“Mentes Perigosas” – vínculo professor e aluno no processo de aprendizagem

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Uma Professora, seus Alunos e a jornada para transformar  a educação em uma comunidade “marginalizada.”

Lançado em 1995, o drama dirigido por John N. Smith, com roteiro de Ronald Blass narra a história de Louanne Jonhson uma ex-militar da marinha americana que abandonou sua carreira para seguir com o sonho de se tornar professora. O filme apresenta um recorte da década de 1980, especificamente retratando uma turma de alunos taxados pela a instituição de ensino como problemáticos, e a missão dada a  Louanne é ser a nova professora desses alunos.

A chegada de Louanne na instituição se dá por Hal Griffith, um amigo e professor do local, que aparenta descontentamento com o currículo de ensino do local, mas que prefere seguir os planos de ensino orientados. Esse amigo apresenta a oportunidade de estágio para a personagem e então ela vai ao encontro com uma espécie de coordenadora acadêmica. Neste cenário, acabam contratando ela para uma vaga efetiva.

Essa turma em especifico é composta por negros, latinos e asiáticos considerados problemáticos, e o filme apresenta o contexto de pobreza, violência e marginalização desses jovens, que agrupados geraram no ambiente escolar um espaço para pegação, uso de drogas e acerto de contas. O primeiro contato da professora com os alunos não foi como a personagem esperava, a resposta dos alunos frente a uma nova docente foi de extrema fúria, intimidação e banalização, tendo em vista que Louanne não era a primeira pessoa a tentar lecionar nessa turma.

                                                                                        Fonte: https://encurtador.com.br/uAEZ3                                                                           Imagem de divulgação

Logo na primeira aula, a professora chega e tenta conduzir a aula de forma convencional e de acordo com as normas e diretrizes da escola, no entanto os alunos se mostraram indisciplinados, e por diversas vezes a ignoraram. Com isso, Louanne sai imediatamente da sala de aula e se vê em um momento de tristeza, se sentindo certa de que não voltaria. Neste momento, seu amigo Hal, vendo a professora em desespero, decide estimulá-la a buscar novos meios de prender a atenção dos alunos.

Ela então passou a utilizar práticas alternativas e que despertam a atenção dos alunos, favorecendo o vínculo com eles. O vínculo entre professor e aluno, neste cenário, se torna um propulsor para a evolução dos discentes. No entanto, a inovação iniciada pela professora não passou despercebida pela direção escolar. Suas ações e práticas práticas foram,  por diversas vezes, questionadas pela a direção da instituição, a despeito do resultado positivo na interação com os alunos. Aqui parte uma crítica em relação a padronização do ensino, podendo ofertar pouco espaço para métodos alternativos que seriam mais coerentes para as diversas necessidades e preferências de pessoas diferentes.

Para despertar o protagonismo dos alunos e ter êxito em ajudá-los, a professora passou a buscar novos caminhos, inovar e buscar uma linguagem que se aproximasse da realidade deles, para que a partir disso eles pudessem enxergar o potencial de aprendizado deles. Estimulando a leitura através de premiações em busca de uma aprendizagem contínua . E aqui podemos fazer outra reflexão acerca do papel do professor para além de um currículo fechado, para de fato um agente de desenvolvimento/aprendizagem.

O filme apresenta o vínculo de professor e aluno como ferramenta importante para o processo de aprendizagem, Louanne chegou a visitar comunidades, conhecer a família de alguns dos seus alunos, e intervir em brigas e discussões, gerando na turma um sentimento que eles não estavam acostumados, levando inclusive ao questionamento do porque ela se importava com o futuro deles, preocupação essa que o filme relata não acontecer no próprio lar dos jovens.

                                                               fonte: https://encurtador.com.br/uAEZ3

Imagem de Divulgação

O filme leva a reflexão mostrando que por um lado havia a rigidez da instituição em não aceitar as estratégias de aprendizagem da professora, pois fugiam da perspectiva tradicional de ensino. Neste cenário, em diversos momentos, a inovação provocada por Louanne  era alvo de desestimulação ou mesmo punição. Por outro lado, o amigo da professora, Hal,  embora discorde da perspectiva de ensino bancária defendida pela escola, prefere manter uma postura de anuência diante das regras instituições, mesmo tendo ciência dos prejuízos delas.

