Experiências e práticas vivenciadas por profissionais do Consultório na Rua em Palmas-TO: Entrevista a Assistente Social Maisa Carvalho

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É comum estar em um centro urbano, ou até mesmo em pequenas cidades e deparar-se com as pessoas que estão em algum lugar nas ruas de forma precária. Em sua maioria são pessoas que vivem em extrema pobreza, que ficam dias sem comer por falta de alimentos e consequentemente com baixas perspectivas de sobrevivência, vivem dos trabalhos que as ruas oferecem. Os profissionais que lidam com esse cenário enfrentam desafios diários, sendo seu trabalho de extrema necessidade para um caminho que possa levar a uma melhor qualidade de vida para as pessoas em situação de rua.

Nesta entrevista para o (En)Cena, a Assistente Social Maisa Carvalho nos traz um conteúdo muito enriquecedor acerca do trabalho com as pessoas em situação de rua e como se dá a atuação profissional nesse contexto. Ela é graduada pela Universidade Federal do Tocantins – UFT (2016), especialista em Gestão de Redes de Atenção à Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (2018), especialista em Saúde Mental pelo Centro Universitário Luterano de Palmas e Fundação Escola de Saúde Pública, através do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental – ULBRA/FESP (2020), Responsável Técnica do Programa Piloto de Justiça Terapêutica do Tribunal de Justiça do Tocantins, atualmente atua na equipe de saúde Consultório na Rua e é pesquisadora nas temáticas voltadas para Saúde e Direitos Humanos: saúde mental, população em situação de rua e feminização de substâncias psicoativas.

O Consultório na Rua foi instituído em 2011 no qual está agregado à política nacional de atenção básica, seu foco principal está nas pessoas que vivem em situação de rua, sejam elas moradoras ou que vivem do que a mesma pode ofertar, como emprego e necessidades básicas. Há uma equipe específica designada para o cuidado relacionado à saúde dessas pessoas. Nessa entrevista a Assistente Social Maisa Carvalho nos traz um panorama dessas ações realizadas.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena: Como você iniciou na área que você atua hoje, com a população em situação de rua?

Eu sou Assistente Social, conheci o Consultório na Rua em 2019, quando ingressei na residência, no Programa de Saúde Mental. Atualmente, o programa possibilita que o residente passe por 4 pontos da rede de Atenção Psicossocial, sendo os seguintes serviços: CAPS- AD, CAPS II, o NASF e por fim, o Consultório na Rua.

Quando tive esse contato eu não conhecia como funcionava exatamente, mas com a experiência passei a conhecer o fluxo, a equipe e como que funcionava. Passei alguns meses atuando no serviço como residente e depois de concluir a especialização, em 2020, fui contratada para compor a equipe.

(En)Cena: E como se deu esse ingresso na equipe?

Ingressei através do através do programa “Palmas para Todos” que é um programa da Fundação Escola de Saúde Pública juntamente com a prefeitura, onde você recebe uma bolsa para atuar em áreas que atendem as populações mais vulneráveis, e o Consultório na Rua está inserido dentro desse grupo de serviços que atendem as populações mais vulneráveis. Então, hoje eu sou profissional que compõem a equipe não mais como residente, nós recebemos outros residentes nesse serviço.

Fonte: encurtador.com.br/pTY29

(En)Cena: Você atua também como uma mentora dos residentes?

Não, porque precisa de um preceptor para acompanhar os residentes, esse papel é desempenhado pela enfermeira da equipe, que exige acompanhamento mais de perto, supervisão, aulas, enfim… mas todos nós colaboramos tirando dúvidas e compartilhando nossas experiências com os residentes.

Esses profissionais precisam ter uma pessoa para ser o preceptor que são como “mentores” dos residentes, como a preceptora também é coordenadora, as vezes pode estar em reunião ou na SEMUS, daí toda a equipe acaba dando suporte, porque a gente está ali todos os dias, orientando sobre o fluxo do serviço, mostrando quais são as nossas áreas de atuação.

Como a preceptora está de home office, quando os demais residentes entrarem, outro profissional irá assumir essa função, mas não será eu.

O fato da equipe ser multiprofissional, atendendo a modalidade 1, sendo composta por uma enfermeira, uma assistente social, uma técnica de enfermagem e um agente de ação social, ajuda muito nesse processo, se levarmos em consideração a variedade de formações.

(En)Cena: E como de fato é sua participação nesse contexto, dentro da unidade onde você atua?

