Com uma história de conforto e esperança, Fabiana Coimbra acolhe, em novo livro, crianças que enfrentam desafios de saúde e passam por procedimentos cirúrgicos
Os primeiros anos de vida de Maria Júlia, filha da publicitária e escritora Fabiana Coimbra, foram marcados pelo diagnóstico de uma cardiopatia congênita, um longo período de internação e duas cirurgias. O desejo de tornar o processo menos confuso e doloroso levou a mãe a escrever uma história que acolhesse não apenas a menina, mas outras crianças e seus familiares. Assim surgiu o livro Maju: As aventuras de uma Coração Valente.
Na obra, a pequena personagem nasceu com um machucadinho no coração e logo cedo começou um tratamento especial para crescer forte e viajar até a Terra da Cura, onde o Dr. Giratene, o “consertador de corações”, pode ajudá-la. Nesse lugar encantado, a menina faz novos amigos e vive muitos desafios, auxiliada pelos “enferpinguins” e outros médicos, como a Dra. Claufox.
Repleta de magia e elementos fantásticos, como o escudo que protege as crianças de diferentes tipos de vírus e médicos com características de animais, a jornada de Maju traz um retrato otimista para o enfrentamento da cardiopatia e outras doenças da infância. A história mostra a possibilidade de uma vida saudável, cheia de brincadeiras, amizades e carinho da família. Além de ajudar a lidar com o processo cirúrgico, o livro também reforça a importância do uso de medicamentos e busca aumentar a autoestima em relação às cicatrizes.
A leitura é indicada não só ao pequeno leitor, mas aos pais e profissionais de saúde que acompanham pacientes nesse perfil. As ilustrações reforçam o caráter lúdico e encorajador da obra, ao incluírem elementos e termos do ambiente hospitalar dentro do contexto mágico da Terra da Cura, permitindo ressignificar um período de angústia.
Fabiana Coimbra já havia falado sobre a experiência de ser mãe de uma criança cardiopata no livro Mulheres Marcadas, em que explora a solidão e os conflitos das genitoras com filhos em unidades de tratamento intensivo. Com Maju: As aventuras de uma Coração Valente, a escritora expande a discussão e dá voz às crianças que vivenciam doenças congênitas, na busca por transformar um momento de medo e tensão em uma prova de coragem e amor pela vida. “Sonhar faz parte do processo de cura. Viva, sonhe e fantasie sempre!”, comenta ela.
FICHA TÉCNICA
Título: Maju: As aventuras de uma Coração Valente Autora: Fabiana Coimbra Editora: Flor de Maju ISBN: 9786598439606 Formato: 25,5 x 24,5 cm Páginas: 44 Preço: R$ 59,90 Onde comprar: Amazon
Este relato de experiência tem como objetivo descrever a vivência doestágio curricular em Psicologia da ULBRA/PALMAS no campo hospitalar durante o ano de 2022. O estágio foi realizado durante um semestre na ala de oncologia e outro no Pronto Socorro Pediátrico do Hospital Geral de Palmas –TO (HGP), supervisionado pelas Psicólogas Izabela Almeida Querido, Muriel Corrêa Neves Rodrigues e Glauciene Elias Silveira Chaves.
Com o objetivo de promover a atenção total ao paciente e à sua história de vida, a psicologia hospitalar pode ter atendimentos realizados em ambulatórios, prontos-socorros, unidades de internação e unidades de terapia intensiva. Sobre a atuação da Psicologia Hospitalar Simonetti (2004, p. 15), define como “um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”. Portanto, essa ideia surge a partir do instante em que o indivíduo se esbarra com a doença.
O ambiente hospitalar infelizmente está sempre ligado a tristeza, sofrimento, angústia e dor. A dor por ser uma experiência emocional ousensorial é sentida de forma singular por cada sujeito. E o sofrimento que éabsoluto e único para cada pessoa, é descrito como um estado de aflição queameaça a integridade física do sujeito. Nessa perspectiva temos os Cuidados Paliativos que consiste em um conjunto de práticas de assistência de uma equipe multidisciplinar, que objetiva a qualidade de vida do paciente incurável e de seus familiares, diminuindo assim seu sofrimento (ARANTES, 2016).
De acordo com Vanessa Pinheiro, Psicóloga (CRP 12/16330) “O psicólogo contribui com a compreensão das informações e mediação visando sempre o acolhimento. A subjetividade do paciente, dos seus familiares, de dar significado às vivências ao longo do processo de adoecimento e internação é importantes subsídios para a atuação do psicólogo e para o paciente em suas formas de compreender”.
