“Coringa”: cultura cosplay e copycat gerou o Palhaço do Crime

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Concorre com 11 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Ator, Fotografia, Figurino, Direção, Edição, Cabelo e Maquiagem, Trilha Sonora Original, Edição de Som, Mixagem de Som e Roteiro Adaptado.

Criado pela indústria do entretenimento, é chegado o momento dessa própria indústria fazer uma metalinguagem do poderoso arquétipo que gestou por todos esses anos.

Para muitos pesquisadores em Sincromisticismo, desde que o Coringa surgiu em 1940 nas HQs, o personagem transformou-se em uma forma-pensamento autônoma, um arquétipo que paira sobre o tempo. Mas como produto da indústria do entretenimento, ele também reflete o espírito de cada época, do Coringa bufão de Cesar Romero nos anos 1960 psicodélicos à inteligência sinistra do Coringa de Heath Ledger. Em “Coringa” (Joker, 2019) o Príncipe Palhaço do Crime ganha uma atualização, dessa vez um “spin off”: as origens do Coringa numa Gotham City vintage, mas que pode muito bem ser o espelho da nossa época. O Coringa de Joaquim Phoenix (numa interpretação assustadora onde, mais uma vez, um ator pagou o preço psíquico para encarnar o personagem) reflete a atual onda de ódio e ressentimento articulados pela Deep Web, fóruns e chans na Internet e pelo populismo de direita. Coringa é a persona da cultura copycat e cosplay atual dominada por um ciclo de feedback de identificações equivocadas que fogem do controle.

O Palhaço do Crime; O Príncipe Palhaço do Crime; O Flagelo de Gotham; Arlequim do Ódio; O Bobo do Genocídio; O Ás de Valete. Ou simplesmente “Joker” ou Coringa, supervilão criado por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane e que apareceu pela primeira vez em Batman #1, de abril de 1940.

De acordo com o plano inicial, o Coringa deveria ter morrido na sua primeira aparição, mas foi providencialmente poupado por uma decisão editorial, permitindo que fosse progredindo até se tornar não apenas um palhaço psicopata. Coringa tornou-se o arquétipo do psicopata: no ranking das mais populares formas-pensamento do século XX, ele é praticamente um deus.

Fonte: página oficial do filme

Numa espécie de “top of mind” das marcas dos personagens das HQs feita durante a produção de Batman do diretor Tim Burton, a pesquisa apontou que a bat insígnia ocupava a segunda colocação, logo após a imagem do sorridente rosto do Coringa – hoje o Coringa ocupa o segundo lugar no Top 100 dos vilões das HQs.

Como poderoso arquétipo ou forma-pensamento com forte energia psíquica capaz de influenciar não só as mentes como as próprias ações, o personagem acumula um histórico de estranhos efeitos nos atores que o encarnam, assim como inúmeros relatos de efeitos copycats – ataques e atiradores figurando como cosplayers assassinos na vida real – veja os links ao final.

Criado pela indústria do entretenimento, é chegado o momento dessa própria indústria fazer uma metalinguagem do poderoso arquétipo que gestou por todos esses anos.

Fonte: página oficial do filme

Coringa (Joker, 2019), do diretor Todd Phillips (Se Beber, Não Case e Escola de Idiotas), é uma incursão ao mesmo tempo vintage e realista, bem diferente das versões cinematográficas do Coringa: sem aspirações artísticas vanguardistas de Jack Nicholson, ou a inteligência cínica e sombria de Heath Ledger, ou ainda a comprometedora versão de Jared Leto, na qual o Coringa parecia mais um tipo de MC ostentação.

O logotipo retro da Warner Bros. que abre o filme indica que estamos em algum lugar entre as décadas de 1970 e 80. Os planos de câmera e a direção de arte que reconstroem a Gotham City emulam a estética do novo realismo Hollywood daqueles tempos em filmes como Taxi Driver (1976) e O Rei da Comédia (1982) – filmes protagonizados por anti-heróis perdedores em sociedades duras e violentas.

Coringa é um estudo triste, lento e caótico das origens do icônico vilão das HQs. Alguém que não é visível, anônimo numa cidade em crise econômica e imersa em sacos de lixo causada por uma greve dos serviços públicos.

