O amor é uma decisão: relato de experiência de quem vive um amor real em tempos de amores líquidos

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Conforme Zygmunt Bauman as relações se tornaram frágeis e descartáveis na sociedade moderna.

Escrevo este relato de experiência faltando apenas 1 dia para o dia 12 de junho, dia em que nós brasileiros comemoramos o Dia dos Namorados. Recordei-me que dias atrás, li uma reportagem da revista exame que relatava um aumento no número de divórcios em nosso país. A matéria da revista dizia que o número total de separações é o maior da série histórica iniciada em 2007 pelo IBGE. Segundo os dados, metade dos casamentos que terminaram duraram menos de 10 anos e o tempo médio entre o casamento e divórcio diminuiu para cerca de 13 anos e boa parte dos casais divorciados tinham filhos menores de idade. 

Confesso que estes dados me chamam a atenção e como estudante de psicologia sei bem como a família trata-se de um núcleo de grande influência e importância para o desenvolvimento e formação da personalidade das crianças. Sabemos bem que o ambiente familiar é crucial para o desenvolvimento saudável delas, bem como para a saúde emocional. Sei também que em muitos casos a continuidade do casamento é impossível ou inviável por diversos fatores como por exemplo: a violência doméstica e abusos sejam eles quais forem e outras questões.

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, abordou o tema dos casamentos em sua obra “Amor Líquido”. Ele discute como as relações se tornaram frágeis e descartáveis na sociedade moderna. Entre algumas de suas ideias estão:  

As Relações Frágeis: Ele argumenta que as relações atuais são frágeis e se tornaram descartáveis. Ele compara as relações modernas com a água, que é líquida e pode mudar de forma rapidamente. E diz que as pessoas estão cada vez menos dispostas a se comprometer com relacionamentos.

A Falta de Compromisso: o autor diz que o amor líquido é caracterizado pela falta de compromisso e pela busca constante de algo melhor. Ele sugere que, assim como as pessoas trocam de produtos quando ficam insatisfeitas com eles, elas também trocam de parceiros quando não estão satisfeitas com seus relacionamentos.

O Amor Descartável: Bauman descreve o amor líquido como um amor descartável, que pode ser trocado a qualquer momento. Ele argumenta que os parceiros são trocados a todo momento, visando sempre “algo melhor”.

A Sociedade Sólida x Sociedade Líquida: o autor contrasta a sociedade moderna líquida com a sociedade sólida do passado. Na sociedade sólida, o casamento era visto como um contrato firme e duradouro. No entanto, na sociedade líquida, as relações sociais são vistas como contratos superficiais e temporários.

As ideias de Bauman sobre o amor líquido refletem uma tendência cada vez mais forte e comum de relacionamentos na sociedade moderna e podemos confirmar isso através dos dados citado no início deste relato.

Diante destes fatos, lembrei de como percorri minha jornada de adolescente e jovem e de como tinha em mente o que significava o casamento. Eu sabia que o casamento estava para além de ser feliz. Sabia que significava ser dois, pensar em dois, fazer coisas como dois, embora pudesse haver momentos para ser um e desfrutar como um. Sabia também que o amor não se tratava de mero sentimento ou de desejo sexual a ser atendido em um dado momento, ou de outro alguém me fazer feliz. Afinal a completude está em mim e eu a desfruto com alguém. Sabia até pelo que eu creio, que o casamento se tratava de uma decisão para a vida toda e não de um arroubo, um sentimento incontrolável, insensato e imprudente que num ato de idealização e fantasia opta por se juntar com alguém “enquanto o amor durar”.

Bom, você deve estar pensando no que deu esse amor (risos). Ele é real e ocorre há exatos 22 anos na sua forma mais pura e real. Dele veio nossa maior alegria e desafio diário que é a nossa filha, hoje com 13 anos de idade. Ela é alegre, ativa, amorosa e nos esforçamos para que como casal ela tenha um bom exemplo e referência de amor saudável, maduro e tranquilo. 

Meu casamento tem dias bons e dias difíceis. Tem choro e riso. Tem incertezas da vida, tem ou teve dificuldades (financeiras, emocionais, de saúde, gestacionais, profissionais etc.), tem conversas difíceis e necessárias. Tem respeito, tem parceria, tem beijo e abraço de bom dia, tem almoço na mesa e faxina compartilhada, tem ajuste de agendas, tem ceder aqui e receber ali, tem vida compartilhada, tem esforço e sacrifício um pelo outro de tempos em tempos, tem riso e brincadeira, tem a alegria do compartilhar das vitórias e o consolo de ter com quem lutar as batalhas e dividir as dores. Não renuncio a nenhum desses 7.920 dias que vivi ao lado do meu marido, pois neles eu aprendi e continuo aprendendo o que é o amor de verdade. E amar de verdade é decidir estar com alguém e viver dias bons e ruins, é conhecer as fraquezas e mesmo assim permanecer, é exaltar os pontos fortes, é desfrutar da vida por completo aceitando o outro e a mim mesma como somos, buscando melhorar aquilo que pode e precisa ser melhorado para que o amor seja vivido em toda a sua potencialidade e plenitude. 

Bauman descreve o amor na sociedade moderna como um produto de um individualismo exacerbado. Ele argumenta que as relações atuais são frágeis e descartáveis, caracterizadas pela falta de compromisso e pela busca constante de algo melhor. Desta forma, o “amor maduro” poderia ser entendido como um contraponto ao “amor líquido”. Seria um compromisso mais profundo, a aceitação do outro como ele é, e uma disposição para trabalhar através de dificuldades e desafios juntos. Isso contrasta com a visão de Bauman de um amor que é facilmente descartável e está constantemente em busca de algo melhor.

Eu posso dizer a você meu caro leitor, que vivo um amor maduro e tranquilo numa sociedade que pensa que amar é sentimento e que acredita que é possível ser individualista no amor. O amor exige tudo. Como está escrito na escritura sagrada (Bíblia) no livro de I Coríntios 13:4-7 “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Eu tomei uma decisão. Fiz uma aliança e um compromisso com alguém para dividir as alegrias e tristezas da vida em toda e qualquer situação. Eu desejo a você meu caro leitor, a beleza de viver um amor tranquilo. Ele existe. O amor é vida real. Decida compartilhar as alegrias e dores da vida com alguém também real.

Feliz Dia dos Namorados! Ah e me permitam ser brega ou parecer frágil e vulnerável nessa sociedade moderna: Eu te amo e admiro cada dia mais Thomás Dias. Obrigada por compartilhar a vida comigo, por me apoiar e amar todos os dias, incondicionalmente. 