A experiência de atuar no campo da Psicologia Hospitalar me proporcionou vivenciar momentos de alegria, compaixão, tristeza, medo, afeto, e acima de tudo me tornar uma pessoa mais humana e empática. Essas experiências possibilitaram um olhar voltado aos processos de adoecimento e terminalidade. Uma das experiências que marcaram foi as vivências na ala da oncologia, em que encontramos pessoas de todas as faixas etárias lutando pelo mesmo propósito “sobreviver”. Durante esse processo foi gratificante poder estabelecer vínculos com pacientes, familiares e equipe de trabalho presente.
Professora orientadora: Muriel Correa Neves Rodrigues Disciplina: Estágio Específico em Processos Institucionais e de Saúde
REFERÊNCIAS
ARANTES, Ana Cláudia. A morte é um dia que vale a pena viver. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
Compartilhe este conteúdo:
Psicologia Hospitalar – Trabalhando com a subjetividade no processo de adoecimento
A psicologia hospitalar é uma área de atuação da psicologia que busca entender e tratar o indivíduo e sua relação com o adoecimento, levando em conta os aspectos psicológicos que envolvem o adoecer sendo eles físicos, biológicos, psíquicos e subjetivos. O aspecto subjetivo pode ser expresso em sentimentos, pensamentos, falas e etc, o que pode reverberar em efeitos também nas suas relações com família, amigos íntimos e a equipe médica. A psicologia hospitalar fala sobre o adoecer subjetivo, tendo em vista que o biológico já está em evidência nos tratamentos de outras áreas da saúde como por exemplo a medicina e a enfermagem (TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).
A psicologia hospitalar tem como seus clientes o paciente que está relacionado ao adoecimento, a família e os amigos íntimos desse indivíduo, e a equipe médica. O psicólogo hospitalar deve se atentar às demandas que podem surgir com o enfrentamento da doença no caso do indivíduo e de sua família, comportamentos alterados, emoções e sentimentos exacerbados, frustração, estresse, lidar com possíveis sequelas de tratamentos ou da doença, relacionamentos fragilizados e etc. Na equipe médica seu atendimento pode ocorrer em situações de sobrecarga, estresse ou mesmo sobre questões sobre como lidar com as escolhas do paciente ou de sua família. Ressalta-se ainda que o atendimento pode acontecer por uma solicitação ou quando o profissional perceber a necessidade de atender a alguma demanda (SIMONETTI, 2004).
O setting terapêutico do psicólogo hospitalar é dinâmico e exige manejo do profissional para lidar com as interferências e particularidades, pois o mesmo pode se encontrar em qualquer lugar dentro de um hospital, o atendimento ocorre quando necessário e no momento em que surge a demanda pois as mesmas são mutáveis e estão relacionadas aos acontecimentos ou a própria relação com a doença, levando em conta a necessidade por parte do paciente, família ou equipe médica. Preferencialmente o melhor horário para os atendimentos são durante o período vespertino devido a rotina hospitalar agitada durante a manhã, e respeitando o período de descanso e visitas à noite. A alta psicológica ocorre apenas quando não há mais demanda, ou quando o paciente recebe alta médica (SIMONETTI, 2004; TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).
O adoecimento pode afetar o psicológico desencadeando doenças, inseguranças, medos, fragilidades, podendo também agravar situações que já estavam presentes como baixa auto-estima, depressão, ansiedade, crenças de valor. O campo psíquico também pode ser a causa da doença, como no caso das doenças psicossomáticas. Apesar disso, a doença também pode causar no psicológico a manutenção de pensamentos e enfrentamentos, pode tornar o indivíduo resiliente, e mudar seu modo de agir e suas perspectivas tanto nas suas relações, como sobre si e sua relação com todas as áreas da sua vida, e ser assim consequência de mudanças boas ou ruins (TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).
O papel do profissional da psicologia hospitalar é auxiliar o indivíduo no processo do adoecimento, atendendo as demandas que surgem, podendo usar técnicas e estratégias a fim de promover a compreensão, o enfrentamento, ressignificar ou dar significados ao que se sente diante ao adoecer, trabalhando tanto com o sujeito como com as pessoas envolvidas nesse processo, com uma prática que evidencia o sujeito que está passando por um momento da sua vida e não o despersonaliza perante sua doença (SIMONETTI, 2004).
REFERÊNCIAS
SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar: O mapa da doença. Casa do Psicólogo, São Paulo, 2004.
TRUCHARTE, F.A.R.; KNIJNIK, R.B.; SEBASTIANI, R.W. Psicologia Hospitalar: Teoria e Prática. Augusto Angerami – Camon (org.), Pioneira Thomson Learning, São Paulo, 2003.
