Com uma história de conforto e esperança, Fabiana Coimbra acolhe, em novo livro, crianças que enfrentam desafios de saúde e passam por procedimentos cirúrgicos
Os primeiros anos de vida de Maria Júlia, filha da publicitária e escritora Fabiana Coimbra, foram marcados pelo diagnóstico de uma cardiopatia congênita, um longo período de internação e duas cirurgias. O desejo de tornar o processo menos confuso e doloroso levou a mãe a escrever uma história que acolhesse não apenas a menina, mas outras crianças e seus familiares. Assim surgiu o livro Maju: As aventuras de uma Coração Valente.
Na obra, a pequena personagem nasceu com um machucadinho no coração e logo cedo começou um tratamento especial para crescer forte e viajar até a Terra da Cura, onde o Dr. Giratene, o “consertador de corações”, pode ajudá-la. Nesse lugar encantado, a menina faz novos amigos e vive muitos desafios, auxiliada pelos “enferpinguins” e outros médicos, como a Dra. Claufox.
Repleta de magia e elementos fantásticos, como o escudo que protege as crianças de diferentes tipos de vírus e médicos com características de animais, a jornada de Maju traz um retrato otimista para o enfrentamento da cardiopatia e outras doenças da infância. A história mostra a possibilidade de uma vida saudável, cheia de brincadeiras, amizades e carinho da família. Além de ajudar a lidar com o processo cirúrgico, o livro também reforça a importância do uso de medicamentos e busca aumentar a autoestima em relação às cicatrizes.
A leitura é indicada não só ao pequeno leitor, mas aos pais e profissionais de saúde que acompanham pacientes nesse perfil. As ilustrações reforçam o caráter lúdico e encorajador da obra, ao incluírem elementos e termos do ambiente hospitalar dentro do contexto mágico da Terra da Cura, permitindo ressignificar um período de angústia.
Fabiana Coimbra já havia falado sobre a experiência de ser mãe de uma criança cardiopata no livro Mulheres Marcadas, em que explora a solidão e os conflitos das genitoras com filhos em unidades de tratamento intensivo. Com Maju: As aventuras de uma Coração Valente, a escritora expande a discussão e dá voz às crianças que vivenciam doenças congênitas, na busca por transformar um momento de medo e tensão em uma prova de coragem e amor pela vida. “Sonhar faz parte do processo de cura. Viva, sonhe e fantasie sempre!”, comenta ela.
FICHA TÉCNICA
Título: Maju: As aventuras de uma Coração Valente Autora: Fabiana Coimbra Editora: Flor de Maju ISBN: 9786598439606 Formato: 25,5 x 24,5 cm Páginas: 44 Preço: R$ 59,90 Onde comprar: Amazon
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Quais aprendizados absorver a partir do Comportamento da personagem Emília?
12 de abril de 2023 Ana Paula de Lima Silva
Personagens
Caricatura de Monteiro Lobato, autor da obra “Sítio do Picapau Amarelo”. André Koehne, CC BY-SA 3.0, via Wikimedia Commons
O Sítio do Pica-pau Amarelo é uma das obras de Monteiro Lobato e é sua obra de maior destaque na literatura infantil, Lobato foi um dos primeiros autores da literatura Infantil do Brasil e da América Latina. A literatura infantil de Monteiro Lobato apresenta um aspecto moralista e pedagógico, alguns anos essa obra foi levada à televisão no seriado O Sítio do Pica-pau Amarelo, onde bonecas falam, crianças convivem com mitos e fábulas entre os personagens criados por Lobato, destacam-se Dona Benta, Tia Nastácia, Pedrinho, Tio Barnabé, Visconde de Sabugosa Saci, a Cuca, Narizinho e sua boneca falante Emília.
A boneca de pano Emília, foi feita por tia Nastácia para a menina Narizinho, ela era muda, porém, após tomar a pílula falante, Emília se tornou muito comunicativa e suas características são: Tagarela, curiosa e egoísta, donas de opiniões fortes. Ela comete birras, malcriação, teimosia e espertezas, fala o que pensa e quando é chamada a atenção finge demência e não teme a nada, é cheia de vontades, ela também deixa os dias de Narizinho muito mais divertidos e cheios de aventuras.
Segundo Skinner o condicionamento operante é um método de aprendizagem que ocorre por meio de reforços e punições. Através do comportamento operante, uma associação é feita entre um comportamento é uma consequência para esse comportamento, quando o resultado desejado segue uma ação o comportamento torna-se mais provável de ser emitido novamente em outra ocasião parecida.
Emília é uma personagem que não usa o controle inibitório com cautela, ou seja “fala o que pensa”, é um pouco autoritária e tem dificuldade de lidar com opiniões contrárias às suas. É querida por todos no Sítio e é reforçada frequentemente por esses comportamentos inadequados, os quais só tendem a acontecer em outros momentos, pelo fato de a mesma receber atenção ao emitir tais comportamentos.
