Os seminários clínicos e a formação acadêmica

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No dia 22/08, na Semana Acadêmica de Psicologia do CEULP/ULBRA, ocorreram pela manhã os Seminários Clínicos. O principal tema desses seminários foi a psicoterapia, cujo intuito foi mostrar os avanços em cada ênfase, além de demonstrar a importância desta área na Psicologia.

A psicóloga Ana Carolina Peixoto apresentou um caso atendido na Clínica-Escola sob a perspectiva Sistêmica. O caso é de uma menina chamada Helena (nome fictício) que tinha nojo do pai, dos objetos, da sua casa e da vida em geral. Ela arrumava o seu quarto sozinha, pois não queria que alguém além dela mesma tocasse nas suas coisas. Ela só se sentava na sua cama devido ao nojo; tinha crises frequentemente e não se reconhecia como adolescente. Ao ter contato com alguém se irritava facilmente e tinha ataques de coceira. A relação familiar era muito conturbada, pois os pais tinham pouca expressão afetiva.

O pai alcoólatra agredia a mãe. A família era marcada pela Triangulação, onde só a mãe e as irmãs tinham contato e o pai era excluído. Ao mesmo tempo ela era o bode expiatório da família, tudo que ocorria descontavam nela.  Helena e a família começaram a fazer psicoterapia com objetivo de superar e compreender o motivo do nojo de Helena e para o equilíbrio familiar. Várias dinâmicas eram feitas, principalmente de comunicação, para poder superar a timidez de Helena. Logo após ocorreram os dois outros Seminários Clínicos, com a psicóloga egressa do CEULP/ULBRA Damaris Fernandes e a acadêmica Flor de Lyss Feitosa, com os ênfases na Sócio-Histórica e Psicanálise, respectivamente.

A importância deste evento é a possibilidade de perceber como a psicoterapia é algo grandioso. Uma situação tão simples, como nojo, que muitos podem dizer que não é nada demais pode se ver através desse estudo que houve muitos motivos que influenciaram esse problema da Helena. Por isso que o psicólogo não tem que ter a visão fechada e sim enxergar além daquela situação que o cliente/paciente está passando, pois algo tão nobre como lidar com o ser humano é procurar entender o que ele está passando. Ajudá–lo é recompensador. Embora nos dias atuais ainda haja preconceito e receio de procurar o psicólogo, fica claro que paciente e terapeuta podem identificar o motivo de uma dor emocional, trabalhando para que isso não se torne algo mais sério.

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Fonte: http://www.psiconlinews.com/2015/10/por-que-fazer-psicoterapia.html

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Atendimento psicológico a pacientes com doenças infectocontagiosas

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A 1ª Semana Acadêmica de Psicologia foi uma experiência marcante em minha vida acadêmica. Aproveitei ao máximo tudo que estava sendo oferecido. Participei de oficinas, de palestras, conheci pessoas interessantes, fiz amizades, troquei experiências, enfim, foram momentos de grande aprendizado. Na oficina ministrada pela enfermeira e aluna de psicologia Renata Bandeira, no dia 24/08 às 14hs, que traz por título: Precaução no Atendimento Psicológico à Pacientes com Doenças Infectocontagiosas foi pra mim a que mais marcou. O conteúdo proposto foi extremamente importante, referiu-se aos cuidados básicos de limpeza, como também os mais extremos, referentes às contaminações graves em um ambiente hospitalar. Essa oficina estava voltada ao psicólogo hospitalar, sua práxis nesse contexto de doenças infectocontagiosas.

A compreensão desse ambiente é extremamente relevante, visto que se trata de um contexto de doença que por vezes são desconhecidas e exigem cuidados. Fiquei atenta a tudo que era explicado, tendo o cuidado de não deixar passar nada, é um tema muito interessante. O que mais me intrigou foi quando a Renata relatou que alguns psicólogos rejeitaram a atender pacientes com doenças infectocontagiosas. Entender a etiologia da doença é crucial, conhecer o ambiente o qual trabalha é um dos pré-requisitos básicos para que sua prática não se resuma a um modelo ultrapassado, e quando se depara com o desconhecido, recua em vez de buscar conhecer o processo dinâmico da doença, deixando o paciente que já está fragilizado fisicamente, sem atendimento psicológico.

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Fonte: http://www.biotipopsicologia.com.br/novosite/index.php/psicologia/acompanhamento-hospitalar

O desconhecido traz preconceito, medo, indiferença, sentimentos estes que nos faz retroceder em vez de avançar.  Na atualidade, penso que essa atitude esteja ultrapassada, existem tantos meios de informação que uma simples busca no Google responde todas as dúvidas ou parte delas, um exemplo de uma doença grave e contagiosa é a meningite; se em 24 horas houver medicação, não contamina. Cada pessoa responde de um jeito diante das situações, e respeito isso, o que ressalto aqui é que antes de negar um atendimento, se dá a oportunidade de saber do que se trata ai sim terá base fundamentada pra rejeitar ou não. Entendendo de forma correta esse cenário, as recusas ao atendimento de pacientes podem ser evitadas.