Enquanto até aqui todas as histórias com o vilão o figuram como um personagem (caricato sempre em tons fortes sem muitas sutilezas), aqui Todd Phillips, ao lado do roteirista Scott Silver, estão mais interessados na composição mental, moral, emocional e física de um homem simples e esquecido e que se tornou o Coringa

Isso exigiu um tour de force do ator Joaquim Phoenix (e, como sempre, o arquétipo do Coringa cobrou-lhe o preço emocional e psíquico para encarná-lo, clique aqui): a atmosfera é sempre acinzentada e os planos de câmera sempre fechados no ator – tanto seu rosto como seu corpo são minuciosamente observados por nós, assim como sua lenta transformação no palhaço do crime.

O filme até aqui provocou críticas divididas em torno do debate de como Coringa representa temas sombrios atuais (principalmente a desigualdade e intolerância ao lado do crescimento do ressentimento e ódio), além de cadeias de cinema nos EUA proibirem a entrada de cosplayers do personagem – clique aqui.

Nesse ponto é que Coringa se torna ainda mais interessante: ficção e realidade se tocam quando o próprio Coringa figurado no filme é um produto da mídia que, afinal, não resiste a um personagem com uma boa storyline e punchline. Tirando do anonimato um perdedor que repentinamente vira um símbolo político de explosão da revolta e ressentimento, criando um gigantesco efeito copycat – aproximando-se da realidade.

Fonte: página oficial do filme

O Filme

Gotham City. Os moradores estão imersos em montes de sacos de lixo na frente de cada porta, sob um céu sempre de cor chumbo. Os tempos são difíceis: há desemprego, pobreza e falta de perspectiva. E um novo candidato a prefeito: o milionário Thomas Wayne (Brett Cullen), que apenas desperta o ressentimento outrora latente.

Alheio a tudo isso, encontramos Arthur Fleck (Joaquim Phoenix), um cara aparentemente gentil que gosta de fazer as pessoas sorrirem. Ele é um palhaço profissional com uma relação problemática com seus colegas da agência de clowns e um aspirante a comediante de stand-up.

Ele é uma das vítimas de “tempos malucos”. Ele próprio é um ex-interno de um hospital psiquiátrico vivendo à margem da sociedade tentando ter um emprego regular – sobe escadarias sem fim, passa por corredores mofados em uma vida de cortiços sombrios, caixas de correios vazias e elevadores quebrados.

Ele é espancado, zombado e abusado. Não se envolve com o mundo. A vida cotidiana para ele é difícil, pois as regras e os códigos que estruturam a sociedade permanecem desconhecidas para Arthur. Sua condição é de alienação, em grande parte devido a uma condição mental que causa risadas incontroláveis (geralmente nas piores situações) enquanto os olhos estão cheios de dor e tristeza.

“Só não quero mais me sentir tão mal”, sussurra Arthur para a assistente social que o acompanha: ele quer mais remédios, além dos sete prescritos. Logo mais não terá nenhum, com a política de austeridade da prefeitura que está cortando todos os serviços sociais.

É um sistema que agora não tem mais tempo ou recursos para gente como ele. Isso será simplesmente o início da descida do caminho para encontrar o Coringa dentro de si mesmo.

Fonte: página oficial do filme

Mas tudo muda quando, com muita relutância, aceita um revólver de um companheiro de trabalho para se proteger dos assédios de um palhaço que trabalha nas ruas. Em um metrô barulhento, sujo e pichado de grafites pela primeira vez Arthur revida e atira em três jovens yuppies grosseiros de Wall Street – depois do assédio malsucedido em uma mulher, resolvem descontar sua raiva no pobre palhaço.

Após essa primeira explosão de violência brutal, Arthur adquire autoconfiança. Seus movimentos se tornam elegantes, seu corpo magro e arqueado agora é ágil, gracioso. As mortes no metrô ganham as manchetes na TV, desencadeando um gigantesco efeito copycat: centenas de pessoas saem às ruas com máscaras de palhaço para se levantar contra os ricos.

Não era o tipo de reação que Arthur queria… mas é uma reação e ele aceita. Afinal, faz ele saber que existe e que suas ações significam algo para alguém. Cria-se então um ciclo de feedback de identificações equivocadas que fogem do controle – manifestantes nas ruas usam a máscara do palhaço, incitando Arthur a dar continuidade a sua nova persona. Aos poucos, Arthur descobre que o seu talento não é o humor, mas a expressão da raiva multiplicada.