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004

BÍBLIA SAGRADA. Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2019. 2080 páginas.

MARTINS, André. Número de divórcios no Brasil bate record e chega a 420 mil, mostra IBGE. Revista Exame. Publicado em 27 de março de 2024. Disponível em: https://exame.com/brasil/numero-de-divorcios-no-brasil-bate-recorde-e-chega-a-420-mil/. Acesso em 08 de junho de 2024.

SILVA, Nancy Capretz Batista da et al. Variáveis da família e seu impacto sobre o desenvolvimento infantil. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 16, n. 2, p. 215-229, 2008. Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2008000200006&lng=pt&nrm=iso . Acesso em 08 de junho de 2024.

 

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Desafios e transformações na relação conjugal após a chegada do primeiro filho

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Os desafios emocionais, práticos e de ajuste da dinâmica familiar diante da chegada do primeiro filho.

A dinâmica conjugal é um aspecto fundamental nas relações humanas, e a chegada do primeiro filho é um evento significativo que provoca alterações nessa dinâmica.  Segundo a teoria do ciclo de vida familiar, proposta por Duvall (1977), o nascimento de um filho representa uma transição para o casal, que precisa se adaptar às novas demandas e responsabilidades parentais. Essa transição é marcada por mudanças nas rotinas, na divisão de tarefas, na comunicação e na intimidade entre os parceiros. A chegada do bebê demanda uma reorganização das prioridades, tempo e energia, afetando diretamente a relação conjugal.

Um estudo realizado por Doss e Rhoades (2017) destacou que a chegada do primeiro filho pode levar a um aumento na satisfação conjugal para alguns casais, enquanto para outros, pode trazer um declínio na qualidade do relacionamento. Essa variação se deve a diversos fatores, como a adaptação à nova rotina, a divisão de tarefas e responsabilidades, e a gestão do estresse e das demandas familiares.

Um dos principais desafios enfrentados pelos casais é a redistribuição de tarefas e responsabilidades relacionadas ao cuidado dos filhos. Segundo Cowan e Cowan (2014), essa redistribuição pode gerar conflitos, especialmente se não houver uma comunicação aberta e equitativa entre os parceiros. A divisão desigual do trabalho pode levar a sentimentos de sobrecarga e ressentimento, impactando negativamente a satisfação conjugal.

Além disso, a teoria da interdependência, proposta por Kelley e Thibaut (1978), sugere que a presença de filhos pode aumentar os custos percebidos em um relacionamento. O casal pode enfrentar desafios como falta de sono, aumento das responsabilidades financeiras e diminuição da privacidade. Esses fatores podem gerar estresse adicional, levando a conflitos e desgaste na relação conjugal.

Um dos principais impactos da vinda do primeiro filho é a mudança nas responsabilidades domésticas e no papel de cada membro do casal. De acordo com o modelo de divisão de tarefas proposto por Hochschild (1989), há uma tendência culturalmente construída de que as mulheres assumam a maior parte das responsabilidades relacionadas ao cuidado infantil e às tarefas domésticas. Isso pode gerar conflitos e sobrecarga para a mulher, afetando a satisfação conjugal e aumentando o risco de desequilíbrios de gênero na relação.

A teoria da equidade conjugal, desenvolvida por Adams e Jones (1997), argumenta que a percepção de justiça na distribuição de tarefas é fundamental para a satisfação conjugal. No entanto, muitas vezes, as demandas relacionadas aos cuidados infantis recaem de forma desproporcional sobre um dos parceiros, especialmente a mãe. Isso pode levar a sentimentos de sobrecarga, frustração e ressentimento, afetando negativamente a qualidade do relacionamento.

Além disso, o surgimento do primeiro filho também provoca mudanças na comunicação e na intimidade entre os parceiros. Estudos mostram que, muitas vezes, os casais passam a dedicar menos tempo um ao outro e têm menos espaço para a vida conjugal. A atenção e o cuidado são redirecionados para o bebê, o que pode gerar sentimentos de solidão, negligência e desconexão entre os parceiros.

A teoria do apego, desenvolvida por Bowlby (1969), sugere que a relação do casal pode ser afetada pela forma como cada um deles se relaciona com o bebê. Se ambos os parceiros conseguirem desenvolver um apego seguro com a criança, isso pode fortalecer o vínculo conjugal. No entanto, se surgirem dificuldades no processo de adaptação à paternidade e maternidade, como a presença de sintomas de depressão pós-parto, isso pode impactar negativamente a relação conjugal.

Fonte: Imagem PublicCo no Pixabay.

Imagem de pés de bebê sendo segurados por uma mão.

Além dos aspectos já mencionados, é importante considerar as mudanças emocionais e as expectativas que os pais têm em relação ao filho. A chegada de um filho é um momento de grande significado e transformação, repleto de emoções intensas, tanto positivas quanto negativas. Os pais podem experimentar uma ampla gama de sentimentos, como alegria, amor incondicional, preocupação, medo e ansiedade.

Essas mudanças emocionais podem afetar a dinâmica do relacionamento conjugal. Por exemplo, a sobrecarga emocional pode levar a um aumento do estresse e da sensibilidade, o que pode resultar em conflitos e dificuldades de comunicação. As preocupações e ansiedades relacionadas à parentalidade, como o bem-estar do bebê e a capacidade de serem bons pais, podem ser compartilhadas ou expressas de maneiras diferentes por cada um dos parceiros.

Nesse contexto, a capacidade do casal em lidar com essas emoções e em buscar apoio mútuo é crucial para a adaptação à nova realidade. A comunicação aberta e empática é fundamental para expressar as preocupações, medos e expectativas. O compartilhamento dessas emoções pode fortalecer a conexão emocional entre os parceiros e proporcionar um espaço seguro para o apoio mútuo.

Buscar apoio externo também é importante. Amigos, familiares ou grupos de apoio podem desempenhar um papel significativo, proporcionando um espaço de troca de experiências e de suporte emocional. Além disso, a busca de orientação profissional, como a terapia de casal ou aconselhamento parental, pode ser valiosa para auxiliar os pais a lidarem com as emoções e desafios da parentalidade.

As expectativas em relação ao filho também podem influenciar o relacionamento conjugal. Os pais podem ter ideias preconcebidas sobre como será a vida com o filho, alimentando expectativas de perfeição e felicidade constante. No entanto, a realidade muitas vezes é diferente do que foi imaginado, e isso pode gerar frustrações e desapontamentos.

Nesse sentido, é importante que os pais tenham uma visão realista e flexível da parentalidade. Reconhecer que cada criança é única e que haverá momentos de alegria, mas também de desafios, pode ajudar a reduzir a pressão e o estresse. É essencial cultivar a resiliência e a capacidade de adaptação, reconhecendo que a parentalidade é um processo contínuo de aprendizado e crescimento.