Aprendi como lavar as mãos corretamente, achei que sabia a maneira correta, ledo engano, o processo demanda tempo e passos a seguir. Tinha uma caixa que sugeria se as mãos estavam higienizadas ou não, simulamos lavá-las com líquido fluorescente, e depois colocamos na caixa. Pra susto de muitos foi unânime a não higienização correta (motivo de muitas risadas). Em resumo, foi muito bom participar dessa oficina em especial, porque esse cuidado não se resume só a mim, o que faço vai ou não beneficiar a vida de outras pessoas, é como uma bola de neve, à medida que anda, vai crescendo, ficando enorme, o mesmo ocorre com as contaminações, se não for interrompida com os cuidados devidos crescem de forma gigantesca.

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Fonte: https://vivamelhoronline.com/tag/lavar-as-maos/

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Psicologia Hospitalar: lidando com o sofrimento humano

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Dentre as muitas e preciosas palestras das quais eu tive a alegria de participar durante a 1ª Semana Acadêmica de Psicologia do Ceulp/Ulbra, realizada dos dias 22 a 26 de Agosto, resolvi partilhar um pouco da experiência vivida no dia 24 de Agosto. A mesa-redonda desse dia teve como titulo “O Psicólogo Hospitalar e o sofrimento na atualidade”.

A conversa começou com a exposição de Izabela Querido, Psicóloga hospitalar na UTI do Hospital Geral de Palmas.  Na fala de Izabela me chamou atenção a realidade vivida numa unidade de terapia intensiva: pacientes em estado grave e com risco imanente de morte; o estereótipo de sofrimento, dureza e dor; internações que ocorrem às vezes de forma abrupta ou pelo agravamento de doenças base; um ambiente estressor e impessoal.

A realidade psíquica de medo; insegurança com relação à cura; ameaça iminente de morte, mas também de esperança e de luta pela vida. Nesse ambiente a presença do profissional de psicologia junto aos pacientes muitas vezes é de ouvir suas angustias e medos numa escuta ativa e empática, e muitas vezes de ser a única presença amiga, quando a família é totalmente ausente de uma voz de esperança nos ouvidos de pacientes em coma ou sem possibilidade de fala. A próxima fala foi da Marília Pahim, psicóloga hospitalar no hospital materno-infantil Dona Regina. Marília narrou as peculiaridades de seu trabalho junto a mães no pré-parto, parto e pós-parto. Acolher as angústias, os medos, as ansiedades e ajuda-las na elaboração destes momentos tão importantes para muitas mulheres.

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Fonte: http://www.amib.org.br/simposio-psicologia/repositorio-de-noticias/single-geral/noticia/comunicacao-na-uti-sera-tema-de-simposio-de-psicologia-1/

O último a falar foi o psicólogo hospitalar Roniery Santos, que atua também no HGP com pacientes em estágio terminal e portadores de doenças sem cura. Um dos slides tinha escrito: “quando se esgotam os recursos terapêuticos e principalmente na fase final da vida, evidenciam-se os limites da vida dos pacientes, mas também dos saberes e das práticas médicas e dos profissionais da saúde”. Essa frase me fez refletir… Estamos imersos num mundo onde se tenta a todo custo driblar a finitude do ser humano.

A tentativa imanente do homem de dominar a natureza é no fim a tentativa de se achar uma cura para o grande mal: a morte. Lembrei-me então das experiências vividas na equipe de humanização da Santa Casa de Misericórdia de Anápolis, quando acompanhávamos esses pacientes terminais desde a descoberta até a morte. A dor de saber que a vida estava no fim, o sentimento de impotência dos profissionais e dos pacientes. Acompanhei por diversas vezes o processo desde a negação até a aceitação já no final da vida e a esperança da vida eterna.

No entanto, a experiência que mais me lembrei durante a fala do Roniery foi um paciente ateu que acompanhamos. O grande desespero, a negação do fim que o acompanhou até seu ultimo minuto. Como religiosa tive grande dificuldade de lidar com essa situação, e fiquei imaginando qual seria minha posição como psicóloga… Enfim saí da mesa-redonda impressionada com o trabalho dos psicólogos nas unidades de saúde. Acredito que não basta ser uma profissional bem capacitada, mas é necessário ser um apaixonado pela vida humana e acreditar que nos momentos de maior pobreza e fragilidade do ser humano nossa missão resgata a humanidade.

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Fonte: http://www.medicinaintensiva.com.br/uti-guia.htm

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Tocado pelo fogo: o estigma da ansiedade

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Diz a lenda que Pã, o deus do horror, matou sua própria mãe quando esta o olhou pela primeira vez. Os gregos já tentavam explicar o horror, a ansiedade, a angustia e o pânico através de suas lendas. Certa noite eu acordei. Meu coração parecera parar. Não conseguia respirar, não conseguia me mover, apenas me contorcia para esquivar de uma dor invisível que eu mal pude explicar.

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Fonte: Google.