No final, humor e explosão da raiva e violência são a mesma coisa: é tudo uma questão de timing.

Fonte: página oficial do filme

O Coringa do nosso tempo

Arthur sonha em sair do anonimato de humilhações da vida de um zé-ninguém, até descobrir que o talk show de Murray Flanklin (Robert de Niro, numa perfeita alusão aos filmes Rei da Comédia e Taxi Driver) apenas o convidou para mais uma vez ser humilhado – um vídeo de um show de stand up bizarramente sem graça de Arthur foi o motivo da produção convida-lo.

O Coringa desse filme definitivamente tem algo a dizer sobre o nosso tempo. O Coringa de Christopher Nolan em O Cavaleiro das Trevas era uma agente do caos que queria provar que no final as pessoas são terríveis e cruéis e escondem tudo isso com hipocrisia. Mas Nolan mostrou que Gotham se recusava à explosão de uns contra os outros.

Mas em Coringa temos o contrário: Arthur é perturbado e violento e todo mundo ao redor dele é cínico e paranoico. Os ricos e as estrelas da mídia são terríveis e as pessoas comuns ainda piores – uma multidão de saqueadores, assassinos que está apenas em busca de um pretexto para entrar na selvageria.

Fonte: página oficial do filme

Cada Coringa refletiu o espírito da sua época: o Coringa de Cesar Romero da década de 1960 era um bufão engraçado e sintonizado com a psicodelia da era hippie. O Coringa de Jack Nicholson aspirava ser um vanguardista que transformava o crime em arte – releitura de Tim Burton associada à estética dark de seus filmes. O coringa de Heath Ledger era cerebral e adulto. Ao contrário de Jared Leto, sintonizado com a cultura jovem contemporânea.

E o Coringa de Joaquim Phoenix reflete a atual onda de ódio e ressentimento bem sucedidamente articulados tanto pelo populismo de direita internacional quanto pela Deep Web, fóruns e chans na Internet: “Incels” (Celibatários Involuntários), “Hominis Sanctus”, PUA (Pick-up Artists), formas violentas de socialização masculina (macho alpha etc.) e uma variedade de pseudociências e conspirações LGBTs e feministas contra os homens.

O príncipe do Crime de Coringa é a persona da cultura copycat e cosplay atual – uma máscara ou persona (assim como foi o efeito copycat da máscara do Anonymous nas manifestações de rua) que empodera o ressentimento de uma massa de excluídos da globalização. Só que levados a autodestruição e anomia, bem ao gosto da atual extrema-direita, a “alt-right”.

Se Nolan ainda buscava um fio de resistência humanista em Gothan City contra a pegadinha macabra do Coringa, aqui a dupla Todd Phillips e Scott Silver joga literalmente o Coringa nos braços das massas que reconhecem nele sua própria crueldade e selvageria.

O resultado do filme Coringa é a resposta do porquê o sombrio supervilão bufão é tão fascinante e sedutor quanto Batman: ambos são movidos pelo ódio e ressentimento, porém com os sinais trocados.

FICHA TÉCNICA:

CORINGA

Título original: Joker
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquim Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy;
Ano: 2019
País: EUA, Canadá
Gênero: Drama/Suspense

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A Era do Ressentimento: um mal-estar contemporâneo

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Você é uma pessoa ressentida? A palavra ressentimento nos aparece de forma negativa nas relações, mas se torna essencial na convivência e procedimentos internos de cada um, sobretudo a partir da visão do filósofo e psicanalista Luiz Felipe Pondé, em seu livro a Era do Ressentimento. Publicado em 2014, a obra traz uma reflexão sobre o ressentimento e suas características na contemporaneidade. Faremos uma análise da obra de Pondé, e como esse sentimento afeta os relacionamentos e a vida social, numa perspectiva de que ninguém está fora dele. Esta proposta de trabalho, surgiu por meio do projeto “Psicologia em Debate” que é executado dentro do Ceulp/Ulbra.