Em Palmas nós temos além do Consultório na Rua, que atende especificamente na saúde, o CREAS que atende esse público também voltado para demandas assistenciais.  Então, o Consultório na Rua é um serviço da Atenção Básica, garantido pela a Política Nacional de Atenção Básica no qual foi instituído em 2011.Mas, aqui em Palmas ele foi implantado em 2016. Nós trabalhamos na rua, tem um carro, ou seja, somos 5 pessoas que a gente roda na cidade de Palmas e nos distritos também, fazemos atendimento à população em situação de rua ou moradores de rua que são diferentes. Há a pessoa que mora na rua, e os que vivem em situação de rua que podem até ter casa, mas que ficam em situação de rua devido a algum transtorno mental, uso de álcool e outras drogas, conflito com a família e assim por diante.

Fonte: encurtador.com.br/dlzIR

Nosso trabalho é levar cada vez mais essas pessoas aos serviços de saúde ou assistência social, porque imagina só, a gente enquanto pessoas “organizadas” entre aspas, bem esclarecidas, as vezes encontra dificuldades de acessar alguns serviços, imagine um morador de rua alcoolizado, com as vestes que não são muito bem vistas socialmente. Então, são pessoas que têm mais dificuldade em acessar ao serviço, elas muitas vezes não são bem recebidas/atendidas, isso é uma realidade, e também por não conhecer dos seus direitos.

A gente pensa que todo mundo conhece o que é um CAPS, o consultório na rua, uma unidade de saúde, comunidade terapêutica, o que é uma clínica de reabilitação, o que é isso ou aquilo. Mas não, nem todo mundo tem esse tipo de acesso e conhecimento, e nosso trabalho é em cima disso, é realmente trabalhar in loco, com esse paciente, com esse usuário. Quando eu falo em usurário, não quer dizer necessariamente um usuário de álcool ou drogas, mas de um usuário do serviço como qualquer outra pessoa que faz uso dos serviços públicos, e nós trabalhamos com o facilitar desse acesso dos pacientes aos serviços. E, um dos serviços que a gente trabalha muito é com os CAPS, o CAPS II que é voltado para o atendimento de pessoas que têm transtorno mental, e o CAPS-AD III que é voltado para a população que faz uso prejudicial de álcool e outras drogas.

No meu serviço como assistente social, claro que a gente tem um trabalho integrado com a equipe, é um trabalho multiprofissional. No entanto, tem também os serviços específicos do serviço social. Trabalho com a viabilização dos usuários aos serviços da assistência, como os do CRAS, CREAS, habitação, alimentação, documentos, entre outros. A gente trabalha muito com o reestabelecimento do vínculo familiar, que é uma coisa muito fragilizada dentre as pessoas que vivem na rua.

Visitas, contato telefônico, essa sensibilização quanto a esse retorno, talvez uma visita que é algo simples. A gente não impõe que a pessoa precise ter o contato familiar.  Mas, talvez quem sabe um dia das mães, um final de ano, talvez um fim de semana, um almoço, que a pessoa possa ir lá “fulano está preocupado com você, tá com saudade” você tem que tentar sensibilizar quanto a esse contato com a família, porque às vezes por mais que a gente trabalhe com esse usuário, dê todo o suporte, da rede, do serviço, mas se o sujeito não tem essa rede de apoio familiar o serviço fica muito mais difícil de continuar, porque quando a pessoa sair por exemplo do CAPS, do HGP ela vai retornar para a rua, que às vezes acontece também (HGP), em último caso mas acontece, quando o usuário está desorganizado, quando ele está em surto,  quando está colocando em risco a vida dele ou de outras pessoas, a gente aciona o SAMU juntamente com a polícia, que já é um protocolo que o SAMU tem, para a internação no HGP.

Fonte: encurtador.com.br/eoGIZ

Essa internação serve para estabilizar a pessoa, quando ela estiver mais organizada ela volta e continua com a medicação na rua que não seria o ideal, o ideal seria voltar para casa, é por isso que existe esse foco no reestabelecimento do vínculo familiar. Imagine que quem tem a questão do vício que parte não só do desejo de parar, mas de uma doença que precisa de tratamento. Chega um momento que o organismo da pessoa sente falta da droga, como sente da agua por exemplo. Digo isso para exemplificar que não é querer parar, ela precisa ter um ambiente propício para isso, para que ela não volte a fazer esse uso, ou pelo menos que ela diminua, que tenha mais qualidade de vida, ou seja, trabalhamos muito com a redução de danos.

