O significado do “eu te amo” para Violet Evergarden

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Você sabe o significado da frase eu te amo? Quando alguém diz eu te amo, isso significa que ela realmente ama essa pessoa? E quando uma pessoa diz eu te amo para alguém e esse ser humano não sabe o que significa essas palavras? Essas e outras perguntas, relacionadas ao amor,  já foram questionadas por muitas pessoas e. A busca por essas respostas faz parte da aventura de Violet Evergarden.

Violet Evergarden é um anime que se passa em período de pós-guerra, no Brasil ele é transmitido pela Netflix e utiliza-se de muitos elementos orientais e ocidentais para compor suas narrativas. A história do anime se inicia quando Violet desperta em um hospital depois de uma grande batalha. Contudo, a história da protagonista se inicia alguns episódios adiante, quando o irmão mais velho de seu mentor Capitão Boungainvillea, a encontra e diz que ela pode ser usada como uma “arma de guerra”.

Em contrapartida seu mentor Major Gilbert não aceita sua condição de serva, nem muito menos sua utilização na guerra. Com gentileza e ternura Gilbert cuida de Violet, iniciando o primeiro vínculo com a menina. Não conseguindo evitar que ela vá para a guerra, pois todos insistem que a criança só serve para matar, o Major decide levar a garota com ele para ser supervisionada. Nesse momento há uma consciência moral em Gilbert, sendo esta consciência moral absolutamente presente no ser humano e responsável pela frequente mudança de comportamentos (LIMA et al, 2013). Toda sua família é integrada por normas e regras militares, sendo assim, vencer a guerra é o maior objetivo da época, inclusive para as forças armadas, contudo ele não acha certo utilizar-se de crianças para fins bélicos, decidindo então acolher a menina da melhor forma possível.

Resultado de imagem para Violet Evergarden na guerra
Fonte: goo.gl/jFjsdU

O que ele não esperava era que Violet superasse as expectativas de todos no campo de batalha, ela lutava sem demonstrar sentimentos, fazia o que mandavam e obedecia a cada ordem cegamente. Embora, isso fosse útil no combate, Gilbert conseguia ver algo além do obvio, ele via grandeza, compaixão e até amor na menina, conseguindo posteriormente moldar e ensinar novos comportamentos a Violet. Ela não tinha nome, identidade, família, só a “utilidade”  de ser uma máquina de matar. O Major conseguia ver além dos rótulos impostos pela sociedade, ele lhe deu um nome, ensinou ela a ler, escrever e demonstrava seus sentimentos com ela.

Apesar de fazer progresso, ele queria mais em relação a ela, queria lhe expressar seus sentimentos e queria que ela pudesse perceber os dela própria. Eis que ela começa a sentir algo no mundo, ela vê um broche e fica intrigada com ele, a dona da loja diz que é bonito e ela diz que não sabe o que significa isso. Ele decide comprar o broche para ela e questiona “tem certeza que não quer comprar algo da cor dos seus olhos?”, ela diz “gostei desse, era o mais lindo de todos, eu não conhecia a palavra, por isso não disse antes, mais desde que te conheci sempre achei seus olhos lindos”.

Algumas horas depois a sua última batalha começa, é nela que sua busca pelo amor inicia. O conflito se intensifica, mais eles conseguem avançar e derrotar quase todos os inimigos, quando de repente Major Gilbert leva um tiro e Violet se sente frágil e sem utilidade. O Major diz para ela ir embora e o deixar para trás. Essa cena  choca com muita tristeza e terror. A menina não desiste de seu Mestre e o carrega mesmo ferida, alguém atira nela pelas costas e ela perde um braço, mesmo assim não se importa em avançar. Quando alguém lança uma bomba, ela perde o outro braço e diz que não vai deixa-lo morrer. Ele não tem mais forças e sabe que vai morrer e diz “você tem que viver, seja livre, do fundo coração eu te amo”.

 

Imagem relacionada
Fonte: goo.gl/S3DVew “Eu não entendo, Major!”

O resto da história relata suas aventuras na busca pelo significa dessa frase. Violet depois da guerra, decide ser uma Autômata de Auto memória (espécie de mensageira, que escreve cartas para as pessoas, demonstrando seus sentimentos). Irônico sua escolha, pois uma pessoa que não entende de sentimentos tenta entender seus próprios, e ajudar os outros a transcrever isso (parece o povo de psicologia, quando quer se auto entender). Decidida a usar suas habilidades manuais de outra forma que não seja para matar, deixando o campo de batalha ao término da guerra para começar uma nova vida em um Correio de Serviço Postal, ela persiste em sua jornada para conhecer e entender as várias formas de amar e ser amada. Ela enfrenta muitas dificuldades em seu caminho, o preconceito por antes ser uma “máquina de combate” (principalmente pelo Capitão Boungainvillea) e a dificuldade em entender o que as pessoas querem dizer e o que elas sentem.

Todavia, ela encontra em seu trabalho como Autômata muitos desafios a serem transcritos. Como uma princesa que estava compromissada a um príncipe e necessitava de alguém para escrever suas cartas de amor. Contudo, essas cartas eram expostas na mídia querendo dar “amor e esperança” para as pessoas depois da guerra. Nessa empreitada Violet quer mostrar os verdadeiros sentimentos da princesa, não apenas o que as pessoas esperavam encontrar nessa história de amor; Um dramaturgo criativo que perdeu a filha, sua razão de vida e maior inspiração. Violet lhe dá outra vez inspiração, não apenas porque lhe lembrava de sua filha, mais porque ela lhe ensinou grandes lições de vida; A mãe doente e solitária que tinha apenas uma filha. Ela sabia que iria morrer logo e não queria deixar a filha desamparada de alguma forma.

