1984: Um mundo utópico ou distópico, depende do ponto de vista

Compartilhe este conteúdo:

Em 1949 o autor inglês George Orwell lança seu livro de ficção utópica e distópica intitulado “1984”, que relata uma realidade futurística. Para entender um pouco mais sobre os significados e críticas que o livro abrange é importante pontuar o que são utopias e distopias, a utopia é a descrição de uma realidade perfeita, algo idealizado, sem defeito algum. Já a distopia caracteriza-se pelo oposto, refere-se ao grau máximo de opressão, desespero, privação entre as diversas características ruins possíveis de serem colocadas aqui. Parece ser um tanto contraditório dizer que um mesmo livro apresenta essas duas características, mas se analisarmos a leitura por diferentes pontos de vista as coisas começarão a fazer sentido.

O romance se passa na Oceânia, onde um dia fora Londres. Nesta cidade existe o partido Ingsoc, que está constantemente vigiando os moradores por meio de diversas câmeras e muita monitoração. Todo esse sistema é chamado de “O Grande Irmão”. Esse partido é representado por quatro ministérios, sendo eles o Ministério da Verdade, que é responsável por todos os escritos do governo e é guiado pela premissa de que o Estado é infalível; o Ministério da Paz, responsável pela organização das guerras; o Ministério da Fartura, que detêm a economia; e por fim o Ministério do Amor, que tem como principais tarefas a espionagem e controle da população.

                                                                                fonte https://olavete.com.br/george-orwell/

Retrato do escritor George Orwell

Winston Smith, que faz parte da área de documentos do Ministério da Verdade, é o personagem principal da história. Sua função no departamento era de alterar todos os dados documentais e históricos a fim de deixar a imagem do estado intocável, para que nenhuma informação manchasse sua reputação e tudo apontasse para uma boa gestão do estado (mesmo que a realidade não estivesse de acordo com as informações). Assim toda verdade era editada e aquilo que não podia ser editado era destruído. Quando alguém questionava os documentos apresentados pelo governo, essa pessoa era acusada de cometer um crime de ideia, sendo de responsabilidade da Polícia do Pensamento eliminar o indivíduo. A fiscalização era tão grande que até os relacionamentos amorosos eram motivos de suspeita e monitoramento.

Ao decorrer da narrativa, o livro vai mostrar o desapontamento de Winston com o sistema, mas a sua incapacidade de lutar contra ele. Até que ele conhece Julia e acaba se apaixonando por ela. Ela trabalhava no Departamento de Ficção e compartilhava do mesmo sentimento que Winston em relação à realidade que viviam. Ao se juntarem, eles acabam acreditando cada vez mais na possibilidade de uma rebelião, plano que acabou não dando certo, pois ao final da história eles foram desmascarados, presos e torturados.

                                                                                                    fonte pixabay

Essa obra literária, tão rica e atual, mesmo que escrita há tantos anos atrás, nos traz diversas reflexões sobre nossa vida no coletivo. Um dos aspectos que podemos analisar é a maneira como as ideias divergentes não são respeitadas nesse mundo utópico, se visto do ponto de vista do governo, em que tudo deve ser como eles desejam, mas tão distópica se vista do ponto de vista da população que não tem a liberdade nem para pensar diferente, quem dirá expressar esses pensamentos.

Essa realidade não está muito distante do que vivemos atualmente, que a cada dia mais estamos sendo enviesados pelas informações da internet, um exemplo claro disso é o estudo do conjunto de dados e informações presentes na rede, conhecida também como big data, apesar do volume gigantesco de dados, ainda sim somos expostos apenas aquilo que nosso algoritmo nos mostra, ele é o responsável por decodificar e processar as informações a nós apresentadas nos limitando aquilo que pode ser classificado como do nosso agrado, e isso pode fazer com que cada vez mais nos fechemos aos pensamentos diferentes gerando intolerância.

Não podemos deixar de perceber e pontuar a evolução que conquistamos na luta pelo respeito das diferenças, seja em qual campo de ideia for, mas também não podemos deixar de pontuar a grande trajetória que ainda precisamos percorrer para alcançar cada vez mais o respeito em meio às diferenças. É importante sempre lembrar que a nossa liberdade de expressão não pode impedir que pensamentos opostos aos nossos também sejam expostos e que é possível haver discordância e respeito, o mundo intolerante em que vivemos faz essa missão parecer impossível, mas à medida que mudamos nosso olhar para as diferenças talvez as pessoas ao nosso redor também se despertem à isso.

 

REFERÊNCIAS

RWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia dasLetras, 2009.

FICHA TÉCNICA

fonte https://encurtador.com.br/efKX2

Autor: George Orwell

Páginas: 416

Lançamento: 21 julho 2009

ISBN: 8535914846

Compartilhe este conteúdo:

Mães que fazem mal: o mais recente livro da psicanalista Silvia Lobo

Compartilhe este conteúdo:

O livro “Mães que fazem mal” é uma obra escrita pela psiquiatra e socióloga Silvia Lobo, em uma visão em estudo psicanalítico, tendo como alicerce para sua pesquisa, análise dos relatos de casos acompanhados por ela em seu consultório, sendo os fragmentos apontados na obra, reais, os quais ocorreram na clínica psicanalítica, oriundos das relações entre mães e filhos, sob seu olhar perscrutador e o trabalho do também psicanalista Donald Winnicott.

No primeiro momento, o título causa impacto. E, muitos leitores por certo dirão: Como assim, mães que fazem mal? Sim, a autora em suas observações, percebera que as genitoras, muitas vezes, causaram mal aos seus rebentos, mães que fazem mal, não as definem como ser mães más. Silvia define-as:

“Mães más? O aprofundamento desta reflexão sobre as mães exige cuidado na discriminação entre “fazer mal” e “ser má”. Maldade faz pensar em mulheres intencionalmente cruéis, com comprometimento moral de caráter ou perversas nas relações de afeto. A mãe que faz mal não é a morta, não é a perversa, nem tampouco a insuficientemente boa. Não é má em função da crueldade premeditada ou assumida. Não é má tampouco por ocupar o lugar de objeto mau, fruto da projeção das fantasias ou transformações filiais. É má porque causa mal, faz mal, mesmo sem saber” (pag.14).

             https://www.google.com/search?q=fotos+de+dominio+publcio+da+psicanalista+silvia+lobo

Essa massa materna é razoavelmente bem mais avolumada do que possamos imaginar. A maternidade, culturalmente, é o alvo para toda mulher. Em tempos não tão longínquos, a figura feminina nascia predestinada ao casamento e consequentemente, à maternidade.

As decepções nas uniões maritais, nas relações familiares, ou mesmo por não desejar ser mãe, e não poder externar essa ideia em virtude da manutenção da figura “santificada” da mãe perante a sociedade, podem ser a raiz dos conflitos existenciais. Mães, são mulheres antes de serem mães e, diante das corriqueiras e recorrentes decepções, estão com a sua lotação existencial completa, procurando olhar em qual desses caminhos percorridos se perderam.

Caminham para esse reencontro, e deparam-se diante de um vazio, por não encontrarem o acalento no/do prêmio “ser mãe é padecer no paraíso”, sentem-se enganadas, pois, abdicaram de si pela promessa que receberiam um prêmio, que não sabem de quem, por quem, nem quando. E, nesse labirinto em espiral, evidencia-se robustos e conflitantes sentimentos, de inconformismo, arrependimentos de terem consorciado, da maternidade prematura e/ou tardia, da perda de sua jovialidade que não volta mais.

