A crise sanitária ocasionada pela pandemia da Covid-19 foi um dos fatores que provocaram o aumento da violência doméstica contra a mulher. A informação é do Ministério da Família e dos Direitos Humanos (MFDH), baseado na coleta de informações, no ano anterior. Conforme a pasta foi registrada mais de 100 mil denúncias de violência contra a mulher, nesse período. Os dados divulgados são alarmantes, e reforça a necessidade da denúncia do agressor para coibir esse tipo de criminalidade, que tem tido um crescimento, nos últimos anos.
De acordo com o Atlas da Violência, uma mulher é assassinada no Brasil, a cada 2 horas. Situação que tem preocupado organizações governamentais e não governamentais. Nesse sentido, o Governo Federal, por meio do MFDH disponibiliza o disque denúncia, pelo número 180, Central de Atendimento de Ajuda a Mulher, bem como as delegacias estaduais oferecem 197. Medidas adotadas para evitar o número de mulheres agredidas, em suas violências. As mulheres, que se sentirem vítimas, podem realizar o boletim de ocorrência virtual, caso tenham sido impedidas de sair de seu lar.
Minayo (2005) explica que o machismo provoca o aumento dos casos de violência, a partir do momento que o agressor se sente proprietário da mulher. “No caso das relações conjugais, a prática cultural do “normalmente masculino” como a posição do “macho social” apresenta suas atitudes e relações violentas como “atos corretivos” (Minayo, 2005). Nessa perspectiva, a pesquisadora aponta que é preciso rever os conceitos da cultura brasileira, em que o homem está inserido (MacDonald, 2013) reforça que a violência contra a mulher acontece em todos os quatro cantos do mundo, sendo que esse tipo de violência tem suas raízes na discriminação e na visão que a mulher é um ser frágil e submisso ao homem.
Fonte: Freepik
Sobre esse assunto, a Netflix lançou esse mês, a série Maid, que retrata justamente a violência contra a mulher, mas com foco na violência psicológica, que muitas das vezes, não é vista como violência, por não ter acontecido uma agressão física. A narrativa gira em torno da personagem feminina Alex, que durante a madrugada foge com sua filha Maddy, de apenas dois anos, em um ato desesperado, por não aguentar mais a tortura psicológica, em que era submetida pela então companheiro e pai de sua filha. Sem emprego, dinheiro e uma conta bancária, a jovem mãe vê-se obrigada a procurar ajuda em um abrigo, quando entende que foi vítima de violência psicológica.
No início a jovem não queria aceitar sua condição de vítima, mas a partir do momento em que compreendeu sua situação de vulnerabilidade, realizou a denúncia, e foi encaminhada para uma casa de apoio a mulheres vítimas de violência física e psicológica. Para poder ter a guarda da filha, Alex interpretada pela atriz, Margaret Qualley, foi trabalhar como empregada doméstica, em diversas casas, com objetivo de sustentar a criança e encontrar um lar seguro, distante de todo tipo de violência. A drama prende o telespectador, no sentido de identificação com a personagem.
A minissérie tem feito tanto sucesso, que muitas mulheres têm relatado suas histórias de violência doméstica, e outras clareando suas mentes pelo que tem vivido em suas casas ao lado do agressor. Destaca-se que os 10 episódios são baseados na história real de Stephanie Land, que escreveu sua biografia na obra “Superação: Trabalho Duro, Salário Baixo e o Dever de Uma Mãe Solo”. Considerado um dos mais vendidos pelo jornal New York Times, o enredo traz sobre a vida de Land, que vive abaixo da linha da pobreza e buscou ajuda do governo e trabalhar como doméstica para sobreviver e sair do retrato da violência.
Fonte: Divulgação Netflix
No Brasil para combater a violência contra a mulher foi aprovado em 2006, a Lei 11.340, mais conhecida como a Lei Maria da Pena, que criminaliza a violência doméstica e familiar contra a mulher, bem como busca prevenção, por meio de medidas protetivas, quando feita a denúncia. Em seu título II, a lei explica que a violência pode acontecer em diversas formas, como a física, psicológica, sexual, patrimonial e material. Segundo o artigo 5º, da Lei Maria da Penha, violência doméstica e familiar contra a mulher é “qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.
Caso conheça algum caso de violência contra a mulher, denuncie. Não deixa o agressor impune. Muitas mulheres não têm força para denunciar, mas seja o vizinho que irá ajudar a pôr fim a um ciclo de violência familiar. Como já foi mencionado, é somente ligar no 180, central de atendimento, ou na delegacia da sua região, pelo 197.
REFERÊNCIAS
Brasil, Atlas da Violência (2020). Disponível em <https://www.netflix.com/br/title/81166770> Acessso. 23, de out, de 2020.
Brasil, Ministério da Família e dos Direitos Humanos (2020).
MacDonald, M. (2013). Women prisoners, mental health, violenceand abuse. International Journal of Law and Psychiatry.
Mynaio, M.C. Laços perigosos entre machismo e violência(2005). Disponível em <https://www.scielo.br/j/csc/a/gvk6bsw36SPbzckFxMN6Brp/?lang=pt&format=pdf> Acesso: 23, de out de 2021.
Netflix, Maid. Disponível em < https://www.netflix.com/br/title/81166770> .Acesso, 23 de out,de 2021.
Brasil, Planalto Central. Lei 11.340. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm> Acesso. 23, de out de 2021.
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A importância do Dia Mundial da Alimentação no combate a fome e a pobreza mundial
Celebrado no dia 16 de outubro, o Dia Mundial da Alimentação tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da nutrição com uma alimentação adequada. A temática, esse ano, será “As nossas ações são o nosso futuro. Melhor produção, melhor nutrição, melhor ambiente e melhor qualidade de vida”. A iniciativa tem como meta relembrar que ainda muitas pessoas passam fome nos quatros cantos no mundo, bem como propor soluções para colocar fim a esta problemática.
Fonte: www.mundodastribos.com
Conforme a Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO), a edição 2021 tem grande impacto por acontecer na pandemia de Covid 19, que desencadeou uma desaceleração da economia mundial e a diminuição da renda familiar, o que afeta justamente a subsistência, ou seja, falta comida na mesa. A pandemia teve um efeito devastador sobre a segurança alimentar no Brasil. Segundo a FAO, 50 milhões de brasileiros vivem em situação de insegurança alimentar devido ao desperdício de alimentos, bem como as condições inadequadas de colheitas. A entidade explica que uma alimentação adequada saudável deve ser um direito permanente e sustentável, e para isso acontecer é preciso de uma Política de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil. No entanto, como mencionado, a pandemia trouxe novamente o retrato da fome no Brasil, que tem como as crianças as mais afetadas.
De acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), com a pesquisa “Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid 19, no Brasil”, 55,2% das famílias brasileiros encontram-se em insegurança alimentar e 9% convive com a fome total, sendo que menos da metade dos municípios brasileiros, o que equivale a 44,8% tinha em seus moradores a segurança alimentar. Os dados são alarmantes e assustadores, e quem mais sofre com essa crise alimentar é a zona rural, informou a pesquisa, realizada este ano. As regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas com a pandemia, o que ocasionou um aumento do número de desempregados e endividados.
A pesquisa foi realizada nos domicílios brasileiros com o intuito de buscar informações sobre a atual situação das famílias com a crise sanitária da Covid 19, para a tomada de decisões públicas e mobilização da sociedade civil e organizada. Nesse sentido que Maria de Fátima de Albuquerque (2009) evidencia que o direito à alimentação adequada irá se concretizar quando homens, mulheres e crianças tiverem acesso físico e econômico, sem interrupção, dos meios para sua obtenção. Em seu ponto de visto, a desigualdade precisa ser combatida para que todos possam usufruir de uma boa alimentação, por meio de ações progressistas e com o apoio do Estado, o qual é responsável pela elaboração de políticas públicas de Estado.
Fonte: Adobe Stock
A Associação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (Abrand) destacou em artigo que para garantir um caminho no avança da segurança alimentar e nutricional, além da soberania alimentar é preciso superar as violações ao Direito Humano da Alimentação. Para a organização, é preciso que a sociedade civil busca apoderar-se de informações para assim exigir a efetivação dos direitos humanos, consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a promoção da vida, dignidade humana, que passa por uma alimentação nutritiva, ou seja adequada.
Enquanto o mundo ainda passa pela onda da pandemia da Covid 19, é preciso oferecer um olhar acolhedor para as pessoas em situação de vulnerabilidade. A insegurança alimentar, em resumo, é passar fome. Um cenário devastador que assombra inúmeras famílias que não têm o que comer. Por isso, ajude quando puder. Entre em contato com Organizações Não Governamentais (ONGs) que irão direcionar suas doações. Às vezes, pode ser a pessoa que mora ao seu lado. Juntos podemos construir um mundo melhor.
REFERÊNCIAS
Albuquerque, Maria de Fátima: A segurança alimentar e nutricional e o uso da abordagem de direitos humanos no desenho das políticas públicas para combater a fome e a pobreza1 Disponível https://www.scielo.br/j/rn/a/K8QycNXpRNRs8GxWhFCmDBP/?format=pdf&lang=pt4. Acesso 09 de out, de2021
Associação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos (2010). Disponível em < https://www.redsan-cplp.org/uploads/5/6/8/7/5687387/dhaa_no_contexto_da_san.pdf>. Acesso 09 de out, de 2021.
Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), Disponível em http://olheparaafome.com.br/VIGISAN_Inseguranca_alimentar.pdf. (2021) Acesso 09 de out, de2021.
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Disponível em < http://www.fao.org/brasil/programas-e-projetos/programa/pt/#c356409. Acesso 09 de out, de 2021.
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O Auto da Compadecida: um paralelo acerca da realidade no Brasil
Difícil um brasileiro não conhecer essa maravilhosa obra cinematográfica, carregada de cultura, saberes, emoção e várias críticas sociais, que demonstram muito a realidade do Nordeste e também do Brasil, que conta com uma das características mais marcantes do país, a comédia que envolve toda uma trama e se faz interessante do começo ao fim da obra.
O Auto da Compadecida é um filme dirigido por Guel Arraes e é baseado na obra de Ariano Suassuna, oriundo de sua peça teatral de mesmo nome. Sua obra começa em 1955 sendo escrita e posteriormente adaptada para a televisão em 1999 como minissérie e para o cinema em 2000, tendo uma duração de 1 hora e 44 minutos, com versão estendida de 2 horas e 38 minutos.
O enredo do filme se passa na época do cangaço brasileiro, nos arredores da cidade de Taperoá no sertão da Paraíba, onde os protagonistas Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nachtergaele) mostram as dificuldades de um cenário de pobreza e miséria, sendo os mesmos obrigados a arrumarem serviços que pagam pouco e que em sua maioria são exploratórios.
Fonte: encurtador.com.br/dCQSV
No filme podemos verificar que Chicó e João Grilo vivem então em extrema pobreza, sendo assim com os impactos citados nas condições de vida e estão constantemente em busca de satisfação das necessidades de alimentação, como por exemplo na cena em que João Grilo e Chicó trocam seus pratos de comida ruim pelo bife da cadelinha de seus patrões Seu Eurico (Diogo Vilela) e dona Dora (Denise Fraga), que são donos de uma padaria, os quais nas palavras de João Grilo não deram nem um copo d’água quando ele esteve doente e acamado por três dias.
Dantas, Oliveira e Yamamoto (2010) nos trazem que a condição de pobreza está relacionada aqueles que não tem renda suficiente para o mantimento de roupas, alimentos, despesas pessoais, educação, habitação entre outros. Enquanto que aqueles abaixo da linha de pobreza são considerados indigentes, que vivem em busca da satisfação de necessidades vitais, como alimentação por exemplo.
Segundo Silveira (2020) com base nos dados do IBGE (2019) a atualidade brasileira conta com 13,5 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. O dados apontam ainda que um em cada quatro brasileiros sobreviveram com menos de 436,00 R$ por mês no ano de 2019. Estes dados em 2020 podem ter tido uma redução por conta do auxílio emergencial em decorrência da Pandemia.
Fonte: encurtador.com.br/SVZ47
Ao relacionar tal situação, podemos falar acerca do atual cenário brasileiro, que ainda possui mão de obra de forma exploratória, ou comumente chamado de trabalho escravo, com péssimas condições. Acerca disso Sakamoto (2005, p. 11) explica que:
O sistema que garante a manutenção do trabalho escravo no Brasil contemporâneo é ancorado em duas vertentes: de um lado, a impunidade de crimes contra direitos humanos fundamentais aproveitando-se da vulnerabilidade de milhares de brasileiros que, para garantir sua sobrevivência, deixam-se enganar por promessas fraudulentas em busca de um trabalho decente. De outro, a ganância de empregadores, que exploram essa mão-de-obra, com a intermediação de “gatos” e capangas.
No Brasil há também um forte índice de violência e de pobreza, que se mostram como um fator de risco, pois, geralmente trazem um déficit na educação das comunidades pobres, altos índices de evasão escolar, condições de trabalho exploratórios e situações que levam muitos à criminalidade, bem como situações de conflitos nas favelas que muitas vezes envolvem pessoas inocentes. Nesse contexto, Borges e Alencar (2015) nos revelam que os processos de democratização não se mostram satisfatórios para mudar o quadro de violência arraigada historicamente em que injustiças sociais e violações de direitos humanos sempre foram frequentes, sendo assim a ausência do Estado culmina em mais crescimento da exclusão social e da pobreza, a partir daí Dornelles (2006, p.220) completa que:
Assim, na prática a democracia, para uma grande maioria da população brasileira, restringe-se ao ritual das eleições. Uma pratica onde a democracia é limitada e se restringe à formalidade institucional de um Estado de Direito que pune, controla e violenta as classes subalternas, os setores em situação de precariedade, excluídas dos benefícios e dos direitos efetivos de uma sociedade moderna.
