É doloroso sentir a falta de alguém quando a consciência acusa que nem devesse sentir!
Mas ainda assim, sentir…
O outro nem responde mais.
Talvez nem se importe, ou nunca se importou!
mas a falta ainda é sentida!
É uma falta que dói…no fundo, no fundo, sempre houve a falta, mesmo quando havia a presença.
Havia a presença?
Mas o outro nunca esteve inteiro e agora você percebe que você também não era, pois se tolhia, se encolhia todo para caber no espaço da primeira fresta de carência que emergia do egoísmo ensimesmado do ser que tinha a sua presença como Capacho.
Você gostava da esperança que ele oferecia, mas era sempre um SE e, ávido pelo futuro ofertado, nem percebia que seu presente era sorvido por um carrasco chamado passado e que fez do seu medo de ficar sozinho a sua prisão e, nem se deu conta que você já estava só!
Ao encolher-se para caber no incabível, você se despejou, tornando-se inquilino de si mesmo, pagando aluguel para manter a sensação agradável de ter alguém, mas do tributo que pagou ao vício de caber onde não havia espaço, não sabe como reintegrar à posse afetiva de si.
Sente a falta do amigo ou do amor que, talvez você tenha construído somente dentro de você…
…sem comunhão de bens! Sem a conjugação do nós. Ficou só o NÓ!
O outro levou tudo e, restou a falta da pessoa que fazia com que você se sentisse um pouco mais visível, ou, talvez, menos invisível?
Era tanto para o lado de lá, que quase nada restou da imagem distorcida que lutou por refletir por você e pelo outro!
Embora tenha sido uma ilusão criada a partir do seu medo da solidão, o amor era de verdade…
e ele dói de verdade…
Parece que é só você que perdeu algo… No entanto, você se perdeu e para esquecer alguém assim, urge lembrar quem você é!
Quando se lembrar quem é, saberá o que fazer com a dor…
Por enquanto, são só tentativas para preencher o espaço com outras ilusões!
Se não abraça a dor da cura,
você se sentirá para sempre a
própria doença!
Desintoxicar-se de sentimentos para alcançar a sobriedade, também nos relacionamentos é o que salvaguarda a consciência.
Pois a consciência é a alma da Liberdade!
Referência:
REIS, Ed. Reintegração de posse afetiva. Palmas-TO: Palmas, 2022.
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Por que somos monogâmicos? Reflexões sobre a prática da monogamia em nossa sociedade
23 de fevereiro de 2023 Giselle Carolina Thron
Insight
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O ideal do relacionando monogâmico obtendo como final feliz o casamento Fonte: pixabay.com.br
Afinal, por que somos monogâmicos? Refletir sobre a prática da monogamia e não-monogamia em uma sociedade mononormativa carregada de valores patriarcais e de estereótipos de gênero é uma tarefa de certo modo difícil. Podemos responder a pergunta inicial com uma simples frase: “porque é o certo!”. Mas de onde veio o conceito de certo ou errado na forma de se relacionar afetivo-sexualmente? Em primeiro lugar, gostaríamos de ressaltar que esta reflexão não se refere a determinar o que é certo ou errado nos padrões de relacionamentos, mas sim, abrir o debate sobre a forma de relacionamentos possíveis.
Desde sempre nos é ensinado modos de nos relacionar em sociedade, assim, entende-se que comportamentos sócio-afetivos-sexuais nos são ensinados. Em uma sociedade baseada em valores patriarcais, religiosos, heteronormativos é difícil pensar que existem outras possibilidades de nos conectar afetivo-sexualmente com o outro. Para ser feliz precisamos: crescer, estudar, casar, ter filhos. Esta é a norma que nos é ensinada. E de onde vem esta norma?