                                  https://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/mae-depressao/30

Diante dessas emoções controversas e silenciosas, eivadas da culpa, do pesar em pensarem contrariando a cultura, associados às dificuldades na estreiteza dos relacionamentos afetivos, levam algumas genitoras e, não são números irrisórios, a romperem com a ideia de beatitude, da satisfação plena diante da sagrada maternidade e evidenciam-se como seres comuns, com capacidade de fazer o mal, embora muitas vezes sem perceber, sem a sua vontade deliberada e/ou inconscientemente, perceptíveis nos traços das transferências de suas frustrações, nos excessos dos zelos, cuidados, limitação, dominação, castração, pelo puro desejo (imposto) de serem boas, fizeram mal aos seus rebentos.

E, nesse emaranhado de sentimentos e “dessentimentos”, irrefutável que a maternidade se coloca de forma impar para cada mulher. Mães que fazem mal, são àquelas que foram mães sem o desejo genuíno de sê-lo, tornaram-se mães pela falta de opção de evitarem a pressão do seu entorno, vinda pais, amigos, do próprio companheiro, sucumbiram às regras e exigências da sociedade e a obrigatoriedade irresistível, que mulheres tem que ter filhos.

No livro, as “vítimas” das mães que fazem mal, são os filhos, estes sofrem e não percebem o impacto das frustações e dos desejos não experienciados e recalcados pela figura materna, eventualmente, descortinam- os quando já adultos, ao buscarem ajuda terapêutica.

     https://www.google.com/search?q=fotos+de+dominio+publcio+da+psicanalista+silvia+lobo

A autora, declina as várias modalidades de mães que fazem mal, com exemplos, tais como:

A higiênica: “A mãe higiênica traz, muitas vezes, como marca, o ataque à sexualidade.” é aquela mãe correta, que exibe com galhardia o cartão de vacina de seus pequenos como prova de excelência. É asseada, dedicada, aquela que abdica de sua vida em prol dos filhos, muitas vezes, esquecem de sua sexualidade. Porém, com seu olhar proibitivo, inibidor e esterilizador, por vezes acaba por atacar a sexualidade da criança.

Ex.: “ (…)Marina entra para a sessão e encontra a terapeuta usando brincos coloridos, em forma de flor, e olha para eles encantada. Sem hesitação, pede para segurá-los, pega-os na mão e brinca como se fossem animados, até que, em dado momento, interrompe os movimentos e muito séria pergunta:

Silvia, sua mãe morreu?

Como se, na sua experiência, a vaidade e o desejo do feminino só pudessem se instaurar em seu ser quando órfã, sem o olhar materno proibitivo, inibidor, esterilizador (…).”

 

A executiva: “A mãe executiva traz como marca o ataque à competência”. Abandona o trabalho, transferindo-o para a maternidade, sendo esta seu ofício, sua  meta a ser executada com primazia. E não raro, as técnicas laborais são implantadas na criação de seus rebentos, sendo o corpo o meio para o contato físico, sem a presença da emoção, é um comportamento mecanizado, tornando a criança totalmente dependente.

Ex.: “  (…)Renata, mãe de uma menina de oito anos, deixou o trabalho em uma grande empresa para cuidar dos filhos. Sua filha deveria chamar-se Vitória, pois foi, de fato, uma vitória tirar o trabalho da sua vida. Dirige a casa como executiva. Criar os filhos é sua nova função. Enfeitar a filha, vesti-la, arrumar seu cabelo, fazem parte de um serviço, sua rotina diária. Comanda-a nos aspectos mais básicos Desenvolveu um ritual que repete ao chegar ao consultório da terapeuta, antes das sessões: Filha, beber água! Fazer xixi!”(…).

A imobilizadora:” A mãe imobilizadora traz como marca o ataque à alegria”. É aquela que repreende com severidade, quando pensam que o riso o tom de voz, ou a espontaneidade estão além. Cooperar e obedecer, são os verbos mais usados à serviço dos adultos.

Ex.: “(…) Um dia, durante a sessão de análise, lembra-se de um episódio que ocorreu com ela mais crescida, talvez com dez anos, quando ajudava a mãe a limpar a garagem. Ambas se depararam com a varinha de madeira caída atrás de um armário e, surpresa, viu sua mãe atirando-a no lixo. Maura, sem nenhuma hesitação a recolhe e pede à mãe que a guarde, pois poderia precisar usá-la, quando ela chorasse.

Com o tempo, passou a ser vista como uma menina muito boazinha, ainda que silenciosa e tristonha. Maura incorporou a varinha contensora dentro de si.(…)”.

A sofredora: “A mãe sofredora traz como marca o ataque ao prazer e à felicidade.”  É a madre que possui o condão em mostrar que sofre e pontua seu sofrimento de forma taxativa, pois, alardeia que, tanto a maternidade quanto o casamento, não são gratificantes. Buscam em outrem o motivo de suas frustações;

Ex.: “(…) A mãe de Iolanda culpou primeiramente o marido por seu engravidamento – por nove meses não lhe dirigiu a palavra – e, com o tempo, culpou a filha por ter nascido. Iolanda entendeu através do que lhe foi explicado, que nascera porque abortar se mostrou impossível e aprendeu com a mãe que ter filhos implicava em um grande sacrifício, assim como sacrifício também era cuidar da casa e ter um marido”(…).

A litigiosa: “A mãe litigiosa traz como marca o ataque à segurança do ser”.  É aquela que busca rascunhar -se na figura de seu descendente, castrando sua individualidade, impedindo-o de SER. Crer na justeza de seus atos, pois, filhos nascem para ser serem corrigidos, modificados. Fazer deles sua versão renovada, é a prova de sua eficiência perante ao mundo.

Ex.: “Foram incontáveis as vezes em que Rita ouviu da mãe que teria uma roupa bonita para ir à festa se emagrecesse, pois, gordinha como estava tudo que vestisse ficaria feio; que se prosseguisse comendo como o fazia não seria ninguém na vida: sem profissão, sem respeito, sem marido, mas se seguisse o exemplo da mãe estaria salva(…)”.

A eliminadora: “A mãe eliminadora traz como marca o ataque à diferença”. É a mãe em que seu ponto de vista não merece contradição, é único e absoluto e, aquele que ousar a discordar, será eliminado. Posiciona-se dessa forma pela dificuldade em reconhecer que o outro também existe.  Assim agindo, acaba por expulsar, excluir e extinguir, o ser que ela pariu, de seu “ninho”, sendo preterida na relação familiar.

EX.: Ana não era “quem deveria ser” – aos olhos da mãe – logo não era. O único problema foi que, por anos, Ana acreditou nisso. Com o tempo, aprendeu a não mais se importar e se acostumou. Contudo, o costume não a impediu – certo dia, já adulta – de ser surpreendida ao entrar no apartamento novo da mãe e se deparar com uma exposição de fotos nas paredes de filhos, filhas, noras, genros, netos, com a exceção de fotos dela. Não havia uma foto dela sequer, nem de seus filhos, de seu marido. Sua família não figurava naquela galeria, não existia naquela tribo. E foi somente neste momento que pôde pôr em palavras, para si, o que por anos não entendeu (…)”.

A pragmática: “A mãe pragmática traz como marca o ataque à sensibilidade.  É a mãe que invalida as manifestações afetivas de seus rebentos. Pois, crer que a vida sentimental é um empecilho para o curso da vida. Ignorá-la é o ideal que ela aguarda como resposta.