Para Mello e Rubio (2013,  a aprendizagem vai além do ato de ensinar, eles colocam o afeto como característica importante para o papel de educador, auxiliando na tomada de consciência dos seus alunos perante a sociedade. Este meio social  de sentimentos que irá intervir no processo de aprendizagem, são detalhes em um dia escolar que definirá a influência na aprendizagem (MAIA, 2012).

A ideia de um ensino que envolve esse afeto, é por diversas vezes percebidos pelos próprios alunos, um exemplo muito forte é quando um deles se envolvem em uma briga externa que levou a sua morte, Louanne fica abalada pois havia estabelecido um forte vínculo com o aluno e a turma, e então decide abandonar o cargo. No entanto, em conjunto os alunos uniram forças para convencê-la de que eles precisam da continuidade.

E por mais que aplicado aos dias atuais, a postura do sistema educacional pode discordar de diversos métodos escolhidos por ela no decorrer do processo, como usar chocolates como recompensa para estimular o aprendizado. No entanto, a reflexão que o filme produz, nos leva a pensar que mais importante do que aquilo que é feito (como dar ou não chocolate) é o efeito que isso produz sobre o aprendizado e sobre vínculo entre professor e aluno. Neste sentido, faz-se necessária a consideração parcimoniosa e crítica em relação ao método de aprendizagem e ao tipo de relações construídas nos diversos contextos de formação educacional.

Referências:

MELLO,   Tágides;   RUBIO,   Juliana   de   Alcântara   Silveira. A   Importância   da Afetividade na Relação Professor/Aluno no Processo de Ensino/Aprendizagem na  Educação  Infantil.

MAIA, Heber, Necessidades Educacionais Especiais. Adriana Rocha Brito. (et al); Heber Maia (org). Rio de Janeiro: Walk Editora, 2011.

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Educação Socioemocional e Bem-Estar: Uma dupla imbatível

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As habilidades socioemocionais são verdadeiras ferramentas para a vida

Por Débora Gerbase, Professora e Tradutora –  missgerbase@gmail.com

A Educação Socioemocional e o bem-estar são dois temas muito abordados ultimamente nas escolas. Embora possam parecer serem diferentes, eles estão extremamente ligados e trabalham mutuamente para converter a jornada educacional em algo verdadeiramente enriquecedor.

Além do conteúdo acadêmico, necessário para a aprendizagem dos alunos, existe um segredo sutil escondido entre as linhas do currículo escolar: as habilidades socioemocionais. Estas habilidades são aquelas que não ganham destaque nas provas ou nos livros, mas que são as verdadeiras ferramentas para a vida. Elas cooperam para que os alunos tenham mais sucesso, estabeleçam melhores conexões e usufruam do bem-estar naquilo que desejarem realizar.

Linda Lantieri e Daniel Goleman (2008) explicam que essas habilidades são o “elo perdido na educação”. Em seu livro “Building Emotional Intelligence”, eles destacam que a educação vai além do intelecto. Elas se referem à capacidade dos alunos em conseguirem compreender e controlar as emoções, trabalhar em equipe, construir relações sólidas, resolver conflitos e saber comunicar-se de forma clara, assertiva e eficaz, cruciais para uma vida plena, em uma sociedade em constante transformação.

O que é a Educação Socioemocional?

                                                                                Fonte: Pixabay.com

A educação socioemocional fortalece os alunos para enfrentar a vida acadêmica e profissional

 

O Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning (CASEL) descreve a aprendizagem socioemocional como:

 “o processo pelo qual todos os jovens e adultos adquirem e aplicam conhecimentos, habilidades e atitudes para desenvolver identidades saudáveis, gerenciar emoções e atingir metas pessoais e coletivas, sentir e demonstrar empatia pelos outros, estabelecer e manter relacionamentos positivos e tomar decisões responsáveis e cuidadosas” (CASEL, 2019).

