Cirurgias plásticas passam a ser vistas como um procedimento de extrema importância

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O desejo de alcançar um corpo esteticamente aceitável pela sociedade faz que muitas pessoas procurem por meio de cirurgias plásticas o tão sonhado corpo perfeito. Conforme dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), houve um aumento de 25,21%, em 2018, na realização de cirurgias estéticas, aproximadamente quase 1, 5 milhão de pessoas. A comparação foi feita em relação aos dados de 2016, em que quase 850 mil pessoas se submeteram a procedimentos estéticos.

De acordo com a SBPC, a cirurgia para aumento de mama foi a mais procurada em um total de 18,5%, em segundo lugar a lipoaspiração com 16,1% e abdominoplastia com 15,9%. Ainda segundo a pesquisa feita em 2018, 62,2% das pessoas que buscam intervenções cirúrgicas são para fins profissionais no Instagram, e também no Facebook com um total de 58,4%. Os números são alarmantes, porque a maioria utiliza as redes sociais para alavancar os seguidores para fins financeiros. Situação preocupante, já que muitos jovens e adolescentes são influenciados com os conteúdos postados.

Volpi (2009) explica que são vários motivos que levam as pessoas a modificarem sua aparência. “Pode ser apenas modismo, outros modificam a imagem corporal para despertar a atenção, seduzir, como também valorizar o corpo enquanto objeto sexual”.  Uma percepção alarmante, já que o modismo aumenta a insatisfação corporal com o corpo, e o aumento de intervenções, que nem sempre são necessárias, somente para estar no padrão imposto por digitais influencers, na internet.

Fonte: Freepik

Com a mesma percepção, Rodriguez (1983) destaca que a cultura determina regras em relação ao corpo, “regras estas que os indivíduos tendem à custa de castigos e recompensas se adaptar até chegar o momento que estes padrões de comportamento são vistos como naturais.” Segundo Rodriguez, muitas pessoas se submetem a dietas rigorosas, praticam exercícios físicos, realizam operações cirúrgicas, por acreditar na existência de um corpo ideal.  Para ele, o corpo é alvo de obsessão da juventude, da moda (RODRIGUES, 1983).

Paiva (2010) afirma que a estética corporal nunca foi tão valorizada como é atualmente, e isto vem sendo reforçado pela mídia, em especial pela internet. Para ele, o “corpo ideal está se tornando um objeto de consumo, passível de modificações a todo custo através de adereços e cirurgias.” Ou seja, o mundo vivencia o fenômeno “do culto ao corpo”, em que as pessoas não medem esforços para alcançar o padrão desejável.  Posicionamento confirmada pela SBCP, com o aumento das cirurgias estéticas com o intuito de buscar a perfeição.

Nesse contexto é preciso alertar sobre os riscos relacionados as cirurgias e procedimentos estéticas.  Um caso amplamente divulgado pela mídia foi da digital influencer Liziane Gutierrez que teve o rosto deformado após fazer uma harmonização facial. Segundo a modelo em entrevista ao Correio Brasiliense, ela teve uma forte reação ao produto químico utilizado pelo médico, e precisou se submeter a uma cirurgia para retirada da substância usada em seu organismo. Os transtornos não terminaram, ela ainda passou por cyberbullying, que consiste no bullying virtual pela sua aparência física.

Fonte: Freepik

Sobre o assunto, Padilha (2002) aponta que na cultura da boa aparência, a beleza adquire conotação de aceitação de não rejeição em que não ser belo equivale a ser rejeitado. “É um conjunto de valores atribuídos a uma pessoa pelos outros, através da análise das características, qualidades e defeitos que uma pessoa apresenta”. (Padilha, 2002). Por conta dessa ideia difundida que muitas pessoas correm para as mesas cirúrgicas, colocando a vida em risco.

O ser humano é muito mais que um corpo definido, é preciso parar para refletir sobre os riscos físicos e emocionais que uma cirurgia estética pode trazer. Caso, a pessoa tenha dificuldade de autoaceitação e baixa autoestima, ela precisa de uma ajuda profissional que irá ajudar resolver os conflitos internos, bem como ajudar a trilhar um caminho do amor-próprio. A questão não é ser contra cirurgia, mas sim optar por um equilíbrio, para evitar os excessos cirúrgicos, que escondem problemas de ordem emocional.