Trabalhamos também com acesso a documentações, isso já é uma parte bem específica do serviço social, já é uma demanda social. Do ano passado para cá a gente focou muito nisso porque eu percebia, que quando a pessoa ficava mais tranquila, ao tentar com ela o acesso aos serviços não só de saúde, como trabalho, renda, a questão também da habitação, transporte e várias outras coisas, só que geralmente 80% dos moradores de rua eles têm um problema da falta de documentação, e para você acessar qualquer serviço hoje, você só consegue exercer cidadania se você tiver o documento. Sem ele é como se realmente você não fosse ninguém, isso é uma verdade. Então, eu estava tendo muita dificuldade de estar inserindo esses usuários em outros serviços, na rede Intersetorial, devido à falta de documentação. Então, é uma coisa que a gente tem feito muito, que é dado esse acesso, democratizado esse acesso às documentações, especificamente a certidão de nascimento, porque a partir dela que você consegue os demais documentos.

Essas articulações abrem portas. A equipe já conseguiu a inserção de paciente na política de habitação, que foi contemplado, morava na rua e está morando em uma casa. Isso facilita muito a pessoa ter segurança, de estar dormindo em lugar seguro, porque a rua tem um contexto muito hostil, de exposição a muitas coisas, à violência por exemplo. E quando você consegue ajudar essa pessoa a ter acesso a esse tipo de serviço, de benefício, é algo maravilhoso, uma vez que o conjuntos de todos esses fatores contribuem para a saúde e bem estar do usuário. Não é fácil, mas é possível. Há vários casos de êxito de pacientes, depois que eles passaram a morar em uma casa eles conseguiram ter uma evolução muito grande. Quando essa pessoa tem necessidades, às vezes não é especificamente no Consultório na Rua em si, mas a gente orienta, “vamos marcar então para você ir na unidade de saúde”, a gente leva o paciente, agora não estamos transportando tanto devido ao Covid-19, então é mais arriscado, pegar um paciente, colocar no carro onde está toda a equipe, é uma exposição a um risco, tanto para o paciente quanto para a equipe, então a gente só transporta o paciente em último caso.

Quando não tem como levar, a gente marca com a pessoa no local ou órgão para acompanhar o atendimento, pois se a gente só articular tanto com o serviço como o paciente orientando o mesmo a comparecer numa consulta odontológica, uma consulta com o clínico, a chance de ela não ir é grande, porque hoje ela está sóbrio, mas no dia seguinte pode não está ou não se sentir pertencente daquele serviço.  Então, a gente tenta pactuar de estar acompanhando mesmo essa pessoa, ou então marcar para ela ir no dia que a gente vai estar na unidade também.

Outra coisa, as vezes o paciente tem dificuldade de comunicação, nós temos paciente que tem problema de audição, onde há dificuldade de comunicação entre medico e ela, necessitando de um acompanhante para facilitar as orientações. A pessoa não consegue ouvir, ela não consegue seguir as orientações justamente porque ela não ouve bem, e como a gente já conhece a gente consegue se comunicar, aumenta o tom de voz, gesticula, então ela consegue entender, esse também é um trabalho que a gente faz, visto que o vínculo familiar é fragilizado e resulta na falta do mesmo nesses procedimentos. Eu já acompanhei paciente em banco por exemplo, o paciente recebe auxílio emergencial, recebe bolsa família, recebe um benefício que ele tem, mas ele não consegue entrar no banco, ele não sabe conversar com o gerente, ele não sabe dizer o que ele quer, ou então ele perdeu a senha, ele não consegue fazer esse tipo de serviço.

A gente às vezes precisa ser as pernas desses pacientes, porque isso também é saúde. Imagine só, essa pessoa tem direito a um benefício e ela não consegue sacar por exemplo, ela não vai conseguir comer bem, talvez não vá conseguir comprar um lençol para dormir na rua que seja, tudo volta para a saúde, por mais que não seja especificamente da saúde, eu poderia negar “não vou fazer isso que não é minha função ficar em banco por exemplo para acompanhar paciente porque isso já extrapola né as nossas competências profissionais”. No entanto, a gente tem muito esse trabalho da humanização mesmo, que faz parte também, tem uma política de humanização, a equipe trabalha muito em cima disso, o que vai estar melhorando a qualidade de vida desse paciente, que vai melhorar nosso trabalho também.

(En) Cena: Em relação às questões que levam as pessoas para essa situação de rua, qual você vê como mais comum em Palmas?