Fonte: Imagem aliceabc0 no Pixabay.

Imagem de pés de casal.

Ademais, ainda há a mudança de prioridades e interesses individuais após o nascimento dos filhos. Os pais podem dedicar a maior parte do seu tempo e energia às necessidades dos filhos, deixando de lado atividades e interesses pessoais e de casal. Essa mudança pode gerar sentimentos de perda de identidade e distanciamento entre os parceiros, afetando a qualidade e a vitalidade do relacionamento.

Outro fator importante a ser considerado é a insegurança que assola o relacionamento diante da situação desconhecida. A pressão social e as expectativas idealizadas sobre a parentalidade podem contribuir para as inseguranças. A sociedade muitas vezes impõe um padrão de perfeição, colocando pressão nos pais para que sejam pais exemplares desde o início. Essa pressão pode levar a um sentimento de inadequação quando surgem dificuldades ou quando as coisas não saem como o esperado.

Também é importante ressaltar o impacto da parentalidade na vida sexual do casal. Pesquisas indicam que a frequência e a qualidade das relações sexuais tendem a diminuir após o nascimento dos filhos, como abordaram Cowan & Cowan (2014). A atenção e o desejo podem estar direcionados principalmente para o cuidado dos filhos, deixando menos espaço para a intimidade e a sexualidade do casal. Essa mudança pode gerar frustração e insatisfação sexual, afetando o vínculo conjugal.

Em suma, a chegada do primeiro filho é um momento de transformação para um casal, afetando diversos aspectos da relação conjugal. As mudanças nas responsabilidades domésticas, na comunicação, na intimidade e nas expectativas emocionais exigem dos parceiros uma capacidade de adaptação e de negociação. Compreender essas alterações à luz de teorias e estudos acadêmicos pode auxiliar casais e profissionais da área da saúde a oferecerem suporte adequado e estratégias de intervenção para promover a saúde e o bem-estar do casal e da família como um todo.

 

Referências:

ADAMS, J. M.; JONES, W. H. A conceituação do compromisso conjugal: uma análise integrativa. Journal of Personality and Social Psychology, v. 72, n. 5, p. 1177-1196, 1997. Disponível em: https://doi.org/10.1037/0022-3514.72.5.1177. Acesso em: 10. jun. 2023.

BOWLBY, J. Apego: a natureza do vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

COWAN, C. P.; COWAN, P. A. Quando os parceiros se tornam pais: A grande mudança de vida para os casais. Porto Alegre: Artmed, 2014.

DOSS, B. D.; RHOADES, G. K. A transição para a parentalidade: impacto nos relacionamentos românticos dos casais. Current Opinion in Psychology, v. 13, p. 25–28, 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2016.04.003. Acesso em: 09 de jun. 2023.

DUVALL, E. M. Desenvolvimento familiar. São Paulo: Martins Fontes, 1977.

HOCHSCHILD, A. R. O segundo turno: trabalhadores e trabalhadoras em tempo integral e a revolução inacabada em casa. São Paulo: Paz e Terra, 1989.

KELLEY, H. H.; THIBAUT, J. W. Relações interpessoais: Uma teoria da interdependência. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1978.

Por Daniela Iunes Peixoto – danielaiunesp@rede.ulbra.br

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A importância do psicólogo em processos de divórcio e guarda

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No mundo jurídico é comum ser dito que uma das formas mais antigas de contrato é a marital, a união de pessoas para a constituição de uma família e um novo lar é algo tão antigo quanto à própria humanidade. Um ponto importante é que desde o início deste tipo de relacionamento, a intenção era que durasse para toda vida – seja de forma monogâmica ou poligâmica – e aqueles seres ficariam unidos até suas respectivas mortes.

Fonte: l1nq.com/HIkz1

Porém, mesmo na antiguidade já existia a figura do divórcio, apesar de ser uma prática pouco apoiada pelos povos de outrora.

Nos tempos modernos, tanto o conceito de família quanto da própria sociedade sofreu alterações, descobriu-se um vasto campo do saber e dos cuidados mental, e, dentro destas descobertas, notou-se que nas situações de divórcios, o emocional daqueles envolvidos sofria drasticamente com a separação consensual e litigiosa.

É de amplo conhecimento social que o estado emocional de um indivíduo é capaz de ditar os rumos de sua sociabilidade, impactar o seu desempenho profissional, podendo chegar aos extremos de causar danos a sua integridade física se não for devidamente acompanhada e tratada por profissional capacitado.

Fonte: l1nq.com/OvuoU

Nos casos de divórcios há o rompimento afetuoso, há o desgaste do próprio litigio, há ainda toda aquela “lavação de roupa” entre os envolvidos, isso quando não há a presença de filhos no processo.

Infelizmente, os processos que envolvem divórcio e guarda de filhos menores são compostos por fatídicos episódios de alienação parental, agressões, abusos físicos e psicológicos.

Fonte: l1nq.com/G2ogQ

Com isto, além de um excelente profissional do direito, é necessário escolher, para um prosseguimento sadio da vida, um psicólogo capacitado no desenvolvimento de seu trabalho para amenizar e tornar suportável e sem traumas profundos esse momento tão angustiante que é o divórcio.

Um divórcio humanizado, com apoio emocional capacitado, pode evitar traumas e tragédias na vida dos envolvidos, bem como proporcionar um desenvolvimento saudável, mesmo com a separação dos pais, para o filho do ex-casal.

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Relações que literalmente dependem de “conexões”

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A revolução tecnológica digital mudou a forma de relacionar-se entre diversos ambientes, como as reuniões de trabalhos que passaram a ser feitas virtualmente, sem a necessidade de todos os envolvidos se encontrarem pessoalmente. No campo dos relacionamentos interpessoais, não foi diferente, os encontros passarem a ser intermediados por aplicativos de relacionamentos (apps), mais conhecidos como os apps de paquera.

Para Guimarães (2002) as inovações tecnológicas no campo da informática facilitaram mudanças comportamentais. “Refeições são entregues em casa, compras são feitas através do telefone, as idas ao cinema foram em grande parte substituídas pela diversão através do vídeo”.  Ou seja, “a terceirização dos serviços fez com que mais pessoas pudessem trabalhar em casa, comunicando-se com o mundo exterior através de seu próprio computador”. (Guimarães, 2002).

