A relação entre psicologia da saúde, hospitalar e pediátrica

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O psicólogo trabalha em cima da prevenção da saúde mental de seus pacientes, acompanha casos onde haja necessidade de intervenção quanto a tratamentos, atende grupos de familiares, até mesmo funcionários do hospital.

A presença dos psicólogos na saúde pública foi influenciada em suma pela reforma sanitária e psiquiátrica que ocorreu na década de 1980. Foi um movimento que buscou mudanças essenciais no sistema de saúde a fim de melhores condições de vida para a população.  Dentre essas mudanças, almejava-se o não isolamento de indivíduos com algum distúrbio mental em manicômios, onde eram separados de suas famílias e excluídos da sociedade.

Como resultado dessa luta nasceu o Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de garantir o direito ao acesso à saúde de qualidade á toda a população, oficializado na Constituição de 1988, ao qual diz o seguinte: “Art. 196. A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (in: CONASEMS, 1990, p. 04).

O SUS trouxe uma ideologia do ser humano como um todo, um ser biopsicossocial não fragmentado, que necessita de saúde integral: física, psíquica, emocional; com práticas que vão desde a prevenção até o tratamento. Seu princípio é ser descentralizado, ou seja, as atitudes a serem tomadas devem ser baseadas nas necessidades de cada localidade ou região, visando suprir as demandas dessa população.

Fonte: encurtador.com.br/hJMVZ

A partir disto, surge como modelo de assistência à saúde o Programa Saúde da Família (PSF), com seus objetivos a serem descritos a seguir: “O programa Saúde da Família é um modelo de assistência à saúde que vai desenvolver ações de promoção à saúde do indivíduo, da família e da comunidade, através de equipes de saúde que farão o atendimento na unidade local de saúde e na comunidade, no nível primário […]” (Brasil, 1994, p. 02).

Com a visão do ser humano como um todo, a promoção da saúde no PSF deve ser feita por uma equipe multidisciplinar, descentralizando o trabalho médico e dando ênfase na pluralidade das diversas demandas direcionadas a outras áreas profissionais.  Essa equipe deve trabalhar integrada entre si, unindo seus conhecimentos para uma melhor qualidade de vida da população local.

Para a Organização Mundial de Saúde, a qualidade de vida apresenta uma natureza multifatorial, enfocando cinco dimensões: a psicológica, a física, as relações sociais, o meio ambiente e o nível de independência, que, nesse caso, corresponde aos aspectos de morbidade, dependência de cuidados médicos e de medicações, capacidade laboral e atividades diárias (Souza e Carvalho, 2003).

É aí que entra o papel do psicólogo. Não há como falar em saúde desassociando-a da saúde mental, uma é complementar à outra. A psicologia se mostra extremamente necessária dentro do PSF, pois ficam a cargo do profissional os princípios de prevenção e promoção da saúde mental e o tratamento de transtornos psíquicos de forma humanitária e digna junto à família e a comunidade, isso visando promover aspectos e práticas de uma vida saudável à população local, dando a cada indivíduo a consciência de agente da sua própria saúde. Ele deve estar atento também a questões que implicam ao meio social e às suas relações, tais como o uso de drogas, criminalidade, abusos sexuais, relações familiares e etc.

Fonte: encurtador.com.br/nwKP4

Segundo Ana Carol Pontes de França e Bartyra Amorim Viana, “há contribuições relevantes quanto à atuação do psicólogo no PSF de acordo com sua realidade, são elas: Assessoria na elaboração, implementação e avaliação permanente de ações em saúde pública junto à equipe multidisciplinar; Assessoria na elaboração de programas e atividades complementares, em áreas pertinentes à consecução do projeto em saúde, tais como: desenvolvimento emocional e relações interpessoais, orientação sexual, prevenção em relação ao uso de substâncias psicoativas, orientação vocacional e preparação para o trabalho, preparação para a aposentadoria, reorientação profissional, lazer, criatividade, etc; Elaboração e condução de programas de trabalho com grupos que contemplem a prevenção e a promoção da saúde mental da comunidade, objetivando a melhoria na qualidade de vida, a promoção da resiliência psicológica.” (PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2006).

A presença do psicólogo no PSF é essencial e mostra bons resultados quanto à promoção de qualidade de vida das comunidades. Com isso, vê-se a necessidade da continuidade dos trabalhos para superar os desafios presentes, em vista que o profissional deve estar atento à realidade da comunidade, às suas possibilidades e os seus limites, disposto sempre a oferecer um serviço de qualidade para a população.

Psicologia hospitalar

Alfredo Simonetti em seu livro, define a Psicologia Hospitalar como um campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento.  Que se dá quando o sujeito humano carregado de subjetividade se embarra com uma realidade antes não conhecida de natureza patológica denominada “doença”, presente em seu próprio corpo, produzindo uma infinidade de aspectos psicológicos que podem evidenciar no paciente na família ou na equipe de profissionais. Assim não se trata apenas de doenças psíquicas os chamados “problemas mentais” mas aspectos psicológicos de qualquer doença mesmo que seja física, pois existe certa subjetividade por trás de cada uma.

Segundo o autor, o foco da psicologia hospitalar são os aspectos psicológicos em torno do adoecimento e estão encarnados nas pessoas, pessoa do paciente, pessoa da família e pessoa da equipe de profissionais. Portanto, não esta ligado somente a dor e ao sofrimento daquele paciente, mas comportamentos notados de cada parte envolvida. Pois cada um deles tem um objetivo diante da doença, que varia entre (sintoma, como interesse do paciente em se livrar da doença; prognostico, como interesse da família em saber a gravidade dela; e diagnóstico, interesse do medico para iniciar o tratamento). E esses desencontros de objetivos precisam ser bem manejados pelo psicólogo hospitalar.

Fonte: encurtador.com.br/dryDE

A psicologia está interessada mesmo em dar voz a subjetividade do paciente, restituindo-lhe o lugar de sujeito que a medicina lhe afasta (Moretto, 2001). Ou seja enquanto que para a medicina as emoções, as fantasias e os sentimentos não tem nenhum sentido, pois olha somente para doença em si e quer esvaziar o paciente de toda essa subjetividade. Para a psicologia acontece o contrario, pois acredita que isso é fundamental no tratamento, uma vez que o corpo não funciona sozinho, precisa do sujeito, com suas ações.