Eu acredito que tanto aqui quanto a nível nacional, o perfil é semelhante. A gente se depara com pessoas com vínculo familiar fragilizado ou interrompido, seja por estilo de vida, desemprego, falta de moradia, pais que não aceitam a sexualidade do filho e o mesmo acaba indo para as ruas, ou a pessoa começou a fazer uso de drogas e teve conflitos, a família não consegue lidar com a situação que também é difícil, ou perdeu um ente querido, o fato em si do uso de álcool e outras drogas, o que leva a pessoa usar outra vez, são vários motivos. Transtornos mentais levam também, acontece da pessoa desorganizar, somado a alguns conflitos familiares. Geralmente esses vínculos é um processo lento, nem sempre conseguimos, requer tempo, orientação, visto que família já está chateada, está magoada e desacreditada. Pode acontecer do sujeito está sob efeito do álcool e/ou outras drogas e agredir as pessoas, verbalmente ou fisicamente, isso causa um desgaste e até mesmo esse rompimento do vínculo. Como disse, é um desfio, a gente vai criando estratégias.

REFERÊNCIA

BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 122, de 25 de Janeiro de 2011. Brasília, 2011.

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Promoção de Qualidade de Vida na Comunidade: experiências de uma nutricionista do NASF

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Para discorrer um pouco sobre o tema e atividades desenvolvidas, entrevistou-se uma das profissionais atuantes no NASF em dois Centros de Saúde da Comunidade de Palmas/TO (1206 e 1304 Sul)

Sabe-se que a expectativa de vida vem aumentando, e com ela a necessidade de melhorar a qualidade de vida. O termo qualidade de vida está associado a uma gama de fatores e não apenas a saúde, “como bem-estar físico, funcional, emocional e mental, mas também outros elementos importantes da vida das pessoas como trabalho, família, amigos e outras circunstâncias do cotidiano, sempre atentando que a percepção pessoal de quem petende se investigar é primordial” (GILL & FEISNTEIN, 1994, apud PEREIRA et al., 2012, p. 244). Sendo assim, a promoção da saúde deve visar a contemplação das inúmeras esferas que o termo qualidade de vida abrange.

Nesse contexto, a Atenção Básica caracterizada como porta de entrada principal do SUS – Sistema Único de Saúde, constituindo um conjunto de ações de saúde, na esfera individual e coletiva, que abrangem a promoção e a proteção da saúde (BRASIL, 2013), conta com os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), também, para a promoção de ações voltadas à qualidade de vida daqueles que são acolhidos pelo serviço.

Para discorrer um pouco sobre o tema e atividades desenvolvidas, entrevistou-se uma das profissionais atuantes no NASF em dois Centros de Saúde da Comunidade de Palmas/TO (1206 e 1304 Sul). Bianca Dias Ferreira é nutricionista residente em saúde da família e comunidade, graduada em Nutrição pela Universidade Federal do Tocantins (2017), com linha de pesquisa em Práticas Integrativas e Complementares do SUS, Saúde Pública e Saúde Coletiva. É membro da Liga Acadêmica de Plantas medicinais e fitoterapia – UFT. Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em saúde pública, atuando principalmente nos seguintes temas: Promoção de Saúde, Fitoterapia e Educação Alimentar e Nutricional.

Fonte: arquivo pessoal

(En)Cena – Sabe-se que a qualidade de vida é um tema muito debatido atualmente, e que hoje existem muitos campos em que a nutrição pode agir a partir desse assunto; no NASF, qual a atividade que o nutricionista realiza para promover qualidade de vida?

Bianca Dias Ferreira –Enquanto atenção Primária à saúde o NASF está inserido e tem possibilidade de vínculo com a população do território de saúde. Isso oportuniza um grande leque de ações que podemos desenvolver enquanto NASF. Na nutrição atualmente realizo atividades coletivas e individuais com o objetivo de promover qualidade de vida: ações para promoção de modos de vida saudáveis em conjunto com as práticas corporais em um grupo semanal compartilhado com profissional de educação física; Apoio às ações do programa saúde na escola; Ações de educação em saúde em grupos de gestantes, puérperas e idosos da ESFSB; Educação alimentar e nutricional em sala de espera e em eventos específicos como semana do bebê, mês da qualidade de vida (abril), entre outros.

(En)Cena – Você acredita que este trabalho pode trazer maior bem-estar para pessoas que muitas vezes já perderam a esperança?

Bianca Dias Ferreira – Certamente. Observamos por exemplo, em um grupo de treino funcional e acompanhamento nutricional que a adesão ao grupo tem propiciado também melhor adesão a tratamentos de saúde, assim como tem melhorado o vínculo da população com os profissionais e serviços ofertados pela unidade.

(En)Cena – Há adesão de pessoas idosas em participar das atividades propostas aqui?