Eu não sabia o que estava acontecendo, apenas senti aquele momento, como se fosse o último, como se nada mais existisse. Durou alguns minutos e depois parou, mas o medo de dormir persistiu, me perseguindo durante a noite. Eu tinha medo que adormecesse e não acordasse mais. Aquele tinha sido meu primeiro ataque de pânico.

Então o mundo se desdobra em opções. Para cada opção existe um resultado: não previsível e ruim. A mente de um ansioso funciona assim. A tentativa de jogar com possibilidades que vão além do nosso controle. Para o ansioso é melhor não agir, para não ter que sofrer consequências. Mesmo com a perspectiva distorcida, e um ansioso reconhecendo isso, sua mente não para de tentar prever acontecimentos vindouros, sempre com a ideia fixa de que algo

Pouco tempo depois fui diagnosticado com síndrome do pânico, os episódios se tornaram recorrentes, especificamente quando eu estava em meio a grandes multidões. Sudorese, tremores, tontura, fadiga e medo, muito medo. Como posso descrever a experiência traumática de quem passa por um ataque de pânico. Mas o que é o pânico? De acordo com o dicionário é o que assusta e amedronta, sem motivo específico, ao passo que a ansiedade é o mal-estar físico e psicológico, ainda que sem motivo específico ou circunstância.

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Saatchi Art Artist Arturo Leal; Drawing, “Anxiety”.

Não há, até o momento, explicações cientificas para ambos, estamos atrasados em relação ao pânico e à ansiedade. Entretanto, sou grato por não viver na década de cinquenta para trás, onde tudo isso era tratado como desvios de caráter, de maneira brutal e desumana, diferentemente dos dias atuais.

Embora não haja explicação, é completamente crível que existe relação entre pânico e da ansiedade. Uma se inicia através da outra.

É preciso um estudo profundo e detalhado do histórico familiar, de depressão e de abuso de drogas, para que se possa chegar a um consenso da origem da ansiedade e do pânico. Ainda assim, o mistério permanece.

Primeiro vislumbramos a ansiedade, e em seguida, o pânico.

O ansioso, como eu, jamais viveu no presente. Pessimista e diversas vezes tenebroso. Não age com lógica, e mesmo que às vezes, só às vezes, reconheça sua visão deturpada, a ignora. Vivemos como um computador. Contabilizando possibilidades de coisas que nem aconteceram. Um futuro sombrio e incerto, que nos faz sofrer e pagar um preço caro por isso.

Falando por experiência própria, sempre fui ansioso. Quando criança, não podia esperar a meia noite de um natal para abrir um brinquedo. Se me disser “preciso falar com você”, e não falar na hora, é motivo para um infarto fulminante. A mente não racionaliza que poderia ser qualquer coisa, e sim, um milhão de possibilidades negativas. E todas elas, por mais absurdas que sejam, são completamente plausíveis para nós. São palpáveis e possíveis.

A partir disso começaram a vir as crises de pânico.

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Fonte: Google.

Ainda sobre minha experiência, entrei em um ciclo tão vicioso, que chegava a calcular meus atos para que pudesse obter resultados certeiros no futuro. Não vivia o hoje, e quando algo saia errado, eu tinha meus chamados “surtos”.

Vivia em um constante estado de terror e depressão. A ansiedade me induziu `a depressão – que considero o pior castigo. Palavras de pessoas importantes pareciam granadas prestes a explodir. A falta de controle as machucavam.

A sensação de morte iminente me perseguia. O descanso, possível apenas sob medicação pesada. Eu achava que ia morrer o tempo todo. Nada podia deter esse sentimento.

Então me isolei completamente de tudo e de todos. Vivi seis meses isolado, evitei trabalho, amigos, relacionamentos. Nunca fui muito fã de terapias, até porque eu conheço perfeitamente meus traumas, e os trabalho. Mas não aconselho que dispensem, meu conhecimento é relativamente grande para que eu possa me manter com a doença, por isso em caso de paralização total de suas atividades diárias, consulte um psicólogo ou psiquiatra, pois é indispensável na manutenção da mente para que você possa ter uma vida normal. No meu caso, descobri o esporte e seus benefícios.

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Social Anxiety. By Lightisfar

Comecei praticando muay thai, e sempre que os treinos acabavam eu conseguia sentir a endorfina rodando meu corpo, e o alívio iminente fazia com que os problemas já não parecessem tão grande (imaginários, no caso). Comecei então a focar cada vez mais e mais em atividades físicas. Você pode controlar suas crises, por respiração, dedicação e paciência.

Saiba que durante um surto, você está tendo uma visão deturpada da realidade, e que nada do que você imagina é real. Enquanto nada acontecer, tudo permanece possível, inclusive sua remissão.

 

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“Demorei muito pra te encontrar”: surpresas no caminho do estágio

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Há algum tempo atrás, enquanto fazia mais uma das longas viagens rumo ao meu estágio em campo, dividi o espaço com um senhor de pouco mais que quarenta anos de sorrisos e lágrimas. Vestido com roupas coloridas, calçado com uma bota de cowboy, portando uma mochila que parecia guardar todos os segredos do mundo.

