“Mindfulness e Psicoterapia”: autodescoberta, resiliência e equilíbrio psicológico

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A importância da atenção plena no processo terapêutico e no bem-estar psicológico dos indivíduos.

Como usar o mindfulness na clínica

Esse livro, aborda uma temática que está sendo bastante explorada nos dias de hoje, a atenção plena. É fácil perceber que a quantidade de informações hoje, estão tirando a atenção das pessoas sobre as coisas simples, e que essa distração traz inúmeras consequências desastrosas, como ansiedade, estresse entre outros, esse conjunto de autores trazem uma nova forma de enfrentar esses sintomas. Além disso, esse livro leva o leitor a uma nova visão com relação à clínica, pois ele tira um pouco do olhar para o cliente/paciente e volta o mesmo para o próprio terapeuta.

Ansiedade, depressão e estresse estão sendo bastante discutidos hoje, e muitas vezes as pessoas diagnosticadas, estão a procura de medicamentos a fim de sair dessas demandas. Mas… e se tivesse uma outra saída, uma solução menos invasiva? Uma das propostas deste livro se baseia nisso, em enfrentar a ansiedade e estresse com meditações e atenção momento a momento. “O mindfulness é uma habilidade que nos permite ser menos reativos ao que está acontecendo no momento”. (Pág.3)

Focar em sua respiração, no seu ambiente ao redor, e cada vez que seu pensamento insistir em tirar sua atenção, volte a concentrar se em sua respiração, é uma das técnicas do livro  que faz com que o leitor, se concentre no momento presente pois “ o sofrimento parece aumentar à medida que nos distanciamos do momento presente”. (Pág,4). Com isso é preciso segurar esses pensamentos para que eles não vagueiam levando toda a atenção daquele momento.

O livro entre muitas outras coisas relata que a nossa mente fica grande parte do tempo, ou no passado ou no futuro, e quase nada no presente, “ O que a mente está fazendo? A maior parte das vezes ela parece estar fazendo excursões no passado ou no futuro, tentando resolver problemas reais e imaginários”. (Pág.29).

Como já dito, o livro traz formas não muito convencionais de tratar o sofrimento,  e uma dessas formas é colocar na mente e desenvolver a perspectiva de que os pensamentos não são estáticos. Assim o mindfulness é um convite para nos permitirmos que os pensamentos, assim como os sentimentos, fluam. 

“Nenhum estado mental, por mais agradável que seja, pode ser mantido indefinidamente, nem experiências desagradáveis podem ser evitadas. Entretanto,  somos tão condicionados a evitar o desconforto e buscar o prazer que nossas vidas são coloridas por uma sensação de insatisfação, de alguma coisa faltando “(GERMER, p. 21, 2016).

O trecho anterior também desafia a narrativa prevalente de que a felicidade constante é a norma e que o sucesso elimina o sofrimento, ampliando assim a pressão sobre o sofrimento e cultivando um sentimento de culpa naqueles que não conseguem manter uma felicidade ininterrupta.

Uma das ideias discutidas é que “muitos dos nossos sofrimentos decorrem de distorções cognitivas” e que “manter crenças distorcidas centrais contribui para o sofrimento”. Nesse contexto, o terapeuta pode auxiliar o cliente a questionar tais pensamentos, avaliando sua validade. Esse processo revela que “aquilo que antes era considerado ‘realidade’ é, na verdade, uma construção mental, e nossa identificação com essa construção é o que gera o sofrimento

Uma outra proposta do autor é olhar para o psicológico, visando melhorar a sua experiência diante do cliente/paciente, porém essa experiência só poderá melhorar quando o psicólogo olhar para si mesmo,  como diz o próprio livro:

“(…) ‘cuidar dos outros requer cuidar de si’(…) Essa informação faz sentido na medida em que não podemos acolher completamente outro indivíduo imperfeito, quando rejeitamos a nós mesmos por imperfeições semelhantes.”

O livro leva a uma visão de alto compaixão, pois isso leva a melhor compreensão de si mesmo e por consequência a compreensão do outro, abrindo as portas para que, o que o paciente trazer seja recebido de braços abertos, mesmo que aquele assunto possa parecer fora dos padrões, ou não muito aceitáveis pela sociedade, pois o cliente está ali apenas a procura de uma escuta sem julgamentos.

A autocompaixão foca na bondade para si mesmo, poder admitir a sua humanidade e que o psicólogo irá inevitavelmente cometer erros e irá ter sofrimentos também, igual a todas as pessoas, “reconhecer a inevitabilidade do sofrimento pode nos conduzir pelo caminho da libertação emocional.”(Pág.110). 

O livro se mostra bem completo pois ao mesmo tempo em que ele traz essa visão para o psicólogo, ele também leva a pensar na relação terapêutica entre psicólogo e cliente, que se faz muito importante  no processo de melhora do paciente. 

O autor dá ênfase a atenção que é preciso ter durante uma sessão visando que aquele paciente está ali pois está um busca de alguém que possa ouvir suas dores, sem julgamentos, “A atenção genuína dos outros é tão surpreendente rara que até vale a pena pagar por ela na psicoterapia” (Pág. 65).

Juntamente a essa escuta qualificada vem também a compaixão pelo outro “A compaixão pelos outros, surge do insight de que ninguém está isento de sofrer e que todo mundo deseja ser livre de sofrimento”(Pág.69). Esse olhar para a compaixão, faz com que fique mais fácil estabelecer uma boa relação terapêutica, e essa é uma das principais bases para um bom atendimento para com o cliente.

Bem o livro como já dito é bem completo, ele traz várias visões sobre a psicologia e a prática do psicólogo, trazendo também técnicas de meditação, e de atuação clínica, é preciso ter paciência pois ele tem mais de 300 páginas, mas é um conteúdo bastante relevante tanto para um acadêmico quanto para psicólogos já atuantes.

Referência:

GERMER, Christopher K.; SIEGEL, Ronald D.; FULTON, Paul R. Mindfulness e Psicoterapia. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.

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Carlos Rosa: Não existe psicóloga(o) perfeita(o), até porque é da natureza da psicologia clínica confrontar as demandas infantis da(o) paciente

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(En)Cena entrevista o Psicólogo e psicanalista Carlos Mendes Rosa, Professor Adjunto do Curso de Psicologia da UFT, professor do Programa de Pós-Graduação em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Miracema e Coordenador do FaLA – Percurso de Freud a Lacan. Carlos também transita pela Psicologia Social e se interessa muito por Saúde Mental. Instagram: @carlosrosapsi

Fonte: acervo pessoal do entrevistado.

(En) Cena – O que realmente pode-se entender como um planejamento de carreira?

Carlos Rosa: Do ponto de vista da psicanálise, planejamento de carreira é você estar alinhada(o) com os seus próprios desejos. Muitas pessoas compram metas profissionais pré-formatadas pela sociedade e acreditam que essa ou aquela carreira vai lhes satisfazer porque são “bem vistas” ou “rentáveis” e no final acabam infelizes porque não era aquilo que elas “realmente queriam fazer”.

(En) Cena – Como elaborar um planejamento de carreira do psicólogo?

Carlos Rosa: A primeira coisa a se fazer é procurar uma boa terapia ou análise. Ninguém vai ser psicóloga(o) sem passar por um bom processo terapêutico. A segunda coisa é saber que a universidade é um lugar de percursos variados e que estão sob sua responsabilidade. Ou seja, cabe a cada um aproveitar mais ou menos as oportunidades formativas da academia. E se formar de maneira correta, concreta, crítica e ética são quesitos fundamentais para uma carreira plena em qualquer área da psicologia.

(En) Cena – Quais são os principais desafios a serem superados por um psicólogo?

Carlos Rosa: Manter-se firme em seus propósitos técnicos e ético-políticos diante da panaceia de teorias, técnicas e métodos ditos “fáceis e rápidos”, estar em constante aprendizado e diálogo com a realidade que se atualiza e se transforma a cada dia, conseguir manter a capacidade de se espantar com as violências e formas de sofrimento não naturalizando tais condições, sustentar uma posição de profunda empatia e acolhimento diante de todas(os), principalmente, em uma sociedade marcada pela indiferença como fenômeno individual e pela solidariedade negativa como marca coletiva. Há muitos desafios a serem enfrentados! Acrescentaria ainda, a tarefa sempre difícil de lidar com nosso próprio narcisismo (tanto na profissão quanto na vida pessoal). Digo isso porque, ao nos tornarmos psicólogas(os), podemos cair na tentação de nos acharmos em uma condição diferente das outras pessoas, especialmente, quando pacientes nos procuram e, ao longo do tratamento, desenvolvem sentimentos de respeito, gratidão e estima por nós. Isso pode causar um certo fascínio deletério para nós mesmos e para os outros.

