Metaverso: fuga ou realidade alternativa?

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Um mundo virtual é um ambiente digital interativo projetado para simular a realidade ou criar uma realidade completamente nova. Nele, os usuários podem explorar e interagir com objetos, pessoas e ambientes virtuais por meio de avatares ou representações digitais de si mesmos.

Schlemmer, Backer (2015), citam que os mundos virtuais oferecem aos usuários a oportunidade de experimentar uma ampla gama de atividades, como explorar paisagens virtuais, interagir com outros usuários em tempo real, participar de jogos e desafios, construir e personalizar seu próprio espaço digital e até mesmo criar objetos e conteúdos digitais.

Esses ambientes virtuais são frequentemente acessados por meio de computadores, consoles de jogos ou dispositivos de realidade virtual. Além disso, com o avanço da tecnologia, como a realidade virtual e a realidade aumentada, a imersão e a interação nos mundos virtuais estão se tornando cada vez mais sofisticadas e envolventes. (FERNANDES, 2022).

Os mundos virtuais têm aplicações em diferentes setores, como entretenimento, educação, treinamento, colaboração empresarial e terapia. Eles oferecem possibilidades de interação social, aprendizado colaborativo, experiências imersivas e experimentação de cenários virtuais que podem complementar ou até substituir as atividades do mundo real.

No entanto, é importante lembrar que os mundos virtuais são construções digitais e não substituem completamente a vida real. Embora possam oferecer experiências emocionantes e oportunidades de conexão, é essencial manter um equilíbrio saudável entre o mundo virtual e as interações do mundo real. Um exemplo do que já está sendo falado é o metaverso. 

Segundo Basso (2021), o metaverso é um conceito que se refere a um espaço virtual tridimensional onde pessoas podem interagir e se conectar entre si, assim como com objetos e ambientes digitais. É um ambiente virtual imersivo que combina realidade virtual, realidade aumentada, internet das coisas e outras tecnologias.

No metaverso, os usuários podem criar avatares personalizados e explorar mundos virtuais, participar de eventos, jogar, socializar, fazer negócios e até mesmo realizar atividades do mundo real, como conferências, educação e comércio. Ele oferece uma experiência mais imersiva e interativa do que as plataformas digitais convencionais (SCHLEMMER, BACKES, 2015). 

Embora o conceito de metaverso tenha ganhado destaque recentemente, especialmente com grandes empresas de tecnologia mostrando interesse nesse campo, ainda está em desenvolvimento e não existe um metaverso totalmente estabelecido atualmente. Empresas como Facebook (agora Meta), Microsoft, Epic Games e outras estão investindo em tecnologias e infraestrutura relacionadas ao metaverso. 

Fonte: Pixabay

O objetivo do metaverso é criar um ambiente virtual compartilhado, acessível a pessoas de diferentes partes do mundo, permitindo a interação e colaboração em escala global. No entanto, questões como privacidade, segurança, acessibilidade e inclusão ainda precisam ser abordadas para que o metaverso possa ser uma realidade amplamente adotada e benéfica para a sociedade.

Embora o conceito de metaverso oferece várias possibilidades e potenciais benefícios, também existem preocupações e impactos negativos associados a ele. 

Assim como os jogos online, o metaverso pode levar ao vício e à dependência, resultando em problemas de saúde física e mental, além de prejudicar as relações pessoais e o desempenho acadêmico ou profissional. Existe o risco de que as pessoas se tornem isoladas do mundo real, substituindo relações e experiências reais por conexões virtuais. (GARCIA; BARBOSA, 2021). 

Fernandes (2022) aponta em seu trabalho que a participação plena no metaverso requer acesso a tecnologias avançadas, como dispositivos de realidade virtual ou realidade aumentada, que podem ser caros e inacessíveis para muitas pessoas. Isso pode criar uma divisão digital e ampliar a desigualdade entre os que têm acesso e os que não têm.

O metaverso pode levantar preocupações sobre privacidade e segurança dos dados pessoais. À medida que os usuários compartilham informações pessoais e interagem com outros no ambiente virtual, há o risco de violações de privacidade e exposição a fraudes ou ataques cibernéticos. (SABINO, 2020). 

O metaverso pode levar à confusão entre o que é real e o que é virtual, especialmente para os mais jovens. A imersão total em um ambiente virtual pode distorcer a percepção da realidade e dificultar a distinção entre a experiência virtual e o mundo real. O foco excessivo no metaverso e na vida virtual pode levar à negligência de questões do mundo real, como problemas sociais, ambientais e políticos, que exigem atenção e ação concreta. (FERNANDES, 2022). 

De acordo com Garcia e Barbosa (2021), é importante abordar essas preocupações e garantir que o desenvolvimento e a adoção do metaverso sejam guiados por considerações éticas, responsabilidade social e preocupações com o bem-estar das pessoas. A regulação adequada, a conscientização dos usuários e a promoção de um equilíbrio saudável entre a vida virtual e real são elementos essenciais para minimizar os impactos negativos do metaverso.

Diante destas questões podemos concluir que o objetivo pode ser realmente uma alternativa mais acessível para que todas as pessoas tenham mais acessos e relações mais próximas, no entanto no metaverso, assim como no mundo virtual, possibilita criarmos, editarmos ou apagarmos qualquer informação, da forma que nos tornamos perfeitos ou a nossa melhor versão, digamos assim. Então lanço novamente a pergunta: será mesmo que o metaverso é só uma realidade alternativa ou uma fuga de nós mesmos? 

Referências: 

BASSO, Letícia. O metaverso já está na nossa realidade. Você já sabe o que é?. Voitto, 2021. 

