As transformações tecnológicas e a ascensão dos relacionamentos líquidos

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O advento de novas tecnologias mudou a concepção de tempo para a sociedade. As reuniões de trabalho podem ser feitas simultaneamente, aos quatros cantos do mundo, e para conhecer alguém não é preciso sair de casa, basta somente instalar um aplicativo de relacionamentos no celular. As conversas em frente à porta de casa foram transferidas para os grupos de WhatsApp, assim é o mundo pós-moderno, em que tudo é muito rápido e pouco duradouro. Esta percepção sobre os relacionamentos é explicada pelo sociólogo Zygmunt Bauman (2007), o qual observa que a sociedade vive em um tempo líquido, em que nada dura. Ou seja, tudo é passageiro. Uma crítica a superficialidade das relações que vão embora como água no ralo.

 Conforme Bauman (2009), o que importa é a velocidade e não a duração dos fatos, ou seja, dos relacionamentos.  Ainda aponta que a valorização do indivíduo em detrimento do coletivo também é característica dessa sociedade líquida que vive em constante autocrítica, autoexame e autocensura. (Bauman, 2009). Para o sociólogo, as mudanças comportamentais seguem as renovações tecnológicas, ou seja, uma transformação constante. Isto é, uma sociedade que precisa viver o instantâneo, sem a necessidade de criar uma base sólida, pois o que importa não é a construção em si, mas o auge do momento, mesmo que seja segundos.  

Nessa linha de pensamento, Oliveira (2015) destaca que “as condições tecnológicas e modernas de vida fazem com que os indivíduos se deparem com uma grande variedade de escolhas ou experimentos”. Situação que interfere no dia a dia da humanidade, desde sua forma de comer, vestir e agir (Oliveira, 2015). Ou seja, a expressão de vida de uma pessoa tem sido determinada pela tecnologia que influencia sua forma de lidar com os outros, bem como a expansão ao acesso digital, que a cada dia tem alcançado também a terceira idade (Oliveira, 2015)

Para Martinez (1998) os relacionamentos atuais podem fazer surgir um vazio o qual não será preenchido, pois na ética do prazer imediato e rápido não existe lugar para grandes investimentos amorosos o que pode frustrar o sujeito. Martinez (1998). Sobre esse pensamento, Jablonski (2001) admite que as variáveis sociais exerçam impacto nas relações de conjugalidade, como a modernização, a urbanização da sociedade, a diminuição dos membros que compõem uma família. A valorização do individualismo, o aumento da expectativa de vida, a valorização cultural do amor são outros posicionamentos que explicam a fragilidade dos relacionamentos. Jablonski (2001)

Fonte: Freepick

Lipovetsky (2004) afirma que apesar das relações atuais serem frágeis, os ideais de relacionamento estável, duradouro não foram descartados pela sociedade. Ou seja, as pessoas desejam ter relações amorosas sólidas, em detrimento do relacionamento líquido exposto por Bauman, mas admite que existe uma ausência de referência normativa sobre relacionamentos fortalecidos, o que pode ser traduzido pela mídia, que diariamente traz o divórcio de celebridades estampadas na capa das revistas eletrônicas.  Nesse sentido, o telespectador, leitor são bombardeadas com esse tipo de informação, cotidianamente. 

A fragilidade do ser humano pode ser explicada pela sua falta de entidade em diversos momentos de sua trajetória, bem como a influência dos noticiários, em especial, o que é exposto na internet. Bauman (2004) ao expor uma sociedade líquida, temporária, sem nenhuma solidez, expõe a problemática dos relacionamentos superficiais, em que as pessoas desejam viver o lado bom, em detrimento ao momento ruim, por isso tudo é líquido como água do rio, que sempre está indo para algum lugar.  Não há um tempo para criar raízes e aprofundar os sentimentos, por isso a sociedade vive em constante insatisfação. Tudo é líquido, mas todos querem o sólido, mas não querem pagar o preço. 

Fonte: Freepick

Referência

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, 2001. Jorge Zahar.

BAUMAN, Zygmunt.  Vida Líquida. Rio de Janeiro, 2009. Jorge Zahar.