Pesquisas demonstram que histórias infantis podem influenciar o comportamento. Imagem de Катерина Кучеренко por Pixabay
Pesquisas apontam que histórias infantis podem ter função de instrução, pois são estímulos verbais que podem controlar determinados comportamentos. (Almeida, Bataglini, & Verdu, 2009). A literatura Infantil, pode ser objeto de apreciação, ela favorece criar contextos lúdicos e discutidos conceitos importantes para a cultura, como o certo ou o errado, o bem e o mal (Vasconcelos, 2008) Comportamentos inadequados dos personagens são geralmente punidos nas estórias educativas, evitando que se tornem modelos de ação, pois comportamentos apropriados e reforçados terão maior probabilidade de serem reproduzidos.
Narizinho até levantou a hipótese de que Emília se tornou assim após ingerir uma pílula falante e talvez se o dr. Caramujo fizesse ela vomitar a pílula e recebesse uma dose mais fraca, Emília falasse menos e fosse menos desobediente. Algumas das características dos comportamentos apresentados pela personagem envolvem risco de reação indesejável, produzindo consequências positivas para si e não para os demais do grupo social a qual está inserida.
É esperado na fase inicial infantil que a criança viva a fase do egocentrismo, ela entende o mundo a partir da vivência dela, e ainda não tem a capacidade de se colocar no lugar do outro de pensar e chegar à conclusão de que uma atitude dela pode prejudicar o outro, na medida que a criança vai crescendo cognitivamente ela tende a receber instruções de adultos e perceber o que pode e o que não pode ser feito, esses comportamentos geralmente são aprendidos por meio da modelagem.
Mesmo diante das relações comportamentais responsáveis pela aprendizagem de um determinado comportamento, há que se levar em consideração também o processo de modelação, sendo provável que os comportamentos de Narizinho tenham a função de modelo de agressividade para Emília, pois a presença de Narizinho pode eliciar um estímulo discriminativo para a resposta agressiva da boneca Emília.
Por outro lado, essa punição também não garante um novo repertório (Skinner, 1953/2007), mais assertivo, caso não esteja associada com modelagem, instruções de um repertório apropriado. Entende-se que alguns comportamentos de Emília poderiam ser considerados importantes no repertório de crianças e jovens que leem as histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo, porém outros comportamentos dessa personagem poderiam facilitar a aprendizagem de padrões de comportamentos agressivos.
A partir de uma Análise Funcional do comportamento as birras podem ser trabalhadas e novos comportamentos serão aprendidos. Imagem de 帆 张 por Pixabay
É de fundamental importância que tanto o egocentrismo como as birras devam ser trabalhados com naturalidade, por meio de brincadeiras e material concreto para que possa fazer sentido para a criança e assim absorver o significado do compartilhar e de lidar com o outro, pois para Skinner, o comportamento é controlado é influenciado por suas consequências. A partir de uma análise funcional do comportamento pode-se investigar o antecedente, a resposta e a consequência de determinados comportamentos e o que fazer para aumentar ou diminuir a probabilidade dele se manter.
Todo e qualquer comportamento tem uma função no repertório comportamental do indivíduo, o ser humano opera no ambiente provocando modificações nele que por sua vez age modificando padrões comportamentais. Atualmente existem diversas técnicas terapêuticas eficazes baseadas no behaviorismo que permite que pesquisadores possam investigar o comportamento observado de maneira científica e sistemática, dentre essas abordagens a Terapia Comportamental é muito útil na mudança de comportamento desajustados em crianças e adultos.
No caso específico das estórias de Emília, a análise sobre consequências imediatas e prováveis, em médio e longo prazo, podem contribuir para refinar regras sociais e valores culturalmente estabelecidos, bem como os padrões de comportamentos sociais valorizados, reprovados e tolerados pelo grupo.
Referências
DEL P. A., & DEL P. Z. A. P. (2003). Assertividade, sistema de crenças e identidade social. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 9, 125-136.
VASCONCELOS, L. A. (2008). Brincando com histórias infantis: Uma contribuição da análise do comportamento para o desenvolvimento de crianças e jovens. Santo André, SP: ESSEtec.
ALMEIDA, C. G. M., BATTAGLINI, M. P., & ALMEIDA, V. A. C. M. (2009). Comportamento verbalmente controlado: Algumas questões de investigação do controle por estímulos textuais e pela palavra ditada. In T. G. M. Valle (Eds.), Aprendizagem e desenvolvimento humano: Avaliações e intervenções (pp. 9- 32). São Paulo: Cultura Acadêmica.
ARANTES, A. K. L., & ROSE, J. C. (2009). Controle de estímulos, modelagem do comportamento verbal e correspondência no Otelo de Shakespeare. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, 11, 61-76.
