Bifobia: o que é isso?

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Para entender o que seja a bifobia, faz- se necessário revelar qual grupo está sendo alvo de agressões e discriminações, uma vez tratar-se de um grupo que não há muitas informações nas mídias, sua visibilidade ainda é pouco difundida. Pois bem, pode-se dizer que, a bifobia seja a aversão, discriminação e/ou o preconceito contra pessoas bissexuais, isto é, a desvalorização da identidade bissexual e a negação de sua existência, por meio cruel de discriminação do indivíduo, baseada na orientação sexual.

Oportuno ressaltar, que a pessoa bissexual não se relaciona apenas com homens e mulheres cisgêneros (pessoas que se identificam com o gênero que nasceram), eles também sentem atração por pessoas trans, não-binárias (que não se identificam com os gêneros masculino e feminino) e de qualquer outra identidade de gênero. Alguns negam a existência do bissexual por que este, socialmente é tido como sendo hétero.

Algumas pessoas pensem que a bissexualidade é seja passageiro e/ou uma fase, ou mesmo que o bissexual está confuso, com receio em ser homossexual, assim sendo, cri que logo definirá que gosta de pessoas do mesmo gênero ou do oposto. No entanto, a pessoa bi não se enquadra nos padrões heteronormativos.

Diante desses conceitos sociais e crenças limitantes, raiz da bifobia, que fez e faz-se presente em nossa sociedade. Tanto a bissexualidade quanto a bifobia, ainda são poucas divulgadas, apesar de estar no rol do grupo LGBTQUIAPN+ , comunidade que visa a representatividade dos grupos nela inserida, talvez a pouca divulgação seja em virtude de serem vítimas de violência simbólica. Pois, o que não está no universo da visão social, inexiste.

No Brasil, há uma ordem inversa às perspectivas dos indivíduos LGBTQUIAPN+ , uma corrente de desvalorização, invalidação e violência contra as identidades “Das Unheimliche”,  àquela instituída pelos ditos conservadores, defensores dos bons costumes e da família, os heterossexuais, os quais ainda esquivam-se em um conservadorismo arcaico e ultrapassado para legitimar suas agressões.

                                                                                                                           Fonte: significados.com.br

Bandeira Bissexual. Desenhada em 1998. O significado de suas cores. “A cor rosa- representa a atração sexual e/ou romântica por pessoas do mesmo gênero. O azul -simboliza a atração sexual/romântica por pessoas do gênero oposto. A cor roxa, faixa central, cor resultante da junção do azul com o rosa (ou vermelho), simbolizando a atração tanto pelo gênero oposto, como pelo mesmo gênero”.

Violência é toda e qualquer atitude que venha a trazer sofrimento a outrem, seja ela, física, moral, social, e/ou psicológica, sendo definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) como : o “uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou efetivamente, contra si mesmo, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do desenvolvimento ou privações

Contrapondo a esse movimento nefasto, há a necessidade de leis para coibir tais arroubos agressivos, pois, no país, só há o mínimo de respeito pelo diferente, se se houver uma medida coercitiva, punitiva para rechaçar os ímpetos primitivos e cruéis dos héteros conservadores.

Corroborando nesse sentido, estamos diante da premissa de uma nova normativa, o  Projeto de Lei N° 1138, De 2023,  o qual “ Dispõe sobre a obrigatoriedade de afixação de placa informativa proibindo as discriminações ou preconceitos de cor, raça, etnia, religião, procedência nacional, orientação sexual, identidade de gênero e análogos, em estabelecimentos públicos e privados, e dá outras providências” .  Autoria do Senador Jader Barbalho (MDB/PA).   São lutas intermináveis, para e pela garantia de direitos da pessoa humana.

Não deveria ter uma norma nova quando esta garantia é clara e precisa no Princípio Constitucional da Igualdade – CF/ 1988, disposto em seu Art. 5º , nos seguintes termos : “ Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (…)”.

                                                                                                             Fonte: https://stock.adobe.com/br

Vale ressaltar, que os héteros discriminadores e ditos conservadores, em sua maioria são brancos, possuidores de uma mente tacanha, cruel, retrógrada , impertinente e impiedosa. E porque não dizer, críticos de si?

E, estando no centro dessa violência silenciosa e corrosiva, as pessoas que sofrem bifobia experienciam diversos prejuízos psicológicos, tais como, baixa autoestima, ansiedade, depressão, isolamento social, estresse e até mesmo pensamentos suicidas e suicídios. A discriminação e a violência constante, afeta negativamente a saúde mental e emocional das pessoas bissexuais.

                                                                                                                 Fonte: https://br.freepik.com

Reforçando o antedito, irrefutável que a discriminação bifóbica atinge de forma impactante e significativa  o bem-estar psicológico das pessoas bissexuais. Essa discriminação, de invalidação da identidade do indivíduo, pode leva-lo a sentimentos de vergonha, ansiedade, depressão, baixa autoestima e isolamento social. Bem como, dificultar o processo de auto aceitação pessoal, afetando sobremaneira  relacionamentos, seja social e/ou afetivo  e prejuízos à sua saúde mental e,  até mesmo o risco de comportamentos autodestrutivos.

E, nesse emaranhado, ambiente de hostilidade e violência, os grupos tentam fazer-se visíveis e respeitados socialmente, bem como, dar e ampliar vozes, o grupo em voga,  criaram O Dia da Visibilidade Bissexual, cujo dia, celebra-se,  no  23 de setembro, data criada em 1999 pelos ativistas em direitos bissexuais Wendy Curry, Michael Page e Gigi Raven Wilbur.

                                                                                                         Fonte: https://stock.adobe.com

 

Os bissexuais, são como dardos social, são alvos de investidas cruéis, das mais difusas e complexas. Não raro,  homens e mulheres bissexuais sofrem com a invalidação de suas sexualidade. Quanto às mulheres, estas podem ser motivação para fetiche, quanto aos homens são classificados como “gays que não saíram do armário”. Conhecimento de mundo que a  falta de informação gera preconceito.

Pensando nessa premissa, que o grupo LGBTQUIAPN+, juntos ou individualmente, vislumbram novos horizontes com a divulgação de sua existência para que sejam evidenciados e respeitados como declina a nossa Carta Magna.

Diante desses movimentos para evidenciar-se como pessoa dotada de direitos e garantias, como todo e quaisquer brasileiro, o grupo bissexual, deseja, para, quem sabe, um dia, a nossa sociedade possa conviver em harmonia e paz, com as pessoas como elas são e não como a sociedade decida como e o que ela seja de fato.

REFERÊNCIA

BÊ-Á- BÁ PARA COMPREENSÃO DAS DIFERENÇAS PAG.40 Fonte: Adaptado de Chauí (2012).

___________CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE  1988.

https://pt.linkedin.com/pulse/turismo-brasileiro-%C3%A9-branco-h%C3%A9tero-conservador-e-hubber-clemente?trk=pulse-article_more-articles_related-content-card

Robson de Carvalho, coordenador de Políticas de Cidadania e Diversidades de Diadema e ex-presidente da ONG Viva a Diversidade.

https://www.significados.com.br/bandeiras-lgbt/

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Rei do show: $84 milhões contra o preconceito e o racismo

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Vocês já ouviram uma música chamada Rewrite the stars, e uma chamada This is me? Essa é uma das músicas mais icônicas e inesquecíveis que já escutei, elas pertencem a um filme, do gênero musical, que é um grito de $84 milhões contra o preconceito e o racismo. Se você não conhece, corre para conhecer que você não vai se arrepender.

Só para começar, a música “This Is Me” ganhou o prêmio de “Melhor Canção Original em Filme” no 75º Golden Globe Awards. Ela também foi indicada para “Melhor Canção Original” no 90º Academy Awards, mas perdeu para “Remember Me”. Além disso, foi indicada para o Grammy Award de Melhor Canção Escrita para Mídia Visual na 61ª edição do Grammy Awards.

