Cirurgia plástica: culto ao corpo contemporâneo

O indivíduo por sua aparência, instaura uma nova moralidade, a da “boa forma”, referindo-se à juventude, beleza e saúde e, consequentemente, acentua a representação do eu como meio de expressão

De acordo com o Conselho Federal de Medicina, a cirurgia plástica pode ser definida como uma especialidade médica, reconhecida pelo mesmo e pela Associação Médica Brasileira, requerendo pré-requisitos e conhecimentos técnicos e científicos adquiridos na graduação e/ou pós-graduação (residência e/ou especialização), visando tratar doenças e deformidades anatômicas, congênitas, adquiridas, traumáticas, degenerativas e oncológicas, suas consequências, promovendo também uma melhor qualidade de vida do indivíduo.

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História do corpo

Desde antigamente até os dias atuais o corpo sempre foi enfoque de debates. Até o advento da Modernidade, ainda sob forte influência da igreja, o culto ao corpo era desencorajado e a alma era superior ao corpo. De acordo com Rosário (2006), o homem medieval era bastante contido, já que a instituição religiosa tolhia manifestações criativas. Não é segredo que o Cristianismo dominou durante a Idade Média, influenciando comportamentos, assim como traquejos corporais da época. Tal cenário resultou em uma maior rigidez dos valores morais em relação ao corpo, sendo traçada a preocupação em separar corpo e alma, sobrepujando a potência da segunda sobre a primeira.

O corpo tornou-se objeto do capitalismo a partir do século XX, onde ganhou um papel de maior importância e passou a ser cultuado. O chamado culto ao corpo, longe de servir como guia claro de orientação para os comportamentos de indivíduos ou grupos, gera um paradoxo na cultura de classe média.

O indivíduo por sua aparência, instaura uma nova moralidade, a da “boa forma”, referindo-se à juventude, beleza e saúde e, consequentemente, acentua a representação do eu como meio de expressão facilmente compreendido em “um contexto social e histórico particularmente instável e mutante, no qual os meios tradicionais de produção de identidade como a família, religião, política, trabalho encontra-se diminuídos” (ECO, 2004).

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Todos os seres humanos são iguais do ponto de vista biológico. As inúmeras variações – de cor, de estrutura, de traços, de textura dos cabelos – que diferenciam os povos e os indivíduos não alteram as características básicas da espécie homo sapiens (KURY; HARGREAVES, 2000). Com o advento de novas tecnologias, em especial da mídia aliada a marketing de produtos e procedimentos que exaltam o corpo, começou-se a supervalorização do mesmo, que levou e ainda leva as pessoas a buscarem o inalcançável corpo perfeito. 

A influência da mídia

A mídia sem dúvidas é um fator de importante ou talvez principal influência que leva vários jovens a passarem por procedimentos estéticos cirúrgicos. A sociedade atual cultua o corpo e muitas vezes o coloca como superior à alma, o que é totalmente o oposto da visão de corpo do século XVII. A mídia definiu como corpo perfeito aquele que seja magro e curvilíneo.

A todo o momento pode-se ver lindas mulheres e lindos homens, incluindo diversos famosos nas capas de revistas, exibindo seus corpos perfeitos. No entanto, o público, muitas vezes, esquece que essas fotos passam por vários aperfeiçoamentos de imagens computadorizadas. Acabam por rotular o corpo ideal, e quem não segue não está dentro dos padrões, sendo assim, são influenciados a buscar obsessivamente um corpo ideal e perfeito que muitas vezes não existe.

As propagandas mostram homens e mulheres cada vez mais magros, as lojas de roupas estão com os manequins cada vez menores, e o acesso em clínicas de estética está cada vez mais ao alcance das pessoas. “Os números de cirurgias plásticas aumentam e possibilitam conquistar o padrão de beleza imposto pela sociedade.” (AZEVEDO, 2007).

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O padrão de beleza mostrado pela mídia tem levado milhares de jovens em busca da conformidade imposta pela sociedade. Os critérios de valoração foram deslocados para exterioridade, fazendo com que a geração de jovens atual seja cada vez mais narcisista, fazendo do corpo e das sensações produzidas por estes como elementos centrais da vida pública de cada um. O resultado é uma maior necessidade da aceitação da sociedade, que leva os jovens a recorrerem malhações exageradas, dietas rigorosas, e principalmente, procedimentos estéticos cirúrgicos.

