“Efêmero & Incerto” – Educação em transformação no século XXI

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José Lauro Martins apresenta uma abordagem inovadora, desafiando conceitos tradicionais e propondo mudanças essenciais para atender às demandas da educação contemporânea

O livro “Efêmero & Incerto” é uma obra escrita por José Lauro Martins, da Editora Atena, que oferece uma visão sobre a educação com o intuito de validar as mudanças necessárias. A educação tradicional não corresponde às demandas da modernidade, tampouco aos anseios da juventude contemporânea. Neste livro, é possível encontrar argumentos que abordam um novo modo de conduzir a educação no século XXI, considerando a necessidade de transformações para se adequar aos novos tempos.

O termo “efêmero” significa passageiro, temporário e transitório, enquanto “incerto” remete a variável e inconstante. Dessa forma, no título do livro, o autor faz uma alusão à educação, convidando-nos a refletir sobre a transformação, indicando um novo período para o campo educacional.

O livro está dividido em dez capítulos, sendo que os capítulos abordados serão o capítulo 4 – “Para que serve a escola?” e o capítulo 5 – “Ensino Híbrido: O que há de novo”. Essas seções conduzem os leitores à necessidade de inovação, começando pelo planejamento pedagógico, e proporcionam uma reflexão sobre o ensino híbrido, destacando sua potencialidade para transformar e inovar a educação. O autor argumenta que a inovação vai além de simplesmente colocar atividades em ambientes virtuais e usar vídeos nas aulas.

No início do capítulo 4, o autor aborda a utilidade da escola, destacando que ela é uma comunidade dinâmica de pessoas com relacionamentos, biografias e sensibilidades únicas. Cada escola possui sua singularidade e está conectada ao mundo ao seu redor, sendo um lugar onde se preocupa com o presente para a formação do futuro. Isso ocorre devido ao investimento no contexto educacional, que não é realizado apenas pelo Estado, mas também pelos milhões de brasileiros que compõem esse cenário. Portanto, a educação não é um fenômeno isolado, mas sim complexo e sistêmico. Em resposta à pergunta do capítulo sobre a utilidade da escola, o autor enfatiza que o que importa não é a utilidade, mas sim a responsabilidade de todos nós. Todos no presente necessitam da escola e contribuirão para o futuro daqueles que estudam lá.

O autor reflete sobre a ideia de que a escola deveria ser atemporal, uma vez que deveria testemunhar o futuro, independentemente do momento em que está inserida, afinal, ela é uma parte integrante do futuro de todos. A escola foi estabelecida pela sociedade com o propósito de desempenhar seu papel de ensinar, no entanto, ensinar no sentido tradicional não garante a efetiva aprendizagem. A verdadeira preocupação com o processo de aprendizagem de cada aprendiz é o que transforma um professor em um educador. Em outras palavras, independentemente do conteúdo que o professor ministra, o que realmente importa são suas competências didáticas e o quanto ele se importa com o progresso de cada um de seus alunos ou aprendizes.

                                                                                                                 Fonte: https://br.freepik.com/fotos

O autor propõe aos educadores uma reflexão sobre o planejamento do conteúdo de ensino, destacando a importância de não apenas considerar o tempo dedicado ao ensino, mas também reconhecer o tempo efetivo de aprendizagem para cada tópico do currículo. Ele ressalta a necessidade de incluir períodos de ociosidade para a vida familiar e social, indo além das restrições temporais, uma vez que o tempo de ensino não corresponde diretamente ao tempo de aprendizagem.

O texto alerta para a armadilha de associar a inovação pedagógica apenas à introdução de equipamentos digitais, enfatizando que a mera digitalização do conteúdo existente não constitui inovação. Muitas vezes, essa abordagem resulta na continuidade de métodos tradicionais de ensino, sem alterações significativas no currículo ou na prática dos professores.

O autor destaca a importância do planejamento pedagógico como ponto de partida para a inovação, permitindo a identificação de necessidades e possibilidades de mudança na educação. Ele critica a visão simplista de adotar o ensino híbrido como uma fórmula pronta, evidenciando que a implementação bem-sucedida requer mais do que simples investimentos em tecnologia. O texto aponta que a verdadeira inovação requer uma abordagem mais holística, superando a dicotomia entre ensino presencial e à distância.

O capítulo 5 do texto aborda a tentativa de inovar o currículo tradicional por meio do ensino híbrido, destacando o papel muitas vezes solitário do professor na definição, preparação, ministração e avaliação do conteúdo. O autor argumenta que, embora algumas formas de apresentação do conteúdo e acompanhamento dos alunos estejam sendo experimentadas, isso ainda não é suficiente, especialmente em sistemas educacionais públicos que enfrentam atrasos administrativos.

O texto enfatiza que a verdadeira inovação educacional vai além de projetos isolados ou experimentais. O autor desafia a noção de que investimentos em tecnologia são a única solução para a implementação bem-sucedida do ensino híbrido, sublinhando a necessidade de uma gestão curricular eficaz e uma abordagem organizacional contemporânea. Ele destaca que a qualidade da educação não está intrinsecamente ligada a plataformas digitais ou aulas presenciais, mas sim à capacidade de estruturar o currículo de maneira criativa, mantendo o foco no conhecimento e na responsabilidade para evitar insatisfação e insegurança. Em última análise, o texto enfatiza que o nome dado à organização curricular é menos relevante do que a prática pedagógica efetiva.

Referências

 MARTINS, José Lauro. Efêmero e incerto: o futuro já chegou / José Lauro Martins. – Ponta Grossa – PR: Atena, 2022.

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A Lista do Ódio: o bullying no contexto escolar

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A obra de Jennifer Brown leva o leitor a refletir acerca das consequências do bullying nas escolas de diferentes pontos de vista.

 “A Lista do Ódio” narra a história de Valerie, abordando os eventos que antecedem, ocorrem durante e sucedem a um tiroteio na escola onde cursa o ensino médio. O responsável por esse ato é seu namorado, Nick, cujos alvos são pessoas mencionadas na lista do ódio que Valerie inadvertidamente criou. Inicialmente concebida sem a intenção de prejudicar alguém, a lista toma um rumo inesperado quando Nick decide adotar medidas extremas.

Nick Levil, o namorado de Valerie Leftman, disparou contra vários colegas na cantina de sua escola. Valerie, ao tentar detê-lo, foi atingida, mas acabou salvando a vida de uma colega que a maltratava. No entanto, ela é responsabilizada pela tragédia devido a uma lista que ajudou a criar, contendo os nomes dos estudantes que praticavam bullying contra eles, a lista que Nick usou para escolher seus alvos. Agora, se recuperando do ferimento e do trauma, Val enfrenta a dura realidade de retornar à escola para concluir o Ensino Médio.

Assombrada pela memória de seu ex-namorado, enfrentando problemas familiares, conflitos com ex-amigos e a garota que salvou, Val precisa confrontar seus fantasmas e encontrar seu papel nesta história em que todos são, ao mesmo tempo, responsáveis e vítimas.

Em “A Lista do Ódio,” a narrativa oscila entre passado e presente. No passado, somos transportados para o relacionamento intenso entre a protagonista, Valerie, e seu então namorado, Nick. A conexão entre eles era profunda, marcada por um estilo de vida alternativo e pelo constante bullying que enfrentavam. Para Nick, esse tormento era agravado pelos abusos que sofria em casa.

No presente, Valerie está sozinha, confrontando a dor da perda. Nick, após abrir fogo na cafeteria da escola, tirou a própria vida. Seus alvos eram aqueles responsáveis pelo bullying, cujos nomes estavam meticulosamente registrados na Lista do Ódio, um caderno mantido em segredo por ele e Valerie. Para Valerie, a lista serviu como uma válvula de escape, enquanto para Nick, tornou-se uma fonte de motivação para vingança. Mesmo tendo evitado que o massacre fosse ainda mais grave, o retorno à escola após a recuperação de Valerie está longe de ser simples. A narrativa segue Valerie enquanto ela relembra o passado, buscando compreender onde falhou ao não perceber os planos de Nick. Ao mesmo tempo, enfrenta o presente, lidando com olhares carregados de ressentimento e acusações veladas dirigidas a ela.

A jornada de Val ao longo da trama é marcada por sua luta para se reintegrar ao mundo. A culpa a consome, e a vergonha a faz hesitar em retornar à escola. As lembranças do tiroteio a assombram, dificultando até mesmo a abertura para uma improvável amizade com Jessica, a garota que ela salvou ao interpor-se entre Nick e ela, uma das que mais a atormentavam.