A trama se passa no século XIX e é inspirada na vida de P.T. Barnum, considerado um dos pais do circo moderno. Barnum era um sonhador de origem humilde que, desde a infância, sonhava com um mundo mágico. Ele desafiou as convenções sociais ao se casar com a filha do patrão de seu pai e abriu um museu de curiosidades. Após falir em seu empreendimento, resolveu criar um grande e curioso show com as mais diversas pessoas, e a partir daí começa a sua aventura.

(Alerta de spoiler) Barmun inicia sua procura por pessoas diferenciadas, em diversos lugares, e vai criando esse maravilhoso show, em meio a muita música, encontra um sócio o qual o ajuda com esse novo sonho, e cada pessoa que ele encontra é uma baita de uma surpresa, cada um com suas características diferentes, e talentos singulares.

Dentre os diversos “mini” dramas que se desdobram ao longo do filme, um que realmente me empolgou foi a relação entre Anne e Phillip. Phillip, um jovem branco, desafia todas as expectativas familiares ao se apaixonar por uma mulher negra. É muito bom acompanhar os altos e baixos desse relacionamento. Uma das canções mais belas do filme, “Rewrite the Stars”, é apresentada justamente nessa parte da trama. Traduzi uma parte dela aqui em baixo, para terem uma ideia.

“Você que decide, e eu que decido

Ninguém pode dizer o que nós podemos ser

Então, por que não reescrevemos as estrelas?

E talvez o mundo possa ser nosso hoje à noite”

 Lettie Lutz é outra personagem de grande importância no filme. Ela assume a liderança do grupo, quando o mesmo se encontra em uma situação extremamente desconfortável. Barnum, ao que parece, sente vergonha deles e os impede de entrar em uma festa de gala. E é nessa parte que aparece a música This is me, aquela que também já mencionada, e que ganhou o prêmio de melhor canção original em filme.

“Quando as palavras mais afiadas quiserem me cortar

Eu vou enviar um dilúvio, vou afogá-las

Eu sou corajosa, eu tenho feridas

Eu sou quem eu deveria ser, essa sou eu

Cuidado, porque aí vou eu

E estou marchando na minha própria batida

Não tenho medo de ser vista

Eu não peço desculpas, essa sou eu”

                                                                                                                              Fonte: adorocinema.com

Uma das mais simbólicas músicas do filme: This is me

O filme tem muitos assuntos a abordar, um dos temas principais é aceitação do próximo e a luta contra o preconceito, o empoderamento, e busca de seus sonhos, o musical, é uma obra de arte na fotografia e nas próprias músicas, é emocionante, e ainda existem inúmeras tramas vale a pena conhecer.

Referências:

O rei do show, Adoro cinema, [S.D.]. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-170828/. Acesso em: 02 de outubro de 2023;

O Rei do Show,moviescrit.blogspot,2017. Disponível em: moviescrit.blogspot.com/2017/12/o-rei-do-show.html. Acesso em: 02 de outubro de 2023.

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Etarismo: discussões sobre a vivência acerca do preconceito etário

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Etarismo, o preconceito contra a idade, é um assunto que está sendo destacado nos tempos atuais, mas infelizmente é uma realidade que se faz presente há muito tempo em nossa sociedade. 

O (En)cena tem o prazer de entrevistar a mestre Erna Augusta Denzin, para falar um pouco da sua perspectiva em relação ao etarismo e se o mesmo já afetou sua vida de alguma forma. 

Quem é Erna Augusta Denzin?

Erna tem um vasto currículo, possui Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Federal do Tocantins (2010), Especialização em Formação de Professores para Ensino Superior pelo CEULP/ULBRA (2006) e Graduação em Administração também pelo Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA (2004). É professora em cursos de graduação e especializações lato sensu ministrando disciplinas da área de formação. Exerceu o cargo de coordenadora do Curso de Administração da Faculdade Serra do Carmo no período de 2007/2008 e coordenou a Comissão Própria de Avaliação por dois anos na Faculdade Católica do Tocantins (2009/2010). Atualmente, é professora efetiva no Instituto Federal de educação Ciência e Tecnologia do Tocantins (IFTO), onde exerceu a função de Coordenadora de Cursos Superiores (2011 a 2013), de Diretora de Pós Graduação junto à Pró Reitoria de Pesquisa e Inovação (2014 a 2016) e Assessora de Empreendedorismo junto ao Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) (2012 a 2016). Atualmente exerce a função de Diretora do Núcleo de Inovação Tecnológica – NIT, além de ter desenvolvido projetos de pesquisa e extensão junto a setores produtivos da região. No ano de 2016 participou do Programa Vocational Education Training III – Professores para o Futuro – Finlândia, sendo bolsista SETEC/MEC e CNPq. Tem experiência na área de Administração, com ênfase em Gestão Empresarial e Ciência, Tecnologia e Inovação, atuando principalmente nos seguintes temas: inovação tecnológica, educação, administração, assessorias em implantação de sistemas de gestão da qualidade e gestão empresarial.

Em relação ao que iremos falar, é importante conceitualizar o que é o etarismo. Palmore (1999) diz que, o etarismo caracteriza-se como o preconceito ou estereotipização de grupos ou indivíduos em relação a idade. A negação de oportunidades de trabalho e emprego é algo comum dentro do etarismo, assim como a marginalização e exclusão social de pessoas mais velhas dentro de vários contextos, bem como a educação, ciclos sociais e outros. 

(En)Cena: Então, para começarmos, poderia nos dizer quem é Erna?

Erna: A Erna é uma jovem senhora de 57 anos, alegre, de bem com a vida, feliz com a vida que tem e com a profissão que escolheu. Procura viver intensamente cada momento de sua vida. Mas também é doce, é calmaria, é paz, é porto seguro para quem faz parte de seu círculo íntimo…. Creio que essa é a Erna (risos)

(En)Cena: Atualmente você é uma mulher com uma vida bastante agitada, como é isso para você? Sempre foi assim?

Erna: Sim….minha vida com a graça de Deus é bastante agitada. Pra mim é como me sinto viva! Tenho prazer em fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Me sinto orgulhosa de mim por poder ser assim, às vezes tento dar uma reduzida nas atividades, mas não consigo…(risos). Gosto de ser assim. Sobre ser sempre assim, desde que me conheço por gente sempre fui assim. Sempre envolvida em muitas coisas de trabalho, da igreja, na família…..não me lembro de um dia ter tido uma vida tranquila – (risos)

(En)Cena: E como as pessoas ao seu redor vêem essa movimentação? 

Erna: Meus irmãos não se assustam. A vida deles é meio como a minha… Creio que para meus filhos era problema quando eles eram mais jovens, mas nunca chegaram a expressar verbalmente. Atualmente minha filha principalmente, diz que eu poderia reduzir minhas atividades que eu já estou merecendo ter uma vida mais tranquila. Meus amigos dizem que eu faço muita coisa, mas como eles são assim também acabam perdendo a força para argumentar (risos). Então, como você pode perceber, sou rodeada de pessoas que são como eu. Por isso nos damos bem (risos).

(En)Cena: As pessoas com quem você convive te apoiam? 

Erna: Com certeza me apoiam. Até me incentivam. Porque todas elas sabem que isso me faz bem. Quem convive comigo sabe que se eu parar vou ter problemas sérios tanto de saúde emocional quanto física.

(En)Cena: Erna, você tem conhecimento do termo “etarismo”? 

Erna: Sim. sim….conheço o termo. Discriminação pela idade.

(En)Cena: E você já vivenciou isso de alguma forma?

