Um instrumento de avaliação extremamente eficaz para o planejamento de aulas
Débora Gerbase – Professora e Autora de livros missgerbase@gmail.com – @deboragerbase
Professores enfrentam o desafio constante de compreender o nível de entendimento de seus alunos e, por vezes, se deparam com a incerteza sobre como direcionar suas aulas futuras. No entanto, há um instrumento valioso e subutilizado que se destaca como uma ferramenta eficaz na avaliação formativa: os Bilhetes de Saída, também conhecidos como Exit Tickets.
O objetivo dos Bilhetes de Saída
Os Bilhetes de Saída desempenham um papel crucial ao evidenciar o aprendizado dos alunos ao término de uma aula, período ou unidade (Black & Wiliam, 2009). Essa ferramenta, muitas vezes desconhecida pelos educadores, visa proporcionar ao professor insights imediatos sobre a compreensão do conteúdo pelos alunos. Ao obter essas informações, o educador ganha a capacidade de ajustar, modificar ou diferenciar a instrução, contribuindo significativamente para o planejamento de aulas futuras.
Eles também eliminam o problema associado à resposta de perguntas em sala de aula, criando um ambiente sem receios em relação ao erro e sem que o aluno se sinta colocado em evidência. Ao utilizar esses bilhetes, os alunos se sentem mais à vontade para expressar sua compreensão de conceitos específicos e para indicar se necessitam de mais esclarecimentos, sem a pressão da avaliação.
Diferentemente das avaliações formais, os Bilhetes de Saída não demandam extensão e devem ser concisos e específicos. Podem ser aplicados diariamente, ou conforme a necessidade do professor. Ao formular perguntas precisas, apresentar problemas ou solicitar respostas relacionadas ao aprendizado, os educadores podem extrair informações valiosas sobre o progresso dos alunos.
Implementação Prática dos Bilhetes de Saída
Para implementar efetivamente os Bilhetes de Saída, os professores devem orientar os alunos sobre como preenchê-los, para que compreendam o que precisam fazer, além de explicar o objetivo da ferramenta.
Após a coleta dos Bilhetes, é essencial dedicar um momento para análise criteriosa das informações obtidas. De acordo com Chappuis & Chappuis (2007), ao examiná-los, o professor identifica lacunas no conhecimento, compreende dúvidas existentes e avalia o domínio do conteúdo pelos alunos. Este processo facilita a tomada de decisões embasadas para ajustar estratégias de ensino, proporcionando uma visão clara sobre as medidas necessárias para aprimorar as aulas subsequentes.
O que os Bilhetes de Saída proporcionam ao professor?
Os Bilhetes de Saída podem ser empregados com diversos propósitos, incluindo:
Verificar a compreensão dos alunos, resumindo os pontos-chave da aula;
Avaliar a capacidade dos alunos em resolver problemas ou responder a perguntas essenciais baseadas na lição;
Sentimento com relação ao que foi ensinado;
Enfatizar questões fundamentais abordadas durante o dia de aula;
Fazer perguntas para o professor sobre o que ainda têm dúvida;
Autoavaliação do aluno com relação à sua aprendizagem.
Inclusão e Diferenciação na Avaliação
A versatilidade dos Bilhetes de Saída permite respostas por meio de desenhos ou de forma oral, possibilitando a inclusão de alunos com diferentes habilidades e necessidades. A diferenciação eficaz exige altas expectativas para todos os estudantes, com objetivos claros em mente. Ao compreender o que se espera que os alunos alcancem, a diferenciação emerge como uma estratégia vital para apoiar cada aluno em sua jornada educacional.
Em síntese, os Bilhetes de Saída representam um recurso valioso e subestimado na caixa de ferramentas educacionais. Ao proporcionar uma avaliação formativa contínua, esses bilhetes desempenham um papel crucial no direcionamento do ensino, promovendo a melhoria constante. Seu uso estratégico não apenas revela o entendimento dos alunos, mas também oferece insights valiosos para aprimorar as práticas pedagógicas, tornando-se um aliado essencial para o professor comprometido com a excelência educacional.
Acesse o QR Code abaixo e veja exemplos de Bilhetes de Saída que podem ser usados nas suas aulas.
Biografia:
Débora Gerbase é uma professora e tradutora que atua nas áreas de inglês, português e português para estrangeiros. Atualmente, reside em São Paulo, onde concluiu sua formação em Letras – Tradução e Pedagogia e, posteriormente, obteve pós-graduações em Psicopedagogia e Formação de Docentes para o Ensino Superior.
Além de seu trabalho como educadora, Débora é autora dos livros “Sem pé nem cabeça – Expressões idiomáticas em português” e “Manual de Sobrevivência para o Professor Esgotado”, e coordenadora e coautora do livro “A realidade diversa na sala de aula: como lidar com a inclusão e a educação Socioemocional nas escolas” e coautora do livro “Alfabetização Bilíngue: benefícios e mitos na formação de crianças bilíngues”. Tem paixão pelo ensino e aprendizagem, bem como por seu compromisso com o sucesso de seus alunos.
Referências:
Black, P., & Wiliam, D. (2009). Developing the theory of formative assessment. Educational Assessment, Evaluation and Accountability, 21(1), 5-31.
Chappuis, J., & Chappuis, S. (2007). The best value in formative assessment. Educational Leadership, 65(4), 14-18.
Heritage, M. (2010). Formative assessment: Making it happen in the classroom. Thousand Oaks, CA: Corwin Press.
No mês em comemoração ao Dia do Professor, uma ótima opção para refletir sobre o poder transformador da educação.
Lançado em 2023, o filme “O Último Vagão”, do diretor Ernesto Contreras, é uma produção mexicana que emociona com a história da professora Georgina (Adriana Bazarra) que se dedica a transformar a vida de seus alunos, especialmente do aluno Ikal (Kaarlo Isaacs), trazendo uma mensagem poderosa a respeito do poder transformador da Educação, abordando o problema do acesso à educação e a valorização dos professores.
A professora Georgina é uma idosa e pedagoga obstinada, que trabalha em uma escola que é um vagão de trem abandonado em um povoado (zona rural) do México, de forma lúdica e aproveitando o cenário em sua volta que por muitas vezes ultrapassava o vagão, se estendendo a natureza envolta ou a situações que aconteciam com seus alunos e família, o ensinamento sempre era aplicado. A relação aluno e mentor se estabelecia não só no contexto escolar mas também no meio social do povoado, pois a figura de autoridade da professora Georgina se construiu além do vagão. Ensinava a ler e escrever com seus pouquíssimos livros antigos, eram esses instrumentos que auxiliavam em suas majestosas aulas.
Devido a idade a professora estava ficando cega, o que atrapalhava em alguns momentos em sala de aula, mas persistia. Sem salário não tinha finanças o suficiente para se manter, havia perdido os entes queridos mais próximos, mas permanecia fazendo o que mais gostava que era dar aula, cativando a todos, mudava o destino de quem se permitia estar com ela.
Fonte:adorocinema.com
No filme evidencia a história do pequeno Ikal (Kaarlo Isaac), filho de uma dona de casa com enfermidades respiratórias e de um pai operário dos trilhos de trem do interior do México, ambos analfabetos, ele vive os dias brincando com seus novos amigos num povoado desabastecido. A rotina do garoto é modificada quando conhece a professora Georgina, que convence os pais do menino a permiti-lo a estudar na escola do povoado.