(En) Cena – Como alcançar uma boa saúde financeira?

Carlos Rosa: Gastando menos do que se ganha? (risos) Analisar aspectos da rentabilidade pessoal é complexo por estarmos submetidos a um sistema exploratório neoliberalista que precariza a maior parte das funções e ocupações. Além disso, pessoas diferentes (diferenças de sexo, raça, etnia, classe) terão dificuldades diferentes para atingir patamares idênticos de renda e estabilidade. Não existe uma regra geral. Mas, se puder dizer alguma coisa sobre esse ponto seria, na maioria das vezes, aquela pessoa que gosta do seu trabalho e se sente realizada com o que faz tende a trabalhar melhor e de maneira mais competente e consistente. E essas características costumam ser apreciadas pelo mercado. O que pode levar essa pessoa a ser mais valorizada e ter mais condições de atingir o que está sendo chamado aqui de “saúde financeira”.

(En) Cena – Como você superou ou não teve problemas em lidar com o público?

Carlos Rosa: Lidar com o público é sempre uma experiência difícil. Primeiro, pela variedade de pessoas e demandas. Segundo, como diria Sartre tendemos a achar que “o inferno são os outros”. Ou seja, o outro é sempre um anteparo das nossas piores (e até melhores) projeções inconscientes. Acredito que, nesse ponto, também vale a recomendação da análise pessoal (terapia), pois uma pessoa bem resolvida consigo mesma é mais feliz, mais fácil de tratar e lidar com as outras e, via de regra, mais segura em suas posições. O que certamente ajuda bastante na hora de estar diante do público; seja numa consulta clínica, numa instituição (escola, empresa) ou outras áreas onde a psicologia é chamada a atuar.

(En) Cena – Quando procurar ajuda psicológica?

Carlos Rosa: Quando se está sofrendo. Uma paciente minha dizia que “análise não é uma coisa que a gente precisa, é uma coisa que a gente merece”. Eu concordo que todas(os) deveriam e merecem passar por um processo terapêutico, mas isso não é possível. Especialmente, porque o processo terapêutico é difícil, doloroso e requer desejo por parte da(o) paciente. Então, a hora mais adequada para se começar uma terapia é quando se está em sofrimento e se tem a noção (maior ou menor) de que aquilo precisa mudar. No caso de candidatas(os) a profissionais de psicologia seria ótimo que essa hora ocorresse antes da primeira atuação. De preferência, um tempo curto depois de iniciar o curso de graduação.

(En) Cena – Você pode dizer quando é que a pessoa sabe se encontrou o psicólogo perfeito para ela?

Carlos Rosa: Acho que um bom processo terapêutico é medido por seus resultados na vida da(o) paciente. Em geral, esses resultados podem nem ser exatamente aqueles esperados pelo(a) paciente. Não existe psicólogo perfeito. Até porque é da natureza da psicologia clínica confrontar as demandas infantis da(o) paciente. E isso vai gerar dissabores e tensões. Lacan dizia que o analista deve fazer o papel da tapada (mulher que não entende) para ser bom clínico. Explico, que ele se refere à mulher pois, para a psicanálise, a posição clínica é sempre feminina (no sentido de esperar a demanda de terapia de outrem) e segundo, ser “tapada” significa não entender completamente o que se está dizendo na sessão, ter dúvidas, dar espaços para a incerteza. Nesse sentido, ao procurar uma terapia, não se deve esperar encontrar a psicóloga(o) perfeita(o), mas alguém que possa acolher nossos sofrimentos e tratar deles de modo a que consigamos nos transformar. É sempre um luxo encontrar alguém que te acolha e te aponte caminhos.

(En) Cena – Nessa nova ordem dos coach é comum as pessoas dizerem que os coachs são mais precisos, suas respostas ao problema são mais rápidas, assim sendo, qual a diferença entre o coach e o psicólogo?

Carlos Rosa: A palavra “Coach” vem do inglês e costuma ser traduzida por técnico ou treinador. E seu escopo e abrangência está (ou pelo menos deveria estar) atrelado a essa função; qual seja treinar pessoas em determinadas habilidades de forma a melhorar e potencializar resultados dessas mesmas pessoas nas mais diversas áreas de suas vidas de relação. Nesse sentido, há bons profissionais que se oferecem como coachs nas áreas de finanças, trabalho, relacionamentos etc.

Trata-se de um grave erro confundir esse tipo de serviço ou profissional com o fazer de um psicólogo. Pois a psicologia, em sua origem, se propõe a acolher e tratar modalidades de sofrimento em estreita ligação com o seu compromisso social com a sociedade como um todo em sua diversidade e desigualdade. Só a mera comparação entre as ocupações já me parece absurda, haja visto que um coach não tem formação e muito menos competência para tratar pessoas, mitigar sofrimentos e propor estratégias terapêuticas para o enfrentamento de transtornos ou outras formas patológicas.

Um adendo importante aqui se faz necessário acerca da suposta rapidez de certos tratamentos, sejam eles comportamentais ou farmacológicos. Nossa sociedade elegeu a pressa como valor fundamental. Com isso, perdemos o direito ao tempo para a elaboração e vivência de certos processos. Dito de outra maneira, não respeitamos mais o nosso próprio tempo e muito menos os outros. Imagina que você levou anos para construir uma forma de sofrimento como uma crise de ansiedade. Será possível que uma intervenção “rápida” terá efeitos terapêuticos e duradouros sobre esse sintoma?

(En) Cena – Não muito raro, as pessoas confundem depressão como uma tristeza profunda,  qual a diferença entre depressão e tristeza ?

Carlos Rosa: Essa confusão tem origem num fenômeno atual que conhecemos como “patologização da vida cotidiana”. Que nada mais é do que a utilização de termos oriundos dos manuais de psiquiatria para definir comportamentos e estados que são apenas variações da norma. Desse modo, quase tudo que se apresenta como sintoma vira diagnóstico e acaba sendo medicalizado. É papel da psicologia também lutar contra essa cultura tão equivocada e nociva à saúde mental das pessoas.

Tristeza é um estado de espírito, um afeto, ou até mesmo uma paixão, se pensarmos como o filósofo Espinoza. A tristeza faz parte da vida de todas(os) e não pode (nem deve) ser eliminada ou desprezada. Acho que duas boas reflexões sobre a importância da tristeza podem ser encontradas no livro de Ruben Alves “Ostra feliz não faz pérola” e no filme “Divertidamente”. Depressão é um transtorno mental classificado nos manuais diagnósticos. Define um conjunto de sinais e sintomas clínicos que incluem a tristeza em grau profundo, mas também outras características como anedonia (incapacidade de experimentar prazer), apatia diante da vida, descuido com o próprio estado físico, pouca disponibilidade de investimento de afetos etc. Pessoas em depressão devem procurar ajuda profissional. Trata-se de uma condição clínica e não deve ser trivializada nem romantizada.

(En) Cena – Tu acreditas que seja a Psicologia a profissão do futuro? 

Carlos Rosa: É lugar comum dizer que a psicologia no século XX ajudou a construir a sociedade em que vivemos. Isso porque há mais de cem anos as pessoas passaram a se perceber e enxergar o mundo ao redor através de conceitos e palavras do arcabouço psicológico (afeto, consciência, motivação, neurose…). Por essa razão, acredito que a psicologia esteja presente de forma significativa desde o passado recente, passando pelo presente e ensaiando um futuro ainda mais efetivo em termos de importância e abrangência social. Pesquisas mostram que a psicologia se tornou um dos três cursos mais procurados e concorridos na imensa maioria das universidades do país. Junte a isso o aumento significativo dos índices de sofrimento psíquico (não gostamos do termo doença mental) na população geral… Acho que a nossa profissão terá muito campo de trabalho, muita demanda é de altíssima relevância social. O que só aumenta a nossa responsabilidade enquanto profissionais.

