A família Mitchell e a revolta das máquinas: o uso desenfreado de psicofármacos no trânsito

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O filme nos apresenta de uma maneira extremamente original a maneira como lidamos com o mundo que nos cerca quase que propriamente acelerado e avassalador. A medicalização no trânsito reflete parte desse processo, ao analisarmos os avanços científicos das indústrias farmacêuticas na estabilização emocional, desde aspectos de ansiedade, estresse e insegurança à aspectos relacionados à agressividade humana.

Os aspectos sociais no mundo moderno envolvem inclusive a utilização de psicofármacos na busca por estimularem positivamente suas condutas, desde o seio familiar ao âmbito social. O ser humano no mundo moderno está cada vez mais sujeito ao uso de psicofármacos, sendo que para muitos, estas tidos como problemáticos são acometidos por transtornos que são descritos a partir das suas atitudes ou rendimento pessoal e social.

Fonte: encurtador.com.br/swY89

O filme traz uma revolta de máquinas, mas assimila-se à revolta medicamentosa que vivemos atualmente. Xavier et al (2014) destaca que:

O uso racional de medicamentos permite aos pacientes receber a medicação adequada às suas necessidades clínicas, nas doses correspondentes aos seus requisitos individuais, durante período e tempo adequados, ao menor custo possível para eles e para a comunidade. Ainda menciona que a utilização regular dos psicofármacos representa um dos maiores desafios no tratamento das pessoas com transtornos mentais, as causas da rejeição à medicação variam de acordo com as singularidades dos indivíduos, mas, frequentemente, devem-se aos efeitos colaterais desagradáveis, que afetam vários aspectos da vida pessoal, ou a não aceitação do uso diário destes fármacos, por um período prolongado de tempo.

Rocha e Werlang (2013) ressaltam que a utilização de psicofármacos tem aumentado nas últimas décadas, e este crescimento pode ser atribuído à maior frequência de diagnósticos de transtornos psiquiátricos na população, à introdução de novos medicamentos no mercado farmacêutico e às novas indicações terapêuticas dos psicofármacos já existentes.

Fonte: encurtador.com.br/dyMW5

O crescente uso de psicofármacos no mundo moderno está ligado diretamente aos diversos diagnósticos de transtornos psiquiátricos criados na atualidade, objetivando compreender e explicar parte dos comportamentos tidos como inadequados pela sociedade. Ambos ainda citam que os psicofármacos, assim como todos os medicamentos, devem ser utilizados de uma forma racional, tendo em vista que podem produzir diversos efeitos adversos, causar dependência e o seu uso prolongado pode gerar diversos problemas à saúde da população.

Rosa e Winograd (2011, p.2) mencionam em seus achados que a medicalização do mal-estar é uma realidade efetiva, atual e crescente, que se expande, inclusive, para campos diversos do médico-científico. Ao oferecerem produtos que prometem alívio ou melhoramento de estilo ou condição de vida, diversos meios de comunicação, tais como a literatura e os programas de televisão, funcionam como verdadeiros manuais de autoajuda, atendendo a uma crescente demanda de cuidado para cada sofrimento ao qual podemos estar submetidos.

A medicalização no mundo moderno está inserida em um contexto amplamente capitalista onde a singularidade do indivíduo é deixada em segundo plano, relevando-se a necessidade de expandir ligeiramente a indústria farmacêutica, tornando o indivíduo um ser dependente da medicalização, consequentemente, de uma forma quase irônica, gerando uma receita financeira dentro do quadro de conduta e sanidade humana.

Referências:

Rocha, B.S; Werlang, M.C (2013). Psicofármacos na estratégia saúde da família: Perfil de utilização, acesso e estratégias para a promoção do uso racional. Porto Alegre- RS

Rosa, B.P.G.D; Winograd, M.(2011). Palavras e Pílulas: Sobre a medicalização do mal estar psíquico na atualidade. Rio de Janeiro-RJ.

Xavier, L.; Galera, S.A.F (2014). Adesão ao tratamento psicofarmacológico. Ribeirão Preto- Sp.