Erna: Profissionalmente não. Muito pelo contrário. Nunca alguém fez qualquer tipo de insinuação pela minha idade. Sempre fui e ainda sou respeitada como profissional e até elogiada por ser como sou na idade que tenho. Nas relações de amizade também nunca tive problemas por causa da minha idade. Aliás, a maioria dos meus amigos são bem mais jovens que eu e isso não afeta em nada nosso relacionamento. 

Talvez isso tenha apresentado algum problema em relacionamentos amorosos depois da separação. Uma mulher com a minha vida e com a minha idade, em minha opinião (friso isso porque muitos não concordam – risos) já não tem mais as mesmas chances (por assim dizer) que as mulheres mais jovens. Em minha opinião, homens da minha idade preferem mulheres mais jovens e homens mais jovens também porque sentem necessidade de coisas que já não são mais prioridade para mim. Isso pode trazer alguns conflitos.

(En)Cena: Para você, como o mercado de trabalho enxerga pessoas da sua idade? 

Erna: Em minha opinião o mercado vê as pessoas  da minha idade com ressalvas. Eu sou da geração Baby Boomer (nasci em 1965). O mundo do trabalho mudou radicalmente nos últimos 50 anos. Minha geração teve que se adaptar a muitas mudanças e teve que aprender a ser resiliente. Entretanto, é nítido e claro que os profissionais mais jovens estão muito mais antenados com a tecnologia que os da minha idade. Por outro lado os da minha idade tem muito mais responsabilidade e compromisso que os jovens. Vejo que o mercado prefere os recém formados os mais jovens, deixando os mais velhos como mentores ou consultores. Além do que um profissional recém formado é muito mais barato para as empresas que alguém que já tem anos de mercado. Dessa forma, se alguém perder o emprego com a minha idade terá muito mais dificuldade em encontrar uma nova vaga.

(En)Cena: Essa visão preconceituosa e reducionista que uma parte da sociedade tem, em relação a idade, você sente que é como se as pessoas tivessem um prazo de validade?

Erna: Na verdade não sinto como prazo de validade, mas como algo que pode ser descartado mesmo sem estar vencido (risos). Porque o mercado não leva muito em conta a experiência, a maturidade. Aliás, o imaginário das pessoas vê idosos como velhinhos, com bengala, cabelos brancos, brincando com netinhos….o fato é que a realidade é bem diferente. E cada vez mais os jovens terão que aprender a conviver com idosos produtivos concorrendo com eles com muito mais experiência e bagagem de vida. E ninguém gosta de concorrência….(é  isso que eu penso).

(En)Cena: Para você, o etarismo é um assunto atual? Ou a pauta sobre o preconceito contra a idade sempre esteve presente na sociedade?

Erna: Em minha opinião sempre esteve presente. Nos tempos modernos temos a internet e tudo se torna mais visível basicamente em tempo real. Isso facilita a disseminação das ideias. Mas ela sempre existiu. Pessoas mais velhas sempre foram tidas como “estorvo”, seja na família, seja no mercado de trabalho. Antes era mais difícil se tornar visível. Hoje, com a tecnologia esse assunto, assim como muitos outros, são tornados públicos com muito mais facilidade.

(En)Cena: Você como professora, acha importante esse assunto ser integrado no mundo acadêmico?

Erna: Com certeza. É importante ressaltar que a idade não tem deixado as pessoas menos produtivas. As muitas tecnologias disponíveis permitem que pessoas mais velhas ainda tenham vigor físico para trabalhar. Isso aliado à experiência da maturidade torna as pessoas com competências para atuar em todos os setores. Dessa forma, isso precisa ser tratado com naturalidade, para quebrarmos esse preconceito. E isso só se faz com discussões na sociedade e educação.

(En)Cena: A idade é algo que te intimida? 

Erna: Jamais!!!!!!! (risos) A idade me fez mais forte, mais atraente, mais segura de mim e com um conhecimento acumulado que me permite fazer conexões cerebrais que os jovens ainda gastarão muito tempo para ter (risos). Tenho muito mais vontade de viver pois sei que tenho menos tempo de vida do que já vivi. Mas essa consciência serve para me fazer útil e me dar ânimo e não o contrário.

(En)Cena: E existe alguma idade para parar?

Erna: Na minha opinião não existe idade para parar. Até porque “parar” mesmo só quando a gente morre. A gente muda de atividade. Deixa uma para fazer outra……nada de para.

REFERÊNCIA:

PALMORE, Erdman Ageism. Negativo e Positivo. 2ed. Springer Publishing Company. New York. 1999.

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Tratamento de Depressão e o Preconceito contra os Antidepressivos

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Vivemos em um tempo onde cada vez mais se torna comum termos contato com o adoecimento psíquico, seja porque nós mesmos estamos vivenciando, ou temos pessoas próximas que passam por estes desafios e assim afetam também a vida dos que os rodeiam, gerando muitas vezes busca por conhecimento acerca do que são os transtornos, como se manifestam, como podem ser tratados, e nos perguntamos qual o melhor tipo de tratamento para cada um, se realmente precisa de remédio, ou às vezes se basta somente tratar com remédio.

Um dos transtornos mais comuns que se vê na atualidade é a depressão, onde temos como características mais comuns o humor deprimido, a falta de interesse em atividade cotidianas, isolamento, e em casos mais graves pode levar até a ideação suicida. A depressão coloca o indivíduo em um sofrimento que pode chegar a níveis extremos, que pode dificultar a vivência das relações, trabalho, estudos, todas as realidades daqueles que a vivenciam.

Para falarmos sobre o tratamento mais adequado e eficaz para este adoecimento, precisamos compreender como ele acontece, suas causas, e como se dá o aprofundamento dos sintomas, e um consenso de que a depressão pode se desenvolver por diversos fatores, sendo alguns deles a predisposição genética, acontecimentos traumáticos, personalidade, sociais e de relacionamentos interpessoais, não pode ser atribuída a uma única (BARROSO, 2018).

No nosso cérebro por algum ou mais um destes motivos os neurônios para de produzir um ou mais dos seguintes neurotransmissores: serotonina, noradrenalina e dopamina, conforme Lage (2011), e com a diminuição na produção desses neurotransmissores começa a diminuir a quantidade de sinapses realizadas, e os neurônios vão sendo cada vez menos estimulados, a partir deste momento já aparecem os primeiros sintomas. É importantíssimo que desde os primeiros sintomas procure ajuda, pois a tendência é de que com o passar do tempo os sintomas se aprofundem, os neurônios que estão sendo pouco estimulados, param de produzir uma vitamina chamada BDNF, vitamina que é alimento dos neurônios, e passam a diminuir a quantidade de suas conexões, e chegando ao ponto destes neurônios deixarem de existir.

Figura 1 – Esquema de neurônios com e sem a vitamina BDNF que só é produzida em neurônios que são frequentemente estimulados.

 

Uma breve analogia para entendermos este processo natural do organismo é quando praticamos alguma atividade física, e nosso corpo vai ganhando mais músculos nas áreas mais estimuladas e vai se fortalecendo, no entanto quando deixamos de fazer atividade física tudo aquilo que havia sido adquirido de massa muscular e preparo físico logo desaparecem, dessa mesma forma se dá no cérebro humano, a medida que uma parte deixa de ser estimulada ela começa a diminuir e por fim os neurônios vão deixando de existir. Assim é possível observar os casos mais profundos de depressão que os indivíduos apresentam muita dificuldade de melhora, se dá justamente por esta perda de massa cerebral.

Partindo deste entendimento da depressão, como traçar a melhor forma de tratamento? Para este, como para muitos transtornos não há uma resposta certa que contemple todos as pessoas, cada pessoa que vive com este transtorno o experimenta de uma forma, apresenta sinais e sintomas diferentes, e isto afeta suas realidades também de formas diferentes. Por isso o tratamento para cada paciente é único, mas podemos aqui trazer aspectos essenciais para o tratamento, como ao perceber os primeiros sintomas já buscar ajuda profissional, procurar terapia para trabalhar suas questões de sofrimento e fazer psicoeducação aprendendo a identificar e lidar com os sintomas, percebendo a necessidade buscar o tratamento medicamentoso, procurar criar hábitos saudáveis, tanto em nível de alimentação quanto a atividade física, e contar com o apoio da rede de apoio, pessoas próximas com se tem bom vínculo de confiança.