JABLONSKI, Bernardo. Atitudes frente à crise do casamento (2008)

LYPOVESTSKY, Gilles. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.

MARTINEZ, Marlene Castro Waideman. Sexualidade – família – AIDS. Na família e no espaço escolar contemporâneo. São Paulo: Arte e ciência, 1998.

OLIVEIRA, Diego. A terceira idade e os relacionamentos líquidos nas redes sociais(2015). 

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A intimidade na era digital

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Há alguns anos venho pensando sobre a importância da intimidade nos relacionamentos interpessoais. Percebo um esfriamento quanto ao respeito, quanto aos vínculos de afeto e de confiança, quanto à bondade no falar, quanto à compaixão pelo outro. A procura exagerada por satisfação, segurança, realização, sucesso, prazer imediato e evitação do sofrimento tem colocado em risco a convivência e a intimidade emocional. Sendo assim, brechas para um estilo de vida narcisista podem ser abertas e, inadvertidamente, se estabelecerem.

O comportamento de deletar tudo e todos que desagradam retira da pessoa a possibilidade de treinar para coexistir, lembrando que sou o que sou a partir do outro.

O que levaria uma pessoa a querer desenvolver a intimidade emocional em seus relacionamentos nos dias de hoje? E será mesmo que o comportamento é diferente de gerações anteriores?

Na atual Sociedade da Transparência, chamada assim pelo filósofo Byung-Chul Han, as ações são operacionais e uniformizadas, todos fazem as mesmas coisas e a comunicação veloz é rasa, o igual responde ao igual. O momento é de superficialidade, de desapego ao outro, de compromissos mantidos até que desagradem a alguém, de distância mantida confortavelmente para que a alteridade não se faça presente.

Recentemente, um documentário apresentado por três repórteres abordou o tema fake news. Viajaram por vários lugares do mundo para entrevistar quem produz fake news. Conversaram com um jovem da Macedônia e chamou a minha atenção quando afirmou: as mentiras são ditas porque tem quem pague por elas; as pessoas querem acreditar no que falamos. Achei que suas afirmações faziam sentido. Os critérios para discernir a verdade encontram-se confusos na Sociedade da Transparência

Com a confiança abalada, pode parecer às pessoas ser retrógrado falar sobre intimidade emocional uma vez que o novo jeito de relacionar-se sugere conforto. Há liberdade para expressar as mais variadas formas de intimidade, inclusive a intimidade sexual que no século passado isso era tabu.

Fonte: encurtador.com.br/hmuz8

Se as pessoas vivem no mesmo ambiente, passam horas juntas, mas não desenvolvem um relacionamento de intimidade emocional, tudo fica puramente funcional. Tarefas e atividades são executadas para alcançar objetivos; já o relacionamento afetivo pode adoecer. O assunto é instigante, mas quero manter o foco na intimidade emocional de forma mais abrangente.

A matriz de identidade emocional se desenvolve a partir das relações interpessoais, diz o psiquiatra e psicodramatista Moreno, autor da teoria sóciopsicodramática. O primeiro relacionamento se dá, geralmente, com os pais, cuidadores e com a família. É bom lembrar que a convivência pode gerar intimidade, mas conviver não é sinônimo de ter intimidade. O relacionamento de intimidade emocional tem a comunicação como sua principal ferramenta: conversar, dialogar, compartilhar sentimentos e sonhos, fazem parte da relação, assim como a empatia, a confiança, o respeito. Atualmente, o que mais atrai as pessoas é a convivência virtual nas redes sociais. Muitas horas são passadas diante do celular, tablete, computador onde assuntos são alinhavados com opiniões, encontros e confrontos. A exposição é fato e uma vez na nuvem, o privado pode tornar-se público a qualquer momento por descuido ou por algum hacker à espreita.