Aproximei-me dele, pedi que se afastasse um pouco, porque viagens longas requerem repouso. Ele se afastou num passo rápido e protegeu sua mochila, olhou para frente depois voltou a olhar em minha direção. Por um instante cheguei a pensar que ele falaria algo ou responderia o meu sorriso de agradecimento, mas fez o contrário, olhou para moça que estava em pé, alheia a ele, voltou a proteger seu mundo, olhou outra vez em minha direção e soltou: “Demorei muito pra te encontrar, agora quero só você”. Confesso que meu estômago dava gargalhadas, minhas bochechas tremiam, mas fiquei na dúvida se ele se sentiria ofendido ou se sorriria junto com meu sorriso. Ao contrário da moça que sentava na poltrona da frente que sorria largamente e dava um ar de “coitada dessa menina”, eu continuava com um sorriso meia boca.

– Tu me acha doido, né? – Indagou ele.

Confesso outro crime: por dentro me rendia ao senso comum, aquela mania nossa de que tudo que não faz parte da nossa “realidade” não é “normal”, mas, como se fosse um reflexo, respondi a pergunta com uma outra pergunta.

– Por quê? Tu se acha doido?

– Minha filha, no meu mundo eu sou o rei. (pausa). Demorei muito pra te encontrar, agora eu quero só você.

Confesso, mais uma vez, que ganhei um mundo de experiências. Reforcei alguns conceitos e renovei outros. Fotografei mais um universo de belezas. Naquela mochila, provavelmente, exista as leis daquele homem. A felicidade do seu mundo.  Nesse mundo ninguém é ninguém. Bonito mesmo é o nosso “segundo” mundo, aquele outro mundo que ninguém conhece, a não ser nós mesmos.

Desculpem, mas no mundo que criei recebi a serenata de um rei.

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Lições que aprendi em meu primeiro estágio em Enfermagem

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Quando criança, perguntavam-me o que eu iria ser quando crescesse e eu respondia sempre: “eu vou ser grande!” Eu não sabia “o que na verdade eu iria ser”, mas hoje eu tenho um novo significado para o fato de ser “grande”. Não sou daquelas pessoas que desde pequena sonham com uma determinada profissão e de fato seguem pelo resto da vida. Resolvi escolher a enfermagem, e vejo que por meio dela eu posso ser “grande”, assim como eu desejava. Hoje eu vejo minha futura profissão como uma oportunidade de contribuir de alguma forma com as pessoas.

A enfermagem está presente nos momentos mais importantes dos pacientes. Somos cuidadoras, amigas, mães. Eu não tinha noção da dimensão desse laço que é criado no dia-a-dia de um hospital, da importância de ser chamado pelo nome, de perceber que tem alguém que se preocupa com você, que te ouve com atenção.

No meu primeiro estágio, excelentes professores me mostraram o quão grandioso e satisfatório é ser um enfermeiro. Eu sempre ouvia: “Cuide do seu paciente como você gostaria que cuidassem de você”, e isso é algo que pretendo carregar por toda minha carreira como enfermeira.

No Hospital, quando eu estagiava, a história de um homem que estava ali há dois meses me chamou a atenção. Ele não falava muito, mas eu pude ver que ele era bastante triste. Curiosa, fui perguntando um e outro o porquê de tanta tristeza. Algumas pessoas foram me falando que ele era muito solitário, ninguém o havia visitado durante todo esse tempo.

Ele não se conformava com o fato de ter uma doença incurável e por isso não tinha vontade de continuar lutando. Antes de descobrir que tinha câncer, tinha uma vida normal como a de todo mundo, era casado e tinha uma filha. Quando se viu doente, perdeu o encanto pela vida e não tinha mais ânimo nem para as pequenas coisas, como tomar banho e escovar os dentes. Eu me perguntava onde estava a família dele nessa hora. Foi quando descobri que sua mãe o deixou quando pequeno e foi separado de seu irmão; sua esposa tinha problemas com álcool e sua filha não se interessava em visitá-lo. É muito triste saber que não temos com quem contar.

Eu percebia nos seus olhos, quando lhe trocava um curativo, que não tinha sido fácil acordar todos aqueles dias e ver que, apesar de toda sua dedicação pela família, não havia ninguém para segurar sua mão nos momentos de aflição. Eu via que a equipe de enfermagem que cuidava dele tinha bastante carinho e uma atenção especial, mas infelizmente não foi o incentivo que ele precisava.

E assim, infelizmente, ele se foi em silêncio, mas intimamente clamava por um pouco mais de amor e atenção. Toda a equipe sentiu muito pela sua partida, com a consciência de que fizeram de tudo para suprir sua necessidade de afeto e companhia. Foi aí que eu vi a verdadeira necessidade de amarmos ao próximo, de nos preocuparmos com a felicidade do outro.

