada pela igreja católica, considerava a língua indecente apelativa ao corpo e sensual, não podia ser usado”, relata.
Depois de tantos anos de luta e tentativas de conscientização, Jacob Augusto, atualmente não percebe uma evolução da sociedade em respeito aos surdos, considerados por ele, “brasileiros nascidos no Brasil com língua diferente”. Foi membro da associação de pais de surdos no estado do Rio de Janeiro, e participou do movimento para reconhecimento da língua de sinais no ano de 2002, lei nº 10.436 de 24 abril de 2002, que foi reconhecida como a segunda língua oficial do Brasil, língua materna dos surdos brasileiros.
Toda sua história, Jacob Augusto, pretende um dia escrever em um livro. Atualmente, seu filho, Rangel Barbosa Ferreira, 24 anos, atua como professor de Libras no estado do Rio de Janeiro, e cursando o 6° período do curso de pedagogia bilíngue.
En(Cena) –O que é o intérprete de Libras?
Jacob Augusto – Na verdade é Tradutor/Intérprete, é um profissional habilitado a fazer a tradução de textos escritos por surdos e a interpretação simultânea em diversas situações, inclusive educacional. Uma de suas funções é promover a interação entre aluno surdo, professor e surdo e colegas ouvintes. Atua em áreas diversas, como: saúde, auto-escolas, concursos públicos, vestibulares etc…
Jacob Augusto em atividade prática no curo de Libras. Foto: Arquivo Pessoal
En(Cena)–O que a lei estabelece para as instituições em relação a libras?
Jacob Augusto – A lei 10.436 de 22 de abril de 2002 e o decreto 5.626 de 24 de dezembro de 2005, diz que Libras é a segunda língua oficial do Brasil e que é a língua materna dos surdos brasileiros. É obrigação do poder público promover a difusão desta língua. Todo órgão público, empresa concessionária de serviço público, é obrigatório ter pessoas habilitadas nesta língua para oferecer um melhor atendimento aos surdos.
En(Cena)–O que o motivou a trabalhar com Libras?
Jacob Augusto – Meu filho, que hoje tem 24 anos, Rangel, que nasceu surdo devido à sua mãe ter contraído Rubéola em sua gravidez.
En(Cena)–Qual a história que mais o comoveu durante sua experiência de trabalho com Libras?
Jacob Augusto – Todas as histórias vividas por mim juntamente com surdos me comoveram e me comovem até hoje. Porém, vou me referir a uma mais recente: uma garota surda de 20 anos que veio prestar o vestibular do CEULP/ULBRA ano passado, fui chamado para ser seu intérprete, chegando à sala percebi que além de não saber a língua de sinais, também não dominava o português escrito, aliás, esta garota por mais absurdo que seja, não sabia que era surda, a família não lhe permitia isso. Resumindo, após 20 minutos na minha frente ela (garota), em prantos balbuciou que não sabia ler, o que pude fazer foi chorar com ela, literalmente. Muitos me condenam por eu dizer quem são os culpados de tais fatos ainda acontecerem, mas, o governo não conhece esta garota pessoalmente, o MEC só a conhece pelos relatórios enviados pela escola. Então digo, os culpados são os professores e a própria escola!
Jacob Augusto em atividade prática no curo de Libras. Foto: Arquivo Pessoal
En(Cena)–Que tipo de dinâmica o intérprete usa além dos sinais?
Jacob Augusto – Em sala de aula, o intérprete trabalha de acordo com o professor, se ele planta bananeira, o intérprete também o faz, porém, existem professores que não sabem nem comer a banana, quanto mais plantar um pé de bananeira.
En(Cena)–Qual avaliação o senhor faz das políticas de Libras aplicadas pelas instituições, e o que poderiam melhorar?
Jacob Augusto – As políticas infelizmente são aplicadas pelo MEC, mas, as instituições desde que cumpram o mínimo que o MEC impõe, ficaria tudo bem, poderiam fazer mais, ou seja, fazer menos do que se é ordenado, não pode, porém fazer mais, nunca é demais, mas, as instituições não querem muito isso. Uma coisa como exemplo que poderia melhorar: a lei diz que cursos da área de saúde, incluindo fonoaudiologia e cursos de licenciatura, são obrigatórios ter Libras como disciplina, pergunto? Em algumas aulas em um semestre alguém aprende qualquer que seja a língua? Pela experiência que tenho ensinando Libras, uma pessoa que tenha muita facilidade de aprender só consegue aprender o básico com no mínimo de 80 a 120 horas de estudo.
Jacob Augusto (a direita) conta com a participação do seu filho Rangel Barbosa Ferreira (a esquerda) em atividade no primeiro dia do curso de Libras no CEULP/ULBRA. Foto: Arquivo Pessoal
En(Cena)–O acadêmico com necessidade de auxilio de um intérprete de libras consegue captar o mesmo conhecimento que os outros alunos?
Jacob Augusto – Todos fazem esta pergunta, respondo dizendo que a surdez não afeta o cognitivo de ninguém, Libras é uma língua, e como toda língua é diferente uma da outra, porém a didática de alguns professores, ou melhor, a falta dela, neste caso o intérprete precisa ter muito conhecimento e experiência para fazer com que o surdo não saia prejudicado, mas, o surdo aprende o conteúdo como qualquer outra pessoa.
En(Cena) –A discriminação por parte da sociedade é uma falta de conhecimento sobre os surdos?
Jacob Augusto – Na realidade o que assusta as pessoas é muito simples, nós temos um desejo enorme de nos comunicar, a falta de comunicação afasta as pessoas. Com relação aos surdos, além das pessoas não saberem Libras, tratam os surdos como doentes mentais, a discriminação é exatamente por causa da falta de conhecimento do que é uma pessoa surda, do que é a cultura surda, a identidade surda etc.