Compartilhe este conteúdo:
Palhaçoterapia: reinventando a experiência hospitalar
O ambiente hospitalar pode ser lembrado como um local triste e com muito sofrimento, porém essa experiência pode ser minimizada, e até mesmo transformada através dos atendimentos da equipe multiprofissional, e como parte integrante deste grupo podemos citar serviço voluntário da palhaçoterapia hospitalar. Os palhaços podem ter formação na área da saúde ou serem formados em outra área, assim todos contribuem para essa vivência renovadora do hospital.
Muitas pessoas passam por experiências dolorosas e desagradáveis podendo ser marcantes em suas vidas. Mas através do serviço de palhaçoterapia esse cenário pode ser transformado em um lugar mais alegre, leve e acolhedor. Existem vários grupos que se dispõem no serviço voluntário no hospital, sendo seu principal objetivo a humanização dos atendimentos aos pacientes, além da minimização de sofrimento diante do processo de hospitalização.
Os primeiros relatos de palhaços nos hospitais surgiram em 1980, através do oncologista pediátrico Patch Adams, com intuito de levar um atendimento médico com mais empatia, bom humor e carinho aos pacientes, acompanhantes, e a todos os profissionais do hospital. E foi assim que seu trabalho virou inspiração a milhares de pessoas do mundo inteiro, e foi assim que produziram o filme “Patch Adams, o amor é contagioso” que conta sua trajetória.
Já no Brasil, esse movimento foi trazido por Wellington Nogueira, em meados de 1991, depois de passar uma temporada trabalhando em Nova Iorque no Clown Care Unit. Retornando às suas atividades em solos brasileiros, fundou os Doutores da Alegria, que influenciou o surgimento de vários outros grupos. Entre seus valores, estão a Arte e cultura como direito; Liberdade de expressão, cooperação e respeito à diversidade; Ética, transparência e coerência na ação; Arte, educação e pesquisa como caminho para estimular um novo olhar e impactar realidades; Busca pela simplicidade e excelência; Alegria é um estado que se constrói a partir do outro – afetar e ser afetado; Busca pela multidisciplinaridade entre cultura, saúde, educação e assistência social.
Além de existir um legado de humanização e amor no serviço dos palhaços nos hospitais, por trás disso, também existe muita dedicação, estudos e preparação para a formação dos voluntários. Por se tratar de um ambiente hospitalar é preciso maiores cuidados e estratégias em como funcionará a dinâmica dos atendimentos, a maneira de abordar os pacientes e seus acompanhantes, brincadeiras com as crianças, as orientações e restrições médicas, são alguns dos fatores a serem planejados antes de dar início às visitas.
Vivenciar esta experiência da palhaçoterapia no ambiente hospitalar pode ser carregada de boas lembranças, a oportunidade de ressignificação de um momento mais delicado que possa estar passando. Preservar e manter a saúde mental tanto dos pacientes quanto dos profissionais envolvidos são essenciais para a qualidade e na harmonia do ambiente hospitalar.
Compartilhe este conteúdo:
Psicologia hospitalar frente à terminalidade da vida
Sobre a atuação da Psicologia Hospitalar Simonetti (2004, p. 15), caracteriza como “um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”.
Este relato tem como objetivo descrever a vivência de estágio curricular em Psicologia no campo hospitalar durante o período de agosto de 2019 a março de 2020, do curso de graduação promovido pelo CEULP/ULBRA. O estágio foi realizado na Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) do Hospital Geral de Palmas-TO (HGP), supervisionado pelas Psicólogas Izabela Querido e Muriel Rodrigues. As vivências das estagiárias (Diane Karen, Karla Roberta e Thais Raianny) possibilitaram um olhar voltado aos processos de adoecimento e terminalidade bem como favorecer desdobramentos e conexões com a teoria vigente sobre o assunto. O livro central em discussão foi concebido pela autora Claudia Arantes (2016) denominado “A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver”.
Sobre a atuação da Psicologia Hospitalar Simonetti (2004, p. 15), caracteriza como “um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento”. Desse modo, o conteúdo surge a partir do momento em que o sujeito se esbarra com a doença. Circunstância que se manifesta carregada de particularidades, que incorporam o paciente, a família e a equipe de saúde. No que se refere à duração dos atendimentos neste espaço a psicologia hospitalar configura-se por sua natureza breve, voltada ao aqui-agora onde emergem as demandas de caráter imediato. Devido a imprevisibilidade a permanência do paciente, óbito ou alta, troca de plantões, há necessidade de certa flexibilidade e estratégia. Por vezes a oportunidade de contato com paciente chega a ser um atendimento único. Sendo assim deve ser objetivo, ter início, meio e fim (SIMONETTI, 2004).