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A escuta na clínica psicanalítica

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Freud observou que talvez exista um tipo de fala que seja precisamente valiosa, porque até o momento foi simplesmente proibida – isso significa, dita nas entrelinhas

Lacan (1974-1975, 8 de abril, 1975)

A escuta é parte primordial da clínica psicanalítica, porém é necessário compreender que trata-se de uma escuta que vai além do simples ouvir palavras proferidas pelos pacientes que procuram a análise. Sempre que pensamos em um campo analítico, nos vem a imagem de um bom ouvinte nos esperando para que possamos através da fala, elaborar questões que nos incomodam, ou que mesmo nem sabemos que nos incomodam, um mundo psicoterapêutico de descobertas.

Fink (2017), coloca que surpreendentemente ainda são encontrados poucos bons ouvintes na clínica psicanalítica, isso se deve principalmente à nossa tendência em ouvir tudo que se relaciona com nós mesmos. Geralmente quando nos é contada uma história, imediatamente nos reportamos a algo similar que vivemos ou que acessamos, por meio das nossas vivências, onde passamos a relacionar com a experiência de que está falando e dizemos coisas como “sei o que você quer dizer” ou “sinto sua dor”.

Dessa maneira a escuta habitual é altamente narcisista e egocêntrica, já que demonstramos uma forte inclinação em relacionar o conteúdo trazido pelo outro, com nós mesmos. Lacan (1901-1981), coloca que essa situação acessa a dimensão imaginária do analista, ou seja, quando o ouvinte se compara ou mensura o discurso do outro, no tipo de imagem que se reflete por meio desse discurso, nesse caso o analista fica preso a sua autoimagem e ouve apenas o que reflete nela.

Escutar dessa forma não permite ao analista que ele consiga ouvir o que o paciente transmite na sua fala, por meio dos atos falhos, algo que inicialmente não faz sentido, pois não reflete algo sobre ele mesmo, e portanto, ao ignorar não se aprofunda em algo que se manifesta de forma representativa e pode ser simbolizado na análise. O trabalho do analista no modo imaginário reduz ou mesmo anula a compreensão do conteúdo trazido pelo paciente (FINK, 2017).

O que portanto, o analista deve escutar? Freud (1912) recomenda que na primeira vez que vai se abordar um caso, o analista não se preocupe em presumir nada, mantendo então, sua atenção flutuante, pois somente assim será capaz de ouvir as associações livres do paciente, aquilo que se apresenta de novo, diferente do que é simplesmente dito, sendo algo considerado contrário ao que queremos ou esperamos ouvir.

Fonte: Pixabay

A escuta na clínica psicanalítica se inicia quando o analista não se preocupa em compreender rapidamente o que mostra o discurso do paciente, por que a aliança não vai se dá nessa tentativa, que pode ser falha, mas sim quando ouve o que não está sendo dito em palavras, aquilo que não foi entendido, mas que por meio delas se expressa. Segundo Lacan (1993) o discurso inter-humano é a demonstração do mal entendido e para tanto, deve se levar em conta para relação, o interesse apresentado pelo analista em escutar com atenção seu paciente, deixando que ele fale longamente, interrompendo apenas para trazer para a análise a lacuna entre o que foi transmitido e o que não foi, em palavras (FINK, 2017).

Freud ao introduzir a ideia da associação livre coloca que tudo que é apontado no discurso do paciente se torna igualmente importante e a escuta é da ordem do inconsciente, por isso trata-se de uma escuta criativa, na qual está implícita um tipo de atividade silenciosa de interpretação do que se expressa por meio de várias linguagens, sendo a atenção flutuante uma forma de associação livre do analista, tendo como ponto de partida as associações do seu paciente e não o que traz no seu inconsciente (ROUSSILLON, 2012).

Figueiredo (2014) ressalta que o psiquismo inconsciente encontra formas de expressar o sofrimento, que vão além das palavras e diz que ele trabalha como um poeta a procura de imagens, analogias, metáforas, que possam expressar a realidade de um conteúdo, que foi experimentado pelo sujeito, antes mesmo que houvesse a aquisição da linguagem, por isso a escuta analítica deve privilegiar a realidade psíquica e suas diversas formas de expressão.

A história contada pelo paciente se apresenta repleta de fragmentação, lacunas e buracos, que inicialmente pode não fazer sentido, pois ainda que exista a tentativa de expressar as vozes internas, o sofrimento se apresentará por meio de sintomas, inibições, angústias e atuações. O analista confia que o sujeito se engendra na análise por que deseja simbolizar e sua escuta deve se ocupar dos estratos psíquicos silenciados por condições traumáticas que o constituíram, bem como com o significante que faz surgir o sujeito da significação, para que o material apresentado inicialmente sem sentido, passe a ter pouco sentido, até se chegar a um sentido diferente (FINK, 2017). 

Escutar a mensagem invertida transmitida na análise, por meio da articulação dos significantes trazidos pelo paciente faz surgir o analista, sua ética, sua disposição peculiar, que orienta sua prática, abrindo espaço para a manifestação do inconsciente vivo, que produz efeitos no cotidiano do sujeito e se apresenta enquanto experiência emocional inscrita no psiquismo, mas que pode produzir em análise um valor simbólico.

Referências:

FIGUEIREDO, L.C. Escutas em análise: escutas poéticas. Revista Brasileira de Psicanálise, São Paulo, v. 48, n.1, p. 123-137, 2014.

Fink, B. Fundamentos da técnica psicanalítica: uma abordagem lacaniana para praticantes; tradução de Carolina Luchetta, Beatriz Aratangy Berger. São Paulo: Blucher, Karnac, 2017

LACAN, J. Escritos. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1996.

MINERBO, Marion. Diálogos sobre a clínica psicanalítica. São Paulo: Blucher, 2016.

ROUSSILLON, R. As condições da exploração psicanalítica das problemáticas narcísico-identitárias. ALTER- Revista de Estudos Psicanalíticos, Brasília-DF, v. 30, n.1, p. 7-32, 2012.

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Estudantes participam de Roda de Conversa sobre psicologia, política e arte

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Roda de conversa se prolongou com uma roda de Samba, proporcionando um momento de lazer, cultura e divertimento, de forma livre, gratuita e interativa para os que desejaram participar desse momento único.

No último dia 24/08 aconteceu, na praça dos Povos Indígenas de Palmas- TO, um encontro proporcionado pela clínica de psicologia Allegórica, a partir de uma roda de conversa com o tema: psicologia, política e arte. O evento contou com a presença de estudantes de Psicologia, além de palmenses e tocantinenses de diferentes cidades interessados no tema. 

Arquivo Pessoal

O momento propunha sentimento de livre acesso, cuja principal objetivo era tornar a ação descontraída, permeada pela espontaneidade dos participantes, que trouxeram a partir da fala diversos conteúdos, que apesar de não estarem em uma lógica acadêmica, vislumbrava assuntos de muita relevância e potência. 

Arquivo Pessoal

A partir dos questionamentos trazidos pela psicóloga Larissa, organizadora e proprietária da clínica Allegórica, indagações como “Pelo o que você luta?” fizeram com que realidades e argumentos viessem a emergir da roda de conversa. 

Demandas como insatisfação, tristeza e dificuldade foram trazidas, assim como conclusões advindas da reflexão de suas próprias realidades, trazendo a ideia de que os ambientes, condições, e as oportunidades, fazem ser possível ver a vida de novos ângulos. Saindo de condições que anteriormente era um “fardo”, ou vista como imutável. Os presentes trouxeram, a partir de relatos, que sair de suas “cavernas”, fez de suas limitações, possibilidades. Assumiram que talvez viessem a ser pessoas diferentes, se escolhessem viver na sombra de imposições, costumes, e crenças anteriores.

A luta por direitos, e a resistência para que não se perca os já conquistados, foram um dos assuntos marcantes da roda de conversa. A insatisfação vivida pelas pessoas da comunidade LGBTQ+ no atual cenário político foi posta à prova, com a fala de uma das participantes: “Nos mate com uma  arma, mas não mate nossa alegria”. A mesma vê que a criação de espaços como esses, propostos pela Allegórica, são de suma importância, para mobilizar e para manter viva a voz das pessoas que lutam há séculos para sair da situação de subalternos perante a sociedade, mantendo uma rede de proteção, de fala, liberdade de expressão, vivência, e pertencimento. 