Como professor da Universidade Católica de São Paulo, Pondé possui graduação em filosofia, mestrado e doutorado nesta mesma área pela USP, além de pós-doutorado pela universidade de Tel Aviv em Israel, tem experiência na área de filosofia e filosofia da religião, fazendo reflexões dos problemas da sociedade, entre eles o ressentimento que analisaremos neste artigo. O livro em questão fala do ressentimento, e é divido em ensaios que definem o ressentimento e suas características, apontando causas, meio e fim do tal sentimento, mostrando as falhas do ser humano e suas atribuições nesse processo. Aponta ainda a possibilidade de fazer do ressentimento um processo de superação pessoal e social.

Fonte: http://zip.net/bjtHFZ

Uma sociedade narcisista, que busca nas suas atitudes um reconhecimento afetivo, se torna uma geração de pessoas medrosas e incapazes de lidar com a morte, com a dor e com o fracasso. Pondé, chama o homem contemporâneo de covarde, o qual irá deixar a sua marca de incompetência por não saber lidar com essa realidade, buscando na maioria das vezes subterfúgios para fugir dela.

A imagem de um mundo feliz e uma busca por felicidade perene, faz dos homens seres medíocres na sua forma de vida e de relação (PONDÉ, 2014). O que seria então o ressentimento?  O ressentir para o filósofo Nietzsche seria uma marca humana essencial. Ressalta Pondé: “O ressentimento tem sua raiz profunda (o pânico diante da indiferença do universo vazio), mais um dos seus efeitos marcantes é exatamente a tendência de tornar as pessoas superficiais, por que assim nos protege da consciência do próprio ressentimento” ( PONDÉ, 2014, p.43).

Ele cita o exemplo do consumo como uma forma de vida superficial, que leva as pessoas a não se perceberem ressentidas e a não encararem suas próprias verdades. O autor evidência que não existe cura para o ressentimento, apenas formas de enfrentá-lo ou evitá-lo. “A covardia contemporânea é nosso modo específico de evitar essa verdade íntima” (PONDÈ, 2104, p.44).

Fonte: http://zip.net/bqtJHg

A moral, e a existência das religiões e da metafísica seriam uma forma de ressentimento, na qual Pondé cita Nietzsche, onde este teria uma solução para o ressentimento a partir da morte de Deus. Mas a praga do ressentimento sobrevive até a morte de Deus, e assume novas formas que para Pondé são: Estéticas, Política, ética e sexual. Esses ressentimentos do mundo contemporâneo, veem mostrar que a contemporaneidade não é um conceito temporal mas um estilo de vida. As pessoas buscam realização pessoal de forma narcisista como uma autopromoção, ou, uma forma de se mostrar melhor que a outra.

O ressentimento é um drama Ontológico, o qual não vai deixar de ser o que é, por que é imutável. O autor cita uma frase conhecida por todos dentro da filosofia dita por Sócrates, mas na verdade citada por Platão: ‘Conhece-te a ti mesmo’, indicando que o conhecer a si mesmo não é meramente composto pela história, mas diz respeito também a mortalidade do ser humano. Segundo Pondé o ressentimento humano nasce aí: a inveja dos deuses, nunca morrer, nunca ser traído, nunca fracassar, nunca adoecer. “O ressentimento é a nossa fúria para com a mortalidade que nos define e torna quase todas as nossas qualidades irrelevantes” (PONDÈ, 2014, p.55). Reconhecer que o outro é melhor ou tem algo melhor é um passo de redenção.

Os medos contemporâneos de encarar a realidade faz com que as pessoas fiquem acuadas. Pessoas que tem medo de amadurecer onde a vida é o tempo inteiro uma “balada”.  “Eu me invento”, eis o mandamento máximo do ressentindo, cita Pondé (2014, p.62). O medo de envelhecer e a ilusão de uma juventude ou alma eternamente jovem são mediocridades contemporâneas. “A solidão, essa ataca como um exame de abelha” (PONDÈ, 2014, p. 66). Enfermidade social que vem maquiada entre baladas e depressão, camufladas entre fotos nas quais nunca se viu uma de verdade.   ‘A solidão é o paraíso maldito dos livres’ ,Pondé cita Bauman, revelando que a solidão de valor é rara e exige personalidade sofisticada e singular, não sendo a solidão da vida contemporânea. E o medo do amor, sentimento este que exige demais para as personalidades dos contemporâneos, pois estes estão fechados em si mesmos.