As gerações Y e Z nasceram a partir dos anos 80, início da era digital. Talvez, essas gerações pensem que a intimidade emocional não faz parte de suas necessidades. Afinal, o número de amigos, seguidores ou de visualizações muitas vezes impressiona. A intimidade digital oferece companhia online 24 horas. Sendo assim, pode-se deduzir que a solidão e a falta de companhia são para quem não tem um smartphone ao alcance. Algo certamente inconcebível para os nascidos na era digital. É possível viver sem um celular, sem estar vinculado a uma rede social? As redes sociais podem contribuir para a melhora da autoestima e confiança em si mesmos? Podemos dizer, sim! Desde que a comunicação entre as pessoas ultrapasse a realidade virtual e passe para o plano de encontro olhos-nos-olhos. Senão, os relacionamentos digitais correrão o risco de desenvolver relações de dependência, de estar continuamente online, imerso em outra realidade onde o outro é construído apenas a partir da subjetividade e da possível ação da família ina, isto é, dopamina, endorfina, serotonina e ocitocina, produzidos no organismo, segundo alguns estudos, por causa da crescente quantidade de likes, por exemplo.

São diversos os atrativos para que as pessoas se mantenham conectadas. Atrás da aparente distração inofensiva e encantadora, ofertas de gratuidade, empresas, usuários e plataformas, vendem dados, apresentam anúncios, propagam ideias específicas e oferecem promoções de serviços que serão cobrados. (Revista SUPERINTERESSANTE- Black Mirror; 2018). Seria opressora essa interferência na vida de redes sociais?

É grande a contribuição da neurociência para a compreensão do que ocorre no organismo humano ao vivenciar determinadas situações. São identificados neurotransmissores e hormônios produzidos. As emoções podem ser alteradas por excesso ou falta de determinado elemento bioquímico. Por exemplo, na depressão ou nos quadros distímicos, a serotonina e a noradrenalina estão num nível abaixo do satisfatório. A pessoa pode apresentar um desinteresse pelo outro e optar por um distanciamento prolongado; pode evitar pessoas e situações prazerosas por não se sentir atraída; pode passar horas e horas ligada nas redes sociais e ter a impressão de estar conectada ao outro. Mas, será mesmo?

Fonte: encurtador.com.br/pBSTX

Às vezes, sim. Alguns aplicativos são usados como ferramentas virtuais para prestar socorro e apoio quando as pessoas apresentam ansiedade e depressão. O chatbot Woebot, criado pela psicóloga Alison Darcy da Universidade de Stanford, oferece terapia virtual por AI, inteligência artificial. Alison diz: Woebot não é um substituto para um terapeuta em pessoa nem ajudará a encontrar um. Em vez disso, a ferramenta faz parte de uma ampla gama de abordagens para a saúde mental. A experiência do Woebot não mapeia o que sabemos ser uma relação humano-a-computador, e também não mapeia o que sabemos ser uma relação humano-homem. Parece ser algo no meio. O aplicativo servirá de ponte para o retorno à convivência social.

O psicólogo e psiquiatra austríaco Vicktor Frankl, autor da Logoterapia, diz que a essência da vontade humana é a vontade do sentido; e quando ele não é encontrado, o indivíduo torna-se existencialmente frustrado. Em consequência, a depressão, adição e agressão passam a fazer parte da vida. É crescente o número de pessoas que tenta ou comete o suicídio devido à depressão. A vida necessita de sentido. Para a geração i, do smartphone, do iPhone, do iPod, do iPad, ou do eu conectado, o vazio e o isolamento em si mesmo podem significar a falta de sentido existencial. O outro, virtual, não coexiste em sua realidade concreta. Um exemplo recente, que provavelmente será objeto de estudo, foi a polarização de opiniões na última eleição para presidente no Brasil. A cegueira para ver e escutar o outro dominou grande parte dos relacionamentos de intimidade emocional e/ou virtual. Gerou brigas, dissenções e isolamento em bolhas de iguais. As redes sociais podem entorpecer a geração i quanto ao sentir e relacionar com o outro se a imersão for exagerada.