Com o tempo, Valerie percebe que o massacre no Colégio Garvin deixou marcas profundas não apenas nela, mas também nos demais alunos, incluindo Jessica. Enquanto se recupera, Val enfrenta a necessidade de se redescobrir e se adaptar a uma nova realidade, na qual seus planos foram alterados. Nessa jornada, encontra apoio fundamental no terapeuta, o Dr. Hieler, que se revela um personagem secundário exemplar.

Os flashes do presente revelam seu reencontro com as vítimas sobreviventes, amigos, pessoas mencionadas na lista que conseguiram sobreviver, professores e adultos responsáveis que parecem tão perdidos quanto ela, incapazes de lidar com a situação. Além disso, exploram a dinâmica de sua relação com os pais e o irmão.

Nesse contexto, a terapia se revela essencial na trama, proporcionando a Val um caminho para superar seus traumas. Em contraste com obras que muitas vezes falham em indicar um caminho de superação, “A Lista do Ódio” se destaca ao abordar de maneira eficaz o processo de recuperação de sua protagonista.

                                                                                                                                                 Fonte: Pixabay

Entre as diversas formas de violência que ocorrem entre colegas escolares, o bullying destaca-se como a mais prevalente, sendo observado em grande parte das escolas, independentemente de serem públicas ou privadas, e em diferentes níveis de ensino (Malta et al., 2014). O bullying é um fenômeno intrincado, multidimensional e relacional entre pares, sendo caracterizado por comportamentos violentos, repetitivos e intencionais, que ocorrem ao longo do tempo em relações marcadas pelo desequilíbrio de poder e por diversas formas de manifestação (Olweus, 2013).

Fante (2005, 2008) apresentou que o conceito de bullying engloba um fenômeno caracterizado por ações agressivas e gratuitas direcionadas a uma mesma vítima, ocorrendo de forma contínua ao longo de um período prolongado e é marcado por um desequilíbrio de poder. Essa forma de agressão se distingue de outras, uma vez que é repetitiva, deliberada e intencional, não se referindo a divergências de pontos de vista ou ideias contrárias que possam provocar desentendimentos e brigas.

A gravidade dos atos de incivilidade, intimidações, assédio ou qualquer termo associado ao bullying reside, principalmente, em sua persistência. Tal continuidade provoca nas vítimas sensações de abandono e insegurança, ao passo que proporciona aos agressores a sensação de impunidade e poder, também mencionou Fante (2008a).

Schäfer (2005) abordou que os autores de bullying são indivíduos que realizam agressões contra seus colegas, visando vitimizar aqueles mais vulneráveis e utilizando a agressividade como meio de impor sua liderança em determinado grupo. Tendem a humilhar seus colegas como estratégia para obter valorização social. São frequentemente hábeis em empregar esse poder sobre colegas mais suscetíveis, incapazes de resistir às agressões.

Embora o papel inicial do psicólogo escolar/educacional tenha sido predominantemente clínico, concentrando-se na identificação de alunos com distúrbios de aprendizagem, problemas de conduta e de personalidade, observa-se que, na contemporaneidade, a atuação desse profissional está evoluindo em direção a uma abordagem mais social (Del Prette; Del Prette, 1996).

O exercício da psicologia escolar/educacional requer a habilidade de analisar e compreender as diversas relações presentes na instituição escolar e entre os agentes envolvidos, enquanto identifica as necessidades e oportunidades de aprimoramento dessas relações. Portanto, o profissional de Psicologia se depara com o desafio de direcionar sua atuação para a complexidade dos processos interativos que ocorrem no ambiente escolar (Del Prette; Del Prette, 1996).

Idoeta (2019) ao falar sobre a seleção da escola como palco para a execução de um ataque disse estar vinculado à frustração social do perpetrador, percebendo-o como um ato simbólico no qual a instituição escolar, na realidade, representa a sociedade como um todo. Dessa forma, torna-se imprescindível abordar o tema do bullying como possível agravante social no contexto escolar.

A partir desse entendimento, mostra-se de suma importância estabelecer de maneira nítida qual é o papel dos educadores e da instituição escolar na promoção e prevenção de situações de violência. Segundo Lins (2010), o bullying passou a ser reconhecido como um “problema de saúde pública”, exigindo o reconhecimento e a intervenção de profissionais especializados de áreas específicas. A abordagem eficaz e segura do bullying requer a colaboração conjunta de profissionais da saúde, pais, professores e gestores.

A interação desses agentes é vital para observar o comportamento dos alunos na escola, em casa e nos ambientes sociais de interação, considerando as condições psicopedagógicas, o ambiente físico da escola e as dinâmicas familiares. É fundamental que crianças e adolescentes cultivem relações saudáveis com colegas na escola, uma vez que isso contribui para o desenvolvimento social, previne o estresse psicossocial e fortalece a saúde individual.

Cada indivíduo deve ser motivado a enfrentar desafios, integrar-se em grupos sociais e ser estimulado a comunicar a outros caso experiencie agressões ou testemunhe atos de violência. É crucial que os educadores passem por treinamento para identificar situações de bullying e saibam como lidar com alunos envolvidos nesse processo, fornecendo a devida orientação quando necessário aos profissionais da saúde (Almeida; Silva; Campos, 2019).

Silva (2010) destaca a crucial importância da identificação precoce do bullying por parte de pais e professores, considerando que as crianças frequentemente omitem o sofrimento ou constrangimento vivenciado na escola, seja por receio de represálias ou de vergonha. O bullying é um fenômeno prevalente no contexto escolar, ressaltando a gravidade de uma realidade que causa consideráveis danos aos envolvidos em diversas escolas ao redor do mundo.

Frente aos desafios encontrados no ambiente escolar e na comunidade escolar como um todo, a Psicologia Escolar atua no sentido de mitigar discrepâncias, abordar dificuldades de aprendizagem e buscar estabelecer uma harmonia no ambiente educacional. No que diz respeito às intervenções nos espaços escolares, Marinho-Araújo e Almeida (2005) recomendam a realização de um mapeamento institucional, visando reunir evidências, investigar, analisar, discutir, refletir e colaborar na elaboração do projeto político-pedagógico (PPP) da instituição. A escuta psicológica, sendo a essência da cena no ‘espaço escolar’, é de considerável importância, pois revela as experiências das pessoas envolvidas nesse contexto.

 

 

REFERÊNCIAS

  1. ALMEIDA, K. L.; SILVA, A. C.; CAMPOS, J. S. Importância da identificação precoce da ocorrência do bullying: uma revisão de literatura. Rev. Pediatri,v. 9, n. 1, p.8-16, jun./ago. 2019.
  2. DEL  PRETTE,  Z.  A.  P.;  DEL  PRETTE,A. Habilidades  envolvidas  na  atuação  do  Psicólogo Escolar/Educacional.In: WECHSLER, S.  M. (Org.). Psicologia  escolar: pesquisa,  formação  e prática. Campinas, SP: Alínea, 1996, p. 139-156.
  3. FANTE, C. Brincadeiras perversas. Viver Mente e Cérebro, ano XV, 181, 74-79, 2008a.
  4. FANTE, C., PEDRA, J. A. Bullying escolar: perguntas e respostas Porto Alegre: Artmed, 2008.
  5. FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para paz. 2.ed. ver. E ampl. Campinas: Versus Editora, 2005.
  6. IDOETA, Paula Adamo. Massacre em escola de Suzano: Padrão de atiradores envolve crise de masculinidade e fetiche por armas, dizem especialistas. BBC News Brasil. São Paulo, 16 de mar. de 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47573154. Acesso em: 09 de nov. de 2023.
  7. LINS, R. C. B. S. Bullying: Que fenômeno é esse? Revista Pedagógica Inaugural, 2010.
  8. MALTA, D. C. et al. Bullying em escolares brasileiros: análise da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2012). Revista Brasileira de Epidemiologia, 17, 92-105, 2014.
  9. MARINHO-ARAUJO, C. M.; ALMEIDA, S. F. C. Psicologia Escolar: construção e consolidação da identidade profissional. Campinas: Alínea, 2005.
  10. OLWEUS, D. School bullying: Development and some important challenges. Annual Review of Clinical Psychology, 9, 751-780, 2013. doi: https://doi.org/10.1146/annurev-clinpsy-050212-185516
  11. SCHÄFER, M. Abaixo os valentões. Viver Mente e Cérebro Ano XIII, 152, 78-83, 2005.
  12. SILVA, A. B. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.
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Procrastinação: causas e consequências

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Lílian Soares, aborda nesta obra relevante um fenômeno universal e desafiador enfrentado por muitas pessoas no mundo contemporâneo: adiar tarefas mesmo sabendo que haverá consequências negativas. Você já passou por algo assim? Sofre com isso? Experimenta sentimentos de culpa, fracasso, baixa produtividade e vergonha? Se sente um fracasso por adiar e não atingir seus objetivos e metas na vida, sendo cobrado muitas vezes por não cumprir suas responsabilidades e compromissos?