Como falado para cada pessoa existe um tratamento específico, estes aspectos citados são os basilares de qualquer tratamento deste transtorno, e para além deste entram as estratégias específicas para cada realidade encontrada. E aqui nesse processo de tratamento podemos encontrar muitos desafios relacionados à adesão ao tratamento, tanto a resistência das pessoas em buscarem a terapia para trabalhar suas questões pessoais, quanto o preconceito quanto ao tratamento medicamentoso quando ele é evidenciado como necessário no caso em questão.

Trazemos ainda como marca da sociedade media certa resistência quanto a terapia, que por gerações foi tido como coisa para ‘loucos’, comportamento este que expõe os indivíduos a se permitirem sofrer muito mais do que precisam e por vezes esperar que seus sofrimentos cheguem a níveis que já atrapalham todas as áreas de suas vidas para só neste momento buscarem ajuda para lidar e manejar seus problemas. 

Outro grande problema frequente no tratamento da depressão está no preconceito ligado ao uso do medicamento, que pode se dar por diversos motivos como por não ser bem explicado aos indivíduos que começam este tipo de tratamento que ele demora certo tempo para começar a apresentar o efeito desejado de melhora nos sintomas da depressão, e que, no entanto os efeitos adversos podem começar no dia seguinte ao início do tratamento. 

Questão comum também ligada ao tratamento medicamentoso no tratamento é o medo de se tornarem dependentes pelo resto de suas vidas do remédio, no entanto não a menor parte das pessoas que fazem tratamento com antidepressivos acaba tendo que fazer uso por tempo muito mais prolongado do medicamento, justamente por estar vivenciando uma depressão mais profunda com perda de massa encefálica, o que dificulta a recuperação do indivíduo. 

Faz-se necessário compreender o porquê da demora do medicamento em trazer a melhora em relação a velocidade em trazer seus efeitos colaterais. Como visto a depressão altera o processo de produção de um ou mais dos neurotransmissores, serotonina, noradrenalina e dopamina, então a maioria dos antidepressivos age nos neurônios impedindo que ele recolha os neurotransmissores que ainda não se uniram aos receptores do outro neurônio fazendo que estes neurotransmissores passem mais tempo na fenda e possam se ligar e produzam assim a quantidade normal de sinapses (comunicação elétrica entre neurônios), com a quantidade baixa que está sendo produzida pelos neurônios.

No entanto, os mesmos neurotransmissores importantes na depressão, também estão diretamente ligados a outros processos no corpo humano, como olhos, glândulas salivares, intestino, pâncreas, rins, fígado, coração, pênis. O remédio que faz efeito nas sinapses cerebrais também faz nestes sistemas, pois usam os mesmos neurotransmissores, o que explica os efeitos colaterais dos medicamentos, algo importante a ressaltar é que estes efeitos são considerados efeitos leves que o organismo do indivíduo a curto prazo ou deixam de existir ou são assimilados pelo organismo e o indivíduo encontra meios para lidar com os efeitos no cotidiano, como a sensação de boca seca, que faz com que a pessoa passe a tomar mais água em vista de diminuir esta sensação.

Mas por que o antidepressivo não tem ação rápida, e eficaz já no primeiro dia? O cérebro tem seu sistema de segurança e Feedback, cada neurônio tem uma estrutura que analisa a quantidade de neurotransmissores lançados na fenda sináptica e envia um Feedback para o próprio neurônio, ou indicando que esta tudo normal ou esta estrutura percebe que tem um volume muito elevado de neurotransmissores e começa a agir diminuindo ainda mais a produção de neurotransmissor e diminuindo a quantidade que é lançada na fenda, só depois de alguns dias ou semanas fazendo o uso da medicação é que esta estrutura desiste de inibir a produção e as sinapses voltam à normalidade e assim a pessoa passa a sentir a melhora com o uso do remédio. 

Figura 2 – Neurônio serotoninérgico, auto receptor é destaque em roxo.

Com o passar de alguns meses fazendo o uso corretamente da medicação o neurônio que foi muito estimulado, voltou a produzir sua vitamina e pode voltar a produzir em quantidade normal os neurotransmissores que estavam sendo produzidos em baixos níveis, paralelo a este tratamento medicamentoso que trata os sintomas, se o indivíduo buscou a terapia tratou também as possíveis causas do transtorno, podendo fazer com que estes níveis de neurotransmissores não voltem a diminuir, e se organizou em relação a hábitos saudáveis, esta pessoa tem grandes chances de ter uma vida melhor sem sofrer com sintomas de depressão, e poderá deixar de fazer o uso do medicamento, fazendo o desmame de forma correta junto ao profissional competente.

Portanto, diante da percepção dos sintomas, se faz necessário buscar ajuda, fazer terapia, buscar hábitos saudáveis, e se necessário viver o processo de tratamento medicamentoso para que tão logo quanto possível o organismo possa voltar a normalidade e que possa bem viver cada aspecto da vida. 

Referências 

BARROSO, Sabrina Martins; BAPTISTA, Makilim Nunes; ZANON, Cristian. Solidão como variável preditora na depressão em adultos. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, v. 9, n. 3, p. 26-37, 2018.

LAGE, Jorge Teixeira. Neurobiologia da depressão. 2011.

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Como a inclusão de pessoas surdas ocorre na Prática?

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Muito se ouve falar sobre Inclusão e nas últimas décadas de fato percebe-se avanços, porém na prática as mudanças acontecem de maneira lenta, principalmente se tratando de deficiência física, mais especificamente de pessoas surdas.

Uma das maiores dificuldades dos surdos na sociedade está relacionada à área da saúde, grande parte de hospitais, laboratórios, postos de saúde e clinicas, ainda não oferecem o padrão necessário para atender pessoas com deficiência auditivas, o maior empecilho para um atendimento de qualidade é a dificuldade de comunicação em libras.

As dificuldades dos surdos na sociedade precisam ser conhecidas, a partir disso é possível desenvolver ações efetivas que ofereçam melhores condições de vida às pessoas com deficiência auditiva. Para tornar atendimento mais eficaz, faz-se necessário que pessoas nas equipes de atendimento tenham formação na língua brasileira de sinais.

Pensando nesse assunto o (En)cena entrevista Simone Barbosa Magalhães para entender o que a motivou estudar e trabalhar com esse público.

(En)cena – Quem é Simone Barbosa Magalhães?

Simone Magalhães: Mulher, mãe, filha, esposa, irmã. Atualmente estou no 7º período da minha segunda graduação (Psicologia), já sou formada em Educação Física e atuei, desde a primeira graduação, com pessoas/crianças portadoras de alguma deficiência. Estar num contexto onde pude sentir na pele a reação da sociedade diante de uma pessoa com deficiência fez com que tivesse extrema necessidade de trabalhar na área. Tenho um irmão com deficiência intelectual e que faz parte do espectro do autismo, fazer algo por esse público é fazer algo por ele.

Além de já ter tido certa experiência com pessoas com deficiência intelectual, ainda na adolescência, conheci o público surdo e fiquei encantada com a forma expressiva que eles utilizavam o corpo para se comunicar. Aos 17 anos já fazia parte da comunidade surda e, aos 18 anos, dava aulas particulares de química para surdos. Nessa época, a profissional de intérprete de Libras ainda não era reconhecida e exercia com pouca experiência, a pedido dos meus amigos, para que, de alguma forma, eles se sentissem pertencentes ao cenário social.