REFERÊNCIAS

Jornal, Correio Brasiliense. Liziane Gutierrez: antes e depois da modelo impressionam (2021). Disponível em <https://www.correiobraziliense.com.br/diversao-e >. Acesso: 11, de nov, de 2021.

PAIVA, T. F. F.. A Ditadura da Beleza e SuasImplicações na Subjetividade. 2010. 97 f. Monografia (Graduação em Psicologia) – Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, 2010.

PADILHA, Ênio. Marketing pessoal e Imagem pública. 2.ed. Balneário Camboriú: Palloti, 2002

 Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Censo 2018. Disponível em <http://www2.cirurgiaplastica.org.br/wp-content/uploads/2019/08/Apresentac%CC%A7a%CC%83o-Censo-2018_V3.pdf> Acesso: 11, de nov, de 2021.

RODRIGUES, José Carlos. Tabu do corpo. 3. ed. Rio de Janeiro: Achiamé, 1983

VOLPI, José Henrique. Body modification: uma leitura caracterológica da identidade inscrita no corpo. Curitiba: Centro Reichiano, 2009.

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Cirurgia plástica: culto ao corpo contemporâneo

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O indivíduo por sua aparência, instaura uma nova moralidade, a da “boa forma”, referindo-se à juventude, beleza e saúde e, consequentemente, acentua a representação do eu como meio de expressão

De acordo com o Conselho Federal de Medicina, a cirurgia plástica pode ser definida como uma especialidade médica, reconhecida pelo mesmo e pela Associação Médica Brasileira, requerendo pré-requisitos e conhecimentos técnicos e científicos adquiridos na graduação e/ou pós-graduação (residência e/ou especialização), visando tratar doenças e deformidades anatômicas, congênitas, adquiridas, traumáticas, degenerativas e oncológicas, suas consequências, promovendo também uma melhor qualidade de vida do indivíduo.

Fonte: encurtador.com.br/muCNQ

História do corpo

Desde antigamente até os dias atuais o corpo sempre foi enfoque de debates. Até o advento da Modernidade, ainda sob forte influência da igreja, o culto ao corpo era desencorajado e a alma era superior ao corpo. De acordo com Rosário (2006), o homem medieval era bastante contido, já que a instituição religiosa tolhia manifestações criativas. Não é segredo que o Cristianismo dominou durante a Idade Média, influenciando comportamentos, assim como traquejos corporais da época. Tal cenário resultou em uma maior rigidez dos valores morais em relação ao corpo, sendo traçada a preocupação em separar corpo e alma, sobrepujando a potência da segunda sobre a primeira.

O corpo tornou-se objeto do capitalismo a partir do século XX, onde ganhou um papel de maior importância e passou a ser cultuado. O chamado culto ao corpo, longe de servir como guia claro de orientação para os comportamentos de indivíduos ou grupos, gera um paradoxo na cultura de classe média.

O indivíduo por sua aparência, instaura uma nova moralidade, a da “boa forma”, referindo-se à juventude, beleza e saúde e, consequentemente, acentua a representação do eu como meio de expressão facilmente compreendido em “um contexto social e histórico particularmente instável e mutante, no qual os meios tradicionais de produção de identidade como a família, religião, política, trabalho encontra-se diminuídos” (ECO, 2004).

Fonte: encurtador.com.br/yGPUW

Todos os seres humanos são iguais do ponto de vista biológico. As inúmeras variações – de cor, de estrutura, de traços, de textura dos cabelos – que diferenciam os povos e os indivíduos não alteram as características básicas da espécie homo sapiens (KURY; HARGREAVES, 2000). Com o advento de novas tecnologias, em especial da mídia aliada a marketing de produtos e procedimentos que exaltam o corpo, começou-se a supervalorização do mesmo, que levou e ainda leva as pessoas a buscarem o inalcançável corpo perfeito. 