 Com a pandemia da Covid 19, o cenário exposto por Guimarães (2002) aumentou, já que pessoas do mundo todo tiveram que substituir o escritório, pelo sofá de casa, para a realização de atividades profissionais. Não foi só isso, as escolas passaram a ofertar aulas on-line, medidas adotadas para evitar a disseminação do coronavírus.  O mundo virtual tornou-se mais presente no campo interpessoal, e até mesmo as relações amorosas tiveram que se adaptar. Guimarães, Dela Coleta e Dela Coleta (2008), observam que “os bate-papos fazem com que o contato afetivo seja bem facilitado, principalmente para pessoas inseguras ou com problemas de socialização”.

Fonte: Freepik

Nessa perspectiva, Viera (2006) observa que, a internet tornou-se uma oportunidade de o utilizador avaliar potenciais parceiros românticos que de outra forma seria improvável de encontrar. Para o autor supracitado, o universo virtual possibilita que os adeptos usem diversos meios de comunicação, como forma de interagir com a pessoa do outro lado da telinha, antes de existir um encontro presencial.  Ou seja, é possível usar os meios virtuais, para ter uma noção se a pessoa pode ser compatível para um relacionamento futuro, ou ser apenas bons amigos.

Foi o caso da analista judiciária Paula Souza Sabatine e do engenheiro Guilherme Augusto Brandão Silva, que se conheceram no auge da pandemia, em 2020, e esse ano se casaram pelas redes sociais. A história de amor chamou à atenção dos veículos de comunicação social e virou notícia nacional. Em entrevista ao portal G1 notícias, Paula conta que conheceu o marido em um aplicativo de paquera, mas tinha resistência em conhecê-lo por desconfiança e precaução com a pandemia. Nesse tempo, segundo ela, ele foi embora para Holanda, quando a pediu em casamento. Paula e Guilherme Brandão se casaram, em Belo Horizonte, por procuração e coube ao sogro representar o noivo, que estava em outro país.

Apesar do romance que culminou em casamento dos mineiros Paula e Guilherme, é preciso ter alguns cuidados para não cair no golpe amoroso. Gennarini (2020) explica que a denominação estelionato sentimental apareceu pela primeira vez no processo do juízo da 7ª Vara Cível de Brasília – Tribunal de Justiça do Distrito Federal 87. Segundo ele, um homem foi condenado a restituir à ex-namorada valores referentes a empréstimos e gastos diversos efetuados na vigência do relacionamento no montante de R$ 101.537,71.

Fonte: Freepik

O estelionato é crime previsto no Código Penal, no artigo 171, o qual diz que obter para si ou para outrem vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo alguém ao erro. Infelizmente, esse tipo de crime, tem acontecido frequentemente, na esfera virtual, onde as pessoas costumam tornar-se mais vulneráveis por expor demais sua vida íntima.  Por isso, é necessário que os usuários tomem cuidado ao fornecer informações pessoais, por isso a cautela é imprescindível.

Gennarini (2020) enfatiza que um relacionamento amoroso deve ser pautado pela confiança, lealdade, honestidade e respeito de um para com o outro.  Diante disso, é importante tomar alguns cuidados ao relacionar-se com as pessoas virtualmente, e não ser tomado por um medo de conhecer alguém. Até porque a internet é uma ferramenta de uso diário, seja no ambiente de trabalho, familiar e social.

REFERÊNCIAS

Código Penal, Decreto Lei de Nº 2.848. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm> . Acesso: 06, de nov de 2021.

G1 Notícias. Pandemia faz noiva em BH se casar com o sogro. Disponível em <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2021/10/05/pandemia-faz-noiva-de-bh-se-casar-com-o-sogro-entenda.ghtml>. Acesso: 06, de nov de 2021.

Gennarini, Juliana Camarigo. O estelionato sentimental, amoroso ou afetivo: ilícito penal ou apenas um ilícito civil? (2020) Disponível em <file:///C:/Users/Daniel/Downloads/1737-Texto%20do%20artigo-3220-1-10-20210505.pdf>  Acesso: 06, de nov de 2021.

Guimarães, J, L;  Dela Coleta, A, S; e Dela Coleta, M F. O amor pode ser virtual? o relacionamento amoroso pela internet. 2008. Disponível em <https://www.scielo.br/j/pe/a/R5cvWJVsKZLL4rsXMtz8bhS/?lang=pt&format=pdf> Acesso: 06, de nov de 2021.

Guimarães, G. M. (2002). Relações virtuais, Aurora de um novo pensar.

Vieira, Gaspar Vanessa. “Marcamos um encontro no mundo virtual?” – Vinculação, autocompaixão e saúde mental na utilização da internet para estabelecimento de relacionamentos íntimos. 2016. Disponível em <https://repositorio.ismt.pt/xmlui/bitstream/handle/123456789/687/Disserta%C3%A7%C3%A3o-Vanessa-Vieira.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso: 06, de nov de 2021.

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A intimidade na era digital

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Há alguns anos venho pensando sobre a importância da intimidade nos relacionamentos interpessoais. Percebo um esfriamento quanto ao respeito, quanto aos vínculos de afeto e de confiança, quanto à bondade no falar, quanto à compaixão pelo outro. A procura exagerada por satisfação, segurança, realização, sucesso, prazer imediato e evitação do sofrimento tem colocado em risco a convivência e a intimidade emocional. Sendo assim, brechas para um estilo de vida narcisista podem ser abertas e, inadvertidamente, se estabelecerem.

O comportamento de deletar tudo e todos que desagradam retira da pessoa a possibilidade de treinar para coexistir, lembrando que sou o que sou a partir do outro.

O que levaria uma pessoa a querer desenvolver a intimidade emocional em seus relacionamentos nos dias de hoje? E será mesmo que o comportamento é diferente de gerações anteriores?

Na atual Sociedade da Transparência, chamada assim pelo filósofo Byung-Chul Han, as ações são operacionais e uniformizadas, todos fazem as mesmas coisas e a comunicação veloz é rasa, o igual responde ao igual. O momento é de superficialidade, de desapego ao outro, de compromissos mantidos até que desagradem a alguém, de distância mantida confortavelmente para que a alteridade não se faça presente.

Recentemente, um documentário apresentado por três repórteres abordou o tema fake news. Viajaram por vários lugares do mundo para entrevistar quem produz fake news. Conversaram com um jovem da Macedônia e chamou a minha atenção quando afirmou: as mentiras são ditas porque tem quem pague por elas; as pessoas querem acreditar no que falamos. Achei que suas afirmações faziam sentido. Os critérios para discernir a verdade encontram-se confusos na Sociedade da Transparência

Com a confiança abalada, pode parecer às pessoas ser retrógrado falar sobre intimidade emocional uma vez que o novo jeito de relacionar-se sugere conforto. Há liberdade para expressar as mais variadas formas de intimidade, inclusive a intimidade sexual que no século passado isso era tabu.

