Livro transforma poesia num mosaico de sentimentos

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Um mural de camadas que vão se sobrepondo umas às outras. Essa é a sensação que a escritora Alexandra Vieira de Almeida pretende transmitir para o leitor por meio do livro “Painel”, que chega à sua segunda edição. A ideia é criar, por meio das poesias, um mosaico com elementos variados, misturando, em suas páginas, o subjetivo, o onírico e o denso. 

Segundo a autora, a obra se caracteriza principalmente pela pluralidade. A escritora explica que o título do livro tem ligação com a representatividade de um mosaico, como um verdadeiro caleidoscópio, onde o sonho e a realidade se mesclam. Para a poeta consagrada Astrid Cabral, a poesia de Alexandra “nocauteia a realidade”.

Nas páginas, a poeta carioca procura a metáfora como forma de apresentar a potência poética junto de diferentes imagens dimensionadas pelo onírico. Símbolos do inconsciente são lapidados pela arte como forma de trazer o interior para o exterior. “O dentro e o fora se conjugam belamente em muitos dos poemas metalinguísticos que abordam o próprio fazer da poesia”, comenta Alexandra.

Para Marcelo dos Santos, Doutor em Literatura Comparada pela UERJ, responsável pela orelha de “Painel”, a escritora “conduz o leitor para um lugar poético, construído por seus versos imagísticos no momento mesmo em que convite e imaginação se articulam.

Fonte: Arquivo pessoal.

Ficha técnica:

Livro: Painel, segunda edição

Autora: Alexandra Vieira de Almeida

Gênero literário: Poesia

Editora: Penalux

Tamanho: 21 cm x 14 cm

Páginas: 98

Preço: R$ 38,00

Link para comprar: https://www.editorapenalux.com.br/loja/painel?search=painel

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Livro brinca com o imaginário e o inconsciente do leitor

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Transportar o leitor a um estágio de êxtase poético a partir de imagens enigmáticas, inusitadas e inebriantes. Essa é a proposta do livro “40 Poemas”, da poeta Alexandra Vieira de Almeida, relançado pela editora Penalux. A obra traz textos mais herméticos e oníricos, que trafegam pelo imaginário e o inconsciente.

Por considerar a leitura como uma experiência arrebatadora que leva as pessoas aos mistérios do ser e do mundo, Alexandra faz questão de enfatizar essas características em sua obra com um conteúdo poético muito rico e extenso que brinca o tempo todo com a imaginação do público. “Meus poemas são caudalosos, transbordantes, como um rio que corre de forma vertiginosa. Quero embriagar o leitor com doses de vinhos num estado de sonho e fabulação”.

Segundo a autora, o trabalho recebeu grande influência de importantes épocas da literatura, como o Simbolismo e o Surrealismo. “As maiores inspirações vieram dos poetas Rimbaud e Murilo Mendes”.

Fonte: Divulgação

Ela comenta ainda que a poesia favorita é o “O pescador e o mar”, que consta na quarta-capa do livro. “É um dos poemas que minha mãe mais gosta. Mostra toda a relação do pescador com aquilo que o rodeia em sua atividade na água”.

Para o Doutor em Literatura Comparada pela UERJ Marcelo dos Santos, os poemas da obra de Alexandra são “ruídos de uma experiência que transita entre o sonho e o rito”. Segundo Santos, os textos levam o público para uma espécie de experiência que une sonhos e devaneios, ritualizando os versos como imagens malabaristas que introduzem os momentos de beleza como no estágio originário do mito.

Fonte: Divulgação

Sobre a autora

Nascida e criada no Rio de Janeiro, Alexandra Vieira de Almeida é professora, poeta, contista, cronista, resenhista e ensaísta, além de ser Doutora em Literatura Comparada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Já publicou cinco livros de poesia adulta, sendo o primeiro “40 poemas” e o mais recente “A serenidade do zero”. Também tem um livro ensaístico, “Literatura, mito e identidade nacional” (2008), e um infantil, para crianças de 6 a 10 anos, “Xandrinha em: o jardim aberto” (Penalux, 2017).

 

Ficha técnica:

Título: Livro “40 Poemas”

Editora: Penalux

Tamanho: 18 cm

Páginas: 78

Preço: 36,00

Link para comprar. 

Site pessoal.

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Florbela Espanca: “Deixa dizer-te os lindos versos raros que foram feitos pra te endoidecer!”

