Conhecendo o trabalho do psicólogo militar: (En)Cena entrevista Janise Mara de Souza

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“Penso que a maior contribuição do serviço de psicologia na
polícia militar é ser uma ponte, um ponto de referência
ao sujeito que ainda adoece vitimado pela sua atividade profissional”
Major Janise Mara de Souza – Psicóloga

A Major Janise Mara de Souza é psicóloga na Polícia Militar do Estado do Tocantins (PMTO) há 15 anos e desenvolve um trabalho de atenção à saúde mental, numa perspectiva institucional, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos militares e seus dependentes.

Na entrevista que ela cedeu ao Portal (En)Cena podemos nos aproximar da realidade prática de um profissional psicólogo militar, suas atribuições e principalmente seus desafios, numa modalidade de trabalho com especificidades que refletem diretamente na sua prática.

(En)Cena – Quando e como foi o seu ingresso na Polícia Militar do Tocantins?

Major Janise Mara de Souza –  Foi por meio do concurso público para oficial psicólogo realizado no ano de 2004. Fui chamada para inclusão no quadro de oficiais da saúde da Polícia Militar do Tocantins para o cargo de tenente psicólogo em julho de 2006.

(En)Cena – Como está estruturado o serviço de psicologia na Polícia Militar do Tocantins?

Major Janise Mara de Souza – O serviço de psicologia está subordinado à Diretoria de Saúde e Promoção Social (DSPS), dentro da estrutura organizacional da PMTO e recentemente foi criada a coordenação técnica estadual de psicologia da DSPS. O serviço de psicologia está distribuído no Estado do Tocantins da seguinte forma: temos dois Majores psicólogos lotados no Centro de Atenção Integral à Saúde do Policial Militar (CAIS PM), ligado ao Quartel do Comando Geral, uma Major psicóloga lotada no 5º Batalhão em Porto Nacional e uma Tenente-Coronel psicóloga do Corpo de Bombeiros Militar cedida para o Centro Integrado de Reabilitação e Readaptação (CIRR). Temos ainda: cinco psicólogos contratados pela Fundação Pró-Tocantins designados para trabalharem em Palmas, Tocantinópolis, Araguatins, Araguaína, Dianópolis e Arraias. Quatro psicólogos civis cedidos pela Secretaria de Saúde do Tocantins que atuam no CAIS PM em Palmas, e por último, ainda temos dois militares, um Subtenente e um Major Capelão, que são também psicólogos e atuam no 4º Batalhão na cidade de Gurupi.

(En)Cena – Quais as principais atribuições de um psicólogo militar e as demandas atendidas?

Major Janise Mara de Souza – O psicólogo militar é responsável pela gestão do serviço de psicologia e por cumprir as demandas relacionadas principalmente a organização, tais como avaliações psicopatológicas para a junta militar central de saúde, avaliação para registro e porte de armas, assistência psicológica aos militares e seus dependentes, bem como implantação e desenvolvimento de programas de promoção em saúde mental e prevenção de adoecimento psíquico. Além disso, é necessária atenção ao regulamento interno da PM TO e cumprir com todas as obrigações militares, tais como convocações e determinações do Comando Geral.

(En)Cena – Quais as maiores dificuldades enfrentadas para o desenvolvimento do trabalho do psicólogo na Polícia Militar do Tocantins?

Major Janise Mara de Souza – O desafio ainda é implantar uma cultura de promoção à saúde mental, de valorização da subjetividade dentro de uma instituição marcadamente hierárquica, com códigos e valores próprios, muitas das vezes contrários aos propósitos da psicologia.

(En)Cena – Quais seriam as maiores contribuições do serviço de psicologia para a Polícia Militar?

Major Janise Mara de Souza – Penso que a maior contribuição do serviço de psicologia na polícia militar é ser uma ponte, um ponto de referência ao sujeito que ainda adoece vitimado pela sua atividade profissional, e também aqueles militares que estão passando por problemas relacionados a outros contextos de sua vida pessoal. Outro ponto importante de contribuição, são as atividades relacionadas à psicoeducação, trabalhando com temas em prol de construir e promover a saúde e a qualidade de vida nessa coletividade que é a PMTO. O serviço de psicologia também é um dispositivo de acesso ao cuidado em saúde mental para os familiares dos militares.