Fonte: encurtador.com.br/hmuz8

Se as pessoas vivem no mesmo ambiente, passam horas juntas, mas não desenvolvem um relacionamento de intimidade emocional, tudo fica puramente funcional. Tarefas e atividades são executadas para alcançar objetivos; já o relacionamento afetivo pode adoecer. O assunto é instigante, mas quero manter o foco na intimidade emocional de forma mais abrangente.

A matriz de identidade emocional se desenvolve a partir das relações interpessoais, diz o psiquiatra e psicodramatista Moreno, autor da teoria sóciopsicodramática. O primeiro relacionamento se dá, geralmente, com os pais, cuidadores e com a família. É bom lembrar que a convivência pode gerar intimidade, mas conviver não é sinônimo de ter intimidade. O relacionamento de intimidade emocional tem a comunicação como sua principal ferramenta: conversar, dialogar, compartilhar sentimentos e sonhos, fazem parte da relação, assim como a empatia, a confiança, o respeito. Atualmente, o que mais atrai as pessoas é a convivência virtual nas redes sociais. Muitas horas são passadas diante do celular, tablete, computador onde assuntos são alinhavados com opiniões, encontros e confrontos. A exposição é fato e uma vez na nuvem, o privado pode tornar-se público a qualquer momento por descuido ou por algum hacker à espreita.

As gerações Y e Z nasceram a partir dos anos 80, início da era digital. Talvez, essas gerações pensem que a intimidade emocional não faz parte de suas necessidades. Afinal, o número de amigos, seguidores ou de visualizações muitas vezes impressiona. A intimidade digital oferece companhia online 24 horas. Sendo assim, pode-se deduzir que a solidão e a falta de companhia são para quem não tem um smartphone ao alcance. Algo certamente inconcebível para os nascidos na era digital. É possível viver sem um celular, sem estar vinculado a uma rede social? As redes sociais podem contribuir para a melhora da autoestima e confiança em si mesmos? Podemos dizer, sim! Desde que a comunicação entre as pessoas ultrapasse a realidade virtual e passe para o plano de encontro olhos-nos-olhos. Senão, os relacionamentos digitais correrão o risco de desenvolver relações de dependência, de estar continuamente online, imerso em outra realidade onde o outro é construído apenas a partir da subjetividade e da possível ação da família ina, isto é, dopamina, endorfina, serotonina e ocitocina, produzidos no organismo, segundo alguns estudos, por causa da crescente quantidade de likes, por exemplo.

São diversos os atrativos para que as pessoas se mantenham conectadas. Atrás da aparente distração inofensiva e encantadora, ofertas de gratuidade, empresas, usuários e plataformas, vendem dados, apresentam anúncios, propagam ideias específicas e oferecem promoções de serviços que serão cobrados. (Revista SUPERINTERESSANTE- Black Mirror; 2018). Seria opressora essa interferência na vida de redes sociais?

É grande a contribuição da neurociência para a compreensão do que ocorre no organismo humano ao vivenciar determinadas situações. São identificados neurotransmissores e hormônios produzidos. As emoções podem ser alteradas por excesso ou falta de determinado elemento bioquímico. Por exemplo, na depressão ou nos quadros distímicos, a serotonina e a noradrenalina estão num nível abaixo do satisfatório. A pessoa pode apresentar um desinteresse pelo outro e optar por um distanciamento prolongado; pode evitar pessoas e situações prazerosas por não se sentir atraída; pode passar horas e horas ligada nas redes sociais e ter a impressão de estar conectada ao outro. Mas, será mesmo?

Fonte: encurtador.com.br/pBSTX

Às vezes, sim. Alguns aplicativos são usados como ferramentas virtuais para prestar socorro e apoio quando as pessoas apresentam ansiedade e depressão. O chatbot Woebot, criado pela psicóloga Alison Darcy da Universidade de Stanford, oferece terapia virtual por AI, inteligência artificial. Alison diz: Woebot não é um substituto para um terapeuta em pessoa nem ajudará a encontrar um. Em vez disso, a ferramenta faz parte de uma ampla gama de abordagens para a saúde mental. A experiência do Woebot não mapeia o que sabemos ser uma relação humano-a-computador, e também não mapeia o que sabemos ser uma relação humano-homem. Parece ser algo no meio. O aplicativo servirá de ponte para o retorno à convivência social.

O psicólogo e psiquiatra austríaco Vicktor Frankl, autor da Logoterapia, diz que a essência da vontade humana é a vontade do sentido; e quando ele não é encontrado, o indivíduo torna-se existencialmente frustrado. Em consequência, a depressão, adição e agressão passam a fazer parte da vida. É crescente o número de pessoas que tenta ou comete o suicídio devido à depressão. A vida necessita de sentido. Para a geração i, do smartphone, do iPhone, do iPod, do iPad, ou do eu conectado, o vazio e o isolamento em si mesmo podem significar a falta de sentido existencial. O outro, virtual, não coexiste em sua realidade concreta. Um exemplo recente, que provavelmente será objeto de estudo, foi a polarização de opiniões na última eleição para presidente no Brasil. A cegueira para ver e escutar o outro dominou grande parte dos relacionamentos de intimidade emocional e/ou virtual. Gerou brigas, dissenções e isolamento em bolhas de iguais. As redes sociais podem entorpecer a geração i quanto ao sentir e relacionar com o outro se a imersão for exagerada.

O seriado da Netflix, Black Mirror, retrata de forma impactante os efeitos da vida espelhada na tela escura de um celular. Após cada episódio é preciso um tempo para refletir a realidade de um futuro que faz parte da atualidade em muitos aspectos. O anseio natural do ser humano está presente nas tramas como a busca de relacionamentos significativos, companhia, aceitação e validação. Sem querer dar spoiler de sensações, posso dizer que o final de cada episódio faz o silêncio interior parecer gritante. O ambiente, geralmente sombrio, impressiona, traz sentimento de frustração e estranheza, suscitando perguntas como: eu vivo isso? Meus valores ficaram reduzidos ao que é útil ou não para mim? A aparência vale mais que tudo? Curtidas, interesse em saber quem ou quantos curtiram são relevantes? A fluidez e a banalidade das relações são exemplificadas na maioria dos episódios. Fato é que as redes sociais não fazem as pessoas felizes e mais, podem adoecer quando os relacionamentos de intimidade emocional não estão presentes.