Nossa primeira reflexão parte da ideia do amor romântico que foi popularizado no século XIX o qual pode nos ajudar a entender a atual monogamia como norma de relacionamento. O amor romântico é entendido como uma construção sociocultural advinda dos romances trovadorescos do século XI onde o amor era idealizado como o sublime da perfeição. O amor cortês jamais seria alcançado pois era considerado a sublimação da perfeição. Este conceito foi disseminado através de poemas e peças teatrais que encantavam o espectador de modo a desejar aquele amor para si, perseguindo este desejo por toda sua vida. O romance Tristão e Isolda, história medieval originada da literatura celta e popularizada na literatura francesa no século XII, representa bem este sentimento.
Voltando ao século XIX, a literatura nos mostra vários exemplos de romances tendo como plano central a luta pelo amor: heteronormativo, branco, burguês. Valores estes tão bem representados na literatura onde o casal lutou durante toda a história para ficarem juntos no final, claro, ao conseguirem finalmente o “casamento” a história acabava. Afinal, Capitu traiu Bentinho? Esta é a indagação que persiste até os dias atuais, uma vez que seria impensado, até para os dias de hoje, Capitu amar Bentinho e Escobar, pois a norma se baseia na tese mononormativa de que só é possível se relacionar com uma pessoa e principalmente para as mulheres.
O século XX trouxe a popularização do cinema e os grandes clássicos hollywoodianos mantendo o mesmo ideal de amor, onde o casal deveria sempre optar por uma pessoa para amar e se relacionar para o resto de suas vidas. A popularização do cinema invadiu classes socioculturais diversas e atingiu todas as faixas etárias com as adaptações dos contos de Grimm pela gigante do entretenimento Disney e a famosa figura da princesa encantada que deveria esperar seus príncipes para que finalmente tivesses sua salvação de uma vida de maus tratos. Mesmo que o perfil das princesas Disney tenha mudado com o tempo, animações como Frozen e Moana representam bem estes perfis, ainda se persiste a figura da princesa que precisa necessariamente encontrar seu par, casar e “ser feliz” no castelo nas nuvens.
Em contraposição ao ideal masculino de ter sua “princesa” que deveria ser a imagem de um “anjo”, figura idealizada como dócil, terna, feminina e obviamente virgem, o “príncipe”, forte, másculo, protetor e atencioso foi idealizado através de personagens a exemplo dos filme Ghost, do Outro Lado da Vida ou Top Gun, Ases Indomáveis, com trilhas sonoras marcantes para fixar ainda mais no público o ideal romântico que perpetuam no imaginário coletivo como grandes exemplares de pares perfeitos, ou seja, o amor romântico idealizado e sobretudo, único e exclusivo, até mesmo após a morte.
O advento da internet e a popularização das redes sociais tem nos influenciado e hoje a figura dos “influencers” ditam como devemos nos comportar. Fotos e vídeos de casais “perfeitos” fazem com que o grande público anseie por uma vida igual e o mesmo modelo de mononormativo de relacionamento. Se por um lado a popularização das redes sociais continua reafirmando um modelo de relacionamento mononormativo percebe-se também que o discurso tem se ampliado e hoje vemos o debate de relacionamentos não-monogâmicos como formas válidas de se relacionar afetivo-sexualmente. Debates que seriam impensáveis há algumas décadas. Hoje, podemos ver uma crescente onda de relacionamentos não-monogâmicos como o poliamor, relacionamentos abertos, swinger e outras práticas e modelos de relacionamentos.
Mesmo com a abertura do debate sobre variados tipos de relacionamentos ainda observa-se que o assunto está envolto de tabus e preconceitos. Ao examinar alguns comentários em posts e reels que se referem aos relacionamentos não-monogâmicos a maioria das pessoas se posicionam de maneira agressiva e/ou crítica e dirigem comentários como: “falta de maturidade”, “se quer liberdade não namore/case”. O que revela que o assunto deve ser cada vez mais debatido e normalizado.
Atualmente podemos observar diferentes formas de se relacionar Fonte: pexels.com.br
Podemos então creditar o costume ocidental da monogamia apenas ao ideal de amor romântico? Na verdade, é difícil dizer que uma norma socialmente aceita é debitada apenas a um fator e este texto se propõe a realizar reflexões, deste modo, a segunda reflexão que propomos tem relação a questões ligadas a fatores econômicos.