FICHA TÉCNICA:

A FAMÍLIA MITCHELL E A REVOLTA DAS MÁQUINAS

Título: The Mitchells vs. The Machines

Distribuidora Original Netflix

Ano produção: 2021

Dirigido por: Jeff Rowe – Michael Rianda

Gênero: Animação – Aventura

País de Origem: Estados Unidos da América

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Spin Out: a beleza de um esporte e o estigma de um transtorno mental

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Patinar é como respirar. Nem imagino não patinar. E, se eu paro, sinto que estou me afogando.
(Kat Baker)

Ser um atleta profissional exige muitos sacrifícios. Uma rotina diária de treinos intensos, motivação e espírito esportivo é só algumas das exigências para se alcançar a glória no esporte. Sem levar em conta cada perda ou sofrimento suportado pelo atleta, os telespectadores como os próprios atletas não exigem menos que a medalha de ouro, além do mais é preciso que o espetáculo valha cada tempo gasto assistindo a performance e a perfeição de cada movimento marcam esportes como a patinação artística no gelo.

Spinning Out é uma série que trata deste tema de modo espetacular, além de mostrar a luta árdua de jovens atletas para se consolidar na patinação no gelo, ela fala sobre a saúde mental do desportista. Se tratando de um esporte que exige grandes habilidades artísticas, beleza e perfeição em cada movimento é o que chama atenção nesse jogo e um transtorno mental pode ser considerado a “imperfeição” que o competidor não quer trazer à tona.

 A série conta a história de Kat Baker, uma patinadora artística de alto nível que pensa em abandonar a carreira, após um evento traumatizante. Kat passa a temer patinar como antes, evita efetuar manobras arriscadas como saltos triplos; além de ter tido sequelas físicas ela também passa a ter grande sofrimento mental, como episódios de automutilação e flash backs do acontecido.

Não conseguindo superar seus medos, Kat recebe uma nova oportunidade de fazer o que mais ama, na patinação. É então convidada para ser parceira de um talentoso patinador. Com o tempo a protagonista passa a ter mais confiança em si mesma e a entender seus problemas, porém isso faz com que seus segredos venham à tona e ela acaba expondo que possui o Transtorno Afetivo Bipolar.

O Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é um transtorno de humor, considerado crônico, caracterizado por episódios agudos e recorrentes de alteração patológica de humor, podendo persistir por semanas ou meses, fazendo assim com que os pacientes não possam prever seu próprio estado emocional, já que a pessoa pode passar de um estado depressivo de extrema apatia para um estado de mania com extrema exaltação, daí o transtorno ser denominado de bipolar (BIN, et al, 2014, p. 143).

Na série é visto claramente os episódios da patinadora, especialmente quando para de tomar a medicação. Contudo, Kat sofre não apenas pelo estigma de ter uma doença mental em um meio preconceituoso; sua relação com a mãe é péssima e um dos motivos disso acontecer é porque a mãe tem o mesmo transtorno e teve que abandonar sua carreira quando jovem. Isso pode ser explicado por razões genéticas, cujos fatores epigenéticos exprimem que as mulheres têm mais tendência a desenvolver o transtorno do que os homens, um dos elementos que comprovam essa teoria é o Imprinting.

Imprinting refere-se a um padrão de herança não-Mendeliana em que a transmissão do fenótipo depende da origem parental do alelo associado à doença (MICHELON, VALLADA, 2004). Observa-se que pacientes bipolares possuem com maior frequência mães afetadas do que pais afetados e mais ancestrais maternos afetados que ancestrais paternos (WINOKUR, REICH, 1970). A série explora a relação conturbada de mãe e filha, com os altos e baixos de ser viver com um transtorno mental.

Em paralelo com a trama da série é possível perceber que há muitos esportes, cuja exigência é mais do que as habilidades dos atletas, como perfeição dentro e fora do ambiente competitivo. Fazendo com que os indivíduos sofram tentando esconder suas dificuldades, a fim de mostrar apenas o que a sociedade considera agradável. Na série a personagem principal tenta esconder sua condição por medo de ser julgada incapaz de atuar dentro do esporte, fazendo com que não desfrute de modo pleno todo o seu potencial e não se sinta bem consigo mesma.

Para Mazzaia & Souza (2017), o bem-estar das pessoas que tem esse transtorno pode ser prejudicado devido às próprias características da doença, porque, nas fases de mania e hipomania, os sintomas de felicidade e confiança, estão disfarçados pela sensação de poder e capacidade que proporcionam. O que é perceptível quando a personagem decide parar o uso do remédio para patinar melhor e se deixa levar pelos sinais de seu problema mental.

Outro ponto abordado na série é a pressão da família, o abuso e a exposição do atleta para não perder e nem abandonar as competições. Isto é visto na melhor amiga de Kat, a patinadora Jenn Yu, cuja lesão no quadril lhe faz levar seu corpo e mente ao limite da dor, tentando muitas vezes anestesiar com fármacos, na tentativa de não se submeter ao fracasso diante de toda a família.