Como previsto, a roda de conversa se prolongou com uma roda de Samba, proporcionando um momento de lazer, cultura e divertimento, de forma livre, gratuita e interativa para os que desejaram participar desse momento único.

Arquivo Pessoal

 

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Calouros de Psicologia do Ceulp/Ulbra se preparam para conhecer as áreas de atuação do Psicólogo

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Disciplina tem como objetivo apresentar aos acadêmicos as principais áreas de atuação para o profissional de Psicologia

No último sábado, 03, a turma de Estágio Básico I deu início às suas atividades. Este semestre a disciplina está sob a direção das professoras do curso de Psicologia Me. Muriel Correa Neves Rodrigues, Me. Raphaella Pizani e Me. Ana Letícia Covre Odorizze.

A disciplina, que faz parte das matérias de primeiro período, tem como objetivo apresentar aos acadêmicos as principais áreas de atuação para o profissional de Psicologia, o que possibilita a ampliação do olhar do acadêmico para as inúmeras possibilidades de atuação profissional.

No decorrer do semestre os alunos entrarão em contato com muitos campos de atuação, sendo estes: Serviço Escola de Psicologia (SEPSI), Conselho Regional de Psicologia (CRP), Psicologia da saúde e hospitalar (HGP), Psicologia na assistência social (Cras e Creas), Psicologia jurídica, Psicologia do trânsito, Psicologia organizacional, Psicologia do esporte, Psicologia nas comunidades tradicionais (indígena), Avaliação neuropsicológica e Psicologia na Educação.

Fonte: Arquivo Pessoal

A professora Muriel frisa que “possibilitar aos alunos o maior número de experiências possíveis colabora para que eles ampliem suas visões em relação aos espaços nos quais desejarão atuar quando profissionais no futuro.” Contudo, a disciplina de Estágio Básico I carrega a identidade generalista que o curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra vem construindo há mais de 19 anos.

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Habilidades sociais na infância: relato de experiência clínica

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É de extrema importância as habilidades sociais na vida das crianças, uma vez que elas vão precisar do treino para assertividade, sabe estabelecer bons relacionamentos e ter bom desenvolvimento dentro da sociedade, com os bons costumes que são esperados deles no relacionamento com os pais, familiares, professores e colegas, com quem convivem diariamente.

Foram feitos 9 encontros com o grupo. Estes encontros eram semanais, aos sábados pela manhã, com duração de uma hora e meia cada encontro. O grupo era composto por duas crianças entre nove e onze anos de idade e duas estagiárias de psicologia. Durante todo o grupo pudemos acompanhar o desenvolvimento de dois pacientes, ambos sempre participativos, mesmo diante das dificuldades encontradas para realizar as atividades, porém sempre se mostraram dispostos e interessados no processo. Enquanto acadêmicas foi muito importante essa experiência, visto que para a carreira profissional lidar com demandas que visam este crescimento pessoal e social dos indivíduos, também exige de nós novas habilidades de enfrentamento, criatividade dentro dos processos e interesse em aprender junto com eles.

O formato em que a disciplina foi ministrada foi muito eficiente visto que se teve oportunidade de aprender dentro do seu processo, que você estava conduzindo com seus clientes, bem como aprender na troca de ideias com os demais grupos no momento da supervisão com a professora. Foi possível discutir questões que poderiam aparecer durante os encontros, que ainda não haviam aparecido, bem como se preparar para situações que pudessem ocorrer.

Fonte: encurtador.com.br/klqC6

No 1º encontro fizemos uma coleta de dados e queixas, bem como a apresentação da proposta grupal para os pais. Foi proposto pela supervisora de estágio, Prof.ª Ana Beatriz, que marcássemos um horário com os responsáveis, apresentando a proposta grupal, coletando os dados e verificando se a queixa inicial permanece a mesma ou se fora alterada. Também se faz necessária a assinatura do termo de ciência referente as faltas que é de prática do serviço escola.

No 2º encontro trabalhamos o tema autocontrole e expressividade emocional. A proposta do encontro é trabalhar as emoções, sabendo reconhecer as suas e identificar a dos outros, bem como aprender a expressar as suas emoções, falar sobre elas. O objetivo era que eles soubessem identificar seus sentimentos, saber lidar com eles, controlar seu próprio humor e tolerar frustrações. Trabalhar com eles a caixinha dos sentimentos com a história da mitologia grega da “caixa de pandora”, também pedimos para eles colorirem o sentimento com a dinâmica “os sentimentos têm cores” e depois tentar identificar os sentimentos das respectivas figuras na dinâmica “eu tenho sentimentos”. Ambas as dinâmicas foram propostas por Prette (2013).

No 3º encontro falamos sobre habilidades de civilidade, entendida como expressão comportamental aceitas ou valorizadas em uma determinada subcultura, com objetivo de trabalhar as boas maneiras, compreender a necessidade de conviver com as pessoas, demonstrar criatividade, seguir regras, falar de si e ouvir o próximo. Já no 4º encontro foi tratado sobre a empatia como ferramenta contra o comportamento violento, vem de encontro com o tema da primeira sessão, porém a proposta é que agora criem-se repertórios de se colocar no lugar do outro, compreendendo e sentindo o que o outro sente. É esperado que ao final da sessão as crianças tenham trabalhado habilidades que permitam: observar, prestar atenção e ouvir o outro, demonstrar interesse e preocupação pelo outro, reconhecer sentimentos, compreender situações, demonstrar respeito às diferenças, expressar compreensão pelo sentimento e experiência do outro, oferecer ajuda e compartilhar.

Fonte: encurtador.com.br/mnU46

No 5º encontro a temática foi assertividade, pois trabalha a noção de igualdade de direitos e deveres, com objetivo de refletir a importância da sinceridade, elogiar, incentivar, compreender o significado das palavras (sim e não). No 6º encontro discutimos sobre soluções de problemas interpessoais com intuito de trabalhar habilidades sociais como de autocontrole, expressividade emocional, empatia, assertividade, relatando a importância de acalmar se diante de uma situação problema, pensar antes de tomar decisões, avaliar possíveis alternativas de soluções de problemas.

No 7º encontro os intrudimos sobre fazer amizades ao trabalhar habilidades específicas para realização de como se fazer amizades, relatar a importância da convivência com os outros, as funções das amizades, a importância de refletir sobre o sentimento gostar. No 8º e penúltimo encontro trabalhamos habilidades sociais acadêmicas. Este encontro tem como proposta trabalhar as principais classes de habilidades acadêmicas como seguir regras, prestar atenção, imitar comportamento socialmente competentes, autocontrole, orientação para a tarefa, elaborar e responder perguntas, oferecer e solicitar ajuda, busca por aprovação de desempenho, reconhecer e elogiar desempenho dos outros, cooperação, atendimento de pedidos e participação das discussões em classe.

No 9º e último encontro demos as devolutivas. Este foi o dia em que se finaliza os encontros, o encerramento será realizado com a reunião de todos os participantes, os estagiários relataram a devolutiva com os pais, realizam encaminhamentos de atendimentos se caso necessário, ou realizam o desligamento do mesmo. Com delicioso café da manhã, as crianças recebem medalhas, que serão representadas pelo seu ótimo desenvolvimento no grupo, superando suas dificuldades e aprendendo suas novas habilidades sociais.

Fonte: encurtador.com.br/bnqvL

Desenvolver as habilidades sociais na infância é poder construir relações mais efetivas, fazendo uma melhor interação com os demais. De acordo com Prette (2013) vivemos numa sociedade que se modifica rapidamente e assim devemos responder com novas práticas de habilidades e novos aprendizados, para poder lidar melhor com essa realidade, sendo mais positivo desenvolver na infância.

De acordo com Freitas (2006, p.251) “além de que outros estudos indicam que o desenvolvimento de habilidades sociais na infância pode se constituir em um fator de proteção contra a ocorrência de dificuldades de aprendizagem e comportamentos antissociais”. Contudo o fator de proteção para suas dificuldades tanto de comportamentos como aprendizado, desenvolve qualidade de vida para o sujeito desde infância.