Fonte: encurtador.com.br/owSV6
Vemos na trama um dos personagens que em decorrência das consequências da violência torna-se o cangaceiro Severino de Aracajú (Marco Nanini), que aos oito anos de idade teve os pais brutalmente assassinados por militares e presenciou toda a cena, tal evento traumático levou Severino a se tornar um grande criminoso no filme demonstrando sua turbulência psíquica, onde o mesmo realizava atrocidades e fazia também duras críticas ao povo da cidade, que não lhe deu comida e nem esmola, destratando-o fortemente enquanto disfarçava-se de andarilho pela cidade.
Dentre as críticas feitas, vale ressaltar também a corrupção envolvendo dinheiro e poder, nesse aspecto praticamente todos os personagens se envolvem, como por exemplo a relação do Padre João (Rogério Cardoso) e do Bispo (Lima Duarte) que se mostram mais em prol dos ricos do que dos pobres, e que conseguem realizar certos favores em troca de dinheiro. Dentre as cenas, uma demonstra João Grilo e Chicó indo pedir que o padre João “benza” a cadela (de dona Dora) que estaria doente, o mesmo se recusa a benzer pautado em normas religiosas e então João Grilo começa a dizer em alto e bom tom que a cadela seria do Major Antônio Moraes (Paulo Goulart), um rico fazendeiro da região, após isso o padre aceita fazer tal ação por achar que a cadelinha seria do Major, porém antes do padre realizar a benção, o animal morre, e o mesmo se recusa a fazer um enterro, sugerido pela dona, em latim, mas o faz após João Grilo criar uma história em que a cadelinha teria deixado um testamento para a igreja deixando uma quantia em dinheiro (Dez contos de Réis) que logo depois é aceito também por parte do Bispo.
Fonte: encurtador.com.br/gAMY9
Apesar de ser um assunto delicado, vemos constantemente corrupções no país, não só políticas como comumente aparecem nos jornais, mas também de autoridades religiosas. Um fator que também chama atenção e que acontece bastante são as alianças entre igrejas e candidatos/políticos, sendo assim há uma grande influência social ligada à igreja relacionada com as decisões democráticas. Dentro dessa perspectiva De Souza e Simioni (2017, p.468) fomentam tal relação da seguinte forma:
Essa apropriação de preleção política por grupos religiosos é bastante alarmante, já que eles não apenas selecionam o discurso estatal e apoiam candidatos, mas, muitas vezes, participam diretamente na legitimação democrática, ancorando seus discursos, abertamente, no código religioso, sendo espantoso o número de cadeiras ocupadas pela bancada religiosa, além da sua atuação em processos judiciais importantes.
O filme traz bastante essa relação social de controle, tanto da igreja, como das figuras importantes sobre os menos afortunados, sendo o impacto maior voltado àqueles com menos condições. Por outro lado, também mostra a religiosidade de forma vantajosa em algumas cenas, como por exemplo, na cena em que João Grilo se diz um portador da mensagem de Padre Cícero (Considerado santo católico por muitos fiéis), pedindo que o Capitão Severino de Aracajú, que é grande devoto, não faça mal às pessoas de Taperoá e cancele o ataque à cidade por pedido do “Padim padre Cícero”.
Fonte: encurtador.com.br/lmH24
No filme também se fala no aspecto religioso, no qual podemos interpretar como um fator de proteção, quando a Compadecida (Fernanda Montenegro), diz que o pobre passa por muitas dificuldades e em específico na seca do Nordeste oram pedindo por chuva como forma de contornar o sofrimento. Sabemos aqui que a religiosidade tem também influências positivas, principalmente em relação a enfrentamentos de doenças e sofrimentos psíquicos (como fator estruturante da psique), sendo assim pode contribuir na geração de pertencimento, vínculo e bem-estar aos que costumam frequentar espaços religiosos (FARIA E SEIDL, 2006).
Vale ressaltar aqui também a presença de uma figura religiosa, o Cristo (Maurício Gonçalves), de cor negra, onde comumente a figura de Jesus é retratada em obras como alguém de olhos claros e pele branca, e aqui ao aparecer gera até mesmo comentários racistas por parte do Protagonista João Grilo ao dizer: “O senhor pode não ter a cor das melhores, mas fala bem que faz gosto” e também em outra cena ao final, onde João discorda que o personagem poderia ser cristo disfarçado de mendigo e diz “Jesus Pretinho daquele jeito?”.
Fonte: encurtador.com.br/mGS29
Ao falar então de preconceito racial, vale citar um estudo realizado por Turra (1995) onde a mesma revela que os brasileiros sabem que há racismo no Brasil, porém em sua grande maioria negam ter preconceito racial, mas demonstram racismo de diversas formas, ao pronunciar ou concordar com enunciados preconceituosos ou ao admitir comportamentos de conteúdo racista em relação a negros.
O filme é carregado de muitas críticas, mas traz tudo com um humor ímpar que faz o espectador dar muitas risadas, mas que também é capaz de trazer muitas emoções e reflexões do nosso cenário Brasileiro, que necessita muito das ações promovidas pela psicologia, mas também de efetividade em quesito de amparo e cumprimento das pautas governamentais destinadas às pessoas que vivem de forma precária, que necessitam muito de necessidades básicas. São importantes também as reflexões acerca do valores éticos e desconstrução de valores negativos que se formaram ao longo dos séculos como racismo e formas de preconceito no país.
Em resumo o filme traz um reflexo de preconceitos, situações de exploração, estigmas, mas também nos mostra muitos aspectos enriquecedores acerca de aspectos da realidade no Nordeste do país e características desse povo, suas crenças e sua alegria, sendo o filme aclamado com vários prêmios e críticas positivas tanto de profissionais da área como do público geral deixando ainda o gosto de “quero mais”.
FICHA TÉCNICA
Fonte: encurtador.com.br/ctDV2
Título: O Auto da Compadecida Direção: Guel Arraes Elenco: Matheus Nachtergale, Selton Mello, Rogério Cardoso, Lima Duarte Ano: 2000 País: Brasil Gênero: Comédia, Drama
REFERÊNCIAS
BORGES, Luciana Souza; DE ALENCAR, Heloisa Moulin. VIOLÊNCIAS NO CENÁRIO BRASILEIRO: FATORES DE RISCO DOS ADOLESCENTES PERANTE UMA REALIDADE CONTEMPORÂNEA. Revista brasileira de crescimento e desenvolvimento Humano, v. 25, n. 2, 2015.
DANTAS, Candida Maria Bezerra; OLIVEIRA, Isabel Fernandes de; YAMAMOTO, Oswaldo Hajime. Psicologia e pobreza no Brasil: produção de conhecimento e atuação do psicólogo. Psicologia & Sociedade, v. 22, n. 1, p. 104-111, 2010.