Ex.: “(…) João chega ao consultório com a queixa de estar vivendo uma crise conjugal e não ter repertório cognitivo, nem emocional, para entender as queixas de insensibilidade que recaem sobre ele… Lembra-se com nitidez, em pequeno, voltando da escola, aborrecido com alguma desavença com os colegas ou alguma rejeição, e contando suas desventuras para a mãe, que inconformada, com as duas mãos na cabeça, repetidamente, exclamava: “mas que bobagem! Que bobagem!”. Também se lembra de ouvir a mesma coisa quando chegou a casa entristecido pelo “fora” da primeira namorada… a lembrança delas o atinge, o mobiliza e o conduz a um lugar antigo, dentro de si, onde deixa de se importar. Por isso, fica sem entender o que vive na família e o que a mulher e os filhos lhe cobram. “Não faz sentido”, diz ele (…)”

 A invasiva: “A mãe invasiva traz como marca o ataque à sensualidade”.  É a mãe que, em sua fantasia, crer seja o filho parte de si, são juntos e misturados, um único corpo, a sua extensão e, sem preservar-lhes a intimidade e a privacidade, onde, sem rodeios, não se dá ao trabalho de escusar-se e, sem cerimônia abre, vasculha, apalpa e aperta. Contudo, esse toque, para quem o recebe, apresenta-se como violência, invasão do outro.

Ex.: “(…) Na casa de Celina as portas não eram fechadas. Entreabertas, deixavam quase à vista a movimentação das pessoas nos quartos e nos banheiros. O tempo da higiene corporal era controlado e o contato físico entre as pessoas da família devia ser evitado. O silêncio fazia barulho na medida em que, com presteza, atraía a investigação do olhar materno, desconfiado e perscrutador… Com os anos, Celina descobriu na retenção da urina um modo eficaz de usufruir sensações prazerosas… Adulta descobriu que o prazer sexual só era possível solitariamente, sem a presença de outro, que independente de quem fosse, apresentava-se como temível, bloqueador.”

A sexuada: A mãe sexuada traz como marca o ataque à discriminação.  A autora aduz que esta modalidade de mãe, seja aquela destituída de decência. Esta também, vislumbra nos filhos, sua extensão, expõe-se, desnecessariamente o seu corpo a todo o momento, neutralizando os desejos de sua prole, como se eles não ficassem constrangidos diante de sua nudeza, da sexualidade, dos carinhos e de um ambiente eivado de erotismo para olhos pueris, que por certo, confundem-se entre a excitação e a repressão dos afetos.

Ex.: (…) entrevista inicial a mãe de Pedro relata que fora criada em uma família numerosa onde não havia o proibido, nada a ser vivido com privacidade. Cresceu muito bem assim, com pais e irmãos, todos tomando banho juntos, e por isso sentia-se à vontade andando nua pela casa. Conta, porém, que Pedro padecia de uma permanente agitação, que prosseguia durante o sono e só se aquietava quando entrava com ela na banheira, em água quente, e brincavam por cerca de duas horas. A terapeuta pergunta se cabiam ambos na banheira, sendo ela uma mulher bem encorpada e Pedro um menino forte de cinco anos. Ao que responde rindo que “ficava bem apertado, mas juntinhos, cabiam”. (…) Pedro usa fralda, não dorme fora de casa, recorre à cama dos pais à noite, usa chupeta, mama na mamadeira antes de adormecer e ora mostra-se doce, ora bastante agressivo na relação com os colegas da escola e os professores. Quase na despedida a mãe retoma o tema da banheira e pergunta à terapeuta se vê algum problema na forma como está agindo. E diante de tantas intervenções que se fariam necessárias a terapeuta adia esse manejo e reconhece o prazer evidente que mãe e filho desfrutam nessa brincadeira, mas assinala que a mãe fique atenta à possibilidade de Pedro passar a ter ereção no banho. Esta seria a hora de pararem de brincar juntos na banheira. E assim termina a entrevista… mais tarde, a mãe de Pedro liga e, após uma pausa, disse que não contou no consultório, mas que sim, Pedro já tem ereções há alguns meses, em todos os banhos, e que ela até se divertia com isso, fazia brincadeiras.(…)”.

A “adultizadora”: A mãe adultizadora traz como marca o ataque à afetividade”. A mãe adultizadora, é aquela que ignora a hierarquia familiar, lidando com os filhos como parceiros, tratando-os como seres já crescidos e capazes de digerir suas confidências. Relata-lhes desde os conflitos conjugais aos familiares mais complexos, problemas financeiros, trabalho. Trás à baila o universo conturbado do adulto, lançando os pequenos nos assuntos em que ainda não compreendem e confundem -se. É uma agressão à criança, exposição desarrazoada, quando esta deveria ser envolvida em um ambiente de trocas afetivas e proteção de sua saúde mental.

Ex.: “(…)Antônio, que aos dez anos, passa a estranhar a frequência com que ao voltar da escola encontra sua mãe na casa do vizinho, viúvo e dono de dois cachorros. Desconfia de traição, sofre por meses com esse pensamento que a ninguém pode ser revelado; sente culpa e temor de acerto em sua suspeita. Por fim, resolve falar com a mãe e recebe dela a confirmação como resposta. Recebe também a descrição da vida conjugal de seus pais e da insatisfação sexual e afetiva vivida pela mãe na relação com seu pai… vê-se compelido a entender as razões apresentadas pela mãe. Acredita poder manter-se neutro nessa história sem precisar tomar partido, mas curiosamente passa a ter dificuldade em olhar seu pai de frente, passa a ter crise de vômitos – às vezes sem nada ter comido – e, por fim, o sono fica intermitente, interrompido por sonhos, nos quais bichos sobem pelas paredes de seu quarto ameaçando seu corpo indefeso. Antônio desassossegado paga alto preço por ter abrigado o segredo da mãe”.

A desafetada: “A mãe desafetada traz como marca o ataque à individualidade”. É a mãe que proporciona trocas afetivas como o abraço, o beijo, o contato corporal, como carícia, são inexistentes, só aparecem quando necessário aos cuidados para com a saúde ou perante uma hostilidade, quando o toque faz -se imperioso.

Ex.: “(…) Lembro-me de Dulce, amiga adolescente, quarta filha de nove irmãos, criada em uma família na qual a afetividade não se expressava, na urgência dos irmãos mais velhos cuidarem dos mais novos e a mãe exaurida sempre às voltas com algum novo recém-nascido. Não havia tempo para afeto. Chamava minha atenção a frequência com que nas relações de namoro Dulce ostentava marcas de violência na forma de hematomas, cortes na pele provindos de relações sexuais onde ela solicitava apertos, tapas e xingamentos para sentir um envolvimento amoroso. Prova sensorial equivocada para acreditar na intensidade do vínculo”.

A mãe misturada. A mãe misturada traz como marca o ataque à percepção. Essa modalidade de mãe, acha que os pimpolhos são de sua propriedade, “não conseguem tomar distância da realidade dos filhos, interferem, invadem, desapropriam e se apropriam do que não lhes diz respeito, convictas de que fazem o bem”. São mães e filhos que coabitam o mesmo teto, porém, não se (re)conhecem, vivem isolados no mesmo espaço.