Além da intolerância em relação a saúde mental, a série mostrar outras formas que o esporte erra ao submeter o atleta ao estado de excelência. A treinadora da dupla e campeã olímpica Dasha Fedorova treinava em uma época que pessoas do mesmo sexo em hipótese alguma poderiam se relacionar. Tal afronta poderia leva-la a abusos ainda maiores e por medo teve que esconder seus sentimentos. Já Marcus, é um jovem rapaz negro que gosta do esqui no gelo, esporte predominantemente executado por brancos e dessa forma tem problemas por causa de sua cor. Por fim, temos Justin o parceiro de Kat, cujo desempenho é associado apenas ao grande investimento do pai em sua carreira, não acreditando em si mesmo, acaba deixando de apoiar Kat no seu momento mais difícil, estando sofrendo por não saber lidar com a dificuldade de sua companheira.

FICHA TÉCNICA:

SPIN OUT

Título original: Spinning Out
Direção: Elizabeth Allen Rosenbaum, Jon Amiel, Matt Hastings;
Elenco Kaya Scodelario, Evan Roderick, January Jones, Amanda Zhou;
País: EUA
Ano: 2020
Gênero: Drama.

REFERÊNCIAS: 

BIN, et al. (2014). Significados dos episódios maníacos para pacientes com transtorno bipolar em remissão: Um estudo qualitativoJornal Brasileiro de Psiquiatria, 63(2), 142-148. doi: 10.1590/0047-2085000000018.

MAZZAIA, M. C.; SOUZA, M. A. Adesão ao tratamento no Transtorno Afetivo Bipolar: percepção do usuário e do profissional de saúde. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, Porto, n. 17, p. 34-42, jun.  2017.

MICHELON, L.; VALLADA. H. Genética do transtorno bipolar. Rev. Bras. Psiquiatr. Vol.26 suppl.3 São Paulo Oct. 2004.

WINOKUR, G.; REICH, T. Two genetic factors in manic-depressive disease. Compr Psychiatry. 1970;11(2):93-9.

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Os mecanismos de ação das drogas no corpo

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Para entender a ação dos fármacos no organismo é necessário entender o funcionamento do sistema nervoso central

O texto de Gorenstein e Scavone, 1999, traça um paralelo com a disciplina de psicofarmacologia, no que diz respeito ao nosso cronograma de matérias. Inicialmente foi abordado a respeito do surgimento dos fármacos e o texto afirma que foi de forma empírica, uma vez que foram se descobrindo medicamentos com a observação dos efeitos de outras medicações em pessoas, ou o uso de outras substâncias naturais ou animais como saberes populares de determinada região ou povo. É relatado no texto também os tipos de medicação que estudamos e seus efeitos para transtornos psiquiátricos, que é uma das importâncias de se ter uma disciplina de fármacos no curso de psicologia. “Cinco grupos de drogas capazes de promover efeitos clínicos em transtornos psiquiátricos: antipsicóticos (clorpromazina, haloperidol), antidepressivos tricíclicos (imipramina), antidepressivos IMAO (iproniazida), ansiolíticos (meprobamato e clordiazepóxido) e antimania (lítio).” (GORENSTEIN E SCAVONE, 1999)

Outro ponto importante do texto é quando aborda os mecanismos de ação das drogas no corpo, algo que também é contemplado na disciplina, questões como, “introduzir novos agentes com maior seletividade e menor latência de ação, toxicidade e efeitos colaterais, além de utilizá-los como instrumentos na geração de hipóteses biológicas sobre a fisiopatologia dos transtornos mentais.” (GORENSTEIN E SCAVONE, 1999). Algo que também fora discutido em sala de aula foi o uso de animais como forma de observação do uso de fármacos, realizar uma avaliação in vivo gerando assim resultados que garantem segurança e eficácia no tratamento em humanos.

Figura 1 – Aula 1 de Psicofarmacologia – INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA

Ao se tratar de técnicas bioquímicas chegamos a farmacodinâmica e farmacocinética, onde entendemos a atuação do organismo no fármaco, em sua distribuição e processamento, bem como a atuação do fármaco no organismo, as suas reações e mecanismos de ação no corpo. “através dessas técnicas obteve-se a primeira evidência direta da existência do receptor da acetilcolina18 e a de que os antidepressivos tricíclicos ligam-se a sítios específicos” (GORENSTEIN E SCAVONE, 1999).

