“Prostituição e pornografia” é tema de encontro do Grupo de Estudos Feministas

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O debate é aberto ao público e ocorre no dia 24 de setembro, às 17h, na sala 203, no Ceulp.

Acontece na segunda-feira, dia 24 de setembro de 2018, o encontro do Grupo de Estudos Feministas com o tema “Prostituição e pornografia: uma abordagem feminista”, das 17h às 18h, na sala 203, no Ceulp/Ulbra. O debate é aberto ao público e será conduzido pelas acadêmicas de psicologia e estagiárias do Portal (En)Cena, Fernanda Bonfim e Joice Reitz.

Fernanda Bonfim ressalta que “é um tema bastante polêmico e as vezes controverso, mas que deve ser debatido. A pornografia tem um grande viés de prazer sexual. Algumas correntes feministas consideram a pornografia cruel e materializado pelo patriarcado, já outras enxergam como uma forma de empoderamento feminino. Com certeza a discussão será de grande aprendizado”.

E Joice Reitz acrescenta “o tema é bastante rico, tendo várias vertentes em sua discussão, entre elas as que são favoráveis e as que são contra. É interessante se aprofundar mais nessa temática, visto que não são práticas incomuns e que geram diversas opiniões”.

Saiba mais

O Grupo de Estudos Feministas, iniciativa do curso de Psicologia do Ceulp, com orientação da Profa. Me. Cristina Filipakis, procura situar a luta feminista e sua história nos mais diversos contextos objetivando discutir temas que perpassam de maneira transversal as perspectivas e vivências das histórias de diferentes mulheres.

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Prostituição: o não reconhecimento social e alguns de seus impactos

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Que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo muita gente já sabe, mas que as prostitutas eram sagradas, consideradas deusas, pouca gente sabe. A divisão entre prostitutas e esposas aconteceu há 2000 anos a.C. Ainda na Grécia Antiga as profissionais começaram a ter independência financeira e o patriarcado não viu com bons olhos, declarando que rituais sexuais eram pecados graves, o que foi muito bem aceito pela igreja cristã; no entanto, bordéis e casas de banhos continuavam lotados.

Alguns países tem a prostituição legalizada, outros não. Atualmente no Brasil a profissão é legalizada, mas não é regulamentada. De acordo com a BBC News, no mundo, mais de 40 milhões se prostituem atualmente. Sendo a grande maioria mulheres, chegando a 75%, com idades entre 13 e 25 anos.

Fonte: encurtador.com.br/gFGT5

Para Dejour (2009), “o reconhecimento da qualidade do trabalho proporciona ao trabalhador a ideia de pertencimento, portanto, o reconhecimento confere ao trabalhador, em troca do sofrimento, um pertencimento que faz desaparecer a solidão.” Na prostituição não existe o reconhecimento por parte da sociedade, as prostitutas vivem a margem da sociedade e da justiça, pois não existe leis que as protegem, enquanto são alvos da violência.

Neste sentido, “a relação de prazer e sofrimento do trabalhador está diretamente ligada ao reconhecimento em seu trabalho” (Rodrigues Filho, 2010). O não reconhecimento social, falta do bem estar relacionado à prevenção para a saúde e direitos trabalhistas, podem gerar sofrimento psíquico e danos à saúde mental das profissionais do sexo, como depressão, stress e o aumento do uso de substâncias ilícitas.

Quando se refere à escolha da profissão, a necessidade é a resposta mais significativa. A remuneração é um dos fatores decisivos para tomada de decisão de entrar para esse ramo, porém, não é fácil como no imaginário popular, o trabalho é cheio de riscos tanto para saúde quanto para a segurança das profissionais.

Fonte: encurtador.com.br/qvzA8

Além dos perigos enfrentados pelas profissionais que ficam expostas a violência nas ruas, dentro das boates não é diferente, lá elas correm tanto risco quanto nas ruas, pois não sabem a que podem ser submetidas, vai depender de como funciona a organização e se lá elas terão a segurança necessária, pois não se sabe o comportamento dos clientes que geralmente são pessoas totalmente desconhecidas.