A influência da mídia

A mídia sem dúvidas é um fator de importante ou talvez principal influência que leva vários jovens a passarem por procedimentos estéticos cirúrgicos. A sociedade atual cultua o corpo e muitas vezes o coloca como superior à alma, o que é totalmente o oposto da visão de corpo do século XVII. A mídia definiu como corpo perfeito aquele que seja magro e curvilíneo.

A todo o momento pode-se ver lindas mulheres e lindos homens, incluindo diversos famosos nas capas de revistas, exibindo seus corpos perfeitos. No entanto, o público, muitas vezes, esquece que essas fotos passam por vários aperfeiçoamentos de imagens computadorizadas. Acabam por rotular o corpo ideal, e quem não segue não está dentro dos padrões, sendo assim, são influenciados a buscar obsessivamente um corpo ideal e perfeito que muitas vezes não existe.

As propagandas mostram homens e mulheres cada vez mais magros, as lojas de roupas estão com os manequins cada vez menores, e o acesso em clínicas de estética está cada vez mais ao alcance das pessoas. “Os números de cirurgias plásticas aumentam e possibilitam conquistar o padrão de beleza imposto pela sociedade.” (AZEVEDO, 2007).

Fonte: encurtador.com.br/ouBDJ

O padrão de beleza mostrado pela mídia tem levado milhares de jovens em busca da conformidade imposta pela sociedade. Os critérios de valoração foram deslocados para exterioridade, fazendo com que a geração de jovens atual seja cada vez mais narcisista, fazendo do corpo e das sensações produzidas por estes como elementos centrais da vida pública de cada um. O resultado é uma maior necessidade da aceitação da sociedade, que leva os jovens a recorrerem malhações exageradas, dietas rigorosas, e principalmente, procedimentos estéticos cirúrgicos.

De acordo com a psicanalista Esther Woiler, “A depressão é feia”, e resume a autoimagem como “uma construção de base emocional. O modo como você está se percebendo emocionalmente pode distorcer a sua imagem corporal”. E o fato de que muitas pessoas, atualmente, estarem insatisfeitas com os seus corpos é uma demonstração de que a estratégia da indústria da beleza funcionou.

Cirurgias plásticas mais procuradas por jovens, sendo eles homens e mulheres

De acordo com o Conselho Federal de Cirurgia Plástica, a cirurgia plástica estética mais procurada por mulheres é a Cirurgia de mama, seja ela de redução ou inserção de silicone. Em segundo vem a Lipoaspiração, procedimento este que é realizado através da retirada de gordura corporal de áreas localizadas, e em terceiro temos a Rinoplastia, cirurgia corretora do nariz.

Fonte: encurtador.com.br/qATY1

Antes cirurgias plásticas eram mais realizadas em mulheres devido o preconceito enraizado em nossa sociedade e que até hoje é presente, no entanto, mais ameno. Atualmente muitos homens não são satisfeitos com seus corpos, desta maneira quebram paradigmas, pois o número de procura por procedimentos estéticos tem crescido cada vez mais. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirma que entre 2009 e 2014, a quantidade de procedimentos passou de 72 mil para 276 mil ao ano. A redução das mamas (ginecomastia), a lipoaspiração e a cirurgia de pálpebras lideram o ranking de procedimentos mais realizados entre os homens.

Principais deveres dos médicos em relação ao paciente que procura por um procedimento cirúrgico

É dever do médico fornecer amplas informações quanto ao diagnóstico e prognóstico, manter o sigilo e aplicar as melhores técnicas no procedimento cirúrgico, devendo ainda conversar com o indivíduo sobre as possibilidades de resultado e os possíveis riscos, sendo indispensável o consentimento do paciente para a realização da cirurgia. Os artigos 46, 48 e 53 do capítulo de Direitos Humanos do Código de Ética Médica destaca justamente esse esclarecimento médico, e do seguido consentimento do paciente. É válido lembrar que o procedimento só não vai precisar de consentimento do indivíduo quando for uma situação de emergência, como também diz o artigo 46.