Em outras palavras, ela é como a estrutura invisível que dá sustentação às pontes que construímos com os outros e nós mesmos. Ela propõe-se a ensinar ao aluno a lidar com a raiva, a tristeza, a empatia e a resiliência, fortalecendo-o para enfrentar os desafios que se apresentam em sua vida acadêmica e pessoal.

As “Habilidades do século XXI” foram agrupadas na Education For Life and Work (2012) em três domínios:

  • Habilidades Cognitivas: Capacidades mentais como pensamento crítico e criativo para resolver problemas e compreender conceitos complexos.
  • Habilidades Intrapessoais: Competências internas como autoconhecimento, autorregulação e resiliência para lidar com emoções e desafios pessoais.
  • Habilidades Sociais: Capacidades interpessoais para interagir eficazmente, expressar empatia, colaborar e construir relacionamentos saudáveis e produtivos

                                                                                 Fonte: Pixabay.com

As principais habilidades do século XXI são as cognitivas, sociais e intrapessoais

 

O que é bem-estar?

O bem-estar, nesse contexto, pode ser definido como um estado de harmonia e satisfação que abrange diversas dimensões da vida, incluindo: o emocional, o social, o físico e o psicológico. De acordo com o modelo PERMA, desenvolvido pelo psicólogo Martin Seligman (2012), o bem-estar é composto por cinco elementos essenciais: Emoções Positivas, Envolvimento, Relações Significativas, Sentido e Realização.

Como a Educação Socioemocional e o bem-estar se conectam?

Desta forma, a Educação Socioemocional e o bem-estar se conectam e se entrelaçam de maneira inseparável, como fios de uma mesma trama, em uma trilha de um terrenos desconhecido, explorada por um viajante. Para esta jornada, o viajante precisa estar equipado com as ferramentas essenciais para navegar pelas complexidades do mundo acadêmico e das relações intra e interpessoais. Esse encontro começa quando se percebe que a educação não é apenas um acúmulo de fatos, dos estudos, mas uma jornada de autodescoberta.

                                                                                 Fonte: Pixabay.com

A educação não é apenas um acúmulo de fatos, dos estudos, mas uma jornada de autodescoberta.

 

Por exemplo, no seu percurso de aprendizado, esse viajante carrega uma bússola interna, representando a autorregulação. Assim como um navegador habilidoso ajusta sua bússola para se orientar, a autorregulação capacita-o a ajustar sua mentalidade, mantendo-se no rumo certo mesmo diante dos desafios acadêmicos, emocionais, desafios interpessoais e autodescoberta.

À medida que o aventureiro avança, encontra outros viajantes que compartilham a mesma estrada, cada um trazendo consigo uma bagagem única de experiências. Aqui, a empatia atua como um guia silencioso, permitindo com que ele se coloque lugar dos outros ao enfrentarem desafios na sua jornada. A empatia, então, emerge como um elemento vital do bem-estar, nutrindo relacionamentos saudáveis e cultivando um ambiente de apoio mútuo.

Mas a jornada não é sempre fácil. Segundo Haim Ginott (1972): “As crianças são como navios; as águas tranquilas não as formam. São as tempestades.” E é aqui que entra a resiliência, outro pilar do bem-estar, como a mochila resistente do viajante. Ela abriga as ferramentas necessárias para enfrentar terrenos acidentados e tempestades emocionais com determinação e continue avançando, não apenas na estrada acadêmica, mas também na estrada da vida.

Quando o indivíduo domina as habilidades socioemocionais, é como se ele estivesse criando uma armadura de equilíbrio emocional. As pressões da educação e da vida não o derrubam facilmente, porque ele aprendeu a equilibrar o intelecto com o coração. Entretanto, dominar essas habilidades não acontece da noite para o dia. É preciso consistência e perseverança no ensino e na sua prática.