De acordo com uma reportagem de Glauco Araújo (2007), publicada no site da Globo.com,

“No Rio de janeiro, alguns rapazes espancaram uma empregada doméstica em um ponto de ônibus, na madrugada de 23 de junho, tentaram justificar a violência afirmando que acharam que se tratava de uma prostituta. Na mesma madrugada, uma prostituta foi agredida em outro ponto de ônibus. Um dos rapazes que espancou a doméstica também foi reconhecida pela prostituta como um de seus agressores.”

As questões morais e religiosas fazem com que as profissionais do sexo sejam vistas como uma escória da sociedade, sem valor ou importância, fazendo com que o trabalho delas tenha relação direta com medo e a precariedade, tornando fonte de sofrimento.

Referências

DEJOURS, Christophe. Entre o desespero e a esperança: como reencantar o trabalho? CULT, São Paulo, n. 139, p. 49-53, set. 2009

ARAÚJO, G. (2007).  Jovens acham que prostituta é saco de pancada. Disponível em < http://g1.globo.com >Acessado em: 02/03/19

FERNANDES, D. Paris para a BBC Brasil. Mais de 40 milhões se prostituem no mundo, diz estudo. Disponível em < www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/01/1120118_prostituicao_df_is > Acessado em: 02/03/19

RODRIGUES FILHO, L. F. Prostituição : um estudo sobre as dimensões de sofrimento psíquico. LUGAR COMUM – Estudo de Mídia, Cultura e Democracia, n. 43, p. 265–277, 2010.

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Jovem & Bela: a descoberta da sexualidade e a vida que extrapola os rótulos

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Após perder a virgindade nas férias de verão, a jovem Isabelle (Marine Vacth) inicia uma vida dupla, prostituindo-se sem que ninguém à sua volta desconfie. Desde a primeira cena do filme, é hipnotizante a beleza da protagonista do longa francês, e, com o decorrer da história de Jovem & Bela, o espectador é enlaçado por sua intrigante e curiosa personalidade, que mais parece uma esfinge enigmática que, presume-se, a qualquer momento quer devorar quem desafia suas ações.

Muitas das críticas que se observa sobre o filme focaram na curiosidade sexual da jovem e sua aparente incoerência dos atos com o ambiente em que ela vive. Desde o início é ressaltado a boa condição financeira e a união familiar como barreiras para qualquer tipo de ação marginal ou, no outro extremo, o vazio de significado que o sexo adquiriu na sociedade contemporânea, principalmente entre os jovens – aqui vislumbrado por alguns como uma fuga da melancolia da vida. Sem desmerecer tais perspectivas, acredito que François Ozon, diretor e roteirista do longa, julga menos o sexo e mais a cultura masculina dominante.

Isabelle traz no rosto os traços delicados de um anjo e seu comportamento contido e polido só esconde um espírito perspicaz e curioso. Em nenhum momento há uma expressão do que se julgaria imoral ou muito menos algo que forneça informações sobre seus desejos, bem diferente da protagonista em Ninfomaníaca, polêmico filme de Lars Von Trier. A cena no qual ela, na praia, se certifica do seu isolamento para fazer topless parece exemplificar o caráter de Isabelle – seus pensamentos e seu corpo não são e não devem ser públicos. Entre essa dicotomia e o relacionamento familiar esboçado, o incômodo que ficou ao final do filme foi: qualquer um(a) pode ser “puta”!  A mais antiga profissão, como dizem, pode ser exercida por sua irmã, mãe, tia. Se a única pergunta que martelar na cabeça do telespectador é “por quê?”, se entra num discurso infinito moralista com poucas e limitadas respostas; para ampliar a discussão, principalmente em uma obra de ficção, tem que se fazer um questionamento tão intrigante quanto o filme propõe: – Por que não?

Em perspectiva, o choque se dá por dois motivos: o personagem é feminino e se prostitui. Agora, tire o foco de Isabelle e coloque as mesmas experiências em Viktor, seu irmão caçula, igualmente jovem e belo e até poderíamos ter duas faces da mesma moeda, mas em uma sociedade machista a história não é bem assim. Ozon delineia isso ao filmar a masturbação feminina e masculina, as primeiras aventuras sexuais dos dois irmãos, ambos expostos pela perspectiva masculina, encarados com espanto no primeiro e com normalidade no segundo. Exemplo de uma sociedade patriarcal que dá o poder de dominar e exercer o domínio sobre o seu sexo e do outro, definindo papeis com regras pré-estabelecidas desde o momento que o pai e mãe descobrem o gênero da criança que vai nascer. Está arraigado os papeis esperados por cada um, sem indagações ou restrições e Isabelle parece perceber isso e busca ir além da compreensão racional.