Ex.: “Foi assim com Paula, que com catorze anos viu a festa de seu aniversário invadida por caixas e mais caixas de cerveja. Surpresa preparada pela mãe como presente. Paula, porém, não tomava cerveja, seus amigos tampouco e nada havia sido comprado de suco, refrigerante ou água. Na queixa de Paula, sua mãe a vê mal-agradecida, ingrata, do contra. Não há espaço para se questionar sobre o que fez.( …) também aconteceu com Pedro quando convidado por sua mãe para jantar. O convite incluía apenas a ele, nem o pai, nem a irmã. Era seu aniversário. Orgulhoso, vestiu sua melhor camisa e amarrou o cadarço do tênis que usava solto todo o tempo. No restaurante, para sua surpresa, os esperava um homem que lhe foi apresentado como sendo aquele por quem sua mãe se apaixonara. Nas palavras dela, ele não deveria se preocupar com o pai, pois ela prosseguia gostando dele e não deixaria nunca a família para ficar com o amante… agora que já era um rapaz em seus treze anos, como a vida era complexa e cheia de desafios. Pedro teve vontade de chorar, mas conseguiu se conter, também não protestou. Tentou, sinceramente, entender e se portar crescido, mas foi demais, pois em dado momento foi acometido por uma crise de tosse, seguida de um grande mal-estar e o jantar teve que ser interrompido. Nunca mais viu aquele homem. Teria sua mãe entendido a violência daquele encontro? Pedro nunca soube, não perguntou, não falaram nunca mais sobre o fato, como se aquela noite não tivesse acontecido”.

A mulher tem sido tratada ao longo da história, como ser um secundário. Nascera para ser manejada, ultrajada, vilipendiada. Para romper com essa visão, ainda recorrente e resistente e, alçar o patamar o qual galga hoje, lutas muitas acirradas aconteceram e ainda continuam para que seus direitos, desejos e vontades sejam respeitados.

O objetivo do livro, é convidar e instigar o leitor a uma reflexão, como aduz Silvia lobo: “ o olhar sobre o novo poder das crianças e o desamparo de todos nos tempos atuais, a idealização da maternidade, a função da mulher na sociedade brasileira e a recriação da figura materna, entre outros temas relativos à maternidade”. Tendo como ponto de partida, a história de lutas da figura feminina, em busca de “convencer” a sociedade, que são dotadas de desejos, vontades e defeitos como um ser normal e, que a maternidade, não as tonam um ser dadivoso e celestial.

Pode-se afirmar ainda, que a presente obra, acresce, a partir do título, a curiosidade da figura materna em buscar (re)conhecer-se em qual conceito se enquadra como mãe e como mulher.

 

 

Minibiografia sobre a autora do livro:

Silvia Lobo é psicanalista, socióloga e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, membro do Espaço Potencial Winnicott-SP, autora de diversos artigos publicados em revistas especializadas, no Brasil e no exterior. Em 2016 publicou em coautoria com Cris Bassi (uma de suas pacientes) o livro A paciente, a analista e o Dr. Green: uma aventura psicanalítica, livro finalista do Prêmio Jabuti.

 

Referência

LOBO, Silvia. Mães que fazem mal. São Paulo: Editora Pasavento, 2020.

Compartilhe este conteúdo:

As Veias Abertas da América Latina: uma história de exploração

Compartilhe este conteúdo:

“As Veias Abertas da América Latina” (1971) de Eduardo Galeano é uma obra literária e histórica que mergulha nas entranhas da história latino-americana, revelando um panorama de exploração, opressão e resistência ao longo de séculos. Publicado em 1971, o livro se tornou um clássico da literatura política e social, provocando debates e reflexões profundas sobre o destino da América Latina. O título, “As Veias Abertas da América Latina”, evoca uma imagem poderosa da região como uma vítima sangrando, vítima da exploração sistemática e do saqueio de seus recursos naturais e humanos. Galeano utiliza essa metáfora para transmitir sua crítica contundente aos processos coloniais e neocoloniais que moldaram a América Latina desde os primeiros contatos com os conquistadores europeus até o século XX.·.

O livro se inicia com uma frase que retrata o cerne da teoria da dependência. Ela afirma que a maneira como o trabalho é distribuído internacionalmente implica como alguns países se especializaram em prosperar, enquanto outros se especializaram em enfrentar perdas. Ao longo de nossa história, a região que conhecemos como América Latina tem uma tradição de especialização na experiência de perdas destes tempos remotos. Esta breve declaração oferece uma representação densa e altamente elucidativa da dinâmica da dependência, sendo frequentemente citada para descrever o status histórico desta região.

            Antes de tudo, para melhor entendermos a magnitude da obra que hora nos referimos, é necessário conhecer um pouco sobre a história do autor que tanto problematizou a exploração sobre a América Latina. Eduardo Galeano (1940-2015) foi um renomado escritor, jornalista e pensador uruguaio, amplamente reconhecido por sua obra literária e sua perspicaz análise social e política. Ele é mais conhecido por suas obras de não-ficção que exploram a história e a cultura da América Latina, frequentemente abordando temas de injustiça social, desigualdade e exploração. Nascido em Montevidéu, Uruguai, em 1940, Galeano cresceu em uma família de classe média e desde jovem demonstrou interesse pelo jornalismo e pela escrita. Envolveu-se com movimentos políticos progressistas na América Latina e, em 1973, durante o golpe militar no Uruguai, foi preso e posteriormente exilado na Argentina e na Espanha. Seu exílio influenciou sua visão crítica da política e da sociedade. Galeano era conhecido por seu estilo de escrita poético e lírico, que misturava história, mito e análise crítica. Galeano era um defensor dos direitos humanos, da justiça social e da igualdade. Seus escritos frequentemente destacavam as lutas dos oprimidos e marginalizados na América Latina. Eduardo Galeano faleceu em abril de 2015, mas sua voz e suas palavras continuam a ressoar como um lembrete constante das questões sociais e políticas enfrentadas pela América Latina e pelo mundo como um todo.

            Galeano utiliza-se de uma metáfora, comparando a América Latina a uma “vaca leiteira” que tem suas veias abertas para o benefício das potências coloniais europeias. Esta metáfora visualmente impactante dá nome ao livro e estabelece o tom crítico que permeia toda a obra. O autor argumenta que a América Latina tem sido historicamente explorada e espoliada de seus recursos naturais em benefício de nações estrangeiras, resultando em subdesenvolvimento e pobreza persistentes.

Galeano também examina os impactos do capitalismo e da industrialização na região, argumentando que muitas vezes esses processos foram conduzidos de maneira a beneficiar elites locais e estrangeiras, em detrimento das populações mais amplas. Ele aborda temas como a dívida externa, o papel das multinacionais e o papel dos Estados Unidos na América Latina. Um dos aspectos mais marcantes do livro é a paixão e a indignação com que Galeano aborda seu tema. Sua escrita é repleta de imagens vívidas e linguagem poética, o que torna a leitura ao mesmo tempo envolvente e emocional. Ele não apenas apresenta uma análise crítica dos eventos históricos, mas também expressa sua simpatia e solidariedade com os povos latino-americanos que sofreram as consequências desses eventos.

O livro é estruturado em capítulos que abrangem diferentes períodos e temas históricos, permitindo ao autor traçar uma narrativa cronológica das experiências latino-americanas. Galeano aborda as complexidades e nuances da história da região, destacando não apenas a exploração econômica, mas também questões sociais, culturais e políticas que moldaram o destino dos povos latino-americanos. Uma das principais contribuições do livro é sua capacidade de revelar o lado humano da história. Em vez de simplesmente apresentar dados e fatos, Galeano preenche suas páginas com histórias pessoais, anedotas e narrativas individuais que ilustram a impactante realidade da exploração e da resistência na América Latina. Essa abordagem torna a leitura envolvente e emocional, conectando o leitor de maneira profunda com as pessoas comuns que viveram e lutaram nesta região.