Após alguns anos afastada profissionalmente, retomei meus estudos acadêmicos iniciando com o curso de Psicologia e, esse ano, resolvi retomar meus estudos em Libras e atuar no atendimento clínico de pessoas surdos, mantendo a minha essência de ajudar aos que a sociedade pouco ou nada escuta.

(En)Cena – O que é inclusão?

Simone Magalhães: Inclusão é fazer com que um grupo minoritário que não se encaixa em um padrão social, seja trabalhado, instruído, capacitado a conseguir viver (sobreviver) de forma o mais “normal” possível em um grupo majoritário.

(En)Cena – Do que se trata o Conceito de inclusão para você?

Simone Magalhães: A inclusão fala muito mais em tomada de decisões de uma sociedade majoritária que acredita saber o que é melhor para pessoas com alguma deficiência desconsiderando, muitas vezes, a autonomia desse pequeno grupo. É como se colocasse todas as pessoas dentro de uma “caixa”, acreditando que o acesso às informações e benefícios chegam a todos, mas, dentro dessa “caixa” há divisórias e formas diferentes de enxergar e ouvir o mundo.

É fato que há necessidade de sobreviver socialmente, mas respeitar os limites desse processo é fundamental, entender que as pessoas portadoras de alguma deficiência (ou os que cuidam) são os únicos indivíduos capazes de dizer qual a melhor forma de incluí-los.

(En)Cena – Na sua visão quais são as dificuldades que a pessoa surda encontra diante ao processo de atendimento Psicológico?

Simone Magalhães: De imediato, é possível pensar na comunicação enquanto maior dificuldade, porém, apenas saber Libras e os sinais que essa comunicação envolvem não é o suficiente. Existe a dificuldade de entender quem é esse sujeito surdo, a forma como ele pensa e age, compreender o cenário cultural em que ele vive e, assim, alcança-lo enquanto ser humano social. Para tanto, não há outra forma de fazer isso, tem que viver e experienciar o dia a dia do surdo em seus grupos.

(En)Cena – Existem testes que normatizam a Avaliação Psicológica/Neuropsicológica para pessoas surdas?

Simone Magalhães: Não existem testes favoráveis para pessoas surdos, a Psicologia voltada à avaliação ainda é bastante limitada quanto a esse aspecto. Atualmente, existe um grupo de profissionais da área do sul do país buscando realizar a adaptação da bateria WISC (versão reduzida) em Libras para uma futura aplicação desses testes para surdos.

(En)Cena – Você teria algum relato sobre os principais adoecimentos e sofrimentos psicológicos das pessoas surdas?

Simone Magalhães: Segundo Chaveiro (2014) existe uma probabilidade de três a cinco vezes maior de a pessoa surda sofrer alterações psicológicas em relação às pessoas ouvintes. Dentre essas alterações se destacam a depressão e a ansiedade, nessa ordem de prevalência. Por isso, é preciso que os profissionais da psicologia vão além do padrão de paciente e busquem aperfeiçoamento na diversidade, entendendo que é preciso ir além do conhecimento em Libras, mas compreendendo o sujeito surdo como uma pessoa culturalmente diferente.

Referência:

CHAVEIRO, Neuma et al. Qualidade de vida dos surdos que se comunicam pela língua de sinais: revisão integrativa. Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online]. 2014, v. 18, n. 48, pp. 101-114. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1807-57622014.0510 Acesso em: 25 Set. 2022.

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Narrando a transexualidade rumo a uma psicologia compromissada

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A medicalização dos gêneros transexuais e travestis tem sido um confronto espinhoso e diversos setores contribuem, tal como grupos da sociedade e trabalhadores. No atual momento feitos significativos a esse respeito já podem ser detectados, um deles é a retirada da seção dos transtornos mentais na CID-11, colocando como condições relativas à saúde sexual.

A Psicologia tem se dispondo segundo as normas institucionais desde 2011 a favor da não medicalização dos gêneros, especialmente via Sistema Conselhos (Federal e Regionais). Há pouco tempo introduziu-se mais um feito, e principal determinação a respeito das identidades de gênero, a Resolução nº 01/2018 que estabelece normas de atuação para psicólogas/os em relação às pessoas trans (Resolução Nº 1, 2018).

Entretanto, é sabido que o ambiente político e a condição atual do país dão indícios de um penoso percurso a ser trilhado para a vitória sobre os estigmas e impedimentos de direitos e deveres do cidadão que são maiores que uma normativa; é necessário memorar que o Brasil é o primeiro do ranking internacional em episódios periódicos de transfobia. A própria Resolução já se projeta como foco de ensaios inerentes à classe e extrínsecas de boicotagem, também do desconhecimento de sua presença pela grande maioria de psicólogas e psicólogos.

Os saberes psi (Psiquiatria, Psicanálise e Psicologia) são desbravadores em internalizar o dialogo de sexualidade e gênero, mas não os pioneiros a desfazê-la. A instigação se estende aos dias de hoje, o que é observado por meio do diálogo quebradiço com os estudos de gênero, feministas e queer.

Bem como nos demais macrossociais, essa consequência incide na Psicologia hegemônica de forma que se instituiu a ideia de corpos desviantes anexados à loucura, criminalidade, com direção ao tratamento ou recolhimento. Um modelo ilustrativo dessa circunstância é o período higienista brasileiro, onde internavam de maneira compulsória sujeitos contraditórios há norma: prostitutas, dependentes químicos, LGBT. O que se assemelha há uma memória obsoleta, na realidade acompanha a atual história da Psicologia Brasileira que completa 57 anos.

Desta maneira, fica evidente a criação de modelos legítimos de existência; o que impõe o estabelecimento da contradição entre normal e patológico. Desta forma, veem-se as identidades de gênero e orientações sexuais serem foco desse ato ferrenho, ganhando terminologias diversas: histeria, perversões sexuais, homossexualismo, lesbianismo, transexualismo… por que será que não se ouve falar em heterossexualismo?

O sujeito é um ser de linguagem, prontamente, a maneira que a comunicação acontece é fruto da nossa cultura e também se comporta na constituição subjetiva. Vale pensar na disseminação do termo trans, ao mesmo tempo em que o termo cis é desconhecido. Ou, que o termo cis aparece 70 anos depois do termo trans, bem como o termo heterossexual aparece depois do homossexual.

REFERÊNCIAS

Bagagli, BP (2018). A retirada da transexualidade da classificação de doenças e sofrimento psíquico. Recuperado de https://transfeminismo.com/a-retirada-da-transexualidade-da-classificacao-de-doencas-eo-sofrimento-psiquico/

https://transfeminismo.com/a-retirada-da-transexualidade-da-classificacao-de-doencas-eo-sofrimento-psiquico/

Bento, B. (2014). O que pode uma teoria? Estudos transviados e despatologização das identidades trans. Florestan, 1(2), 46-66.

Butler, J. (2003). Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Conselho Federal de Psicologia – CFP. (2013). Nota técnica sobre processo transexualizador e demais formas de assistência às pessoas trans. Brasília, DF: o autor. Recuperado de https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2013/09/Nota-t%C3%A9cnica-processo-Trans.pdf

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A sexualidade da pessoa com deficiência

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Dentre os muitos grupos que estão à margem da sociedade, as pessoas com deficiência compõem a classe de maior vulnerabilidade, não somente pela invisibilidade das suas pautas mas também pela negação da existência de qualquer dignidade nas suas experiências de vida no setor público e no interior de movimentos sociais (LOPES, 2019).

As pessoas com deficiência já vivem rodeadas de estigmas e preconceitos, fatores que se mostram em evidência quando o assunto é sobre a sexualidade desses indivíduos. Estigmas e crenças errôneas consideram pessoas com deficiência muitas vezes incapazes e infantis, ou seja, pessoas que não poderiam exercer uma sexualidade saudável ou mesmo não apresentam sexualidade (assexuadas), também são vistas como incapazes de cuidar ou gerar filhos, manter relacionamentos saudáveis e consentir relações sexuais.