Bianca Dias Ferreira – Nos grupos de educação há uma adesão até que satisfatória nas programações em que eles são convidados. Mas, não podemos desconsiderar que ainda há uma cultura muito forte em que o modelo biomédico prevalece, então muitas vezes essa participação está atrelada ao que os mesmos receberão em troca, seja uma consulta, ou uma renovação de receita, isto, é claro não pode ser generalizado, pois há casos de que as pessoas participam porque gostam de se cuidar, ter um ambiente em que podem se expressar, aprender e compartilhar sobre temas relevantes à sua saúde, mas são uma minoria.

(En)Cena – Nos conte uma experiência, trabalhando com qualidade de vida, que te marcou?

Bianca Dias Ferreira – Inserção de práticas integrativas e complementares em saúde: Lian Gong e Auriculoterapia, pois os relatos dos pacientes sempre dão retorno positivo e é um feedback que gera redução no uso de medicações principalmente em dores osteomusculares, melhora da rotina de sono, ansiedade, entre outras. Acabou sendo uma das ações mais gratificantes que a equipe realiza.

 (En)Cena – Quando percebeu que era nessa área de atuação que você queria trabalhar, ou você acredita que esta área que te escolheu?

Bianca Dias Ferreira – Acredito que fui escolhida, pois desde a universidade sempre me interessei pela parte social da nutrição e quando iniciei a residência em saúde da família e comunidade entendi que na atuação em equipe sempre podemos desenvolver mais ações e contribuir mais com as necessidades da população.

(En)Cena – Quem pode participar das ações desenvolvidas e quais são os critérios de inclusão e exclusão?

Bianca Dias Ferreira – Toda a população pode participar. Nos grupos de práticas corporais são avaliadas as limitações físicas e cada paciente deve respeitar o limite do próprio corpo.

Fonte: arquivo pessoal

(En)Cena – Quais são as atividades desenvolvidas voltadas a qualidade de vida?

Bianca Dias Ferreira – Sessões de auriculoterapia, práticas corporais, treino funcional e Lian Gong, educação alimentar e nutricional em grupos educativos (gestantes, idosos, puericultura), grupos terapêuticos e sala de espera, grupo de apoio terapêutico ao tabagista, grupo de dores crônicas, grupo servidor saudável, apoio às ações do Programa saúde na escola…

(En)Cena – Que profissionais fazem parte da equipe?

Bianca Dias Ferreira – Nutricionista, profissional de educação física, psicóloga, assistente social, farmacêutica.

(En)Cena – Quais os maiores impactos vistos resultantes das atividades desenvolvidas na qualidade de vida daqueles que participam?

Bianca Dias Ferreira – Redução da usa de medicações, melhora na autoestima, melhora no vínculo com os profissionais.

(En)Cena – Quais são as maiores dificuldades que você percebe quanto a adesão das atividades?

Bianca Dias Ferreira – Desvincular as ações de promoção a saúde da lógica médica e biológica.

*Entrevista realizada como requisito da disciplina de Psicologia da Saúde

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde Mental. 176 p. Cadernos de Atenção Básica, n. 34. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

PEREIRA, Érico Felden; TEIXEIRA, Clarissa Stefani; SANTOS, Anderlei dos. Qualidade de vida: abordagens, conceitos e avaliação. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 26, n. 2, p. 241-250, 2012.

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Capacitações e Tratamento Especializado para Dependência de Álcool e outras Drogas

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Oportunidade de capacitação sobre assunto da atualidade


A FEBRACT, em parceria com GH SAÚDE E RECOMEÇAR CENTRO TERAPÊUTICO SERGIPE, oferece curso de capacitação em dependência de álcool e outras drogas.  Oportunidade de capacitação sobre assunto da atualidade, necessário e carente de informações, com quem é referência no país, FEBRACT ( http://www.febract.org.br).

O objetivo da capacitação é o fortalecimento e criação da rede de atenção aos dependentes químicos e suas famílias, através da saúde (CAPS, NASF), assistência social (CREAS, CRAS, Conselho Tutelar), educação (Professores, Diretores) e demais setores. Vale ressaltar que todos são importantes e necessários no processo de atendimento, encaminhamento e tratamento.

Carga horária de 20h com certificação FEBRACT.

Direcionado a Psicólogos, Psiquiatras, Assistentes Sociais, profissionais da saúde no geral, estudantes, assim como todas as pessoas que lidam com USO, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE ALCOOL E OUTRAS DROGAS.

Professores:
MAURICIO LANDRE, Professor da FEBRACT, Especialista em Dependência Química UNIFESP e a Psicóloga.

LEDA MOBILE, Doutora e Mestre em Dependência Química / UNIFESP, Colaboradora e Parceira da Equipe RECOMEÇAR.