(En)Cena – Que tipos de mudanças ocorreram no contexto de trabalho em razão da pandemia da Covid-19?

Major Janise Mara de Souza – No auge da pandemia os atendimentos psicológicos presenciais foram totalmente suspensos e rapidamente foram implantados os atendimentos online, nas mais diversas plataformas de interação social, sendo resguardado todo o cuidado e atenção aos documentos emitidos pelo Conselho Federal de Psicologia para essa modalidade de atendimento. Posteriormente, foram retomados de forma híbrida os atendimentos psicológicos, ou seja, atualmente temos atendimentos on-line, atendimentos presenciais individuais e de pequenos grupos, com todas as orientações sanitárias em relação ao cuidado para não propagação do coronavírus.

(En)Cena – Como você atualmente avalia os resultados do trabalho desenvolvido pelo serviço de psicologia da Polícia Militar do Tocantins? quais os principais avanços?

Major Janise Mara de Souza – Avalio muito positivamente os resultados alcançados nestes 16 anos de inclusão dos primeiros psicólogos no quadro de oficiais da saúde da PM TO. Somos uma equipe que visa sempre pensar diretrizes que fortaleçam o trabalho da psicologia nesse cenário de atuação, ou seja, o serviço voltado para a instituição de segurança pública. Em todos esses anos, o trabalho do psicólogo tem se delineado com a proposição de assessorias técnicas aos comandos, pesquisas realizadas e projetos desenvolvidos. Temos buscado incessantemente estar interligados com todos os profissionais psicólogos da Polícia Militar do Estado do Tocantins, provendo acesso ao serviço de psicologia para os militares e seus familiares das mais longínquas cidades, e essa inclusive foi nossa mais recente conquista, pois o serviço estava disponível apenas nas cidades de Palmas, Araguaína e Gurupi. Atualmente esse serviço se expandiu para duas cidades no bico do Papagaio, e duas cidades ao sul do estado, Dianópolis e Arraias.

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Articulação entre SUS e PM no combate à violência contra a mulher é tema de mesa redonda

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A mesa redonda é parte da programação do CAOS 2018 que acontece no Ceulp até o dia 24 de maio.

Ocorre na manhã desta quarta-feira (22) nas dependências do CEULP/ULBRA, a mesa redonda “Sexualidade e Sistema Único de Saúde: da atenção primária ao cuidados de vítimas de violência sexual” como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2019. As atividades foram conduzidas pela psicóloga Raphaella Pinheiro e pela capitã da Polícia Militar Flávia Roberta de Oliveira, com mediação da psicóloga Izabela Almeida Querido.

Na mesa redonda foram discutidos casos de violência doméstica e sexual atendidos pelo Sistema Único de Saúde em articulação com a Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar, através do NUPAV (Núcleo de Prevenção de Acidentes e Violência, Promoção da Saúde e Cultura da Paz). Foram apresentadas as principais características e o perfil de vulnerabilidades das mulheres que estão em situação de violência doméstica e sexual, entre elas a dominação patriarcal, a dependência financeira e a comunicação violenta.

Fonte: encurtador.com.br/dmzNY

A Patrulha Maria da Penha é um policiamento especializado e preventivo, que atua através de visitas preventivas, evitando que agressores descumpram as medidas protetivas. As atendidas podem entrar em contato com a Patrulha, que realiza rondas nas regiões específicas onde as atendidas residem e trabalham. Além disso, a Patrulha realiza palestras em escolas com o objetivo de conscientizar crianças e adolescentes acerca de possíveis violências no âmbito doméstico.

Raphaella Pizani Castor Pinheiro é psicóloga, possui formação em psicanálise, psicologia hospitalar e terapia sistêmica, é mestre e especialista em saúde. Flávia Roberta de Oliveira é bacharel em direito e em segurança pública, Capitã QOPM, comandante da Patrulha Maria da Penha de Palmas-TO.