DE SOUZA, Ana Paula Lemes; SIMIONI, Rafael Lazzarotto. O Congresso Nacional entre o “mýthos” e o “lógos”: religião e corrupção sistêmica no cenário político brasileiro. Anamorphosis: Revista Internacional de Direito e Literatura, v. 3, n. 2, p. 465-487, 2017.
DORNELLES, João Ricardo W. O desafio da violência, a questão democrática e os direitos humanos no Brasil. Revista Direito, Estado e Sociedade, n. 29, 2006.
FARIA, Juliana Bernardes de; SEIDL, Eliane Maria Fleury. Religiosidade, enfrentamento e bem-estar subjetivo em pessoas vivendo com HIV/AIDS. Psicologia em estudo, v. 11, n. 1, p. 155-164, 2006.
O AUTO da Compadecida. Direção de Guel Arraes. Brasil: Globo Filmes, 2000. 1 DVD (104 min.)
SILVEIRA, Daniel. Extrema pobreza se manteve estável em 2019, enquanto a pobreza teve ligeira queda no Brasil, aponta IBGE. G1.Globo.com, rio de Janeiro, 12, novembro de 2020. ECONOMIA. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/11/12/extrema-pobreza-se-manteve-estavel-em-2019-enquanto-a-pobreza-teve-ligeira-queda-no-brasil-aponta-ibge.ghtml>. Acesso em: 20, novembro de 2020.
SAKAMOTO, Leonardo. Trabalho escravo no Brasil do século XXI. Brasília: Organização Internacional do Trabalho, 2006.
TURRA, Cleusa; VENTURI, Gustavo. Racismo cordial. São Paulo: Ática, 1995.
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Acadêmicos participam de Roda de Conversa com professor da UFT
18 de abril de 2018 Sonielson Luciano de Sousa
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Os acadêmicos de Psicologia matriculados nas disciplinas de Sociedade e Contemporaneidade na segunda-feira pela manhã (turmas ministradas pelos professores Valdirene Cássia da Silva e Sonielson Sousa) participaram de uma Roda de Conversa promovida pela profa. Dra. Valdirene, que convidou o prof. Dr. José Manoel Miranda, da UFT, para falar sobre “A Conjuntura Social e Política Brasileira”. O evento foi mediado pelo professore Sonielson Sousa.
A professora Valdirene Cássia comentou que a ação é uma dupla oportunidade para os acadêmicos, que por um lado têm acesso a um tema de caráter contemporâneo e emergente e, por outro lado, podem se preparar para responder a questões sociais com mais propriedade, tendo em vista a ampla experiência do professor Miranda com o tema.
Para o professor Sonielson, a temática se aproxima de outras áreas da Psicologia, como a Psicologia Social, Comunitária, Psicologia Política e Antropologia, só para citar algumas. Sonielson destaca o caráter político dos psicólogos, que como os demais profissionais inscritos nas Ciências Humanas, têm que se debruçar sobre os aspectos sociais do país e região, sob pena de replicar olhares enviesados.
O professor José Manoel Miranda discorreu sobre comunitarismo, socialismo, liberalismo, pobreza, mercado de trabalho e exploração trabalhista. O projeto, que é de autoria da profa. Dra. Valdirene Cássia, segue nas próximas semanas. Ainda serão abordados temas como “Imigração”, “Terrorismo” e “Questões de Gênero”, dentre outros.
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O Auto da Compadecida: a resiliência do sertanejo em meio às tribulações
Provavelmente você já assistiu ou pelo menos ouviu falar do filme “O Auto da Compadecida”. Também não é de se surpreender que você tenha dado gargalhadas e se emocionado ao mesmo tempo com a trama. Isso porquê a obra traz aspectos de uma vida rodeada pela miséria e pobreza de João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello), que exige de ambos o uso da esperteza para conseguirem sobreviver, o que acaba os colocando sempre em algumas confusões, dando o tom de comédia ao filme.
O filme (dirigido por Guel Arraes, em 2000) é baseado na obra teatral de Ariano Suassuna, escrito em 1955. De forma fiel à peça, o filme mostra a marca indelével do autor, que consiste em apresentar de forma satírica o cenário nordestino e seus desafios. Prova disso se dá na forma como João Grilo, com a ajuda do atrapalhado Chicó, provoca seus superiores, como seus patrões Dora (Denise Fraga) e Eurico (Diogo Vilela), o Major Antônio Morais (Paulo Goulart), o clero, representado pelo Padre João (Rogério Cardoso) e pelo Bispo (Lima Duarte), o capitão do cangaço Severino de Aracaju (Marco Nanini), o valentão Vicentão (Bruno Garcia), o cabo Setenta (Aramis Trindade) e até mesmo o diabo (Luís Melo).
Fonte: https://goo.gl/cs4Rkt
As peripécias feitas por esses dois matreiros, no sertão da Paraíba, consistem em enganar todos aqueles que podem lhes servir de alguma forma. Há de perceber-se que seus planos sempre envolvem a avareza dos enganados, cujos representam a minoria que possui algum bem material no Nordeste. Essa forma de agir mostra uma realidade presente no sertão nordestino, profundamente marcada pela seca, pela fome, por diversos problemas sociais, como falta de educação, saúde e saneamento básico, caracterizando, assim, uma região pouco desenvolvida. Logo, a falta de oportunidades e até mesmo outras habilidades e faculdades, levam João Grilo e Chicó a colocarem em prática suas artimanhas.
Segundo Angst (2009), a resiliência pode ser definida como uma capacidade universal que possibilita a pessoa, grupo ou comunidade prevenir, minimizar ou superar os efeitos nocivos das adversidades, inclusive saindo dessas situações fortalecida ou até mesmo transformada, porém não ilesa. Essa capacidade se apresenta claramente em João Grilo e Chicó, uma vez que sempre ao serem frustrados com os resultados de seus planos, não conseguindo sair da pobreza que assola suas vidas, conseguem se recuperar rapidamente, já com novas ideias para o próximo “ataque”. Essa capacidade se evidencia em uma das falas de João Grilo:
—- Eu estive pensando se não é melhor assim. Quem sabe se eu ficando rico não terminava como o padeiro? E depois com a desgraça, a gente tá acostumado!
Fonte: https://goo.gl/XunfzS
De fato, com a desgraça eles já estavam acostumados. Em uma cena marcante do filme, a compadecida (Fernanda Montenegro) começa a falar das mazelas enfrentadas por João Grilo desde sua infância, enquanto, genialmente, surgem imagens reais de sertanejos nordestinos enfrentando os desafios a eles impostos. Juntamente com a narrativa da compadecida, a emoção se torna iminente:
—- João acostumou-se a pouco pão e muito suor. Passava fome e quando não podia mais rezar, quando a reza não dava jeito, ia se juntar a um grupo de retirantes que ia tentar sobreviver no litoral, humilhado, derrotado, cheio de saudade. E logo que tinha notícia da chuva, pegava o caminho de volta, animava-se de novo, como se a esperança fosse uma planta que crescesse com a chuva. E quando revia sua terra, dava graças a Deus por ser um sertanejo pobre, mas corajoso e cheio de fé.