Fonte: http://zip.net/brtHJP

A beleza observada pelo autor é como algo obsessivo dessa era, na qual se propaga as marcas da exterioridade e se fala pouco do mundo interior. Pondé vê a revolução sexual como uma farsa. A medida que a pílula foi lançada nos lançamos também a solidão, pois jogamos a sociedade nas mãos dos “crentes”, e as pessoas que se denominam seculares estão estéreis e solitárias.

Pondé aponta os fracassos, baseado no sucesso, como alimento do ressentimento, características que podem matar o indivíduo contemporâneo. A busca pelo sucesso, a democracia de direitos, a medicina sem limites na vida, a felicidade como objetivo final e sentimento perene. Consequentemente tendo como pano de fundo a crença em si mesmo, transformado-se em um indivíduo indiferente, egoísta e o orgulhoso, como se não dependesse de ninguém.

O silêncio seria uma forma verdadeira de viver antepondo uma vida de baladas e desejos, afirma o autor. Em busca de prazer sem limites, as pessoas vão negando as contradições da realidade, assim fugindo, camuflando sua existência dentro da ilusão dos bons desejos. A busca pela perfeição trará um estádio de tédio para a sociedade contemporânea, já “a ideia de relação perfeita é entediante” (PONDÈ 2014, p.101). Para Pondé não existe uma vida perfeita, e se vivemos essa busca de perfeição, vivemos uma falácia.

As formas de defesa do ressentimento seriam uma masmorra na sociedade, fala Pondé. Um dos efeitos do ressentimento para Pondé é o “coitadismo”, onde os indivíduos se tornam vítimas e não assumem suas próprias realidades, apontam sempre os outros e as estruturas sociais como culpados dos seus fracassos e dores. O se sentir coitado, é não reconhecer que o ser humano é um ser de falta como nos fala a psicanálise, sujeitos sempre insatisfeitos consigo mesmos, incapazes de suportar essas ausências. Com isso Pondé afirma: “Um mundo incapaz de suportar essa falta é um mundo povoado de adultos retardados mentais”. (PONDÈ,2014, p. 128).

Fonte: http://zip.net/bttJp4

Para Pondé, a política de direito se torna uma forma de ressentimento, quando se nega a responsabilidade diante dos fatos e acontecimentos, e assumimos estruturas que não condizem com o que somos e buscamos.  Quando o indivíduo busca ser reconhecido o tempo todo, é sinal que está em alta no ressentimento, esse vício da sociedade contemporânea é um insulto aos que sofreram na face da terra.

Uma das partes do reconhecer e entender o ressentimento é encarar a vida como ela é: “O ressentimento destrói em nós a capacidade de pensar e compreender a realidade” (PONDÈ,2014, p 147).  A busca pela singularidade se torna uma projeção e defesa para Pondé, já que quanto mais me auto afirmo me torno ridículo, não assumindo que sou um conjunto e uma construção psicossocial. A medida que o indivíduo assume quem é, vai reconhecendo o ressentimento dentro dele, com isso Ponde afirma: “A solução para o ressentimento é não nega-lo, mas nomeá-lo, ler sobre ele, perceber que é impossível não o ter em nós em alguma medida por que sempre conviveremos com pessoas melhores que nós” (PONDÈ, 2014, p. 158).

A não capacidade de produzir esperança e gratidão é um dos efeitos destruidores do ressentimento, pois gera sempre a negatividade e o egoísmo no ser humano. A esperança, a gratidão e a generosidade, são estruturas que envolve alguém que pode superar e ressignificar o sentido ontológico do ressentimento, assim superando o narcisismo que envolve o ser, eliminando a expectativa e dando vez a Esperança. Olhar e ver no outro e na sociedade algo a me acrescentar e no qual posso ajudar e contribuir.

FICHA TÉCNICA:

A ERA DO RESSENTIMENTO

Fonte: http://zip.net/bytH9m 

Autor: Luiz Felipe Pondé
Editora: Leya
Páginas: 172
Ano: 2014

REFERÊNCIAS:

PONDÉ, Luiz Felipe, 1959. A era do ressentimento: uma agenda para o contemporânea. São Paulo: LeYa, 2014.