O texto também elenca áreas como Genética e a Neuroimagem como contribuições da psicofarmacologia, são técnicas usadas para o desenvolvimento de novas drogas, no que se difere da farmacologia tradicional, pois utiliza-se se novas áreas de ação dos medicamento no corpo, antes desconhecidas, como por exemplo a neuroimagem que dispõe de imagens do cérebro humano que mostra a reação do organismo a determinado medicamento.

Através dessas técnicas é possível quantificar a ligação de um traçador marcado com isótopo radioativo, expressa pelo Bmax ou pelo potencial de ligação (BP), ou como a razão de ligação específica para a não específica. A mensuração do deslocamento do traçador marcado, provocado por uma droga, reflete a cinética da droga em estudo. (GORENSTEIN E SCAVONE, 1999).

Fonte: encurtador.com.br/iDOY9

Conclui-se então que para entender a ação dos fármacos no organismo é necessário entender o funcionamento do sistema nervoso central, bem como os efeitos da medicação, seus sítios de ligação e as reações que são provocadas no organismo, bem como as psicopatologias. Outro ponto alto do texto é a expectativa de que estas novas tecnologias de estudo da psicofarmacologia ajudem a avanças cada vez mais na área e progredir nos tratamentos, para que as medicações sejam cada vez mais direcionadas e os efeitos adversos diminuídos. “Entretanto, o progresso da psicofarmacologia só estará efetivamente consolidado se o planejamento estritamente racional de novas drogas levar ao real desenvolvimento de compostos com alta capacidade de prevenir e tratar eficazmente os transtornos mentais.”

Referência

GORENSTEIN, Clarice; SCAVONE, Cristóforo. Avanços em psicofarmacologia – mecanismos de ação de psicofármacos hoje. Rev. Bras. Psiquiatr. São Paulo,  v. 21, n. 1, p. 64-73,  mar.  1999 .   Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44461999000100012&lng=pt&nrm=iso >. acessos em  31  mar.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S1516-44461999000100012.

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O uso de psicofármacos no campo da saúde mental

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Muito se tem debatido acerca do tema Medicalização e Uso de Psicofármacos, e após pesquisa foi possível encontrar diversos textos que abarcam o assunto e trazem críticas pertinentes ao campo da saúde mental. A banalização dos psicofármacos evidenciou-se na contemporaneidade, no qual a felicidade é vendida em embalagens plastificadas e coloridas, com rótulo vermelho ou preto, que são fortemente reforçadas pela sociedade capitalista que lhe impõem o modelo de normalidade, que busca transformá-los em indivíduos domesticados para consumir e aprisionar no padrão pré-estabelecido. Reduzimo-nos ao neurobiológico, deixamos de ser indivíduos biopsicossociais e tornamo-nos bipolares, depressivos, neuróticos, e outros. E, para transtornos/doenças, medicam-se remédios.

O problema reside na prescrição indiscriminada e precoce de medicamentos para soluções rápidas de patologias ou de sentimentos que por nós são vistos como “ruins” e esquecemo-nos de que faz parte do processo natural do homo sapiens, de sentir e viver.E quando o remédio torna-se ou produz o problema? Ora, sua principal função é solucionar os males que ameaçam nosso organismo a nível psico-biológico. Estamos marcados constantemente pela terrível ideiado adoecer, o que consequentemente ocasiona o uso abusivo de medicamentos.

Na geração em que vivemos, no qual os transtornos psíquicos são diagnosticados indiscriminadamente, tendemos a fazer uso dos psicofármacos de maneira abusiva, podendo assim, chamá-los literalmente de drogas.Conforme explicitado por Oliveira (2013) necessitamos “entender até que ponto a vida humana deixa de ser natural e passa a ser controlada por substâncias que prometem uma paz e um conforto que acaba em questão de horas, caso a medicação não seja novamente administrada”.

A promessa de findar nossos problemas através de medicamentos é tentadora e somos acometidos por uma insegurança ao fim de seu efeito, partindo da lógica que nossa saúde deriva-se do efeito daquele que fizemos uso.Por outro lado, podemos concordar com o inferido pela autora quando diz que “não se pretende a abolição dos medicamentos, uma vez que é de extrema importância o uso de remédios como fator benéfico e auxiliar na qualidade de vida do indivíduo” (OLIVEIRA, 2013).