Fonte: https://goo.gl/9hG63U
Assim, em meio a tantas tribulações, a vida do sertanejo nordestino vai se formando, moldando figuras tão resilientes que a dor e o sofrimento já quase não são mais pedras no caminho, mas um aprender de novo, um levantar-se de novo, um impulso para seguir tentando sobreviver nesse cenário em tons pasteis, mas com corações regrado da cor verde, de esperança e de vermelho, do amor sentido pela terra onde nasceu e floresceu.
A resenha desenvolvida a seguir, tem como objetivo principal descrever alguns pontos demarcados como preponderantes, bem como trazer reflexão e ao final fazer um apanhado geral, com base no livro, dentre outros artifícios que foram utilizados para melhor compreensão, a partir da visão das acadêmicas da disciplina de Antropologia e cujo tema central é a obra de Rita Barradas Barata: “Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde”. Saúde e produção de doenças têm estrita relação com desigualdades sociais em saúde. Alguns Grupos ficam em desvantagem com relação às oportunidades de ser e se manter sadio. Na Constituição Brasileira de 1988, ficou estabelecido que a saúde é um direito de todos e que deve ser garantido mediante ações de políticas públicas.
Muitas teorias verificam essas desigualdades e que estas não desaparecem naqueles países em que existem sistemas nacionais de saúde com garantia de acesso universal para todos os grupos sociais. Nos indagamos o por quê as desigualdades vêm aumentando ao invés de diminuírem com o passar do tempo. Na teoria estruturalista, a falta ou insuficiência de recursos materiais, para enfrentar de modo adequado os estressores ao longo da vida, acaba produzindo a doença e diminuindo a saúde. Neste modelo, o montante de renda ou riqueza dos países, grupos sociais ou indivíduos, é o principal determinante do estado de saúde do indivíduo. No entanto, nem sempre a riqueza de um país vem acompanhada de melhor nível de saúde, principalmente nos países cujas populações têm as suas necessidades básicas atendidas.
Fonte: https://goo.gl/L1ChLT
Na teoria psicossocial a percepção da desvantagem social é tida como desencadeador de estresse e de doenças. Em grupos sociais com necessidades básicas atendidas, as diferenças relativas na posse de bens e nas posições de prestígio e poder, passam a ser mais relevantes para a produção e distribuição das doenças do que simplesmente o nível de riqueza material. Essas duas teorias não se contradizem, o que as diferencia é o enfoque baseado na idéia de privação absoluta e relativa e seus determinantes. Já a teoria da determinação social do processo saúde-doença, os impactos da estrutura social sobre a saúde, são pensados nos processos de participação ou exclusão, associados às diferentes posições sociais e sujeitos a transformações em função de processos históricos. Com ênfase no modo de vida, estão englobados aspectos materiais e simbólicos que refletem características de produção, distribuição e consumo e relacionadas ao modo de vida.
A teoria ecossocial, considera impossível separar os meios biológico, social e psíquico. Soma aspectos sociais e psíquicos predominantes nas situações que os indivíduos vivem e trabalham. Portanto, as relações econômicas, sociais e políticas afetam a maneira como as pessoas vivem e seu contexto ecológico e acabam por moldar padrões de distribuição de doença. Todos devem utilizar suas demandas específicas de saúde, com provisão de serviços prioritários para grupos com maiores necessidades, a fim de minimizar ou anular as desigualdades.As explicações sobre as desigualdades em saúde têm como base a ideia de que a saúde é um produto da sociedade, e então algumas organizações são mais saudáveis do que outras. O capítulo dois desse livro trata sobre como as posições sociais influenciam na saúde de cada sujeito.
Fonte: https://goo.gl/WdrHy3
Para a autora, o foco central das abordagens sócio-históricas sobre as desigualdades em saúde são os processos de reprodução social que resultam na propagação de diferentes domínios da vida. O primeiro domínio é a reprodução biológica do indivíduo, que certifica suas características como espécie que é marcada pela interação genética e o meio social. Vivemos em um ambiente sócio-interacional, onde compartilhamos tempo e espaço, tal reprodução social resulta na produção do segundo domínio: o das relações ecológicas dos grupos, ou seja, sua relação com o social constituído por comunidades que é onde estamos inseridos. Essas comunidades compartilham interações que nos leva ao terceiro e último processo de reprodução segundo Rita: o cultural.
Todos esses processos e reproduções causam impactos sobre a saúde e a doença dos indivíduos. Desigualdades nas condições de vida decorrem das diferenças nos processos de reprodução social que então ira refletir na saúde das pessoas. As vantagens de alguns grupos sobre outros, causa a exclusão, o que os afeta em todos os âmbitos da vida social. Desigualdades sociais em saúde podem estar associadas ao estado de saúde e ao acesso e uso inadequado de serviços de saúde para ações preventivas ou assistências da população. Existem várias investigações do meio científico que expõe a existência das desigualdades sociais em saúde, essas mesmas investigações buscam compreender os processos sociais e os mediadores entre as condições concretas de vida e a saúde no âmbito populacional.
Fonte: https://goo.gl/AY2em5
No terceiro capitulo, intitulado “Ser rico faz bem à saúde?”, a autora Rita Barradas Barata, promove uma análise acerca das relações entre riqueza e saúde, demonstrando que nem sempre o nível de riqueza está intrinsecamente ligado a melhores condições de vida, tais como saúde de qualidade, maior expectativa de vida e, por conseguinte baixa mortalidade. Entre o século XIX e o XXI no mundo, houve um déficit na distribuição de riquezas bem como, um aumento nas desigualdades sociais. Segundo Barata (2009), quanto mais rico um país mais saudável é a sua população não é uma observação simples, visto que pesquisas evidenciam que a ligação entre a esperança de vida e o PIB (Produto Interno Bruto) per capita tem a representação gráfica de uma parábola, e por isso a partir de um certo ponto o aumento da riqueza não resulta em mais saúde. Um exemplo claro dessa realidade, é que não são os países mais ricos que apresentam maior longevidade.
Nesse sentido, a má distribuição de riquezas, eleva as desigualdades, o que afeta diretamente a saúde. Dessa forma, a adoção de sistemas universais de saúde que promovam o acesso similar desses serviços pode reduzir as diferenças nas condições de vida da população, uma vez que sociedades mais equânimes possuem melhores índices de saúde e uma maior coesão social. Outra justificativa para situações de menores divergências apresentarem melhor nível de saúde se dá aos hábitos saudáveis adotados por parte da população. Estudos ingleses, sobre o risco de morrer por Doença Isquêmica do Coração (DIC) constatam que os tradicionais comportamentos de riscos são menos importantes que as relações de trabalho relacionadas a uma maior/ menor autonomia sobre o controle dos processos laborais.