Quando um paciente chega para internação, cada profissional sabe o seu papel o médico preocupa com a doença e seus sintomas, a enfermeira com o corpo e dá a medicação necessária, e o psicólogo somente com o “corpo simbólico” consegue fazer seu trabalho. Ou seja, usa aquilo que está além do corpo físico, em oculto e que poucos veem, mas que na maioria já até manifestou, através da doença. Porém, o único que percebe isso é o psicólogo, que vai usar seu maior instrumento de trabalho, fala e a escuta principalmente para resolver certas situações que só ele consegue.

Existem também aqueles pacientes que estão sedados, inconscientes, impossibilitados de falar, ou mesmo resistem ao atendimento. Ainda assim as palavras são eficientes, através dos códigos não verbais, gestos, olhares até mesmo o silêncio é valido e usado pelo profissional como uma espécie de interação entre eles e uma forma de descobrir a relação de tudo com os sintomas e a doença já instalada.

De acordo com a definição do órgão que rege o exercício profissional do psicólogo no Brasil, o CFP (2003a), o psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar tem sua função centrada nos âmbitos secundário e terciário de atenção à saúde, atuando em instituições de saúde e realizando atividades como: atendimento psicoterapêutico; grupos psicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia; atendimentos em ambulatório e unidade de terapia intensiva; pronto atendimento; enfermarias em geral; psicomotricidade no contexto hospitalar; avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico; consultoria e interconsultoria.

Fonte: encurtador.com.br/iqrHP

Além disso, o psicólogo dá apoio a equipe multidisciplinar. Casos em que médicos e enfermeiros não conseguem resolver. Por exemplo, a relação com o paciente quando ele recebe uma noticia inesperada, ou um diagnóstico, e se desespera diante de uma medida radical que precisa ser tomada pelo enfermo, como parte necessária do tratamento e, contudo pode escolher por não aceitar. É o caso da amputação de membros do corpo, cirurgias arriscadas, remédios fortes, casos de dependentes químicos que não conseguem largar o vicio. Assim mais uma vez entre em cena o psicólogo hospitalar com sua especialidade no campo das palavras com a orientação necessária e na maioria das vezes bem sucedida.

Há controvérsias e criticas em relação a área, Yamamoto e Cunha (1998) argumentam que o hospital é um local, e não um campo de atuação, o que torna pouco defensável sua classificação como área de atuação. No segundo, Yamamoto, Trindade e Oliveira descartam a denominação Psicologia hospitalar por duas razões: a primeira, a inadequação do uso de um local de trabalho para designar uma área de atuação, e a segunda é que a identificação por local tende a pulverizar e a fragmentar o campo profissional da Psicologia, tornando muito difícil a construção de uma identidade de profissional de saúde para o psicólogo que atua no contexto hospitalar.

Psicologia Hospitalar x Psicologia da Saúde

Chiattone (2000), que diz que a Psicologia Hospitalar é apenas uma estratégia de atuação em Psicologia da Saúde, e que, portanto, deveria ser denominada psicologia no contexto hospitalar. Segundo a definição de Kern e Bornholdt (2004) e também de Chiattone (2000)[1] , a atuação do psicólogo da saúde é principalmente na área hospitalar, mas também pode ser feita em campanhas de “promoção da saúde“, educação em saúde mental, em pesquisas e aulas nas universidades por exemplo. Logo, todo psicólogo hospitalar é psicólogo da saúde mas nem todo psicólogo da saúde é hospitalar.

Logo a psicologia hospitalar é responsável por recolocar o indivíduo diante da doença que já está instalada, e acompanha-lo durante o tratamento externo fazendo as orientações e o acolhimento necessário.

Fonte: encurtador.com.br/rsBCJ

Psicologia Pediátrica

Dentro da psicologia da saúde existe a psicologia pediátrica que é uma área específica a ser trabalhada com crianças e adolescentes, com aplicabilidade clínica. Ambas foram reconhecidas no mesmo ano, 1978. Em seu âmbito profissional ele pode lidar tanto com a criança como com os pais da criança e outros técnicos da saúde.

“Fazem parte do âmbito do trabalho do Psicólogo Pediátrico:

– Perturbações do desenvolvimento associadas a fases específicas, ou simplesmente situações reativas, como as perturbações alimentares, sono, separação/individuação, dificuldades de socialização à entrada para a infantaria ou escola, etc.;

– Problemas neonatais (incluindo a prematuridade, malformações congénitas, morte neonatal, etc.);

– Situações de não progressão ponderal; anorexia; suicídio, maus tratos;

– Doença crónica (asma, artrite reumatoide, insuficiência renal, diabetes, lúpus, fibrose quística, epilepsia, HIV pediátrico, etc.);

– Situações traumáticas (queimaduras, traumatismos cranianos e vertebro-medulares);

– O desenvolver e implementar campanhas de prevenção e promoção para a saúde de todo o tipo como as de acidentes de viação, consumo de tabaco, etc.”

Existem três formas de atuação deste profissional. A primeira delas é a consulta indireta, onde ele aplica uma ação auxiliar ao trabalho do médico apenas quando é solicitado, sem muitas intervenções, apenas pareceres e recomendações.

A segunda forma é a consulta com colaboração onde ele aplica ações interventivas, são estas ações que facilitam e complementas as ações do médico, como por exemplo em casos que o paciente não quer aderir ao tratamento. E por último o terceiro modelo que não é muito descrito em livros de psicologia pediátrica, pois não é muito usual, é quando o psicólogo atua por própria conta, sem precisar de solicitação da equipe multidisciplinar.

Fonte: encurtador.com.br/fkov6

Um aspecto interessante da psicologia pediátrica é que é necessária uma especialização da parte do profissional para atuar nesta área. Os psicólogos especialistas em área clina, por exemplo, não apresentam muita aproveitabilidade nesta área, pois eles costumam agir de forma isolada, o que prejudica a integração com a equipe e a colaboração interdisciplinar.

Um dos maiores papeis do psicólogo pediátrico talvez seja a de ensinar aos pais seu papel de prevenção da saúde mental da criança, os efeitos da doença física para ela, entre outros aspectos importante do desenvolvimento infantil de cada etapa da infância.