Prette (2013) também relata em seu texto que não temos dados suficientes sobre o número de casos com as crianças brasileiras, porém elas estão relativamente presentes nos relatos das queixas dos pais em serviços públicos de atendimento. Portanto é justo ressaltar a preocupação de vários profissionais perante essa incidência, tanto psicólogos, educadores, psiquiatras, e outros profissionais.

A utilização do grupo tem como estratégia a metodologia de pesquisa sempre fazendo parte de uma investigação ativa, podendo ter diversos objetivos, como o estudo do processo grupal, das transformações ocorridas nos vínculos do grupo ou na construção do conhecimento do grupo sobre determinado tema. Há autores como Moliterno et al. (2012) que consideram que a atuação do psicólogo em grupos terapêuticos é de fundamental importância, visto que essa possibilita a elaboração psicossocial de seus participantes, fortalece sua autoestima, cria vínculos afetivos, diminui a resistência das relações interpessoais, possibilitando ainda a expressividade dos mesmos.

Fonte: encurtador.com.br/ktBIJ

De acordo com o convívio do grupo e as interações dos membros, acreditamos fielmente que o vínculo estabelecido será de um valor essencial para todos integrantes. Pichon nos deixa claro que o vínculo na relação dialética alimentam mutuamente tanto o sujeito como o objeto conhecendo que a medida que se ensina se aprende, não nos deixando dúvidas do ganho imensurável para ambas as partes envolvidas nesse processo grupal.

Para as configurações do setting se destacam o grupo homogêneo, que segundo Zimmerman & Osório (1997) grupos homogêneos são grupos que têm a mesma categoria, seja ela de idade, sexo, grau cultural, categoria de patologia, entre outros aspectos. Grupo fechado, pois o grupo fechado, após composto não entra mais ninguém. (ZIMMERMAN & OSÓRIO, 1997).

Acreditamos que o crescimento grupal é progressivo e acumulativo, ter pessoas entrando e saindo do processo dificulta que ele tenha um prosseguimento e que siga o planejamento, tendo em vista que todos tenham as mesmas experiências no processo e andem nivelados no decorrer das atividades, também devido à importância de estabelecimento do vínculo que Pichón Riviere define como “uma estrutura complexa que inclui um sujeito, um objeto, e sua mútua inter relação com processos de comunicação e aprendizagem” (BAREMBLITT, 1986)

O término do grupo é fechado, o grupo começa e termina junto. “Ao resolver as ansiedade básicas, ao alcançar a aprendizagem de comunicação e decisão etc, diz-se que atingiu a “cura” ou seja, tarefa concluída.” (BAREMBLITT, 1986).

Fonte: encurtador.com.br/qtuAO

A ênfase que os pais atribuem a esse processo tem papel fundamental, o pai que antes era o herói nesse momento passa a ser visualizado de forma diferente, deixando de ser idealizado como uma figura sanadora de angústias e problemas. De acordo com (BEE, 1997) os pais são responsáveis pela imagem que o filho constitui sobre si próprios, os padrões que os pais possuem de autoimagem são fortes influenciadores, assim como também as cobranças das atividades realizadas pelo indivíduo, se recebem ênfase ou não ao responderem com bons resultados.

Todos esses aspectos formam a percepção de autoimagem. O sentimento de estima, de admiração dos genitores constitui o processo de autoimagem positiva, construindo assim o processo de autoestima. O não ser visto, ser reprovado, desvalorizado impede que esse processo seja fomentado no ambiente familiar.

Ainda de acordo com (BEE, 1997) processos que envolvem a autonomia como as atividades desempenhadas nos ambientes sociais  também são formadores de autoestima. O sucesso ou fracasso promove o processo de autopercepção podendo ela ser distorcida pelo meio social como exemplo o bullying que acontece frequentemente nas escolas. Para (Bee, 1997) o juízo de valor empregado por outras pessoas é um forte determinante no que se refere à estima, o que o outro pensa faz uma significativa diferença para eles. Partindo de tais configurações serão elaboradas propostas para ser trabalho temáticas referentes à autopercepção.

Fonte: encurtador.com.br/dqzRW

REFERÊNCIAS

BAREMBLITT, Gregorio. GRUPOS TEORIA E TÉCNICA. 5. ed. Rio de Janeiro: Graal Editora, 1986. 224 p.

Bee. Helen O ciclo vital / Helen Bee, brad. Regina Cortez. – Porto Alegre: Artmed. 1997.

Del Prette Z. A. P. & Del Prette, A. (2005). Psicologia das habilidades sociais na infância: Teoria e prática. Petrópolis: Vozes 6 ed.- Petrópolis, Rj: Vozes, 2013.

Freitas, Lucas Cordeiro. Resenha: Psicologia das Habilidades Sociais na Infância: Teoria e Prática. Psicologia: Teoria e Pesquisa Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 251-252

ZIMERMAN, David E.; OSORIO, Luiz Carlos. Como Trabalhamos com Grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997. 424 p.

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Larissa Machado utiliza Gestalt Terapia no exercício da psicologia clínica

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A psicóloga Larissa Machado trabalha com psicologia clínica baseada na Gestalt Terapia. Possui Especialização em Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Oferta serviços de Psicoterapia individual, Orientação de Carreira, trabalha com Grupos e realiza workshops. Atualmente possui quase 8000 seguidores no Instagram, com o perfil @allegorica.psicologia, no qual regularmente posta conteúdo que tem por objetivo aproximar o público do fazer da psicologia. Nesta entrevista, ela responde perguntas a respeito da sua atuação como Psicóloga Clínica.

Talita Lima: Quais as suas áreas de atuação profissional?

Larissa Machado: Atuo com psicologia clínica e ofereço serviços de psicoterapia, orientação de carreira para adolescentes e adultos e avaliação psicológica. Além disso, atuo com a oferta de workshops, roda de conversas, grupos de apoio e de estudo. Também possuo especialização em saúde mental e atenção psicossocial.

Talita Lima: Com qual público você trabalha e qual sua maior demanda?

Larissa Machado: Adolescente, jovem e adulto. A maior demanda é para psicoterapia individual. São diversos os motivos de procura: relação familiar, ajustamento social, desenvolvimento de assertividade, ansiedade, medos… é difícil dizer demandas específicas porque perpassamos por tantos caminhos junto com os clientes!

Talita Lima: Como profissional, você sente que os pacientes/clientes chegam com um conceito diferente da profissão?

Larissa Machado: Então, eu percebo duas coisas. Aqueles que já vêm de um processo terapêutico, que já tiveram experiências, eles muitas vezes já compreendem o que é terapia, o que é esse acompanhamento, enfim, muitas vezes o ajustamento é só por conta da abordagem, né? Gestalt terapia é uma abordagem que talvez, é nova ainda, vamos dizer assim… Pelo menos na nossa cidade não tem tantos profissionais que atuam com a Gestalt, então acho que o contato com o processo acaba sendo diferente, mesmo que a pessoa já tenha tido experiência com a terapia antes. Agora, para aqueles que vêm pela primeira vez, é o primeiro contato com o psicólogo, com o consultório, com a terapia e tudo o mais, eles vem cheios dos mitos mesmo né? O que é muito comum… Esperam muitos resultados de uma forma rápida, e isso é até muito interessante para ser colocado no nosso encontro, essa busca pela cura, pelo conserto daquilo que incomoda e causa sofrimento. E tudo isso é transformado em intervenção, em olhar, em diálogo nesses nossos encontros. Os conceitos são a partir dos mitos que são carregados com relação ao psicólogo e à psicoterapia.

Talita Lima: Quais os principais fundamentos teóricos que embasam sua maneira de atuar? Costuma usar técnicas estrangeiras? Qual sua visão acerca da construção de técnicas científicas nacionais?