Eu acredito que foram bastante valiosas para ele as palavras de carinho, bem como o sorriso quando nós, estagiárias e enfermeiras, entrávamos no quarto… a nossa companhia (mesmo que em alguns momentos ele a recusasse). A família é de fundamental importância na recuperação de um paciente, mas nós podemos fazer a diferença de alguma forma, pois estamos com eles na maior parte de sua permanência no hospital. Nós devemos ser mais humanos e entender que uma “cara fechada” vinda de um paciente não quer dizer que ele não quer sua presença e, sim, que ele precisa dela.

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A depressão: os remédios e porquê não funcionam em mim?

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Ao longo dos anos tenho feito várias pesquisas com o público de nosso grupo (Saúde Mental) a respeito da medicação e seus efeitos. Observei vários integrantes impacientes com o desgaste emocional que causa a dependência química dos remédios além de se frustrarem pela ineficácia desses. Após anos sendo medicados, desistiam do tratamento por acreditar que não pudessem melhorar.

Baseando-me sempre na pesquisa de Andrew Solomon (na qual este diz que transtornos mentais são 20% filosóficos e 80% genéticos), pergunto sobre a família do paciente, procurando saber se existe algum outro caso de doença mental conhecido.

Leia-se como filosofia, experiências e traumas, reais ou fictícios.

A realidade é una, estamos mais evoluídos na psiquiatria do que há 50 anos atrás e muito atrasado pelo que virá nos próximos 50 anos. Medicações novas e aparentemente milagrosas tem sido testadas, um exemplo é como a cetamina que promete curar a depressão em uma hora.

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Retirado de: socialspirit.com.br

Então qual é o parâmetro para escolha da medicação e por que não está fazendo efeito? Lembre-se: cada organismo, lida de uma maneira diferente frente à uma medicação. Os psiquiatras em geral começam com as dosagens mais baixas dos medicamentos mais comuns. A ideia é que o medicamento faça efeito em 15 dias e após o retorno, o paciente relate alguma mudança que possa favorecer seu tratamento.

Porém há casos em que o paciente toma por mais de anos o mesmo medicamento e não obtém os efeitos esperados, principalmente em casos de depressão. Pessoalmente, após dez psiquiatras pude conseguir fechar meu diagnóstico como bipolar, e então algo: a farmácia inteira foi testada em mim. Psiquiatria vive de chute e acerto, mas acerta. Se seu remédio não faz efeito, fale ao seu médico sobre a possível troca, fale sobre as dosagens, converse sobre seu tamanho e peso, para que seu aquele possa ajustar a dosagem correta de acordo com seu físico. O importante é não pare de tentar. Por mais complicado que seja seus tratamentos e os efeitos colaterais desse, o conforto que procura está ao alcance de seus dedos.

Um erro comum é acreditar que o oposto da depressão é a felicidade. Errado. A depressão é a falta de vitalidade, como por exemplo levantar da cama e realizar tarefas rotineiras. A felicidade e a tristeza são apenas estados de espírito momentâneos, passageiros.

A depressão é mais comum do que parece, uma em cada cinco pessoas a possui, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, o que pressupõe que 25% do mundo tem depressão, sendo essa a doença mais incapacitante da atualidade, ao lado da síndrome do pânico.

O que destila essa pesquisa são as condições sociais do sujeito, ou seja, o índice da depressão em indigentes é maior do que em outras classes, pouco tratado por ser pouco observado. Relaciona-se, através do preconceito, a condição da pessoa (de morar na rua por exemplo) com seu estado de humor deprimido. Leia-se “sua vida é um lixo e por isso você se sente como um lixo.”

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Retirado de: noticias.uol.com.br

Em contrapartida, isso não se vê em classes médias e altas, pois um novo tipo de preconceito iminente vem à tona. Quando em condições melhores, o fato de estar em depressão significa, para ignorantes, que a pessoa é mal-agradecida ou carente. “Se você tem tudo, por que age e se sente assim?”

A depressão não escolhe indivíduos, ela existe. E deve ser tratada.

Não se sabe por onde começa. Pode ser súbita, como pode demorar. Eu fui diagnosticado aos 16, mas conheço pessoas diagnosticadas com 49. Independente do quando ela aparece, deve ser tratada com fármacos e auxílio terapêutico para assim, obter-se o efeito desejado: sua remissão.

 

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Aos anos mais dourados, nosso mais perfeito cuidado

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“Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: não tenho neles prazer.” (Eclesiastes 12:1)

Há alguns dias, em um desses rompantes emocionais que temos de tempos em tempos, uma espécie de martírio pessoal, resolvi assistir “Amour”, um filme que retrata a estória de um casal de aposentados. A trama gira em torno de Georges e Anne, interpretados por Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva, das angústias e frustrações que acompanham as tentativas de aprendizado ao se lidar com as sequelas de doenças quase sempre relacionadas ao avanço da idade, das limitações que as mesmas trazem e do desgaste físico e, principalmente, emocional, que acometem todos ao redor, ou uma grande parte dos envolvidos, de uma forma ou de outra.