A chegada dos psicólogos para o âmbito da saúde facilitou muito o trabalho das pessoas desta área, pois “uma significativa percentagem dos pacientes que recorrem a serviços de pediatria tem apenas problemas psicológicos ou uma mistura de problemas físicos e psicológicos (Duff, Rowe, & Anderson, 1973; McCleland, Staples, Weisberg, & Bergen, 1978; Wright, 1979).

Nota-se a grande diversidade de área de atuação mesmo dentro de uma área da psicologia. Um dos maiores desafios do psicólogo na atualidade é identificar estas “brechas” onde sua atuação é necessária e conquistar seu espaço no mercado de trabalho.

No âmbito da psicologia da saúde percebe-se que o psicólogo não atua apenas para “dar notícias ruins”, o psicólogo trabalha em cima da prevenção da saúde mental de seus pacientes, acompanha casos onde haja necessidade de intervenção quanto a tratamentos, atende grupos de familiares, até mesmo funcionários do hospital.

Outro aspecto importantíssimo é ressaltar o trabalho interdisciplinar para os demais profissionais que atuam em conjunto com o psicólogo para reestabelecer a saúde de seus pacientes. Esse trabalho em conjunto é de extrema importância quando se está trabalhando em prol do bem de outras pessoas.

REFERÊNCIAS:

Belar, C., & Deardorff, W. (1995). Clinical health psychology in medical settings: Practitioner’s guidebook. American Psychological Association. DeLeon, P., Pallak, M., & Hefferman, J. A. (1982). Hospital health care delivery. American Psychologist, 37, 1340-1341.

Dorken, H., Webb, J., & Zaro, J. (1982). Hospital practice of psychology resurveyed: 1980. Professional Psychologist, 13, 814-829.

Drotar, D. (1993). Psychological perspectives in chronic childhood ilness. In M. C. Roberts, G. P. Koocher, D. K. Routh, & D. J. Willis (Eds.), Readings in

pediatric psychology. New York: Plenum Press. Duff, R., Rowe, D., & Anderson, F. (1973). Patient care and student learning in a pediatric clinic. Pediatrics, 50, 839-846.

SIMONETTI ( 2004) Manual de Psicologia Hospitalar. São Paulo: Casa do Psicólogo. p. 09-25

Moreto, M. L. T. A problemática da inserção do psicólogo na instituição hospitalar. Revista de Psicologia Hospitalar, v. 9, n. 2, 1999. p.19-23

CFP – Conselho Federal de Psicologia . Página oficial da Instituição, 2003.

 Yamamoto, O., & Cunha, I. (1998). O psicólogo em hospitais de Natal: uma caracterização preliminar. Psicologia: Reflexão & Crítica, 11(2), 345-362.

KERN, E. C.; BORNHOLDT E. Psicologia da saúde x Psicologia Hospitalar: definições e possibilidades de inserção profissional. Disponível em: [1] (23/01/2010)

CHIATTONE, H. B. C. A Significação da Psicologia no Contexto Hospitalar. In Angerami-Camon, V. A. (org.). Psicologia da Saúde – um Novo Significado Para a Prática Clínica. São Paulo: Pioneira Psicologia, 2000, pp. 73-165.

CONASEMS, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde 1990, p. 04.

SANTILLO, Ministro da Saúde Henrique. Em despacho, Brasil, 1994, p. 02.

SOUZA, Rafaela Assis de & CARVALHO, Alysson Massote. Programa de Saúde da Família e Qualidade de Vida: um Olhar da Psicologia. Natal : Estud. Psicol., vol. 08, n. 03, pp. 515 – 523, dez. 2003, ISSN 1413 – 294X.

FRANÇA, Ana Carol Pontes de & VIANA, Bartyra Amorim. Interface psicologia e programa saúde da família – PSF: reflexões teóricas. Psicol. cienc. prof. vol.26 no.2, Brasília, Junho de 2006.

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O SUS e a formação profissional

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O presente relato é fruto de minha experiência no SUS (Sistema único de Saúde). Para início de conversa vou falar um pouco da formação acadêmica vivenciada na primeira turma de Psicologia do CEULP/ULBRA Palmas. Na grade curricular não existiam disciplinas diretamente relacionadas ao SUS. Apesar de o nosso curso ter se iniciado em 2000 a discussão sobre a formação dos profissionais de saúde é bem mais antiga.

A história começa há algumas décadas, pois a partir da instalação do Conselho Federal de Educação, fica definida a tramitação para a autorização de funcionamento dos cursos superiores. A Lei Federal n° 5.540, de 12/11/1968 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Superior), definiu o conceito de currículo mínimo, o que deu espaço para a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei Federal n. 9.394, de 20/12/1996. O currículo mínimo, em regime disciplinar, representava um conjunto de estudos e atividades correspondentes a um programa de formação que deveria ser desenvolvido seguindo critérios pré-fixados. Em 1997, em decorrência da nova LDB, esse arranjo disciplinar começou a ser revisto (CECCIM; CARVALHO, 2006).

Fonte: https://goo.gl/C7WCDt

Entre 2001 e 2004, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação da área de saúde, considerando as necessidades sociais da população, a integração com o SUS, a prevenção e promoção da saúde e a humanização, entre outros aspectos (CECCIM; CARVALHO, 2006).

A minha graduação se deu em 2005 e fui aprovada no mesmo ano em dois concursos públicos como Psicóloga, no Estado do Tocantins e no Município de Palmas. No Estado fui lotada no IML, onde já trabalhava antes como Assistente Administrativo. Na prefeitura primeiramente fui lotada em Taquaralto e depois na Policlínica do Aureny I. Essa unidade de saúde, ambulatorial de especialidades, já contava com psicólogos desde 1998. Essa experiência foi impactante, apesar de ter feito estágios numa unidade de saúde enquanto acadêmica, na função profissional fiquei muito perdida, pois tudo que tinha visto na faculdade era muito diferente dos desafios profissionais da minha realidade. Em Taquaralto eu dividia a sala com o serviço social e a passadeira, o armário não trancava, a mesa não possuía mais as gavetas, as cadeiras rasgadas, as paredes da sala contava com janelas de vidros enormes e não possuía cortinas, sendo atravessada pelo calor ardente do sol tocantinense. A fila de espera de pacientes para atendimento psicológico era tão gigantesca, sinceramente eu não soube o que fazer. A antiga psicóloga fui informada que teria levado os arquivos para casa por não ter onde guardar. Nessa situação eu pedi um prazo para iniciar e fui embora, fiquei com vontade de não voltar mais. Na verdade, não dormi a noite inteira.