Fonte: encurtador.com.br/bkDFN

E, de acordo com o artigo 57, é vedado ao médico “deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente.” Depreende-se assim que, cabe ao médico cirurgião comunicar-se de forma clara com o paciente, explicando-lhe o procedimento, os riscos e resultados de acordo com cada caso, procurando as melhores técnicas para a realização da cirurgia, utilizando todo o conhecimento de sua formação, e realizando a mesma com a aprovação do paciente.

Referências:

CFM. Conselho Federal de Medicina lança protocolo em Cirurgia Plástica para dar mais segurança ao ato médico. Acessado em < https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=21665:protocolo-em-cirurgia-plastica-&catid=3 > no dia 13/01/2018.

CFM. Normas Informativas e Compartilhadas em Cirurgia Plástica.  Acessado em < https://portal.cfm.org.br/images/cfm_normas.pdf > no dia 13/01/2018.

BARBOSA, M; MATOS, P; COSTA,M. Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje. Acessado em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822011000100004 > no dia 13/01/2018.

ECO, UMBERTO. História da Beleza. São Paulo: Record, 2004. KURY, LORELAI; HARGREAVES, LOURDES; VALENÇA, MÁSLOVA TEIXEIRA. Ritos do Corpo. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2000.

Kury, L., Hargreaves, L., & Valença, M. T. (2000). Ritos do corpo. Rio de Janeiro: SENAC Nacional.

ROWE, J; FERREIRA, V; HOCH, V. Influência da mídia e satisfação com a imagem corporal em pessoas que realizaram cirurgia plástica. Acessado em < http://docplayer.com.br/25536311-Influencia-da-midia-e-satisfacao-com-a-imagem-corporal-em-pessoas-que-realizaram-cirurgia-plastica.html > no dia 13/01/2018.

DINIZ, T. Sentir-se belo é regra da beleza sustentável. Acessado em < https://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4103.shtml > no dia 13/01/2018.

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Os percursos do corpo feminino na contemporaneidade

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O presente ensaio tem como objetivo mostrar a corporeidade ilustrada pelo corpo feminino idealizado, incorporado, de moda mais comum, em elementos relacionados a juventude e ao vigor referente a um corpo levado aos limites da potencialização de força e beleza. No que se refere às estratégias discutidas sobre o corpo nos meios de comunicação em geral, são justamente homens, mulheres, jovens e urbanas, objetos preferenciais. No entanto, esse corpo “ideal” é complexo, vivendo e afirmando-se como pessoa, cada um está em um contexto social e cultural por vezes marcado pela corporeidade canônica.

Com isso, para análise desse corpo ideal deve-se levar em conta a cena midiática, incluído os discursos da televisão, os meios em massa, principalmente os especializados em publicidade, sobretudo aquela voltada para o público feminino, comumente ancorada na valorização da beleza, da juventude, da sensualidade e da boa forma física. Na corporeidade, o corpo canônico é caracterizado pelo recurso de práticas gerais com propósito de reconfigurar o biológico, diluindo todo e qualquer “defeito” que esse alguma vez já possuiu. Nas concepções filosóficas, Aristóteles definira o corpo como instrumento da alma, um corpo sem alma não tinha funcionalidade. A existência do corpo físico estava intimamente ligada à alma.

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Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=XbotrqucYCg

O período em que nos encontramos, a referência de corpo nada mais é do que uma autoafirmação, a busca exacerbada por algo inalcançável, mas algo que está a venda, algo manipulado, de certa forma ao alcance da última proposta da medicina plástica, a aquisição sem esforço pelo corpo canônico, diferentemente da proposta de Aristóteles. No decorrer do século XX, o conceito de corpo em todos os âmbitos socioculturais sofreu mudanças radicais. Segundo Lipovetsky, o individualismo contemporâneo é uma fonte inesgotável de intensas e novas necessidades. A atenção voltada para o seu corpo, em forma de protesto ou não, pode esconder a falta ou ausência de alguns pilares de sustentação como a família, religião, política e escola (GOLDENBERG, 2002).