Ikal, além de conhecer a professora Georgina e fazer amizade com três amigos Valéria, Tuerto e Chico que já moravam no empobrecido povoado do México, Ikal também adota um cachorro vira-lata abandonado batizado como Quetzal. As relações estabelecidas por Ikal conduz a reflexão sobre amizades sinceras, que levam a acreditar nas potencialidades humanas nas ações de educar e de querer aprender. Mesmo cercado de situações contraditórias e inusitadas, dificuldades materiais da escola e dos alunos, e a política de brutal descaso do governo mexicano para com a educação da época retratada.
As aventuras do garoto Ikal, que quer, sim, aprender a ler, mas também se divertir com os amigos, brincar com seu cãozinho Quetzal e conhecer o circo recém chegado ao povoado, mas principalmente ficar mais próximo de sua paixão: a simpática Valeria (Frida Cruz), tudo isso contracenam com as imagens exuberantes locais.
Fonte: Netflix.com
No decorrer do filme, o enredo mostra uma grande surpresa que entrelaça passado e futuro. Esse ato se dá aos poucos construído a cada cena do filme, reafirmando o que foi semeado pela educação naquele vagão abandonado pela professora Georgina. O “progresso” da educação já acontecia naquele vagão há tempos, independente do que o governo da época pretendia com as escolas.
Fonte: papodecinema.com
Um grande momento: A salamandra.
Como lição de casa os alunos foram desafiados a trazer algo para aula, poderia ser um objeto, uma criatura viva, enfim, algo que o aluno quisesse compartilhar com os colegas e a professora Georgina. Ikal chegou atrasado na aula pois estava a procura de um ser vivo para levar, até que em uma lago a caminho da escola encontrou uma salamandra.
O primeiro a apresentar o que havia levado a turma e professora foi Tuerto, levou uma linda borboleta monarca. A professora Georgina admirou a beleza da borboleta e falou sobre sua característica de promover vôos do Canadá até o México, um dos insetos mais fascinantes que tinha na natureza e ao final compara a borboleta ao aluno Tuerto. Conhecedora do amor do aluno pelos trens, diz que imaginava Tuerto nas ferrovias do país percorrendo de norte a sul.
O próximo a ser convidado é Ikal, foi questionado pela professora o que havia com ele, pois apresentava um comportamento quieto e cabisbaixo, o que não era comum. Foi logo chamado a vir ao centro para expor sua tarefa de casa. Em um frasco de vidro, havia uma água turva, lá estava uma salamandra, antes denominada por Ikal como “um bicho nojento”.
A professora Georgina elogiou o animal como “um ser vivo lindo, maravilhoso, fascinante e extraordinário”, descrevendo suas características, enfatizando o fato dela se adaptar a viver em diversos ambientes e reconstruir-se. Nesse momento a professora Georgina olha nos olhos de Ikal e pede para que ele se lembre de que enquanto ele estiver vivo, Ikal poderá ser o que quiser e poderá viver onde quiser, enquanto ele estiver vivo deverá escolher uma boa vida, deverá escolher bem o que quer para ser feliz.
Fez uma alusão a vida do aluno Ikal, trazendo à evidência o poder de adaptação e reconstrução que Ikal tinha dentro de si. Apresenta um mundo de possibilidades, o mundo onde a educação alimentava, fortalecia cada sentimento, características e as descobertas, empoderando seus alunos. Com instrumentos simples a professora Georgina conseguia com profundidade ensinar além dos livros. Uma lição eterna! Afinal isso ficará evidente nas cenas finais.
Fato
Detalhes
Título
“O Último Vagão”
Plataforma
Netflix
Gênero
Drama
Duração
1 hora e 30 minutos
Diretor
Ernesto Contreras
Elenco
Adriana Barraza, Kaarlo Isaacs, Memo Villegas, Diego Montessoro, Frida Cruz, Ikal Paredes, Teté Espinoza e Jerónimo Medina
Sinopse
Conta a história da Sra. Georgina, uma idosa professora em um vagão de trem, que se dedica ao máximo para transformar a vida de seus jovens alunos, principalmente quando um menino chamado Ikal chega à pequena cidade com seus pais. O filme aborda o problema do acesso à educação das crianças de forma sensível.
Avaliação
Altamente recomendado para quem busca uma trama emocionante e envolvente sobre a importância da educação e o papel dos educadores na formação das gerações mais jovens.
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Professor da Psicologia tem texto publicado em livro de Psicologia Social
O professor do curso de Psicologia da Ulbra Palmas, Sonielson Luciano de Sousa, tem texto publicado no livro “Psicologia Social: Travessia e(m) tessituras”, pela Editora Bagai (Curitiba-PR). O capítulo do livro se chama “Psicologia imaginal, pensamento decolonial e pedagogia cultural: por um resgate da ancestralidade” é assinado por Sonielson, que é doutorando em Educação e Estudos Culturais pela Ulbra campus Canoas-RS, em co-autoria com os professores PhD Marcia Esteves de Calazans, Dr. Moysés da Fontoura Pinto Neto e Dra. Graziela Macuglia Oyarzabal, todos da Ulbra.
O texto aborda como a colonialidade do saber se instaura nas academias a partir de discursos que envolvem o que é ciência e o que é pseudociência na psicologia e na educação, e como o resgate da ancestralidade e das epistemologias críticas pode apontar para alternativas politicamente engajadas e não alienantes.
O capítulo do livro destaca que ao unir o conhecimento, a sabedoria e a cosmologia das tradições indígenas com a Psicologia Imaginal, pode-se conceber um olhar ampliado sobre saúde mental, alteridade, ecologia e convivência plural. Essa combinação potencializa a capacidade de cura e transformação das pessoas, ampliando o alcance da psicologia, pensada a partir de uma abordagem social e política. E o mesmo se aplicaria à pedagogia, notadamente no ensino superior.
Entrevista com Sonielson Sousa: desafios e conquistas na docência
13 de junho de 2022 Sandra Aparecida Lopes Ramalho
Entrevista
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A vida acadêmica faz (ou já fez) parte do cotidiano de todos os profissionais com ensino superior e técnico; o início de tudo é nas salas de aula, com a apresentação de conteúdos teóricos e práticos até a execução em estágio para que o sucesso na práxis de uma atividade seja o mais adequado possível.
Algumas pessoas passam pela academia e não voltam a ter contato com a graduação, outros fazem especializações constantemente e, ainda, tem aqueles que se apaixonam pelo saber de forma avassaladora e buscam o caminho da docência, uma forma de se manter perto das poltronas estudantis e de estar contribuindo para o futuro de uma profissão, a partir da formação de novos profissionais.
A vida de um docente não é fácil, os estudos e aperfeiçoamentos nunca acabam, novos desafios surgem a cada semestre, as vezes o mesmo tipo de desafio é reprisado em personagens diferentes e requer uma nova abordagem. O professor tem um papel grandioso que transcende o repasse de conhecimento, estende-se ao incentivo e inspiração para as novas mentes e futuros profissionais.
Pensando nisto, o (En)Cena tem o prazer de entrevistar o professor e psicólogo Sonielson Luciano de Sousa, para narrar suas experiências, visão profissional e pessoal da carreira escolhida e o impacto que toda sua vivência profissional teve (e ainda tem) na sua visão como eterno aprendiz.