No dia seguinte me ligaram dizendo que havia surgido uma vaga na Policlínica do Aureny I. Ao chegar à Policlínica havia um consultório apenas para psicólogo, uma das minhas professoras da faculdade, Kathia Nemeth Perez já atuava no local como psicóloga, me orientou no que eu precisava. Conseguimos montar um serviço que em menos de seis meses se tornou referência de atendimento ambulatorial para a Capital, havia diálogo entre as profissionais, porém vivíamos muitas dificuldades materiais, institucionais e profissionais. Um dos norteadores de nossa ação foi à criação de protocolos de atendimentos, que esclareciam as funções e metas do trabalho específico de psicologia na unidade. Em paralelo a esta atividade municipal, participei como representante do CRP-09 no Conselho Municipal de Saúde, como trabalhadora e esta experiência foi importante para consolidar minha compreensão do sistema único de saúde, vencendo embaraços, incompreensões e o movimento contraditório de várias tendências que discutem nessa instancia representativa de governo, usuários e trabalhadores, não somente toma ciência, mas delibera sobre as ações de saúde do município de Palmas.

Policlínica do Jardim Aureny I. Fonte: https://goo.gl/WMxUYz

Mesmo assim as dificuldades eram muitas e desafiadoras, por isso procurei me especializar, onde me dediquei a duas especializações, uma em Saúde Pública com Ênfase em Saúde Coletiva e da Família pelo ITOP e outra em Processos Educacionais em Saúde, pela FIOCRUZ.

Permaneci na prefeitura durante três anos, concomitante ao trabalho desenvolvido no IML como psicóloga. Por motivos pessoais houve uma mudança de município para Gurupi e no novo local, optei em pedir a exoneração do cargo da prefeitura. Quanto ao Estado foi possível uma transferência e fui lotada no Hospital Regional de Gurupi.

No novo município participei de uma seleção para professor na UNIRG e me tornei professora das disciplinas de Saúde Pública, entre outras. Na área hospitalar a partir dessa nova experiência em Gurupi, procurei e realizei diversos cursos de formação. Permaneci em Gurupi de 2008 até o ano de 2017.

Ao retornar para Palmas no ano de 2017, fui lotada pelo Estado no Hospital Infantil de Palmas, onde permaneço atuando como Psicóloga e participei de uma seleção para preceptor do PET (Programa de Educação pelo Trabalho). Nos dias atuais faço parte do grupo de psicologia (no PET) e no ampliado da região Xerente. Espero ainda poder contribuir com o SUS, nas atividades atuais no nível hospitalar público e com o PET, pois o SUS para mim é o melhor sistema de saúde, apesar de necessitar de muitos ajustes do setor governamental.

Fonte: https://goo.gl/wVPSMD

REFERÊNCIAS:

 BRASIL, Ministério da Educação. Lei n° 9.394/1996. Estabelece as diretrizes e Bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso em: 02 Jan. 2018.

CECCIM, R. B.; CARVALHO, Y. M. Ensino da saúde como projeto da integralidade: a educação dos profissionais de saúde no SUS. In: PINHEIRO, R.; CECCIM, R. B., MATTOS, R. A. (Org.). Ensinar Saúde: a integralidade e o SUS nos cursos de graduação na área da saúde. 2.ed. Rio de Janeiro: IMS/UERJ: CEPESQ: ABRASCO, 2006. p.69-92.

 

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Psicologia da Saúde: Contextos e Áreas de Intervenção

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No primeiro capítulo do livro “Psicologia da Saúde” de José A. Carvalho Teixeira, de início é abordado o conceito de saúde de acordo com a Organização Mundial de Saúde- OMS. De forma objetiva, é apresentado como sendo “um estado positivo de bem-estar físico, social, psicológico, econômico e espiritual, e não apenas uma ausência de doenças”. Destacando que há fatores de interferências como: contexto social, econômico, sexo, hereditariedade e condições de trabalho. O texto relata a importância das experiências individuais do sujeito no processo saúde-doença.

O autor traz uma definição para Psicologia da Saúde, como sendo: “A aplicação de técnicas e conhecimentos psicológicos à saúde, doenças e aos cuidados de saúde”. Um dos seus objetos de estudo é o sujeito psicológico e suas relações com a saúde e doença, ou seja, essa ciência visa compreender os impactos dessa interação do indivíduo psicológico com esse processo saúde-doença, como se dá essa relação, e a compreensão do indivíduo dentro desse processo, buscando compreender a maneira como isso pode afetar sua vida e seu bem-estar. Levando em consideração que à Psicologia da Saúde procura compreender como as intervenções psicológicas podem proporcionar melhorias e qualidade de vida desse sujeito e da comunidade como um todo.

Desse modo, o autor destaca que à Psicologia da Saúde não é uma mera aplicação de técnicas da psicologia clínica, mas uma união de saberes da Psicologia, com intuito de melhorar a relação do ser humano com o processo de adoecimento, na sua busca por saúde, bem-estar e a manutenção dessa condição.

Diante disso, o autor traz uma abordagem de duas perspectivas da Psicologia da Saúde: perspectiva tradicional e a perspectiva crítica. Dentro da perspectiva tradicional, o nível dessa análise é intrapessoal e interpessoal, ou seja, o foco da intervenção é individual. Enquanto que à crítica vem trazer uma proposta qualitativa, o indivíduo como ser social, afetado por ele, o foco da intervenção está nas competências pessoais e sociais dos utentes.

A perspectiva crítica defende alguns valores, assunções e práticas. Assim, entende-se que deve haver uma preocupação com a autonomia do sujeito, com sua participação e envolvimento social. Como assunções, é possível compreender que o sujeito é interpretado como um ser participativo na constituição do processo de saúde, levando em consideração à subjetividade desse indivíduo, não retendo e limitando as determinações e conhecimentos dos profissionais de saúde. Quanto às práticas dessa perspectiva, o autor destaca a importância de serem voltadas para intervenções proativas, considerando os contextos nos quais os usuários estão inseridos.