Fonte: https://goo.gl/5Nzgzu
Segundo a autora, a noção que se tem de raça é construída socialmente e não biologicamente. A perspectiva de que há etnias superiores a outras foi reforçada pelas teorias evolutivas, sendo que povos que eram considerados mais aptos exerciam um domínio sobre aqueles considerados inferiores, visando manter privilégios para esses grupos. Os grupos étnicos devido à bagagem de desvalorização cultural por parte daqueles que se consideram superiores, também sofrem com dificuldades de inserção no mercado de trabalho, escolarização e várias outras áreas que levam à econômica. Área essa que, em países capitalistas dificultam ainda mais a vida dessa população, afetando significativamente a saúde dos mesmos. Tal exposição à discriminação e racismo trazem junto problemas de saúde como: transtornos mentais, hipertensão, baixo peso, prematuridade e várias outras. Junto com esses problemas ainda moram em lugares com condições mínimas de uma vida saudável, e com acesso a saúde precário, causando um stress maior. Neste cenário, pessoas que passam por esse tipo de situação têm uma maior dificuldade em confiar nas outras pessoas e instituições.
Em relação à saúde e o gênero, os homens em grande parte possuem uma maior taxa de mortalidade, pois ao longo da vida é exposta a situações insalubres de risco, tanto com acidentes e violências, quanto a maior propensão em ingerir exageradamente álcool e cigarros. Isso de deve também a construção social e cultural de gênero. As mulheres por sua vez apresentam uma maior taxa de morbidade, que também pode ser atribuída à dupla jornada de trabalho que é a doméstica e a fora de casa. Excesso de trabalho e remuneração menor que a dos homens, mesmo ocupando os mesmo cargos, sendo expostas a assédios psicológicos e emocionais e funções sem muita autonomia geram stress que acabam levando ao adoecimento tanto físico quanto psíquico.
Fonte: https://goo.gl/N4etxM
A obra de Barata nos mostra as diferenças culturais e raciais que enfrentamos e os riscos causados pelas mesmas. Nos apresenta de forma clara conceitos bastante relevantes e significativos na nossa sociedade atual, como raça, grupos étnicos diferentes, a desvalorização cultural, discriminação, entre outros. Também nos traz dados importantes que vem acontecendo com o hiper agendamento do tempo, onde nos tornamos mais suscetíveis ao adoecimento, podendo causar a morte, principalmente em mulheres. É importante ressaltar que, segundo a obra, vivemos em constante desigualdade, seja racial, cultural, socioeconômica, de gênero, etc. Se uma classe é mais favorecida financeiramente que a outra, não significa que a mesma viva mais, seja mais feliz. Portanto, não devemos ser etnocêntricos, não temos o direito de julgar alguém como sendo menor nós pelo fato de que eu tenho mais dinheiro ou mais saúde. Diante disso, essa obra é de muita relevância para entendermos aspectos sociais e culturais em que estamos vivendo.
FICHA TÉCNICA
Como e por que as Desigualdades Sociais Fazem mal à Saúde
Fonte: https://goo.gl/HtgbSP
Autora: Rita Barradas Barata
Editora: FIOCRUZ
Páginas: 118
Ano: 2009
REFERÊNCIA:
BARATA, Rita Barradas. Como e por que as desigualdades sociais fazem mal à saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2009.
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Histórias Cruzadas: uma reflexão acerca das relações familiares
Histórias Cruzadas, originalmente “The Help”, estreou no ano de 2012 sob direção de Tate Taylor. O filme se passa na cidade de Jackson no estado norte-americano do Mississipi, por volta da década de 1960 e ilustra a realidade das empregadas domésticas negras que trabalhavam para famílias brancas, em meio ao cenário de intensa segregação racial e luta por direitos civis da época. As profundas raízes do preconceito oriundas do passado escravista no sul dos EUA (que afetam essa sociedade até os dias atuais) são retratadas na trama por meio das relações entre as empregadas domésticas e seus trabalhos para casas e famílias de mulheres da alta sociedade, permeadas por abusos e humilhações.
Skeeter (Emma Stone) é uma jovem que sonha em ser escritora. Recém formada, consegue um emprego em um jornal local escrevendo uma coluna sobre conselhos de limpeza. Mesmo tendo crescido em Jackson e pertencendo a alta sociedade, Skeeter difere das mulheres de sua idade, não demonstrando interesse em casar ou ter filhos e principalmente porque tem uma sensibilidade para com a realidade de segregação, desigualdade e preconceito à qual se encontra. Para escrever a coluna, Skeeter pede ajuda a Aibileen (Viola Davis), a empregada doméstica de sua amiga, que é uma das protagonistas do filme e enriquece a narrativa com seu ponto de vista.
Contudo, novamente em contato com a realidade de sua cidade, a jovem se sente incomodada com a realidade dessas mulheres, e decide tentar escrever sobre suas histórias, frente a uma realidade onde mulheres negras literalmente criam filhos que não são seus, limpam, passam e cozinham, por salários baixíssimos e tendo sua liberdade e honra desconsideradas. Essas mulheres nunca haviam sido respeitadas por pessoas brancas, muito menos ouvidas. Devido ao contato das empregadas domésticas com a criação das crianças nas famílias para as quais trabalham, um ponto muito importante nessa película são as relações familiares nessa sociedade. As mulheres negras, tratadas como objetos, trabalhavam na criação das crianças enquanto os pais se ocupavam em outras tarefas. Essa contradição aflige quem assiste ao filme, pois apesar do repúdio pelos funcionários, a conveniência em não se ocupar com as crianças fala mais alto, mesmo à custa do amor dos filhos.
Porém, Skeeter encontra dificuldades em seu novo projeto, uma vez que a realidade de opressão às pessoas negras se intensifica com a luta pelos Direitos Civis e a Liderança de Martin Luther King, que cresceram consideravelmente a partir do ano de 1957 (PURDY, 2011). Devido ao medo as mulheres se recusam a falar, e Skeeter se vê intimidada pela sua família e amigos. Segundo Sarti (2015), as experiências vividas e simbolizadas nas famílias têm como referência definições que são socialmente instituídas por diversos dispositivos disciplinares, e por isso são particularmente difíceis. A sociedade fortemente dividida entre pessoas brancas e negras, também engloba aspectos políticos, econômicos e culturais, tornando até o contato entre as personagens um motivo de estranheza.
Na esperança de mudança e justiça motivada pela sua fé, Aibileen decide contar suas histórias a Skeeter. Agigantada pela atuação de Viola Davis, Aibileen é uma das personagens mais complexas dessa trama. Em um estado depressivo após a morte de seu único filho, a personagem emociona em todas as cenas em que descreve o que viveu, além de demonstrar sua bondade com as crianças que criou. Para Sarti (2015), as mudanças familiares têm sentidos e incidências diferentes em cada família, devido ao acesso desigual a recursos na sociedade de classes. Aibileene possuía uma ligação afetiva com seu filho diferente do modelo familiar das pessoas para as quais trabalhava, por exemplo.