Apesar de dispensar apresentações, aqui vai um breve (se é que é possível) resumo do enorme currículo do brilhante mestre Sonielson. Além de ser Professor em diversas disciplinas no CEULP/ULBRA (ultimamente estas disciplinas estão focadas no curso de Psicologia), é coordenador de Editorial do portal (En)Cena; coordenador do núcleo de Meditação Daissen, de Palmas; sócio fundador e editor do portal de notícias O Girassol; É bacharel em Psicologia e Comunicação Social, ambas pelo Ceulp/Ulbra; Mestre em Comunicação e Sociedade (UFT); Licenciado pela Universidade Católica de Brasília em Filosofia; tem formação livre em Terapia Focada na Compaixão (na interface com a Psicologia Evolucionista e Psicologia Junguiana); formado em Práticas Integrativas e Complementares (com enfoque em Tai Chi Chuan e Mindfulness) – pela SBTCC e Brasil Mindfulness (respectivamente); Pós-graduado em Educação, Comunicação e Novas Tecnologias, com ênfase em Docência Universitária pela UNITINS; pós-graduado em Psicologia Analítica pela Unyleya-DF. Também é autor dos livros “Budismo e Cristianismo: aproximações possíveis” (Amazon), “Mídia e Corpo Masculino” (Editora Fi); e colaborador com um capítulo no livro “Saúde Mental – compilado de práticas integrativas e complementares” (pela UFT).
(En)Cena – Como ocorreu a transformação de aluno para professor?
Sonielson – Eu tenho a impressão que nunca vou abandonar o lugar de aluno. Isso se levarmos em conta que o docente é aquela pessoa que deve se atualizar sempre, seja a partir do caminho formal, ao ocupar o lugar de aluno na pós-graduação e nas formações livres, seja por acompanhar de forma ativa a evolução e atualização das epistemologias. Sinto-me confortável neste lugar de eterno aprendiz.
A vida acadêmica sempre te encantou ou foi uma junção de fatores que te levaram a trilhar os caminhos da docência?
Tenho uma família enorme e, boa parte dos primos e tios optou pela docência. Isso sempre me fascinou. No entanto, minha primeira formação foi um bacharelado em Comunicação. Passei muitos anos dedicado à produção de textos para jornal impresso. Basicamente um trabalho de redação (e de investigação e checagem de fatos). Com 20 e poucos anos fui convidado a lecionar no curso de Jornalismo da UFT, como professor substituto. Passei uns três anos lá. A experiência foi incrível. Depois, por volta dos 27 anos, fui fazer graduação em Filosofia (licenciatura) e aumentou a sensação de que a sala de aula me potencializava. Não parei mais. Já se vão uns 11 anos de sala de aula, ao todo.
Os desafios como professor são renovados a cada semestre com a chegada de novas mentes nas universidades ou com o início de novas matérias complexas. Existe algo que tenha lhe marcado como extremamente desafiador e que ocorra constantemente em suas aulas ou estes desafios são pontuais?
Não considero, até o momento, nenhum episódio ou marcador que tenha me desafiado ao ponto de repensar a minha estadia na profissão. No entanto, por ter um tipo psicológico Introvertido-Racional, no começo foi extremamente desafiador ter que administrar as inseguranças internas diante de um público vasto, heterogêneo e crítico (no sentido de, felizmente, não comprar qualquer ideia). Uma vez ultrapassada esta barreira, os encontros (em sala de aula) são muito autênticos e afetuosos. Também percebo que é preciso ter um cuidado a mais, como docente/mediador de conhecimento, porque como já dizia o Lacan, entre o que eu digo (minha intenção) e o que o outro escuta (interpretação) há um enorme abismo. Então, numa sala de aula lotada há sempre a possibilidade de interpretações enviesadas que podem gerar enormes mal-entendidos. De qualquer forma, até o momento nunca ocorreu nada que fosse mais grave. Em todos os casos, opto pelo diálogo e pelo desenvolvimento da capacidade de sustentar os conflitos (para que novos insights possam ser gerados).
Como professor, o que você considera como vitória profissional?
Poder colaborar com a sociedade, oferecendo o meu melhor para que isso seja reverberado socialmente a partir da atuação profissional dos acadêmicos que convivem ou conviveram comigo no ambiente formativo.
Seu currículo demonstra uma vida espetacularmente ativa de aprendizados e aperfeiçoamentos, a fome pelo saber é movida por uma paixão interna ou fruto da necessidade de estar sempre conectado com as novidades do mercado profissional e dos campos científicos?
Creio que os dois (risos)… Claro, busco averiguar, sempre que possível, quais necessidades quero atender a partir das minhas escolhas profissionais e pessoais. Busco perguntar a mim mesmo qual o lugar da minha sombra nestas escolhas, para evitar ser apoderado por um desejo de poder (e isso é muito tentador na academia). No meu caso em particular, tento conciliar minhas aspirações pessoais com as acadêmicas, sendo que tudo isso deve ser balizado por um sentido de vida. A pergunta que faço, com muita frequência, é: a minha vida cotidiana (pessoal e profissional) está de acordo com meus princípios? Esta vida colabora com o desenvolvimento do ser humano e da sociedade? É algo de que eu possa me orgulhar de ter dedicado tempo e energia, quando puder olhar para trás (lá na velhice) para avaliar a minha trajetória?… E, confrontado com estas questões, tenho como resposta de que não me vejo fazendo outra coisa. Disto estou muito seguro e feliz! A dedicação à docência, à clínica (como psicólogo) e à comunicação (esta área que está embrenhada em todas as relações humanas) me faz sentir-se vivo e ativo, colaborando efetivamente não apenas para o meu crescimento pessoal e espiritual (sim, vejo as profissões como sagradas) mas, sobretudo, para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa.
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Professor Polvo: Documentário que vai além das telas ensina sobre o respeito ao diferente
Vencedor do Oscar 2021, na categoria melhor documentário e longa metragem, o filme Professor Polvo narra a amizade de um mergulhador com um animal marítimo, no caso o polvo, em uma Floresta de algas, na África do Sul, continente africano. O documentário tem sido aclamado por muitos críticos por trazer lições sobre a existência, aprendizado com a natureza, fragilidade da vida, a morte não é o fim, entre outras lições transmitidas no decorrer do longa-metragem.
Outra abordagem importante é sobre a importância de se cuidar da saúde mental. Na narrativa, Craig Foster resolveu abandonar o trabalho considerado estressante para cuidar da saúde-mental deteriorada pelas jornadas sufocantes no ambiente profissional em que estava inserido. Para isso, resolveu fazer mergulhos, como forma desvencilhar do seu passado, foi quando encontrou o polvo, e construiu uma amizade nada convencional.
Nessa jornada de mais de 300 dias, o mergulhador apresenta cenas incríveis no fundo do mar, um local cheio de mistérios, bem como o desenvolvimento da sua amizade com o animal, além das pesquisas científicas feitas a partir do contato com o polvo, com uma câmera em mãos. Com esse jogo de câmera, o personagem consegue prender à atenção do telespectador, que adentra as profundezas do oceano, em meio à amizade entre o homem e a outra espécie de ser vivo.
Uma narrativa poética, a qual trouxe inúmeras lições de vida, que podem ser levadas para o ambiente escolar. Entre as lições pode-se citar a importância da empatia com o próximo. Craig quando está fora da água passa a pesquisar sobre o polvo, no intuito de entender o comportamento do seu novo amigo. Uma ação que deve ser levada em consideração, apesar das diferenças, o respeito precisa prevalecer.