Uma obra com grandes interpretações, mesmo contando com um elenco mínimo, de poucos personagens. Basicamente, o marido e a mulher, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (“derrame”) e, por isso, inicialmente hemiplégica (um lado do corpo paralisado).

No final, a estória nos faz imaginar o quão difíceis devem ser os anos vindouros, ou seja, a velhice. Nos deixa com uma sensação de que somos nós, daqui uns anos e que, por sorte, talvez tenhamos alguém em quem confiar… Em quem se apoiar. Pois bem…

Trabalho na área da saúde há alguns anos, Enfermagem, e vou de um extremo ao outro: Para a Prefeitura da Cidade, trabalho em uma Maternidade, lido diretamente com o início de pequeninas e promissoras vidas, com toda uma jornada pela frente; e para o Governo do Estado, trabalho em uma Emergência (Pronto-Socorro), lido com o imediato, com o surpreendente, com a tentativa e, por muitas vezes, com o fim.

Resumidamente, deixarei um pouco do que vivi e aprendi pelos corredores e enfermarias dos hospitais pelos quais passei, porém, somente os momentos menos complexos, mais palpáveis. Não os deixo para que se sintam deprimidos ou atribulados, mas para que se lembrem de que todos nós, sem exceção, estamos sujeitos a isso, seja como o acometido ou como a diferença. Sim, por que precisamos de mais diferenças e não mais do mesmo.

Nós envelheceremos também. Pelo menos é o que sempre se espera, então, não nos custa respeitar e tratar com cuidado os que, um dia, foram tão jovens e ativos quanto nós.

Um certo dia, começaremos a contar as mesmas histórias repetidas vezes. Nossas mentes já não serão tão aguçadas, então, se alguém repetir cem vezes um conto ou lembrança, escute a centésima primeira vez também… Não ignore.

Por vezes, desorientados, gritaremos coisas sem sentido, chamaremos os que já se foram e, principalmente, em determinados momentos, chamaremos nossas mães. Sim, até nesses momentos difíceis, precisaremos delas. A diferença é que, precisaremos de “pais e mães de mentirinha”… Seja paciente. Já fui “mãe” de senhoras de oitenta e poucos anos, já respondi “Minha filha, vamos tomar um banho quentinho? Não precisa gritar o tempo todo… Eu estou aqui com você!” e já acalmei tantos outros, apenas conversando , participando da mesma “ideia”, falando sobre chuva, roça, quadrilhas, tempos antigos, trens de ferro, receitas especiais, ingredientes secretos, pratarias, peixes que voam, e por aí vai… Nada me custou, além de alguns minutos proseando e, em certos instantes, ouvindo poesias desconexas sendo declamadas durante algum procedimento. Elogie sempre. Converse. Sorria.

Não vamos mais querer comer normalmente, muitos alimentos se tornarão insípidos ou difíceis de serem mastigados e engolidos, então, nesse caso, sopas, caldos e vitaminas batidos no liquidificador. Alguns precisarão de canudos e colheradas pequenas. E tempo. Muito tempo e paciência até acabar uma refeição. Não esqueça: Desnutrição atinge qualquer faixa etária. Acredite.

Como dizem popularmente, teremos incontinência. Sim, possivelmente precisaremos de fraldas. Muitas delas. E precisaremos também de ajuda, como um bebê recém-nascido. Por muitas vezes, a recusa será habitual. Não se zangue. Conte até dez e tente outra vez.

Envelheceremos. Nosso organismo também. Provavelmente, precisaremos de algumas internações hospitalares para tratamentos diversos: Pneumonia, Diabetes Mellitus descompensada, Insuficiência Cardíaca Congestiva descompensada, Insuficiência Renal, Insuficiência Respiratória, enfim… Uma infinidade de doenças. Porém, nunca… Jamais seremos “velhos” o bastante ou “crônicos” o bastante para sermos privados de visitas e acompanhantes durante a estadia hospitalar. Encontre um tempo, quinze ou vinte minutos, para ao menos dizer “Oi! Um pouco melhor? Como estão as coisas?”… E dê atenção.

Nosso corpo, nossa pele… Tudo estará mais frágil e sensível. Se ficarmos na mesma posição durante muito tempo ou se, devido a alguma sequela de inúmeras doenças, ficarmos acamados, precisaremos ser mudados de posição diversas vezes ao longo do dia. Úlceras de pressão, ou escaras, como são conhecidas, começarão a se desenvolver, aos poucos, em qualquer parte do corpo e, se não tratadas corretamente, atingirão os tecidos de tal maneira que será possível a visão de tecidos ósseos. Sim, essas feridas chegam a esse ponto: Ossos ficam à mostra. E elas infeccionam.  Mas, não… Não se assuste. Prevenção? Após o banho, hidratar bem a pele e utilizar todos os recursos possíveis, como colchões especiais, tecidos macios, almofadas… E o principal? Realizar a mudança de posição (mudança de decúbito).