“Pode se dizer que, de modo panorâmico, ao longo do século XX o corpo passa por três estatutos culturais básicos: o corpo representado, o corpo representante e o corpo apresentador de si mesmo’’ (FONTES, p. 79). O corpo, na atualidade fala por si só, o lindo, o belo, o escultural é o que representa a pessoa. Jovens e adultos de periferias acreditam que esse padrão é uma forma de inserção no meio da sociedade com poder aquisitivo superior a eles. Porém, o que tem acontecido nos últimos anos é a busca rápida e efêmera desse padrão de beleza, e para isso as idas às academias já não são mais suficientes, por isso os jovens recorrem as cirurgias, um meio rápido mas nem sempre eficiente de adquirir a boa forma.

Segundo Sant’Anna (1995, p.61): “(…). O corpo é um jogo de armar, suscetível a todos os arranjos de combinações insólitas com outros corpos, ou a experimentações surpreendentes”. O jogo de armar citado por Sant’Anna, é a triunfal cartada das cirurgias plásticas que proporcionam a imagem não alcançada com os esforços frustrados das horas passadas nas academias de ginástica. Aos nossos olhos, esse “fenômeno” que temos presenciado, parece recente, mas nem tanto. Esse movimento pelos corpos construídos tomou força após o movimento da contracultura e guerra fria em que essa geração estava desiludida com os acontecimentos mundiais, onde buscavam m mundo sem guerra, solidário e livre. Nasce então a cultura narcisista, de corpos esculpidos, cultura da massa, não da massa popular, mas da massa muscular.

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Fonte: http://www.fcnoticias.com.br/cirurgia-plastica-abdominoplastia/

Os corpos inflados tornam-se atração, não há olhares que resistam, nem mesmo aqueles que são críticos. Hoje não há distinção do feminino para o masculino, elas disputaram e ganharam também esse direito de ter o corpo “ideal” ou o corpo da “atualidade”. Tal corpo feminino que antes, na Idade Média, era a fonte do pecado ou determinado somente a procriar, tem hoje, o título de canônico, ideal ou perfeito. Vivemos em uma sociedade onde a buscar pelo “corpo perfeito” é uma prioridade essencial. Para que uma pessoa (em especial as mulheres) possa se encaixar nesta sociedade ela tem que passar por algumas mudanças que são impostas, são normas e regras tidas muitas vezes como injustas e desleais. A mídia e a indústria da beleza somam foças juntas para que esta idealização deste “corpo perfeito” seja vigente na sociedade.

As mulheres são o alvo principal desta busca frenética por beleza estética e intervenções cirúrgicas. A autora Malu Fontes faz uma análise e denomina este corpo tão idealizado como corpo canônico que seria um corpo que segue as regras de “perfeição” imposta pela sociedade e mídia. Pessoas que não se encaixam nestes atributos são intituladas de corpos dissonantes, não tendo assim uma boa aceitação do grupo social em que vivem; estes indivíduos sofrem, pois seus corpos servem de elemento de angústia, pois não consegue se colocar no mercado de beleza para servir de atrativo e espetáculo para uma sociedade marcada pelo consumo de estereótipos.

Há um alto consumo de bens e produtos para se ter um corpo desejável, propagandas veiculadas na TV ajudam que esta busca não cesse. A mídia tem feito propagandas a uma “ditadura” de que o corpo ideal é aquele com perfeita formação, sem defeitos naturais. Modelos com corpos esculturais são utilizados como um padrão para toda uma sociedade, tal ato se torna injusto, pois para se ter este “corpo perfeito” tem que estar atento a todas as mudanças deste modelo corpóreo. Segundo o livro Corpos Mutantes, ressaltar os padrões que hoje definem o corpo canônico da mídia, significa aceitar que tal modelo sofre alterações ao logo do tempo, e tais alterações são muitas das vezes difíceis de ser obtidas.

O corpo canônico é a versão mais sofisticada do body-building dos anos 80/90, ele é a construção a partir de todos os artifícios e recursos disponíveis, seja por medicamentos, inibidores e suplementos alimentares, alteres e horas exaustivas de malhação e até pelo recurso do bisturi. As mídias de massa tem empurrado uma grande maioria ao desejo de consumo, na busca do corpo perfeito. Tem se cultivado o narcisismo e elevado a busca de afirmação da autoimagem. “Assim, o sujeito busca sempre a estetização de si mesmo, transformada na finalidade crucial de sua existência” (BIRMAN, 2001, p.84).