 

 

                                                              Fonte: memorial.org.br

Escultura “Mão”, de Oscar Niemeyer, localizada no centro da Praça Cívica do Memorial da América Latina

A estrutura do livro não segue um formato de capítulos tradicionais, mas sim uma narrativa contínua que aborda diversos aspectos da história da região. No entanto, você pode identificar diferentes seções e temas ao longo do livro. Na introdução relata sobre a tese central do livro: a exploração e o saqueio dos recursos da América Latina pelas potências estrangeiras. Também discute sobre a contextualização da situação atual da América Latina no momento da escrita (início do século XX). Em seguida discute sobre a colonização e o saqueio inicial, abordando sobre a exploração dos primeiros contatos com os europeus e descreve sobre as práticas de colonização e exploração de recursos naturais, como metais preciosos e terras. Seguindo, discute sobre o impacto do colonialismo abordando discussão sobre as consequências sociais, econômicas e culturais do domínio colonial, dando ênfase na extração de riquezas em detrimento das populações indígenas e locais.

As lutas pela independência são abordadas através da análise dos movimentos de independência na América Latina e a exploração dos desafios enfrentados pelos líderes independentistas e as lutas contra o domínio estrangeiro. O neocolonialismo e o imperialismo são discutidos pelo exame das relações econômicas desiguais entre a América Latina e as potências estrangeiras, especialmente os Estados Unidos. E discussão sobre a exploração de recursos naturais, como petróleo e minerais. Faz, também, uma análise das ditaduras militares e regimes autoritários na América Latina. A exploração das violações de direitos humanos e a repressão política também estão contidas. Dá destaque para os movimentos de resistência, sindicatos, movimentos sociais e a busca por justiça social. Discute o futuro da América Latina através de considerações sobre as perspectivas e desafios enfrentados pela região no futuro. Concluindo com reflexões sobre a necessidade de mudança e justiça na América Latina.

Ao longo de sua obra, Galeano critica fortemente a influência das potências estrangeiras, principalmente europeias e mais tarde os Estados Unidos, nas políticas e economias latino-americanas. Ele explora como os interesses externos frequentemente sobrepujavam o bem-estar das populações locais, levando a ciclos de exploração, dívida e subdesenvolvimento.

O autor também enfatiza o papel das elites locais na perpetuação desses sistemas opressivos, muitas vezes colaborando com interesses estrangeiros em detrimento das massas empobrecidas. Ele destaca a concentração de terras, a exploração de recursos naturais e a marginalização das comunidades indígenas e afro-americanas como elementos centrais dessa dinâmica. Galeano não se contenta em apenas apontar os problemas; ele também se envolve em análises políticas e sociais profundas, questionando as estruturas de poder e propondo alternativas para a América Latina. Ele expressa uma esperança persistente de que a região possa se libertar da opressão e do subdesenvolvimento, embora reconheça os desafios significativos que enfrenta.

O livro descreve a exploração sistemática e a extração de recursos naturais da América Latina por poderes estrangeiros, em especial, países europeus e os Estados Unidos. O autor argumenta que essa exploração econômica teve consequências devastadoras para a região, incluindo a degradação do meio ambiente, a exploração de mão de obra, a criação de desigualdades econômicas e a perpetuação do subdesenvolvimento.

“As Veias Abertas da América Latina” é uma obra que busca despertar a consciência sobre as injustiças históricas enfrentadas pela América Latina, oferecendo uma crítica contundente ao neocolonialismo, ao imperialismo e às desigualdades econômicas. O livro teve um impacto duradouro e continua a ser uma referência importante para aqueles que buscam entender a história e os desafios da América Latina.

            Galeano representava estes princípios de forma pessoal e também cativou aos seus leitores. Ele irradiava entusiasmo, autenticidade e firmeza em suas palavras. Suas declarações inspiravam as pessoas a se unirem na busca de um futuro caracterizado pela solidariedade e equidade, e a melhor maneira de homenagear sua obra é renovar esse compromisso.

Embora bastante aclamado, a obra “As Veias Abertas da América Latina” também foi alvo de críticas. Alguns argumentam que o livro tende a simplificar demais questões complexas e que não apresenta soluções práticas para os problemas que descreve. Além disso, alguns críticos afirmam que o livro necessita de equilíbrio e não leva em consideração as nuances das políticas e eventos históricos.

Apesar das críticas, “As Veias Abertas da América Latina” se propõe justamente a uma obra provocativa que nos desafia a repensar a história e a realidade da América Latina. Galeano fornece uma crítica emotiva da exploração econômica e política que a região sofreu ao longo dos séculos. Embora o livro tenha sido alvo de críticas, sua influência duradoura na discussão sobre a América Latina é inegável, tornando-o uma leitura valiosa para aqueles interessados na história e na política da região.

Referência:

GALEANO, E. As Veias Abertas da América Latina. Tradução de Galeano de Freitas. Paz e Terra. Rio de Janeiro, RJ. 1992.

Compartilhe este conteúdo:

“O Pequeno Príncipe” – o essencial é invisível aos olhos

Compartilhe este conteúdo:

07Escrito em abril de 1943, o livro “O Pequeno Príncipe”, do autor francês Antoine de Saint-Exupéry se trata de uma das maiores obras existencialistas do século XX, além de ser um dos livros mais traduzidos da história, perdendo apenas para o Alcorão e a Bíblia. Antes de se tornar escritor e ilustrador, Antoine de Saint-Exupéry ingressou no serviço militar no Regimento de Aviação de Estrasburgo, após ter sido reprovado na Escola Naval. Depois de um ano acabou obtendo a licença para pilotar e a partir disso foi se desenvolvendo na carreira de piloto, o que acabou influenciando na escrita de sua obra.

Seu livro se caracteriza como literatura infantil, mas possui um grande alcance no público adulto. Aborda diversas reflexões profundas, de forma leve e simples, sobre amizade, dinheiro, amores, entre outros assuntos. A narrativa gira em torno do personagem do Pequeno Príncipe, um jovem, não habitante da terra, que visita diversos planetas em busca de novas aventuras. Em uma dessas viagens ele acaba pousando no meio de um deserto do planeta Terra e lá conhece um piloto de avião que após um pouso complicado, se encontrou inesperadamente perdido neste mesmo lugar.

O livro apresenta a frustração do piloto por sentir que ninguém compreende suas ilustrações e à medida que ele vai se lamentando, o pequeno príncipe vai narrando as aventuras que viveu e trazendo diversas reflexões. Nesse contexto, cresce o elo entre o pequeno príncipe e o piloto perdido, e ambos começam a refletir juntos sobre assuntos tão importantes que acabam sendo esquecidos à medida que crescemos e tomamos outras responsabilidades. Para além de apenas mais uma trama infantil, a obra apresenta grandes reflexões sobre os valores que cultivamos e as prioridades que vão se perdendo ao decorrer do tempo. Por esse motivo, esse livro acabou alcançando em demasia o público adulto, ao abranger diversas interpretações que podem ser aplicadas ao contexto em que cada leitor se encontra.