Fonte: Divulgação/ Netflix
Em uma sociedade em que os relacionamentos tornaram-se frágeis, a busca pela confiança em segundo plano, em que o lema sempre é não confie em ninguém. A narrativa vem na contramão dessa linha de pensamento, e aborda a necessidade de estabelecer laços verdadeiros e afetivos de confiança, que irão trazer benefícios reais e amizades saudáveis. O enredo deixa bem claro que a confiança precisa ser construída, e isso não ocorre da noite para o dia.
Rótulos e preconceitos, bem como fazer parte da natureza são outros temas discutidos no documentário que merece ser assistido por todos que são apaixonados por filmes, bem como desejam um aprendizado de vida, que vai além das imagens exuberantes dos locais de gravação do filme. O Homem Polvo é aquele tipo de filme que deveria ir para as salas de aulas das universidades e escolas, por conter temáticas tão profundas que têm si perdido ao longo da busca incessante pelo sucesso, sem remediar as consequências.
Durante recente participação em live com os alunos do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, a professora Dra Adriana Ziemmer Gallert, falou acerca da educação como algo que nos faz pensar muito sobre o futuro e com ele as mudanças necessárias para se adaptar às rápidas transformações. Adriana pontuou sobre a necessidade de o profissional adaptar-se ao contínuo aprimoramento como pessoa e, também, como educador. “Acredito que um professor que tenha consciência dessas questões é um grande fator positivo na vida do acadêmico”, comentou Adriana.
Dentre outros tópicos destacados na entrevista, a educadora também enfatizou que a pandemia tem gerado um enorme impacto na educação e na vida dos alunos e professores, pois mesmo aqueles que antes tinham, ou mesmo ainda têm, resistência em relação ao uso de plataformas digitais se vêm forçados à adaptação, ao aprimoramento.
Adriana trabalhou por muito tempo no Ceulp/Ulbra, voltou para o Rio Grande do Sul há cerca de 3 anos e meio, tem Mestrado e Doutorado em educação pela UNB, é professora na Ulbra do Rio Grande do Sul e coordenadora acadêmica da unidade Guaíba e, também, no Rio Grande do Sul, sendo que em Palmas atuou na direção acadêmica. Confira este e outros tópicos na entrevista que segue:
(En)Cena –Como que fica o professor nesse contexto de mudança?
Adriana Ziemmer Gallert – Falar sobre o professor para mim é sempre uma paixão, eu gosto muito de falar e fazer reflexões sobre a nossa profissão. É uma profissão que eu escolhi para mim e que me alegra muito frente a tantos desafios que nós temos, primeiro a gente precisa pensar sempre, eu penso que a nossa profissão é uma profissão de intensas mudanças, o tempo todo nós somos desafiados a repensar as nossas práticas, porque o tempo todo nós estamos inseridos no contexto social, é uma profissão diretamente relacionada com pessoas e, sendo relacionada com pessoas, nós estamos inseridos em contextos sociais, culturais, políticos, econômicos, enfim, estamos em meio a esse todo no qual nos traz muitos desafios para que nós estejamos a todo momento sendo impulsionados para mudar, só que ao mesmo tempo a nossa profissão se constitui com uma tensão constante porquê nós somos profissionais que sabem que precisamos mudar e estudar as mudanças mas realmente alguns de nós têm dificuldades e é resistente à mudanças, nós temos culturalmente, dentro da profissão, um grupo grande de profissionais que sabe das dificuldades mas que realmente não encara, não enfrenta essas mudanças. É especial falar sobre isso nesse contexto porque nós estamos agora vivendo um momento onde nós somos muito tensionados pela mudança dado o contexto que estamos de pandemia, isolamento social e a reconstrução do fazer docente.
(En)Cena –Você acredita que não vai ser possível mais, mesmo que nós queiramos, voltar a ser o que era porque, por exemplo, os alunos já estão entrando na onda de interações que não são mais aquelas interações “clássicas”, “tradicionais” e que já são mediadas por dispositivos eletrônicos para tirar dúvidas. Enfim, então a gente vai ser forçado a se reinventar, na sua opinião?
Adriana Ziemmer Gallert – De uma hora para outra nós de turmas presenciais fomos desafiados realmente a nos reinventar, a nos recriar dentro de um cenário muito novo, novo como nós conversamos na outra live que não é tão novo assim, mas novo no sentido de ser professor com ferramentas novas, com ferramentas diferentes que antes nós conhecíamos mas ainda não usávamos ou não conhecíamos realmente e precisamos aprender muito rapidamente a usar e com certeza isso traz um impacto muito grande, muito significativo nesse sentido. No momento em que nós escolhemos a nossa profissão, essa profissão tem relação com algo pessoal da nossa vida que nos leva à fazer a escolha por estarmos nessa profissão e esses motivos que nos levaram a fazer essas escolhas estão relacionados com situações da nossa história e, quando nós nos deparamos com a profissão nós vamos adentrando no universo que demanda formação e desenvolvimento de competências tanto pessoais quanto profissionais necessárias no cotidiano.
Você mencionou os mecanismos de defesa frente às mudanças quando aquele contexto de trabalho se torna uma espécie de rotina e não provoca a transformação da mudança, não traz a necessidade de mudança e é meio natural que haja uma espécie de comodismo em relação a fazer as mesmas práticas e nesse contexto fomos desafiados a mudar nosso perfil, o nosso jeito de sermos e isso apresenta para nós uma mudança em relação à concepção do que é efetivamente exercer essa profissão, o que significa realmente sermos professores neste contexto, entender que a profissão passa por um contexto diferente de desafios e esses desafios com certeza vêm para ficar, acredito muito que a docência não será mais a mesma quando nós voltarmos ao ensino presencial.
(En)Cena –Um aspecto que você relatou na última questão que me chamou a atenção também e que de vez em quando eu até penso sobre isso, sobre a ideia de nós profissionais da educação de fato assumirmos essa área, assumirmos que essa é a nossa bandeira no caso e não reforçar alguns discursos (claro que a gente tem que lutar pela melhoria da categoria e, também, para que as coisas melhorem para que nós tenhamos cada vez mais condições de exercer a profissão).
Adriana Ziemmer Gallert – Sim, como a nossa profissão se configura dentro do contexto das escolhas que nós fazemos e no espaço que nós ocupamos, nesse momento nós temos também o cenário do valor da educação e do valor da ciência frente ao cenário da pandemia.
Fonte: Acervo pessoal da entrevistada
A necessidade que eu vejo, nós enquanto universidade, é de repensarmos muito o nosso trabalho e o nosso papel também no contexto de profissionais, professores no ensino superior que estão preparando profissionais para exercerem as suas profissões, as suas escolhas profissionais, isso tem sido um desafio muito grande nesse momento, e que tem nos levado internamente na universidade a reflexões muito ricas e muito valiosas, porque nós pensamos assim, nós estamos atuando como professores num contexto que nós não fomos preparados, ninguém foi preparado para viver a vida numa situação de pandemia, nós não fomos preparados para isso e aí nós estamos dentro da universidade nesse momento tendo o desafio e, digamos assim, um privilégio também de preparar profissionais para esse contexto, por que que eu falo do privilégio também? Os profissionais que nós na universidade preparamos, que terminaram o seu curso de graduação por exemplo no ano passado, os nosso egressos concluíram sua formação, são formados pela nossa universidade, eles estão atuando nesse contexto e no ano passado nós não preparamos eles para atuar e serem profissionais no cenário da pandemia.
Os estudantes que estão conosco hoje, estão nas nossas aulas tendo a oportunidade de refletir conosco sobre como ser um profissional nesse contexto ou então como ser um psicólogo no contexto da pandemia, como ser um engenheiro no contexto da pandemia, como ser um farmacêutico no contexto da pandemia, como ser um professor de educação básica no contexto da pandemia.