Larissa Machado: A Gestalt terapia é muito conhecida como uma teoria de técnicas criativas e de vivências criativas. Mas a verdade é que a Gestalt não tem tantas técnicas assim. Tipo, a cadeira vazia, que é uma técnica super conhecida, clássica da gestalt, você vê que não tem tantas técnicas com todo um fundamento e um nome para aquilo, a Gestalt é uma teoria que provoca a criação de intervenção e técnicas no aqui-agora, na verdade. Ela se cria no contato com o outro, no encontro com o outro, no aqui-agora com o outro. Tem um livro muito bom, cujo título é “Técnicas em Gestalt: aconselhamento e psicoterapia” da Phill Joyce e Charlotte Sills, e é um livro muito legal e muito bacana que traz todo um aconselhamento com relação desde o primeiro encontro que você tem com o cliente, o consulente, no caso, elas trazem esse termo, até todo o processo de experimentação, de fortalecer apoio, da relação terapêutica, o processo de avaliar e diagnosticar, como se trabalha o diagnóstico em gestalt terapia… Eu percebo que a gestalt terapia é uma… não sei mensurar, por que é muito incrível o quanto ela te dá embasamento e permissão, sabe? É importante que o profissional seja muito bem embasado teoricamente para ele se sentir seguro em arriscar, porque na gestalt terapia, muitas vezes, não tem muita lógica o que tu trabalha em consultório. A lógica que eu digo é uma busca de compreensão, então é incrível o que surge no momento. Por isso que o profissional precisa estar em aware, estar consciente dele nesse encontro, porque nessa escuta ativa é como se eu tivesse silenciando os ruídos internos, mas assim, eles vão existir de todo modo, mas é silenciar esse ruído interno e dedicar uma atenção para o que o outro está dizendo, para que o outro está fazendo na tua frente, gesticulando, demonstrando, experimentando ali na tua frente as questões que ele traz para você. Aí nesta questão de atenção, os insights surgem, tanto da parte do terapeuta quanto da parte do cliente também. E aí, propostas de experimentações surgem nesse processo de tomadas de consciência e de ajustamento criativo. Aqui no Brasil acompanho alguns teóricos. Tem o Ponciano, muito conhecido, o Elídio, Hugo Elídio Rodrigues… a Carina, que é gestalt terapeuta e trabalha com prevenção e ‘posvenção’ do suicídio, inclusive estou lendo um livro organizado por outra pessoa, mas que tem um capítulo feito por ela. Eu vou te enviar fotos de alguns livros de alguns teóricos que eu tenho acompanhado, e que eu gosto muito da visão deles e acabo me embasando muito no que eles trazem. E claro, o Perls, que sempre é uma grande fonte de inspiração, eu diria. A gestalt terapeuta é uma abordagem muito artística, o profissional que se encontra com a gestalt… porque eu nem sei se eu que escolhi essa abordagem ou se ela me escolheu, na verdade eu me dei conta no final da minha graduação, de que durante tantos anos da minha vida, até durante a minha faculdade, durante a minha formação, eu pensava e sentia e interpretava o mundo e quando eu fui entrando em contato com a gestalt eu falei: “Cara! Mas eu já acredito nisso há muito tempo, eu já penso dessa forma”. A gestalt terapia foi um encontro mesmo.

Talita Lima: Qual é a sua filosofia de trabalho?

Larissa Machado: Nossa, mas essa pergunta é muito gostosa de responder! Filosofia de trabalho… eu sou formada desde 2014, então tem quatro anos que eu sou psicóloga de fato e de direito, quando eu me formei e assim que peguei minha CIP, minha carteira profissional, eu já comecei a atender em consultório, e também fui contratada como psicóloga na empresa que eu estagiava, então assim que saí da faculdade eu já estava inserida no mercado de trabalho, em duas áreas. Então, já trabalho com a psicologia clínica desde 2014 e também em 2014 eu trabalhava como psicóloga em uma empresa. E aí a minha filosofia de trabalho foi mudando muito nesses quatro anos, principalmente nos três primeiros anos. No ano passado eu saí da empresa, em julho. Desde julho do ano passado eu atendo somente em psicologia clínica, e deu muito certo, porque eu tive condições de montar o meu consultório, de fazer do jeito que eu queria fazer. Você me perguntando isso agora, eu estou aqui parada, após um cliente acabar de sair, olhando pela janela do prédio e pensando assim que a minha filosofia de trabalho é essa, eu gosto de trabalhar sozinha, acho que a psicologia clínica é um trabalho solitário, porque eu fico por dia, geralmente seis, sete, oito horas, sozinha, sem uma equipe. O máximo que eu tenho de contato é com o cliente, e com a família quando vem em algum encontro, ou quando eu faço grupos. Mas são raros esses momentos, o maior contato que eu tenho é com outra pessoa. Hoje a minha filosofia de trabalho é muito voltada para a qualidade de vida, eu escolhi atuar com a psicologia clínica, desde quando eu fiz meu estágio em clínica na graduação, eu já entendia que era isso, que eu queria um dia ter meu espaço, trabalhar com psicologia clínica, atender pessoas e possivelmente organizações, que eu tenho essa vontade, esse interesse. A orientação profissional, inclusive, é um serviço que eu sou apaixonada de trabalhar com ele. Hoje eu trabalho com ele de modo individual, mas o objetivo é criar uma cultura de grupo, que é o que a gente tem tentado aqui na Allegorica. A minha filosofia de trabalho é voltada para a qualidade de vida, eu trabalho à tarde e à noite, alguns dias pela manhã, mas a prioridade é trabalhar tarde e noite, algumas vezes pela manhã, mas eu escolhi trabalhar nestes dois períodos, porque tem muito mais a ver com meu estilo de vida, com minha disponibilidade e disposição, e também a disposição dos clientes. Muitos procuram por horários noturnos, pois trabalham durante o dia. Então, acredito que a minha filosofia de trabalho que tem muito a ver com a gestalt que promove muito essa consciência do aqui-agora, do que faz sentido para mim, para minha família, mas muito mais para mim. Não sei se respondi sua pergunta, mas é isso… Eu trabalho descalça, eu trabalho num ambiente extremamente confortável, tenho projetos de cunho social para a clínica, já trabalho um pouco com a questão da clínica social, para universitários, aqui eu decidi trabalhar com um valor diferenciado para universitários, mas ainda não é a clínica social que eu quero promover aqui como serviço ainda. Mas eu tenho isso como um objetivo. Eu estou aqui na Allegorica e montei o consultório em maio deste ano. Desde julho do ano passado eu estava sublocando outro consultório, mas em abril desse ano eu decidi abrir a Allegorica que tem dado super certo. É claro que é preciso se preparar porque tem alguns meses que dá uma baixa, meses de férias, na questão de procura pelo serviço. E aqui na clínica eu só atendo particular, não me credenciei nem me vinculei a nenhum plano de saúde, também por escolha…

Talita Lima: Ao sair da faculdade, você se deparou com uma realidade diferente da que esperava?

Larissa Machado: Com relação ao mercado de trabalho, como eu saí do estágio e já fui contratada, e como já comecei a atuar na clínica, então não foi um choque para mim, porque eu já estava empregada e já exercia um pouco da profissão com supervisão, então eu só passei a me responsabilizar enquanto profissional e só ampliei o repertório de espaço de atuação. Então não foi um baque quando eu saí da faculdade me formei e peguei minha carteirinha e agora? o que eu vou fazer? Eu não tive que enfrentar isso, mas muito por conta das oportunidades que eu já tinha antes. Eu me sinto muito privilegiada por ter saído da faculdade já empregada, eu acabei me desenvolvendo durante a graduação em relação a iniciativa. E isso é muito meu, eu não tive essa dificuldade de entender que eu queria começar a atender no consultório, então tá, já comecei no consultório. E aí, tive duas demandas de atendimento clínico individual e foi feito, e até hoje tem dado certo. Não tive esse choque todo, para mim foi ok. Talvez uma coisa que eu tenha me deparado foi que eu tinha muito a expectativa de me formar e começar uma formação clínica em gestalt terapia, porque eu já tinha definido isso como abordagem e visão de mundo que faz muito sentido para mim. Mas até hoje eu ainda não fiz, por conta dos entraves econômicos, por não ter aqui em Palmas uma formação em gestalt terapia e eu não me abri à possibilidade de fazer formação em outras abordagens. Fiz a formação em saúde mental, me somou e acrescentou muito, mas não quis me arriscar a fazer outra formação em uma abordagem que não fazia muito sentido para mim. Então tem quatros ano que eu estou formada e nunca veio para Palmas uma formação em gestalt, acredito que muito pela falta de demanda, pois o processo de abrir uma especialização é muito complexo. No meio do caminho todo a gente vai se deparando com o trabalho, com a vida adulta… Logo que me formei, um ano após, eu me casei, então acabei não podendo usufruir um pouco de algumas mordomias que eu poderia ter agora, por conta das minhas escolhas. Então a formação em gestalt é uma baita gestalt aberta para mim, quero poder fazer uma formação, mas por conta de questões econômicas, porque tenho interesse em fazer uma formação que tem no Rio de Janeiro, e os custos todos que envolvem isso são dispendiosos. Hoje o que eu faço são contatos virtuais, cursos, workshops… que são online, que é mais acessível para mim. Acredito que a nossa cidade não beneficia algumas expectativas com relação à profissão.