 

                                                                         Fonte: Pixabay.com

Quando o indivíduo domina as habilidades socioemocionais, é como se ele estivesse criando uma armadura de equilíbrio emocional

Sendo assim, a Educação Socioemocional reflete-se no bem-estar, uma vez que o aluno se torna um viajante habilidoso, percorrendo sua trajetória da aprendizagem e pelas complexidades das emoções humanas. Tal como um explorador que acumula histórias valiosas em cada parada, o estudante coleciona habilidades que não apenas enriquecem sua jornada acadêmica, mas também tecem uma rede de bem-estar duradouro e que envolve sua mente, coração e espírito, para si mesmo e para o outro.

Nas encruzilhadas da educação, onde mentes jovens florescem, uma conexão profunda ganha vida. É uma jornada não apenas de conhecimento, mas de autodescoberta e equilíbrio emocional. Nesse enredo, a Educação Socioemocional e o bem-estar encontram-se como parceiros inseparáveis, tecendo a trama de vidas mais plenas e resilientes.

Biografia:

Débora Gerbase é uma professora e tradutora que atua nas áreas de inglês, português e português para estrangeiros. Atualmente, reside em São Paulo, onde concluiu sua formação em Letras – Tradução e Pedagogia e, posteriormente, obteve pós-graduações em Psicopedagogia e Formação de Docentes para o Ensino Superior.

Além de seu trabalho como educadora, Débora é autora dos livros “Sem pé nem cabeça – Expressões idiomáticas em português” e “Manual de Sobrevivência para o Professor Esgotado”, e coordenadora e coautora do livro “A realidade diversa na sala de aula: como lidar com a inclusão e a educação Socioemocional nas escolas” e coautora do livro “Alfabetização Bilíngue: benefícios e mitos na formação de crianças bilíngues”. Tem paixão pelo ensino e aprendizagem, bem como por seu compromisso com o sucesso de seus alunos.

Referências Bibliográficas:

CASEL. CASEL guide: Effective social and emotional learning programs—preschool and elementary school edition. Chicago, IL: Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning, 2019.

Education for Life and Work: Developing Transferable Knowledge and Skills in the 21st Century. National Research Council, 2012.

Fredrickson, B. L. The role of positive emotions in positive psychology: The broaden-and-build theory of positive emotions. American psychologist, 56(3), 218-226, 2001.

Goleman, D. Inteligência Emocional: A Teoria Revolucionária que Redefine o que é Ser Inteligente. Objetiva, 2012.

Ginott, H. Between Parent and Child: New Solutions to Old Problems. Macmillan, 1972.

Greater Good Science Center. Student Well-Being: Practices for cultivating the social, emotional, and ethical well-being of students. Disponível em: https://ggie.berkeley.edu/student-well-being/. Acesso em 26 ago.2023.

Lantieri, L., & Goleman, D. Building Emotional Intelligence: Techniques to Cultivate Inner Strength in Children. Sounds True, 2008.

Seligman, M. E. P. Florescer: Uma Nova Compreensão sobre Felicidade e Bem-Estar. Editora Objetiva, 2012.

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‘Além da sala de aula’ e a educação cidadã

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A ação pedagógica deveria ser voltada para garantir a todos o saber e as capacidades necessárias a um domínio de todos os campos da atividade humana.

A história se passa em 1987 e apresenta uma jovem professora, mãe de dois filhos e grávida do terceiro, recentemente formada na faculdade, que acaba lecionando para crianças de rua em uma escola de abrigo sem um nome. Aos poucos vamos acompanhando a evolução e a mudança social que Stacey provoca nos alunos e naquela comunidade de pessoas sem teto. Ao chegar à escola ela se depara com um grande galpão, cheio de buracos e rachaduras, sem o mínimo de material necessário para lecionar e crianças e pais completamente desinteressados no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que só frequentam o lugar para receber abrigo e comida.

Um dos desafios relevantes que Stacey enfrente é a evasão, pois aquele é um lugar de passagem, as pessoas vêm e vão. Numa mesma sala de aula ela precisa manejar várias crianças de idades diferentes e que estão desniveladas em relação aos saberes que são esperados para a idade escolar que deveriam se encontrar. Além disso a falta de recursos é limitante para se fazer um trabalho de qualidade no local, temos como exemplo a cena em que a professora tenta aplicar uma prova na classe, mas as crianças não têm nem lápis para responder.