Neste livro a autora traz uma análise detalhada e esclarecedora, embasada em pesquisa acadêmica, citação de estudos de caso e em sua experiência pessoal, sobre os aspectos envolvidos no adiamento de tarefas e objetivos. Através deste aparato busca ajudar os leitores a compreender e utilizar estratégias para a superação dos obstáculos que surgem com a procrastinação e impedem o desenvolvimento pessoal e profissional.

A autora questiona a cultura, o ambiente, as tecnologias e proporciona reflexões sobre os valores, hábitos e comportamentos do leitor. Mas você deve estar se perguntando: É possível quebrar este ciclo vicioso e retomar o controle da minha vida? Sim, querido leitor! Você pode e deve retomar o controle. Por isso te convido a ler este livro e ingressar numa jornada de transformação pessoal através do autoconhecimento.

A autora começa o livro abordando o contexto em que a procrastinação se manifesta e destaca que a procrastinação se trata de um fenômeno comum a todas as pessoas, de diferentes idades e culturas e que sua presença pode gerar sofrimento significativo ao indivíduo e por vezes ocasionar consequências negativas nas áreas pessoal e profissional da vida.

É preciso entender que a procrastinação não se trata de uma falta de disciplina ou de caráter. Trata-se de um sintoma que envolve questões mais profundas que precisam ser investigadas e compreendidas, visando uma vida mais produtiva e com sentimento de realização.

Mas por que as pessoas adiam tarefas importantes?

  • Falta de conexão entre a tarefa e o real propósito de vida;
  • A tarefa é assustadora ou desagradável;
  • Não se sabe por onde iniciar a atividade/tarefa;
  • Não se sente no dever de executá-la;
  • Está sem motivação.
  • Existência de crenças disfuncionais, como por exemplo: “eu não tenho tempo pra isso”; “Se eu não tenho vontade de fazer”; “significa que não devo fazer”; “Nada nunca dá certo pra mim”; “Se eu não posso fazer bem-feito, não faço coisa alguma”, etc.

Para ajudar no processo de autoconhecimento, a autora disponibiliza uma escala geral de procrastinação, onde o leitor é convidado a responder as perguntas atribuindo a pontuação sincera a cada pergunta que aborda diferentes aspectos da procrastinação como dificuldade em tomar decisões, falta de organização, sentimento de culpa após evitar a realização das tarefas etc. Essa pontuação servirá para que o leitor faça uma análise sobre seus comportamentos e atitudes e possa usufruir das dicas, para um melhor desempenho nas atividades diárias através do estabelecimento de metas realistas e específicas e sempre exercendo a autocompaixão e a paciência, pois é preciso lembrar que se trata de uma mudança comportamental.

Desta forma, a autora lista algumas possíveis estratégias de enfrentamento e eu vou te falar que até coloquei algumas em prática. Anota aí!

As básicas:

                                                                                                Fonte: freepik.com

1 – Defina objetivos e metas (divida os objetivos em objetivos menores e mais gerenciáveis). Ex: quero viajar para São Paulo em dezembro de 2023. Como posso deixá-lo mais claro, definido, específico, realista e mensurável para mim? Como mensurar que estou fazendo o que preciso fazer para alcançar este objetivo no prazo desejado? Ao dividir o objetivo em metas menores, você prova a si mesmo que a tarefa não impossível ou insuperável e a mente obtém clareza diante dos desafios.

2 – Gerencie melhor o seu tempo e identifique a quantidade necessária de tempo para a realização das tarefas, bem como elimine as distrações, pois o seu cérebro irá em busca de recompensas rápidas e tentará te distrair com outras atividades mais prazerosas.

3 – Estabeleça uma rotina diária e semanal que facilite a realização e cumprimento das atividades e inclua períodos de descanso, prazer e autocuidado.

Com estas dicas básicas, você leitor, dará os primeiros passos e conseguirá se planejar, priorizar tarefas, estabelecer metas realistas e criar um ambiente propício ao desenvolvimento das tarefas e aumentar sua produtividade, alcançando seus objetivos de maneira mais eficiente e satisfatória.

Bom, mas esta parte mencionada anteriormente foi só o básico. É preciso sair do mundo das ideias, do planejamento e partir para a ação. A autora chama isso de “a arte de fazer” e oferece uma “sequência de passos”. Muitos pacientes falam que planejam muito, escrevem seus objetivos, mas se frustram ao lê-los tempos depois, devido ao fato de tudo ter sido apenas planejado. Para você sair do mundo das ideias e colocar o planejado em prática, seguem algumas sugestões:

 Dicas Práticas – Hora da ação!

                                                                                     Fonte: freepik.com

 1 – Mantenha o foco e a disciplina. Crie rotinas e hábitos que promovam a autodisciplina. Foque na sensação que sentirá ao finalizar as tarefas que você estabeleceu para o dia.

2 – Lembre dos seus valores pessoais, dos seus sonhos e una a isso seus objetivos e tarefas a cumprir. Sempre lembrando de manter o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

3 – Agrupe tarefas – Agrupe tarefas semelhantes para aumentar a eficiência e reduzir a dispersão mental.

4 – Comece com pequenas mudanças e aumente gradualmente a complexidade das tarefas e projetos à medida que ganhar confiança e habilidades.

5 – Mantenha um registro do progresso e ajuste o plano conforme necessário para garantir que os objetivos sejam alcançados.

6 – Aprenda a dizer NÃO! Isso mesmo. Muitas pessoas dizem sim para tudo e todos e por isso ficam sem tempo para fazer aquilo que precisam fazer.

7 – Aceite as falhas e aprenda com os erros. Eles ensinam muito.

A autora também lista técnicas para quem tem dificuldade em iniciar as atividades. São elas:

                                                                                                                         Fonte: freepik.com

1 – Técnica Pomodoro – Divida o tempo de trabalho ou estudo em períodos de 25 minutos, seguidos por uma pausa de 5 minutos. Seja sistemático. Ao se manter firme nestes períodos ou concluir tarefas em pequenos períodos, você leitor experimentará um senso de realização e progresso, o que reforça sua autodisciplina e fornecerá a motivação para continuar.

2 – 3,2,1 agora! – Essa técnica foi desenvolvida pelo psicólogo Thomas Phelan e ajuda as pessoas a sair da inércia. Veja o exemplo: Missão: escrever uma monografia – Meta: metade de um capítulo por dia – Momento: ao chegar em casa – Decisão: iniciar agora – Início: 3,2,1, agora!

Uma vez que a tarefa foi iniciada ela ocorrerá com maior probabilidade e você evita que a inércia domine corpo e mente. Conforme a autora, cientificamente falando, quando se decide em cerca de 3 a 5 segundos, realizar algo no exato momento, com o cuidado de permanecer na atividade por pelo menos 5 minutos, rompe-se o ciclo da procrastinação construído na mente. Você prova ao seu córtex pré-frontal que pode enfrentar o estresse de forma positiva. O segredo é repetir este mesmo comportamento várias vezes até que se construa um novo padrão mental de resposta aos estímulos estressantes.

3 – Questione-se – Por que estou com dificuldades nisso aqui? Por que me sinto tão mal, ao realizar esta atividade? Por que não consegui fazer os pontos necessários? Quando tudo isso começou? A autora nos lembra que questionar- se é terapêutico.

4 – Dispositivo pré-compromisso – Confesso a você leitor que essa técnica eu achei infalível (risos). Sabemos que as recompensas e punições podem ser eficazes na construção de um bom comportamento, por isso, dê a um familiar ou amigo uma quantia significativa, ex: 150,00 e caso você comece a tarefa antes de um determinado horário, receberá seu dinheiro de volta. Caso contrário, o perderá.