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Ressentimento: outro olhar sobre o tema

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Psicologia em Debate é um evento que acontece semanalmente (quartas-feiras) no Ceulp/Ulbra. A palestra do dia 08/03/17 foi ministrada pelo acadêmico Lenício Nascimento, com tema: “Você é uma pessoa RESSENTIDA?”. O embasamento teórico veio do conceito do filósofo Luiz Felipe Pondé. O acontecimento teve a participação dos alunos e alguns professores, ocorreu na sala 203, às 17h, prédio 2.

Então, ao entrar na sala, me deparei com um movimento maior do que o normal, abalizado na minha experiência, acredito de antemão, que este assunto mobilizou grande parte das pessoas. Particularmente, fiquei extremamente intrigada com o tema ressentimento na concepção de Pondé. Se formos analisar o significado da palavra ressentimento, segundo Minidicionário Aurélio, […] mágoa, ofensa, melindre, raiva (SCOTTINI, p.401).

Fonte: http://zip.net/bxtH4M

Mas, o ressentir na minha humilde opinião (senso comum), como também diz respeito a mágoa, (angústias/amarguras), entendo como algo que envolve sentimentos mais intensos, com grau maior de dor e sofrimento, e que vem de alguém que é parte de você, ou seja, a família, ou pessoas que lhe são íntimas/importantes. E isso não acontece a todo momento.

Entendo que não sentimos mágoa de quem não amamos, sentimos raiva, tristeza, mas logo passa. Já a mágoa não! Ela perdura por toda uma vida, se não for elaborada. Compreendo que, não vem de qualquer pessoa, precisa que os lações sejam estreitos para que haja ressentimento. Sendo resultado de algo mais profundo. Não posso dizer que seria algo intrínseco do ser humano, penso que alguém possa passar pela vida sem ressentir.

Entretanto, para Pondé, a inveja é um dos fatores do ressentimento, vamos então para o significado desta palavra. “Vontade de possuir algo, de ser como outrem, e não conseguir, sentindo por isso depressão; cobiça de obter coisas (SCOTTINI, p.256). Minha intenção não é discordar, e sim tentar entender. Durante a palestra, fiquei instigada a trazer minhas considerações, mas percebi que seria uma viagem de minha parte, pois minha concepção a cerca desta temática, tem a ver com minhas experiências, relatos de outras pessoas.

Fonte: http://zip.net/bjtG7F

Para tanto, saí do Psicologia em Debate com muita vontade de entender melhor sobre ressentimento na visão deste autor. Com intuito de ampliar meus conceitos, e sair do senso comum, fomentar melhor minhas conclusões a respeito do tema, como também avaliar minhas inquietações, pois a palestra me mobilizou, ou seja, tirou-me da zona de conforto, posso assim descrever. Talvez o ressentimento é mais simples do que posso imaginar, e quem sabe posso dar a este sentimento o que acho que cabe a ele, algo para refletir!

Os meus questionamentos foram compartilhados por alguns nos corredores da Ulbra, pois este autor nos surpreendeu. Cabe esclarecer que, ainda não sei na íntegra o que Pondé relata em seu livro, quero aqui destacar minha vivência no dia do evento, sem que ela seja alterada (com a leitura do livro). Respondendo ao tema desse relato, não sou uma pessoa ressentida, esse sentimento não cabe no meu coração, eu não planto, não adubo, e não rego o que me faz mal. A importância que dou aos meus sentimentos ruins, são os únicos que cabe a eles, não mais que isso.

 “Deus”, me permite passar pela vida sem ressentir com quem quer que seja.

REFERÊNCIAS:

SCOTTINI, Alfredo. Minidicionário Escolar da Língua Portuguesa. Edições TodoLivro. Blumenau, 1998, p. 256,401.

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Os efeitos inadequados do Ressentimento

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O Psicologia em Debate de 8 de março de 2017 foi apresentado pelo meu querido colega de aula, Lenício Nascimento, com o tema “A era do Ressentimento: uma agenda para o contemporâneo”, na perspectiva de Luiz Felipe Pondé. Lenício, mesmo com alguns problemas com a configuração dos slides, começa, e bem, discorrendo que a maneira que falamos ou pensamos sobre o ressentimento é sempre de forma negativa.