                                                                                              Fonte: https://www.otempo.com.br/

Ilustração extraída do livro “O pequeno príncipe”

Em um momento da narrativa eles conversam sobre o afeto que o príncipe têm por sua rosa, a qual cuida com tanto carinho e zelo. Nesse contexto é dita uma das frases mais marcantes do livro: “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante”. Dentre tantas coisas que essa frase nos leva a pensar, chamo a atenção para o tempo que gastamos com aquilo que tanto importa para cada um de nós. Em 2010, uma pesquisa feita pela International Stress Management Association Brasil apontou que 60% dos brasileiros carregam um sentimento recorrente de falta de tempo. Paralelamente a isso, a agência de marketing digital Sortlist analisou o uso médio de navegação dos brasileiros em diferentes aplicativos. Os dados revelam que os brasileiros gastam em média 10 horas diárias navegando na internet, sendo três horas desse tempo destinadas ao acesso de redes sociais.

Talvez você esteja se perguntando como todos esses dados e pesquisas se relacionam com a história do Pequeno Príncipe. O fato é que a mensagem das palavras desse personagem pueril não devem deixar de ecoar ou ao menos nos incomodar, por menor grau que seja. Assim como ele dedicou tempo à sua rosa, também dedicamos muito tempo às coisas ao nosso redor. No entanto, com a aceleração contemporânea, dificilmente comparamos como gostaríamos de estar investindo nosso tempo e como realmente estamos gastando.

                                                                                                       Fonte: https://www.otempo.com.br/

Imagem extraída do filme “O pequeno príncipe”

Cabe a nós, fazer uma autoanálise para entendermos como estamos gastando nosso tempo. Estamos negligenciando aquilo que deveria ser essencial em nossas vidas? Como por exemplo, os relacionamentos saudáveis que nos cercam, ou sonhos que por muitas vezes se encontram engavetados, ou até mesmo a apreciação das coisas ordinárias da vida? Um dia chuvoso ou ensolarado, um final de semana de descanso, um trabalho bem feito, entre tantas outras coisas que podem perder valor à medida que crescemos e amadurecemos. Quão estranho é pensar que quanto mais “amadurecemos” mais nos esquecemos dos nossos valores, de cuidar daquilo que verdadeiramente importa e de pôr em prática aquilo que o autor diz no livro:“o essencial é invisível aos olhos”.

Vamos crescendo e a busca desenfreada por algo que nos preencha e traga felicidade faz com que fixemo-nos em coisas perecíveis demais que são incapazes de nos realizar na proporção que desejamos. passamos a focar na felicidade como um objetivo a ser alcançado e não como uma consequência do caminho que trilhamos.

A leitura do pequeno príncipe nos traz de volta à consciência daquilo que realmente importa, sem menosprezar as necessidades que a vida nos impõe a viver. Longe de ser uma literatura apenas para crianças, o livro se faz ainda mais necessário para aqueles que entraram no modo automático da vida e sem perceber, encontram-se perdidos de si.

REFERÊNCIAS

Antoine de Saint-Exupéry: Escritor e piloto francês. eBiografia, 2003. Disponivel em:

https://www.ebiografia.com/antoine_de_saint_exupery/. Acesso em 31 de agosto de 2023.

Você tem ideia de quanto tempo passa nas redes sociais?. Blog Affix, 2023. Disponível em: https://www.affix.com.br/voce-tem-ideia-de-quanto-tempo-passa-nas-redes-sociais/#:~:text= Um%20estudo%20revelou%20que%20os,da%20rede%20em%20diferentes%20aplicativos.

Acesso em 31 de agosto de 2023

Compartilhe este conteúdo:

Casa das estrelas: O mundo narrado pelo olhar das crianças e uma perspectiva psicológica da experiência infantil

Compartilhe este conteúdo:

Casa das estrelas: o universo pelo olhar das crianças

“Casa das Estrelas” é uma obra cativante escrita por Javier Naranjo que nos transporta para um mundo de imaginação e criatividade. O livro, composto por neologismo, é um convite para explorar o universo da linguagem de forma lúdica e poética. Naranjo brinca com as palavras e as ideias de maneira única, criando uma atmosfera mágica e nos convida a ver o mundo com olhos de criança. Com sua escrita envolvente e criativa, o autor nos presenteia com um livro que celebra a magia da linguagem e a capacidade sincera das crianças de se expressarem.

Javier Naranjo, um professor e poeta colombiano, ao longo dos anos, coletou definições dadas por seus alunos do primário a palavras, objetos, ideias, lugares e sentimentos. Reunidos no grande sucesso “Casa das Estrelas”, esses pequenos neologismos oferecem uma ampla perspectiva de interpretações, variando entre o poético, o lúdico, o melancólico e o revelador.

A obra apresenta definições singelas, porém profundas, como por exemplo, “poesia”, que é descrita como “É como estar cantando”, ou “amor”, definido como “É quando batem em você e dói muito”. Além disso, os neologismos abordam questões sociais e políticas, como a definição de “guerra” que diz: “Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz”.

“Casa das Estrelas” também revela uma visão crítica e perspicaz das crianças, como na definição de “adulto”: “Pessoa que, em toda coisa que fala, vem primeiro ela.” Através dessas definições, Naranjo nos lembra da desenvoltura e da simplicidade das crianças ao abordar temas complexos, oferecendo uma obra que nos convida a refletir sobre a natureza da linguagem e da sociedade.

                                                                                                                           Fonte:www.delivroemlivro.com.br

Adulto: Pessoa que, em toda coisa que fala, fala primeiro de si. (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)

“Casa das Estrelas” é uma obra que encanta leitores de todas as idades. É um convite para nos perdermos nas palavras e nos deixarmos levar pela beleza das histórias que habitam o céu noturno. Naranjo nos lembra que a literatura tem o poder de nos transportar para mundos desconhecidos e nos fazer questionar a realidade que nos cerca. É um livro que nos convida a olhar para o céu com uma perspectiva renovada e a encontrar estrelas cadentes em nossos próprios pensamentos; uma obra poética e inspiradora que nos convida a explorar as maravilhas da linguagem e da imaginação.

Em uma perspectiva psicanalítica, a nomenclatura de palavra se dá pela técnica de associação livre, desenvolvida por Freud para que seus pacientes expusesse sem influência do terapeuta seus pensamentos a respeito de uma palavra, dessa forma conteúdos vinha à tona; Já segundo a teoria de Jean Piaget do  desenvolvimento psicossocial,  as crianças passam por estágios de desenvolvimento cognitivo, cada um com características psicossociais específicas. Durante a segunda infância, a criança está no estágio operacional concreto, onde desenvolve habilidades de pensamento lógico e começa a interagir com os outros de maneira mais cooperativa. Piaget acreditava que o desenvolvimento moral e social se baseia na capacidade cognitiva da criança para compreender as regras e normas sociais. Assim, o desenvolvimento psicossocial na visão de Piaget está fortemente relacionado ao desenvolvimento cognitivo e à interação com o ambiente social.

Parafraseando o conceito de estímulo e resposta em Análise do Comportamento, as palavras são estímulos e sua significação as respostas, que surgem a partir do repertório das crianças, a partir de suas experiências e comunidade verbal, que  auxiliam os indivíduos na nomeação de seus eventos privados e sensações corporais. Assim fica possível ver que ao expressar o significado das palavras, as crianças expressam assim como citou Skinner “O fato da privacidade não pode, é claro, ser questionado. Cada pessoa está em contato especial com uma pequena parte do universo contida dentro de sua própria pele.” (1963/1969)

Sites consultados

https://www.planetadelivros.com.br/livro-casa-das-estrelas/282464

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-55452005000200009

http://www.delivroemlivro.com.br/2018/10/resenha-casa-das-estrelas-de-javier.html

Compartilhe este conteúdo:

Marcel Proust: refundando o tempo

Compartilhe este conteúdo:

Como o escritor buscou fundar sua obra a partir de sua relação com o tempo.