Segundo Sarti (2015), em famílias pobres, a noção de família se baseia em um eixo moral, que tem fronteiras traçadas segundo o princípio que lhe dá fundamento (obrigações), estruturando suas relações. Desse modo, na relação que Aibileene teve com seu filho, ela encontra a coragem para se tornar o tão esperado “escritor” da família. Após a prisão de uma empregada doméstica mãe de família, ocorre uma mobilização geral e Skeeter finalmente consegue todos os depoimentos para seu livro intitulado “The Help” (A Ajuda), que é publicado e causa revolta geral nas patroas da cidade. De acordo com Sarti (2015), os meios de comunicação constituem um veículo fundamental para a instituição dos discursos dos dispositivos disciplinares, que delimitam os modelos de como deve ser a família e sociedade. O livro se torna, portanto, a voz de suas escritoras contra a opressão social.
Devido à polarização racial, modelos éticos também eram difundidos entre as camadas sociais. O modelo familiar em que Skeeter foi criada, que no filme é representado por personagens como Hilly e Elizabeth, é baseado em estruturas sociais mais rígidas, que na idealização daquela comunidade, deveriam ser mantidas. Essa situação pode ser ilustrada no Conselho formado por mulheres da alta sociedade e também na pressão para que Skeeter encontre um marido.
O discurso social a seu respeito, como um espelho, reflete nas famílias, passando por uma tradução de acordo com as experiências vividas, onde esses discursos externos são internalizados (SARTI, 2015). A influência desses discursos sociais de origem familiar culminam no cruzamento de histórias, como o próprio nome do filme delata. Skeeter contraria e modifica a visão de sua família; Hilly não suporta ser exposta por quem considera inferior, manipulando suas amigas; e Aibileene e Minny encontram a força para lutar e ganhar voz para mudar suas realidades.
Dessa maneira, Histórias Cruzadas é um filme emocionante, que eleva os desejos de justiça e igualdade de quem assiste. Assim como em “12 Anos de Escravidão” (2014), “Django Livre” (2012), “Mississipi em Chamas” (1988) e recentemente “Estrelas Além do Tempo” (2017), a trama retrata as barbáries cometidas com base em discursos sobre a cor da pele de alguém. Por meio do filme pode-se perceber como os discursos sociais são construídos e concretizados pelas famílias em diferentes concepções e modelos, engrandecendo a visão sobre influências desse âmbito da vida social, através de um panorama histórico.
Com uma sensibilidade incomum, Histórias Cruzadas demonstra como atos de coragem podem mudar a realidade em que se vive por mais desesperançosa que seja. A trama honra a memória de tantas mulheres, negras e empregadas domésticas, que nunca puderam falar, e inspira os espectadores a lutar contra a desigualdade e o preconceito.
REFERÊNCIAS:
PURDY, Sean. Direitos civis e contracultura nos EUA – Apresentação. ANPHLAC- Associação Nacional de Pesquisadores e Professores de História das Américas, São Paulo, 2011. Disponível em: <http://anphlac.fflch.usp.br/direitos-civis-eua-apresentacao>. Acesso em: 05 de Mai. 2017.
SARTI, Cynthia A. Famílias enredadas. In: ACOSTA, Ana Rojas; VITALE, Maria A. F. (Org.). Família: Redes, Laços e Políticas Públicas. . 6. ed. São Paulo: PUC SP CEPEDE, Cortez Editora, 2015, p. 31-44
FICHA TÉCNICA DO FILME:
Diretor: Tate Taylor Elenco: Emma Stone, Jessica Chastain, Viola Davis, Bryce Dallas; País: EUA, India e Emirados Árabes Unidos Ano: 2011 Classificação: 12
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Deus e o Diabo na Terra do Sol: um Brasil guardado na memória
Produzido por Glauber Rocha e lançado em uma época de difícil realidade no Brasil (entre 1963-1964), Deus e o Diabo na Terra do Sol é um filme que, com excelência, aborda temáticas espinhosas acerca do país e, sobretudo, da cultura sertaneja e nordestina, compondo o segundo período do Cinema Novo Brasileiro, em que
“Com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, essa nova geração de cineastas propôs deixar os obstáculos causados pela falta de recursos técnicos e financeiros em segundo plano. A partir de então, seus interesses centrais eram realizar um cinema de apelo popular, capaz de discutir os problemas e questões ligadas à “realidade nacional” e o uso de uma linguagem inspirada em traços da nossa própria cultura (SOUSA, Brasil Escola, 2017).
O longa conta a saga do casal Manuel (Geraldo Del Rey) e Rosa (Yoná Magalhães), vitimados pela pobreza e pela seca do sertão da época. Em uma tentativa de mudar de vida, Manuel oferece a venda do seu gado para o coronel Morais (Mílton Roda). No caminho de ida para a fazenda do coronel, alguns animais morrem, devido à seca do local. Esse último, dizendo que a sua palavra é lei, fala que os animais mortos faziam parte do gado de Manuel, portanto o prejuízo seria dele. Manuel, revoltado com isso, acaba por matar Morais, dando fim à exploração e coronelismo desse.
Manuel (Geraldo Del Rey) e Rosa (Yoná Magalhães).
Perseguidos pelos jagunços de Morais, Manuel e Rosa adentram em uma jornada interminável de fuga da morte, da seca, da pobreza, da exploração. Pelo caminho, deparam-se com um grupo religioso, seguidor de São Sebastião (Lídio Silva) que promete que “o sertão vai virar mar, e o mar vai virar sertão”, e que todos os envolvidos no grupo alcançariam glória e sairiam da miséria atual. Isso é marca forte dos movimentos messiânicos, em que
Se organizam com seguidores que se consideram ‘eleitos’ para combaterem o mal que os aflige, contra o Anticristo que os persegue, e encontram entre si o refúgio para essa luta contra o mal. Existe harmonia e sintonia com o contexto deste povo ou comunidade e a mensagem messiânica os transforma em movimentos organizados (SILVESTRE, Info Escola, 2006).
Manuel se alia ao grupo, acreditando que ali encontraria saída para todos os seus problemas. Fica clara a forma como ele e as outras pessoas se agarram ao misticismo, no afã e no desespero de não mais sofrerem em suas miseráveis vidas, de modo a executarem qualquer coisa que lhes é pedido por seu líder, inclusive sacrifícios humanos. Porém, Rosa não se contenta com o grupo e, tomando a mesma atitude de seu marido, ela esfaqueia o líder quando esse mata um bebê em sua frente. O casal retoma a sua jornada de fuga, agora dos messiânicos revoltados e sem líder.