Fonte: goo.gl/MdqTg5

O envolvimento da comunidade reforça a cidadania valorizando o indivíduo, tornando-o protagonista do processo “fazer saúde”. Teixeira (2007) ressalta muito bem isso ao decorrer do capítulo, valorizando o Homem como ser participativo de todo o processo saúde-doença, abordando de forma qualitativa essa relação, transportando-nos do patamar reducionista para um “fazer psicologia” humanizado e participativo.

Em paralelo a isso, Teixeira (2007) aborda algumas possibilidades de atuação do psicólogo da saúde. O texto fala das possibilidades de atuação no âmbito privado e público, sendo equiparado com outras atuações como: médicos, enfermeiros, técnicos sociais e demais profissionais do campo. Universidades, formação, setores do Ministério da Saúde ligados ao planejamento e gestão, são algumas das possibilidades de atuação que o autor salienta. Porém, ressalta que a consulta psicológica ainda é o pilar fundamental da intervenção com usuários.

Em continuação, o autor relata sobre avaliação psicológica em saúde, destacando que o papel fundamental dessa metodologia é: promover saúde e orientar as pessoas e identificar futuros passos para continuação do atendimento ao usuário.  Desse modo, deve se ater durante a avaliação à fatores como, por exemplo, o modo como o indivíduo lida com a situação, os fatores de risco que permeiam o processo de adoecimento. Essas atitudes profissionais são de muita relevância no atendimento, pois, possibilita ao profissional visualizar amplamente as possibilidades de inter-relações múltiplas.  

Fonte: goo.gl/zsijyd

O texto demonstra que entre as múltiplas tarefas do psicólogo em saúde, a intervenção psicológica de gestão em stress, treino em autocontrole, eficácia no coping e técnicas de relaxamento são primordiais para o processo de enfrentamento ao tratamento por parte dos usuários. As intervenções psicológicas clínicas devem ter por base as três áreas significativas, sendo elas: promoção e prevenção à saúde, na qual se destaca a prevenção ao tabagismo, álcool e outras drogas, comportamento sexuais de riscos, hábitos alimentares saudáveis. Outro ponto importante é: os efeitos do stress sobre a saúde, sendo o profissional responsável por promover estratégias melhorias e/ou condições com procedimentos médicos, gestão do stress, adaptação do processo de adoecimento, atenção, cuidados e aceitação do tratamento.

Por último, Teixeira (2007) propõe a prestação de cuidados psicológicos a indivíduos com perturbações mentais, orientando o  acesso em programas de reabilitação, estilo de vida saudáveis, aconselhamento psicológico, entre outros meios que possibilite este indivíduo a obter melhores condições de vida.

Outras formas de intervir são relatadas no texto. Para ele, o profissional pode trabalhar de forma individual, familiar e social, com objetivo sempre de prestar a atenção ao indivíduo e ajudá-lo no enfrentamento do processo saúde/doença. O psicólogo em saúde deve ser um facilitador de desenvolvimento de estilos de vida saudáveis, a ele deve-se o papel de levar informações que dê suporte às pessoas a compreender o processo de adoecimento, e a desenvolverem ferramentas para combater às adversidades do momento.

Fonte: goo.gl/GRsqCQ

A esse profissional espera-se uma compreensão da gênese e manutenção dos comportamentos da saúde, estudos de relações entre comportamentos e doenças, além de  promoção da saúde e prevenção de doenças.

Esses métodos de investigação podem ser qualitativos ou quantitativos. No entanto, essas investigações devem colaborar com os demais profissionais de saúde e centrar nas necessidades dos serviços, priorizando a análise do discurso e das narrativas. Em continuidade o autor faz uma correlação com outras atividades já existentes, como: prevenção de doenças isquêmicas do coração, hipertensão arterial, diabetes e demais doenças crônicas, destacando que tais projetos de prevenções dessas doenças são importantes, mas os profissionais ainda devem se atentar para aspectos psicológicos existentes ligados a prevenção de tais doenças.

Em um dos seus últimos tópicos Teixeira (2007) vem abordar as questões de organização e qualidade de vida em psicologia da saúde, a existência de diferentes contextos de intervenções, e a necessidade de estabelecer prioridades na organização. Desse modo, é importante que o psicólogo de saúde estabeleça meios de contribuição para os profissionais da área descobrir suas próprias motivações para o trabalho, e entre outros, meios de compreender as frustrações, flexibilidades e capacidade de trabalhar com situações mais complexas.

Fonte: goo.gl/yr4Eff

Ainda é de responsabilidade do psicólogo promover meios que facilitem a comunicação entre profissionais e usuários do sistema. Sendo assim, é preciso garantir o cuidado dos aspectos psicológicos dos utentes, prestados nos serviços de saúde. É necessário que esses cuidados se prendam com base nos princípios de melhorias contínuas que é composto por quatros aspectos importantes: papel profissional, plano de atividades, formação contínua e melhoria contínua da qualidade.

Logo em seguida, Teixeira apresenta o  papel do profissional, como sendo importante para um bom funcionamento das organizações, contribuindo significativamente aos objetivos dos serviços de saúde. É imprescindível que o plano de atividades de intervenções psicológicas atenda aos recursos dos profissionais do serviço

 Por fim, o autor conclui dizendo o quanto é importante o exercício da psicologia em unidades de saúde. Ressaltando que serviços em comunidades, escolas, locais de trabalho, e unidades de saúde são grandes mecanismos e oportunidades de promover saúde, comunicação em saúde, cuidado e atenção aos grupos mais vulneráveis. Por tanto, torna-se importante que o psicólogo em saúde estabeleça meios que proporcionem humanização e qualidade nos serviços de saúde.

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

Fonte: goo.gl/KxxNrJ

Título: Psicologia da Saúde Contextos e Àreas de Intervenção
Autor: José A. Carvalho Teixeira
Editora: Climepsi Editores
Ano: 2007
Páginas: 269

 

REFERÊNCIA:
TEIXEIRA, José A. Carvalho. Psicologia da Saúde: Contextos e Áreas de Intervenção. Lisboa, Portugal: Climepsi Editores, 2007. 269 p.