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Monteiro Lobato: muito além do Sítio do Picapau Amarelo
José Bento “Monteiro Lobato”, ativista político, escritor, criador da literatura infantil no Brasil e grande influenciador na época em que viveu. Era um homem com uma personalidade forte, individualista por formação e temperamento porém destoante das rígidas tradições vigentes em seu tempo. Mas tudo isso ia por terra quando apareciam as crianças, tinha uma qualidade de agradá-las tanto em sua escrita quanto pessoalmente quando elas chegavam para ouvir suas histórias, que muitas vezes, eram inventadas na hora em que as contava.
Nascido em 18 de abril de 1882, no interior de São Paulo, na cidade de Taubaté, sempre teve boas condições de vida. Após a morte precoce de seus pais, Lobato passou a morar com o avô, que tinha um título de nobreza e uma fazenda na qual ele trabalhou, e logo depois herdou-a. Sob as ordens de seu avô, graduou-se em Direito porém sua paixão sempre foi a escrita e a literatura. Inclusive em uma entrevista Lobato disse:
“Eu perdi tempo escrevendo pra gente grande.”
Monteiro Lobato
Fonte: encurtador.com.br/xzRT8
Viveu o pré-modernismo, período de intensa movimentação literária que marcou a transição entre o simbolismo e o modernismo. Seguindo essa escola da literatura, ele publicou seu primeiro livro “Urupês”, onde um dos contos que o compunha contava sobre a vida de Jeca Tatu personagem baseado em experiências reais, que ganhou grande fama na época da publicação, pois Lobato acabou com a imagem que a literatura tinha construído a respeito do homem do campo com a ideia do caboclo feliz e sem ambições.
Através do Jeca Tatu, Monteiro Lobato fez críticas ao saneamento básico e a saúde pública após ver notícias sobre a precariedade de um bairro do Rio de Janeiro, mas ao mesmo tempo utilizava de anúncios, contos e tirinhas para conscientizar a população sobre a gravidade da situação e de certa forma pressionar a alta sociedade para que algo fosse feito.
Fonte: encurtador.com.br/yGHZ9
Lobato foi o primeiro escritor a se preocupar com os aspectos ilustrativos nos livros, utilizando-se disso iniciou sua verdadeira paixão: escrever para o público infantil. Seu primeiro livro para as crianças foi “A menina do Narizinho Arrebitado” e foi publicado em 1920. A partir desse, surgiu o famoso e aclamado “Sítio do Picapau Amarelo” que teve 23 volumes que foram publicados entre 1920-1947, onde Monteiro Lobato utilizou-se das memórias da fazenda de seu avô para construir o local da história e os personagens.
Como principal protagonista pode-se destacar Emília, a boneca de pano que falava tudo o que lhe vinha na cabeça sem papas na língua. O que muitos não sabem é que a personagem foi inspirada em uma menina real, na época filha de um amigo de Lobato. Ele a observava enquanto ela brincava sem que o visse, para que fosse algo espontâneo e genuíno. Mas também existe a teoria de que Emília era um pouco do irracional do escritor, que falava as verdades que ele queria dizer e não podia.
Fonte: encurtador.com.br/dzGS2
A literatura de Lobato fez tanto sucesso pois misturava realidade e fantasia com uma linguagem coloquial e acessível. Porém não era em todo o lugar que era bem-vinda, devido sua ferrenha crítica aos padres e a Igreja Católica, acabou tendo grandes desavenças com essa Instituição. Devido a isso as escolas confessionais proibiam seus alunos de ler os livros de Monteiro Lobato e quando conseguiam recolher alguns queimava-os na fogueira em praça pública.
Devido ao grande sucesso do Sítio do Picapau Amarelo na literatura, assim que surgiu a televisão a história e os personagens foram transformados em seriado, levados pela Tv Tupi em 1950 como a primeira série brasileira.
Infelizmente Monteiro Lobato não se limitou apenas a escrita de seus livros, mas também foi um epicentro de polêmicas e contradições: criticava o movimento modernistas com fervor e era abertamente racista— foi membro de uma entidade eugênica, grupo que defendia a pureza racial e acreditava que a miscigenação era um fator prejudicial na formação do Brasil. Em um trecho de uma carta à Neiva, Lobato inclusive defendeu a criação de uma Ku Klux Klan no Brasil:
“Um dia se fará justiça ao Ku Klux Klan; tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca.”
Monteiro Lobato
Fonte: encurtador.com.br/bekv8
Após muitos anos, quando o movimento negro ganhou força no Brasil um de seus livros “Caçadas de Pedrinho”, foi questionado por conter elementos racistas, porém alguns estudiosos que têm o trabalho de Lobato como referência dizem que ele foi mal interpretado e não contém nenhum racismo dentro de suas obras.
Mesmo com essas manchas em sua história de vida não podemos negar que as obras de Monteiro Lobato são extremamente importantes para a literatura brasileira, e que sem ele não haveria uma identidade nos livros infantis, consequentemente um desfalque na educação e na alfabetização das crianças de sua época até os dias atuais. Lobato faleceu em 4 de julho de 1948 aos 66 anos, porém seu legado continua vivo e marcado na história de nosso país.