Logo, Manuel e Rosa passam a fazer parte de outro grupo que surge em seus caminhos: o do cangaceiro Corisco (Othon Bastos), amigo de Lampião. Diferente do grupo anterior, Corisco e seus parceiros não aguardavam uma intervenção divina para apaziguar seus problemas. Eles buscavam a sua glória pelas próprias mãos. A política fundiária, somada aos inúmeros problemas sociais vigentes neste contexto, principalmente a má qualidade de vida da população, contribuiu para o nascimento do cangaço. Grupos violentos surgiam aqui e ali, matando, roubando, destruindo, raptando os proprietários dos latifúndios, quando não se encontravam percorrendo o sertão e se refugiando dos executores da lei; eram nômades, pois não podiam permanecer em um único lugar (SANTANA, Info Escola, 2006).
Com um grupo messiânico e com um grupo cangaceiro, em uma terra marcada pela seca e pela miséria, o nome do filme começa a fazer sentido. O longa mostra claramente dois extremos em que pode chegar um povo sofrido e sem esperanças, seja se agarrando à uma religiosidade ou à “lei da selva”, em que o mais forte vence, no caso do cangaço, o que mais saqueia e mata à sangue frio. Produzido na época da ditadura militar brasileira, o filme não aborda diretamente o tema, mas há um aspecto que, analogicamente falando, pode-se dizer que o retratou. Como a censura era característica forte do regime, tudo era produzido de forma camuflada, e o filme em questão não foi diferente.
Contratado pela Igreja Católica, Antônio das Mortes (Maurício do Valle) tem a missão de matar e acabar tanto com o grupo messiânico quanto com o grupo cangaceiro. Esse personagem representa o próprio regime militar, uma vez que esse último tinha como características: repressão aos movimentos sociais e manifestações de oposição, uso de métodos violentos, inclusive tortura, contra os opositores ao regime e apoio da Igreja Católica (SILVA, 2005).
Antônio das Mortes (Maurício do Valle).
Dessa forma, “com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”, Glauber Rocha produziu um filme que retratou um Brasil duro e difícil de se viver, mostrando a vida de seu povo na profundeza de seu sofrimento. Lançado em meio à ditadura militar, o filme precisou sair escondido do Brasil. Foi indicado a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1964 e seu emblemático cartaz, criado por Rogério Duarte, saiu na capa da revista francesa de cinema “Positif (Uol, 2014). Enfim, um roteiro instigante e que desnuda o Brasil, mostrando características por muito veladas e até mesmo ignoradas. Ainda bem que Glauber Rocha não queria esconder a realidade.
REFERÊNCIAS:
Portal Uol, 09/07/2014. 50 anos de Deus e o Diabo: Glauber Rocha adorava polêmica, diz Othon Bastos. Disponível em: <https://goo.gl/LH3C3D>. Acesso em: 13 mar. 17.
SANTANA, A. L. Cangaceiros. Info Escola. Disponível em: <https://goo.gl/HefsIJ>. Acesso em: 13 mar. 17.
Portal História do Brasil.Net. Ditadura Militar no Brasil – Resumo. Disponível em: <https://goo.gl/ieOpFt>. Acesso em: 13 mar. 17.
SOUSA, R. G. Cinema Novo. Brasil Escola. Disponível em < https://goo.gl/cWSCnd >. Acesso em: 13 mar. 17.
SILVESTE, A. A. Messianismo. Info Escola. Disponível em: <https://goo.gl/HFvWAw>. Acesso em: 13 mar. 17.
FICHA TÉCNICA DO FILME:
DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
Diretor: Glauber Rocha Elenco: Geraldo Del Rey, Yoná Magalhães, Othon Bastos País: Brasil Ano: 1964 Classificação: 14
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Madre Teresa de Calcutá: um sopro de esperança aos sem vida
“O senhor não daria banho a um leproso nem por um milhão de dólares? Eu também não. Só por amor se pode dar banho a um leproso.”
Um exemplo notável de caridade, devoção, voluntariedade e, principalmente, humanidade em toda a história se encontra em um ser humano do sexo feminino, chamada Gonxhe Agnes Bojaxhiu. Provavelmente poucos já ouviram esse nome, mas saberão imediatamente de quem se trata ao descobrirem que é a mesma Madre Teresa de Calcutá. Nascida em 26 de agosto de 1910, em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia – que na época pertencia à Albânia [1], Gonxhe demonstra muito bem o amor à vida e a dignidade que todos merecem e deveriam receber.
Fonte: http://migre.me/wbL1x
Desde jovem, a Madre parecia conhecer a sua vocação missionária, ingressando na Congregação Mariana, em seguida (setembro de 1928), na Casa das Irmãs de Nossa Senhora do Loreto, em Dublin, na Irlanda. Essas irmãs possuíam um colégio em Darjeeling, na Índia, onde, em 1931, tomando o nome de Teresa, a Madre fez noviciado, os votos de obediência, pobreza e castidade, dando início a uma jornada de devoção e cuidado para com o próximo.
Essa jornada ganha força quando Teresa parte para Calcutá, também na Índia, para dar aula para as meninas ricas da cidade. Entretanto, ela abandona essa função e também o colégio das irmãs de Loreto em 1948 (depois de sua profissão perpétua, em 1937) para viver entre os pobres, cujos formavam a maior parte daquela cidade e causavam comoção na Madre.
Fonte: http://migre.me/wbL2Q
Percebendo a situação em que muitas pessoas ali viviam (ou apenas sobreviviam), Madre Teresa passou a pedir ajuda nas ruas e a auxiliar quem necessitava. Não demorou muito para que ganhasse adeptas ao seu movimento, entre elas, algumas de suas antigas alunas. Em 1950, funda uma congregação de religiosas, que gera várias casas de religiosas por toda a Índia e depois no exterior. Seu trabalho se torna visível, recebendo uma casa, cedida pelo Papa João Paulo II, para recolher os pobres. A casa se chama “Dom de Maria” [2].
Seu trabalho ganha ainda mais reconhecimento em 1979, quando Madre Teresa recebe o prêmio Nobel da Paz, pelos serviços prestados à humanidade. Tendo sua missão completada, Madre Teresa de Calcutá morre aos 87 anos, de parada cardíaca, deixando a tarefa de humanizar e cuidar mais da vida para todos que tomam sua atitude como exemplo. Foi beatificada em outubro de 2003, pelo Papa João Paulo II e canonizada em 2016, pelo Papa Francisco [2].
Fonte: http://migre.me/wbL3X
Ícone do trabalho voluntário e do amor ao próximo, Madre Teresa de Calcutá ainda vive nas ações de quem busca promover o bem e a ajuda, se preocupando com quem está ao redor. Além do mais, é um exemplo de/para muitas mulheres, representando essa massa que luta diariamente por melhorias, por igualdade, por respeito e por dignidade.
Referências:
[1] Portal G1, 2016. Quem foi Madre Teresa de Calcutá. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/09/quem-foi-madre-teresa-de-calcuta.html>. Acesso em: 04 mar 2017.
[2] Portal Uol, 2017. Biografia de Madre Teresa de Calcutá. Disponível em: <https://pensador.uol.com.br/autor/madre_teresa_de_calcuta/biografia/>. Acesso em: 04 mar 2017.