FERNANDES, P. Marquésia. Crimes Digitais na Era do Metaverso no Brasil, Goiânia: Pontifícia Universidade Católica de Goiás, 2022. 

GARCIA, L. Jardel; BARBOSA, V. Marcos. Presença e Virtualidade: dos espaços físicos aos metaversos. Porto Alegre: FACULDADE CMB, 2021. 

SCHLEMMER, Eliane; BACKES, Luciana. Aprender a ensinar em um contexto híbrido. São Leopoldo: UNISINOS, 2015. 

SABINO, Marco Antonio da Costa. Afinal, existe mesmo anonimato na internet. 2020. 

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(En)Cena entrevista a psicóloga Lêda Gonçalves de Freitas

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No dia 22/11 o CAOS/2022 irá contar com a psicóloga Leda Gonçalves de Freitas.

A edição do CAOS de 2022 contará de diversas apresentações, dentre estas, teremos a ilustre presença da psicóloga com currículo internacional, Lêda Gonçalves de Freitas, Pós-doutora em Psicossociologia pelo Conservatoire National de Arts et Métiers (CNAM), em Paris. Doutora em Psicologia Organizacional e do Trabalho pela Universidade de Brasília (UnB). Vice-coordenadora do Grupo de Trabalho: “Trabalho, Subjetividade e Práticas Clínicas” da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP). Docente do programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília (UCB). Sua palestra terá como foco o tema Trabalho Plataformizados e a devastação dos sujeitos.

Em entrevista concedida ao portal (En)Cena, a palestrante respondeu algumas perguntas sobre sua participação no evento.

En (Cena) – No Brasil, como tem sido recebida esta modalidade, quais os riscos psicológicos que acompanham um trabalho plataformizado?

De acordo com o IPEA (2021), no Brasil há em torno de 1,5 milhão de pessoas que trabalham no transporte de pessoas e na entrega de mercadorias, sendo que, a maioria 61,2% é de motoristas de aplicativo ou taxistas. Esses trabalhadores são contratados sem qualquer vínculo empregatício e atuam como trabalhadores autônomos. Pesquisa realizada pelo nosso Laboratório de Pesquisa “Trabalho, sofrimento e ação” com motoristas e entregador-ciclista revelou que a carga horária de trabalho chega a mais de 10hs por dia e 6 dias por semana. Os rendimentos são baixos e é preciso trabalhar muito para compensar os gastos com a manutenção do transporte, gasolina e a sobrevivência. Ademais, todo o controle do trabalho é feito pelos algoritmos dos aplicativos. Os motoristas não controlam o percentual que fica para o aplicativo. Além disso, ficam expostos tão desigualmente. Muitos trabalhadores gostariam de ter trabalho formalizado e em melhores condições.

En (Cena) – Dentro destas plataformas de serviço, seria possível afirmar que há uma forte violação às condições psicológicas laborais em prol da satisfação do cliente?

O trabalho tem entre tantas funções, o equilíbrio psíquico do sujeito que trabalha, pois, o trabalho é encontro com outros e é realização pessoal pela utilidade da tarefa realizada. Nas pesquisas, os trabalhadores sentem satisfação em levar um alimento para uma pessoa idosa, transportar alguém que necessita de cuidados, então, há sentimento de utilidade. Por outro lado, a pressão de um patrão que ninguém conhece, os algoritmos, pois precisam estar logados, fazer um determinado número de corridas para continuarem no aplicativo, mais o controle do trabalho precarizado fazem com os trabalhadores tenham sentimentos de não-valor. Assim, há tristezas e preocupações em ganhar vida por meio desses aplicativos.

En (Cena) – Tudo são martírios nesta modalidade? A sociedade em geral deveria fazer uma “mea culpa” sobre a adesão destes serviços ou tal situação deve ser limitada aos debates políticos e acadêmicos?

O contexto do capitalismo contemporâneo é de muita valorização desses aplicativos. Como não há reflexão sobre essa lógica da plataformização do trabalho, não vejo estrutura cognitiva para se fazer “mea culpa”. Seria importante, se estivéssemos num país com democracia plena, que refletissem sobre os efeitos psíquicos de uma sociedade consumida pela lógica de um capitalismo plataformizado. Esse debate deveria estar em nosso cotidiano  com vista a pensar a saúde mental contemporânea.

En (Cena) – Existe alguma sugestão para evitar os desgastes psicológicos brutais que essa modalidade laboral pode causar?

Penso que, para não ter um cansaço permanente de telas, ansiedades e até depressões, seria importante, quem trabalha com esses aplicativos estabelecer horários de distanciamento, além de, participar de escutas do sofrimento no trabalho com o objetivo de compreender os efeitos desse mundo do trabalho na saúde mental.

En (Cena) – Brindar as jovens mentes nestes congressos é algo único, seu tema é extremamente relevante socialmente, pois discute uma das vertentes do futuro do mercado de trabalho, e, portanto, essencial para a sociedade. Como psicóloga, em sua opinião, quais seriam as contribuições que um profissional que atue com ênfase em psicologia organizacional poderia contribuir para o aperfeiçoamento desta modalidade laboral?

Eu não sou psicóloga, sou doutora em psicologia organizacional e do trabalho. Neste lugar de pesquisadora que atua com pesquisa-intervenção, penso que as contribuições dos profissionais, primeiro, entender esse novo mundo do trabalho tão precário que favorece as intensas desigualdades sociais. Segundo, ao atuar em gestão de pessoas, proporcionar espaços de escuta dos trabalhadores para que, por meio do falar e sentir, construam estratégias de ação para minimizar as dificuldades no trabalho. 

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