Meu primeiro dia de estágio começou em uma manhã de quinta-feira, um dia ensolarado, cheio de expectativas. Cheguei na portaria do hospital cumprimentando todos com um largo sorriso no rosto, vesti meu jaleco e me dirigi para a UCI com entusiasmo, nada escapava do meu olhar curioso naquele curto trajeto da portaria do hospital até a UCI. Assim que entrei na unidade, a Psicóloga Izabela Querido, dispondo de toda sua simpatia e carisma me cumprimentou e logo em seguida comunicou sobre o óbito ocorrido nas primeiras horas daquela manhã, e que iríamos realizar nossa primeira tarefa do dia “suporte a notícia de óbito”.
Fonte: encurtador.com.br/yCDK5
Nesse momento fiquei paralisada por segundos. Segundos esses em que vivenciei sensações ansiogênicas, estava visivelmente nervosa com o novo desafio, meus pensamentos foram tomados por dúvidas e incertezas, “o que falar para uma pessoa que acabou de perder seu ente?”, “e se eu errar?”. Enquanto eu esperava os familiares chegarem, fui até o leito onde o paciente se encontrava, ali o enfermeiro responsável prestava os seus últimos atendimento por aquele paciente já sem vida.
Foi só nesse momento, com o contato com a morte e o morrer que refleti sobre o desafio que é falar da vida por esse caminho. A morte é um tabu na nossa sociedade, Arantes (2016, p. 17) diz que no curso de medicina se aprende sobre muitas coisas, menos sobre mortalidade. “Na faculdade não se fala sobre a morte, sobre como é morrer. Não se discute como cuidar de uma pessoa na fase final de doença grave e incurável”. Nesse sentido falta espaço de reflexão para discutir a finitude da vida não só nos cursos de graduação, como também nos espaços sociais que envolva toda comunidade.
Kübler-Ross (2017) diz que ao estudar o enfrentamento da morte entre povos e culturas arcaicas se tem a impressão que o fenômeno sempre foi rejeitado e até mesmo abominada. A psiquiatria explica a morte do ponto de vista que é negado pelo inconsciente, ou seja, o inconsciente nega o fim da vida quando se trata da própria finitude, e se o morrer for aceito, será remetida a algo ruim. Portanto, desde os tempos antigos a morte é ligada a fenômenos malignos, a um acontecimento detestável.
Fonte: encurtador.com.br/doyz5
Em seguida os familiares do paciente chegam a UCI, e com ela toda dor e sofrimento de encarar a morte. Participar e dá apoio ao comunicado de óbito é sempre uma tarefa difícil, necessita de um grande dispêndio de energia. A difícil tarefa de comunicado a notícias difíceis é papel do médico(a) responsável pelo paciente. Entretanto a função primordial para o profissional de saúde é preservar a vida, não estando preparados para lidar com a morte. Não é raro ouvir relatos que o profissional médico perdeu sua sensibilidade diante da morte por ser muito técnico, chegando a ter uma postura frio. Na UCI do Hospital Geral de Palmas observamos que a equipe médica, assim como os demais profissionais que ali trabalham exercem uma conduta acolhedora quando se fala de terminalidade da vida.
Arantes (2016, p. 38) relata que estar com uma pessoa em estado terminal “não é viver pela pessoa o que ela tem para viver”. Destaca dois sentimentos que nos difere das demais espécies, a empatia e a compaixão. Empatia é a capacidade psicológica de sentir o que o outro está sentindo se caso estivesse vivenciando a mesma situação que ela. O que pode ser um risco para o profissional de saúde, pois corre o risco de assumir a incapacidade de cuidar. A compaixão é diferente da empatia, ela permite entender o sofrimento do outro é buscar meios para o alívio da dor, é um estado emocional de piedade. “A empatia pode acabar, mas compaixão nunca tem fim. Na empatia, às vezes cega de si mesma, podemos ir em direção ao sofrimento do outro e nos esquecermos de nós. Na compaixão, para irmos ao encontro do outro, temos que saber quem somos e do que somos capazes”. O que Arantes transpassa é a importância de se ter compaixão e o risco de se colocar no lugar de sofrimento dos pacientes.