No livro a autora reforça que os hábitos mais poderosos mudam a forma como nos vemos. Assim, pense nos hábitos que poderiam fazer você se sentir mais capaz em relação a realização de mudanças profundas em sua vida. Alguns exemplos de hábitos desta magnitude são os exercícios físicos e sono regular. E se você tem dificuldades em regular seu sono, pode começar a configurar um despertador para se preparar para dormir. Deixe-o tocar uma hora antes do horário habitual. Quando ele tocar, desligue e pare atividades estimulantes como TV, computador, celular e insira uma música relaxante, a leitura de um livro ou reduza as luzes do quarto.

Fica claro no livro que a procrastinação levou um tempo para se instalar e que mesmo que você meu caro leitor, não tenha percebido, foi necessário um longo período para que ela se estabelecesse como um hábito ou sistema de evitação. Sendo assim, lute! Isso vai lhe ajudar em sua autoestima, pois está comprovado que o procrastinador se dá pouco valor; evita situações desagradáveis, porém extremamente necessárias e importantes que fazem parte da vida e do desenvolvimento pessoal e crescimento profissional. É aquele ditado: Na vida adulta, não se faz apenas o que se quer, mas o que tem que ser feito.

Como diz a autora, é preciso desenvolver a coragem de se encarar, desenvolver a autoconsciência e admitir os erros, aprender com eles e deixar essa consciência motivar e mudar você. Afinal, você e apenas você, é o responsável pela sua qualidade de vida.

Durante o processo seja gentil consigo mesmo, pois trata-se de uma mudança lenta e gradual; uma luta diária onde você substituirá os velhos hábitos por novos padrões de comportamento que transformarão a sua vida. Lembre-se que o progresso deve ser lento e constante, pois as grandes histórias são escritas uma página por vez.

Desejo a você coragem e determinação. Apenas comece!

Referências:

SOARES, Lilian. Procrastinação. Guia científico sobre como parar de procrastinar definitivamente.

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Cartas a um Jovem Terapeuta: Calligaris faz uma ponte magistral entre a teoria e a prática

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Bruna Magalhães S Bozolli (Acadêmica de Psicologia)- brunamagalhaes@rede.ulbra.br

O livro traz em seu conteúdo dúvidas de dois jovens em início de carreira, enfatizando sobre o perfil de um psicoterapeuta, essa vocação profissional é útil que o terapeuta possua alguns traços de caráter ou de personalidade que não aprende na faculdade de psicologia, o que eu achei muito válido. Geralmente os pacientes não tem tanta gratidão e reconhecimento pelo terapeuta, então se faço meu trabalho esperando ser amado e admirado, talvez seja contraindicado essa profissão, assim como, esperar presentes de natal, páscoa, ou outras datas comemorativas, vou me frustrar.

A narrativa hábil de Calligaris constrói uma ponte entre teoria e prática, dando vida aos princípios psicanalíticos e psicoterapêuticos, o que foi de muito aprendizado. Seu olhar experiente destaca a importância da empatia, da escuta ativa e da constante auto-reflexão na arte da terapia. Ao abordar desde a dinâmica terapêutica até as nuances da busca por compreensão e transformação, o livro se torna um guia abrangente e inspirador. “Cartas a um Jovem Terapeuta” não se contenta em ser um manual de técnicas; ele transcende as expectativas ao oferecer uma síntese magistral de teoria e prática terapêuticas. Calligaris compartilha sabedoria acumulada, proporcionando ao leitor uma visão holística da profissão que ressoa não apenas com terapeutas em formação, mas também com qualquer indivíduo interessado na intricada interseção entre psicologia, humanidade e compreensão profunda. A escolha do profissional pode ser em grande maioria uma inferência do próprio paciente, importante quando ele fala sobre a sexualidade do terapeuta.

Nos primeiros capítulos, Calligaris responde a 4 bilhetes sobre o início do trabalho do terapeuta, para pacientes escolher um terapeuta o importante é a confiança que se tem por ele, e não é relevante a aparência ou até a orientação sexual. Ele fala sobre pacientes que se deve ou não tratar. O grande analista francês, Jacques Lacan, disse que durante uma supervisão, “que a gente não deveria oferecer tratamento aos parricidas”. Mas não explicou por quê. Ou seja, que cada terapeuta tem seus próprios limites para oferecer análise. Entendo que existe uma linha limiar de auto avaliação quanto ao assunto abordado pelo paciente, se isso me de maneira irreversível, é melhor que eu o encaminhe para outro profissional.

A narrativa hábil de Calligaris constrói uma ponte entre teoria e prática, dando vida aos princípios psicanalíticos e psicoterapêuticos. Seu olhar experiente destaca a importância da empatia, da escuta ativa e da constante auto-reflexão na arte da terapia. Relacionando o livro com a prática, pode-se perceber que agrega e traz um olhar voltado para o terapeuta, o que é importante, já que na faculdade nosso olhar é voltado, na maioria das vezes, para o próprio paciente. Ao abordar desde a dinâmica terapêutica até as nuances da busca por compreensão e transformação, o livro se torna um guia abrangente e inspirador.

Me deixou mais tranquila quanto aos primeiros atendimentos após a formatura quando ele conta que seu primeiro atendimento foi feito em um cômodo de sua própria casa, onde arrumou tudo de forma que sua primeira paciente não sentisse que era a primeira experiência dele com pacientes. Deixou cinzas no cinzeiro, e tempos depois descobriu pela amiga que a paciente procurou por alguém que justamente não tivesse experiências ainda. Então sugere ao longo que livro que pacientes tem suas preferencias diversas, e nem sempre é pelo tempo de experiência. Isso é para estudantes, acolhedor.

A psicoterapia é uma experiência que transforma. Pode-se sair dela sem o sofrimento do qual a gente se queixava inicialmente, mas ao custo de uma mudança. Na saída, não somos os mesmos sem dor, somos outros, diferentes. Para Calligaris, os argumentos apresentados até aqui nos encorajam a redefinir o que é a cura que pode ser esperada de uma psicoterapia e sugerem que, justamente para curar, o psicoterapeuta não deve se apressar.

O livro é uma reflexão ética e uma exploração envolvente das complexidades humanas. Revela-se uma leitura imprescindível para todos que buscam desbravar os caminhos da mente e do coração, oferecendo insights que transcendem os limites da prática clínica, permeando a essência da condição humana.

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Outros jeitos de usar a boca: a(s) voz(es) de uma mulher

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É um livro de poemas sobre a sobrevivência. Sobre a experiência de violência, o abuso, o amor, a perda e a feminilidade. Obra poética de Rupi Kaur que leva os leitores numa jornada pelos momentos mais amargos da vida e encontra uma maneira de retirar doçura deles.

“Outros jeitos de usar a boca” (título original: “Milk and honey”) é uma obra poética que aborda o tema da sobrevivência, explorando experiências de violência, abuso, amor, perda e feminilidade. Dividido em quatro partes distintas, cada uma desempenha um papel único ao lidar com diferentes formas de dor e curar mágoas. O livro leva o leitor por uma jornada pelos momentos mais amargos da vida, transformando-os em delicadas expressões. Inicialmente publicado de maneira independente pela poeta, artista plástica e performer canadense de origem indiana, Rupi Kaur, que também é responsável pelas ilustrações presentes na obra, o livro emergiu como um fenômeno notável no gênero nos Estados Unidos, ultrapassando a marca de 1 milhão de cópias vendidas.

Assim, a escolha do título em português, nada parecido com o original, relaciona-se ao conteúdo dos versos, numa escrita feminista, que questiona o sistema patriarcal, os recortes de gênero e, assim, a urgência da voz feminina.

A obra é dividida em: “a dor”, “o amor”, “a ruptura” e “a cura”. Através de suas vivências e descobertas, Kaur transmite uma mensagem clara e objetiva sobre as diferentes formas de abusos sexuais que muitas mulheres continuam vivenciando no cotidiano. E, para além disso, seus poemas pensam em alternativas de enfrentamento desses abusos, uma ressignificação da narrativa e da construção de uma posição social fortalecida para a mulher. Essa divisão do livro apresenta etapas que o corpo sofre como se fosse algo necessário para se alcançar um nível de consciência sobre si, possibilitando formas libertadoras de expressar-se.

Outros jeitos de usar a boca é um livro que nasce na dor:

“toda vez que você

diz pra sua filha

que grita com ela

por amor

você a ensina a confundir

raiva com carinho

o que parece uma boa ideia

até que ela cresce

confiando em homens violentos

porque eles são tão parecidos

com você

– aos pais que têm filhas”

 

                                               Fonte: pinterest.com

Além da escrita propriamente dita, muitos dos poemas são acompanhados de ilustrações da própria autora, o que amplifica a experiência de leitura.