Sobre o FEBRACT

Iniciando suas atividades em 1994, o Centro de Formação e Treinamento da FEBRACT,  já ofereceu cursos para o pessoal de 507 Comunidades Terapêuticas e representantes de Instituições diversas que se preocupam com o problema da dependência química: redes escolares municipais e estaduais, órgãos governamentais ligados à Saúde, Assistência Social e à Justiça, Universidades, Exército, Marinha, Policias Militar e Civil, Conselhos Municipais de Entorpecentes, Conselhos Tutelares, Núcleos de Amor Exigentes, Prefeituras Municipais, grupos de diversas confissões religiosas e hospitais. O Centro de Formação e Treinamento recebe representantes de toda instituição que assuma um compromisso social em relação ao problema do álcool e das drogas.

Sobre o Centro Terapêutico Recomeçar

Somos um projeto pioneiro em SERGIPE, onde oferecemos além dos cursos de capacitação, tratamento especializado para dependência de álcool e outras drogas, com metodologia adequada e equipe multidisciplinar de saúde em regime de residência terapêutica.

Desde já sintam-se convidados a conhecer nossa estrutura, cronogramas, metodologia utilizada assim como nossa equipe de profissionais.

Participem no nosso projeto de cursos de capacitação continuada, nosso 2º curso em Sergipe acontece de 01 a 03 de agosto.

Para mais informações

Centro Terapêutico Recomeçar

Povoado Zeca de Loia.  S/N   – Praia das Dunas

Estância – SE

Telefones: (79) 9198-7177 – 9639-9891

www.ctrecomecar.com.br

Jorge Augusto Gomides,

Terapeuta e Diretor do Centro Terapêutico Recomeçar

(79) 9639.9891

(79) 9198-7177

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Edinaldo Coriolano – O Lampião da arte, saúde e educação

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Edinaldo presente na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica – Foto: Isadora Fernandes

Edinaldo Coriolano é assistente social da Estratégia de Saúde da Família em Santa Cruz – PE e também apoiador do Programa de Saúde nas Escolas do Ministério da Educação.  O PSE é um programa que une a saúde e a educação com o intuito de melhorar a qualidade de vida dos educandos. Ele implantou em sua unidade em 2011, com o objetivo de promover saúde por meio de expressões artísticas.

A função do assistente social é basicamente fazer com que os princípios do SUS aconteçam, são eles: Integralidade, dar assistência completa ao paciente; Gratuidade, deve ser um serviço gratuito; Equidade, classificar o atendimento de acordo com a necessidade e Universalidade, todos têm direito à assistência. A ESF tem como principal linha de trabalho a atenção primária que visa prevenção e promoção de saúde, portanto a equipe deve assistir ao cliente pautada em um planejamento de intervenções educativas.

Vendo que a Unidade Básica de Saúde na qual ele trabalha não estava obtendo muito êxito com palestras educativas, pois é algo cansativo e pouco atraente, foi quando ele viu a necessidade de trabalhar a saúde nas escolas usando a arte nas suas variadas formas, pois o público principal das escolas é composto por crianças e adolescentes, e pensando nisso, reuniu a equipe para pensar em maneiras de como chamar a atenção desses jovens.

Formou um grupo condutor com seus colegas da UBS, com a finalidade de planejar as “novas intervenções”. Inicialmente ele, junto a equipe, desenvolveu oficinas para conhecer o perfil daquele grupo em especial e permitir que eles expressem o que esperam e como esperam ser abordados pela equipe. Instigava os alunos a mostrar o que eles já sabiam sobre saúde de maneira artística. Suas ações partem do diagnóstico que ele faz da turma, por exemplo, se a demanda do local é esclarecimento sobre DST, higiene, gravidez na adolescência, relações sociais, entre outros.

Trabalhando com os educandos, sentiram que precisavam do apoio dos professores, e para isso, tinham que inseri-los no processo. Portanto passou a criar oficinas com os educadores, de forma que pôde conhecer o que eles já entendiam sobre o assunto e foi uma forma de facilitar na busca da demanda, pois os professores passam a maior parte do tempo com os alunos então têm a oportunidade de observar o comportamento e as necessidades.

Apesar da dificuldade em unir-se com a educação, sua proposta foi um grande sucesso que foi evidenciado pelos excelentes resultados e também, pela grande aceitação entre os escolares ressaltando a importância de sua originalidade e iniciativa. Quando se fala de um público jovem, já se cria uma resistência por parte dos profissionais, porque é uma turma difícil de atrair a atenção, por isso requer muita criatividade e consequentemente muito esforço, que claro não faltaram para Coriolano.