A(O) Psicóloga(o) no seu papel de suporte a notícia de óbito (comunicado de má notícia) é de facilitador entre a comunicação da equipe de saúde e os familiares do paciente, é sobretudo se fazer presente, compreender os fenômenos psicológicos, acolher, demonstrar interesse e respeito, fazer uso quando necessário de estratégias de intervenção em crise. “A(O) psicóloga(o) atuando junto à equipe deverá intervir sempre que identificar demandas emocionais de sofrimento e desadaptações, sem esperar ser solicitado […]” (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2019, p. 71)
Fonte: encurtador.com.br/cHJOY
A UCI é uma ala que recebe muitos pacientes em estado terminal, a maior parte dos pacientes são idosos acometidos por câncer, acidente vascular encefálico, traumatismo cranioencefálico, doenças pulmonares, cardiovasculares e degenerativas ou por alguma condição crônica de saúde. Me recordo quando um paciente recebia alta hospitalar, toda equipe banhava-se de felicidade, mas quando o mesmo paciente retornava dias depois, a equipe junto com os familiares expressava tristeza. Tristeza por ver todo o sofrimento e dor daquele mesmo paciente que dias antes estava estável, tristeza por estar acompanhando o fim do ciclo da vida, mas tendo a certeza que todos os esforços e recursos estão sendo aplicados para o paciente viver com qualidade de vida.
O ambiente hospitalar é ligado a tristeza, dor e sofrimento. A dor é uma experiência sensorial e/ou emocional vivenciada de forma única por cada sujeito, passando por mecanismos exclusivos de percepção, expressão e comportamento. O sofrimento é descrito como um estado de aflição que ameaça à integridade física, sendo absoluto e único para cada pessoa. Nessa perspectiva temos os Cuidados Paliativos que consiste em um conjunto de práticas de assistência de uma equipe multidisciplinar, que objetiva a qualidade de vida do paciente incurável e de seus familiares, diminuindo assim seu sofrimento (ARANTES, 2016).
A criação dessa especialidade médica titulada “Cuidados Paliativos” se deu pela busca da humanização para o atendimento em equipe de pacientes que se encontram sem possibilidade terapêutica de cura de uma determinada doença. Os Cuidados Paliativos no contexto da Psicologia se trata de uma modalidade na qual a(o) profissional dessa área, trabalha com o objetivo de propiciar uma melhor compreensão do paciente acerca da sua condição atual de vida, visando oferecer conforto para suas aflições e consequentemente aliviar as dores emocionais, dessa forma respeitando o seu tempo diante da finitude de seu ciclo vital (REZENDE; GOMES; MACHADO, 2014).
Uma das experiências marcantes no estágio diante da terminalidade, foi com a filha de uma paciente da UCI (chamaremos a paciente internada de Liz), que estava vivenciando seus momentos finais de vida. A equipe do hospital solicitou a realização de uma conferência a fim de obter assentimento do familiar responsável sobre a nova modalidade de cuidados (os paliativos). Visando também com essa ação estabelecer a confiança e uma parceria com a filha (que chamaremos aqui de Glória). Contudo ela se recusou, pois acreditava muito no reestabelecimento das condições vitais da mãe. Glória sempre quando a visitava, estimulava reações físicas, contato, comunicação com a paciente, ainda que estivesse sedada ou inconsciente. E da maneira dela, de forma surpreendente foi capaz de estabelecer uma comunicação com a mãe. O que motivava Gloria a acreditar em uma recuperação.
No entanto, apesar das tentativas de restabelecimento, o intenso cuidado depositado pela filha, e de toda equipe da UCI, Liz já não tinha mais perspectiva de cura para sua doença. E as medidas até então adotadas eram invasivas e apenas aumentavam sua dor. Assim foi solicitado uma conferência familiar com Gloria, para que autorizasse a inclusão de Liz na perceptiva de cuidados paliativos, pois muito ainda podia se fazer pela paciente, na perspectiva de oferecer uma maior qualidade de vida. O que mais uma vez foi recusado pela filha de Liz, possivelmente pelas crenças sobre o tipo de cuidado. Desse modo a Psicologia entrou não para confronto, apontando sua negação a morte, menos ainda para convencimento do melhor tipo de cuidado, mas como parceira. Afinal, a familiar compreendia bem o que estava acontecendo, entretanto escolheu enfrentar daquela forma. E a decisão foi respeitada até o momento em que sua mãe veio a falecer.
O dia-a-dia de cuidados na UCI é cansativa. Diariamente são realizados inúmeros procedimentos junto ao paciente, além de atividade administrativas e preenchimento de protocolos. Muito se pensa que o ambiente hospitalar é silencioso e tranquilo, entretanto a realidade é o oposto. A UCI é um ambiente estressor tanto para os profissionais quanto para os pacientes. O local é ruidoso devido o funcionamento dos equipamentos; o clima é gelado 24 horas; não há janelas, com isso os pacientes não conseguem se orientar quanto ao tempo, não sabendo se é dia ou noite; as visitas são controladas, sendo realizadas em horário pré-determinado com duração de uma hora, muitas vezes é necessário conceder visita estendida e autorizar um número maior de visitantes. Portanto a UCI é um local ansiogênico, onde a dor, o medo e a morte estão sempre presentes.