Quanto às variáveis familiares que mais influenciam a evasão e a repetência, nosso estudo de revisão apontou os seguintes componentes: nível socioeconômico dos pais, situação habitacional, número de filhos e o grau educacional dos pais. Deve-se ressaltar que o nível de escolarização dos pais é preditor do nível de escolarização dos filhos, ou seja, é possível prever, com considerável exatidão, a evasão escolar através da história educacional dos pais, como ressaltou Brandão (1982). Outra variável familiar de importância neste problema é a mobilidade de emprego dos pais, que mudam e rematriculam a criança em diferentes escolas, várias vezes por ano. (WECHSLER, 2008, p.149)

Fonte: encurtador.com.br/bIJT6

A relação com a família das crianças também é um problema, pois nem os pais receberam educação, para eles frequentar escola não é algo relevante e por vezes tiram as crianças da sala de aula por razões aleatórias. Stacey se vê de mãos atadas, pois sem a colaboração dos pais ela não consegue conduzir o processo. Frustrada com a situação, porém motivada pela vontade de não desistir das crianças, ela decide provocar mudanças na escola a fim de melhorar as condições de trabalho e consequentemente o aprendizado das crianças.

A instituição escolar, por sua vez, […] carece, muitas vezes, de condições mínimas para a estimulação da aprendizagem. Este fato fica bem real ao visitarmos as escolas das periferias, onde há falta de cadeiras e carteiras, vidros quebrados, água potável nem sempre acessível, inexistência de bibliotecas ou demais materiais escolares, mostrando-nos quão difícil se torna a motivação para aprender em tais condições. (WECHSLER, 2008, p.149)

Stacey passa a tirar do próprio bolso recursos financeiros para investir em materiais didáticos para a escola, se utilizando de seu tempo de folga para limpar, pintar e cuidar de sua sala de aula. Comovidos pelo interesse da professora, os demais usuários do abrigo, trabalhadores e familiares das crianças passam a colaborar com os planos de Stacey. Um senhor idoso e morador de rua passa a ser assistente de aula dela e ensina às crianças desenho, cores, pintura e arte.

Os pais passam a ser ativos no processo e ajudam as crianças com o dever de casa ao invés de passar tempo na televisão. Conforme as mudanças ocorrem, Stacey consegue chamar a atenção do representante do distrito escolar que passa e fornecer recursos para aquela escola. O filme termina com a conquista da lei “Mckinney-Vento homeless assistance” de 1987 que garante acesso a educação para crianças de rua nos Estados Unidos.

Fonte: encurtador.com.br/eioS1

Wechsler (2008) afirma que “as características e as necessidades emocionais do aluno necessitam de atenção por parte do professor e compõem a relação professor-aluno, positiva ou negativa, influenciando assim, o clima da sala de aula”; podemos entender isso a partir da relação que Stacey estabelece com os alunos da Ana, Maria e Danny. Maria passa de aluna novata à aluna assistente da professora; Ana, que tinha medo de contato físico devido a agressões que sofria, passa a ter autoconfiança, melhora sua autoestima e seus relacionamentos interpessoais, e Danny assume papel de líder na sala de aula, estimulando e incentivando os demais alunos a serem acolhedores e participarem das atividades propostas na escola. Essas mudanças refletiram também no relacionamento com os pais dos alunos, uma vez que os pais de Ana, Maria e Danny conseguiram se sentir assistidos pelas mudanças provocadas pela professora na vida das crianças.

O termo meio social, empregado pela Psicologia, restringe-se ao ambiente onde se dá o processo de socialização, ou seja, o ambiente é o ponto de chegada, e não o ponto de partida. A sociedade determina as condições de educabilidade da criança, pois ela já é socializada desde que nasce. As ações educativas, portanto, como são provenientes do meio social, impõem à criança propósitos e tarefas que não são, necessariamente, correspondentes ao desenvolvimento espontâneo da natureza humana individual. A educação é uma atividade de fora, externa à criança. Ela é, de certa forma, uma atividade forçada, que intervém no curso do desenvolvimento do indivíduo. Ao provocar a socialização entre os alunos e a comunidade com feiras de ciência e exposição dos trabalhos das crianças, Stacey estende o meio social das crianças.