Fonte: encurtador.com.br/hzCV1

Alguns estudos sobre o comportamento na era digital apontam a interferência das redes sociais sobre a conduta e o sentido de ser. Alguns afirmam que há grande probabilidade de alguém sentir-se isolado após passar duas horas ou mais em redes sociais. A solidão na era digital é uma forma de solidão acompanhada (Filipa Jardim da Silva).

Sem o sol, não há corações aquecidos. Sem intimidade emocional não há laços nem vínculos. O livro O Pequeno Príncipe, lido por muitos na infância, adolescência ou juventude, narra um diálogo entre o Príncipe e a raposa, retratando bem o convite à intimidade. Após as apresentações, a raposa responde ao convite do Príncipe, que se encontra triste, para brincar.

– Eu não posso brincar contigo, não me cativaram ainda.

– Ah! Desculpa – disse o principezinho. Mas, após refletir, acrescentou:

– Que quer dizer cativar?

– Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?

– Procuro os homens – disse o pequeno príncipe. – Que quer dizer cativar?

– Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinha?

– Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer cativar?

– É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. Significa criar laços…

– Criar laços?

– Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…

Fonte: encurtador.com.br/foFHL

A intimidade emocional e a intimidade virtual podem exercer um papel importante, quando a relação conectar a necessidade humana de criar laços. Da necessidade nasce o outro, significativo, único porque foi cativado pelo sentir. Lembra a primeira relação do ser humano – a díade mãe e filho; A interação entre os dois tende a desenvolver o primeiro vínculo afetivo.

Em 1995, Sherry Turkle, professora na área de estudos sociais sobre ciência e tecnologia no MIT (Massachusetts Institute of Technology), publicava um livro que a colocaria na capa da revista Wired: Life on Screen era um retrato positivo do impacto do digital nas nossas vidas. Mais de 15 anos depois, Turkle mudou de opinião e a Wired virou-lhe as costas, quando em 2011 o livro Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other chegou ao mercado. Na obra, a autora escreve que, hoje em dia, o fato de sermos inseguros e ansiosos nas nossas relações e perante o conceito de intimidade, faz com que procuremos na tecnologia formas de viver relações e, ao mesmo tempo, formas de nos proteger delas. O problema da intimidade digital, diz Sherry, é que ela é incompleta: Os laços que formamos através da internet não são, no final, os laços que nos unem.

O interesse nos encontros, nas conversas e no convívio interpessoal fora do ambiente virtual será um desafio constante, hoje na era digital e nas eras seguintes. Não é possível saber o que nos aguarda. Cada vez mais os aparelhos, aplicativos, plataformas como o Facebook e Twitter e outros meios de comunicação virtual atrairão e farão de tudo para ter cativo o usuário. Espero que a vulnerabilidade, o frio na barriga, o desconforto de sair do lugar por causa de um novo encontro pessoal perdurem. Que a opção por desenvolver afeto por uma AI ou um desconhecido das redes não seja vista como a única saída para a sensação de intimidade. Que a aventura da intimidade emocional seja sempre do interesse das pessoas, seguindo na contramão da Sociedade da Transparência. Que o adaptar-se ao pouco tempo disponível para relacionar-se com as pessoas continue a ser precioso no desafio de manter e aprofundar a intimidade emocional. Como tudo em exagero faz mal, estabelecer os limites claros e firmes para o uso da internet é expressão de amor para consigo mesmo e para com o outro. Bem-vindos à era da intimidade emocional de todos os tempos!

“Quando pensamos em alma e ligações de alma, pensamos em intimidade.”(Dora Eli)

Fonte: encurtador.com.br/aghsF
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Cobra Kai – A omissão de uma vitória

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Em nosso mundo, o gênero e a honra masculina estão muito atrelados a competitividade em competições esportivas. Isto é muitas vezes indicativo de a versão contemporânea da Jornada do Herói, ajustada para tempos fleumáticos e sem territórios inexplorados para ir em descoberta. Em Karatê Kid, filme lançado em 1984, temos um exemplo característico desse fenômeno: Daniel, um jovem que tem dificuldade de adaptação que sofre com a violência dos pais, é salvo por um especialista em artes marciais e este o subordina a um árduo treinamento. Como desfecho, ele se fortalece fisicamente e mentalmente, ganhando o torneio local contra quem o agredia, e para valorizar suas vitórias pessoais, ganha o afeto da garota por quem se apaixonou. Contudo, de modo diferente dos mitos, competições e contos de fada, a vida tem que continuar requerendo atitudes menos heroicas dos homens, tais como pagar contas, procurar um emprego e constituir uma família.

Deste modo a série Cobra Kai presente na Netflix e Youtube, segue contando a história do filme 34 anos depois, porém com os mesmos autores, com base na história de vida de Johnny, o vilão da história é derrotado da competição. Este é o primeiro inconveniente da crônica, transparecer que o vilão não simplesmente desaparece com o fim da crônica. Ele de maneira simplória continua sendo a mesma pessoa. Tendo uma vida de adulto para levar. E essa, porventura, não é das mais agradáveis: subsistindo por meio de trabalhos informais, morando em uma casa desarrumada, tendo que enfrentar o alcoolismo, sem amizade e sem ninguém para pedir um abraço e um beijo, esse vilão não dá sinais de aprendizado com suas dificuldades, continuando sendo uma pessoa arrogante que te proporcionava popularidade na adolescência, porém agora de forma totalmente desajustada.

Fonte: encurtador.com.br/buFIT

A narrativa demonstra como os torneios esportivos tem muita autoridade sobre a masculinidade atual. Onde podemos observar como o resultado de uma competição desagregou duas vidas, aonde uma levou o troféu de vencedora e a outra levou o título de derrotada, deixando a vida adulta em segundo plano diante dos defeitos da adolescência. Isto nos mostra o mal-estar e uma vida sem sentido que muitos sendo ao longo de sua trajetória vital.

Todo o enredo da série se aplica ao reencontro entre os dois personagens, ocasionado por um acidente no qual a filha de um dos personagens estava envolvida. Metaforicamente, podemos sugestionar que a rivalidade era uma questão a ser solucionada em suas vidas, e por mais que tentassem esquecer essa rixa, alguma hora ela iria ser colocada à tona diante deles, por meio de muitas coincidências, submetendo-os a lidar com isso.

Fonte: encurtador.com.br/biGV2

Evidente que este conflito leva os personagens de volta ao caratê, o que acaba levando suas vidas de volta a realidade.  Se tradando de Johnny, ele passa a ter atitudes que quebram uma inércia de décadas, colocando força e ressignificação a uma vida que parecia perdida. Já pelo lado de Daniel, entendemos um vazio que sempre esteve consigo, embora ele seja orgulhoso. Ele tentava de maneira aflita colocar regras e doutrinas do caratê em sua vida de comerciante, o que era visto de modo excêntrico. Agora ele percebe uma oportunidade perfeita para colocá-los em prática.