A experiencia de atuar no campo da Psicologia Hospitalar nos proporcionou vivenciar momentos de alegria, tristeza, medo, afeto, empatia, compaixão, surpresa e até mesmo momentos inusitados, onde tivemos que muitas vezes mediar conflitos entre equipe e familiar do paciente, ouvir palavras desagradáveis ao comunicar uma má notícia. Contudo, estabelecemos um vínculo afetivo com os pacientes, familiares e principalmente com a equipe de profissionais que nos acolheu como parte da família UCI.
E assim finalizamos nosso ciclo de estágio com o sentimento de pertencimento a ciência de codinome Psicologia, levando o desejo de atuar profissionalmente no campo hospitalar.
REFERÊNCIAS
ARANTES, Ana Cláudia. A morte é um dia que vale a pena viver. 1. ed. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (Brasil). Referências técnicas para atuação de psicólogas(os) nos serviços hospitalares do SUS. Conselho Federal de Psicologia, Conselhos Regionais de Psicologia e Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas .1. ed. Brasília-DF : CFP, 2019.
KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: O que os doentes terminais têm para ensinar a médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. WWF Martins Fontes, 2017.
PESSINI, Léo. Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar. Bioética, Brasília, v. 10, n. 2, p. 51-72, 2002.
REZENDE, Laura Cristina Silva; GOMES, Cristina Sansoni; MACHADO, Maria Eugênia da Costa. A finitude da vida e o papel do psicólogo: perspectivas em cuidados paliativos. Revista Psicologia e Saúde, 2014.
REZENDE, Laura Cristina Silva; GOMES, Cristina Sansoni; MACHADO, Maria Eugênia da Costa. A finitude da vida e o papel do psicólogo: perspectivas em cuidados paliativos. Revista Psicologia e Saúde, 2014.
Compartilhe este conteúdo:
Justiça determina que Estado do Tocantins construa hospital para presos com doenças mentais em 2 anos
A decisão atende à ação ordinária ajuizada pelo Centro de Direitos Dom Jaime Collins, Centro de Direitos Humanos de Cristalândia e a Associação Estadual de Direitos Humanos do Tocantins (MEDH).
Como parte do projeto Mutirãozinho, realizado pelo Núcleo de Apoio às Comarcas (NACOM), em Guaraí, a juíza Wanessa Lorena Martins de Sousa Motta determinou, na última quarta-feira (29), que o governo do Estado construa um Hospital de Custódia para abrigar presos em tratamento psiquiátrico. A obra deve ser concluída no prazo de dois anos.
A decisão atende à ação ordinária ajuizada pelo Centro de Direitos Dom Jaime Collins, Centro de Direitos Humanos de Cristalândia e a Associação Estadual de Direitos Humanos do Tocantins (MEDH), alegando que “várias pessoas encontram-se presas em celas de cadeias do Estado, sem qualquer tratamento psiquiátrico, quando são portadores de transtornos mentais (esquizofrenia, etilismo crônico, retardamento, etc) e deveriam cumprir pena de medida de segurança em estabelecimento adequado, qual seja um hospital de custódia”.
Foto: Divulgação
Ao julgar o caso, a magistrada considerou a Lei de Execução Penal – LEP (BRASIL, 1984), que estabelece, em seu artigo 5º, que os hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico destinam-se a pessoas que cometeram algum crime, mas que são inimputáveis ou semi-imputáveis. Para os casos em que a inimputabilidade for comprovada, ao invés de ser aplicada uma pena ou medida alternativa, será aplicada uma medida de segurança.
“Portanto, grande a necessidade da sociedade deste Estado em ter um local que abrigue os doentes mentais que praticaram algum ilícito que seja típico penalmente, a fim de possibilitar aos mesmos o retorno de forma saudável à sociedade, sem apresentar nenhum tipo de ‘risco’ ou ‘perigo’ a si mesmo e às pessoas a sua volta”, concluiu a juíza.
Compartilhe este conteúdo:
Psicóloga Hospitalar relata experiência na turma de Saúde Bioética e Sociedade
Anita Coelho dos Santos, que atua no Hospital Infantil Público de Palmas (HIPP), contou à turma sua trajetória como trabalhadora do SUS.