 

Como as poesias de Outros Jeitos de Usar a Boca são estruturadas em versos livres, há, mesmo numa temática dura, uma fluidez que os percorre. Ademais, como se pode observar no segmento acima, a autora raramente usa pontuações ou letras maiúsculas, o que ela explica:

Quando comecei a escrever poesia, eu conseguia ler e entender minha língua materna (punjabi), mas ainda não tinha desenvolvido as habilidades necessárias para escrever poesia nela. Punjabi é escrito na escrita Shahmukhi ou Gurmukhi. Na escrita Gurmukhi, não há letras maiúsculas ou minúsculas. As letras são tratadas da mesma forma. Gosto dessa simplicidade. É simétrico e direto. Também sinto que há um nível de igualdade que essa visualidade traz ao trabalho. Uma representação visual do que quero ver mais no mundo: igualdade. A única pontuação que existe na escrita Gurmukhi é um ponto final – representado pelo seguinte símbolo: | Então, para simbolizar e preservar esses pequenos detalhes da minha língua materna, eu os inscrevo no meu trabalho. Sem distinção de casos e apenas períodos. Uma manifestação visual e uma ode à minha identidade como mulher diaspórica Punjabi Sikh. Trata-se menos de quebrar as regras do inglês (embora isso seja muito divertido), mas mais de vincular minha própria história e herança ao meu trabalho.” (Kaur, Rupi)

A autora destaca a figura feminina questionando as disparidades de gênero não apenas no âmbito emocional, mas também no tratamento dispensado a homens e mulheres. A violência contra a mulher é abordada de maneira franca, enquanto muitos poemas exploram abertamente a sexualidade feminina, reivindicando o direito da mulher à sua sensualidade que não deve jamais existir para nos subjugar ou diminuir. Em essência, o livro é uma ode à resistência, realçando a força das mulheres. Como se pode contemplar no seguinte poema retirado da parte “O amor”:

“quando minha mãe estava grávida

do segundo filho eu tinha quatro anos

apontei para sua barriga inchada sem saber como

minha mãe tinha ficado tão grande em tão pouco tempo

meu pai me ergueu com braços de tronco de árvore e

disse que nesta terra a coisa mais próxima de deus

é o corpo de uma mulher é de onde a vida vem

e ouvir um homem adulto dizer algo

tão poderoso com tão pouca idade

fez com que eu visse o universo inteiro

repousando aos pés da minha mãe”

                                                                      Fonte: pinterest.com

Os traços de Kaur são leves e, muitas vezes, bastante simples, mas extremamente expressivos.

Já na terceira e penúltima parte do livro, Rupi habilmente passa ao leitor a sensação de ruptura: os altos e baixos, o ódio e amargura intrínsecos a um amor que ainda não se esvaiu. Expõe o que fica depois que o outro vai embora, assim como pode-se observar no trecho a seguir.

“eu não sei o que é viver uma vida equilibrada

quando fico triste

eu não choro eu derramo

quando eu fico feliz

eu não sorrio eu brilho

quando eu fico com raiva

eu não grito eu ardo

a vantagem de sentir os extremos é que

quando eu amo eu dou asas

mas isso talvez não seja

uma coisa tão boa porque

eles sempre vão embora

e você precisa ver

quando quebram meu coração

eu não sofro

eu estilhaço”

                                              Fonte: pinterest.com

 

Uma leitura em que se têm acesso ao íntimo da autora, e, por meio deste, aproxima quem lê de suas próprias emoções.

Por fim, em sua última parte, sendo muito bem intitulada “A cura”, traz um ar de fôlego para o leitor, com poemas voltados para busca pelo amor-próprio.

“se você vê beleza aqui

não significa

que há beleza em mim

significa que há beleza enraizada

tão fundo em você

que é impossível

não ver

beleza em tudo”

FICHA TÉCNICA

  • Título: Outros jeitos de usar a boca
  • Título Original: Milk and Honey
  • Autor(a): Rupi Kaur
  • Tradução: Ana Guadalupe
  • Editora: Planeta
  • Número de páginas: 208
  • Ano de publicação: 2017
  • Gênero: Poema;

Referências

 

KAUR, Rupi. Outros jeitos de usar a boca. São Paulo: Plane

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O Mundo de Sofia: um romance envolvendo a história da filosofia

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Com 600 páginas, este livro é uma obra extensa, mas também envolvente. Em poucas semanas, você se vê imerso em uma aula de filosofia, direitos e pensamentos humanos, entrelaçada com uma história misteriosa que te cativa e te deixa curioso pelo desfecho. No meio do livro, há uma reviravolta surpreendente, que te desafia a compreender o contexto em que o livro te coloca.

(Alerta de spoiler)

Sofia uma garota que está prestes a completar 15 anos, começa a receber cartas de um homem misterioso, e logo descobre que ele é um professor de filosofia, que a “pega pela mão” e a leva desde os princípios da filosofia, como Sócrates e Platão, até os filósofos da atualidade, e essa caminhada vem recheada de mistérios, e ainda entra uma outra personagem que se chama Hilde, e Sofia incessantemente tenta descobrir que é essa tal de Hilde, e o que ela tem a ver com as cartas, que receberá, essas cartas são divididas em dois grupos, um é do professor de filosofia e o outro vem de outro personagem desconhecido por Sofia, o mesmo aparenta ser o pai de Hilde. E nessa confusão de personagem que a história vai se completando e se encaixando, observe que agora temos quatro personagens relevantes para a história que são: Sofia e Hilde, o professor de filosofia é o pai de Hilde.

Sofia é uma menina curiosa e inteligente, que segue as pistas que encontra pelo caminho e aprende filosofia com seu misterioso professor. Ele se chama Alberto e, depois de se comunicar com Sofia em segredo, passa a encontrá-la pessoalmente. Juntos, eles se questionam sobre a identidade de Hilde e seu pai, que parecem estar por trás de tudo. (Spoile alert)

No final eles descobrem que são “apenas”, personagem de um livro que o pai de Hilde escreve para sua filha, a daí a história muda para a perspectivava de Hilde, que ganha o livro de seu pai que chama o mundo de Sofia, (amo ver o título do livro inserido na história), e com essa descoberta, Sofia e o professor de filosofia tentam fugir desse livro.

O livro por si só nos leva a refletir sobre várias coisas, como ver as coisas através de um outro ponto de vista como diz nesse trecho: “Talvez a verdade seja uma questão de ponto de vista e a mentira um ser mutável que igual à larva da borboleta com o tempo torna-se aceitável, ficando a critério de cada um escolher a sua verdade…”

Cada um vê o mundo de uma maneira diferente: “Tudo depende do tipo de lente que você utiliza para ver as coisas.”

O livro nos leva também a refletir sobre o valou da vida dependendo da morte para torná-la bonita: “Só quando sentiu intensamente que um dia ela desapareceria, é que pôde entender exatamente o quanto a vida era infinitamente valiosa. E quanto maior e mais clara era uma face da moeda, tanto maior e mais clara se tornava a outra. Vida e morte eram os dois lados de uma mesma coisa.”

Uma parte que vale ressaltar é que Sofia em meio da história tenta enfatizar as mulheres que fizeram parte da filosofia, algumas delas são Olímpia de Gouges( uma das pioneiras do feminismo no mundo) e Hildegar Von Bingen(polímata, escritora, compositora, filósofa), mostrando que a história não foi feita unicamente por homens, mas por mulheres que também que contribuíram e contribuem para a história até hoje, e são de grandíssima importância para os direitos que vemos hoje em dia, tanto pra homens quanto para mulheres. Entrelaçando com a filosofia, Sofia significa sabedoria, também o significado se refere ao lado feminino de Deus

Em conclusão, vale muito a pena ler o livro, é um livro de grande aprendizado e conhecimento histórico, que traz em si uma história envolvente, então não tenha medo das 600 páginas, pois ao final do livro vai querer que ele tivesse ainda mais páginas(pelo menos foi essa minha impressão), e tem o filme também que se baseia no livro, mais cai entre nós, não recomendo, o livro é muito melhor.

Referências:

Livro o mundo de Sofia. Indica livros. Disponível em: https://indicalivros.com/livros/o-mundo-de-sofia-jostein-gaarder. Acesso em: 17/10/2023.

AIDAR, Laura. O Mundo de Sofia: resumo e interpretação do livro. Cultura Genial. Disponível em: https://www.culturagenial.com/livro-o-mundo-de-sofia/. Acesso em: 17/10/2023.