O ressentimento quando é experimentando por nós, vem com desespero ou auto superação. E a base do ressentimento é a inveja, quando não assumimos e não aceitamos que existe alguém ou uma circunstância melhor que nós. Invejamos um relacionamento ou uma vida de outra pessoa. O ressentimento já faz parte da sociedade, já está em nós. Todos, em algum momento da vida, já experimentamos esse sentimento. Isso nos traz alguns medos, como medo de envelhecer, medo de ser pai ou ser mãe, medo da solidão e medo de amar.

Fonte: http://zip.net/bktGRF

Segundo Lenício e em citação a Pondé, só conseguiríamos fugir desse medo se fôssemos “extra-contemporâneos”, algo difícil de conseguir, porém não impossível.  Ele também falou sobre o maior “pecado” contemporâneo, não o pecado moral, mas o pecado para a filosofia. Trata-se dos vícios que compõem as masmorras e formas de defesas. Onde precisamos fazer coisas para parecer bem na sociedade, como amar todo mundo, quando não somos capazes de amar uma irmã insuportável.

Lenício finaliza a apresentação falando sobre o efeito do ressentimento, que para Pondé é nefasto, e é a incapacidade de produzir esperança e generosidade. A solução não é negar esse ressentimento, mais nomeá-lo, reconhecer que existem pessoas melhores e isso não é ruim, ao contrário!  A partir do momento que conseguimos reconhecer e perceber isso, termos esperança.

Fonte: http://zip.net/bctGLy

Ao concluir ele apresenta a seguinte frase de Viktor Frankl: “Quando a circunstância é boa, devemos desfrutá-la, quando não é favorável devemos transformá-la e quando não pode ser transformada, devemos transformar a nós mesmos”. Eu adorei o Psicologia em Debate, pois Lenício se destacou com uma boa apresentação.

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O Ressentimento é sempre do Outro?

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A Era do Ressentimento: Uma Agenda para o Contemporâneo, do filósofo e psicanalista Luiz Felipe Pondé, através da palestra organizada pelo Psicologia em debate, em uma exposição claramente proferida pelo acadêmico em Psicologia Lenicio Nascimento, no dia 08/03/2017, deixou todos os presentes já de início reflexivos, ao questionar: “Você é uma pessoa ressentida?”.

Penso que nesse momento, todos se voltaram para seus próprios pensamentos, e se deixaram refletir acerca desse tema, que coloca em xeque, um sentimento tão forte e negativo, quanto o ressentimento. Sabe por quê? Acredito que talvez seja, por pensarmos que o outro seja um ressentido, porém nós não somos. Nesse sentido, o autor coloca de maneira expressiva sua visão desse homem que age pelo ressentimento, sequer questionando sua verdadeira essência, entre o ter e o ser.

Fonte: http://zip.net/bctGbv
Fonte: http://zip.net/bctGbv

Nesse diálogo contemporâneo da Psicologia com a Filosofia, o autor segue apontando críticas pertinentes aos relacionamentos sociais, em que as pessoas estão preocupadas muito mais com a quantidade de “curtidas” nas redes sociais, que mostram em tempo real tudo o que elas desejam que vejam; tendo assim seus segundos de fama. Para o autor, vivemos a era do ressentimento, perdemos tempo vivendo pela exteriorização, individualismo onde “eu me basto”, um consumismo exacerbado; e constantemente correndo atrás de uma singularidade, assim buscando um reconhecimento dessa imagem que criou; imagem que não corresponde ao seu eu real; fora a isso, essa geração vive a solidão e o adoecimento com as psicopatologias, que nasce desse descompasso em não olhar para nosso interior, como somos de verdade.

Para o autor, a palavra ressentimento carrega um teor negativo; porém acredita que o primeiro passo é se perceber como sendo um ressentido, aceitando e assim buscar uma mudança que poderá trazer um crescimento pessoal. No desespero, a auto superação será a única e viável saída para uma cura e melhora interior.

Fonte: http://zip.net/bxtG7B
Fonte: http://zip.net/bxtG7B

O filósofo, apontando várias nuances dos relacionamentos superficiais, dos casais modernos que não desejam ter filhos; a secularização do papel da mulher na qual ela vive em busca de uma autonomia frente à sociedade, que nos permite perceber essa mulher correndo em busca de uma realização superficial; em que a perfeição do corpo surge como uma feminilidade vazia e inútil. Nesse ponto, possibilitamos entender a preocupação que o autor demonstra frente às demandas que nosso tempo se apresenta.