Na tarde desta quarta-feira (29) os alunos da disciplina de Saúde Bioética e Sociedade, que é conduzida pela Profa Dra Renata Alves Bandeira, receberam para um bate-papo a psicóloga Anita Coelho dos Santos, egressa do Ceulp/Ulbra que compõe a equipe de Psicologia do Hospital Infantil Público de Palmas.
A psicóloga contou aos alunos, que finalizaram o módulo de estudo sobre o SUS, como foi sua trajetória de atuação no sistema desde que se formou em 2005 na primeira turma de psicologia do Ceulp.
Turma de Saúde, Bioética e Sociedade – Foto: Irenides Teixeira
Em sua carreira, Anita também já atuou no Instituto Médico Legal de Palmas e no Hospital Regional de Gurupi. De acordo com a psicóloga, é necessária uma postura humanizada frente aos desafios que a profissão apresenta no Sistema Único de Saúde, mesmo que que não envolva diretamente os conhecimentos da psicologia. Defendeu também uma postura enérgica e combativa frente a projetos que não compreendem a prática real no atendimento com os usuários.
Com a conclusão da fala de Anita, os alunos puderam tirar suas dúvidas referentes aos atendimentos realizados em caso de óbito, bem como sobre os sentimentos que o apego aos pacientes pode gerar. Ao final do encontro, foi realizada uma confraternização com um lanche oferecido pelos acadêmicos.
Compartilhe este conteúdo:
Desafios da atuação ética do profissional de Psicologia Hospitalar
O psicólogo presente nas instituições de saúde muitas vezes se depara com situações que exigem habilidade para lidar com dilemas éticos que se estabelecem na relação dele com a pessoa atendida
Apsicologia hospitalarse propõe a ser uma área de conhecimento que visa fornecer suporte ao sujeito em adoecimento, a fim de que este possa atravessar essa fase com maior resiliência. O psicólogo auxilia o paciente em seu processo de adoecimento, visando à minimização do sofrimento provocado pela hospitalização. Esse profissional deve prestar assistência ao paciente, bem como seus familiares e a equipe de serviço, sendo que este deve levar em consideração um leque amplo de atuações, tendo em vista a pluralidade das demandas. Nesse sentido, é um campo de entendimento e tratamento dos aspectos biológicos em torno do adoecimento, não somente doenças psicossomáticas, mas todo e qualquer tipo de enfermidade.
Fonte: encurtador.com.br/dgrXZ
Pensar na atuação do psicólogo nas unidades hospitalares, ou seja, nas instituições públicas que são destinadas a priorizar a saúde, não é uma tarefa muito fácil. O tempo de inserção desse profissional nesse campo é relativamente pequeno, há um contingente reduzido de profissionais atuando na área, apesar de vir aumentando gradativamente, inexistem pesquisas mais sistemáticas, tanto nacionais quanto locais, sobre a atuação do psicólogo nesse campo específico de trabalho. Apesar disso, é possível observar uma série de problemas e insucessos em termos das práticas dos psicólogos, devido à falta de apoio como um todo e na valorização desse profissional, como um agente capaz de contribuir na promoção de saúde.
Dimenstein (2000) afirma, ainda, que muito dos problemas dos quais o psicólogo passou a deparar-se escapam do domínio da clínica, pois se referem às condições de vida da população. Tais dificuldades passaram a ser um entrave para as atividades de assistência pública à saúde tendo em vista a falta de preparo nessa área. Levando em conta a realidade de nosso país e de nossa profissão, devemos priorizar uma formação adequada para inserir o psicólogo e abrir novas frentes de mercado de trabalho de acordo com as necessidades da população. Um dos primeiros passos seria a inserção do psicólogo em equipes de saúde interdisciplinares. A interlocução entre os diversos saberes seria a maneira de oferecer um cuidado mais completo, eficaz e de acordo com as necessidades da população.
O psicólogo presente nas instituições de saúde muitas vezes se depara com situações que exigem habilidade para lidar com dilemas éticos que se estabelecem na relação dele com a pessoa atendida e os familiares da mesma, ou na relação com a equipe de trabalho. Este profissional se vê diante de questões como: até onde preservar o sigilo profissional? De que forma se deve agir diante de atitudes antiéticas de colegas de trabalho? Que informações podem constar no prontuário do paciente?