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A Máquina de Moer Mulheres: Política, Produção e Estética na Pandemia

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“A máquina de moer Mulheres – política, produção e estética na pandemia (2023)”é um livro organizado por Gleys Ially Ramos dos Santos, geógrafa, mestra em Desenvolvimento Regional. Doutora em Geografia. Organizadora do Livro Mulheres Emparedadas – Confissões da Pandemia. Professora do Curso de Relações Internacionais (UFT). Coordenadora do OUTRAS Observatório Transdisciplinar em Feminismo, Política e Métodos (CNPq-UFT) e Juliete Oliveira, mãe, poeta, educadora ambiental, ativista dos direitos humanos, parte da memória de um lugar chamado Araguaia. Escreve como um ato de subversão e para alcançar uma respiração possível em conjunto com outras mulheres. É um livro colaborativo escrito apenas por mulheres.

“A máquina de moer Mulheres – política, produção e estética na pandemia” é uma coletânea de escritos que reúne mulheres envolvidas no movimento feminista, bem como na produção literária e na teoria feminista. A teoria feminista, como seu foco central, aborda a presença das mulheres tanto como objeto de análise quanto como construtoras dessa análise, sempre considerando as complexas interações entre as mulheres e a produção intelectual. A ação de reunir mulheres para escrever e contribuir para essa coletânea é, em si mesma, uma prática que visa transformar a realidade atual.

O livro reúne as visões de autoras que, além de serem escritoras, também são pesquisadoras. Elas consideram a pesquisa como uma investigação prática que se baseia nas situações cotidianas que cercam as pessoas. A metáfora da “máquina de moer mulheres” é utilizada para discutir questões de política, trabalho e estética em meio à pandemia, uma realidade que se tornou ainda mais desafiadora devido à propagação do vírus. O foco do livro está na violência, abordando todas as suas manifestações perversas, como uma representação concreta do poder. Em outras palavras, o livro analisa como as mulheres estão sujeitas a diversas formas de poder opressivo e como a pandemia agravou essas situações, utilizando a metáfora da “máquina de moer mulheres” para ilustrar essa realidade.

No prefácio, Kassandra Muniz faz um resumo sobre a realidade das mulheres durante a pandemia, e em como ela deturpou os planos e consumiu o tempo de todas. E como tal fato foi intrigante, dada a questão que passamos muito tempo dentro de casa. Portanto, surge a questão: a pandemia é a causa disso, ou a máquina que desgasta as mulheres já estava em funcionamento há séculos? Preparar refeições, participar de reuniões e, ao mesmo tempo, cuidar das responsabilidades acadêmicas dos orientandos, enquanto auxilia na educação da filha, não é uma novidade.

Os textos apresentados abordam mulheres que perseveraram apesar das adversidades. Isso evidencia que existem inúmeras dificuldades e desafios, mas, ao mesmo tempo, uma multiplicidade de papéis protagonizados por mulheres. A habilidade de se reinventar destaca a influência e a presença das mulheres no mundo.

Os textos mencionados no livro tratam de mulheres que perseveraram apesar das adversidades. Isso evidencia que existem inúmeras dificuldades e desafios, mas, ao mesmo tempo, uma multiplicidade de papéis protagonizados por mulheres. A habilidade de se reinventar destaca a influência e a presença das mulheres no mundo.

O objetivo do livro e do nome é estreitar laços e estar mais em sintonia com os desafios que as mulheres enfrentam, desafios que poderiam ser resolvidos caso as instituições atuassem como parceiras comprometidas com a equidade e a justiça social. Nesse contexto, o livro parte da exposição de que esses espaços ainda não demonstram solidariedade com as diversas formas de opressão que as mulheres enfrentam simplesmente por serem mulheres.

No geral o livro fala sobre como o sistema de produção e reprodução social no capitalismo explora a mão de obra desvalorizada das mulheres. A ideia de que as mulheres conquistaram grandes cargos, mesmo que em proporções limitadas, é frequentemente apresentada como resultado da meritocracia, mascarando barreiras à mobilidade profissional feminina.

A máquina que mói as mulheres é a negligência para com as mulheres, principalmente aquelas afetadas pelo desemprego, subemprego, terceirização, sobrecarga de trabalho devido às jornadas triplas, aumento de mães solteiras e famílias solteiras por mulheres. É um sistema que destrói a existência de mulheres, e o livro detalha várias nuances que acontecem nesse sistema opressor.

REFERÊNCIA:

DOS SANTOS, Gleys Ially Ramos; OLIVEIRA, Juliete (orgs). A máquina de moer Mulheres – política, produção e estética na pandemia. EDUFT. TO 2023. Disponível em: <https://ww2.uft.edu.br/index.php/ultimas-noticias/33063-maquina-de-moer-mulheres-uma-coletanea-que-amplia-a-voz-feminina>. Acesso em: 29 set. 2023.

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O Alienista: um olhar psicológico

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O personagem Simão Bacamarte, protagonista da obra “O Alienista” de Machado de Assis, foi um médico formado na Europa, agudamente dedicado à ciência e detentor de grande apreço pelo povoado de Itaguaí.

Casou-se com a Dona Evarista da Costa Mascarenhas, que, aos olhos de alguns, era feia, mas que se encaixava aos requisitos do médico, especialmente para evitar distrações e dedicar-se mais aos estudos. Dona Evarista possuía atributos fisiológicos considerados pelo médico como perfeitos, o que poderia dar-lhe filhos saudáveis, o que, infelizmente, não aconteceu.

O Doutor Simão Bacamarte, auspicioso e fã da medicina psicológica, idealizou a construção de uma casa para reunir todos os loucos da cidade para tratamento psiquiátrico. Segundo o médico, os doentes mentais mais graves de Itaguaí estavam vivendo enclausurados em seus quartos e outros viviam ao relento. A cidade não possuía uma instituição que pudesse acolhê-los com a finalidade de oferecer-lhes um tratamento digno e adequando às demandas individuais.

O Padre Lopes desconfiava de uma possível insanidade mental do Alienista e propôs à Dona Evarista que o levasse à cidade fluminense para se distrair com outras coisas. Contudo, Simão Bacamarte se impôs e recusou ao convite.

O médico endossou o movimento em prol da construção da casa destinada à Saúde Mental daqueles que, segundo alguns critérios dele – desvio de comportamento, necessitavam serem recolhidos e submetidos a tratamento psiquiátrico, conforme o grau da patologia. E essa ação se iniciou com o discurso na Câmara de Vereadores da Cidade Itaguaí, mobilizando os vereadores e defendendo recursos para a Construção da casa. Após conseguir apoio e verba da Câmara de Vereadores, Simão Bacamarte a inaugurou, mediante uma festa que durou uma semana. Assim, a casa foi batizada de Casa Verde, primeiro hospício da cidade. Os loucos vinham de Itaguaí e arredores e tinham variadas manias. O alienista estudou com acuidade cada transtorno, classificando-os e prescrevendo terapias.

Em decorrência de seu estudo e de sua experiência, o Doutor Simão Bacamarte formulou uma teoria considerada revolucionária e convidou Crispim Soares para conhecê-la. A pesquisa com os doentes mentais o levou a considerar que a loucura era abrangente e só poderiam ser considerados sãos os que não tinham desvio de comportamento.

Diante dessa constatação e das observações Clínicas, Simão Bacamarte implementou, aos poucos, uma cultura de internações. Tal situação despertou nos cidadãos de Itaguaí indignação e revolta. Consternados, movimentam-se contra o médico, sendo a “gota d’água” a internação de um homem afortunado que não soube administrar seus bens, reduzindo-se à miséria. O referido descuido foi interpretado pelo Doutor Simão como um indício de loucura, caracterizado por um desequilíbrio mental. Essa situação e outras semelhantes fizeram com que os ânimos da população local se exaltassem, ao desconfiarem de que as internações tinham cunho pessoal em contraponto às patologias cerebrais.

Mas a manifestação liderada pelo barbeiro Porfírio, conhecida como “Revolta da Canjica”, continuou. Cerca de trinta pessoas fizeram uma representação na Câmara de Vereadores, que, por consequência, a recusou, ao declarar que a casa era Instituição Pública e que a ciência não podia ser emendada por votação administrativa, menos ainda por movimentos de rua. Recomendou, portanto: “Voltai ao trabalho, concluiu o Presidente, é o conselho que vos damos”. A irritação e indignação entre os moradores cresciam à medida que se iniciou uma ameaça de levantar a bandeira da rebelião contra a Casa Verde. Eles acreditavam que lá havia um laboratório de cadáver e que servia de estudo e experiências de um déspota.