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Estágio em Ênfase Hospitalar: experiências de uma estudante de psicologia

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15/08/2016

Primeiro dia em que entrei na UCI, primeiro dia em que vi a vida de uma maneira tão incomum, a vida tangenciando a morte, a vida em sua etapa final, a vida ressignificando outras vidas de maneira tão própria e única. Embalados pelo som (bip… bip, bip) dos aparelhos, vi pacientes que carregam uma história, com personagens importantes, e, no entanto, estão totalmente dependentes e a mercê do cuidado do OUTRO, o outro que não é família, que não é amigo, mas o OUTRO que é ser humano e portador da mesma matéria-prima, a natureza. O OUTRO cuida, zela e luta junto com o sujeito pela melhor condição de vida, dentro do possível.

Impossível não se deparar com histórias que, de certa forma, também são suas. Revivi algumas tristezas e como foi difícil segurar o choro e a vontade de abraçar e acalentar os familiares que ouviam notícias tristes sobre seus amados. A expectativa e vontade de ajudar só crescem dentro de mim.

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Fonte: http://migre.me/vwPp3

29/08/2016

O Hospital Geral de Palmas passa por um momento muito complicado e de completo caos, a ponto de existir manifestações no próprio hospital e de faltar recursos básicos como comida, luvas, álcool em gel e outros materiais. Foi nesse cenário de calamidade que percebi a necessidade de uma conduta criativa para lidar com a situação. Vi quanto amor os profissionais demonstram por seus trabalhos, chegando até a “tirar do bolso” para não fragilizar ainda mais a situação de pessoas e familiares que estão em sofrimento pela hospitalização.

31/08/2016

O clima estava pesado porque havia uma iminência de morte e os familiares se revezavam para se despedirem de alguém importante em suas vidas. Ficamos próximas para suporte à família, caso nossa ajuda fosse solicitada.

O choro de desespero pelo sofrimento de perder alguém, ainda é e acredito que será por muito tempo, a situação que me evoca ao choro também. Sei que é preciso equilíbrio para se manter firme o suficiente como suporte de ajuda psicológica, mas esse sofrimento de compaixão me deixa feliz pelo fato de não perder de vista o que há de sensibilidade humana em mim.

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Fonte: http://secom.to.gov.br

14/09/2016

Hoje foi muito especial. Uma mulher, familiar de um homem que faleceu na UCI, foi muito gentil ao agradecer pelo serviço prestado pela equipe de psicologia. Foi um momento inspirador que me trouxe um sentimento de gratidão por ter a oportunidade de ajudar pessoas em sofrimento. Foi emocionante e, cada vez mais, percebo-me como uma psicóloga hospitalar.

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Tocantins sediará I Encontro Estadual de Psicologia Hospitalar

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Ocorrerá no dia 19 de novembro de 2016 o I Encontro Estadual de Psicologia Hospitalar em Palmas – Tocantins, no Mini Auditório do Complexo Laboratorial do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), das 8 às 12 horas.

A programação contará com a palestra “O Viver e o Morrer”, com a psicóloga Edirrah Gorett Buscar Soares (Hospital do Câncer de Barretos), e a apresentação dos trabalhos “Protocolos e Rotinas em Psicologia Hospitalar” e “Dimensionamento da Força de Trabalho do Psicólogo no Hospital”.

O evento, que será realizado pela Comissão Especial de Psicologia Hospitalar do CRP-23, tem como objetivo promover momento de debate sobre a atuação do psicólogo hospitalar no contexto das políticas públicas.

As inscrições podem ser realizadas pelo link. Mais informações podem ser adquiridas no site.

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Psicologia Hospitalar e cuidados intensivos

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No quarto dia da primeira Semana Acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, houve uma mesa redonda com profissionais psicólogos ligados a saúde hospitalar, a partir do seguinte tema: O psicólogo hospitalar na atualidade. Três componentes da mesa trabalham no Hospital Geral de Palmas.

Uma das profissionais focou no tema dos psicólogos hospitalares em unidades de cuidados intensivos. As unidades de cuidados intensivos só atendem pacientes em estado grave ou em casos de risco da própria vida. Desse modo, é preciso primeiramente uma mão de obra qualificada e aparelhos sofisticados.

Quando o paciente é enviado a essas unidades, é de maneira abrupta. Isso acarreta um alto nível de estresse e descontentamento. O ambiente é muito iluminado, confinado e estressante. O enfermo não tem privacidade e geralmente possui pouca relação com os profissionais da saúde, pois há troca constante deles devido ao excesso de testes.

Em uma análise psicológica do estado mental do doente nesta situação, os profissionais disseram que os mesmos se encontram com medo, impacientes, inseguros quanto à recuperação, ansiosos devido aos procedimentos e à falta de comunicação. É a partir desse momento que o profissional da saúde mental deve abordar e estudar a condição do paciente. A partir do seu histórico familiar, social, econômico e trajetória de vida, o psicólogo atende e tenta auxiliá-lo neste processo.

A profissional apresentou aos ouvintes algumas diretrizes necessárias para a assistência psicológica em unidades de cuidado. Ele deve promover o acolhimento do paciente, identificar os aspectos psicossociais a partir de entrevistas e do seu histórico de vida. Tentar minimizar os agentes estressores e geradores de ansiedade. Avaliar a partir da visão do enfermo a gravidade da doença para ele e como reage sobre esta problemática.

hqdefaultFonte: http://nunesjanilton.blogspot.com.br/2016/06/psicologia-hospitalar.html

Os objetivos principais do psicólogo nestas unidades são o alívio da angústia, o favorecimento da melhora da qualidade de permanência nestes locais. Compreender as crenças e os sentimentos deles; enxergar o paciente não como doença, mas sim como indivíduo dotado de singularidades. Eles geralmente apresentam ansiedade e temor dos resultados dos testes; agitação psicomotora; insegurança; medo e impotência; agressividade, depressão ou delírio, além de desequilíbrio psicológico pelo prolongamento da internação, entre outros.

Muitas vezes a gravidade da doença para o paciente é encarada de forma diferente para a família. E em vários casos, eles não podem interagir verbalmente devido a estar debilitados e limitados a aparelhos. Desse modo o psicólogo deve promover meios em que haja gestos ou outras maneiras que estabeleça a comunicação. Também há situações em que o enfermo não reage a nenhum tipo de comunicação devido ao seu estado final de vida.