Fonte: encurtador.com.br/cwEV0
Sua atuação é dirigida para os problemas psicoafetivos oriundos da doença e/ou da hospitalização compreendendo a natureza do sujeito doente, seus desejos, esperanças, medos, aptidões, dificuldades e limitações, seja através da observação ou da linguagem verbal e não verbal. A prática hospitalar impõe-nos alguns cuidados que são fundamentais para um bom atendimento sendo importante que não confundamos a psicologia hospitalar com a psicologia clínica. Na psicologia hospitalar estaremos lidando com o tempo de internação do paciente, bem como com sua patologia orgânica e seus efeitos iatrogênicos, com questões de ordem pratica, como dificuldades do paciente e da família.
Para que nós, psicólogos, possamos adotar uma postura considerada ética é preciso pautar-se no Código de Ética Profissional do Psicólogo, agir dentro dos princípios éticos que valem a todos, que não priorizam crenças ou valores pessoais, agirem de acordo com os conceitos morais que permeiam a sociedade na qual está atuando. Devemos atender o paciente de forma a fazer-lhe bem e evitar qualquer prejuízo que possa ocorrer em virtude de sua intervenção.
A área da saúde necessita de um suporte na área de Saúde Mental, pois muitas vezes os profissionais que compõem a equipe não têm conhecimento do processo de um sofrimento que passa o paciente que procura ajuda, há uma dificuldade muito grande de empatia e trabalho continuado e focalizado no sujeito como um ser biopsicossocial que demandam atendimento nas mais diversas áreas, e a Saúde Mental é uma delas. O trabalho do psicólogo na área hospitalar deve acontecer de forma conjunta com a equipe: médicos, enfermeiros, agentes, técnicos e familiares dos usuários, para que possamos atender e acolher bem aquele que procura ajuda. O trabalho deve ser humanizado e se pautar sempre na ética e no compromisso com aqueles que confiam a nós profissionais da saúde a sua vida.
REFERÊNCIAS
ALAMY, Suzana.Ensaios de Psicologia Hospitalar– a ausculta da alma. Belo Horizonte: 2003. P. 18.
Barbosa S B, Alex. A Psicologia Hospitalar. Disponível em: <https://psicologado.com/atuacao/psicologia-hospitalar/a-psicologia-hospitalar> Acessado em: 22 fev 2019.
DIMENSTEIN, M.A Cultura profissional do psicólogo e o ideário individualista: implicações para a prática no campo da assistência pública à saúde. Estudos de Psicologia, (2000).
Compartilhe este conteúdo:
Profª é aprovada em Concurso para o Título de Psicologia Hospitalar
29 de maio de 2018 Laryssa Nogueira dos Anjos Araújo
Notícias
Compartilhe este conteúdo:
O resultado já foi homologado pelo CFP em diário oficial e Izabela Querido tirou a maior nota do concurso para área hospitalar
Em maio de 2018, foi divulgado em diário oficial a homologação do resultado final do XI concurso de provas e títulos para concessão do título de especialista em psicologia e seu respectivo registro. Dentre os aprovados, a profa. Me, do curso de psicologia do Ceulp/Ulbra, Izabela Almeida Querido foi para especialidade de Psicologia Hospitalar e teve a maior nota do concurso nesta área.
Fonte: https://goo.gl/kvLC3Y
Segundo o CFP, para obtenção do título de especialista as(os) psicólogas(os) devem estar inscritos há pelo menos dois anos no Conselho Regional de Psicologia e atender a um dos seguintes requisitos, conforme determina a Resolução do CFP nº 13/2007: a aprovação em concurso de provas e títulos e comprovação de dois anos de experiência profissional, como o caso da professora Izabela Querido; ou conclusão de cursos de especialização credenciados pelo CFP, e conclusão de cursos de especialização credenciados pelo MEC.
Quem é Izabela Almeida Querido?
Foto: arquivo pessoal.
Psicóloga. Professora Universitária. Mestre em Ensino na Saúde pela Faculdade de Medicina Universidade Federal de Goiás. Especialização em terapia cognitivo-comportamental aplicada a crianças e adolescentes e Especialização em Saúde Mental. Pesquisadora com ênfase nas áreas saúde e terapia cognitivo-comportamental.
Saiba mais
O Título Profissional de Especialista em Psicologia, embora não constitua condição obrigatória para exercício profissional, atesta o reconhecimento da atuação da psicóloga ou do psicólogo à determinada área da especialidade, qualificando a formação do profissional.
O assunto e suas especificidades são regulamentados pela Resolução CFP nº 013/2007. As especialidades concedidas atualmente são as seguintes: Psicologia Escolar/Educacional; Psicologia Organizacional e do Trabalho; Psicologia de Trânsito; Psicologia Jurídica; Psicologia do Esporte; Psicologia Clínica; Psicologia Hospitalar; Psicopedagogia; Psicomotricidade; Psicologia Social; Neuropsicologia; Psicologia em Saúde.