En(Cena) –Na sua visão, os nascidos surdos, qual explicação espiritual para essa diferença e limitação dos sentidos?
Jacob Augusto – Digo apenas que, nem todos serão professores, juízes, promotores, delegados, advogados, administradores, empresários… é indispensável também que hajam, as domésticas, os motoristas, os garis, os taxistas etc… Infelizmente os surdos sempre estão relacionados a alguma religião. Portanto, os egípcios os tinham como deuses, Aristóteles dizia que não possuíam almas, os católicos diziam que não poderiam ir para os céus pois, não ouviam a palavra de Deus, os evangélicos querem expulsar os demônios surdos que existem dentro deles. Só posso dizer que, hoje, graças a Deus, rsrs… não sigo nenhuma denominação religiosa, o que posso dizer é que, tudo que acontece neste mundo existe um propósito, e para as especulações que os ditos cristãos fazem sobre os surdos cito: Êxodo 4:10 e 11: e disse Deus a Moisés: “não foi eu quem fez o surdo? o cego?”… quem quiser saber mais confira.
“O que importa a surdez da orelha, quando a mente ouve? A verdadeira surdez, a incurável surdez, é a da mente”. (Surdo francês Ferdinand Berther)
Alexander Graham Bell, inventor do telefone, Jonathan Swift, escritor do romance “As Viagens de Gulliver” e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton possuem uma característica em comum, além de destaque no cenário mundial: têm deficiência auditiva. No Brasil, por exemplo, estima-se que existam cerca de 15 milhões de pessoas com algum tipo de perda de audição e percebe-se a grande dificuldade no que diz respeito a relacionamentos e socialização ao analisar adolescentes com esse tipo de deficiência, o que gera maiores desafios e complicações na fase adulta da vida.
Adolescência é fase delicada e determinante. Mudanças em todos os aspectos ocorrem e na vida de um surdo não é diferente. Pelo contrário, são necessários mais cautela e respeito. “Um adolescente surdo, que precisa de um intérprete, de uma prótese, tende a ser visto diferente. Frequentemente, passa por situações de evitamento ou distanciamento por parte dos ouvintes, ou ele mesmo acaba não facilitando esse tipo de aproximação”, explica Marta Schorn, psicóloga argentina, especialista em surdez. A condição de surdo os inibe de certas possibilidades e situações e, futuramente na vida adulta, percebem-se características peculiares.
A psicóloga e pesquisadora Gisele Oliveira da Silva, professora de Libras do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte – IFRN, comenta que os surdos são, por vezes, considerados imaturos e problemáticos nas relações que estabelecem com si mesmos e com o mundo. “Mas isto não é um efeito que tem como causa a própria surdez, mas da forma com que a família, a escola e outras instituições formadoras lidam com estes sujeitos ao preservarem estigmas que, somados a barreiras linguísticas, os privam de orientação, esclarecimento, e os eterniza como seres “infantis””, esclarece Gisele.
Isso porque a sociedade no geral não sabe lidar com surdos. Muitas das situações preconceituosas acarretam grandes consequências e podem ser evitadas. Blogs e vlogs relatam erros graves dos ouvintes que não têm sensibilidade e respeito com deficientes auditivos. Da mesma forma que há regras de convivência e educação na cultura ouvinte, há também na vida dos que não escutam. Algumas dicas podem ajudar na relação:
– Não é correto dizer que alguém é surdo-mudo. Muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar. Muitas fazem a leitura labial, outras não.
– Quando quiser falar com uma pessoa surda, se ela não estiver prestando atenção em você, acene para ela ou toque em seu braço levemente.
– Quando estiver conversando com uma pessoa surda, fale de maneira clara, pronunciando bem as palavras, mas não exagere. Use a sua velocidade normal, a não ser que lhe peçam para falar mais devagar.
– Use um tom normal de voz, a não ser que lhe peçam para falar mais alto. Gritar nunca adianta.
– Fale diretamente com a pessoa, não de lado ou atrás dela.
– Faça com que a sua boca esteja bem visível. Gesticular ou segurar algo em frente à boca torna impossível a leitura labial. Usar bigode também atrapalha.
– Quando falar com uma pessoa surda, tente ficar num lugar iluminado. Evite ficar contra a luz (de uma janela, por exemplo), pois isso dificulta ver o seu rosto.
– Se você souber alguma linguagem de sinais, tente usá-la. Se a pessoa surda tiver dificuldade em entender, avisará. De modo geral, suas tentativas serão apreciadas e estimuladas.
– Seja expressivo ao falar. Como as pessoas surdas não podem ouvir mudanças sutis de tom de voz que indicam sentimentos de alegria, tristeza, sarcasmo ou seriedade, as expressões faciais, os gestos e o movimento do seu corpo serão excelentes indicações do que você quer dizer.
– Enquanto estiver conversando, mantenha sempre contato visual, se você desviar o olhar, a pessoa surda pode achar que a conversa terminou.
– Nem sempre a pessoa surda tem uma boa dicção. Se tiver dificuldade para compreender o que ela está dizendo, não se acanhe em pedir para que repita. Geralmente, as pessoas surdas não se incomodam de repetir quantas for preciso para que sejam entendidas.
– Se for necessário, comunique-se através de bilhetes. O importante é se comunicar. O método não é tão importante.
– Quando a pessoa surda estiver acompanhada de um intérprete, dirija-se à pessoa surda, não ao intérprete.