Neste regresso às artes marciais, uma nova chance aparece aos personagens que é: qual os papeis eles devem desempenhar em seus estágios atuais de vida, já que não podem simplesmente competir em torneios como no passado. Para isso, o quesito fundamental é o relacionamento com as novas gerações, o que se confronta os valores enraizados e os leva a importante desenvolvimento interno.

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“The Circle” e a vida em virtualidade

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The Circle Brasil é um reality show da Netflix que simula o ambiente virtual. Os competidores se comunicam utilizando somente seus perfis, e o objetivo do jogo é tornarem-se os maiores influenciadores, para assim ganharem o prêmio do programa. É claro que, diante desse o objetivo, vale tudo para se tornar influenciador, inclusive mentir sobre quem você é para ganhar o carinho e simpatia dos demais participantes.

O formato do programa é uma clara analogia a era da internet em que vivemos. As redes sociais são o nosso palco, e nós somos os protagonistas performando nele. Desta forma, construímos um espetáculo ao redor da vida cotidiana. E assim como os participantes do reality, nós também buscamos transmitir a “melhor versão” (lê-se a imagem mais agradável) de nós mesmos nas redes sociais, assim como exibir de forma online somente aquilo que nos é conveniente do nosso dia a dia. Carvalho, Magalhães e Samico (2018) ao propor um olhar psicanalítico sobre a exposição da autoimagem no mundo virtual, colocam que:

“No ciberespaço, pode-se ser quem quiser, obter a identidade que desejar. Causa, mesmo que de maneira inconsciente, uma vontade de se obter a mesma admiração e aprovação que quem está sempre postando uma vida fantástica obtém. Ao nos depararmos com uma “vida perfeita”, passamos a comparar a nossa própria vida com aquela exibida à nossa frente” (p. 48).

Fonte: encurtador.com.br/kvMY2

Assim, entende-se que essa de construir uma imagem polida e atraente de nós mesmos surge de uma necessidade que habita a grande maioria de nós: a ânsia pelo olhar do outro. Queremos que o outro nos observe e nos aprove. É claro que essa busca por validação vem de outras épocas da nossa vida, como por exemplo, na relação que tínhamos com nossos pais, as figuras que mais importantes da nossa vida, na infância; algo que desde então provoca tensões dentro de nós.

Diante da realidade na qual nos encontramos, repleta não só de aparatos disponíveis, mas também de novas figuras e modelos sociais representativos (por exemplo, o surgimento dos influencers digitais), o nosso desamparo encontra “acalento” no contexto virtual. E para conseguir esse olhar do outro, criamos personagens, parecidos conosco, mas que não são exatamente fiéis. Construímos esse personagem querendo ser o objeto de desejo do outro. E como recebemos essas aprovações? Através das múltiplas ações virtuais existentes como curtidas, comentários, visualizações, e tantas outras formas de sentir que o outro está nos validando com o seu click.

 Assim como para os participantes do reality The Circle Brasil, um like passa a ser muito mais que um like. É um alimento para o nosso ego. É algo que nos dá a sensação de que fizemos “algo certo” e vibramos, tal como os participantes quando percebem a aceitação dos demais. Essa situação cria em nós um ciclo vicioso de hábitos na nossa vida online, que visam sempre o outro. Carvalho, Magalhães e Samico (2018) constatam essa ideia ao dizer que:

“A maçante apresentação da autoimagem nesses veículos de mídia de certa forma tampona uma ferida narcísica instaurada no sujeito que muitas vezes olha o outro da forma que gostaria de ser. Por desejar mostrar-se ao outro, deseja ao mesmo tempo ser o objeto do desejo alheio a fim de suprir esse desamparo recorrente. Ainda que momentaneamente ele viva o prazer quando recebe o tão esperado “like” em sua foto, é algo efêmero. Algo que é rapidamente superado, criando assim a ânsia de se produzir mais situações onde esse ser possa realizar-se novamente.”

Fonte: encurtador.com.br/kmw27

E é por isso que a “rejeição online” torna-se tão dolorosa quanto a offline, pois ela representa a desaprovação, a rejeição, a falta. Diante disso, muitas vezes até abrimos mão da nossa singularidade em busca dessa validação. Sobre esse ciclo, Garzia-Roza faz uma indagação interessante em na obra Freud e o Inconsciente (1984):

“A grande questão que circunda esta forma de se expressar talvez seja: se esta aprovação da vida é completamente suficiente para que o sujeito obtenha a realização que anseia, por qual motivo ele não se sente em plenitude?” (p. 144).

Essa pergunta nos proporciona a uma série de reflexões sobre quem somos e para onde vamos, mas nos atendo aos fatos observados no reality show, percebe-se que ele nos ensina algo sobre isso tudo logo no início. Quando a votação para decidir quem seriam os influenciadores da vez era “limpa”, ou seja, não existiam estratégias e armadilhas que surgem mais adiante no jogo, e de fato se levava em consideração apenas o carisma dos participantes, as pessoas no “topo” eram de fato as mais autênticas e que não mentiam sobre quem eram. Em contrapartida, os “fakes” não tinham o desempenho que acreditavam que teriam. Isso serve como lição para nós. A melhor versão de nós é a versão verdadeira!

Referências:

GARCIA-ROZA, L. A. Freud e o Inconsciente. 2. ed. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 1984

CARVALHO, JPST; de Magalhães, PMLS; Samico, FC. Instagram, narcisismo e desamparo: um olhar psicanalítico sobre a exposição da autoimagem no mundo virtual. Revista Mosaico – 2019 Jul/Dez.; 10 (2): 87-93

FICHA TÉCNICA

Nome do programa: The Circle Brasil

Temporada: 1
Episódios: 12
Gênero: Competição
País de origem: Brasil
Produção: Studio Lambert e Motion Content Group
Emissora original: Netflix
Apresentadora: Giovanna Ewbank

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My Shy Boss: chefes também podem ser introvertidos?

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“Por que você observa secretamente as pessoas por trás? Por que nunca está na frente delas? É porque você não consegue? Achei que você desprezasse as pessoas. Será que talvez você… tenha medo delas?” (Chae Ro Woon).

Não é de hoje que as pessoas introvertidas sofrem por não poderem ou não conseguirem expressar seus sentimentos ou pensamentos, mas o que seria uma pessoa com essas características? São pessoas que se comportam de maneira mais restrita, não se manifestam tanto quanto outras, geralmente são mais calmas, quietas e não gostam de falar sobre seus sentimentos. Também gostam de fazer auto análises, dando ênfase a seus sentimentos e pensamentos diante de situações vividas, mas muitas vezes preferem não manifestar o que se passa na sua cabeça.