Talita Lima: Como Palmas ainda é uma cidade nova, a importância do papel do psicólogo está começando a ser compreendida agora. Você encontra alguma dificuldade diante desse desafio?

Larissa Machado: Eu acredito que a psicologia é mal compreendida em todo lugar. Eu penso que desmistificar e tentar trabalhar essa educação social sobre o papel do psicólogo, sobre os diversos contextos, sobre a ética, sobre a psicologia enquanto ciência e profissão, em todo lugar vai ser preciso a gente militar essa causa. Isso acontece tanto em cidades pequenas quanto em cidades grandes também. Eu não sei se encontro alguma dificuldade especificamente relacionada a isso aqui, mas penso que em todo lugar tem um pouco disso. Inclusive sobre essa questão do papel do psicólogo e da educação social para desmistificar os serviços, na segunda feira (27/08) a gente vai promover um movimento de educação social no parque Cesamar, justamente para tentar combater, tentar falar com a sociedade e com as pessoas, tentar se tornar um pouco acessível e isso é muito interessante, porque me faz pensar muito na minha formação. Por que pelo menos a minha formação e a de muita gente, foi pautada na compreensão do distanciamento do psicólogo em relação ao cliente/paciente. Eu não se esse distanciamento, que ocorre até com os diálogos com a sociedade, é de fato importante. Suspeito que não. Acho que precisamos nos aproximar mais tanto da sociedade quanto dos outros profissionais também. Que o que cabe a nós, o diálogo, acredito que é importante que façamos algo.

Talita Lima: Dentre todos os estigmas e preconceitos sociais que o trabalho do psicólogo clínico passa, qual o conselho que você daria para as pessoas que precisam buscar psicoterapia mas se sente resistentes?

Larissa Machado: Não sei se existe um conselho, mas penso que todos têm seu tempo e modo. Antes mesmo de iniciar uma sessão de psicoterapia o processo terapêutico já está acontece… Acredito na experimentação como possibilidade de viver a psicoterapia e penso que as pessoas poderiam encarar dessa maneira : um experimento que pode ser levado adiante ou não… as pessoas são autônomas e deveriam por elas mesmas decidirem se querem ou não.

Talita Lima: Você desenvolve algum projeto ou faz intervenções em grupos em prol de alguma minoria? Tem algum posicionamento militante em relação a isso? Faz alguma parceria com grupos estaduais ou nacionais em defesa desses?

Larissa Machado: Na verdade estamos com um projeto chamado CERRADEIRAS. É um grupo de apoio à mulheres! Ele tem o objetivo de promover escuta ativa, diálogos entre mulheres e atenção à questões que envolvam a vida da mulher em seus diversos contextos! Daí a ideia é que seja quinzenal e também fazer parcerias com coletivos voltados pra mesma demanda.

Talita Lima: Para você, qual a importância do engajamento político da classe, principalmente dos psicólogos clínicos?

Larissa Machado: TODA A IMPORTÂNCIA DO UNIVERSO! Nossa profissão é política! Temos muito que conquistar, não somente no âmbito clínico, mas da saúde, educação, assistência social e afins… é importantíssimo que os profissionais se engajem com o que se identifica e de forma coletiva. Os interesses nem devem ser de um, deve ser de todxs e para todxs!

Talita Lima: Qual seu posicionamento a respeito do sindicato dos psicólogos que foi recém criado?

Larissa Machado: Relevante e importante! Mas ainda não tive a oportunidade de estar presente em algum encontro! Pretendo me filiar em breve!

Talita Lima: Você já atuou especificamente em alguma comunidade que é negligenciada socioculturalmente? (Por exemplo: indígenas, quilombolas).

Larissa Machado: Já tive oportunidade de participar de um projeto na época da graduação, com povos indígenas ! Foi pontual e rápido.

Talita Lima: Além do seu diploma, o que te torna psicóloga?

Larissa Machado: Bem… na verdade o que me torna psicóloga é o diploma mesmo… mas eu sou muito mais do que ele. Antes dele eu já me importava e interessava por questões que, por exemplo, a psicologia milita. Mas me percebo com habilidades significativas para desempenhar o papel de psicóloga: interesse pelo que é complexo, obscuro, subjetivo e não dito.  Suas perguntas estão me fazendo refletir!

Talita Lima: Quais as suas expectativas em relação ao futuro da profissão de psicologia?

Larissa Machado: Não sei… vai depender de como nosso país estará politicamente! Mas independente disso, penso que a luta da classe pela ciência e profissão tem que ser fortalecida.

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Desafios da Prática da Avaliação Psicológica na Clínica – (En)Cena entrevista Keila Barros

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A avaliação psicológica está presente na prática profissional do psicólogo com grande frequência. Em um aspecto amplo tem como objetivo conhecer o outro e as possibilidades de seus comportamentos. Objetivando aprofundar um pouco mais sobre o tema entrevistamos a psicóloga Keila Barros Moreira, CRP: 23/881. Psicóloga clinica e presidente da Comissão de Orientação e Fiscalização do CRP – 23.

(En)Cena – Qual a importância da avaliação psicológica?

Keila Barros – Na Resolução CFP N.º 007/2003 que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos e/ou produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica, define tal método como: “processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas – métodos, técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica”.

A avaliação psicológica é instrumento importante na práxis do psicólogo, e serve como fonte de informações de caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com o objetivo de auxiliar/embasar a atuação do psicólogo nos diferentes campos de atuação, como por exemplo: saúde, educação, jurídica, organizacional, entre outras. É importante enfatizar que se trata de um estudo minucioso, que requer um planejamento cuidadoso e deve está concatenado com a demanda e a finalidade que a avaliação se destina.

(En)Cena – Como se dá o processo inicial da avaliação psicológica?

Keila Barros – O CFP (Conselho Federal de Psicologia) dispõe de resoluções, cartilhas e orientações dispostas no site do Conselho para orientar os psicólogos quanto a esse processo. E os Conselhos Regionais, (no nosso caso o CRP – 23) disponibilizam em seus sites, as resoluções que orientam o psicólogo e estão disponíveis para esclarecerem duvidas dos profissionais sobre qualquer demanda pertinente à sua atuação por e-mail, telefone ou pessoalmente. Além disso, o profissional deve atualizar-se continuamente, para que consiga interpretar os resultados de forma coerente e devidamente embasados.

Assim, havendo dúvidas, temos todas essas fontes seguras para as devidas orientações. Devem ser utilizadas para evitar erros, que além de prejudicar pessoas por vezes para o resto da vida, contribuem para uma desvalorização da profissão.

O processo inicial da avaliação é entender/conhecer a demanda, de forma contextualizada com as questões familiares, sociais, culturais etc. A partir daí, a Resolução 007/2003, aponta os cuidados que devem ser tomados durante a avaliação psicológica, trarei na integra por estar de forma completa e de fácil compreensão e por avaliar que devemos SEMPRE ir a fonte para nos subsidiar. Assim, segundo a Resolução, devemos estar atentos há três princípios fundamentais:

Princípios Técnicos da linguagem escrita: “O documento deve, na linguagem escrita, apresentar uma redação bem estruturada e definida, expressando o que se quer comunicar. Deve ter uma ordenação que possibilite a compreensão por quem o lê (…). O emprego de frases e termos deve ser compatível com as expressões próprias da linguagem profissional, garantindo a precisão da comunicação, evitando a diversidade de significações da linguagem popular, considerando a quem o documento será destinado. A comunicação deve ainda apresentar como qualidades: a clareza, a concisão e a harmonia”. 