O seriado da Netflix, Black Mirror, retrata de forma impactante os efeitos da vida espelhada na tela escura de um celular. Após cada episódio é preciso um tempo para refletir a realidade de um futuro que faz parte da atualidade em muitos aspectos. O anseio natural do ser humano está presente nas tramas como a busca de relacionamentos significativos, companhia, aceitação e validação. Sem querer dar spoiler de sensações, posso dizer que o final de cada episódio faz o silêncio interior parecer gritante. O ambiente, geralmente sombrio, impressiona, traz sentimento de frustração e estranheza, suscitando perguntas como: eu vivo isso? Meus valores ficaram reduzidos ao que é útil ou não para mim? A aparência vale mais que tudo? Curtidas, interesse em saber quem ou quantos curtiram são relevantes? A fluidez e a banalidade das relações são exemplificadas na maioria dos episódios. Fato é que as redes sociais não fazem as pessoas felizes e mais, podem adoecer quando os relacionamentos de intimidade emocional não estão presentes.

Fonte: encurtador.com.br/hzCV1

Alguns estudos sobre o comportamento na era digital apontam a interferência das redes sociais sobre a conduta e o sentido de ser. Alguns afirmam que há grande probabilidade de alguém sentir-se isolado após passar duas horas ou mais em redes sociais. A solidão na era digital é uma forma de solidão acompanhada (Filipa Jardim da Silva).

Sem o sol, não há corações aquecidos. Sem intimidade emocional não há laços nem vínculos. O livro O Pequeno Príncipe, lido por muitos na infância, adolescência ou juventude, narra um diálogo entre o Príncipe e a raposa, retratando bem o convite à intimidade. Após as apresentações, a raposa responde ao convite do Príncipe, que se encontra triste, para brincar.

– Eu não posso brincar contigo, não me cativaram ainda.

– Ah! Desculpa – disse o principezinho. Mas, após refletir, acrescentou:

– Que quer dizer cativar?

– Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?

– Procuro os homens – disse o pequeno príncipe. – Que quer dizer cativar?

– Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinha?

– Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos. Que quer dizer cativar?

– É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. Significa criar laços…

– Criar laços?

– Exatamente – disse a raposa. – Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativares, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo…

Fonte: encurtador.com.br/foFHL

A intimidade emocional e a intimidade virtual podem exercer um papel importante, quando a relação conectar a necessidade humana de criar laços. Da necessidade nasce o outro, significativo, único porque foi cativado pelo sentir. Lembra a primeira relação do ser humano – a díade mãe e filho; A interação entre os dois tende a desenvolver o primeiro vínculo afetivo.

Em 1995, Sherry Turkle, professora na área de estudos sociais sobre ciência e tecnologia no MIT (Massachusetts Institute of Technology), publicava um livro que a colocaria na capa da revista Wired: Life on Screen era um retrato positivo do impacto do digital nas nossas vidas. Mais de 15 anos depois, Turkle mudou de opinião e a Wired virou-lhe as costas, quando em 2011 o livro Alone Together: Why We Expect More from Technology and Less from Each Other chegou ao mercado. Na obra, a autora escreve que, hoje em dia, o fato de sermos inseguros e ansiosos nas nossas relações e perante o conceito de intimidade, faz com que procuremos na tecnologia formas de viver relações e, ao mesmo tempo, formas de nos proteger delas. O problema da intimidade digital, diz Sherry, é que ela é incompleta: Os laços que formamos através da internet não são, no final, os laços que nos unem.

O interesse nos encontros, nas conversas e no convívio interpessoal fora do ambiente virtual será um desafio constante, hoje na era digital e nas eras seguintes. Não é possível saber o que nos aguarda. Cada vez mais os aparelhos, aplicativos, plataformas como o Facebook e Twitter e outros meios de comunicação virtual atrairão e farão de tudo para ter cativo o usuário. Espero que a vulnerabilidade, o frio na barriga, o desconforto de sair do lugar por causa de um novo encontro pessoal perdurem. Que a opção por desenvolver afeto por uma AI ou um desconhecido das redes não seja vista como a única saída para a sensação de intimidade. Que a aventura da intimidade emocional seja sempre do interesse das pessoas, seguindo na contramão da Sociedade da Transparência. Que o adaptar-se ao pouco tempo disponível para relacionar-se com as pessoas continue a ser precioso no desafio de manter e aprofundar a intimidade emocional. Como tudo em exagero faz mal, estabelecer os limites claros e firmes para o uso da internet é expressão de amor para consigo mesmo e para com o outro. Bem-vindos à era da intimidade emocional de todos os tempos!