Além das suspeitas de a Casa ser um depósito de cadáveres, os revolucionários acreditavam que havia muitas pessoas estimáveis, algumas distintas, outras humildes, mas dignas de apreço e que não mereciam viver reclusas à própria sorte. Desconfiavam, ainda, que o despotismo científico do alienista sobrevinha do espírito de ganância, visto que os loucos ou supostos loucos não eram tratados de forma gratuita, sendo que, subsidiariamente, a Câmara pagava ao alienista o suposto tratamento.

Em retrospecto, diante do suposto encarceramento arbitrário conduzido por Simão Bacamarte, o barbeiro Porfírio liderou uma revolta contra a Casa Verde reunindo e mobilizando a população para solicitar à Câmara o fim da instituição, mas os vereadores defendeu o médico. E o alienista logo cuidou de se pronunciar diante dos descontentamentos da comunidade local e fez um discurso: “Meus senhores, a ciência é coisa séria, e merece ser tratada com seriedade. Não dou razão dos meus atos de alienista a ninguém, salvo aos mestres e a Deus. Se quereis emendar a administração da Casa Verde, estou pronto a ouvir-vos; mas, se exigis que me negue a mim mesmo, não ganhareis nada. Poderia convidar alguns de vós em comissão dos outros a vir ver comigo os loucos reclusos; mas não o faço, porque seria dar-vos razão do meu sistema, o que não farei a leigos nem a rebeldes”.

Por outro lado, um de seus adversários (babeiro Porfírio) reagiu em meio à multidão, ao discurso: “Meus amigos, lutemos até o fim! A salvação de Itaguaí está nas vossas mãos dignas e heróicas. Destruamos o cárcere de vossos filhos e pais, de vossas mães e irmãs, de vossos parentes e amigos, e de vós mesmos. Ou morrereis a pão e água, talvez a chicote, na masmorra daquele indigno”. Porfírio estava quase a ordenar o ataque à Casa Verde quando chegaram os saldados do governo para detê-lo, mas, apesar de todo o alvoroço pela sociedade local, as internações continuaram.

Como se não bastasse a metade das pessoas de Itaguaí ter sido recolhida à Casa, Dr. Bacamarte, sob o argumento de inconstância no comportamento, recolhe os representantes das manifestações, o Senhor Barbeiro Porfírio e Boticário Crispim. Mas ainda assim a coleta de loucos pelas ruas não parava: qualquer caso de mentira, de vício, de inconstância no comportamento eram critérios para a internação. O Doutor passou a desconfiar da própria esposa diante de supostos sintomas de loucura e relata os indícios de loucura ao Padre Lopes: – certo dia de manhã — dia em que a Câmara devia dar um grande baile, — a vila inteira ficou abalada com a notícia de que a própria esposa do alienista ingressou na Casa Verde. Ninguém acreditou; devia ser invenção de algum gaiato. E não era. Dona Evarista foi recolhida às duas horas da noite.

Os sintomas de Dona Evarista, segundo o médico, era a inconstância em relação aos objetos, como furor das sedas, veludos, rendas e pedras preciosas. Ela se propôs em fazer anualmente um vestido para a Nossa Senhora da matriz, o qual reputou como sintoma grave de insanidade mental. O médico relata ao Padre Lopes a total demência da esposa. “Ela tinha escolhido, preparado, enfeitado o vestuário que levaria ao baile da Câmara Municipal; só hesitava entre um colar de granada e outro de safira”. Veja bem, “Anteontem perguntou-me qual deles levaria; respondi-lhe que um ou outro lhe ficava bem. Ontem repetiu a pergunta ao almoço; pouco depois de jantar fui achá-la calada e pensativa. – Que tem? perguntei-lhe. – Queria levar o colar de granada, mas acho o de safira tão bonito!—Pois leve o de safira.—Ah! mas onde fica o de granada?—Enfim, passou a tarde sem novidade. Ceamos, e deitamo-nos. Alta noite, seria hora e meia, acordo e não a vejo; levanto-me, vou ao quarto de vestir, acho-a diante dos dois colares, ensaiando-os ao espelho, ora um ora outro. Era evidente a demência: recolhi-a logo à Casa”.

 Doutor Bacamarte refutou a própria teoria que inicialmente acreditou que a loucura era qualquer desequilíbrio mental, situação em que um quinto dos cidadãos foram internados, sob tal argumento. Baseado nos novos estudos feito durante a constância da primeira teoria, o Alienista concluiu que a loucura real estaria naqueles que possuíam uma estabilidade psicológica absoluta e que esse sim é quem deveria ser internado na Casa Verde.

Com o novo conceito de loucura, o equilíbrio perfeito das faculdades mentais, a Câmara resolveu legislar sobre o assunto para evitar algum excesso nas internações e incluiu uma regra que impedia que eles, os vereadores, fossem internados na Casa-Verde. Com o apoio da Câmara, o Alienista passou a prescrever terapias que levava o recluso ao desequilíbrio mental. No entanto, o cientista percebeu que a cura propiciada por seus tratamentos apenas despertou um desequilíbrio latente em si. Por fim, ele se declarou alienado e internou-se solitário na Casa Verde.

Referências

ASSIS, Machado de. O alienista. São Paulo: FTD, 1994. (Grandes leituras).

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Efêmero e incerto: o futuro já chegou

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José Lauro Martins (2022) traz em sua obra, “Efêmero e Incerto: o futuro já chegou”, sobre a necessidade de uma mudança no contexto educacional atual para que dessa forma, seja possível acompanhar as atualizações que ocorrem a todo momento advindo da tecnologia e o grande leque de informações e/ou conhecimentos que são expostos. O autor traz suas perspectivas sobre o ensino, aprendizagem, docência e demais assuntos pertinentes. Referente à docência, o mesmo descreve nos capítulos 2, 6 e 9 os quais serão discorridos neste texto.

José Lauro Martins (2022), inicia o capítulo 2, “O Tempo Presente”, trazendo reflexões acerca do tempo. Conforme o autor, o momento em que rege a maneira como vivenciar, é o momento do agora, ou seja, o momento presente, presente esse que no passado foi chamado de “futuro”, mas que apesar disso, o passado é apenas um meio de busca por informações e/ou conhecimentos. Apesar do presente ser o momento de importância, é necessário ampliar o olhar e o pensamento sobre ele, visto que, há um futuro a caminho e o que hoje é presente, se tornará parte do passado.

O autor, José Lauro Martins (2022, p. 18), traz a fala de Padre Antônio Vieira (1608-1697), “o tempo tem apenas dois pólos: de um lado está o passado e do outro está o futuro e o presente é o lapso entre o passado e futuro. O problema é que o que chamávamos de futuro chegou e não sabemos o que fazer com o futuro que há de vir”. Vive-se em constante mudanças em todos os âmbitos e que por vezes, não há tempo para “digerir” e compreender de fato as mudanças que estão acontecendo, gerando assim, instabilidade para quem vivencia. José Lauro relembra Bauman com a liquidez do tempo fazendo a reflexão de que

É tempo em que tudo muda e a mudança é mais importante que a estabilidade. A geração das pessoas com 50 anos ou mais é desafiada a compreender um tempo em que o passado não é mais passaporte sequer para o presente: somos de uma geração que não consegue preparar a seguinte (…) os saberes de uma geração não são suficientes para instrumentalizar a geração em formação (p. 19).

Para o autor, o presente é o momento de ampla reflexão para assim, proporcionar tentativas de promover um futuro propício dentro das possibilidades. O principal meio para conseguir isso, Martins (2022) enfatiza que é por meio do investimento no conhecimento, pois de acordo com ele, dessa maneira seria um preparo para lidar com os desafios futuros, sendo o tempo presente “o ponto de partida” para o futuro de cada sujeito. O autor enfatiza que ao passo que o presente é crucial para preparar-se para os desafios futuros, é preciso compreender que ainda sim, ocorrerão situações que fujam do controle do sujeito.