A ação pedagógica deveria ser voltada para garantir a todos o saber e as capacidades necessárias a um domínio de todos os campos da atividade humana, como condição para a redução das desigualdades de origem social. Ela deve partir das condições concretas da vida da criança, considerando que a busca de saber deve ser espontânea, por um processo de descoberta. Além disso, deve haver uma Pedagogia Social que entende que há saberes universais que devem ser constantemente reavaliados face às realidades sociais, através de um processo de transmissão-assimilação-reavaliação crítica. Ao ter o primeiro contato com a sala de aula Stacey fala sobre realidades muito distantes da que as crianças vivem com familiares presos e sem recursos para terem férias de verão, por exemplo.

Conforme Libâneo (1984) é fundamental que o professor aprenda a adaptar-se ao aluno para que consiga aproximar-se do interesse, compreensão e linguagem do mesmo, sem ter que sacrificar o ato de ensinar. Posteriormente é necessário que o psicólogo trabalhe com o supervisor escolar (orientador), uma vez que este tem o papel de auxiliar o professor no seu fazer de sala de aula, por isso é necessário que ele consiga dar assistência em problemas de aprendizagem bem como adequar a proposta de conteúdos e métodos as condições socioculturais e psicológicas das crianças.

Fonte: encurtador.com.br/xyCMN

Em relação ao ensino de psicologia no contexto escolar, Libâneo (1984) destaca que, primeiramente, é necessário articular os princípios e explicações com a prática do cotidiano do professor, onde ele mesmo irá transformar seus métodos de acordo com as suas demandas. As principais problemáticas reais relacionadas ao seu dia a dia são: classes lotadas, condições desiguais de base de aprendizagem dos alunos, desmotivação, desinteresse, classes sociais diversas, problemas de comunicação, problemas de indisciplina e inadequação de programas de ensino-aprendizagem.

A visão de Freire (2001) sobre as relações entre educação e responsabilidade se inicia quando este define que ser responsável no desenvolvimento é a soma do cumprimento de deveres com o exercício de direitos. Propõe ainda que existe a necessidade de haver transformações sociais e políticas, para que estas viabilizem cada vez mais a educação voltada para a responsabilidade.

Ele define a responsabilidade como “a prática educativa progressista, libertadora, exige de seus sujeitos tem uma eticidade que falta à responsabilidade da prática educativa autoritária, dominadora”, ou seja, a educação autoritária leva em consideração apenas os aspectos éticos e interesses de determinado grupo social, não respeitando assim a individualidade de cada sujeito, suas potencialidades e o bem coletivo que a educação responsável propõe.

Logo, Freire (2001) destaca que “o educador progressista é leal à radical vocação do ser humano para a autonomia e se entrega aberto e crítico à compreensão da importância da posição de classe, de sexo e de raça para a luta de libertação”. No filme de Bleckner (2011) fica claro o papel social da professora Stacey, mesmo que muitas vezes ela tenha levado questões de sala de aula e das condições sociais dos moradores de rua para dentro de casa, ela exerceu papel de agente transformadora daquele contexto.

Fonte: encurtador.com.br/dilV0

Stacey Bess é uma autora e educadora, mais conhecida pelo livro “Nobody Don’t Love Nobody” que originou o filme; atualmente trabalha como oradora pública, defendendo os direitos educacionais das crianças carentes.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

Além Da Sala De Aula
Título Original: Beyond The Blackboard
Direção: Jeff Bleckner
Elenco: Emily Vancamp, Steve Talley, Timothy Busfield 
País:  Eua
Ano: 2011
Gênero: Drama

Referências

FREIRE, P. Política e educação: ensaios. 5. ed – São Paulo, Cortez, 2001.

LIBÂNEO, J.C. (1984). Psicologia Educacional:Uma Avaliação Crítica. In: Psicologia Social: O Homem Em Movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984. 220 p.

WECHSLER, Solange Muglia. Criatividade: descobrindo e encorajando. 3. ed. [s. L.]: Lamp Wechsler, 2008. 354 p.

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