Durante o desenvolvimento das sociedades humanas houveram mudanças de costumes e desde que se descobriu como ser social os indivíduos se relacionam de diversas maneiras. Em sociedades nômades, há milhares de anos, acreditava-se que as mulheres engravidavam por influência de poderes divinos, não havia o ideal de família nuclear e os filhos eram responsabilidade de toda a tribo. A partir do momento que se entendeu que as mulheres engravidavam através de relações sexuais com homens, houveram novos arranjos pois viu-se que as mulheres poderiam assegurar sua maternidade e aos homens ficava a dúvida. (Almeida, 2021).
A partir daí começou-se a definir relações exclusivas para se assegurar a paternidade e o direito de herança. Este foi a tese levantada pelo economista, filósofo, sociólogo e jornalista alemão Friedrich Engels em sua obra A origem da Família da Sociedade Privada e do Estado (1884), onde ele explica a formação da família nuclear e monogâmica pela ótica da sociedade capitalista, sendo assim, não seria possível outro modelo de família (relações afetivas/sexuais) que não assegura a manutenção da propriedade privada através da certeza da paternidade.
Segundo Engels a família era uma forma de organização social baseada na cooperação e na comunidade de bens, onde não se tinha a noção de propriedade privada e a relação entre homens e mulheres eram igualitárias. Com o desenvolvimento das forças produtivas e da agricultura, a propriedade privada surgiu como forma de controlar os recursos naturais, o trabalho humano gerou a divisão da sociedade em classes e a exploração do trabalho humano gerou a divisão da sociedade em classes e divisão de papéis sexuais, onde os homens seriam responsáveis pelo sustento e proteção e as mulheres seriam as responsáveis pelos trabalhos familiares e a manutenção dos filhos e da casa, embora a necessidade de trabalho pesado ainda continuaram como tarefa feminina.
Desta forma, as sociedades igualitárias e comunitárias foram sendo substituídas pela norma de famílias nucleares e mononormativa, assim, não haveria a possibilidade de dúvidas quanto à paternidade e o direito à herança estaria garantida aos filhos legítimos. Outro fator importante envolve o ideal patriarcal de assegurar, além do patrimônio (capital) que a mulher fosse também uma propriedade masculina ficando ligada ao homem através do casamento e da maternidade. Mas, e quanto às famílias de classes econômicas mais baixas que não teriam patrimônio a ser passado? O que se argumenta é que além do capital financeiro a sociedade que tem o patriarcado como base, mesmo sem herança para ser passada para as futuras gerações, o peso da continuidade, ou seja, “meu filho levará meu nome” sendo este considerado também um patrimônio a ser passado.
Chegamos, então, ao final destas reflexões com o intento de abrir e ampliar o debate sobre o modo como as pessoas se relacionam afetivo/sexualmente. Podemos então responder a pergunta inicial deste texto, por que somos monogâmicos? Entendemos que há muitas questões envolvidas e este texto discute apenas duas delas, há ainda muito a ser discutido e podemos e devemos nos questionar: Afinal, há uma norma? Esta norma pode/deve ser pensada/discutida? Por que devemos aceitar que nos relacionamos de maneira que outras pessoas acreditam ser o certo? Por que não podemos nos relacionar com quem ou como nos sentimos melhores/completos? Afinal, nascemos para sermos felizes e a forma como nos relacionamos afetivo/sexualmente é de grande importância.
Referências:
ALMEIDA, A. L. de. Contribuições da Psicologia Social Acerca da Monogamia Compulsória. Belo Horizonte. 2021. 24p. Disponível em: chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://jornaltribuna.com.br/wp-content/uploads/2021/06/AS-CONTRIBUICOES-DA-PSICOLOGIA-SOCIAL-ACERCA-DA-MONOGAMIA-COMPULSORIA.pdf. Acesso em: 18/02/2023.
VIEIRA, E. PRETTO, Z. Mulheres não monogâmicas: Trajetórias em uma sociedade Mononormativa. Repositório Universidade RUNA. Dezembro/2021. Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/20369 . Acesso em: 19/02/2023.