Conforme a obra demonstra existir um tempo de realização da vida, realização social e realização tecnológica. A primeira, de acordo com o livro, refere-se ao biológico do ser humano, mas Martins (2022) relembra que conforme as mudanças ocorridas no meio social e cultural, geraram e continuam gerando impactos na qualidade e longevidade da vida humana (mudanças essas que chegam por meio de estudos/pesquisas). Enquanto a realização social, para o autor, é uma etapa complexa, pois não possui “receita” para tal feito, cada pessoa experimentará de uma maneira e em tempos diferentes, além de que cada um terá uma concepção do que é estar realizado. Por fim, a realização tecnológica José Lauro coloca como um “caos” (2022, p. 23), pois este é um campo está em constante atualização, algo novo está sempre surgindo ou substituindo algo.

José Lauro Martins (2022) elucida que a tecnologia traz feitorias importantes ao homem, desde a questão para expandir conhecimento relacionados à saúde (biológico) quanto permite a ampliação dos contatos sociais dos sujeitos. Em contrapartida, o autor evidencia que

A vida social foi severamente alterada para as novas gerações, o tempo se transformou numa armadilha para muitos aspectos da vida. Na medida em que as tecnologias se tornaram muito complexas, trouxe também o desafio de que para viver atualizado em sociedade precisa dominá-la não só pelo uso, mas também pelos seus resultados. O tempo de vida biológico muda muito pouco, a estrutura psicológica acompanha melhor as transformações que as estruturas biológicas (MARTINS, 2022, p. 23).

O autor ainda enfatiza que, toda essa acelerada mudança e grande fluxo de informações, geram impactos no psicológico dos sujeitos, necessitando de cuidados ao usar os meios tecnológicos. José Lauro Martins (2022) expõe acreditar que cada sujeito possui modos e tempos diferentes para lidar com o que acontece e que esse processo de adaptação ocorre de maneira natural, mas que ainda sim é preciso cuidado nas consequências que podem ocasionar. Como maneira de exemplificar, o escritor traz sobre o tempo de aprendizagem, onde cada pessoa irá aprender no seu tempo, mas para ele, é importante criar estratégias pedagógicas para que esse tempo não seja muito longo, proporcionando formas do sujeito “filtrar” o que é importante e o que não é nesse processo. Como finalização, o autor evidencia que apesar do acesso ao grande número de informações, o excesso pode se apresentar maléfico no social, qualidade de vida e até mesmo no processo de aprendizagem.

É exposto no subcapítulo sobre “inteligência potencial” que segundo José Lauro Martins (2022), “Trata-se do que acontece nas conexões dos sujeitos nas redes virtuais, é o que cada um faz com as informações que circulam nas redes. Portanto é mais humana que digital, e é potencializada a cada sujeito que interage nas redes” (p. 25), acredita ainda que é possível com essas tecnologias fomentar a inteligência humana, pois de acordo com ele “É o que fazemos com as informações que possibilitam a potencialização da inteligência” (p. 25).

Após a exposição referente ao tempo e as implicações nos processos humanos, José Lauro Martins (2022) traz sobre as bases para a docência referentes ao capítulo 6, onde antes era de conhecimento que o ato de ensinar era apenas o professor o sujeito ativo e detentor do conhecimento, alunos possuíam um papel mais passivo. Ao contrário disso, o autor enfatiza sobre a necessidade de uma renovação no ato de ensinar, pois diferente do que se pensava, “Havia uma narrativa equivocada de que o professor levava conhecimento e o aluno “absorvia-os”. Isso não está correto porque, como sabemos, o conhecimento não é transmitido, é um processo em construção no sujeito aprendente” (MARTINS, 2022, p. 63).

O autor traz uma observação ao professor, de que é necessário atenção e cuidado ao ato de promover o ensino, pois de acordo com ele, o professor pode acabar atrapalhando na aprendizagem do aluno, pois cada sujeito possui seu tempo ou não oferece recursos necessários para ele concretizar a aprendizagem. José Lauro Martins (2022) dá ênfase nas novas tecnologias e na ampla possibilidade de expansão de conhecimento é possível com elas, pois o autor acredita que seria mais eficaz do que as aulas em sala de aula. Apesar de acreditar na maior eficácia no modo tecnológico para a aprendizagem, o autor relembra que esses recursos não possuem uma só forma de lidar ou seguir, pois encontram-se em constante mudança.

Diante das transformações no papel do professor e nas novas configurações de ensino, José Lauro Martins (2022), traz exemplos de novos arranjos dos docentes e as parcerias nessa área. O primeiro é o que ele denomina de “professor conteudista” que é

O conteudista é o profissional especializado capaz de produzir os conteúdos que os estudantes vão ter acesso para a construção do conhecimento. Em geral, são professores com boa formação, boa capacidade de pesquisa bibliográfica e boa habilidade com a redação científica. Portanto, não é necessariamente o professor que fala bem, mas é o que tem conhecimento técnico. Não basta ser um resenhista, mas um autor. Pode agregar conteúdo de terceiro, desde que este seja para complementar a produção autoral. (p. 65).

Após, o autor traz sobre o “designer de conteúdo para web”, “O designer de conteúdo para web é um profissional que transita entre educação (didática), comunicação digital e o designer gráfico. (…) é ele o responsável pela qualidade gráfica dos conteúdos no ambiente digital” (Martins, 2022, p. 65). Já o “criador de conteúdos educacionais” esses são os sujeitos que realizam a “filtragem” dos materiais que são utilizados, de acordo com o autor, este realiza trabalho em conjunto com professor conteudista e paralelamente com o designer de conteúdo, é responsável pela fidedignidade das informações apresentadas.

O penúltimo é o “gestor de redes de aprendizagem”, este realiza o papel de mediação no processo de aprendizagem, tem como responsabilidade prestar orientação ou apoio entre os alunos e os conteúdos disponíveis nas redes. Por último, José Lauro Martins (2022) descreve a função de tutoria, figura esta que é presente nos ensinos na modalidade online, tem como uma das funções prestar auxílio aos seus “tutorados”, como descreve o autor. Além disso, é orientador da aprendizagem, no processo avaliativo dessa aprendizagem, analista e “o tutor tem o papel de manter o vínculo acadêmico e emocional dos estudantes” (Martins, 2022, p. 67).

Além das mudanças no papel do professor e possíveis ferramentas para a docência, José Lauro Martins (2022) evidência no capítulo 9 intitulado de “Novos Rumos” a chegada de novas maneiras de ensinar, deixando de lado apenas as aulas expositivas em sala de aula, pois ele acredita que utilizar-se das tecnologias e as vantagens que ela possui, seria de maior aproveitamento no processo de aprendizagem. O autor traz em seus escritos sobre a metodologia ativa que consiste em retirar o aluno de um papel passivo e inseri-lo no processo e que apesar de ser algo utilizado há algum tempo, ainda é interesse. E em contrapartida,

A dificuldade é usar qualquer estratégia nas salas de aula tradicionais que exija movimentação dos estudantes e a flexibilidade no tempo porque as paredes definem o espaço e o tempo de aula é predefinido. Há uma falta de espaço nas salas superlotadas, o acúmulo de conteúdos abreviou o tempo disponível. O que é possível, na maioria das escolas, é o uso esporádico dessas estratégias metodológicas. Outro aspecto a ser considerado é que, ainda que houvesse competência de todos os professores para atuar com as metodologias em que coloca os estudantes no centro do processo de aprendizagem, tem a resistência de parte dos professores, dos pais e também dos alunos, quando percebem que essas metodologias exigem mais trabalho. (Martins, 2022, p. 95).

Para Martins (2022), o processo de aprendizagem ultrapassa a sala de aula, é possível proporcioná-lo indo além, como por exemplo, por meio de aulas online ou aulas gravadas, mas, ele enfatiza a importância de um preparo de materiais, roteiro para seguir, um tempo curto para que não ocorra a fadiga e como consequência, a dispersão de quem assiste, produzir conteúdos de maneira que chamem a atenção do sujeito, assim como explicar de maneira clara, entre outros pontos importantes. Apesar da defesa do autor em que o expandir olhar sobre as formas e locais de ensinar, ele não descredibiliza o ensinar na escola, mas acredita que seja necessária uma boa estruturação, como por exemplo, tornar os alunos sujeitos ativos, proporcionar a aprendizagem de maneira mais dinamizada, proporcionar um momento ou espaço de construção mútua entre docente e discentes. O autor finaliza lembrando mais uma vez que o professor está passando transformações com os avanços tecnológicos e que o mais importante, seja presencial ou online, é a qualidade de ensino ofertada no ambiente educacional.

Referências

MARTINS, José Lauro. Efêmero e incerto: o futuro já chegou / José Lauro Martins. – Ponta Grossa – PR: Atena, 2022.

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