Princípios Éticos: “Na elaboração de DOCUMENTO, o psicólogo baseará suas informações na observância dos princípios e dispositivos do Código de Ética Profissional do Psicólogo. Enfatizamos aqui os cuidados em relação aos deveres do psicólogo nas suas relações com a pessoa atendida, ao sigilo profissional, às relações com a justiça e ao alcance das informações – identificando riscos e compromissos em relação à utilização das informações presentes nos documentos em sua dimensão de relações de poder. Deve-se realizar uma prestação de serviço responsável pela execução de um trabalho de qualidade cujos princípios éticos sustentam o compromisso social da Psicologia. Dessa forma, a demanda, tal como é formulada, deve ser compreendida como efeito de uma situação de grande complexidade (grifos meus).

Princípios Técnicos: “O processo de avaliação psicológica deve considerar que os objetos deste procedimento (as questões de ordem psicológica) têm determinações históricas, sociais, econômicas e políticas, sendo as mesmas elementos constitutivos no processo de subjetivação. O DOCUMENTO, portanto, deve considerar a natureza dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto de estudo. Os psicólogos, ao produzirem documentos escritos, devem se basear exclusivamente nos instrumentais técnicos (entrevistas, testes, observações, dinâmicas de grupo, escuta, intervenções verbais) que se configuram como métodos e técnicas psicológicas para a coleta de dados, estudos e interpretações de informações a respeito da pessoa ou grupo atendidos (…). Esses instrumentais técnicos devem obedecer às condições mínimas requeridas de qualidade e de uso, devendo ser adequados ao que se propõem a investigar” (grifos meus).

(En)Cena – A avaliação psicológica se aplica a uma área especifica?

Keila Barros – A avaliação psicológica é um processo transversal na atuação do psicólogo, e é importante subsidio em sua práxis, dessa forma pode ser utilizada em todas as áreas de atuação, a depender das demandas a serem trabalhadas.

(En)Cena – De onde costumam vir as demandas para avaliação psicológica?

Keila Barros – As áreas de atuação que mais utilizam a avaliação psicológica são: Jurídica, Organizacional, Neuropsicológica e do Trânsito. Nessas áreas tal processo está explicito na maioria das demandas. Onde o laudo psicológico auxiliará o juiz em suas decisões – Avalia os processos neuropsicológicos, geralmente respondendo a um encaminhamento da escola, de outro profissional da saúde etc. – A avaliação psicológica sugere aptidão ou não do sujeito para um determinado cargo/vaga de emprego – E é processo obrigatório para tornar a pessoa apta ou não para portar a CNH (Carteira nacional de habilitação).

Nos demais campos de atuação: Escolar, Esporte, Clinica, Hospitalar, Psicopedagogia, Psicomotricidade e Psicologia Social a avaliação será utilizada a depender da demanda, geralmente de forma menos frequente que nas áreas citadas anteriormente.

(En)Cena – Sabe-se que a avaliação psicológica integra dois componentes: processo e procedimentos. Como acontece a escolha dos procedimentos de avaliação que serão utilizados com cada cliente?

Keila Barros – O processo de avaliação é o conjunto de ações e/ou procedimentos compilados para atender uma demanda especifica. Como consta na Resolução 002/2003:

Art. 11 – As condições de uso dos instrumentos devem ser consideradas apenas para os contextos e propósitos para os quais os estudos empíricos indicaram resultados favoráveis.

Parágrafo Único – A consideração da informação referida no caput deste artigo é parte fundamental do processo de avaliação psicológica, especialmente na escolha do teste mais adequado a cada propósito e será de responsabilidade do psicólogo que utilizar o instrumento (grifos meus).

Ou seja, o psicólogo tem liberdade para o planejamento e realização do processo avaliativo, deve atentar as seguintes questões: qual a quantidade de sessões necessárias? Que questionamentos devem ser feitos? Quais instrumentos mais adequados para a investigação? Para tanto, deve levar em consideração o contexto do avaliado; os objetivos da avaliação psicológica; os construtos psicológicos a serem investigados; a adequação das características dos instrumentos/técnicas aos indivíduos avaliados; condições técnicas, metodológicas e operacionais do instrumento de avaliação. O profissional deve por fim, analisar criticamente os resultados obtidos, e construir as conclusões necessárias para responder a questão (ões) ou demanda (s) inicial (CFP 2013).

(En)Cena – Qual o maior desafio da prática da avaliação psicológica?

Keila Barros – Como presidente da COF, tenho acompanhado as orientações e fiscalizações de rotina, assim como as denúncias do CRP – 23. Penso que na nossa realidade o maior desafio da avaliação psicológica, seja a falta de atualização por parte dos profissionais. O que mais ocorre, são erros por falta de conhecimento do próprio Código de Ética, dos testes e demais resoluções que norteiam a atuação.

Não tem como atuar em uma área, por exemplo, no transito, sem saber de forma profunda o necessário para tal práxis, sem conhecer as resoluções não só do CFP, mas também do CONTRAN – (Conselho Nacional de Trânsito), sem entender as especificidades do Estado e cidade, sem conhecer o fluxo oficial para retirada da CNH.

É a partir desse conhecimento que o profissional atuará cuidando dos princípios éticos e técnicos necessários para construção de uma avaliação de qualidade, respaldada em pressupostos teóricos e concatenada com as especificidades da demanda em questão. A avaliação psicológica é um processo amplo e complexo, que envolve a junção de informações provenientes de diversas fontes, tais como: testes, entrevistas, observações, análise documental. Para integração das informações e construção das hipóteses conclusivas o profissional deve também ter o domínio de tais métodos.

Dessa forma, o conhecimento é a chave para uma atuação consciente, onde o psicólogo colabore de forma ética e responsável com o bem estar das pessoas, com o fortalecimento da profissão e desenvolvimento social.

Bibliografia utilizada:

  • Código de ética profissional do Psicólogo. CFP, 2014.
  • Resolução N.º 007/2003 Institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos e/ou produzidos pelo psicólogo, decorrentes de avaliação psicológica. CFP, 2003;
  • Resolução N.º 002/2003 Define e regulamenta o uso, a elaboração e comercialização dos testes psicológicos. CFP, 2203;
  • Resolução N.º 003/2007 Institui a consolidação das Resoluções do Conselho Federal de Psicologia, CFP, 2003;
  • Cartilha avaliação psicológica, CFP, 2013;
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Seminários clínicos: caso Helena

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Durante a primeira Semana Acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra foram abordados vários temas e contextos de casos da Psicologia; O caso que mais me chamou atenção foi o de Helena (nome fictício). Helena tinha nojo do próprio pai, quando o mesmo a tocava sentia coceiras pelo corpo inteiro, depois passou a desenvolver nojo de vários objetos, não sentava em qualquer lugar, não tocava em qualquer coisa, sentava-se apenas em sua própria cama. Um dos possíveis fatores para esse nojo do pai seria o fato dele ser alcoólatra e agredir a mãe eventualmente em sua frente, desde muito pequena.

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Fonte:http://letsangiworld.tumblr.com/post/64117248802/ich-bin-mir-nicht-sicher-ob-ich-weiterhin

Helena, que se encontra no inicio da adolescência, pretende trabalhar sua timidez com os atendimentos e se livrar desse nojo que acaba atrapalhando sua vida de modo geral. Durante as sessões com Helena ou com sua mãe, o pai nunca é citado por elas nas conversas, como se o mesmo não existisse para elas. Talvez pelo fato de ser alcoólatra e ter sempre o hábito de ser violento com toda a família.

O estudante de psicologia e supervisor usaram várias técnicas para que Helena tentasse vencer a timidez, como por exemplo: desenhos, jogos, dinâmicas, histórias lúdicas, linha do tempo de sua vida, baralho dos sentimentos e sensações, e pintura a dedo.

Helena possuía muita dificuldade para nomear seus sentimentos, é sempre muito ansiosa e insegura, muito tímida e reservada, diz não ter amigos e sim colegas. A paciente ainda se encontra em tratamento, está respondendo bem a ele e o objetivo é que Helena passe a conviver melhor com o pai e possa construir novas amizades.

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Fonte: http://www.depoisdosquinze.com/2011/10/31/como-vencer-a-inseguranca-e-a-timidez/

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