Falando em banho, talvez… E somente talvez, chegará o dia em que não seremos tão fortes, então, não conseguiremos permanecer de pé, debaixo do chuveiro, por muito tempo. Precisaremos de uma cadeira como auxílio. E, não, não será preguiça. Se precisarmos de um “banho de gato”, na cama, a água morna será sempre a melhor opção.

Além de tantas outras peculiaridades, por fim, quando não tivermos mais disposição para continuar acordados, quando não quisermos permanecer acordados ou não pudermos mais acordar, se ainda existir um fôlego ínfimo de vida, quero eternamente acreditar que nossos ouvidos ainda estarão atentos, então, conversas interessantes, lembranças maravilhosas, cantigas há tempos não cantadas… Essas serão muito bem-vindas. Creio que nossos ouvidos estarão atentos também a qualquer tipo de desculpas sinceras e confissões de amor. E não, não penso que precisaremos de tristezas e choro. Não isso. Apenas o essencial. Apenas o que nos deixará confortáveis, mesmo que sejam nossos últimos instantes.

Aos que ficarem, seremos gratos até o fim… Pelos ótimos cuidados e auxílios prestados. E pelo carinho e paciência. Talvez, partiremos com a íntima certeza de que fomos especiais para alguém.

Enfim… Tudo isso pode até não acontecer, mas existe uma possibilidade. E se ela existe, ainda que pequena, não nos custa sempre oferecer o nosso melhor. E se não for pensando no próximo, pensemos, então, em nós mesmos… E em como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos na mesma situação. Pensemos que, por fazer o melhor hoje, seremos recompensados amanhã, de alguma forma. Apenas… Pensemos, seja lá como ou o que for, mas cuidemos. Sem negativas. Sem abandonos. Coloquemos sempre a cabeça no travesseiro e, sem dúvida alguma, pensemos: “Fiz o que pude. Fiz o meu melhor!”. E descansemos, sem arrependimentos.

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Vivenciando a Saúde Mental

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“Saúde mental é poder amar e trabalhar;
amar no sentido incondicional que o verbo exige
e trabalhar no sentido de criar, sendo ao mesmo tempo
útil e produtivo.”
(Freud)

A minha ideia aqui, é relatar um pouquinho o que o campo da Saúde Mental produziu em mim quando comecei a ter contato com isso, em um estágio acadêmico do 5° ano de Psicologia, realizado em um CAPS III, no interior de São Paulo.

Iniciei minhas idas ao campo no final do mês de Março de 2012, a princípio era muito difícil estar ali, pois eu ainda não me sentia integrada naquela instituição e não tinha conhecimento de seu funcionamento, da equipe em geral e dos usuários. Apesar de eu me interessar muito pela Saúde Mental e ter desejado durante tempos participar deste projeto de estágio, o novo, o inusitado, me preencheu de medos e expectativas.

A partir das sensações que vivenciei na entrada do estágio – estágio não apenas na ideia de “estagiar” em determinada instituição, mas na perspectiva de que eu estava iniciando uma nova fase, carregando algo em mãos, e deveria aprender lidar com o imprevisto – eu pude enxergar, ou melhor, sentir que tudo estava sendo diferente do que eu imaginei que poderia ser. Então, eu abri meus poros para o contato a quem necessitava de amparo, abandonei a ideia de que ali o louco poderia ser um objeto para o meu benefício de aprendizagem acadêmica e o encarei enquanto pessoa, e pensando em práticas de cuidado.

Foi me ficando claro que conviver com a Loucura é uma experiência singular, que nos capacita confrontar com as nossas próprias experiências da loucura. Se impedirmos que o outro fale sobre sua verdade, impedimos ainda que nossa escuta se exerça a partir do lugar de sujeito que somos. Sobre isto, Cruz (1992, p.19) discorre:

[…] Reconhecer que o “doente mental” é um sujeito que deseja e que “sabe” sobre a verdade de seu desejo e de seu sofrimento, saber possível numa relação de fala/escuta que possa produzir novos sentidos para sua historia, que possa criar novos caminhos em seu circuito pulsional, novos territórios existenciais, reconhecer isto é renunciar à onipotência, ainda que ilusória, do lugar do provedor, do são, daquele que sabe. Mas antes de mais nada, é se confrontar com a própria condição de sujeito cindido, de sujeito confrontado tragicamente com suas próprias experiências da loucura.

Cabe mencionar que conversar com alguém que está “dissociado” pode ser muito interessante e muito complicado, não se pode pensar que não existe sentido em frases que parecem ser sem sentido, às vezes esse sentido vem codificado, está além do campo de significados. O que me remete a uma frase de Oury em “Itinerários de formação” a qual diz que “a pessoa, mesmo dissociada, permanece uma pessoa com seu próprio nome. Temos sempre assunto para qualquer um que tem um nome”.

Conforme a frequência no estágio foi aumentando, fui conseguindo me sentir menos insegura, e sempre busquei me manter próxima dos usuários, oferecendo minha escuta, já que não era difícil de notar que essas pessoas em sofrimento psíquico apresentavam uma enorme necessidade de falar.