Ponto de Encontro em que Edinaldo apresentou seu trabalho – Foto: Isadora Fernandes

De maneira inusitada apresentou seu trabalho na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica. Vestido de lampião, encantou a todos recitando um trecho da música de Luiz Gonzaga com uma adaptação logo no início de sua apresentação.

 

“A minha vida é trabalhar no meu sertão

Com arte, saúde e educação

Levando informação aos territórios onde eu passei

Andando pelos sertões, muitos amigos eu encontrei

Chuva, sol, poeira e carvão

Longe de casa, seguindo o roteiro da educação

Auê, auê, auê

E com a saúde no coração”.

 

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Drag Queen Viviane Viva Voz é diferencial de “consultório de rua” em Recife

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Método utilizado por Jonathan, que alia humor e informação, foi uma combinação perfeita, e vem ajudando de forma efetiva na “redução de danos” e até reabilitação de muitos os moradores de rua que são usuários de drogas.

Foto: Michel Rodrigues

O recifense Jonathan Reis mudou completamente a vida quando, poucos anos atrás, resolveu criar uma personagem, a “Viviane Viva Voz”, para compor a equipe de um “consultório de rua” na capital pernambucana. O método utilizado por Jonathan, que alia humor e informação, foi uma combinação perfeita, e vem ajudando de forma efetiva na “redução de danos” e até reabilitação de muitos os moradores de rua que usuários de drogas.

Num bate-papo descontraído com o (En)Cena, Jonathan fala dos principais desafios que enfrenta na empreitada, de como tudo surgiu e foi se consolidando, além das perspectivas futuras. Jonathan fala da alegria que é ajudar pessoas desesperançadas a encontrarem “uma alternativa”, além de sua satisfação por ter conseguido mostrar para a sua família – em especial a sua mãe – a importância de seu trabalho como drag queen.

(En)Cena – Qual é a sua participação aqui na mostra?

Jonathan – Eu vim para o lançamento nacional do documentário sobre políticas integrativas no SUS, tendo em vista que, em Recife eu trabalho com “redução de danos” entre usuários de drogas que moram nas ruas.

(En)Cena – Qual é a abordagem propriamente dita que vocês fazem com as populações de rua?

Jonathan – Na redução de danos nós procuramos focar no indivíduo. Nós abordamos uma pessoa, por exemplo, que é usuária de craque, e daí vamos tentar fazer com que essa pessoa troque esta droga pela maconha. Se nós conseguirmos isso, já é um passo para, mais à frente, conseguirmos que esta pessoa largue totalmente as drogas, pois ela demonstrou maleabilidade em relação a questão.

(En)Cena – E o trabalho para por aí, ou você e a equipe que você faz parte age em outras frentes?

Jonathan – Não, nós fazemos um esforço intenso para reinserir o usuário na sociedade. Para tanto, entramos em contatos com outros setores do serviço público e procuramos encontrar encaixes que sejam compatíveis com o perfil deste usuário que demonstra disposição para largar as drogas.

(En)Cena – E como ocorre o contato inicial com as populações de rua? O que é feito para “quebrar o gelo” e gerar confiança?

Jonathan – Eu não sou muito convencional (risos). Você percebeu que tenho 1,90m, mas o salto e a peruca ajudam a criar uma empatia. No entanto, nos consultórios de rua atuam cinco personagens, eu sou apenas uma delas. Na verdade, a “Viviane Viva Voz” foi a última personagens construídas. Ela surgiu depois que eu participei de um seminário de comunicação para o público GLBT. Com o passar do tempo, me convidaram para participar de uma ação informativa no carnaval. O sucesso foi tão grande, as pessoas receberam com tanto carinho, que minha agenda foi se ampliando, até que eu fui contratada para atuar com as equipes dos “consultórios de rua”, dentro do projeto de Práticas Integradoras de Saúde. Ou seja, tudo começa numa brincadeira, mas a informação e o cuidado são passados, o que é mais importante. Hoje nosso trabalho é conhecido no Brasil inteiro, e equipes de outros estados vão até Recife observar nossas práticas.

(En)Cena – Você tem alguma militância, atua em alguma ONG fora deste trabalho que é feito junto à Prefeitura de Recife?

Jonathan – Eu também ajudo numa ONG chamada “Movimento Cultural Fazendo Arte”, que reúne jovens de diferentes níveis sociais e faixas etárias, e procura incentivá-los, pela arte, a desenvolverem suas habilidades. Lá é ensinado dança, teatro. No começo, a ONG atuava na região periférica da cidade. Com o sucesso do projeto, passamos para o centro de Recife, e o ambiente é bem heterogênio, já que não há restrição de público.