O psicólogo tenta promover a melhor interação entre o paciente, profissionais e familiares. Esta tríade deve estabelecer a comunicação saudável a partir da compreensão da gravidade da enfermidade. As unidades intensivas são ambientes propícios para discussões familiares e de grande tensão.

O acolhimento é hospedar, receber, dar crédito, atender, escutar os pacientes e familiares. A partir disso cria-se a demanda para iniciar o processo de acolher o doente.  O caso do enfermo é mais crítico porque é bombardeado a todo o momento por estar submetido a vários procedimentos e profissionais.

O psicólogo atua como facilitador de fluxos emocionais; ele tenta estudar a subjetividade do paciente e resgatá-la; tenta recuperar sua identidade como indivíduo. Ele também procura denunciar a finitude do ser humano, pois obedecemos a um ciclo inevitável, que é nascer, desenvolver-se e falecer. Tal compreensão facilita a aceitação da doença.

1427801417_10Fonte: http://www.noarnoticias.com.br/noticias/Setrem-promove-8-Jornada-de-Psicologia/3417

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O psicólogo hospitalar na atualidade

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Durante a 1ª Semana Acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, fui assistir à mesa-redonda realizada em 24/08. Achei muito enriquecedora, pois abordou um tema muito importante, a atuação do psicólogo hospitalar na atualidade. Através das falas dos convidados pude conhecer mais sobre esse campo de atuação, e entender melhor, pois foi falado da atuação do psicólogo no hospital em vários setores.

Começamos com a psicóloga Izabela, falando sobre a atuação nas Unidades de Tratamento Intensivo. Ela nos explicou que muitas vezes o atendimento é feito só com os familiares, pois o paciente está por algum motivo impedido de se comunicar, e que é um trabalho árduo, pois sabemos que os pacientes que estão nessa ala são pacientes em estado grave, muitas vezes sem nenhuma esperança de recuperação, apenas à espera da morte. E por esse motivo é necessário que além do médico, haja também um psicólogo acompanhando a família, ajudando a entender e aceitar aquela situação.

Nos casos em que o paciente, mesmo estando nessa ala, pode se comunicar, o psicólogo age diretamente com ele. Izabela nos explicou que esse atendimento é muitas vezes bem complicado, pois mesmo o paciente estando consciente, ele pode não conseguir falar, e ainda assim o psicólogo tem que se manter ali, dando assistência ao paciente. Muitos desses pacientes estão ali, já sem esperança de cura, mas é importante que se mantenha a fé na cura, e o psicólogo está ali também para incentivar isso.

Muitas vezes o psicólogo não pode sair do Hospital, nem mesmo para seu descanso, eles têm que descansar ali mesmo, fazendo desse trabalho por vezes cansativo para o profissional, que além de ajudar o paciente e seus familiares, tem que buscar manter-se bem para exercer seu papel com bom desempenho.

A psicóloga Marilia trouxe para nós sua experiência atuando na maternidade. Foi também muito enriquecedora e importante sua fala. Ela nos explicou como uma psicóloga age em diversas ocasiões nessa ala. Como quando a mãe chega para ter ser bebê, e é internada, muitas vezes sem acompanhante, isso causa estresse a ela, cansaço, e o psicólogo está ali para apoiar. Quando o bebê nasce, a primeira coisa que as mães querem é pegar seu bebê e ir para casa, mas nem sempre isso é possível.

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Fonte: http://www.suprema.edu.br/2014/equipe-de-ginecologia-e-obstetricia

Mesmo a mãe estando saudável e podendo sair do hospital, o bebê pode precisar de mais alguns dias ali, em observação, sendo medicado, muitas vezes, por nada grave, mas que inspira cuidados. E a mãe, por já estar cansada daquele ambiente, quer ir embora e levar o bebê, porque acredita que em casa, ela será capaz de cuidar como ele precisa e sanar o problema. Então entra o psicólogo, agindo de forma que apoie a mãe, e demonstre entender seu desejo de ir embora, mas explicando para ela que o bebê ainda precisa ficar ali, e que ali ele será mais bem assistido, cuidado, muitas vezes até fazendo a mãe mudar de ideia e aceitar ficar. Há também os casos em que o bebê nasce e precisa ir para o UTI neonatal. Como o paciente é um bebê, a ação dos psicólogos nesses casos é sempre com os pais, ajudando a entender a situação e aceitar.

Quando há casos de morte, não cabe ao psicólogo informar aos pais, mas sim ao médico. Já houve, e ainda há uma discussão em torno disso, muitos médicos acham que esse papel, o de informar óbito é do psicólogo, mas já está confirmado que isso é papel exclusivo do médico. Pois os pais vão querer saber como, por que, e isso não cabe ao psicólogo explicar, ele nem teria informações para isso. Ao psicólogo, nesses casos, cabe o papel de apoiar os pais, sempre na busca da aceitação, é um trabalho difícil, pois os pais já estão fragilizados pelo parto, e tudo que envolve esse momento, mas é preciso que haja a aceitação.

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Fonte: http://noticias.r7.com/empregos/noticias/dia-do-psicologo-profissionais

Em minha opinião, esse debate foi de enorme importância para nós, acadêmicos, nos permitiu conhecer mais sobre essa área de atuação, suas dificuldades, e também a recompensa, quando tudo “acaba” bem.

Para nós, enquanto estudantes, é necessário conhecer ao menos um pouco, sobre cada abordagem, cada área de atuação, para que na hora de fazermos nossas escolhas, de onde e como atuar, possamos ir com mais segurança, pois sabemos que o trabalho de um psicólogo não é nada fácil. E para que possamos exercer nossa profissão da melhor forma possível, é necessário que saibamos onde estamos, e que tenhamos segurança para atuar ali.

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Atendimento psicológico a pacientes com doenças infectocontagiosas

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A 1ª Semana Acadêmica de Psicologia foi uma experiência marcante em minha vida acadêmica. Aproveitei ao máximo tudo que estava sendo oferecido. Participei de oficinas, de palestras, conheci pessoas interessantes, fiz amizades, troquei experiências, enfim, foram momentos de grande aprendizado. Na oficina ministrada pela enfermeira e aluna de psicologia Renata Bandeira, no dia 24/08 às 14hs, que traz por título: Precaução no Atendimento Psicológico à Pacientes com Doenças Infectocontagiosas foi pra mim a que mais marcou. O conteúdo proposto foi extremamente importante, referiu-se aos cuidados básicos de limpeza, como também os mais extremos, referentes às contaminações graves em um ambiente hospitalar. Essa oficina estava voltada ao psicólogo hospitalar, sua práxis nesse contexto de doenças infectocontagiosas.