O tempo, enquanto instrumento de criação, parece ser um tema universalmente abordado entre todos aqueles que se dispõem à tarefa de escrever. Afinal, todos somos, invariavelmente, atravessados por ele. Faz parte de nossa característica fundamental enquanto seres perecíveis, e está intimamente ligado à ideia da morte. Nossas histórias, nesse sentido, estão sempre estruturadas a partir da perspectiva dessa temática universal, ainda que o tempo não se caracterize como personagem principal das narrativas em que está inserido, ou que se inserem em seu bojo.

Proust, no entanto, parece subverter essa lógica, quando seus personagens emergem como pano de fundo para dar relevo àquele que figura como o grande protagonista de toda a sua obra – O tempo.

Seria lícito supor que nenhum outro escritor tenha se debruçado com tamanho afinco para tratar desse tema, e sua obra “Em busca do tempo perdido”, dividida em sete volumes, levou grande parte de sua vida para ser produzida. A memória constitui a força motriz que conduz o autor por entre os meandros da história que se desvela, e que mistura fantasia e realidade em um ritmo poético. Muitas questões são abordadas enquanto o tempo desempenha seu papel de maneira inexorável – dentre eles o amor, o ciúme, luto, e a homossexualidade.

Proust é considerado um dos primeiros autores clássicos a trazer o tema da homossexualidade, ainda no início do século XX, para sua obra. A forma como trata de maneira aprofundada os afetos que enlaçam e separam seus personagens demonstra uma capacidade de compreensão singular – até mesmo em relação a outros autores clássicos.

Mesmo tendo sido contemporâneo de Freud, acredita-se que ambos desconheciam a obra do outro, ainda que seja possível relacionar muito do estilo de Proust ao que depois viria se denominar como teoria psicanalítica. O autor também era um explorador inveterado dos recônditos da mente humana, e muito da complexidade de seus personagens provêm de sua consciência da incapacidade da razão em tentar apreender tudo que envolve a experiência humana.

As lembranças surgem, nesse sentido, não como retrato fiel daquilo que ocorreu, mas substância maleável, onde os afetos e a fantasia agem como forças da própria natureza do ser, moldando sua experiência e imprimindo no relevo daquilo que se lembra a sua própria subjetividade. É reconhecido o caráter autobiográfico de sua obra, não obstante seja impossível delimitar a fronteira entre realidade e ficção. Na verdade, essa parece uma provocação constante em sua escrita. Afinal, o que seria realidade diante daquilo que se lembra? Talvez o tempo e nada mais.

A experiência de contato com sua obra é transformadora, ainda que se mostre um desafio – dada a sua extensão e complexidade. Proust nos oferece, ao tentar capturar o tempo em sua essência, uma extraordinária viagem pela mente de um dos maiores escritores da literatura mundial. Em sua sanha por vencê-lo, o autor apresenta o tempo como um adversário inigualável, capaz de submeter até mesmo os seres mais elevados. O tempo não faz concessões, e por isso mesmo não demonstra escrúpulos ao lançar luz sobre as irregularidades humanas. Ao homem, sob tal perspectiva, não resta senão a alternativa de empregar alguma dignidade em sua batalha – o que pode se entender como o ideal estético perseguido pelo escritor nos mais variados âmbitos da produção artística.

Fonte: Imagem do Freepik

O tempo como uma estação que nos leva para outro lugar de nós mesmos.

“Porque não se pode mudar, ou seja, tornar-se outra pessoa, e continuar a obedecer aos sentimentos da pessoa que não se é mais.”, escreve o autor em determinada passagem de seu primeiro volume, “No caminho de Swann.” O tempo, como personagem principal, nos conduz a lugares alheios a nós mesmos, onde temos a oportunidade de refundar a nossa história, e consequentemente o nosso ser. Proust parece ter compreendido isso ao se propor a grandiosa tarefa de sair em busca do tempo perdido. Seu encontro com ele é, para nós, um grande legado. A celebração de alguém que, se não foi capaz de vencer o tempo, nos deixa um belo retrato de sua batalha.

 

Ficha Técnica:

Em busca do tempo perdido

  • Editora: ‎ Nova Fronteira; 3ª edição (16 junho 2017)
  • Idioma: ‎ Português
  • Capa dura: ‎ 2472 páginas
  • ISBN-10: ‎ 8520926509
  • ISBN-13: ‎ 978-8520926505
  • Dimensões: ‎ 24.6 x 16.6 x 13.8 cm
Compartilhe este conteúdo:

O desvendar da psique humana

Compartilhe este conteúdo:

Novo livro da psicóloga e escritora carioca Beatriz Breves reúne estudos teóricos e práticos sobre a Ciência do Sentir desenvolvidos por mais de três décadas

 

Fonte: imagens de arquivo pessoal

A psicóloga, psicanalista e psicoterapeuta Beatriz Breves dedicou praticamente toda a carreira ao estudo do sentir. Nestes 35 anos em que desenvolveu a teoria da Ciência do Sentir, a carioca foi além da pesquisa e levou a experimentação científica para o campo da música, das artes plásticas e da poesia. Agora, ela reúne tudo em um novo livro, aprofundando as abordagens de outros oito títulos publicados.

Entre o mistério e a ignorância – O Desvendar da Psique Humana é uma obra que transcende a psicologia e a psicanálise e passa, além da arte, também pela biologia e física. Esta última, inclusive, é a segunda formação da autora, que buscou ampliar o conhecimento sobre o ser humano a partir de uma outra perspectiva – os conceitos físicos.

Com essa visão holística, Beatriz propõe um contraponto ao olhar mecanicista e materialista do paradigma newtoniano, pelo qual é necessário dividir as partes para conhecer o todo. A pesquisa da autora parte do princípio de que o universo, definido por ela como macromicro, é um complexo vibracional, uno, inteiro e indivisível no qual o ser humano, sem se isolar, emerge como um recorte.

Essa concepção vibracional do universo, bem como as interações humanas, são apresentadas no primeiro recorte do livro. “Mistério” parte de uma viagem a Varanasi, na Índia, onde a autora experimentou sentimentos complexos, levando a algumas conclusões. Entre elas, a de que o ser humano somente pode se perceber simbolicamente nas três dimensões do espaço – altura, largura e profundidade –, enquanto no campo do Sentir é possível ir além.

Tudo o que senti naquele lugar é algo impossível de representar. Quantas dimensões precisei perder, para, primeiramente, realizar em minha mente, in loco, a imagem em três e, depois, na fotografia, em duas, se considerar de que hoje se aceita o universo como possuidor de dez dimensões de espaço e uma de tempo? (Entre o mistério e a ignorância, p. 20)

Se o “Mistério” compõe a primeira parte da obra, o segundo recorte mergulha no “desvendar da psiquê humana”. Apoiada nas teses de físicos teóricos, filósofos e cientistas, a autora aborda temas como realidade psíquica, o sentimento do Eu e a identidade como um processo em construção. Por fim, fazendo a junção das partes que formam o nome do livro, a “Ignorância” refere-se ao sentimento vivenciado pela autora frente à transcendência do espaço-tempo em outro destino, Machu Picchu.