Portanto, para fugir disso, o autor sinaliza para que sejamos extra contemporâneos; seria basicamente lutar contra essa onda de ter mais do que ser; em um movimento socrático de levar o individuo a sair de dentro para fora. E, principalmente não colocar a culpa do seu ressentimento no outro, procurar a verdade, o sentido da vida.

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Ressentimento: uma perspectiva provocante

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Sou uma pessoa ressentida? Com tal questionamento, fomos inseridos ao oportuno e interessante tema, extraído da obra do filósofo Luiz Felipe Pondé: A Era do Ressentimento – Uma Agenda para o Contemporâneo. Um rico diálogo da Filosofia com a Psicologia, explanado no Psicologia Em Debate do dia 08/03/2017 pelo acadêmico em Psicologia Lenício Nascimento, oportunizou o entendimento das demandas dos relacionamentos atuais, principalmente quando traz como pano de fundo, o ressentimento gerado pela exteriorização e superficialidade, o consumismo e a individualidade, aos quais estamos nos adequando sem ao menos contestar o porquê desse embate entre o ter e o ser, e suas consequências.

Dizemos a nós mesmos que: “eu me basto”, não preciso de ninguém, gerando uma via para a solidão e o ressentimento; nesse ponto o palestrante intencionalmente nos remete a uma reflexão necessária. Por meio de uma contextualização e interação com os alunos, o palestrante aponta o tema do ressentimento, como um embate que travamos em nosso ego, com o que a contemporaneidade foi forjando para que a sociedade do consumo e dos relacionamentos superficiais chegasse à atualidade com os dramas que acabam por gerar em nós uma série de psicopatologias, além da solidão, pela qual estamos de certa maneira cercados.

Fonte: http://zip.net/bvtGDN
Fonte: http://zip.net/bvtGDN

Contudo, o autor nos alerta quanto ao fato de que a palavra ressentimento pode possuir em si mesma, forte conotação negativa; alegando ainda que podemos retirar dessa experiência, uma forma de superação contra as nossas próprias adversidades; lutar contra o ressentimento para que alcancemos nosso crescimento como pessoa. E, ainda segundo o autor, no desespero ou auto superação, podemos trabalhar esse sentimento negativo, transformando em algo positivo.

O autor, sinalizando para uma geração de pessoas ressentidas, que vivendo sob a ótica narcisista, enxergando-se a eles mesmos como pessoas singulares, sempre procurando um reconhecimento público para seus feitos; exemplificado pelo palestrante como as pessoas que levantam uma bandeira em defesa da natureza, porém não conseguem suportam a convivência com a própria irmã ou outro parente qualquer. Assim, seguimos negando que somos pessoas ressentidas, e a culpa sempre será do outro.

Para tratar desse problema, o autor tem como possibilidade de solução, não negar o ressentimento, e sim aceitar o que está sentindo e procurar a verdade, o sentindo verdadeiro da vida. Quanto a isso, essa obra que nasce do olhar filosófico e psicanalista do autor, observando nessa geração que são sete bilhões de pessoas no mundo inteiro, procurando seu pedaço de felicidade. Estamos afogados numa espécie de ressentimento, dado circunstâncias por estarmos sempre achando merecedores dessa felicidade, somos mimados, achamos que Deus nos abandonou. Em contrapartida, o problema se estende para além, já que estamos sempre ressentidos por algo ou alguém que não nos ouviu, não retribuiu nosso amor, enxergamos a vida do outro como melhor que nossa própria; assim vivemos com as nossas feridas narcísicas abertas, expostas.

Fonte: http://zip.net/bltFJM
Fonte: http://zip.net/bltFJM

Portanto, mapeando uma série de sintomas dessa contemporaneidade, o autor abre espaço para conferirmos a grande tragédia que estamos vivendo, conseguinte trocamos a vida real e seus dramas, por plataformas e redes sociais que mostra ao outro, o que queremos ser, ainda que esse outro não seja meu eu real. Assim, seguimos nossa jornada para no futuro sermos lembrados como pertencentes a “Era do Ressentimento”.

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