A compreensão desse ambiente é extremamente relevante, visto que se trata de um contexto de doença que por vezes são desconhecidas e exigem cuidados. Fiquei atenta a tudo que era explicado, tendo o cuidado de não deixar passar nada, é um tema muito interessante. O que mais me intrigou foi quando a Renata relatou que alguns psicólogos rejeitaram a atender pacientes com doenças infectocontagiosas. Entender a etiologia da doença é crucial, conhecer o ambiente o qual trabalha é um dos pré-requisitos básicos para que sua prática não se resuma a um modelo ultrapassado, e quando se depara com o desconhecido, recua em vez de buscar conhecer o processo dinâmico da doença, deixando o paciente que já está fragilizado fisicamente, sem atendimento psicológico.

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Fonte: http://www.biotipopsicologia.com.br/novosite/index.php/psicologia/acompanhamento-hospitalar

O desconhecido traz preconceito, medo, indiferença, sentimentos estes que nos faz retroceder em vez de avançar.  Na atualidade, penso que essa atitude esteja ultrapassada, existem tantos meios de informação que uma simples busca no Google responde todas as dúvidas ou parte delas, um exemplo de uma doença grave e contagiosa é a meningite; se em 24 horas houver medicação, não contamina. Cada pessoa responde de um jeito diante das situações, e respeito isso, o que ressalto aqui é que antes de negar um atendimento, se dá a oportunidade de saber do que se trata ai sim terá base fundamentada pra rejeitar ou não. Entendendo de forma correta esse cenário, as recusas ao atendimento de pacientes podem ser evitadas.

Aprendi como lavar as mãos corretamente, achei que sabia a maneira correta, ledo engano, o processo demanda tempo e passos a seguir. Tinha uma caixa que sugeria se as mãos estavam higienizadas ou não, simulamos lavá-las com líquido fluorescente, e depois colocamos na caixa. Pra susto de muitos foi unânime a não higienização correta (motivo de muitas risadas). Em resumo, foi muito bom participar dessa oficina em especial, porque esse cuidado não se resume só a mim, o que faço vai ou não beneficiar a vida de outras pessoas, é como uma bola de neve, à medida que anda, vai crescendo, ficando enorme, o mesmo ocorre com as contaminações, se não for interrompida com os cuidados devidos crescem de forma gigantesca.

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Fonte: https://vivamelhoronline.com/tag/lavar-as-maos/

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Psicologia Hospitalar: lidando com o sofrimento humano

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Dentre as muitas e preciosas palestras das quais eu tive a alegria de participar durante a 1ª Semana Acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, realizada dos dias 22 a 26 de Agosto, resolvi partilhar um pouco da experiência vivida no dia 24 de Agosto. A mesa-redonda desse dia teve como titulo “O Psicólogo Hospitalar e o sofrimento na atualidade”.

A conversa começou com a exposição de Izabela Querido, Psicóloga hospitalar na UTI do Hospital Geral de Palmas.  Na fala de Izabela me chamou atenção a realidade vivida numa unidade de terapia intensiva: pacientes em estado grave e com risco imanente de morte; o estereótipo de sofrimento, dureza e dor; internações que ocorrem às vezes de forma abrupta ou pelo agravamento de doenças base; um ambiente estressor e impessoal.

A realidade psíquica de medo; insegurança com relação à cura; ameaça iminente de morte, mas também de esperança e de luta pela vida. Nesse ambiente a presença do profissional de psicologia junto aos pacientes muitas vezes é de ouvir suas angustias e medos numa escuta ativa e empática, e muitas vezes de ser a única presença amiga, quando a família é totalmente ausente de uma voz de esperança nos ouvidos de pacientes em coma ou sem possibilidade de fala. A próxima fala foi da Marília Pahim, psicóloga hospitalar no hospital materno-infantil Dona Regina. Marília narrou as peculiaridades de seu trabalho junto a mães no pré-parto, parto e pós-parto. Acolher as angústias, os medos, as ansiedades e ajuda-las na elaboração destes momentos tão importantes para muitas mulheres.

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Fonte: http://www.amib.org.br/simposio-psicologia/repositorio-de-noticias/single-geral/noticia/comunicacao-na-uti-sera-tema-de-simposio-de-psicologia-1/

O último a falar foi o psicólogo hospitalar Roniery Santos, que atua também no HGP com pacientes em estágio terminal e portadores de doenças sem cura. Um dos slides tinha escrito: “quando se esgotam os recursos terapêuticos e principalmente na fase final da vida, evidenciam-se os limites da vida dos pacientes, mas também dos saberes e das práticas médicas e dos profissionais da saúde”. Essa frase me fez refletir… Estamos imersos num mundo onde se tenta a todo custo driblar a finitude do ser humano.

A tentativa imanente do homem de dominar a natureza é no fim a tentativa de se achar uma cura para o grande mal: a morte. Lembrei-me então das experiências vividas na equipe de humanização da Santa Casa de Misericórdia de Anápolis, quando acompanhávamos esses pacientes terminais desde a descoberta até a morte. A dor de saber que a vida estava no fim, o sentimento de impotência dos profissionais e dos pacientes. Acompanhei por diversas vezes o processo desde a negação até a aceitação já no final da vida e a esperança da vida eterna.

No entanto, a experiência que mais me lembrei durante a fala do Roniery foi um paciente ateu que acompanhamos. O grande desespero, a negação do fim que o acompanhou até seu ultimo minuto. Como religiosa tive grande dificuldade de lidar com essa situação, e fiquei imaginando qual seria minha posição como psicóloga… Enfim saí da mesa-redonda impressionada com o trabalho dos psicólogos nas unidades de saúde. Acredito que não basta ser uma profissional bem capacitada, mas é necessário ser um apaixonado pela vida humana e acreditar que nos momentos de maior pobreza e fragilidade do ser humano nossa missão resgata a humanidade.

equipe multiprofissional

Fonte: http://www.medicinaintensiva.com.br/uti-guia.htm

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