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Fonte: http://segredosdomundo.r7.com/selfie-na-academia-e-sinal-de-problemas-psicologicos/

O corpo canônico é um corpo que é capaz de atender às necessidades exigidas socialmente,”nesse contexto, a mídia se destaca como instrumento fundamenta para que se forje o polimento exaltado de si-mesmo pelo indivíduo, que se esmera então para estar sempre presente nos meios de comunicação de massa, em jornais ou televisão” (BIRMAN, 2001, p.167). O que não necessariamente seja sinônimo de beleza plena ou perfeição tendo em conta a subjetividade do ser humano, mas precisa ser um corpo magro e saudável.

(…) a cultura da imagem é o correlato essencial da estetização do eu, na medida em que a produção do brilhareco social se realiza fundamentalmente pelo esmero desmedido na constituição da imagem pela individualidade. Institui-se assim a hegemonia da aparência, que define o critério fundamental do ser e da existência do eu, o sujeito vale pelo que parece ser, mediante as imagens produzidas para se apresentar na cena social, lambuzado pela brilhantina eletrônica (BIRMAN, 2001, p. 167).

Com toda esta demanda pela busca da perfeição corporal, podemos observar que as pessoas estão cada dia mais vivendo um simulacro de existência; as mídias eletrônicas, propagandas e todos os tipos de veículos de comunicação de massa que reforçam ainda mais a busca por beleza, incentivam aqueles que querem estar na posição do corpo perfeito e desejável a irem ao encontro desse ideal.

A premissa de que corpos musculosos, esbeltos e saudáveis longe de qualquer sinal de velhice é o adjetivo ideal para se ter uma vida feliz e satisfatória, tem sido o slogan da nossa sociedade contemporânea. “O belo supremo está na Ideia, que equivale ao “belo em si”; quanto um ser humano pretende realizar algo belo, pode fazê-lo apenas a partir da Ideia. As almas e os corpos são belos apenas devido à sua proximidade em relação à Ideia do belo. Sua beleza é transitória: somente a Ideia do belo é eterna” (TATARKIEWICK apud KIRCHOF, 2003, p. 146).

Encerramos essa discussão de corpo ideal, com uma ligeira compreensão do que é belo, segundo a concepção de Platão, em que ele ressalta que a beleza está para além da imagem ou de paixões, ela se concretiza em um conceito abstrato que se perpetua pela eternidade. Então podemos dizer que o que hoje pode ser belo, amanhã não será ou será para sempre na ideia daquele que percebe a beleza, íntima e subjetiva pertencente a cada um que a idealiza.

REFERÊNCIAS:

BIRMAN, Joel. MAL-ESTAR NA ATUALIDADE: A PSICANÁLISE E AS NOVAS FORMAS DE SUBJETIVAÇÃO./ Joel Birman. – 3ª ed. – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.

 

CRISÓSTOMO, Nadjane et al. OS PERCURSOS DO CORPO NA CULTURA CONTEMPORÃNEA – Malu Fontes. 2010. Disponível em: <http://asticsnaformacaodosprofessores.blogspot.com.br/2010/07/os-percursos-do-corpo-na-cultura.html>. Acesso em: 07 de setembro de 2016.

 

KIRCHOF, Edgar Roberto. A ESTÉTICA ANTES DA ESTÉTICA: de Platão, Aristóteles, Agostinho, Aquino e Locke a Baumgarten./ Edgar Roberto Kirchof.- Canoas: Ed. ULBRA, 2003.

 

NASCIMENTO, Diego Ebling do; AFONSO, Mariângela da Rosa. Os corpos na sociedade contemporânea. 2014. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd190/os-corpos-na-sociedade-contemporanea.htm>. Acesso em: 05 de Setembro de 2016.

 

SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de, Et al. POLÍTICAS DO CORPO. São Paulo: Estação Liberdade, 1995.