(En)Cena –E a gente não fica só na perspectiva de um cenário futuro, pois já estamos inseridos nisso, nessa problemática.
Adriana Ziemmer Gallert – Exatamente, isso passa a fazer parte do contexto da formação, inclusive hoje de manhã eu estava assistindo a webinar do representante do Conselho Nacional de Educação onde ele trazia exatamente esse desafio para nós no ensino superior, nós precisamos repensar a formação porque nós precisamos inserir dentro do nosso contexto de formação discussões e o desenvolvimento de competências profissionais necessárias para atuar em situações muito difíceis porque nós não sabemos quando de repente novas situações como essa vão acontecer, infelizmente.
A humanidade precisa se preparar para viver situações assim novamente… se uma vez aconteceu, outras vezes podem acontecer e nós precisamos ter uma estrutura organizacional para isso, e o papel da universidade é esse de preparar realmente esses profissionais para contextos diferentes, contextos desafiadores… então essa tem sido uma tônica muito forte de discussões dentro da universidade quando a gente pensa o papel do professor e a importância do professor está muito aberto a aprender, a trabalhar novas competências, tanto dele como professor nos processos de ensinar, de aprender, de avaliar quanto preparando os profissionais para atuar nas suas áreas dentro de contextos como esses que são muito difíceis.
(En)Cena –E esse professor de hoje, o professor do presente e o professor do futuro, como construir esse professor? Nós não vamos poder usar as mesmas metodologias… O que é metodologia ativa? E o que é aprendizagem ativa?
Adriana Ziemmer Gallert – Falar sobre metodologias ativas é um movimento e assunto bastante atual dentro do contexto do nosso trabalho que vem como um processo, digamos assim, tem um processo pedagógico, que enquanto princípio ele já vem há muito tempo sendo discutido, ele não é algo totalmente novo, mas enquanto conceito sim, é um movimento grande, que tenta incentivar os professores que utilizam metodologias ativas nas suas práticas e mais uma vez nós precisamos ter dentro da educação e da pedagogia um entendimento da questão dos modismos pedagógicos.
Então, às vezes o professor hoje compreende – muitas vezes sem um estudo mais aprofundado em relação ao que são as metodologias ativas – que, por exemplo, utilizar recursos digitais nas suas aulas já significa estar trabalhando com metodologias ativas e na verdade não é isso, na verdade é uma simplificação do conceito de metodologias ativas, que por sua vez tem outros princípios e outros conceitos que precisamos entender e um deles é realmente compreender que dentro desse processo, professor e alunos são ativos no ensino-aprendizagem, se o processo for presencial, se ele for a distância, se ele utilizar recursos digitais… isso passa pelo planejamento do professor. Então está muito mais relacionado a uma concepção do que é a aprendizagem efetivamente para que as metodologias sejam pensadas, para que a aprendizagem seja realmente eficaz.
Fala-se que a metodologia ativa tem como princípio uma aprendizagem ativa e quando a gente fala em aprendizagem ativa isso também traz para mim uma reflexão em relação ao aprender e o que é aprender efetivamente, quando nós nos mobilizamos para buscar algo novo para aprender e entendemos que sempre o processo de aprendizagem perpassa por algo que acontece no sujeito que está aprendendo e esse sujeito que aprende, quando ele aprende efetivamente, quando ele se apropria de algo, alguma coisa modifica nele, seja nos processos cognitivos, seja nos processos subjetivos de aprender… ou seja, há uma transformação, há uma mobilização diferente dentro desse sujeito, a aprendizagem aconteceu e ela foi ativa porquê houve uma transformação, houve uma mobilização desses processos dentro do sujeito e aí eu até questionaria dizer e associar a palavra ativo com aprendizagem, ela é sempre ativa quando ela realmente acontece independente até do método porque o processo é dentro de nós, é dentro desse sujeito que está aprendendo.
(En)Cena – É, me parece que no método tradicional isso também ocorre quando há obviamente essa volição, essa vontade por parte do acadêmico, do educando. O que diferenciaria então, nesse caso? Por que a gente teria que falar de metodologia ativa?
Adriana Ziemmer Gallert – Então, parece que a aprendizagem independe do método. Digamos assim, que no entendimento desse conceito que eu coloquei que a aprendizagem está relacionada a essa transformação de processos sim. Se nós formos pensar, o método que você aprendeu e o método que eu aprendi quando estávamos na escola, que era um método tradicional, também foi uma boa aprendizagem. Nós também aprendemos quando éramos crianças, adolescentes…
A necessidade da mudança nos métodos de ensinar é porque compreendendo a aprendizagem dentro do contexto em que nós estamos, a sociedade hoje é outra, nós estamos inseridos em um contexto cultural, no contexto social onde a interação entre as pessoas é muito intensa, em que as pessoas são protagonistas do processo de sua vida, elas querem participar, elas tem vontade de falar, de interagir, de se posicionar e tudo isso traz então para dentro do processo de trabalho do professor a necessidade realmente de um replanejamento e pensar quais então são as estratégias metodológicas mais adequadas, não para que a aprendizagem seja ativa mas para que o sujeito se sinta inteiro no processo de aprendizagem, para que ele se sinta motivado e queira participar das atividades que são propostas e aí há então a necessidade de pensar metodologias ativas.
(En)Cena – Não é possível inferir que só pelo fato de estarmos conduzindo as aulas de forma remota isso, por si só, seja de fato uma metodologia ativa, sim?
Adriana Ziemmer Gallert – Exatamente, se o entendimento do conceito de metodologias ativas fossem simples assim, ou seja, só focar em recursos digitais e utilizar e dizer que estou fazendo metodologias ativas na minha aula então automaticamente esse contexto em que nós estamos colocaria para nós que estamos todos vivendo no contexto de metodologias ativas e não é isso. Muitos professores neste cenário de pandemia não conseguiram fazer exatamente esse entendimento e esse trabalho pedagógico de retornar as suas aulas com metodologias virtuais, com tecnologias virtuais para colocar as pessoas num processo ativo… aquilo que o professor muitas vezes fazia na aula presencial é que ele ficava um tempão falando como se a aprendizagem acontecesse somente dessa forma, só pelo ouvir e a gente sabe que não é somente assim pois é muito fazer, vivenciar, o conviver para que aquela aprendizagem se torne realmente efetiva, então muitos professores não conseguiram se adaptar…
Os professores marcam uma aula online com os alunos e eles ficam falando muito tempo e aí nós precisamos pensar nesse tipo de aula que, quando nós falamos o aluno está em casa participando da nossa aula, ele tem muitas variáveis em volta que tiram a atenção dele porque ele está dentro do contexto da casa dele, está junto com a família, está junto com o filho, com variáveis concorrentes e muitos deles não têm espaço adequado e ideal dentro da sua casa para poder participar das aulas online e aí se o professor ficar falando, falando… perdeu esse aluno, perdeu mais do que na aula presencial porque ele se distrai por conta da situação que acontece, então até na nossa aula de metodologias remotas nós precisamos pensar no planejamento do tempo dessa aula, quanto tempo é possível ficar falando e que estratégias eu tenho que usar dentro de uma aula virtual para que meu aluno saia da imagem da foto dele (Câmera Desligada) e ele se apresente, ele participe efetivamente daquele encontro e isso também é muito necessário.