“Quando pensamos em alma e ligações de alma, pensamos em intimidade.”(Dora Eli)

Fonte: encurtador.com.br/aghsF
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Os relacionamentos amorosos frente às formas de consumo

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Buscaremos neste ensaio relacionar diferentes idealizações do amor com o atual cenário social, onde cada vez mais nós seres humanos temos dificuldades para se relacionar com o outro, e muitas vezes buscamos no amor uma salvação para a nossa estagnação. Essa ideia de salvação é passada para nós através de vários meios de comunicação, como a música, literatura e teatro, por exemplo, trazendo consigo uma idealização muito clichê do amor, que acaba muitas vezes distorcendo o seu verdadeiro significado e impedindo que o sintamos como de fato ele é.

Acabamos em diversos casos vendo o amor ou a pessoa amada como um produto, que ao ser consumido propiciará um sentimento de êxtase, felicidade e completude, ocasionando assim uma busca incessante por um amor idealizado e perfeito que projetamos em nossas mentes. Porém tal amor pode nunca ser encontrado, nos trazendo assim tristezas e decepções ao longo da vida. Contudo fica muito difícil praticar a arte de se relacionar, dificuldade essa causada por nossas projeções e idealizações errôneas do amor. Tudo isso graças a esse leque de informações que nos são passadas, informações que muitas vezes estão baseadas nas vivencias dos outros, e não em nossas próprias experiências.

Dessa forma, esquecemos que o amor não busca a satisfação de apenas um ser, e que não se pode sugar tudo de uma pessoa até que ela fique em exaustão, e depois ir em busca de outrem para repetir o mesmo processo, perpetuando um ciclo de vazio e infelicidade.

O relacionamento a dois é muito amplo e complexo, a final cada um de nós traz consigo uma subjetividade, algo que nos diferencia em gostos e escolhas.Isso ocorre devido a vivência particular de cada um, por isso a dificuldade tão em tentar chegar a um ponto de equilíbrio, equilíbrio esse moldado e redefinido a cada dia dentro de um relacionamento.

Fonte: goo.gl/ip3F7X

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nos dias de hoje o amor é visto de uma forma superficial e clichê, devido ao esgotamento de sua retratação nas indústrias cinematográfica, musical e literária. Olhando assim é difícil encontrar uma originalidade no amor dentre suas diversas formas de expressão, pois em geral ele é um assunto epidêmico e democrático em diversos pontos de vista, dentre pessoas que são leigas, de grande intelecto e filosóficas.

Segundo (DONÉ, 2016) exemplos de uma indústria cultural se encontram nos meios das produções com reflexos índie, cool, alternativo, romances, peças, roteiro, pesquisas, e análises. Sendo assim o núcleo do amor vem de todo lugar e pensamento discutido, contemplado tanto por filisteus e pelos intelectos mais exigentes, como os eruditos, os hedonistas incontroláveis, e estoicos resignados.

Em meio a tantas formas de expressar o amor, fica cada vez mais difícil de distinguir e visualizar algo novo, uma forma original desse objeto tão significativo para o ser humano. Mas acredite, haverá algo novo para se desfrutar, em uma relação amorosa onde o casal participe uma da vida do outro, de uma forma harmoniosa e prazerosa, se tornando importante e muitas vezes estimulante.

Um relacionamento a dois pode ser de infinitos modos e jeitos, isso dá-se à subjetividade de cada um dos indivíduos que formam esse par, tendo em vista que cada pessoa deve se adequar ao outro procurando uma forma de equilibro em meio as suas diferenças. Tornando o relacionamento harmonioso e prazeroso para cada uma das partes envolvidas.