Mais informações podem ser obtidas no site do evento.

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CAOS: Sessões técnicas abrem espaço para comunicação oral

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Nesta quarta, 23 de agosto, ocorreu na sala 405 do Ceulp/Ulbra, as sessões técnicas do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – Caos. Três trabalhos foram apresentados, sendo “Análise dos riscos psicossociais entre os policiais militares da 1ª companhia independente de Arraias-TO”, por Thatiellen Menezes Ferreira (UFT); “Violência e trabalho: a escuta clínica do sofrimento com um policial militar afastado”, por Almerinda Maria Skeff Cunha (UFT); e “A afetividade no processo ensino-aprendizagem por meio da escuta atenciosa: uma proposta de intervenção”, por Gisélia Nogueira N. Vasconcelos (CEULP/ULBRA).

Em pesquisa com os policiais de Arraias-TO, Thatiellen procurou trabalhar com escala e organização de trabalho; escalas e estilos de gestão; escala de sofrimento patológico no trabalho e escala de danos físicos e psicossociais. Muitos relatam a falta de oportunidade de crescimento dentro da empresa, falta de autonomia e de reconhecimento, e mostraram a necessidade de haver mais diálogo e humanização no meio militar.

Na pesquisa foi possível identificar, dentre os pesquisados, que 17,6% sentem-se muito inúteis no trabalho e 82,4% relatam que suas tarefas são banais, que o trabalho que exercem é sem sentido e a identificação com suas tarefas é inexistente. Em relação a danos físicos, 48,6% relataram ter dores nas costas, alterações do sono e dores nas pernas. Já 47,3% relataram ter distúrbios digestivos, distúrbios circulares e alterações no apetite. Muitos disseram que tem a família como apoio e buscam pensar positivo para superar as dificuldades psicológicas e físicas demandadas pelo trabalho.

Na segunda sessão técnica, a pesquisa visou identificar situações de violência no trabalho vivenciadas pelo policial militar afastado. Almerinda começou falando sobre a globalização como geradora de novas formas de trabalho. Houve uma substituição do trabalho vivo (ato de trabalhar) para o trabalho morto (sistema de máquinas), havendo maior competitividade, exigência de produtividade e eficiência, resultando em maior desgaste físico e psicológico. Almerinda relata que a escolha de fazer a pesquisa com um policial militar se deu pela pouca representatividade desses profissionais para a sociedade e não havia esta escuta para esse público do Tocantins, havendo a necessidade dessa escuta clínica.

Por fim, na terceira sessão técnica foi apresentado que ensinar/aprender é uma relação de interdependência, onde aluno e professor trabalham juntos no processo de construção do conhecimento e de ensino-aprendizagem, que é interativo, dinâmico e dialético. Gisélia mostrou alguns fatores que influenciam nesse processo, como os intraescolares (por exemplo, infraestrutura da escola), extraescolares (por exemplo, emoções dos alunos), problemas comportamentais, emocionais, comunicativos, físicos, motivação intrínseca e extrínseca.

O foco do trabalho de Gisélia é mostrar que um ambiente favorável, com planejamento contextualizado e com conteúdos que interessem aos alunos, em que a relação professor-aluno tenha maior proximidade, maior vínculo e, principalmente, maior afeto e escuta atenciosa, geram maior probabilidade de a aprendizagem ocorrer. Gisélia promove essa escuta atenciosa com adolescentes da escola onde trabalha, que somada ao diálogo efetivo e afetivo, fortalecem o vínculo e a compreensão um ao outro.

Gisélia referencia Bastos (2009), que diz que “a escuta atenciosa não é passiva, ela coloca o sujeito em movimento” e Morales (2006), que diz que “o afeto transforma as situações conflituosas e limitantes”, concluindo que há a necessidade de profissionais mais atentos e comprometidos com a qualidade do ensino e abertos a novas práticas, pois a relação professor-aluno deixa marcas profundas em ambos.

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