E tudo isso passa então pelo planejamento, pela concepção que o professor tem do que é aprender dentro desse contexto, dentro dessa necessidade que as pessoas têm de falar, de interagir, de se posicionar, de serem questionados, de serem instigados para que os seus motivos pessoais sejam aguçados, isso é um grande desafio para os professores.
(En)Cena – Este processo de aprendizagem ativa, às vezes, parece ser algo difícil também para o aluno… qual sua dica para que haja a adesão deles?
Adriana Ziemmer Gallert – Nós precisamos mostrar para nossos estudantes, sempre, como a aprendizagem acontece de forma mais efetiva e o aluno, estudante, ele precisa entender que uma aprendizagem só de ouvir já passou… não é mais assim. Porque as informações mudam muito rápido, elas estão em muitos lugares, as informações podem ser acessadas a hora que nós precisarmos, elas estão mudando e nós temos que atualizar o tempo todo e transformar essa informação em conhecimento, aí sim a aprendizagem acontece e esse é o grande diferencial, e como que nós aprendemos a transformar informações em conhecimento sendo que nós estamos falando do ensino superior?
Trabalhar nesse sentido, de que aquele nosso estudante que ainda nos vê como uma fonte única de acesso ao conhecimento precisa compreender que não é mais assim, nós somos um dos recursos da aprendizagem em termos de conhecimento e, aí sim, nós somos um grande potencial e podemos contribuir com a vida deles em relação ao desenvolvimento das competências, que serão necessárias para a vida toda porque os conhecimentos vão mudar, outras competências profissionais também serão exigidas.
(En)Cena – O educador, neste caso, tem que ter a capacidade de atenção redobrada, já que obviamente tem muitos pontos a serem conectados, tem muitos setores ali dentro da dinâmica da sala de aula onde ele vai ter que ativar esses setores para não haver um processo de descompensação das partes, tipo uma pessoa que polarize muito o discurso… é um reinventar-se no final das contas. Enfim, mudando de assunto, especificamente em relação avaliação, teve ganhos? Teve prejuízos? Não mudou nada? Como você vê isso?
Adriana Ziemmer Gallert – Bom, eu vejo que estamos todos aprendendo muito, primeiramente em relação a essas questões e quando a gente fala no processo das aulas, o jeito de ensinar, o jeito de trabalhar as abordagens, desenvolver as competências, propor atividades até que foi um processo menos doloroso, não tranquilo mas menos doloroso, mas quando chegou no momento das avaliações nesse período de isolamento social começamos a perceber que falar de avaliação nesse contexto é um grande desafio para nós pois eu penso que passa bastante pelo que você falou das nossas concepções, aquilo que nós acreditamos que é realmente educação.
Fonte: Acervo pessoal da entrevistada
Aquele professor que ainda está arraigado naquela concepção de que o processo é de transmissão do conhecimento, que ainda infelizmente não entendeu que esse não é mais o principal do nosso trabalho – ele continua sendo importante sim, pois o conhecimento continua sendo a base de nosso trabalho mas não é só isso, é o conhecimento a serviço de algo, do desenvolvimento de algo maior que são as competências -, esse professor que ainda está centrado só no conhecimento, para ele está sendo um sofrimento pensar nessa avaliação ou ele não está acreditando realmente.
Muitas vezes alguns deles estão vivendo no processo difícil de entender que realmente é possível utilizar as ferramentas diferentes para avaliar o desenvolvimento dos nossos estudantes, porque se eu estou centrado somente no conhecimento e para mim ainda a prova conceitual, aquela prova “o que é isso, que é aquilo?” é o que eu fazia no presencial, o processo avaliativo realmente não faz sentido dentro de um contexto onde nós estamos vivendo agora, porque o aluno tem acesso à internet, ele tem acesso aos materiais, ou seja, ele vai fazer avaliação com consulta sim e além disso eles têm grupos de WhatsApp no qual tiram dúvidas, onde o professor não participa… então quando eles têm dificuldades em alguma questão eles vão colocar lá, eles vão debater e eles vão aprender juntos.
Então para esse professor mais tradicional realmente é difícil. Eu fico imaginando, não consigo pensar exatamente qual é a solução que ele acha pra isso pois acho que não tem muita solução, mas o professor que já entendeu que o processo mudou, que o nosso trabalho é realmente potencializar o desenvolvimento de competências e para isso então nós vamos buscar os conhecimentos, nós vamos buscar as ferramentas que precisamos para desenvolver competências, para esse professor a avaliação tem outras possibilidades. Nós podemos utilizar o instrumento de prova? Podemos! Mas uma prova com questões que avaliam o desenvolvimento de competências e não uma questão onde eu encontro a resposta pesquisando no Google.
Além disso nós temos várias outras ferramentas também dentro desse universo de trabalho das plataformas, os ambientes virtuais aos quais possibilitam vários tipos de instrumentos de avaliação diferentes onde nós podemos sim criar atividades avaliativas que elas, inclusive, são mais trabalhosas, exigem mais do nosso estudante no sentido de que realmente as competências serão desafiadas no seu desenvolvimento. Então a avaliação nesse momento coloca em xeque as concepções que o professor tem, do que é aprender, do que é ensinar, do que é avaliar, o professor que já conseguiu dar um salto no seu desenvolvimento profissional, ele já consegue vislumbrar outras possibilidades, ele consegue construir outros caminhos que são sim coerentes com as estratégias que ele utilizou na própria ferramenta.
(En)Cena – O professor, hoje, não é um mero detentor de conhecimento. Ele é um mediador, um curador… mas o formato de centralização do processo educativo ainda é muito forte, sim?
Adriana Ziemmer Gallert – Eu vejo que muitas vezes o professor está realmente centrado ainda no papel do professor como figura que detém o conhecimento, o papel daquele profissional que não pode errar, que tem que saber tudo sempre, que não consegue quando o aluno, por exemplo, faz uma pergunta em sala dizer assim: “nossa eu não sei, vou pesquisar, vamos pesquisar juntos, eu também preciso aprender, isso é novo para mim também”.
Esse professor que não consegue ter essa postura realmente tem dificuldades em aceitar que ele precisa aprender, e aceitar que ele pode sim dizer “eu não sei, eu preciso aprender”. E o professor que realmente se compreende como profissional em constante transformação é um profissional que sempre tem algo a aprender, que gosta de aprender, a gente precisa gostar de aprender, a gente precisa gostar de ver o quanto nós vamos nos tornando pessoas melhores à medida em que nós vamos aprendendo mais, conhecendo mais, nos desafiando, nos permitindo, também nos transformar e aprender algo novo, acho que isso é tanto do professor quanto do aluno, permitir-se viver situações diferentes, isso também impulsiona em nós processos de aprendizagem, e para esse professor é mais fácil, digamos assim, ver que, por exemplo, “ainda tenho mais a aprender, eu não sei tudo e nunca vou saber de tudo”…
(En)Cena – Gostaria de te agradecer pelo tempo que você dedicou para esta conversa…
Adriana Ziemmer Gallert – Eu agradeço muito o convite mais uma vez e gostaria de deixar um abraço a todos, pois é sempre muito especial estar com todos vocês.
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Modernidade Líquida: um relato sobre ser docente em tempos pandêmicos
Este relato apresenta um olhar pontual sobre ser docente em tempos de pandemia, em especial sobre a dificuldade em usar as estratégias de ensino voltadas à tecnologia em um mundo em que alunos são, como diria Prenski (2001), nativos digitais. Mas, ao refletir mais profundamente, percebe-se que este aspecto possivelmente é apenas consequência de outro fenômeno: a fluidez (BAUMAN, 2000).