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As cirurgias plásticas que encantam e assustam

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Seios fartos, lábios carnudos, cintura fina acompanhada de uma barriga reta, pernas grossas e definidas, isso um pouco, aquilo muito e assim vão sendo as várias modificações feitas com cada vez mais frequência por pessoas com diferentes objetivos. Pensando em alcançar um nível de beleza padronizado pela sociedade atual, homens e mulheres de todas as idades, passam a utilizar as mais diversas alternativas ligadas às cirurgias plásticas.

 

A lipoaspiração colocou o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de cirurgias plásticas estéticas em 2011. Os dados são da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (Isaps) junto a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBPC), e outras entidades, cuja pesquisa listou os dez países com maior número de cirurgias plásticas do mundo. O Brasil, com 905.124 procedimentos, ficou atrás apenas dos Estados Unidos, que realizou 1.094.146 no mesmo ano. A pesquisa também mostra que o Brasil quase dobrou o número de cirurgias estéticas realizados nos últimos anos, com 97,2% de crescimento.

Segundo o membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Ruben Penteado, uma das maiores preocupações dos cirurgiões é explicar à sociedade que o sucesso de uma cirurgia plástica também envolve a escolha de um profissional gabaritado. “Dados do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Cremesp, revelam que cerca de 97% dos médicos que respondem a processos éticos-profissionais relacionados a cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, não possuem título de especialista na área”, diz o médico.

Ainda de acordo com Penteado, é muito importante prestar atenção às propagandas enganosas. A publicidade médica irregular é a infração mais recorrente nos processos analisados pelo Cremesp que envolvem a cirurgia plástica e os procedimentos estéticos. Esta prática abrange ações que vimos com freqüência como a exposição de pacientes (mostrando o “antes” e o “depois”), a divulgação de técnicas não reconhecidas e de procedimentos sem comprovação científica.

 

 

Nem sempre a busca pelas cirurgias plásticas segue pelos melhores caminhos, com procedimentos cirúrgicos realizados por profissionais qualificados, por isso cresce também o número de denúncias e casos referentes às inúmeras consequências negativas que uma cirurgia não realizada dentro dos padrões legais pode causar. A diretora técnica da Medicatriz Dermocosméticos, que é farmacêutica e pós-graduada no setor de cirurgia plástica da UNIFESP (SP), Dra. Sheila Gonçalves, falou sobre um dos produtos aplicados que recentemente deixou a atriz e apresentadora, Andressa Urach em estado grave de saúde, depois de aplicar um produto conhecido como hidrogem nas coxas.

“Diferente do implante de silicone, o hidrogel é aplicado diretamente no local e serve para preencher volumes no corpo. O corpo humano é feito para combater qualquer corpo estranho dentro do organismo e, no caso dela, provavelmente a grande quantidade de produto desencadeou o processo inflamatório”, enfatiza Sheila ressaltando que no caso de Andressa, a inflamação não foi decorrente de manuseio incorreto do produto na hora da aplicação, caso contrário ela teria sentido dores dias após o procedimento. O problema dela se deu ao longo do tempo. É um risco que pode acontecer com qualquer pessoa que utiliza o produto em exagero.

Mesmo sabendo dos bens físicos e mentais que uma cirurgia plástica pode trazer para a vida do ser humano é de total relevância que antes de realizar qualquer cirurgia, a pessoa busque se informar com profissionais qualificados, conhecidos no mercado, com boas indicações. As vezes pela ansiedade de mudar algo no corpo, pensando em melhorar a autoestima e se sentir melhor com sigo mesmo, o público interessado, busca o mais rápido e mais barato, o que pode acarretar a uma série de consequências que dependendo da situação, gera sequelas por toda a vida. Já foram registrados vários casos de pessoas que chegaram a óbito por cirurgias plásticas realizadas de forma incorreta.

Todo cuidado é pouco e com saúde não se brinca, vale mais a espera por um bom resultado, do que a pressa que neste caso, pode sim, ser a grande inimiga da perfeição.

 

Fonte: Veja São Paulo

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