De acordo com a psicanalista Esther Woiler, “A depressão é feia”, e resume a autoimagem como “uma construção de base emocional. O modo como você está se percebendo emocionalmente pode distorcer a sua imagem corporal”. E o fato de que muitas pessoas, atualmente, estarem insatisfeitas com os seus corpos é uma demonstração de que a estratégia da indústria da beleza funcionou.

Cirurgias plásticas mais procuradas por jovens, sendo eles homens e mulheres

De acordo com o Conselho Federal de Cirurgia Plástica, a cirurgia plástica estética mais procurada por mulheres é a Cirurgia de mama, seja ela de redução ou inserção de silicone. Em segundo vem a Lipoaspiração, procedimento este que é realizado através da retirada de gordura corporal de áreas localizadas, e em terceiro temos a Rinoplastia, cirurgia corretora do nariz.

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Antes cirurgias plásticas eram mais realizadas em mulheres devido o preconceito enraizado em nossa sociedade e que até hoje é presente, no entanto, mais ameno. Atualmente muitos homens não são satisfeitos com seus corpos, desta maneira quebram paradigmas, pois o número de procura por procedimentos estéticos tem crescido cada vez mais. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirma que entre 2009 e 2014, a quantidade de procedimentos passou de 72 mil para 276 mil ao ano. A redução das mamas (ginecomastia), a lipoaspiração e a cirurgia de pálpebras lideram o ranking de procedimentos mais realizados entre os homens.

Principais deveres dos médicos em relação ao paciente que procura por um procedimento cirúrgico

É dever do médico fornecer amplas informações quanto ao diagnóstico e prognóstico, manter o sigilo e aplicar as melhores técnicas no procedimento cirúrgico, devendo ainda conversar com o indivíduo sobre as possibilidades de resultado e os possíveis riscos, sendo indispensável o consentimento do paciente para a realização da cirurgia. Os artigos 46, 48 e 53 do capítulo de Direitos Humanos do Código de Ética Médica destaca justamente esse esclarecimento médico, e do seguido consentimento do paciente. É válido lembrar que o procedimento só não vai precisar de consentimento do indivíduo quando for uma situação de emergência, como também diz o artigo 46.

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E, de acordo com o artigo 57, é vedado ao médico “deixar de utilizar todos os meios disponíveis de diagnóstico e tratamento a seu alcance em favor do paciente.” Depreende-se assim que, cabe ao médico cirurgião comunicar-se de forma clara com o paciente, explicando-lhe o procedimento, os riscos e resultados de acordo com cada caso, procurando as melhores técnicas para a realização da cirurgia, utilizando todo o conhecimento de sua formação, e realizando a mesma com a aprovação do paciente.

Referências:

CFM. Conselho Federal de Medicina lança protocolo em Cirurgia Plástica para dar mais segurança ao ato médico. Acessado em < https://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=21665:protocolo-em-cirurgia-plastica-&catid=3 > no dia 13/01/2018.

CFM. Normas Informativas e Compartilhadas em Cirurgia Plástica.  Acessado em < https://portal.cfm.org.br/images/cfm_normas.pdf > no dia 13/01/2018.

BARBOSA, M; MATOS, P; COSTA,M. Um olhar sobre o corpo: o corpo ontem e hoje. Acessado em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822011000100004 > no dia 13/01/2018.

ECO, UMBERTO. História da Beleza. São Paulo: Record, 2004. KURY, LORELAI; HARGREAVES, LOURDES; VALENÇA, MÁSLOVA TEIXEIRA. Ritos do Corpo. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2000.

Kury, L., Hargreaves, L., & Valença, M. T. (2000). Ritos do corpo. Rio de Janeiro: SENAC Nacional.

ROWE, J; FERREIRA, V; HOCH, V. Influência da mídia e satisfação com a imagem corporal em pessoas que realizaram cirurgia plástica. Acessado em < http://docplayer.com.br/25536311-Influencia-da-midia-e-satisfacao-com-a-imagem-corporal-em-pessoas-que-realizaram-cirurgia-plastica.html > no dia 13/01/2018.

DINIZ, T. Sentir-se belo é regra da beleza sustentável. Acessado em < https://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4103.shtml > no dia 13/01/2018.

Psicóloga egressa do Ceulp/Ulbra. Pós-graduanda em Terapia de casal: abordagem psicanalítica (Unyleya). Colaboradora do Portal (En)cena.