Nota-se, ainda, que as propagandas e mídias que prometem fórmulas milagrosas para combater ansiedade, insônia, hábitos indesejáveis entre uma infinidade de problemas, são inúmeras. Um exemplo pode ser encontrado em uma matéria de capa da revista veja de 2004 que promete remédios para conter esses indesejáveis problemas.

As pessoas hoje já chegam a um consultório do médico ou do psicólogo com o nome do medicamento que elas querem e que acreditam ser a solução de seus problemas. Com as indústrias farmacêuticas cada vez mais crescentes e a influência cada vez maior dos recursos da mídia que alcançam mais pessoas a cada dia,criou-se uma geração que precisa de um medicamento para todo tipo de angústia, ou seja, uma geração incapaz de suportar sofrimentos.

Em decorrência do uso indiscriminado dos psicofármacos estão sendo criados trabalhos que buscam a conscientização tanto de profissionais da saúde quanto da população em geral. Como por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2006, o programa de saúde mental da SMS/ Rio de Janeiro que tem como objetivo o uso racional dos benzodiazepínicos.

Vale citar, também, o quanto é corriqueiro encontrar diversos pressupostos críticos, inclusive, relativo ao DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais), que se encontra na 5° edição. É interessante evidenciar que nesse manual estão listados os diversos transtornos psicológicos e suas sintomatologias, objetivando uniformizar a linguagem utilizada no que tange à classificação das perturbações mentais.

O DSM teve um papel importante ao tornar a linguagem referente à classificação dos transtornos mentais consensuais, a princípio  nos Estados Unidos e, por consequente, em outros países. No decorrer dos tempos ocorreram mudanças, pertinentes ao contexto histórico e transformações sociais, termos foram modificados ou retirados e diversas patologias pertinentes aos comportamentos foram acrescidas.

Os conflitos fundamentam-se no fato de comportamentos até então tido como “normais” tornarem-se patológicos e, por conseguinte, ser necessário o uso de psicofármacos. Nesse ínterim, questiona-se sobre o lobby da indústria farmacêutica que tem interesse nesse processo por ter um aumento na demanda do uso de medicações; há uma preocupação dos profissionais que trabalham com enfoque na Saúde Mental, em relação ao limite de enquadramento de comportamentos sendo anormal ou desviante, ocasionando assim, um aumento exacerbado no que é considerado transtorno. De acordo com (Martins, 1999) citado por (Burkle, 2009) qualquer sinal de dor é vista como ultrajante e, portanto, devendo ser aniquilado; qualquer diferença em relação a um ideal é vista como um desvio, um distanciamento maior, e insuportável, da perfeição colimada, devendo ser ‘corrigida’.

A título de exemplo do uso exacerbado de medicamentos, tem-se o pressuposto do sofrimento ocasionado pelo luto,um conflito pertinente à vida,ser diagnosticado como transtorno.A princípio o luto passa por diversos processos de elaboração de acordo com diversos estudiosos.Não há consenso com relação à sua duração, mas a partir dos comportamentos desencadeados é que se observa a necessidade ou não de uma atenção especializada, e o que preconiza o DSM V, é que a partir de três meses de sofrimento já se torne patológico. Segundo (Zisook; Shear, 2009), referenciado por (Manfrinato, 2011), o processo de reorganização do luto acontece de diferentes modos e intensidades a depender da pessoa e da cultura a qual ela pertence, não é apenas “aprender como” se separar da pessoa falecida; é também procurar maneiras novas de manter o laço que existia.

No que se referem aos benefícios do uso desses recursos bioquímicos, estes não isentam os efeitos colaterais, como dependências químicas, físicas bem como psicológicas. O que verifica é que os psicofármacos ora podem ajudar, ora atrapalhar as pessoas que necessitam fazer uso desse tipo de remédio. Logo, tudo dependerá de cada caso, tanto a necessidade do uso, bem como sua dosagem, ou seja, cada pessoa é um ser individual e traz consigo uma situação especifica.

Por fim, cabe ressaltar que há quem aprecie os efeitos dos psicofármacos e não leve tão em conta seus efeitos colaterais, o que seria importante, tendo em vista que o uso destes podem tanto ajudar como atrapalhar na recuperação de quem faz seu uso. É de grande valia levar em consideração se os diagnósticos foram feitos de maneira adequada e precisa, assim como se as prescrições dessas substâncias foram de maneira correta e ilesa. Devemos colocar na balança: o risco versus o benefício.

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