Será somente numa relação de fala/escuta, na relação com um outro que, ao escutar, possa servir como suporte transferencial que o sujeito – o “paciente” – poderá produzir novos sentidos para sua história e para o seu sintoma. Isto significa lançar-se, portanto, numa “aventura” sem garantias de cura, num processo de colocação em movimento de circuitos libidinais cristalizados, repetitivos, processo que implica na existência de pelo menos dois sujeitos desejantes. (CRUZ, 1992, p. 19)

Muitas vezes senti medo de me perder em minhas ações, medo de fazer alguma coisa errada e de não estar fazendo nada, pois acabei me deparando com pessoas que mexem comigo e fazem eu me identificar, acabava conversando por simples satisfação, e foi um trabalho eu me conter, não deixar que a minha escuta ficasse só na passividade, mas com cautela tentei produzir sentido. Sobre essa produção de sentido, é importante mencionar o que ensina Ribeiro (2005), que se refere à loucura não enquanto doença a ser curada, mas enquanto uma “produção de sentidos que deve ganhar no âmbito do sujeito, existência subjetiva e territorial, contorno, amarrações que viabilizam uma localização – inscrição – desse ser no mundo em que vive […] (p.37)”.

O louco enquanto um indivíduo que possui voz, capaz de dizer sobre si mesmo e de produzir obra e para tratá-lo é necessário que se crie dispositivos para que ele possa ter lugar, se territorializar/desterritorializar, e estabelecer redes para garantir ou possibilitar algo que possamos chamar de vida…”Um pouco de possível, senão eu sufoco” (Deleuze).

O contato/a relação que tive com os usuários não se restringiram apenas no ambiente CAPS, tiveram momentos em que foi possível compreender a ideia de uma “clínica ampliada” com a transferência e o setting ocorrendo em diversos lugares, por exemplo, dentro da van indo para o ginásio, caminhando, no momento de um jogo de futebol etc. Souza (1999, apud Oury,1988-89; 23) cita que é importante possibilitar que “cada sujeito possa achar uma possibilidade de enganche, de interesse, mesmo parcial, sobre qualquer coisa que não era previsível…”, e ainda, sobre esses espaços informais, refere sobre a necessidade de o terapeuta ter uma escuta voltada para o novo e o imprevisível, estando atendo às possibilidades que se abrem a cada encontro, assim, a transferência aparece “como condição de possibilidade de emergência de um dizer” (Oury, 1988-89; 33).

Fundamentalmente é preciso que se enxergue o sujeito enquanto um inteiro, dentro ou fora do CAPS, sendo com práticas restritas a um setting protegido por muros, ou em qualquer outro tipo de ação. Emerich (2006, p.3) nos ajuda esplanar esta ideia quando diz que “O usuário não tem desejo ‘dentro do CAPS’ e direitos ‘fora’. Ele é atravessado constante e intermitentemente por esses vetores, ele é inteiro em todos os momentos”.

Em suma, experienciar a convivência com essas pessoas, pensar em produzir sentido e acuidade, é quase que como se lançar a uma aventura, – associando a Pelbart (1993) – desejando ter asas! Mesmo sabendo que não é possível ser anjo, resolver de imediato e viver no lugar de, mas pode-se ter disponibilidade para ouvir, para tocar, uma presença que pode às vezes suscitar um novo começo, no percorrer de diversos caminhos.

“Há infinitos modos de voar. Não é necessário escolher o de Ícaro, nem muito menos o de Santos Dumont.” (Gregório Baremblitt)

Talvez nossa modernidade tenha reduzido esses infinitos modos de voar unicamente a esses dois. Ora estamos de um lado, quando enlouquecemos, ora de outro, por exemplo, quando tratamos. É preciso muito senso estético, político, ético, clínico, demiúrgico até, para desmontar essa disjuntiva infernal. Necessitamos de muito espírito aventureiro para ir forjando asas, tanto no interior de uma instituição como fora dela, que nos permitam — a nós e a nossos pacientes — escapar a essa violência binária, que consiste em ter que optar sempre seja por um precipício abissal, seja pelo suave paraíso asséptico de uma estranha saúde, saúde sem desejo de asas nem um devir-anjo. (PELBART, 1993, p. 19)

Referências:

CRUZ, M. A. S. O Sujeito Silenciado: Uma Crítica às Práticas em “Saúde Mental”. 1992, p. 14-21

EMERICH, B. F. CAPS no Território: Cuidado onde a Vida acontece. 2006, p.1-12

OURY, J. Itinerários de Formação. Revue Pratique n.1, 1991. Tradução: Jairo Ideal Goldberg.

PELBART, P. P. Um desejo de asas. In: A nau do tempo rei. 1992

RIBEIRO, A. M. Uma reflexão psicanalítica acerca dos CAPS: alguns aspectos éticos, técnicos e políticos. Psicol. USP [online]. 2005, vol.16, n.4

SOUZA, M. O. S. Espaços informais: uma possibilidade no tratamento institucional de pacientes graves. São Paulo, 1999.

 

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