Fonte: goo.gl/TF8YvE

O senso comum mostra o amor de uma forma popularesca através de obras de consumo que por sua vez são pobres intelectualmente, formando uma idealização muito superficial e generalista do amor. Tendo em vista essa forma generalizada, muitas pessoas enxergam o amor como um salvador, um meio de se livrar de seus problemas, de obter felicidade extrema, de acabar com a tristeza, de alcançar felicidade.

Mas, existe outro polo desse amor totalmente oposto, onde até mesmo pessoas muito intelectuais e por muitas vezes mal-amadas tratam esse assunto com uma decepção muito grande, como uma forma ruim de tristeza que não seria correta, isso devido as suas vivencias e decepções. Em muitos casos de pessoas é evidente que o amor se torna uma frustração, algo que incomode a pessoa, afinal quando gostamos de alguém esperamos a reciprocidade e quando isso não ocorre temos sentimentos ruins. Da mesma forma de quando temos um amor correspondido e em algum momento por motivos seus ou da outra pessoa esse sentimento não é mais recíproco, trazendo tristeza, vazio interno e decepções , visto que projetamos nosso futuro em conta de tal emoção.

Para algumas pessoas que tentam descrever o amor, ele é colocado como uma forma hostil, e muito ameaçadora. Não podemos julga-las por suas vivências, porém devemos ter bastante cuidado com as formas clichês que são transpassadas. Afinal o amor tem que ser sentido por nós, através de nossas experiências, para então ser pensado, falado e debatido com cuidado, lembrando sempre que o amor é relativo em cada situação.

O amor nos dias de hoje é tratado por muitos como uma forma de consumo, isto se dá devido a todos os sentimentos de satisfação que ele proporciona. As pessoas passam cada vez mais a vê-lo como um objeto de felicidade intensa, achando que ele será perfeito da forma como pensa, ou que se adaptara à maneira que melhor lhe convém.

Fontw: goo.gl/uBreJz

A grande questão para quem vê o amor dessa forma consumista, é que ele acaba tratando o parceiro de maneira descartável, uma vez que este só serve para me trazer prazer. No primeiro momento que essa relação consumista não for mais prazerosa ela irá acabar, pois ela já não cumpre o seu único dever, que é o de satisfazer tanto emocionalmente quanto fisicamente um ser vazio, que desesperadamente está à procura de um amor utópico onde tudo será sempre perfeito.

O que muitos estão procurando nas relações amorosas é algo que na verdade não é o objetivo da mesma. Várias pessoas estão se relacionando para tentar preencher vazios em suas vidas, ou até mesmo como solução para a vida, e ao se relacionar com tal objetivo o fracasso da relação pode ser dado como certo.
A pessoa entra assim na vida amorosa crendo que ela será sempre linear, não apresentará nenhuma complicação, o parceiro sempre estará de acordo com o que pensa, mas isso não passa de uma ilusão que esse ser monta, para poder ter seu momento de êxtase ao consumir o amor.

Mesmo que quem procure o amor nesse modelo consumista consiga um pequeno momento de êxtase, que é o que ele de certa forma procura, enquanto ele estiver nesse ritmo de busca a um amor perfeito, como o dos filmes ou das músicas, dificilmente encontrará a felicidade (ao menos no lado amoroso da vida). Ele não sentirá o amor como uma grande comemoração da vida, ou jamais terá uma concepção desse sentimento como a de Erich Fromm (1900-1980) que diz que quando se ama de forma verdadeira um ser, ama-se então todos os seres, o mundo e a vida.

Assim fica firmado que muitas pessoas terão dificuldades em sua vida amorosa, e por conta disso terão um vazio em suas vidas pelo simples fato de não saberem se relacionar com outras pessoas, por ter sempre um olhar individualista sobre o amor.

Para entender o porquê de as pessoas possuírem dificuldades para se relacionar e são individualistas em vários âmbitos de suas vidas, inclusive no amor que é o mais importante para tal ensaio, temos que compreender que todo o atual contexto seja econômico, político ou cultural está sempre focado na individualidade, onde o eu está sempre centralizado. Como cita (MANZANO, 2016 p. 91) “o altruísmo, a valorização do próximo, a ética, a preocupação com a política, tudo isso fica de lado; afinal, são questões que envolvem o próximo, o outro com quem temos que conviver e com quem formamos um conjunto.”