Segundo Silva (2006), o estigma a pessoas com deficiência, leva as mesmas, a serem tratadas pelo seu rótulo e não pela sua individualidade, o que pode ocasionar em generalizações sobre como esses indivíduos devem viver devido suas condições, o sujeito a quem é imposto esse estigma, incorpora e se identifica com esse rótulo, que determina o modo como deve comportar-se.

Devido aos preconceitos direcionados pela família e o meio social a que está pessoa está exposta, grande parte dessa população não tem acesso a informação ou orientação sexual, o que pode agravar os casos de abuso sexual, e doenças sexualmente transmissíveis e influenciar ainda comportamentos considerados inadequados (como a masturbação em público) que influenciam nas crenças da hipersexualidade. Ocorre ainda grande influência da esterilização compulsória, que impulsiona as pessoas com deficiência de abrirem mão da possibilidade de terem filhos.

Fonte: l1nq.com/QiNI4

Tais fatores estão amplamente ligados ao capacitismo, que pode ser interpretado com o preconceito ligado as pessoas com deficiência que podem influenciar cada vez mais nas crenças populares errôneas e preconceituosas a respeito da sexualidade da pessoa com deficiência. O que influencia na falta de acesso a informação dessas pessoas sobre o seu corpo, e sua sexualidade, métodos contraceptivos, busca e criação de políticas públicas que possam dar suporte a esses indivíduos, e ainda a criação de novas leis que façam acontecer a inclusão desses indivíduos na sociedade não apenas em meios sociais, mas também levando em conta suas necessidade e desejos biológicos e psicológicos. O empoderamento dessas pessoas então surge como um meio de agir diante os preconceitos.

O empoderamento é um processo coletivo e individual, que propicia o desenvolvimento de potencialidades, tornando o sujeito capaz de tomar decisões sobre sua vida levando em conta suas vontades. Esse conceito dá início a uma compreensão sobre promoção da democracia e atenuação da vulnerabilidade das pessoas com deficiência, pois proporciona seu fortalecimento, e sua crença de valor em si mesmo, como um indivíduo capaz de tomar decisões e fazer escolhas (DANTAS; SILVA; CARVALHO, 2014). A solidificação dos estudos sobre a deficiência, na década de 1960 aumentou à ação pela reivindicação de direitos e a luta das pessoas com deficiência para tornarem-se protagonistas de suas vidas (DINIZ et al., 2009).

Apesar de toda a luta pela inserção educacional, social e ao acesso à saúde para pessoas com deficiência, não ocorrem muitas discussões sobre a inclusão afetiva e sexual desses indivíduos. Quando uma pessoa com deficiência é conceituada como um sujeito que não exerce ou não é favorecido de sua sexualidade, negligencia-se o acesso à informação sobre orientação e educação sexual e cuidados referentes a situações de abuso (MAIA; RIBEIRO, 2010).

De acordo com Ramalho e Souza (2005) em diversos aspectos a vida do portador de deficiência, é bem parecida dos demais, dispõem momentos de alegria e conquistas, em outras palavras, bons e maus instantes como qualquer ser humano, se divergem em uma especificidade, são vítimas do preconceito de discriminação.

REFERÊNCIAS

DANTAS, Taísa Caldas; SILVA, Jackeline Susann Souza; CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. Entrelace entre gênero, sexualidade e deficiência: uma história feminina de rupturas e empoderamento. Rev. bras. educ. espec.,  Marília ,  v. 20, n. 4, p. 555-568,  Dec.  2014 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382014000400007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:   15  set  2020.

DINIZ, D.; BARBOSA, L.; SANTOS, W. R. Deficiência, direitos humanos e justiça. São Paulo.2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-64452009000200004>. Acesso em: 15  set  2020.

LOPES, L, S. A luta das pessoas com deficiência pelo direito de estar no mundo. Justificando Mentes Inquietas  Pensam Direito. 4 de julho de 2019. Disponível em: <https://www.justificando.com/2019/07/04/a-luta-das-pessoas-com-deficiencia-pelo-direito-de-estar-no-mundo/>. Acesso em: 15  set  2020.

MAIA, Ana Cláudia Bortolozzi; RIBEIRO, Paulo Rennes Marçal. Desfazendo mitos para minimizar o preconceito sobre a sexualidade de pessoas com deficiências. Rev. bras. educ. espec.,  Marília ,  v. 16, n. 2, p. 159-176,  Aug.  2010 .   Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-65382010000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em:  15  set  2020.

RAMALHO C, E; SOUZA J, B, R. Dificuldades da inclusão do deficiente físico no mercado de trabalho. Revista Científica Eletônica de Administração. 2005. São Paulo. Disponível em: <http://faef.revista.inf.br/imagens_arquivos/arquivos_destaque/msnp3KrdnoUlhbw_2013-4-26-12-19-25.pdf>. Acesso em: 15  set  2020.

SILVA, Luciene. O estranhamento causado pela deficiência: preconceito e experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.11, n.33, p. 424-561, 2006.   Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v11n33/a04v1133.pdf>. Acesso em: 15  set  2020.

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Velhice, uma das principais fases da vida

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Os desafios da terceira idade estão longe de acabar. Em especial, em países em desenvolvimento, onde o idoso precisa de políticas públicas mais eficientes para ter uma qualidade de vida. Sobre o assunto, a Organização Das Nações Unidas – ONU, em Assembleia Geral, decidiu que o período de 2021 a 2030 será conhecido, como a década do Envelhecimento Saudável. O objetivo da iniciativa é fazer com que a sociedade mude sua forma de pensar e agir em relação ao idoso.

Conforme a ONU (2020), a humanidade está envelhecendo, em todos os quatro cantos do mundo, e por isso é preciso na elaboração de políticas públicas que auxiliem nessa fase, que segundo a entidade, afeta o sistema de saúde. De acordo com a resolução elaborada em Assembleia, junto aos países membros, o mundo não está preparado por contribuir e responder com eficiência aos direitos e necessidades da pessoa idosa. (ONU, 2020). Para é necessário o engajamento da sociedade civil junto, setor privado e público para a promoção de um envelhecimento saudável reiterou a organização internacional.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, confirmou que a proposta em promover uma década saudável para os idosos, a partir deste ano, 2021, é melhorar a qualidade de vida deles, bem como acrescentar anos à vida de cada um.   Dados coletados pela ONU, afirmam que existem 962 milhões de pessoas espalhados pelo mundo com mais de 60 anos de idade, sendo que em 2030 serão mais de 1,4 bilhões de idosos. Nesse sentido, a ação vai ao encontro dos números que confirmam o envelhecimento da população mundial.

No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que houve um aumento considerável da população idosa brasileira, nas últimas décadas.  A coleta foi feita, em 2020, e informa que o número da população brasileira com 60 anos de idade aumentou para 29,9 milhões e se continuar nesse ritmo deve subir para 72,4 milhões em 2100. Comparada a população idosa, da década de 50, que era 2,6 milhões, ocorreu um aumento de 8,2% nos últimos setenta anos.

Fonte: Freepik

Ainda de acordo com o IBGE (2020), o número de idosos com mais de 65 anos de idade passou para 9,2 milhões em 2020 e que a previsão para daqui a 100 anos é alcançar 61, 5 milhões de brasileiros. Já a quantidade de brasileiros idosos com mais de 80 anos passou 4,2 milhões, em 2020, sendo que em 2100 será de 28,2 milhões.  Ou seja, a população brasileira envelheceu e vai continuar no processo de envelhecimento, por isso é importante o engajamento dos setores públicos e privados, bem como a população em busca de melhoria de vida para o idoso, como pontou a Assembleia Geral da ONU realizada o ano passado.