Não se sabe se foi a experiência de ver a separação dos pais ou perceber antecipadamente as pressões que existem sobre o gênero feminino um possível estopim de seus atos, talvez a simples percepção das restrições absurdas sobre seu sexo, proibindo-lhe de utilizá-lo sem rótulos, a tenha desafiado ir contra eles. E o primeiro adjetivo a cair é o de virgem; sua primeira experiência sexual é seca, física, sem qualquer emoção envolvida, a experiência pela experiência, resumindo, masculinizada.  Isabelle salta todo o drama e pressão que a cultura designa ao gênero feminino, de um prazer obrigatoriamente relacionado a ligações sentimentais, como sua melhor amiga retrata. Ao homem permite-se o sexo pelo simples prazer do ato, à mulher o prazer sexual deve vir imbuído de paixão e entrega, caso contrário, se ela quiser o gozo no mesmo patamar físico que o homem consegue só restará um rótulo para ela, o de prostituta.

No entanto, a escolha da prostituição não surge como um grito de revolta e sim de poder. Infelizmente nossa cultura não ensina e muito menos acolhe mulheres que busquem seu prazer, e, na minha leitura do filme, Isabelle sabe disso. Prostituir-se para ela é exercer o poder de tudo que a natureza lhe deu ao ser fêmea; cobrar por isso seria uma busca de balancear um jogo de regras e valores. A ilusão é daquele que se acha dominador, mas em um contexto onde não há viés para abusos sociais, Isabelle é quem dita às regras, seu corpo tem um preço e um tempo delimitado para uso. Se existe um vazio pós-coito, todos são expressos pelos frustrados homens que passam por usas mãos: o casado infiel, o fetichista e o senhor, que no fim da vida, se apaixona pelo alvorecer da sua juventude. Cobrar é uma forma de a protagonista sentir e mostrar quem tem poder, apesar de a prostituição ser uma linha tênue para isso, porém o fato só coloca em perspectiva quem é que dita as regras.

O resultado, sutil, é aquela que só a ação além da inércia pode proporcionar àqueles que ousam além dos papeis sociais impostos. A primeira está no sepultamento da imagem materna: Isabelle é uma desconhecida para a mãe, no entanto, a jovem parece enxergar os pensamentos da progenitora, algo que causa espanto na mesma. Já para o namorado de Isabelle, ela é uma incógnita. No seu desespero de macho, não há meios de surpreender uma pessoa, na cama ou fora dela, que sabe tudo sobre como manipular os corpos e os sentidos. O embate final, entre Isabelle e uma das mulheres traídas, não aponta culpados, mas um vencedor.

No fim, François Ozon criou um filme sobre a descoberta da sexualidade e dos prazeres e dissabores da vida do que convencionamos chamar de jovem-adulto. Ao contrário dos diversos filmes juvenis com experiências transbordando drama e paixão, onde suas vidas são folhas soltas no rio do destino, em Jovem & Bela temos uma adolescente que decide ter a razão no comando. Cobaia de suas próprias experiências ela aprende, com o racionalismo de xadrezista, como funciona sua mente e, principalmente, a do outro. E isso tem um preço que não é moralista e sim, receoso. Ao ter seus atos descobertos, todos à sua volta ficam com medo, medo este que pode envolver o telespectador ao final, que procura respostas e não encontra… e não vai encontrar enquanto estiverem perguntando-se: por quê?

 

FICHA TÉCNICA

JOVEM & BELA

Título Original: Jeune & Jolie
Direção & Roteiro: François Ozon
Elenco: Marine Vacth, Géraldine Pailhas, Frédéric Pierrot, Fantin Ravat, Johan Leysen, Charlotte Rampling, Nathalie Richard
Produção: Eric & Nicolas Altmayer
Fotografia: Pascal Marti
Ano: 2013

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