Fonte: goo.gl/ANksdk

Não foi de repente que a sociedade passou a se portar dessa maneira, isso foi uma transformação social que se passou em um momento recente da história e vários pensadores ajudaram a moldar esse pensamento individualista na atual sociedade, sendo alguns exemplos Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Sigmund Freud (1865-1939).

Entendendo essa questão social fica mais fácil entender o porquê que tantas pessoas na atualidade só vivem um “amor” mais vazio e consumista, apesar de muitas vezes quererem sim um dito amor verdadeiro, que como citado anteriormente seria uma celebração da vida. O problema é que mesmo buscando uma relação mais duradoura e firme, a individualidade da atual sociedade é muito impregnada na maioria das pessoas, e todas as relações incluindo a amorosa, acaba por existindo de uma forma mais supérflua em sua maioria.

Assim é mais difícil julgar quem busca tais amores passageiros, uma vez que tal busca é só um reflexo do individualismo da atual sociedade. E mais fácil encontrar um problema nas relações amorosas supérfluas da atualidade, uma vez que é claro que uma relação amorosa para ser prazerosa para ambas as partes envolvidas, o Eu não pode ser o centro da questão. Assim fica fácil dizer que as relações amorosas não devem ser individualistas, onde o eu e o prazer de um fica em foco, mas que sim devem ser plurais, onde ambos os envolvidos irão se entender, resolver problemas, compartilhar o amor, e amar o mundo.

Em meio a todas essas formas de amor, sendo clichês ou de consumo, é evidente as dificuldades que surgem para que haja interação entre as pessoas. Seus relacionamentos estão ficando cada vez mais fracos e frágeis, de difícil confiança no relacionar-se com alguém, a desconfiança muitas vezes toma conta da pessoa, não se consegue mais entregar-se e nem mesmo se dá um espaço para que o outro tenha ao menos uma chance de mostrar seu valor e suas boas características.

O conhecer virou superficial olhando-se apenas as aparências externas e sociais, aparências sociais muitas vezes vista também somente pelos meios tecnológicos das redes-sociais, o conhecer alguém não é mais conhecer de verdade, não se sabe mais coisas intimas de alguém e muitas vezes ao menos nos preocupamos em saber isso da pessoa, afinal nossas vidas já são corridas demais em meio aos trabalhos, estudos e problemas internos para nos preocupar com os dos outros. Então acabamos por esquecer que compartilharmos nosso sentimentos e dificuldades é muito importante para a vida e para saber lidar com os problemas do dia a dia, e por isso nos sentimos cada vez mais sozinhos e vazios como se o amor estivesse “esfriando”, mas também não estamos fazendo nada para aquecê-lo.

Fonte: goo.gl/m7ejhf

Para um relacionamento a dois, em meio a todos esses pensamentos que nos norteiam, é difícil o manter, as pessoas o iniciam mas logo e por motivos supérfluos e egoístas acabam o mesmo, o traço da individualidade atrapalha muito nesses pontos, o fato de esperar a adaptação do próximo ao invés de entendermos ele e procuramos nos adaptar acaba com as chances de o relacionamento ser duradouro, pois para se ter um relacionamento a dois saudável e que dure, ambos devem reconhecer a problemática do casamento ou namoro, e certas atitudes podem acabar com um relacionamento assim como também podem salva-lo ou mantê-lo.

O amor entre duas pessoas não é um mar de rosas, precisamos entender o próximo e sua particularidade dentro de vários pontos como, a rotina do casal, os familiares e diversos ambientes do qual cada um frequenta. Por exemplo o ciúme, que dá muitas dores de cabeça e o egoísmo, são pontos que quando bem trabalhados dentro da problemática do casal, muitas vezes torna o relacionamento mais saudável e duradouro.