A contemplação da vida e a desconstrução de um possível saber foram as bases para a teorização da Ciência do Sentir. Somado às viagens, Beatriz Breves se submeteu como paciente à psicanálise por longos 32 anos. Para ela, foi esta sua grande escola, maior até que o estudo teórico e a prática clínica. E para socializar e enriquecer seu trabalho, fundou a Sociedade da Ciência do Sentir (SoCiS), em 2010. O grupo que se encontrava semanalmente, em Copacabana, atualmente mantém encontros virtuais para falar de sentimentos.

 

Ficha Técnica:
Título
: Entre o mistério e a ignorância – O Desvendar da Psique Humana
Autora: Beatriz Breves
ISBN: 9786587631486
Páginas: 160 páginas
Formato: 15 x 23 cm
Preço: R$ 45,90 e R$ 35,10 (eBook)
Link de compra: 
Amazon e Google Books

 

 

Fonte: imagens de arquivo pessoal

Sobre a autora: presidente, membro efetivo e fundador da Sociedade da Ciência do Sentir (SoCiS), Beatriz Breves é mestre em Psicologia pela American Word University (AWU/Iowa/USA), psicóloga, bacharel e licenciada em Física, com especialização em Física Moderna com base na Física Clássica pela Faculdade de Humanidades Pedro II (FAHUPE). Também é psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise, filiada à International Psychoanalytical Association (SBPRJ/IPA), e psicoterapeuta analítica de grupo pela Sociedade de Psicoterapia Analítica de Grupo (SPAG-E.Rio), da qual foi presidente no biênio 1998-99. Como servidora pública aposentada, foi psicóloga estatutária do Serviço de Psicossomática do Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (IASERJ). Autora da Ciência do Sentir, entre outros livros escreveu: “Macromicro – A Ciência do Sentir”, “O Homem Além do Homem”, “A Fronteira do Adoecer – Por que Você Adoece?”, “O Eu Sensível”, e “Falando de Sentimentos com Beatriz Breves”, todos publicados pela Mauad Editora.

Site: www.bbreves.socis.net.br
Redes sociais: Facebook | Instagram

Compartilhe este conteúdo:

O Cortiço e o reforço do racismo

Compartilhe este conteúdo:

O livro “O Cortiço” feito por Aluísio de Azevedo foi produzido em uma época na qual uma corrente literária conhecida como Naturalismo estava em seu apogeu. Ambientado nas moradias precárias e insalubres da capital do Rio de Janeiro no ano de 1890, a obra narra a ascensão social de João Romão, protagonista ambicioso e muitas vezes demonstrando uma conduta egoísta. 

João Romão é dono de pequenas propriedades, inclusive do próprio cortiço em que mora, o que proporciona a ele uma renda maior do que os moradores locais, pois estes são explorados por ele para manter sua riqueza. O clímax da trama se inicia pela rivalidade que este protagonista cria com seu vizinho, conhecido como Miranda, no qual apresenta maior status social por estar incluso na classe burguesa. Este, por sua vez, frequenta lugares e consome conteúdos da burguesia, como teatro, cinema, restaurantes e artes voltados para esta classe.

Fonte: Google Imagens

 

João Romão cobiçava sua posição assim como a facilidade dele em frequentar tais lugares e consumir tais conteúdos, mas mesmo enriquecendo, não conseguia. Fica perceptível ao decorrer da história as características dessa corrente literária, como a animalização dos personagens na descrição do autor assim como a tese de que o homem é produto do meio. Ou seja, o meio no qual o ser humano está inserido faz com que ele molde suas vontades, anseios, personalidade e comportamentos para se inserir naquele lugar, para pertencer a um grupo, uma comunidade. 

Fonte: Google Imagens

 

João Romão começa a planejar o casamento com a filha de Miranda, mas mantém uma amante que vive em subalternidade, trabalhando incessamente para ele e o protagonista tenta se livrar dela para enfim se casar com a filha do seu rival e enfim adquirir a posição social tão almejada. A partir disso é possível inferir que essa história tem inúmeras problemáticas, mesmo sendo um clássico da literatura nacional.

Fonte: Google Imagens

 

No decorrer da leitura desse romance, percebe-se que há um viés muito racista e carregado de preconceitos sobre a população negra, como por exemplo, o uso do termo “mulata” e a hiperssexualização da mulher negra. Mesmo que o intuito da corrente seja animalizar os personagens, acabou que deu espaço para reforçar estereótipos, como estes, de que o povo preto geralmente é mais sexualizado e menos capaz de tarefas complexas, reforçando também o papel serventil, no qual a pessoa preta é colocada, de que sempre deve estar em uma posição de servir. 

 

Fonte: Google Imagens

    

Além disso, a obra discrimina também a ascensão da burguesia e como ocorre a exploração do proletariado, de forma explícita e um tanto distópica. Por fim, escancara que o homem, dependendo onde ele esteja, ou o transforma em uma pessoa de boa índole ou uma pessoa de mau caráter, pois os determinantes para isso encontra-se no ambiente em que está inserido. 

Ficha Técnica

Título: O Cortiço 

Autor: Aluísio de Azevedo

Editora: FDT

Páginas: 248

Ano: 1890

País: Brasil

Compartilhe este conteúdo:

Rubem Fonseca e A Grande Arte

Compartilhe este conteúdo:

O livro de Rubem Fonseca com o título de “A grande arte” se passa nos centros da cidade carioca, Rio de Janeiro, em um cenário que denuncia veementemente as violências, inerente pelas relações sociais urbanas e pela dinâmica feroz do capitalismo, assim como a hierarquia das relações de poder. O livro narra a investigação de um caso de estupro de uma prostituta, que está sobe o comando do advogado chamado Mandrake, com o intuito de se tornar detetive. 

Fonte: Freepik

O personagem desde o começo do romance é descrito em características totalmente humanas e com isso, com certos desvios de moral, como por exemplo, não conseguir se manter fiel a uma única mulher, mesmo tendo um relacionamento fechado com sua cônjuge chamada Alda. Além disso, apresenta comportamentos subversivos a uma pessoa proletária e explorada pelo sistema capitalista, pois o protagonista apresenta consciência de classe. 

A linguagem coloquial usada predominantemente no livro, assim como uma brutalidade e violências nas palavras e na descrição dos cenários e pessoas, transmite certa inovação na forma de escrita, pois nunca se usou um método assim antes. Sua escrita classifica-se como romance policial, mas não se manifesta como os tradicionais, pois ao decorrer da história, o escritor explora tramas psicológicos como jogos mentais com o próprio leitor. 

O autor, com sua linguagem coloquial, simples, objetiva, mas ao mesmo tempo levando o leitor a participar da história, sugere que sua forma de escrita aproxima o autor do leitor. Essa característica faz com que a história, pela linguagem e pela proximidade com o leitor, faça da leitura do livro uma viagem inesperada, despretensiosa, mas ao mesmo tempo gerando expectativas e incertezas.

Por fim, o título do livro é referente a marca “P” que o assassino faz em suas vítimas no momento do crime, pois a “arte” seria essa marca registrada associado a maestria do assassino em não deixar o mínimo de rastros, vestígios ou indícios. Contudo, ao mesmo tempo, o intuito do romance não é descrever uma história minuciosa de romance policial, mas de trazer ao leitor um labirinto psicológico, descrevendo muitas vezes a humanidade dos personagens. 

 FICHA TÉCNICA

Autor: Rubem Fonseca

Título: A Grande Arte

Editora: Companhia das Letras

Páginas: 304 páginas

País/idioma: Brasil/português

Ano: 1990

Compartilhe este conteúdo: