Terapia em dia não é sinônimo de saúde mental: análise sobre o conteúdo Prapretoler

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Atualmente, fazer terapia se tornou sinônimo de resolução de todo e qualquer tipo de problemas ou sofrimento. Dita-se que tudo se resolve com terapia, mas não é bem assim. Há muito para além da terapia: existem contextos, e mais contextos em que o paciente precisará muito mais do que acompanhamento psicológico. Começando do mais primordial que é ter suas necessidades básicas atendidas: segurança alimentar, moradia e pertencimento. Além desses fatores, há o contexto sociocultural no qual os indivíduos estão inseridos, que não acolhe todas as suas singularidades e diversidades que é ditado pela classe dominante e não abarca todas as subjetividades. Nesse contexto, desabrocha o sofrimento, pois vive-se em um estado constante de sobrevivência, inadequação e precariedade.

Afirmar que terapia é suficiente para lidar com todo sofrimento é culpabilizar o sujeito por fracassos que estão intrinsecamente ligados à sua situação socioeconômica, à sua falta de oportunidades e acesso a garantia de seus direitos, e até o seu apagamento por falta de representatividade estética e cultural. Então uma mudança de comportamento ou um pensamento positivo não será o suficiente para lidar com esse sofrimento. Neste cenário sabemos que as condições não corroboram para que o sujeito tenha a oportunidade de um bom desempenho.

 “O sofrimento existencial muitas vezes é tido como subjetivo ou particular, podendo ser resolvido com mudanças comportamentais. Mas é fato que o contexto e o território têm muita influência no desempenho individual, criando condições favoráveis ou desfavoráveis.” (Borges; Gomes, 2024).

Um cotidiano marcado por opressões, violências, precariedade, vulnerabilidade e violações de direitos não se resolve em sessão de terapia, é preciso pensar o indivíduo em seu contexto específico de vida. Quando tornamos a terapia um único dispositivo possível para solucionar e elaborar o sofrimento, estamos a universalizando e a aplicando como se coubesse a todos os seres humanos de forma única. Este pensamento já é parte do problema, pois ao padronizar e normatizar o ser humano, negligencia-se as diversas subjetividades. Este ato é realizado pela branquitude, que coloniza toda e qualquer forma de pensamento que se distancie da sua “norma culta”. A visão neoliberal individualiza o campo da saúde mental, coloca o indivíduo como o único responsável pelo bem-estar e manutenção da sua saúde mental. Por isso, o processo terapêutico passa a ser vazio de sentido, implicado apenas de uma prática colonialista e violência simbólica.

Fonte: Freepik

É preciso pensar o sujeito na sua complexidade e multiculturalidade, reduzindo o paradigma de que existe um sujeito padrão, do qual se extrai a média dos demais. Cada ser humano é único em sua subjetividade, legitimidade e formas de existir. Por mais que se desenvolva técnicas e protocolos, jamais devemos tomar como única métrica para se desenhar todos os comportamentos e formas de existir. A relatividade contextual, o “depende”, devem ser eixos norteadores, pois: depende do contexto, do ambiente, da cultura, da raça, do gênero e da classe social a qual o ser humano é atravessado. Todos os marcos interseccionais, por tanto, a clínica deve ser pensada a: 

“Considerar a pertença racial de todo sujeito em sofrimento, ainda que não seja uma temática de interesse do paciente, pois compreende que ela é um dos elementos que estruturam as dimensões biopsicossocial do indivíduo. É uma clínica atenta ao cotidiano, com vista a identificar crenças e valores que fortalecem um referencial de humano universal, que na verdade tem, raça, gênero e classe. É uma prática que se confronta diariamente com a solidão dos múltiplos abandonos e privilégios experimentados pelas diferentes categorias raciais no Brasil” (Borges; Gomes, 2024). 

Assim, quebrando paradigmas de universalidade e hegemonia que circundam o fazer clínico que enquadra e rotula todos os sofrimentos. É estando sensível ao ser humano único que chega a você, é tornando sua escuta apurada e livre, é desconstruindo certezas, é resistir e renunciar o lugar do suposto saber mais sobre o outro por ocupar o espaço do poder, do detentor do conhecimento, é saber ler o sofrimento e compreender em que crenças e valores eles estão estruturados, é quebrar a ideia de ser humano universal, é ouvir para além dos estereótipos, é emancipar o saber psicológico, torna-lo capaz de atender todas as camadas sociais e culturais é:

“A psicologia precisa assumir seu passado-presente como operadora da colonização das subjetividades enquanto ciência da norma, que nada mais é do que as formas hegemônicas (brancura, cisgeneridade, masculinidade, heterossexualidade, magreza e etc.) convertidas norma de saúde. Para além de mera culpa, a psicologia precisa fazer seu compromisso ético-político e se divorciar da norma como baliza ontológica e etiológica! Não adianta ter discurso alinhado e prática violenta! Afinal, há violências que são cometidas com voz suave e palavras doces. Denunciar a norma como produtor de sofrimento e violência é fundamental para questionar as práticas de ajustamento que recebem cotidianamente roupagens mais coloridas em eufemismos da gramática psi.” (Miranda,2024).

Por isso é necessário o cuidado para não cair na cilada de afirmar que a clínica é o único dispositivo de manutenção de saúde mental enquanto ferramenta da psicologia, para não a colocar a favor de uma ciência que normatiza, coloniza e violenta diferentes subjetividades, produzida para uma lógica de mercado que desconsidera outras formas e construções de saberes.

Referências 

BORGES, Bárbara, GOMES, Francianai. Nem todo mundo precisa de terapia, algumas pessoas precisam apenas experimentar um cotidiano digno. Bahia. 21 Jul. 2024. Instagram: @prapretoler. Disponível em: <link>. Acessado em 18 set. 2024.

BORGES, Bárbara, GOMES, Francianai. Não confunda vulnerabilidade socioeconômica com sofrimento existencial. Bahia. 21 Jul. 2024. Instagram: @prapretoler. Disponível em: <link>. Acessado em 18 set. 2024.

MIRANDA, Deivison. (sem título). Bahia. 20 Ago. 2024. Instagram: @deivisonmiranda_. Disponível em: <link>. Acessado em 18 set. 2024.

 

 

 

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A construção do fazer psicológico na saúde mental

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Há pouco mais de uma década, com a elaboração e implantação da Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira (Lei 10.216/2001) em que estão previstas ações que viabilizam a substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos, ditos manicômios ou hospícios, por serviços que ofereçam atendimentos/tratamentos humanizados aos portadores de sofrimento psíquico, observa-se que há uma demanda pela desconstrução de aspectos instituídos socialmente: o preconceito frente à loucura e a consequente exclusão do “louco” do meio social.

Para compreender a relação que a sociedade estabelece com a loucura é fundamental pensar que, historicamente, as pessoas que apresentavam transtornos mentais não eram escutadas por aqueles que as atendiam, não havendo espaço para a fala, pois não eram reconhecidos enquanto sujeitos de direito. A morte, a exclusão, o isolamento, a tortura e a medicação desmedida foram os tratamentos adotados para o controle dos que eram vistos como perturbadores da ordem. A ciência procurou tratar reduzindo o paciente a uma produção de sintomas, a um ser sem subjetividade.

Embora essa ainda seja a realidade cotidiana de quem sofre com transtornos mentais, o lugar que a loucura ocupa na sociedade contemporânea sofreu transformações significativas graças aos movimentos sociais, a participação dos usuários e seus familiares e da marcha dos trabalhadores da saúde.

Dentre essas mudanças está a relevante contribuição da Psicologia que propõe romper com os paradigmas excludentes, demonstrando que o portador de sofrimento psíquico tem subjetividade desde que se possibilite o acesso: inserindo-o no seu processo de tratamento, considerando-o um sujeito de desejo e criando um espaço para escutar o seu sofrimento, ou seja, deslocando a atenção da doença para o sujeito. O usuário da saúde mental passa a ser um protagonista de seu tratamento, conhecendo o seu sofrimento e dando voz aos seus desejos.

A intervenção psicológica realizada junto a um usuário da saúde mental exige uma atuação diferenciada do profissional, já que terá de atuar de forma interdisciplinar, dialogando com as mais variadas áreas; destinando uma escuta ampliada, integral e abrangendo o seu contexto de convívio. Mesmo assim é possível estabelecer uma clínica do sujeito, valorizando sua história, fazendo advir o sujeito desejante e tornando-o ativo participante nas escolhas que irão repercutir no seu modo de vida: passa-se não mais a trabalhar com o conceito de cura para viver em sociedade, mas com a promoção de saúde.

Nesse sentido, a escuta do psicólogo direciona-se não ao sintoma do sujeito, como outrora, mas ao sujeito do sintoma em que escutar torna-se um dispositivo capaz de sustentar o lugar social e singular do mesmo.

O profissional deve acolher os sons, as falas, as formas, os atos, afirmando que há ali um sujeito com algo a dizer e a fazer, interessando-se por esse algo e esforçando-se por buscar um sentido nesse fazer. Trata-se de uma clínica que está em constante produção, transformação, criação e invenção, e isso depende fundamentalmente do desejo do profissional: ser um explorador movido por seu próprio desejo.

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Unidade de saúde mental no Hospital Geral de Palmas-TO: atenção, cuidado e articulação com a RAPS

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O (En)Cena conversou com a coordenadora de enfermagem da psiquiatria do Hospital Geral de Palmas-TO, Graça Cortez, sobre o manejo e cuidado de usuários em crise e os desafios de articulação entre o serviço do HG e outros pontos da Rede de Atenção Psicossocial, fazendo uma interface com os ideais da reforma psiquiátrica e do movimento antimanicomial.

Graça Cortez
Foto: Arquivo Pessoal.

(En)Cena: Graça, conte-nos como é o seu trabalho e como foi sua aproximação e trajetória na saúde mental.

Graça Cortez: Iniciei minha trajetória na Unidade de Saúde Mental como enfermeira assistencial, me especializei na área, e após três anos e meio no serviço assumi a coordenação de enfermagem na psiquiatria do Hospital Geral de Palmas-TO. Fomos pioneiras no serviço, pensando e desenvolvendo cuidados em saúde mental neste ponto da rede. Hoje trabalho na gestão e capacitação da equipe na tentativa de qualificar permanentemente o cuidado e a atenção dispensados aos pacientes em internação.

(En)Cena: Qual o papel do serviço em saúde mental no Hospital Geral no cuidado a usuários com transtornos mentais graves e persistentes e/ou com prejuízos em decorrência do abuso de álcool e outras drogas? Por quais profissionais é composta a equipe na psiquiatria?

Graça Cortez: Trata-se de um serviço de alta complexidade onde assistimos e cuidamos de usuários em franca crise, que não dispõem de condições para manterem acompanhamento em serviços ambulatoriais e que têm importantes prejuízos biopsicossociais. Nosso objetivo é dar estabilidade clínica e o mínimo de autonomia para que este e sua família consigam dar continuidade ao tratamento sem a necessidade de internação. Ele inicialmente é atendido no pronto socorro, avaliado pelo médico clínico geral e por seguinte pelo psiquiatra e, se necessário, é encaminhado para internação na psiquiatria. A equipe é multiprofissional, composta por enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, médicos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e nutricionista.

(En)Cena: Quais os critérios (sinais, sintomas e diagnose) e duração máxima de internação? Como os apontamentos e conceitos da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial interferem no serviço e procedimentos na psiquiatria?

Graça Cortez: O quadro de sintomas comum aos pacientes em franca crise que demandam internação são: surto psicótico e/ou comportamentais graves iniciais ou crônicos, intento suicida importante e o mesmo quadro em pacientes com sérios prejuízos psicossociais em decorrência do abuso de álcool ou outras drogas, sendo esses, em alguns casos, internados compulsoriamente. Os sinais e sintomas são os clássicos, a saber, alucinações, delírios, intento suicida e sérios prejuízos em razão do abuso de drogas. Normalmente a internação pode perdurar por até 20 dias, por acreditar ser esse tempo hábil para melhora dos casos, exceto em casos de internação compulsória, onde não há claro o prazo definido para alta. Apesar da configuração do nosso serviço, ou seja, de lógica hospitalar, buscamos dispensar um serviço pautado na política de humanização do SUS, na tentativa de garantir aos pacientes os seus direitos, dando-lhes uma assistência digna.

(En)Cena: Qual o percurso (fluxo interno) o usuário percorre até estar em condições de obter alta biopsicossocial (prognóstico)?

Graça Cortez: Antes de chegar à psiquiatria, o usuário é avaliado no PS (Pronto Socorro), normalmente trazido pelo SAMU, para a sala vermelha, avaliado pelo médico clínico geral, o qual solicita avaliação seguida de um parecer do psiquiatra de plantão e mediante sua avaliação solicita o encaminhamento do paciente à ala de internação através da regulação interna. É necessário responder aos critérios de real necessidade para internação. É frequente a reinternação, entretanto, mesmo nesses casos, o usuário realiza esse mesmo trajeto. Para alta, realiza-se avaliação clínica e verificação se o usuário dispõe de condições para dar continuidade ao acompanhamento em outros pontos da RAPS (Ex. CAPS).

(En)Cena: Como é trabalhar com usuários que estão na ala psiquiátrica que usam o serviço por demandas judiciais e/ou cumprem mandato de segurança? Apontamentos, desafios e amparo.

Graça Cortez: Especificamente sobre a internação compulsória, vejo com um desafio, já que os pacientes atendidos, em sua maioria, demandam cuidados em saúde mental em decorrência do abuso de drogas. Deste modo, apesar de estarem em momentânea crise, quando saem, julgam desnecessário a permanência e tornam ainda mais difícil o trabalho da equipe. Faz-se necessário uma mobilização para manter esse paciente no serviço, sendo essas investidas desgastantes. Há usuários que causam transtornos, pois tem dificuldades em obedecer as regras ou rotina da unidade. Seria interessante um apoio técnico e jurídico mais próximo da nossa realidade para lidar com tais situações. Nos casos de internação compulsória, acredito que o usuário tem parte de seus direitos feridos, sobretudo por não poder escolher seu destino nessas situações. O maior problema é quando o usuário entra e não tem previsão de saída. Não há parâmetro nesses casos. Só há data de entrada. Há duas dimensões que precisam de análise, a de saúde e a jurídica, e por essa razão é comum a dificuldade de dissolver tais casos.

(En)Cena: Há diálogo entre a psiquiatria do HG com outros pontos de atenção/cuidado da rede de atenção psicossocial (RAPS)? Recebem ou repassam informações oficiais sobre a continuidade do acompanhamento (integralidade do cuidado) de egressos deste serviço? (CAPS II e AD, A.B, Urgência e Emergência e outros).

Graça Cortez: Temos um bom diálogo com a coordenação de saúde mental do Estado e com os CAPS (AD III e II). Entretanto não há um feedback quando se trata de um retorno de informações de usuários que retornam para cidades que não dispõem desses serviços. A contra referência ocorre, pois é oficializada via encaminhamento. Quando não há na cidade um serviço especializado em saúde mental, encaminhamos para a unidade básica de saúde, entretanto percebemos que a atenção básica por vezes não reconhece o paciente como seu, transferindo ao CAPS tal responsabilidade. O usuário sai orientado e com a contra referência e receita em mãos. Ligamos e informamos sobre a necessidade da continuidade de acompanhamento ao usuário. Quando queremos informação, entramos em contato com o serviço de referência no território e/ou técnico de referência.

(En)Cena: Graça, não é raro ouvir, sobretudo de próprios usuários e familiares, reclamações sobre o modo de cuidados dispensados a usuários em crise no que diz respeito à contenção e ao manejo, alegando possíveis maus tratos por parte da equipe. O que dizer a respeito?

Graça Cortez: Esse é um ponto chave. Quando falamos em saúde mental, no Hospital Geral, visualizamos um paciente em franca crise psiquiátrica, e em alguns casos o paciente em crise investe de força física e resiste ao início do tratamento. Nesses casos, faz-se necessário a contenção e disposição de medidas mais enérgicas, mas resguardando física e moralmente o usuário. Para proteger o paciente e quem está ao seu redor, precisamos fazer o manejo mais forte – contenção mecânica. Não é aleatório, exige técnica para realizar tais procedimentos. Para quem é externo ao serviço é comum o estranhamento, mas há casos em que é inevitável o uso da contenção mecânica e contenção química, enfatizamos que é para o benefício do próprio usuário\familiares\funcionários. Quem não conhece os processos de trabalho não compreendem a necessidade de tais procedimentos e se assustam, mas são atividades comuns e necessárias.

(En)Cena: Sabe-se que a psiquiatria do HG de Palmas é referência do serviço no estado. Quais condições se dispõem para assistir tamanha demanda? Qual a avaliação se faz de recursos físicos e humanos?

Graça Cortez: Veja bem, segundo a orientação do ministério da saúde, nós temos que dispor até 10% de leitos do HG para pacientes psiquiátricos, entretanto, mesmo dispondo tal porcentagem, ainda não é suficiente para assistir integralmente a demanda. Atendemos, além da demanda do Estado do Tocantins, usuários do Maranhão, Bahia, Mato Grosso, Pará e até Goiás. Portanto, para serviços na internação, não é o suficiente. Os recursos humanos são satisfatórios e a equipe tem conseguido assistir a demanda, apesar de achar que durante o tempo de internação, o paciente deve desenvolver mais atividades terapêuticas, como parte aliada ao tratamento medicamentoso. Já os recursos físicos ainda carecem melhorias.

(En)Cena: Quais são os maiores desafios de um trabalho com tamanha complexidade?

Graça Cortez: Manter a saúde mental!

(En)Cena: A própria, da equipe?

Graça: Sim, a própria saúde mental, de modo que não implique aos usuários, não implique na assistência e não interfira na boa condução do cuidado dispensado ao paciente. A atmosfera do ambiente por muitas vezes é tensa, sendo necessário ter paciência e auto-cuidado para não ser afetado de modo que tal afeto prejudique tua prática.  Então, acho que antes de tudo, trabalhar na saúde mental faz-se necessário conhecer bem a saúde mental e manter bem a própria.

(En)Cena: Como se dá a relação entre os familiares, usuários internados e equipe? Como funciona o fluxo nessa perspectiva (visitas, acompanhamento etc)?

Graça Cortez: Então, como se trata de uma relação de cuidado, mesmo com as intempéries, a família vê na equipe um suporte, já que a grande maioria também está adoecida em razão das dificuldades que é conviver com um familiar que tenha transtorno mental e que não está em tratamento. Então é uma relação de parceria e apoio.  Solicitamos a família que todo usuário tenha um acompanhante para não causar tanto impacto a ele, por que geralmente ele interna sedado e acorda num ambiente totalmente inóspito, sem ninguém conhecido. Então, a partir dessa lógica, solicitamos a presença de uma pessoa que o usuário tenha vínculo. Inicialmente orientamos o acompanhante, colhemos informações acerca do usuário e o passamos as normas e a rotina da unidade. Deste modo acreditamos que tornamos a internação dele mais humanizada.

(En)Cena: O serviço já acolheu ou internou um usuário com transtorno mental ou com prejuízos decorrentes do uso de drogas que ora estava em situação de rua? Se sim, qual (quais) estratégia na tentativa de reinseri-lo socialmente ou reintegrá-lo a família?

Graça Cortez: Sim. Tivemos alguns casos. Foi uma ação que o Serviço Social da nossa unidade realizou com sucesso. Alguns retornaram para sua casa, família, Estado, e o que não conseguiu foi encaminhado para uma casa abrigo. São muitas histórias, muitos desafios, porém quando há boa vontade e engajamento da equipe o trabalho acontece, traz resultados e reconhecimento.

 


Edição: Hudson Eygo.

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Saúde Mental em contexto indígena – Convivendo com as diferenças culturais

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A população indígena no Brasil sempre lutou para preservar cultura, crenças e valores. O uso de plantas das florestas e até mesmo “benzimentos” são conhecimentos ancestrais, que os povos indígenas adotaram para curar doenças e são curiosidades até mesmo para a ciência secular.

A saúde mental em contexto indígena é um desafio para o Sistema de Saúde Pública no Brasil (SUS). Mesmo com uma forte influência espiritual, os povos indígenas apresentam carências de atendimento preventivo e humanizado no tratamento de casos de uso e abuso de substâncias e até mesmo suicídios.

Nos dias 4 a 7 de setembro de 2014, na cidade de Manaus(AM), o IV Congresso Brasileiro de Saúde Mental (ABRASME) – Navegando pelos rios da Saúde Mental da Amazônia: Diversidades culturais, saberes e fazeres do Brasil” – promoverá debates, para futuras ações concretas, com a intenção de potencializar os estudos e estratégias em saúde mental e a valorização das formas tradicionais de atenção à saúde presentes na diversidade cultural.

Para entender um pouco mais a problemática que vem afetando na saúde em contexto indígena, o (En)Cena, entrevistou o psicólogo, Marcelo Pimentel Abdala Costa, 37, que trabalha com o Programa de Atenção em Saúde Mental no Distrito Sanitário Especial Indígena Alto Rio Negro(AM).

Marcelo Abdala e Cacique Raoni, durante a V Conferência Nacional Saúde indígena em Brasília/DF – dezembro 2013 – Foto: Acervo Pessoal

Psicólogo, poeta e autor de produções científicas – destaque para o capítulo de um livro no âmbito da Terapia Comunitária Integrativa – Marcelo Abdala, acumula conhecimento e vivências nas culturas indígenas. O psicólogo lamenta a falta de conhecimento por parte da sociedade sobre as formas de viver indígenas, relata casos de cura por plantas medicinais, ainda, conta detalhes de crenças espirituais e comenta sobre os recentes casos de suicídio em aldeias na Ilha do Bananal (TO).

(En)Cena – O IV Congresso Brasileiro de Saúde Mental (ABRASME) tem como  tema “Navegando pelos rios da Saúde Mental da Amazônia: Diversidades culturais, saberes e fazeres do Brasil”. O que o senhor espera de conquistas pelo evento?

Marcelo Abdala – Fico feliz de estar participando mais uma vez da Comissão de Organização do Congresso e, sobretudo, de ser responsável pela discussão indígena.

Um dos eixos temáticos, que tive a oportunidade de escrever, problematiza ‘Saúde Mental no Contexto Indígena’ e, tem como proposta promover um diálogo entre a saúde mental e a saúde indígena, abordando questões conceituais como a utilização do termo ‘saúde mental indígena’ e a reflexão sobre sofrimento psíquico e a Atenção Psicossocial neste contexto. Desejamos refletir, ainda, sobre a atuação da psicologia no contexto indígena, uso de medicamentos psicotrópicos, possibilidade de atender a alteridade indígena nos serviços de referência  – CAPS,  Pontos de Atenção, Hospitais e Hospitais Psiquiátricos – e problematizar categorias médico-psiquiátricas, tidas como universais, como relativas e culturais. Destaca-se a relação do processo saúde/doença propondo diálogo entre formas diferentes de atenção à saúde (tradicional x científica) e o trabalho dos profissionais de Saúde Indígena a partir do Programa de Atenção à Saúde Mental em diferentes Distritos Sanitários (DSEI´s), do país, instituídos pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SASISUS).

(En)Cena  – Quando e o que motivou o senhor a trabalhar saúde mental com indígenas?

Marcelo Abdala – O contato que tive com os povos indígenas teve início no Estado do Ceará, a partir de 2009, quando tive a oportunidade de trabalhar no Movimento Integrado de Saúde Mental Comunitária (Projeto 4 Varas) e em Movimento de Saúde Mental Comunitária. Considerando a minha história de vida, a partir do trabalho voluntário em Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), em diferentes Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) até em um Projeto de Formação de Lideranças Indígenas… O que me motivou a trabalhar com o tema da saúde mental em contexto indígena, foram os olhares diferentes sobre o mundo e formas tradicionais de cuidado que não as que estamos acostumados. Para mim, benzimento, ‘pajelança’, uso de plantas, ervas e raízes e todo um conjunto de instrumentos ritualísticos para a atenção e o  cuidado  constituem, também, formas legítimas de se cuidar da saúde e por isso devem ser integradas, reconhecidas e valorizadas.

(En)Cena – Como é a aceitação e conhecimento por parte dos indígenas com as equipes de saúde mental? Existe alguma dificuldade para aceitar os programas de saúde pública?

Marcelo Abdala – Quando cheguei no Rio Negro (AM), havia desconhecimento do que era o trabalho do profissional de psicologia e das ações referentes ao Programa de Saúde Mental. Todavia, ao contextualizarmos a prática e sua diferença em relação às atividades de outros profissionais, ela tem sido aceita, sobretudo, porque escuta os olhares, respeita as diferentes culturas e reconhece o processo de saúde e doença de cada povo.

Reunião de Conselho distrital de saúde indígena na aldeia
Foto: Acervo Pessoal

(En)Cena – Devido distância das aldeias indígenas dos centros urbanos, quais são as estratégias das equipes de saúde da família em atendimento a saúde mental indígena?

Marcelo Abdala – O que especifica a Saúde Indígena  – e a diferencia de outra estratégia – é exatamente chegar até à pessoa indígena em lugares de muito difícil acesso. As equipes se deslocam de ‘voadeira’, avião, ‘rabeta’ e algumas vezes caminham na mata para acessar outros povos que residem no interior da floresta. Em relação ao que chamo de ‘Saúde Mental em Contexto Indígena’, as diferentes equipes procuram realizar rodas de conversa, com orientação do profissional de psicologia, notificar situações de violência, suicídio e tentativa de suicídio e acompanhar usuários de medicação psicotrópica. Todavia, a estratégia que mais se aproxima das diferentes complexidades é a compreensão de diferentes práticas indígenas e o trabalho conjunto com os cuidadores tradicionais.

(En)Cena – Há uma prática de saúde mental especificamente indígena em sua área de trabalho, ou podemos pensar o conceito de saúde mental para os mesmos parâmetros da população em geral?

Marcelo Abdala – Não podemos pensar em ‘saúde mental em contexto indígena’ tal como pensamos em saúde mental para a população em geral. Os modelos e representações de mundo, de humanidade, pessoa, animal, espírito, como disse, são diferentes para cada povo e, sobretudo para a população em geral, que se baseia, por sua vez, em um modelo biomédico, considerando a sociedade capitalista e tardo moderna. O que consideramos como prática de ‘saúde mental em contexto indígena’, constitui tudo aquilo que , segundo as tradições, crenças e valores indígenas, promovem ‘integração’ e é estruturante para o povo. Por exemplo: Poderíamos considerar como uma prática de saúde mental em contexto indígena um ritual de passagem, uma prática ‘xamânica’, o benzimento da criança que lhe confere um nome e proteção durante à vida, ou mesmo, uma associação de mulheres indígenas que produz artesanatos coletivamente.

(En)Cena – Como são percebidas questões altamente complexas como o sexo e adolescência na sua área de atuação?

Marcelo Abdala – Os jovens indígenas iniciam sua vida sexual “cedo”, de acordo com  nossos parâmetros e costumes sociais. Para eles está no momento certo. É preciso entender que os povos indígenas possuem modos de organização social diferentes da sociedade moderna. Sendo assim, a iniciação à vida sexual acontece mais cedo do que acontece, talvez, hoje, com a sociedade envolvente. Todavia, a cultura dá as normas e sentido (referências),  a partir dos ritos de passagem, que a personagem mulher deve concretizar. Muito diferente da sociedade tardo moderna que erotiza a infância com a moda e as propagandas. Na cidade, é um problema, porque tem outro sentido. Na aldeia, tem resguardo, reclusão, dieta alimentar e rito de passagem. A questão é simbólica. Adquire sentido. Não tem para os indígenas o mesmo sentido que tem para a sociedade não indígena. Essa é a questão.

(En)Cena – A Ilha do Bananal, no estado do Tocantins – considerada a maior ilha fluvial do mundo – tem características de povoamento indígena, e nos últimos anos foram registrados casos sucessivos de suicídio indígena, causando preocupação em certa parte da sociedade que tomou conhecimento do assunto. Diante disso, o senhor tem conhecimento desses relatos, e como seria o diagnóstico da situação e as primeiras estratégias de ação da saúde pública?   

Marcelo Abdala – A questão do suicídio indígena, assim como a ‘alcoolização’ constituem problema grave entre a população indígena na contemporaneidade. E isto tem a ver como a sociedade tardo moderna se (des)estrutura hoje. Isso tem a ver com a RELAÇÃO entre o ‘branco’ e o indígena. No meu ponto de vista, chega a ser um paradoxo, a causa de “preocupação”, se pensarmos como a sociedade não indígena se vê, em relação à violência, ao consumo de álcool, à personagem adolescente, idoso, negro, indígena… Basta refletirmos sobre o que a sociedade pensa sobre as terras indígenas e modos de vida tradicionais. Isso, certamente, influencia o modo de vida de diferentes povos, inclusive o indígena. A sociedade em que vivemos é uma sociedade perversa, capitalista, individualista, canibal. O diferente, para eles – indígenas – não são eles mesmos. Somos nós, estrangeiros… O que o Estado realiza para dar conta de um mal que ele produziu foi criar, provavelmente, um sistema (Lei Arouca) que prevê atenção diferenciada aos povos indígenas. Ações concretas se definem em potencializar a cultura, crenças e valores que a história negou, e reforçar o que é positivo e que produz ‘saúde’, claro, a partir do ponto de vista do outro (indígena).

(En)Cena – Qual a relação entre espiritualidade e saúde mental indígena? 

Marcelo Abdala – O conceito que construímos para ‘espiritualidade’ também é outro para os povos indígenas. É por isso que não uso o termo  ‘saúde mental indígena’ e sim ‘saúde mental em contexto indígena’. Entretanto, ainda buscamos um termo que se aproxime das diferentes realidades culturais. Quero dizer, que não há essa conotação em nenhuma cosmologia indígena. Todavia, o ‘benzimento’, a ‘pajelança’, o ‘xamanismo’, o uso de substâncias psicoativas utilizadas pelos pajés, os espíritos, por promover saúde e tratar de doenças, tradicionais ou não, constituem, para nós,  práticas de ‘saúde mental em contexto indígena’ e que portanto, devem ser valorizadas e reconhecidas, também como práticas de sua espiritualidade. Para os indígenas, os espíritos estão nos animais, nas plantas, na floresta. Para eles,  a relação com os espíritos, é que vai determinar a possibilidade de ‘cura’ das doenças. A doença, provavelmente não existe no corpo, é causada por um espírito,  por um feitiço, por um ‘estrago’. E a saúde também seguirá por aí.

(En)Cena – Sua vivência com terapia comunitária chegou além da técnica e da prática, o senhor usa dos artifícios da arte para expor a saúde mental e suas complexidades. No seu poema “A Terapia do Cotidiano”, o que o senhor espera transmitir para o leitor?

Marcelo Abdala – Antes de tudo, agradeço a leitura do poema! Preciso dizer que este poema está relacionado, precisamente, à metodologia da Terapia Comunitária enquanto lugar de encontro de pessoas, de humanidades. Falar das coisas da vida junto com os ‘outros’ constitui o que o título do poema nomeia: ‘A Terapia do Cotidiano”. Todavia, se pudéssemos transpor o motivo do poema para o tema da entrevista, poderia dizer que precisamos conviver com a diferença, conhecer os contextos, vivenciar a alteridade, reconhecer pontos de vista diferentes. No contexto indígena, precisamos vivenciar a relação, fazer “(…) o cotidiano com eles”, comer sua comida, tomar sua bebida, nadar no rio e ouvir suas histórias. É isso.

Reunião de responsáveis técnicos do Programa de Saúde Mental dos distritos sanitários especiais indígenas do Brasil – em Brasília – Foto: Acervo Pessoal

(En)Cena – Qual relato de tratamento da saúde mental indígena que o faz tornar inesquecível em toda a sua experiência?

Marcelo Abdala – Bom, considerando o uso de plantas, ou seja, a medicina tradicional como uma prática de saúde mental em contexto indígena, relato aqui a que ouvi esta semana de um enfermeiro. Trazia uma criança de dois meses de vida, quase sem vida. Faltava-lhe o sopro. Seu coração batia cada vez mais devagar. Ao pararem em outra aldeia, rapidamente uma senhora pegou uma folha e tirando a seiva dela, com uma seringa, deu para a criança beber. Espalhou um pouco no peito e no nariz. Em menos de 30 minutos a criança já dava sinais de vida que antes perdia. Em outra ocasião estávamos em uma aldeia realizando um Projeto de Saúde Mental para as populações indígenas. Numa noite, todos se reuniram em volta do fogo, velhos, crianças, mulheres, para relembrar as histórias, tomar o Caapi (conhecido popularmente como Ayahuasca). As mulheres cantavam as ‘lamentações’ em suas línguas, falando do amor de uma indígena por um ‘branco’. Encorajavam, seus filhos, a beberem o Caapi, por se tratar de bebida de conhecimento. O mais velho, benzia o cigarro e contava as histórias sobre a origem da humanidade, do mundo, das doenças, da vida…

(En)Cena – Na sua opinião, qual a perspectiva do futuro da saúde mental indígena?

Marcelo Abdala – Atualmente, o tema da ‘saúde mental em contexto indígena’ tem sido discutido amplamente em Conselhos Regionais de Psicologia, em encontros regionais e agora em um Congresso Brasileiro de Saúde Mental, não por acaso, mas no Norte do País. Espero que a partir daqui, possamos ampliar nossa visão de mundos e agregar outras práticas não convencionais de cuidado e atenção à saúde. Para isso, precisamos compreender, nós todos, que terra, planta, rio e peixe, maloca, fumaça e espírito, também é saúde mental!

“A Terapia do Cotidiano”

Farei meu cotidiano com eles,
Nossa terapia comunitária.

Se não houver cadeiras,
Usaremos tijolos.
Se não houver salas,
Sentaremos à beira do riacho,
Debaixo de uma mangueira…

Trataremos apenas do possível, sem segredos.
Falaremos de coisas simples,
Do nosso dia-a-dia.
A noite mal dormida,
Um amor que partiu,
Um sonho que não se realizou…

Cantaremos juntos, nossas cantigas,
Aquelas que ouvimos desde criança,
Ou aquelas que encantam os nossos corações
E embalam nossa carência afetiva…

Vamos celebrar a vida,
Cantando e batendo palmas…
Pois é assim que se celebra,
Com alegria e felicidade, ritmo e poesia…

Autor: Marcelo Pimentel Abdala Costa

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Como enfrentar uma situação inesperada e manter a saúde mental

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“A vida é um sopro,
a gente não pode ser irresponsável,
mas também não pode perder a vida por medo”

Ohanna Patiele

Ohanna Patiele é acadêmica de Comunicação Social, tem 27 anos e mora em Palmas-TO há 3 anos e 8 meses. A jovem trabalha com marketing em mídias sociais, é escritora, adora dançar e é viciada em redes sociais. Em entrevista ao Portal (En)Cena ela conta como tem levado a vida após a descoberta de um câncer na tireoide.

Foto: Acervo pessoal Ohanna Patiele

(En)Cena – Quando você foi diagnosticada com câncer e em que estágio a doença estava?

Ohanna Patiele – Eu vi o nódulo pela primeira vez em agosto de 2013 porque tomei antibióticos e tive uma reação, fiquei cheia de ínguas nas axilas, na virilha e no pescoço, mas eles sumiram em mais ou menos uma semana. Em outubro, eu estava me maquiando e vi que aquele pontinho tinha quadruplicado de tamanho, aí me assustei muito. Fiquei com medo e só consegui criar coragem e ir ao médico depois de umas duas semanas, fui ao endocrinologista. Ela pediu exames para medir os hormônios produzidos pela tireoide e um ultrassom. Sai de lá tão ansiosa que fiz os exames imediatamente.

Na semana seguinte fui levar os resultados e ela explicou que minhas taxas de hormônio estavam normais, porém algumas características do nódulo a preocupavam. Pediu uma punção por agulha fina PAAF, um procedimento simples em que se aspira uma secreção do nódulo e vai pra biopsia. Ela saiu de férias antes de ver o resultado do exame e eu estava saindo de férias também. Como eu já estava muito preocupada marquei consulta com um endócrino em Goiânia e ele me encaminhou pro cirurgião. Como o nódulo era muito grande, só seria possível definir se ele era maligno na cirurgia. Dois meses e dois dias depois da primeira consulta, eu retirei toda a tireoide e a biopsia do nódulo revelou que era sim câncer. Um carcinoma papilar usual de tireoide, graças a deus, a forma mais branda da doença.

(En)Cena – Qual foi a primeira coisa que lhe passou pela cabeça? A ideia de que pudesse, mesmo que remotamente morrer te assustou?

Ohanna Patiele – O câncer da tireoide é relativamente tranquilo em relação aos outros, com altas taxas de cura, poucas chances de metástase e como eu já estava livre do nódulo, não tive medo de morrer. Mas tive uns dias muito ruins sim. Meu maior medo era o tratamento dos outros tipos de câncer que são tão agressivos né? Quimio e radioterapia fazem o paciente sofrer muito. Graças a Deus, o tratamento do câncer de tireoide é a cirurgia e um tratamento a base de iodo radioativo, a iodo terapia que estou fazendo hoje. Sobre os dias ruins: tive uma crise muito severa de choro quando vi a médica que tinha me dito uma semana antes que as chances de ser benigno superavam os 90% preocupada.

(En)Cena – Como foi o processo de aceitação e quais fatores contribuíram para que você tivesse força para seguir em frente?

Ohanna Patiele – Nesse dia, chorei ininterruptamente da hora que saí do consultório até dormir. Chorei muito. Primeiro porque eu sei que se houvesse se espalhado pra outro lugar, o negócio complicaria 100 vezes. Segundo porque tive que parar a vida pra ficar em Goiânia e tratar. Há dois meses não vou em casa, não vejo minha gata, não trabalho e tive que trancar a faculdade. Foi um baque!  A terceira e mais recente crise de choro foi um dia antes de internar pra fazer a iodo terapia, ia fazer o primeiro exame pra ver se houve metástase e entrei em pânico com um sonho que tive. É ridículo, mas tive medo do sonho como uma criança. Fiquei irracional. Tenho que confessar que demorei dois dias pra aceitar a notícia. Soube que era câncer na hora que sai da sala de cirurgia e não processei a informação. No dia seguinte o médico falou comigo e eu voltei a ignorar. Só no terceiro dia que minha mãe e namorado conversaram comigo e eu finalmente entendi: poxa, tive câncer!

(En)Cena – Como você fez para superar o susto do diagnóstico?

Ohanna Patiele – Eu não contei nada pra minha família nas primeiras consultas porque estava no Tocantins e tudo ainda era uma suspeita. Pensei: se falo isso, minha família surta, minha mãe vai enlouquecer e vir pra Palmas imediatamente… chega aqui e não é nada. Enquanto isso, João, meu namorado que mora em Brasília, foi quem me deu todo o apoio, conforto, mesmo a distância. Meus colegas de trabalho também foram muito bacanas comigo. Só contei para a família quando cheguei em Goiânia e a família surtou sim, mas o amor que a gente recebe, torna tudo mais fácil!

Ohanna rece apoio da família em todos os momentos. Foto: Acervo Pessoal

(En)Cena – Que processos você escolheu para não se deixar levar pela fragilidade emocional que os pacientes estão expostos?

Ohanna Patiele – Eu tenho um blog há muitos anos, nem sei quantos pra falar a verdade. No início, ele era um substituto dos antigos diários (sem os segredos, claro) que eu escrevo desde que tinha uns 12 anos. Escrevo o que dá na telha lá. Me faz bem escrever, parece que me dá uma noção melhor da realidade. Não ir sozinha numa consulta é um pequeno gesto, mas faz toda diferença. Minha família e João me fizeram sentir que podia acontecer o que fosse eu não estaria desamparada. Isso é fundamental! Acho que ainda não superei o susto. Quando lembro ainda penso: bicho, como assim?

(En)Cena – Você acredita que a doença tem algum aspecto positivo? 

Ohanna Patiele – Os pontos positivos são certamente internos. É clichê, mas quando a gente tem um susto desses, dá uma revisada boa na vida. No valor que a família e as pessoas próximas têm sabe?! Fico tanto tempo longe deles por causa da rotina, isso é um pecado. Também estava com muito medo de algumas oportunidades de mudança que surgiram e agora quero viver tudo de uma vez! A vida é um sopro, a gente não pode ser irresponsável, mas também não pode perder a vida por medo! Reforçou o conceito que eu aprendi com os médicos e vale pro corpo e pra mente: se conheçam! Autoconhecimento é que liberta e pode salvar sua vida!

Câncer em fase inicial tem muito mais chances de cura! Outra coisa que foi uma lição muito grande e merece ser contada é que pequenos gestos podem ajudar uma pessoa demais, às vezes, a gente não olha pro vizinho, mas podia está salvando o cara. Recebi muitos gestos de carinho, mas minha vizinha Edinalda, está sendo f, um anjo indo todos os dias na minha casa alimentar minha gata. Bicho é algo simples, mas que está me ajudando de uma forma que nem sei agradecer. Pra ela ficar num hotel ficaria caríssimo! Então, a gente tem que ser mais solícito com o outro. Olhar mesmo pra quem está ao nosso redor! É algo que eu quero praticar muito mais a partir de agora. Outra coisa que foi ótima com a doença foi à confirmação de que João é o cara certo sabe! Foi super companheiro, ajudou mais do que podia, fez de tudo pra que eu me sentisse amparada, amada! No dia antes de internar, quando contei que estava chorando por causa do sonho, ele saiu do trabalho em Brasília pra me dar colo em Goiânia. Sabe? Amor mesmo! Vou casar com esse cara!

(En)Cena – Como se vê daqui a 5 ou 10 anos?

Ohanna Patiele – Pergunta difícil essa dos cinco anos! Me vejo casada com João, meu namorado, comprar nossa casa, quero me aperfeiçoar em mídias sociais e continuar trabalhando com isso, viajar muito! Sei lá, acho que o objetivo maior mesmo é ser feliz!

 No blog Ohanna fala com todos os detalhes como recebeu o diagnostico. A entrevista demorou cerca de uma semana para ser finalizada, Ohanna estava no hospital fazendo mais uma parte do tratamento que possibilitará em pouco tempo que ela retorne suas atividades normais e continue se equilibrando mentalmente, fazendo o que tem paixão.

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O Capa-Branca: histórias de vida no Juquery

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“Por sete anos vivi cercado por todo tipo de louco, maluco, pirado,
ou seja lá como é possível chamar um doente com problemas mentais ou psiquiátricos.
Acredito que as pessoas pensam que sou meio esquisitão por causa disso.
Hoje estou aposentado e muita gente classifica meu comportamento como loucura.
Mas aposto que essas pessoas nem imaginam quais são os verdadeiros limites
da loucura – se é que a mente humana tem algum limite.”