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Fonte: revistacult.uol.com.br

Aquela que passou a vida a procurar um verso deixou a nós inúmeros poemas. Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa-Alentejo, em Portugal, em 8 de dezembro de 1894. Filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antonia da Conceição Lobo foi educada pela madrasta e pelo pai. Realizou estudos no Liceu em Évora e fez o curso de Direito na Universidade de Lisboa.

Florbela Espanca foi casada três vezes! Em 1913 casou-se em Évora com Alberto de Jesus Silva Moutinho, seu colega da escola. A primeira seleção de seus poemas está datada de 1916, em que reuniu sua produção poética elaborada desde 1915 e deu início ao projeto Trocando Olhares.Foram coletados oitenta e cinco poemas e três contos. Um ano mais tarde, como consequência de um aborto involuntário, a escritora teve infetados os ovários e os pulmões. Por causa disso, precisou repousar em Quelfes (Olhão), onde apresentou os primeiros sinais sérios de neurose.

Em 1919, o livro de sonetos Livro de Mágoas teve uma tiragem de duzentos exemplares que se esgotou rapidamente. No ano seguinte, sendo ainda casada, a escritora passou a viver com António José Marques Guimarães, alferes de Artilharia da Guarda Republicana. O casamento entre eles só pôde ser realizado em 1921.

A segunda coletânea de seus sonetos, o Livro de Sóror Saudade, saiu em 1923 em uma edição paga por seu pai. Nesta época, residindo em Lisboa, Florbela começou a dar aulas particulares de português para sobreviver. Em 1925, divorciou-se pela segunda vez e casou-se com o médico Mário Pereira Lage, que conhecia desde 1921 e com quem vivia desde 1924.

Em 1927, Florbela Espanca começou a colaborar no Jornal D. Nuno de Vila Viçosa. Naquela época procurava um editor para a coletânea Charneca em Flor, enquanto preparava um volume de contos, O Dominó Preto, publicado postumamente apenas em 1982. Ainda neste ano, a morte de seu irmão, Apeles Espanca, em um acidente de avião, foi devastadora para a autora. A poetisa tentou o suicídio pela primeira vez em 1928, quando teve agravada sua doença mental. Em homenagem ao irmão, escreveu os contos que compõem As Máscaras do Destino, que fora publicado postumamente.

Em outubro e novembro de 1930, Florbela tentou o suicídio duas vezes, na véspera da publicação da sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, a poetisa perdeu definitivamente a vontade de viver. Não resistiu à terceira tentativa do suicídio e morreu em decorrência de suicídio por barbitúricos, em 1930, no dia de seu aniversário, com apenas 36 anos.

Segundo estudiosos de sua obra, ela deixou uma carta confidencial com seus últimos desejos, entre eles para que fossem colocados no seu caixão os restos do avião pilotado por Apeles quando sofreu o acidente. O corpo dela está, desde 17 de Maio de 1964, no cemitério de Vila Viçosa, a sua terra natal.

O poema Eu não abre o Livro de Mágoas, mas tem características de autobiográfica, da dor que a poetisa sofria:

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada… a dolorida…

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!…

Sou aquela que passa e ninguém vê…
Sou a que chamam triste sem o ser…
Sou a que chora sem saber porquê…

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

A vida da autora pode ser resumida como uma vida cheia de amores, mas que nenhum deles fosse o “certo”. Neste poema, por exemplo, percebemos a presença do amor predestinado, do príncipe encantado que deveria encontrá-la e que nunca a encontrou. A última estrofe (ou terceto) é, talvez o que melhor resuma a vida amorosa de Florbela Espanca. Uma vida cheia de amores, sem que nenhum fosse o certo.

Em História da Literatura Portuguesa, António José Saraiva e Óscar Lopes (2000, p. 967) descrevem Florbela Espanca como sonetista de “laivos anterianos”1 e “uma das mais notáveis personalidades líricas isoladas, pela intensidade de um emotivo erotismo feminino, sem precedentes entre nós [portugueses], com tonalidades ora egoístas ora de uma sublimada abnegação que ainda lembra Sóror Mariana2, ora de uma expansão de amor intenso e instável […]”. E acrescentam que a obra da Florbela “precede de longe e estimula um mais recente movimento de emancipação literária da mulher, exprimindo nos seus acentos mais patéticos a imensa frustração feminina das […] opressivas tradições patriarcais”. Amar é um exemplo disso:

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui… além…
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente
Amar!Amar!E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!…
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma Primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder… pra me encontrar…

A poesia de Florbela Espanca é caracterizada por um forte teor confessional. A poetisa não se sentia atraída por causas sociais, preferindo exprimir em seus poemas, os acontecimentos que diziam respeito à sua condição sentimental. Não fez parte de nenhum movimento literário, embora seu estilo lembrasse muito os poetas do romantismo.