(En)Cena – E como foi a construção da personagem Viviane? Houve muitas dificuldades?

Jonathan – Houve sim. Eu até desconfio daqueles personagens que parecem ter caído do céu. É importante que, no desenvolvimento do projeto, os desafios contribuam para a maturação. No começo nós não recebemos apoio de nada, e inclusive há dificuldade com o figurino mais básico. Com o passar do tempo, se você faz um trabalho com consistência e focado no benefício, na melhora da qualidade de vida das pessoas, afinal fazemos rir, então vão aumentando a confiança em nós e passam a contribuir financeiramente para o projeto avançar. Também me marcou muito a mudança da minha família, sobretudo a minha mãe. No começo, ninguém aceitava a minha homossexualidade, e aparecer vestido de mulher causou um grande impacto. No entanto, quando começaram a perceber a importância do meu trabalho, começaram a ver o respeito que as pessoas nutriam por mim, aí sim mudaram de ideia a respeito.

(En)Cena – Você tem conhecimento se o seu trabalho é pioneiro?

Jonathan – Olha, eu sei que tem um grupo de drags em São Paulo, e uma drag em Brasília que também atuam na divulgação dos programas de prevenção e de saúde, mas elas não ficam totalmente envolvidas com a questão da saúde, como no meu caso. Desta forma, no formato que atuamos, creio mesmo que seja um trabalho pioneiro. Eu presto serviço à Prefeitura de Recife, de forma terceirizada, exclusivamente para desenvolver este trabalho.

(En)Cena – Você está satisfeito com o que faz?

Jonathan – Você nem imagina o quanto eu me sinto gratificado quando vejo que atuei de forma positiva na vida de uma pessoa. Fico extremamente feliz quando encontro um usuário ou ex-usuário e ele me diz que, a partir do nosso contato, ele mudou o curso da sua vida, mesmo que isso tenha ocorrido de forma discreta. Isso é o que me motiva.

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Como conto o que vi e senti na IV Mostra

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A troca de experiências, sendo elas boas ou ruins, serve para que aprendamos com a vivência do outro absorvendo o que de melhor aquela situação tem a oferecer.

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Foto: Paulo André Borges

A Mostra de Experiências em Atenção Básica visa permitir que os trabalhadores compartilhem ideias bem-sucedidas acerca do seu dia-a-dia na assistência, como estratégias implantadas que “deram certo”, temas nos quais identificaram a necessidade de ser melhor trabalhado para esclarecer e atualizar os demais profissionais, e também as ideias que por algum motivo não obtiveram os resultados esperados, procurando por meio delas, mostrar os motivos do insucesso e propondo possíveis soluções.

 O principal objetivo da atenção básica é a prevenção e a promoção de saúde por meio de medidas estratégicas criadas em conjunto com a equipe, que é composta por um conjunto multiprofissional, são eles: enfermeiros, psicólogos, médicos, técnicos de enfermagem, agentes de saúde, assistentes sociais, dentistas, farmacêuticos, fisioterapeutas.

Foto: Paulo André Borges

O evento tem como foco principal promover a interação entre esses profissionais de forma que eles possam melhorar a assistência ao usuário tomando como base o relato dos colegas.

Visto que a atenção básica é a base da assistência por se tratar de atenção primária, ela se torna crucial na prevenção das doenças e controle dos agravos. O evento é uma grande oportunidade que os profissionais têm de se expressarem; recebe pessoas de todo o Brasil. São mais de quatro mil inscritos das mais variadas profissões que compõem a equipe de atenção básica. Os relatos partem da seguinte pergunta: “Como você conta o que você faz?”, e a partir dela, eles criam maneiras originais para compartilharem suas ações.

Isadora Fernandes na IV Mostra. Foto: Paulo André Borges

Creio que o fato de, como “acadêmica” do curso de Enfermagem, ter a possibilidade de observar as experiências daqueles que já estão no mercado de trabalho há algum tempo, me fará compreender melhor que o “principal personagem” do serviço de saúde é o usuário, pois quando nós procuramos conhecimento e maneiras para melhorar nossa assistência de alguma forma, seja por relatos (que é a proposta da mostra) ou por cursos de aperfeiçoamento, o nosso objetivo sempre é oferecer ao cliente o melhor atendimento possível.

Nos corredores pude observar uma grande empolgação e curiosidade por parte dos visitantes em relação aos trabalhos que serão apresentados. Isso mostra o verdadeiro significado da troca de experiências, o que promove a intersecção entre o ato de ensinar e de aprender, resultando em uma vivência muito mais abrangente e aprofundada.

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