Harari (2018, p. 317) expressa o que parece bastante plausível tendo em vista a imprevisibilidade dos dias que vivemos: “Como podemos viver numa era de perplexidade, quando as narrativas antigas desmoronaram e não surgiu nenhuma nova para substituí-las?”
Fonte: Arquivo (En)Cena
Se as relações surgem e, antes mesmo de elas se findarem, irrompem novas situações – igualmente momentâneas – emerge a necessidade de se reaprender o que já fora aprendido e, para isso, esquecer rapidamente o que não é mais necessário. Nesse sentido, há que se tentar compreender como essa era – marcada pela doença, que trouxe uma obsolescência quase certa – afeta nossa vida em sociedade, inclusive as Instituições de Ensino, que foram bastante impactadas com essa fluidez, tendo em vista sua sólida e histórica estrutura (DIESEL; BALDEZ; MARTINS, 2017). Porém, esse é um caminho acidentado, principalmente no campo da educação, arraigada que é.
Masetto (2003) assinalou que, para a atuação docente nas instituições, exige-se precisão de conhecimentos, atualizações, domínio das técnicas e línguas. Mas, quanto à ação do professor propriamente dita, evidencia-se certo descaso com a tecnologia, com as diferentes estratégias que facilitam a aprendizagem, além da crença comum de que dominar o conteúdo é suficiente para que os estudantes aprendam.
Ocorre que, em um mundo assolado pelo vírus, se readaptar não é uma opção, mas como ensinou Bauman (2000), uma necessidade. Quase obrigatoriamente, estamos reaprendendo a ensinar, ainda que usássemos a tecnologia anteriormente em nossas aulas, mesmo que já tivéssemos sido professores na modalidade à distância.
Rapidamente tivemos que revisitar a nossa absoluta solidez. Agora, não é prudente sermos sólidos e mantermos facilmente a forma, com nossas claras certezas e dimensões. Não. O cenário é de dor e o isolamento impede as aulas presenciais. A partir de agora, a fluidez. O contexto das diretrizes a cada minuto. A cada dia. A cada dez dias. Ouso sugerir que a modernidade líquida de Bauman (2000), nunca foi tão adequada, porque é impensável nos atrelarmos as formas anteriores.
Metaforicamente, Bauman (2013) comparou professores e alunos a mísseis balísticos. Os mísseis, ao iniciarem seu percurso, eram perfeitos para alvos pré-determinados e fixos. Contudo, tais qualidades foram superadas quando os alvos começaram a se mover erroneamente e mais rápido que os mísseis, prejudicando os cálculos iniciais e a trajetória exigida (BAUMAN, 2013). Os mísseis somos nós, os professores. Os alvos, os alunos.
Fonte: Arquivo (En)Cena
Problematizando a metáfora, é visível a necessidade premente que nós, professores e nossos alunos tenham, diante dessa fluidez, de aprender não ao final, mas durante a experiência e o percurso da aprendizagem, bem como de esqueceremos o que já foi aprendido se não fizer mais sentido. “Assim, o que precisam que lhes forneçam de início é a capacidade de aprender, e aprender depressa. Isso é óbvio. O que é menos visível, porém, […], é a capacidade de esquecer instantaneamente o que foi aprendido antes” (BAUMAN, 2013, p. 17).
A modernidade líquida (e agora, pandêmica) reestreia a era da liquefação dos arquétipos de obediência e convívio e “[…] são agora maleáveis a um ponto que as gerações passadas não experimentaram e nem poderiam imaginar, mas como todos os fluidos, eles não mantem a forma por muito tempo” (BAUMAN, 2000, p. 22). Ou seja, manter as formas pré-determinadas em um contexto social caótico, é quase tão difícil quanto nelas permanecer, o que exige mudanças constantes. Aliás, como afirma Harari (2018), a mudança é a única constante!
REFERÊNCIAS:
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
______. Sobre educação e juventude: conversas com Riccardo Mazzeo. Zahar, 2013b.
DIESEL, Aline; BALDEZ, Alda Leila Santos; MARTINS, Silvana Neumann. Os princípios das metodologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. Revista Thema, v. 14, n. 1, p. 268-288, 2017.
MASETTO, Marcos Tarciso. Competência pedagógica do professor universitário. Summus editorial, 2003.
PRENSKY, Marc. Nativos digitais, imigrantes digitais. On the horizon, v. 9, n. 5, p. 1-6, 2001.
As duas primeiras temporadas influenciaram o povo a ir às ruas lutar contra o sistema, prova disto são manifestações reais em que o povo vestiu o macacão vermelho
A série da Netflix La Casa de Papel (3ª temporada) pode ser classificada como uma ficção ou se trata de um retrato dos Grupos de Resistência espalhados pelo mundo? Além da qualidade técnica melhorada, La Casa de Papel aborda tantos temas que as vezes é preciso parar, respirar fundo e só depois continuar. É uma temporada que aborda política, psicologia, irmandade, feminismo, tecnologia, relação interpessoal e arte.
A temporada inicia com um dos reféns do assalto a Casa da Moeda da Espanha palestrando para milhares de pessoas, como um best seller, e já mostrando a capacidade que o homem tem de tirar proveito de qualquer situação. Até então, em duplas, a equipe se espalha por diferentes partes do mundo, mas através do erro de ´´Rio“, o mesmo é capturado e a equipe resolve se unir, não só para salvar Rio, mas para desafiar e demonstrar resistência ao Sistema.
Logo no início o poder do dinheiro é destacado, assim como a identificação de ideais. É distribuído ao povo milhões de euros, acompanhado de um discurso de persuasão, anunciando que farão um novo assalto, mas este terá um significado ainda maior, já que alegam resistência contra o Estado, favorecendo o povo, deixando a mensagem principal: um governo contra um povo e um povo contra o Governo. Dessa forma, a população vai às ruas em manifestação.
Fonte: encurtador.com.br/ruFI2
Um fato importante é sobre como as duas primeiras temporadas influenciaram o povo a ir às ruas lutar contra o sistema, prova disto são manifestações reais em que o povo vestiu o macacão vermelho, colocou a máscara e tomou conta das ruas. O diretor aproveitou registros destas manifestações, e usou cenas reais, inclusive do Brasil. Isto só confirma o impacto da série no cenário político e social.
Através da capturação de Rio, o tema de Direitos Humanos é abordado. No regime militar a tortura foi um dos meios que serviu para o governo alcançar os seus interesses políticos. Mas, através da Declaração dos Direitos Humanos, Artigo V, a mesma é banida: “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante”. Diante de tal cenário, na série é feito o questionamento: em pleno século XXI o Sistema ainda faz uso de tortura para conseguir informações de pessoas que apresentam conduta negativa em relação ao regime?
Apesar da equipe se mostrar, muitas vezes, totalmente perdida, os temas ´´companheirismo, irmandade, fidelidade e lealdade“ são abordados, até mesmo com os antepassados. No novo plano de assalto o alvo agora é o Banco da Espanha e uma cena marcante é o momento em que o líder (dentro do banco) Palermo diz a um dos guardas costas do Presidente do Banco: eu sou o sul-americano que veio buscar o ouro que vocês, europeus, nos roubaram. Um ato de justiça ou de vingança? Eis a questão.