(Walter Farias)

O jornalista Daniel Navarro compilou histórias de Walter Farias, ex-atendente de enfermagem que trabalhou e foi internado no Manicômio Judiciário do Juquery, em Franco da Rocha (SP). O Capa-Branca, que ainda será publicado, é um livro que relata, em primeira pessoa, a vida de um funcionário e paciente do que já foi a maior instituição psiquiátrica da América Latina.

“No início dos anos 1970, Walter, com pouco mais de 18 anos, via no serviço público a oportunidade de conseguir realizar seus sonhos. Ao ser aprovado no concurso para o Hospital Psiquiátrico, passou a vestir uma capa branca para cuidar de pacientes acamados ou que perambulavam os corredores das clínicas completamente alheios à realidade.

A vida do protagonista de O Capa-Branca começa a tomar outro rumo depois de sua transferência para o Manicômio Judiciário. Pacientes inofensivos deram lugar a detentos que haviam praticado crimes com requintes de crueldade. Essa realidade acabou com a sanidade dele e a única solução para o caso foi a internação no Hospital Psiquiátrico. Dali em diante, o atendente de enfermagem deixou de lado sua capa branca para se transformar em mais um paciente do Juquery e sentir na pele os horrores daquele lugar.”

O (En)Cena entrevistou Daniel Navarro para conhecer um pouco das histórias que O Capa-Branca retrata.

Daniel Navarro, jornalista e escritor de O Capa-Branca. Créditos: Paula Korosue

(En)Cena – Como foi o seu primeiro contato com o Walter? Como vocês se conheceram?

Daniel Navarro – Eu vi o Walter pela primeira vez na TV, em 2007. Ele participou do programa Casos de Família, do SBT, na época em que era apresentado pela jornalista Regina Volpato. Fiquei bastante interessado na história de vida dele, principalmente quando contou que tinha sido funcionário e paciente do Juquery. No final, ele comentou que precisava de ajuda para escrever um livro com suas memórias. Assim que o programa terminou, enviei um e-mail para a produção solicitando os contatos dele. No dia seguinte, conversamos por telefone e marcamos de nos encontrar na escola de idiomas onde eu dava aulas de francês e de italiano. Walter saiu de Franco da Rocha e foi me encontrar no centro de São Paulo.

Nesse primeiro encontro, ele deixou comigo algumas folhas sulfite com manuscritos que continham a história de alguns personagens do tempo em que trabalhou no Juquery. Dali em diante, recebi o restante dos manuscritos e começamos a desenvolver o projeto do livro. Tenho até hoje todos os manuscritos.

Morei em Fortaleza por dois anos e meio e para prosseguirmos com o livro. Eu imprimia os textos e os enviava para ele pelo correio. Dias depois, eu recebia um envelope com as observações e comentários dele escritos a caneta.

(En)Cena – Daniel, o que te motivou a escrever o livro? Por que você, jornalista, escolheu a temática da saúde mental?

Daniel Navarro – Eu já estava pensando em escrever um livro, mas não sabia por onde começar e nem tinha um tema bem definido. Outra motivação foi meu interesse por filmes, livros e reportagens sobre hospitais psiquiátricos, manicômios e presídios. No segundo ano da faculdade de jornalismo, visitei o Carandiru e, um ano antes, tinha lido Estação Carandiru, que me marcou muito. Acabei lendo esse livro três vezes. Depois, vi O Bicho de Sete Cabeças e li Canto dos Malditos, o livro que inspirou o filme. Lembro que saí bastante impressionado do cinema e no dia seguinte comprei o livro. Acho que o li em dois ou três dias.

(En)Cena – Há alguma história específica do Walter que lhe chamou mais atenção, lhe emocionou?

Daniel Navarro – É difícil dizer qual história me chamou mais atenção ou me emocionou mais. Acabei me afeiçoando pelo livro como um todo. A convivência com os pacientes das clínicas do Hospital Psiquiátrico e com os internos do Manicômio Judiciário rendem histórias fortes e impactantes. Acredito que a transformação do protagonista de capa-branca (funcionário do Juquery) em paciente despertou em mim e vai despertar nos futuros leitores diversas reações.

Complexo Judiciário do Juquery, localizado em Franco da Rocha – SP

Há alguns personagens muito interessantes, como o paciente do Hospital Psiquiátrico que permanecia trancado em uma cela por ter a habilidade de arrancar os olhos das pessoas com as próprias mãos. Também posso citar o guarda-costas responsável pela proteção de Walter no Manicômio Judiciário. E há ainda um personagem bastante misterioso do manicômio que passava o dia lendo de tudo, desde livros sobre seitas secretas, alquimia e matemática até bulas de remédio. Ele convenceu Walter a participar de um ritual secreto no campo de aviação de Franco da Rocha. Também gostei de conhecer o outro lado do célebre Bandido da Luz Vermelha. Quando Walter o conheceu, ele já era uma pessoa bem diferente daquela que saia nas manchetes dos jornais. Quando o livro for publicado – espero que não demore muito –, os leitores vão ficar bastante impressionados com a galeria de personagens de O Capa-Branca.

(En)Cena – Após conhecer a trajetória de Walter, você percebe a loucura de uma forma diferente? Sua visão sobre isso mudou?

Daniel Navarro – O conceito de loucura é muito amplo e delicado. Muitos dos pacientes internados no Juquery estavam lá porque eram pessoas indesejáveis para a sociedade. Não havia um diagnóstico preciso dos problemas psicológicos, psiquiátricos ou mentais. Conviviam no mesmo ambiente, esquizofrênicos, alcoólatras, pessoas com síndrome de down, usuários de drogas ilícitas… a lista vai longe! Até presos políticos foram parar lá dentro e morreram sem que ninguém soubesse onde foram enterrados. No início do século 20, imigrantes japoneses chegavam ao porto de Santos e só porque tinham os olhos puxados eram considerados diferentes e acabavam internados no Juquery. A política da época era limpar as ruas e eliminar aquilo que parecesse diferente e não se enquadrasse nos padrões de normalidade da sociedade.

Confesso que também já me chamaram de louco por eu ter escrito o livro com o Walter. Quando digo que vou à Franco da Rocha conversar com um ex-funcionário do Juquery que foi paciente, uma ou outra pessoa me chamam de louco.

Walter Farias, protagonista de O Capa-Branca

Ainda explorando esse conceito amplo e delicado de loucura, creio que devemos acreditar nos nossos sonhos e não nos preocuparmos com o que os outros pensam. Muitos cientistas foram considerados loucos quando anunciavam suas descobertas. Só que se eles mesmos não acreditassem nas suas ideias e as defendessem com unhas e dentes, até hoje acreditaríamos que a Terra é plana e o homem não teria ido ao espaço, só para citar alguns exemplos.

(En)Cena – Você ainda não fechou contrato com alguma editora para lançar o livro. Essa dificuldade se deve a quê? Você acha que, por ser uma obra sobre saúde mental, há empecilho para publicação?