Veras (2007) comemora que, o envelhecimento populacional constitui um substancial conquista da humanidade, mas adverte que o novo cenário demográfico e epidemiológico precisa exigir novos olhares, concepções, políticas, tecnologias e modelos de atenção que possibilitem um envelhecimento saudável. Para isso, propõe a análise das desigualdades sociais entre as pessoas da terceira idade para a elaboração de políticas para o brasileiro com mais de 60 anos.

Para assegurar os direitos do idoso, no Brasil, foi elaborada a Lei 10.741, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, em 2003. Entre suas atribuições estão atendimento individualizado e especial junto aos órgãos públicos e entidades privadas, preferência na elaboração de políticas públicas, além de sua execução.  No entanto, apesar dessas diretrizes, a qualidade de vida do idoso brasileiro, precisa ser revista e melhorada, em especial no mercado de trabalho, é o que em Lopes e Burgadt (2013).

Para Lopes e Burgadt (2013) o idoso que deseja voltar ao trabalho precisa competir com concorrentes mais jovens, geralmente preferidos pelo devido ao seu maior grau de qualificação. “O preconceito que existe com relação à terceira idade faz com que a sociedade naturalmente ignore o idoso, visto que uma das grandes dificuldades quanto à inclusão dessa parte da população no mercado de trabalho” Lopes e Burgadt (2013). Nesse sentido, é preciso mudar o olhar sobre a população idoso, que vem aumentando consideravelmente, por isso é importante sua reinserção no mercado de trabalho de forma digna. Isto é, se a população tende ao envelhecimento, o mercado precisa se adaptar à nova realidade. Além disso, o jovem cheio de oportunidades hoje, é o idoso de amanhã.

REFERÊNCIAS

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2020). Disponível em <https://www.ibge.gov.br/> Acesso 02, de nov, de 2021

ONU- Organizações das Nações Unidas (2020) -Assembleia Geral da ONU(2020). Disponível em < https://brasil.un.org/pt-br/about/about-the-un > Acesso. 02, de nov de 2021

 Lopes APN, Burgardt VM. Idoso: um perfil de alunos na EJA e no mercado de trabalho. Estudo Interdisciplinar Envelhecer (2013).

Planato, Estatuto do Idoso. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm>

Veras R. Fórum. Envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. (2007).

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A diversidade e o preconceito linguísticos no Brasil: uma luta da psicologia e do multiculturalismo

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O preconceito linguístico existe no Brasil e persiste ao longo da história desde o período colonial. Os portugueses ignoraram a língua nativa dos moradores que aqui viviam e passaram a ensinar o português. E por não saberem a língua portuguesa, os nativos perdiam os seus direitos garantidos diante da Corte.

Quanta injustiça os índios não viveram? E para sobrevierem, muitos tiveram que aprender o português que aos poucos fez com que muitas línguas indígenas fossem esquecidas, já que não foram documentadas e não mais ensinadas para as gerações futuras.

Na sociedade atual, diariamente somos surpreendidos com notícias de que alguém sofreu algum tipo de preconceito, seja social, sexual, preconceito físico, de gênero, etc., e também preconceito linguístico. Mas, como definir o preconceito linguístico em um país que tem 26 Estados e o Distrito Federal, onde no mesmo Estado ou região, pode haver variação de sotaques e usos de palavras para um determinado objeto?

Primeiramente vamos compreender o significa de lingüística. Segundo o dicionário Houaiss, “linguística é a ciência que estuda a linguagem humana, a estrutura das línguas e sua origem, desenvolvimento e evolução”. Ou seja, cada lugar, cada povo possui a sua própria língua, a sua forma de se comunicar uns com os outros. Além da língua, existe o dialeto, o qual conforme o dicionário citado anteriormente é “qualquer variedade linguística coexistente com outra e que não pode ser considerada outra língua (p.ex.: no dialeto português do Brasil, o dialeto caipira, o nordestino, o gaúcho, etc.)”. Logo, conclui-se que dialeto é uma variedade linguística, termo utilizado para se referir a formas diferentes de utilizar a língua de um mesmo país. Essas variedades linguísticas resultam da variação de uma língua que ocorre devido a vários fatores, como por exemplo, a faixa etária, a escolaridade, a região, o contexto social e cultural.

O PRECONCEITO LINGUÍSTICO

Agora é preciso compreender o termo preconceito. O dicionário de Evanildo Bechara define-o da seguinte forma: “Conceito, sentimento ou atitude discriminatória em relação a pessoas, ideias, etc.”. Assim, o preconceito linguístico se manifesta ante as diferenças que existem na forma diversificada de falar, que “cada indivíduo observa como errado”, considerando apenas como certa a variação de aceitação no que diz respeito à norma culta ou padrão, e diminuindo o valor das demais formas linguísticas, classificando-as como inferiores.

Pode-se dizer que preconceito linguístico é qualquer crença sem fundamento científico acerca das línguas e de seus usuários. Ora, a linguagem, como dito, é um mecanismo de comunicabilidade e deve ser usada por todos, sem discriminação. É um absurdo achar que somente a língua aprendida nas academias, que segue as regras da norma culta, é correta. Se a linguagem é uma forma de expressão do indivíduo, o que importa é que a mensagem emanada pelo emissor chegue até o ouvinte e por esse seja decodificada e compreendida. Se isso aconteceu, está tudo certo.

Outra questão que necessita ser observada é diferenciar a linguagem escrita, que segue regras e padrões de formatação que não podem ser alterados pelo fato da linguagem falada ser diferente. Se uma pessoa falar “nóis vai”, não quer dizer que irá escrever da mesma forma.

O sistema econômico subjugou a língua falada, padronizando o comportamento das pessoas, privilegiando alguns para exercer o poder. Isto é, quem pertence à classe social alta, tem mais acesso à educação, inclusive, alguns estudam em escolas que alfabetizam em duas ou mais línguas, além do português.

Tanto é verdade que, por exemplo, entre grupos de médicos, engenheiros, advogados, psicólogos, entre outras tantas profissões, há termos técnicos que são falados entre aqueles profissionais e que não fazem parte do vocabulário dos falantes daquela língua e nem por isso, estes, por se utilizarem de vocábulos “diferentes” são excluídos ou diminuídos pelos demais, ao contrário, são venerados.

Dessa maneira, estes são tratados de forma diferente daqueles que não têm acesso ao ensino básico de qualidade e não conjugam, por exemplo, os verbos da forma padrão. As salas de aula, quando tem aula e onde tem escola, são improvisadas e não há divisão de turmas, de idade entre os alunos, grau de escolaridade, etc., numa visão totalmente antagônica à anterior. Mesmo nos dias de hoje, podemos encontrar escolas como essas em alguns Estados brasileiros.

Fonte: Chico Bento – Tirinha de Maurício de Sousa. 1998.

Outro aspecto relevante a ser abordado são as diferentes formas de se comunicar entre os brasileiros. O Brasil, pela sua dimensão territorial, abriga povos que apresentam diferentes culturas e formas de se expressarem, a depender da região. E as regiões consideradas mais economicamente desenvolvidas discriminam as menos favorecidas no plano econômico.

Fato é que os meios de comunicação também reforçam essa diferenciação, inferiorizando algumas maneiras de falar. Muitas das vezes, o sotaque nordestino aparece quando é encenado por um trabalhador da limpeza ou que atua como humorista. Não se observa com frequência em posição de destaque e influência em papéis principais nos filmes, novelas ou telejornais nacionais.

De igual forma, há uma discriminação dos mais jovens para com os mais velhos, mesmo em relação à linguagem. Como explica Maria Homem, em seu canal, esse fenômeno consiste no embate estrutural, como sempre, que está implícito na palavra cringe, pois, durante milênios, os anciãos eram os que tinham mais respeito, em razão dos anos vividos, da experiência e com ela a sabedoria. Inverter essa estrutura se traduz na prepotência da modernidade, que não cuida dos mais velhos, ao contrário, maltrata, não abarca esse caldeirão de experiências, desvalidando aquilo que não se faz mais.