Rolando Galvão, autor do artigo sobre Florbela Espanca publicado na página eletrônica Vidas Lusófonas, lembra a correspondência da poetisa com o irmão, Apeles, e com uma amiga próxima, que apenas viu em retrato. O autor do artigo ressalta os excessos verbais da escritora, provocados, segundo ele, pela sua imoderação para exprimir uma paixão. A sua exaltação do amor fraternal também é considerada fora do comum. Galvão repara que esses limites alargados na expressão do amor, da amizade e das afeições, são na obra florbeliana uma constante.

Outro aspecto bastante discutido acerca da poética de Florbela Espanca é o erotismo. Na maioria de suas obras Florbela Espanca retrata a sensualidade, o confidencial, a feminilidade e a erotização, uma vez que, através destas temáticas, a autora buscou a emancipação literária da mulher e ousou levar ainda mais longe o erotismo feminino . Sua produção é envolvida por sugestões advindas pelo uso das reticências. Um exemplo está no poema Se tu viesses ver-me hoje à tardinha:

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

A primeira estrofe do poema “Se tu viesses ver-me hoje à tardinha”, há a presença de um desejo direcionado a alguém que certamente não estivesse disponível no sentido de não completar ou satisfazer suas expectativas amorosas. Na segunda estrofe surge a confissão de momentos de amor vivenciados, descrevendo detalhadamente situações amorosas, permanecendo apenas a saudade. Também é perceptível o erotismo na terceira estrofe, em que a poetisa retrata uma relação de elementos sensuais como beijo, seda vermelha, canto e riso. Além disso, o vermelho é um elemento de tradução do erotismo.

Outro aspecto que vai mostrar a presença do erotismo é a expressão “linda e louca” presente no primeiro verso desta estrofe, trazendo a ideia de uma mulher loucamente apaixonada que se sente linda aos olhos do objeto desejado. Na última estrofe o erótico é intensificado nos termos “sol” e “desejo”. Florbela Espanca deixa a nós leitores saudade sim… talvez… e por que não?

Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?…
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?… Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!

Convido vocês a ouvirem os poemas de Florbela Espanca recitados por Miguel Falabela. O áudio está no sítio: <http://www.prahoje.com.br/florbela/?p=247>. Não se esqueçam de nos dizer se gostaram.

Referências:

ESPANCA, Florbela. Poemas de Florbela Espanca. Edição preparada pó Maria Lúcia Dal Farra. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

____. Sonetos Completos. 7. ed. Prefácio de José Régio. Coimbra: Livraria Gonçalves, 1946.

____. As Máscaras do Destino. 4. ed. Prefácio de Agustina Besa Luís. Amadora: Bertrand Editora, 1982.

____. Contos Completos. 2. ed. Venda Nova: Bertrand Editora, 1995.

____. Obras Completas de Florbela Espanca, Lisboa: Publicações D. Quixote, 1992.

____. Obras Completas – Poesia (1903 – 1917). Coleção Obras Completas de Florbela Espanca. Vol. I. Lisboa: Publicações D. Quixote, 1985.

____. Poesia Completa. Prefácio, organização e notas de Rui Guedes. Coleção Autores de Língua Portuguesa – Poesia. Venda Nova: Bertrand Editora,1994.

____. Sonetos. Prefácio de José Régio. Lisboa: Bertrand Editora, 1982.

FARRA, Maria Lúcia Dal. Afinado desconcerto (contos, cartas, diário). São Paulo: Iluminuras, 2001.

____. Florbela Espanca. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1994.

____. “Florbela inaugural”. Literatura portuguesa Aquém-Mar, Annie Gisele Fernandes e Paulo Motta Oliveira, pp. 197–211. Campinas: Editora Komedi, 2005.

____. “Florbela: um caso feminino e poético”. Poemas de Florbela Espanca. São Paulo: Martins Fontes, 1996, pp. V-LXI.

Notas:

1 Uma referência ao poeta português Antero de Quental.
2 Sóror Maria Alcoforado. Qualquer dia desses, contarei a vocês sobre a produção das cartas de amor desta freira portuguesa a um oficial francês…

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