Daniel Navarro – O processo de análise de originais é longo e muito minucioso. Comecei a enviar o original de O Capa-Branca em agosto deste ano, então ainda é muito cedo para afirmar que há algum empecilho para a publicação de uma obra que aborde a questão da saúde mental.

(En)Cena – Walter possui mais de 400 canções registradas dos mais variados estilos musicais. Ele também é inventor. Você, que relatou as memórias dele, acredita que ter passado pelo Juquery o sensibilizou para tais tipos de arte?

Daniel Navarro – Há essa possibilidade. Eu acredito que de alguma forma sua passagem pelo Juquery o sensibilizou para tais tipos de arte. Mas acho que os leitores também poderão tirar suas conclusões ao lerem O Capa-Branca.

(En)Cena – O quê, de mais valioso, você aprendeu com Walter?

Daniel Navarro – A experiência de escrever o livro com Walter foi muito enriquecedora. Além de sermos parceiros na escrita, nos tornamos amigos. Mas, depois de conhecer a história da vida dele, a lição que ficou para mim e deverá ficar para os leitores é que não podemos cometer os mesmos erros do passado nem no presente e muito menos no futuro. Ficou comprovado que modelo de confinamento de pacientes no Juquery e em outros hospitais psiquiátricos espalhados pelo país não funciona. Não adianta amontoar milhares de pacientes com os mais variados diagnósticos no mesmo lugar. Além disso, os tratamentos também devem ser revistos. Na época em que se passa O Capa-Branca – a década de 1970 –, os tratamentos não tinham quaisquer critérios. Havia absurdos como a terapia por choque insulínico e malarioterapia, que consistia na inoculação do germe da malária. Quem entrava não se curava. Os pacientes passavam dia e noite sedados. O único objetivo era controlá-los. Em um momento em que se discute a internação de usuários de crack para tratamento, acredito que essa questão deve ser discutida sem esquecermos o passado.


Sobre os autores:

Daniel Navarro é jornalista e conheceu o protagonista de O Capa-Branca enquanto assistia a um programa de TV com o tema “Sou esquisito e daí!”. Após entrar em contato com Walter Farias, recebeu os manuscritos que contavam um pouco de suas memórias no Juquery. Fluente em francês, inglês, espanhol e italiano, atualmente estuda russo e trabalhou como professor de idiomas, tradutor, intérprete. Atuou em diversos segmentos de assessoria de imprensa, como fitness, turismo, construção civil, limpeza urbana, marketing digital, gastronomia e mercado editorial.

Walter Farias é ex-funcionário do Juquery e vive até hoje em Franco da Rocha com sua família. Pai de três filhas e um filho e avô de cinco netos, atualmente está aposentado. Já compôs mais de 400 canções, todas registradas. Seu repertório inclui diversos estilos, como samba, sertanejo, MPB, entre outros. Algumas de suas músicas já foram gravadas por cantores de Franco da Rocha, Caieiras e Jundiaí. Também se dedica a inventos. Um deles consiste em um sistema que impede caminhoneiros de dormirem ao volante.

Entre em contato com o autor:

Daniel Navarro
danielnavarro@ig.com.br

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O que vi e senti no V Fórum do Judiciário para Saúde

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Em busca de uma compreensão abissal da minha função enquanto agente social, observadas as lacunas do conhecimento científico, e como grande parte dos universitários, incrementar o Lattes,  procuro sempre que possível participar dos eventos promovidos pelas instituições não governamentais e os do Estado.

Foto: Hudson Eygo

No dia 18 de outubro de 2013 aconteceu no Tribunal de Justiça do estado do Tocantins- TJ/TO o V Fórum Estadual do Judiciário para Saúde com o tema “Saúde Mental e a Política de Álcool e Outras Drogas”, realizado pelo TJ, Escola Superior da Magistratura Tocantinense e Comitê Executivo para Monitoramento das Ações da Saúde no Tocantins – CEMAS/TO, este criado pelo Conselho Nacional de Justiça-CNJ para “auxiliar os Magistrados, Representantes do Ministério Público e Defensoria Pública na formação de juízo de valor quanto à apreciação das demandas (extrajudiciais e judiciais) relativas ao SUS” (grifo nosso).

Desde o nome a estrutura do evento há uma dissensão do objetivo deste para a sociedade, visto que esta o financiou.  O judiciário é pedante em propor realizar evento “para“ saúde, falando de saúde e não haver um elemento que signifique ligação, já demonstra possíveis intenções. Aberto à sociedade civil e transmitido às demais comarcas do estado, havia como participantes presenciais profissionais da área da saúde, direito, serviço social, militantes dos Movimentos Sociais e representantes de categorias que não compuseram nenhuma mesa e tão pouco foram ouvidos ao contestar os dados estaduais apresentados. Durante a mesa redonda os convidados não vinculados ao governo estadual de forma expositivo argumentativa fizeram uma análise  história e dos dados nacionais relativos ao tema,  enquanto as duas ligadas a secretarias apresentaram previsões e projetos de programas, se o orçamento não voltar aos cofres da União – problema gravíssimo no estado –  não serão beneficiados por esses os Atingidos por Barragens, os Ribeirinhos, Trabalhadores Sem Terra.

No período vespertino ressaltaram a importante participação da sociedade na construção de políticas públicas e de forma interdisciplinar garantir a “participação da comunidade” idealizada no artigo 198, inciso III  da Constituição Federal de 1988. A essência nordestina esteve presente tratando do tema “Justiça Terapêutica” que comoveu/ incomodou com sua irreverência e instigações.

Por fim, encerrada a transmissão televisiva e disperso o auditório ainda lotado para um coffe breack, retornaram os trabalhos em 5 minutos com 1/3 das pessoas antes presentes para o restante da programação  “Enunciados: Construção, Discussão e Deliberação”, é o documento que será encaminhado aos magistrados como fruto das discussões do Fórum. Compunham a mesa as juízas Milene C. Henrique, coordenadora do CEMAS/TO, Flávia Bovo  e alguns serventuários, lido o primeiro enunciado o  médico psiquiatra Leonardo Baldassara, convidado como debatedor da última palestra, contestou o termo “laudo”  utilizado pelo documento. Conflito que se resolveria com a simples leitura inicial de qualquer livro de medicina legal, mas se estendeu pela ironia e sarcasmo da coordenadora do CEMAS/TO, teve seu clímax ao pedir que Leonardo e seus colegas de profissão fossem breves, uma pessoa não identificada do auditório fala alto que agora devemos escutá-los. Milene com postura pedante e o mesmo tom, interrompe mais uma vez a fala de outro psicanalista faz reintegração dizendo “eu sou a coordenadora desse evento, se alguém estiver em desacordo pode se levantar e se retirar”.

Nos primeiros segundos minha mente parecia um limbo, incertezas que causaram palpitações e questionamentos. O evento não estava mais sendo transmitido às comarcas e provavelmente não chegará à pauta de nenhuma reunião que questione a seriedade e aplicabilidade de toda discussão realizada em torno do tema proposto e dos Enunciados. Interdisciplinaridade exige que os magistrados desçam de seus pedestais e se relacionem horizontalmente. É duvidoso o juízo de valor formado sem a voz do assistencializado e profissionais dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS.  Levantei e me retirei, porém em breve estarão disponíveis OS ENUNCIADOS DO V FÓRUM DO JUDICIÁRIO PARA SAÚDE.

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