A reflexão diária sobre esses assuntos é de extrema importância para as nossas relações, somente cada indivíduo saberá o que será melhor para o seu relacionamento e isso não será encontrado em livros, canções, filmes ou peças teatrais. Devemos então fugir do amor que nos é imposto, que é genérico e superficial, desfocando o modo certo de enxergar esse amor e muitas vezes sem bases sentimentais. A partir desses aspectos procuremos então o amor natural, concentrando-se no que de fato é importante para equilíbrio e harmonia de ambas as partes dentro de um relacionamento.

Com a fundamentação de um relacionamento o mesmo passará a ser mais próspero e feliz, porém não serão evitados momentos de tristezas ocasionando altos e baixos dentro da relação, com saltos de euforias e felicidades para tristezas e decepções. Não existe uma formula mágica para um relacionamento, mas sim meios e formas para passar por todas as etapas difíceis e boas, evoluindo com fortalecimento, adquirindo experiências e mais conhecimento para etapas futuras.

Para quebrar essa barreira que não permite que vivamos todos esses estágios de um relacionamento e de fato sejamos capazes de conhecer nossos parceiros, é necessário que quebremos um pouco a individualidade dos dias atuais, e assim nos permitamos expressar coisas mais pessoais para que também recebamos informações que serão confiadas somente a nós. Isso não garante que se terá um namoro ou casamento perfeito, mas de fato é um bom começo.

Fonte: goo.gl/zKhZXy

CONCLUSÃO

Portanto, com o estudo desse ensaio vimos o quão difícil é, e como está ficando cada vez mais, relacionarmos com o próximo, tendo em vista o relacionamento a dois como alvo principal, e a visão de amor que temos e que o mundo nos proporciona nos dias de hoje em meio a todas as formas de informação.

O amor de tanto ser falado e discutido de inúmeras formas acabou se tornando clichê e, portanto, até mesmo para os mais intelectuais e experientes no assunto fica difícil encontrar uma nova abordagem e formas de discussão sobre o assunto. E por muitas vezes tal assunto é tratado de forma errônia e manipuladora, levando as pessoas a terem visões destorcidas do amor, promovendo uma busca por um amor inacabável e inexistente que leva muitas vezes a decepções esmagadoras, ou incentivando a descrença no amor, tendo uma menor procura pelo sentimento.

Outra visão, é a de consumo desse sentimento, fazendo com que pessoas criem uma imagem supérflua do amor, de perfeição, imagem essa que não existe, trazendo consigo amores passageiros dos quais a pessoa salta de amor para amor em busca do que lhe foi comercializado. Assim vemos na atualidade um amor mais vazio e consumista, uma forma individualista do amor, esse que se preocupa só consigo mesmo, e não com o outro e seus sentimentos, tornando assim mais difícil julgar quem busca um amor natural e verdadeiro, de quem busca um amor comercial e supérfluo.

Font: goo.gl/sDboQ1

Então, percebemos que para alcançarmos um relacionamento saudável necessitamos de muita reflexão interna de nossas ações para com o próximo, buscando adaptação a diversas situações que uma relação nos promove, visando melhorias e evoluções para o casal e sempre lembrando que o relacionamento a dois não é somente alegria, nele haverá também tristezas e dores. A reflexão dos nossos atos como pessoas dentro da relação não é uma formula para que não aja discussões, brigas, intrigas e dores entre as duas pessoas, mas sim uma busca incessante pelo aperfeiçoamento e entendimento de ambas as partes, afinal estamos falando de dois seres diferente e em vários casos muito distintos,mas é isso que torna o convívio e o relacionamento empolgante, intrigante e podemos ate dizer “uma aventura sem fim.”

REFERÊNCIAS:

PLAMA, F. P. A Filosofia Explica: Porque é tão difícil se relacionar 1. Ed. São Paulo, Editora Escala, 2016.

O fóbico social e a dificuldade em manter relacionamentos. Disponível em <https://www.bonde.com.br/saude/sexualidade/o-fobico-social-e-a-dificuldade-em-manter-relacionamentos-224564.html >. Acesso em 01 de mar. 2018.

A dificuldade com relacionamentos amorosos. Disponível em <https://danielacarneiro.com/a-dificuldade-com-relacionamento-amoroso/ >. Acesso em 01 de mar. 2018.

 

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