Ora, não é diferente com a linguagem. Os mais jovens desvalidam os mais antigos, a partir de gírias como “broto, pão, avião” que se referiam a alguém bonito e que representam uma determinada geração. Aqueles que reproduzem esses vocábulos são alvo de tratamento pejorativo, jocoso, demonstram estar fora de época, ultrapassados, cringe, como alguém que traz vergonha, e, portanto, algo que deve ser marginalizado, discriminado, numa verdadeira expressão do preconceito linguístico.

A prática desse tipo de preconceito é constatada em todos os lugares e ambientes. Como bem nos assegura Mariane (2008), o ato de julgar antecipadamente consiste na discriminação existente entre pessoas falantes do mesmo idioma que elegem esse outro idioma como oficial e exclui outras variações existentes.

Assim, o preconceito linguístico existe, inclusive, dentro das escolas. O bullying tem levado adolescentes à depressão, à ansiedade e até ao suicídio. Já que o ensino tradicional determinou quem fala certo ou errado, crianças, adolescentes e jovens, que mudam de uma região do Brasil para outra, podem ser alvo de piadas em sala de aula.

Fonte: Imagem por pikisuperstar no Freepik

É oportuno lembrar que existem dois tipos de gramáticas para os linguistas: a normativa e a descritiva. A primeira é a “base da maioria dos livros didáticos e gramáticas pedagógicas, em que se caracteriza um conjunto de regras. Considerada como o conjunto sistemático da norma, ou seja, para o falar bem e escrever. Essa concepção parte do princípio de que todos que falam, sabem de fato, falar. Essa fala segue regras que são consideradas legítimas do ponto de vista do uso e da comunicação entre os diversos tipos de falantes/usuários”. Já a descritiva “tem a preocupação de analisar, descrever e explicar a construção dos enunciados, que são utilizados de fatos pelos falantes”.

Dessa forma, os professores precisam ensinar a variação da língua de forma realista (gramática descritiva) e não utópica (gramática normativa), a fim de minimizar os impactos, fazendo com que o aluno reconheça a importância da própria história, sem perder a essência e ser inserido no novo ambiente, de forma que os demais o recebam com respeito.

Essa atitude está em conformidade com o que prega o Multiculturalismo, que defende a luta pelos direitos civis dos grupos dominados, excluídos.

É oportuno frisar que, diante desse contexto, o preconceito devia ser considerado um problema de saúde pública. O site Veja Saúde publicou uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (USFC), que “concluiu que vítimas de discriminação têm um risco quatro vezes maior de desenvolver depressão ou ansiedade e ainda estão propensas a agravos como hipertensão”. “A experiência crônica de intolerância estimula a liberação de hormônios relacionados ao estresse, como o cortisol”, explica o epidemiologista João Luiz Dornelles Bastos, um dos autores do trabalho”.

Desse modo, nota-se que não somente a pessoa que está sendo discriminada, mas, também quem está discriminando pode sofrer problemas psicológicos, como afirma na matéria: a “pessoa prestes a agir de maneira hostil se submete a um estresse interno”, explica Ricardo Monezi, psicobiólogo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Outro fator importante que precisa ser observado é a questão da rejeição e as consequências, pois pode levar o indivíduo que está sendo hostilizado à baixa estima, agressão, solidão e inseguranças, que causam medos de enfrentar os desafios de uma vaga de emprego, por exemplo. É aqui que a Psicologia entra em campo, no cuidado da saúde mental desses indivíduos que sofrem com preconceitos, inclusive o linguístico, já que as consequências são tão devastadoras quanto qualquer outro tipo de discriminação.

CONCLUSÃO

A classificação de certo ou errado para os usos da língua portuguesa não deveria existir, já que há a adaptação do contexto coloquial. A pessoa utiliza determinada maneira para falar, levando em consideração o ambiente familiar, a renda, região que mora, formando a sua própria identidade.

A diversidade na forma de falar torna o Brasil com múltiplas características, já que cada região tem um sotaque, seu vocabulário próprio, sua forma de se expressar, a exemplo das diversas línguas indígenas que carregam em si uma história.

O ser humano pertence a um determinado grupo e isso o torna autêntico, donde se conclui que a “língua” não poderia ser considerada como um problema, ao contrário, a “diversidade linguística, neste caso, está relacionada com a existência e a convivência de línguas diferentes. O conceito defende o respeito por todas as línguas e promove a preservação daquelas que se encontram em vias de extinção por falta de falantes”.

Portanto, a diversidade linguística se refere às múltiplas identidades de cada um e como tais merecem respeito e não preconceito.

REFERÊNCIAS

Pequeno Dicionário Houaiss da língua portuguesa/Instituto Antônio Houaissde Lexicografia, [organizador]; [diretores Antônio Houaiss, Mauro de Sales Villar, Francisco Manoel de Mello Franco]. – 1. Ed. – São Paulo: Moderna, 2015

BECHARA, Evanildo, Minidicionário da língua portuguesa Evanildo Bechara/ Evanildo Bechara. – Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2009, página 718.

HOMEM, Maria. O que é cringe? Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Hjh6p5Ip6Bg. Acessado em 24/11/21.

SANTOS, Patrícia da Cruz Ferreira dos [1], ANDRADE, Marta Mires Da Cruz de [2], ALMEIDA, Daiane Vithoft de [3], Preconceito linguístico: Intolerância que retrai, língua que marginaliza.Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 15, pp. 12-33. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/lingua-que-marginaliza, DOI:10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/lingua-que-marginaliza. Acesso em 17/11/21.

MATTA, Sozâgela Schemim da. Português, linguagem e interação. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro Ltda, 2009.

BERGAMO, Karolina. A intolerância de hoje pode ser a doença de amanhã — inclusive entre quem pratica a discriminação. Publicado em 28 jun 2016. Disponível em https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/preconceito-faz-mal-a-saude/amp/. Acesso em 24/11/21.

[1] Pequeno Dicionário Houaiss da língua portuguesa/Instituto Antônio Houaissde Lexicografia, [organizador]; [diretores Antônio Houaiss, Mauro de Sales Villar, Francisco Manoel de Mello Franco]. – 1. Ed. – São Paulo: Moderna, 2015, p. 593.

[2] Idem. p. 334.

[3] BECHARA, Evanildo, Minidicionário da língua portuguesa Evanildo Bechara/ Evanildo Bechara. – Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2009, página 718.

[4] HOMEM, Maria. O que é cringe? Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=Hjh6p5Ip6Bg. Acessado em 24/11/21.

[5] SANTOS, Patrícia da Cruz Ferreira dos [1], ANDRADE, Marta Mires Da Cruz de [2], ALMEIDA, Daiane Vithoft de [3], Preconceito linguístico: Intolerância que retrai, língua que marginaliza.Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 05, Ed. 08, Vol. 15, pp. 12-33. Agosto de 2020. ISSN: 2448-0959, Link de acesso: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/lingua-que-marginaliza, DOI:10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/lingua-que-marginaliza. Acesso em 17/11/21.

[6] MATTA, Sozâgela Schemim da. Português, linguagem e interação. Curitiba: Bolsa Nacional do Livro Ltda, 2009, p. 136.

[7] Idem

[8] BERGAMO, Karolina. A intolerância de hoje pode ser a doença de amanhã — inclusive entre quem pratica a discriminação. Publicado em 28 jun 2016. Disponível em https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/preconceito-faz-mal-a-saude/amp/. Acesso em 24/11/21.

[9] Idem

[10] Conceito da diversidade lingüística. Publicado em 2011/atualizado em 2019. Disponível em https://conceito.de/diversidade-linguistica. Acesso em 24/11/21.

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