Ao ser solto, Rio é ovacionado pelo público que cerca o Banco. É atribuído a ele uma cena com temática heróica por ter sobrevivido a tortura. Ao adentrar ao banco, o ex prisioneiro do Estado faz um discurso de gratidão pelo fato da equipe ter abdicado da liberdade para ir salvá-lo. Diante disto é abordado o amor sexual, mostrando, também, que vilões têm sentimentos, ou poderia ser uma tentativa de confundir ainda mais os fãs de La Casa de Papel? São vilões ou mocinhos?
Outro tópico de resistência é a homessexualidade. É mostrado romance entre dois integrantes do grupo comandado pelo professor, frisando a representatividade e desconstruindo a estereotipação ao apresentar um homem grande, robusto, assaltante, romântico e sentimental. Enquanto o outro se apresenta como opressor e tóxico, justificando seu comportamento como regra da equipe para que o plano funcione, no entanto a temporada é cheia de sentimentalismo do início ao fim.
Outro assunto em evidência é o feminismo. Tóquio, Nairóbi e Estocolmo (o novo nome de Monica) são expostas as cenas em que a mulher é humilhada, subjugada e sexualizada. As personagens se apresentam empoderadas, enfrentam os ataques machistas e ocupam papel de liderança dentro da equipe. Além disso, Lisboa (o novo nome da inspetora Raquel) e a nova inspetora Sierra também ganham papel de destaque acompanhadas de sentimentalismo, pulso firme e humor. É importante frisar, que mesmo grávida e prestes a parir, Sierra comanda a operação.
Fonte: encurtador.com.br/eoyA1
Se nas duas primeiras temporadas a música ´´Bella Ciao“ era a trilha sonora, nesta temporada a música é outra, mas apresenta características em comum. A primeira trilha sonora aborda resistência, sendo uma canção da representação da Guerra Italiana: “E se eu morrer como um membro da Resistência, querida, adeus! Querida, adeus! Querida, adeus, adeus, adeus!”. A nova trilha sonora “Guantanamera” também aborda coragem e luta pelos ideais: “Eu sou um homem verdadeiro desta terra de palmeiras. Antes de morrer eu quero compartilhar esses poemas da minha alma”.
O roubo também ganha uma característica poética maior, além da temporada ser gravada em diferentes cenários paradisíacos, citações filosóficas também fazem parte do roteiro. O ato de roubar é romantizado e fica evidente no momento em que Berlim cita Michelangelo para representar o plano ´´impossível“ de se assaltar o Banco Europeu: “continue cultivando a beleza.. esse golpe é a nossa beleza. É a nossa obra prima”.
Por fim é mostrado como o fator psicológico é importante e pode ser peça chave para se ganhar uma guerra. Em alguns momentos é mostrado Sierra frisando a importância de analisar o perfil psicológico de cada assaltante, e declara: Nós temos que atacar, ir direto pro coração. Quebrá-los por dentro. Sierra consegue desestabilizar toda a equipe, inclusive o professor, que cai em sua própria armadilha. O que valida a fala de Tóquio no início da temporada: “Esta é a missão. Nada é de graça, tudo que se faz tem consequência”.
A temporada termina cheia de drama e suspense. Ao final o professor declara: isto não é mais um roubo. É um desafio ao sistema. É uma guerra. Diante de tal final, com gostinho de quero mais, fica entendido que a 4º temporada está a caminho.
Ficha Técnica
Título Original: La Casa de Papel
Duração: 376 minutos
Ano produção: 2019
Distribuidora: Netflix
Gênero: Suspense
Elenco: Úrsula Corberó, Itziar Ituño, Álvaro Morte, Pedro Alonso, Paco Tous, Alba Flores, Miguel Herrán, Jaime Lorente, Esther Acebo, Enrique Arce, María Pedraza, Darko Peric
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Psicologia – o amor pelo que se faz: (En)cena entrevista a psicóloga Gisélia Noleto
Gisélia Noleto é psicóloga egressa do Ceulp/Ulbra, Possui graduação em Letras – Português e Inglês e Respectivas Literaturase especialização em Metodologia do Ensino De Língua Portuguesa e Literatura. Tem mais de 20 anos de experiência na área da educação, onde atuou também como professora. Suas vivências em sala de aula impulsionaram o desenvolvimento de projetos voltados aos seus alunos durante sua graduação em psicologia.
(En)Cena – Quais suas áreas de atuação profissional?
Gisélia Noleto – Atualmente, trabalho em Clínica.
(En)Cena – Com qual público trabalha e qual a maior demanda?
Gisélia Noleto – Trabalho de adolescentes a casais. Dependendo do caso, atendo crianças. A maior demanda são jovens adultos.
(En)Cena – Ao sair da faculdade, você se deparou com uma realidade diferente do que imaginava?
Gisélia Noleto – Inicialmente, tive receio em como captar clientes/pacientes. Mas logo fui recebendo indicações de colegas de profissão, amigos e hoje já estou atendendo pessoas indicadas pelos meus próprios clientes.
(En)Cena – Você tem experiência na área da educação como professora, certo? Agora como psicóloga, como você encara as metodologias pedagógicas tradicionais?
Gisélia Noleto – Ainda há muitas metodologias tradicionais, mas também muitos profissionais tentando fazer diferente. Eu sempre gostei de inovar e com a Psicologia me tornei uma profissional de Educação muito melhor.
Fonte: https://bit.ly/2LBKvKg
(En)Cena – Você pretende atuar na Psicologia Escolar? Como você acredita que a Psicologia pode contribuir para a área?
Gisélia Noleto – Com certeza! Se tiver oportunidade e espaço, gostaria de agregar a experiência de 20 anos de Educação com adolescentes e os conhecimentos adquiridos em Psicologia.
(En)Cena – Como professora você já realizou práticas para se aproximar da realidade dos seus alunos, o que ficou conhecido como “De frente com Gisélia”. Os conhecimentos da Psicologia te ajudaram nesse sentido? Você acredita que práticas como essas podem ser implantadas nas escolas?
Gisélia Noleto – Sou apaixonada por gente, pessoas… E escolhi Psicologia por acreditar que posso fazer a diferença na vida das pessoas que estão perto de mim ou procuram minha ajuda profissional. Este projeto “De frente com Gisélia” foi apresentado em meu TCC e lá pude mostrar as várias possibilidades de criar vínculo com o aluno, por meio de uma escuta atenciosa, refletindo no processo ensino aprendizagem.
(En)Cena – Já atuou especificamente numa comunidade que é negligenciada socioculturalmente, como indígenas, quilombolas, entre outras?
Gisélia Noleto – Não tive tal oportunidade.
(En)Cena – Você tem atuação clínica, desenvolve projetos ou faz intervenções em grupos em prol de uma minoria, como comunidade LGBT, mulheres negras? Você tem um posicionamento militante quanto a isso? Faz parceria com grupos estaduais ou nacionais em defesa desses?
Gisélia Noleto – No momento não estou desenvolvendo projetos com tais grupos.
(En)Cena – Qual a sua opinião sobre o sindicato dos psicólogos que foi recém criado no Tocantins, em relação a importância desse órgão para a classe?
Gisélia Noleto – O nosso Sindicato é bastante importante para oxigenar a nossa classe, por meio de debates, grupos de estudo e trabalho. Portanto minha expectativa é que sempre tenhamos espaço para debater assuntos pertinentes a nossa profissão, sem privilegiar grupo A ou B.
(En)Cena – Por fim, além do diploma, o que te torna psicóloga?
Gisélia Noleto – Além do diploma, em qualquer profissão é preciso amar o que se faz e em nossa profissão, principalmente, amar pessoas, se importar com elas.