Até certo ponto isso pode não ser nenhum problema, mas quando tais comportamentos e pensamentos começam a trazer conflitos para as pessoas, pode-se dizer que elas podem desenvolver o transtorno de ansiedade chamado de fobia social. No DSM-IV-TR (APA, 2002), é expressado que a fobia social se caracteriza por um medo acentuado e persistente de uma ou mais situações sociais ou de desempenho. As pessoas com sintomas de fobia social podem ter receio de agir e que isso possa trazer humilhação, constrangimento ou sentimentos de frustração, e a exposição a um contexto social aversivo pode provocar respostas ansiogênicas intensas, sendo capaz de gerar um ataque de pânico. Assim indivíduos com tais características evitam estas situações ou as suportam com intenso sofrimento.

Para D’El Rey e Pacini (2006), a fobia social se expressa de modo significativa interferindo nas rotinas de trabalho, acadêmicas e sociais e/ou sofrimento acentuado por ter a fobia. O medo social na grande maioria das vezes está associado às situações de desempenho, como falar em público, as interações sociais do dia-a-dia, como ir a uma festa, uma entrevista de emprego, etc (FURMARK, ET AL., 2000; STEIN, TORGRUD, WALKER, 2000). As pessoas diagnosticadas como fóbicas sociais apresentam uma hipersensibilidade a críticas, mantêm uma avaliação negativa a respeito de si mesma, sentimentos de inferioridade, e apresentam grande dificuldade em serem assertivas (LAMBERG, 1998; STOPA, CLARK, 1993).

Fonte: encurtador.com.br/kBST1

O Dorama Coreano “My Shy Boss” retrata a história de Eun Hwan Gi, o CEO de uma grande empresa de relações públicas na Coreia do Sul. Ele é um rapaz muito inteligente, consegue ter boas ideias em seu ramo, porém ele não consegue falar em público, todas suas propostas são executadas por seu melhor amigo, que também cuida das comunicações com imprensa e com todos os funcionários. Assim, Eun Hwan fica apenas nos bastidores, observando tudo o que acontece nas sombras. Ao contrário de nosso chefe tímido, temos a personagem Chae Ro Woon, uma mulher muito extrovertida, animada e bastante comunicativa, seu sonho é ser uma grande atriz, mas um evento desencadeado na empresa de Eun Hwan faz com que ela mude seus planos e comece a trabalhar lá.

Os dois não se conhecem pessoalmente, mas ambos têm uma conexão como um fato traumatizante, Eun Hwan se aproxima primeiro de Chae Ro por culpa e acompanha seus passos mesmo distante, ele tenta falar com ela em diversas ocasiões, mas sua timidez e seu medo lhe coíbem. Já ela tenta se aproximar para desvendar a identidade de um suposto chefe que maltrata os funcionários, no entanto eis um desafio: Como se aproximar de alguém pouco acessível, que foge de tudo e de todos?

Aos poucos todos na empresa começam a conhecer o chefe tímido, é proposto pelo presidente dela que uma nova equipe seja montada a “Silent Monster” (uma referência a forma como os funcionários chamavam o chefe) e que o CEO enfim possa enfrentar seus medos. Ao se deparar com os desafios de fazer esse novo grupo dar certo, Eun Hwan enfrenta seus medo e traumas do passado, começa a deixar seus funcionários se aproximarem dele, além de deixar que seus pensamentos e sentimentos sejam expressados para o mundo exterior.

Fonte: encurtador.com.br/mtDU9

Modelos mais antigos de explicação da fobia social se focalizaram no condicionamento clássico e postularam que uma experiência traumática, como um embaraço momentâneo em uma situação social, poderia ser responsável pelo início da fobia (ÖST, HUGDAHL, 1981). No drama é visto que o personagem principal sempre era inibido por seu pai, que esperava mais de seu herdeiro e em um episódio na faculdade quando ele queria se declarar para uma garota, ela levou uma grande plateia, para ele aquilo era para “humilha-lo e rejeita-lo”, o que o levou a fugir de situações sociais que exigissem demonstração de afeto.

O preconceito acerca das pessoas é algo ainda a ser enfrentado, especulações, falatórios magoam e impedem com que os indivíduos se abram para o mundo, que eles possam se expressar de modo genuíno e sem julgamentos. Nesse dorama é possível perceber o desenvolvimento dos personagens, eles aos poucos começam a ressignificar questões passadas, que antes não havia entendimentos. Chae Ro como todos na obra tinha uma visão deturpada de seu chefe, chegando a pensar que uma pessoa assim não deveria liderar e ainda mais se importar com seus funcionários e com a empresa.

No fim, eles se permitem conhecer um ao outro sem preconceito, os dois se aproximam e desvendam a verdade sobre o passado. Um drama divertido, com comédia, romance, fofo, muito fofo e que trata questões complicadas como suicídio e depressão. Do qual os personagens são convidados a repensarem suas vidas, a forma como tem lidado com ela e se abrindo a novas oportunidades de relacionamentos com os outros e com eles mesmos.

FICHA TÉCNICA

Fonte: encurtador.com.br/pAU58

Título original: My shy boss
Direção: Song Hyun Wook
Duração: 960 minutos, 16 episódios
Classificação: 16 anos
Ano: 2017
País: Coreia do Sul
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Onde assistir: Netflix

Referências

APA. DSM-IV-TR: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. , 4ª ed. rev .Porto Alegre: Artmed. 2002.

D’ EL REY, G. J. F; PACINI, C. A. Terapia cognitivo-comportamental da fobia social: modelos e técnicas. Psicol. estud. vol.11 no.2 Maringá May/Aug. 2006.

FURMARK, T. et al. Social phobia subtypes in the general population revealed by cluster analysis. Psychological Medicine, 30(6), 1335-1344. 2000.

LAMBERG, L. Social phobia: Not just another name for shyness. Journal of American Medical Academy, 280(8), 685-686. 1998.

ÖST, L. G.; HUGDAHL, K. Acquisition of phobias and anxiety responses patterns in clinical patients. Behaviour Research and Therapy, 16(3), 439-447. 1981.

STEIN, M. B.; TORGRUD, L. J.; WALKER, J. R. Social phobia symptoms, subtypes and severity. Archives of General Psychiatry, 57(9), 1046-1052. 2000.

STOPA, L.; CLARK, D. M. Cognitive process in social phobia. Behaviour Research and Therapy, 31(2), 255-267. 1993

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