Mesmo após começar a entender várias manifestações e entender os sentimentos das pessoas, em especial sobre o amor. Violet sentia um vazio, por não entender aquele “eu te amo” de Gilbert. Ela começa a entrar em crise de identidade, se questiona se serve para ser Autômata e sua utilidade no mundo. Suas amigas escrevem uma carta para ela relatando seus sentimentos, sobre sua importância nesse trabalho e o quanto presavam pela amizade dela.

Fonte: goo.gl/wGF7Yx

Em um mundo em que as cartas falam mais que as palavras da boca, pode parecer bobagem, mas esse anime fala não apenas de amor, mais de carinho, novas perspectivas, superação, e de como a vida pode ser relatada pela ótica de mulheres com histórias de superação e vontade de transcrever os sentimentos dos outros. Violet não apenas entende o que é o amor no final, ela consegue ver o amor em muitas coisas da vida. E o que ela faz com isso? Passa ele adiante com um gesto simples de entender os sentimentos dos outros e transcrever para as pessoas queridas. Ela consegue ver propósito nas palavras, na história de vida das pessoas, ressignifica seus saberes atropelados por uma guerra triste e desumana. Quem antes era apenas uma ferramenta de combate, torna-se uma menina resiliente, um novo instrumento para propagar amor e felicidade em um mundo destruído pela ganância do homem.

Violet Evergarden diz : “Foi a primeira carta que recebi na vida, e isso me ajudou a perceber, como é especial receber uma carta”. Assim ela usa essa nova descoberta como um reforço positivo para continuar seu novo propósito.  percebendo que assim como o Major Gilbert, ela também pode multiplicar o amor.

REFERÊNCIA:

LIMA, M. C. V. et al. Amor Romântico: a essência da procura do ser amado. Disponível em: https://psicologado.com.br/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/amor-romantico-a-essencia-da-procura-do-ser-amado. Acesso em: 12 de novembro de 2018.

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Magneto e o reencontro com o sentido existencial

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“Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como.”
Viktor Frankl

Magneto (Erik Magnus Lehnsherr) é um personagem da Marvel Comics criado por Stan Lee e Jack Kirby, que fez sua primeira aparição na revista em quadrinhos “Uncanny X-Men #1” (Setembro de 1963). O mutante nível Alfa possui poderes extraordinariamente fortes relacionados à manipulação de qualquer tipo de metal e campos magnéticos, e também possui poder de vôo se em sua vestimenta houver componentes metálicos. Suas habilidades são tão fortes que pode manipular até a quantidade de ferro no sangue de qualquer criatura. Magneto também usa um capacete que lhe confere imunidade à intrusões psiônicas.

Fonte: https://bit.ly/2OHIKSu

O personagem se tornou popular no Brasil através da série animada “X-Men: Evolution”, que foi transmitida em TV aberta por vários anos, assim como os filmes live action da franquia X-Men. Tanto na animação quanto na franquia americana de filmes, Magneto atua com frequência como anti-herói, porém tem status de vilão. Suas idéias relacionadas ao futuro da classe mutante o tornam, sem dúvidas, um dos principais vilões dos X-Men, nos quadrinhos, desenhos e filmes.

Dor e ódio

Nascido com o nome de Max Eisenhardt, foi perseguido junto com sua família pelos alemães nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, por serem judeus. Após ver sua família ser assassinada, foi mandado ao campo de concentração de Auschwitz, onde trabalhava como Sonderkommando, uma classe de escravos que fazia os serviços mais indesejáveis, como incinerar corpos e limpar câmaras de gás.

A mãe de Max é morta com um tiro em Auschwitz, após ele não conseguir mover uma moeda com seus poderes. Fonte: Filme “X-Men: Primeira Classe”.

No campo de concentração, conheceu uma cigana chamada Magda. Ambos se apaixonaram e conseguiram escapar de Auschwitz com muito custo. Max assume então o nome de Magnus, para viver em anonimato. Magnus e Magda se estabeleceram em uma vila russa, e apesar de terem que pagar para se manterem lá, tinham uma vida normal e tiveram uma filha, chama Anya. Porém, quando Magnus se recusou a continuar pagando a alta taxa para viver na vila, teve sua casa incendiada e viu sua filha morrer queimada. Tomado pelo ódio, revela seus poderes pela primeira vez e os usa para matar todos os moradores da vila, exceto Magda, que foge para as montanhas sem antes ter revelado que estava grávida. Magda então tem filhos gêmeos, que foram criados por ciganos e ganharam o nome de Wanda e Pietro Maximoff.

Fonte: https://bit.ly/2q6IMEz

Em suas viagens, Magnus conhece Charles Xavier, o fundador dos X-Men, e o ajuda em uma missão. Porém, rompe sua amizade com Charles por acreditar que a única maneira de salvar os mutantes dos ataques dos humanos é fazendo uma revolução. Magnus assume o nome de Magneto e passa então a dedicar sua vida a recrutar e treinar mutantes para dominar a humanidade, se tornando um dos maiores inimigos dos X-Men.

Um encontro existencial

“No campo de concentração todas as circunstâncias conspiram para fazer o prisioneiro perder seu controle. Todos os objetivos comuns da vida estão desfeitos. A única coisa que sobrou é “a última liberdade humana” – a capacidade de escolher a atitude pessoal que se assume diante de determinado conjunto de circunstâncias. […] Os prisioneiros eram apenas cidadãos comuns; mas alguns, pelo menos, comprovaram a capacidade humana de erguer-se acima do seu destino externo ao optarem por serem “dignos do seu sofrimento”.”

O fragmento de texto acima foi retirado do prefácio do livro Em Busca de Sentido escrito pelo psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997). Frankl, assim como o personagem Magneto, foi capturado pelas tropas nazistas durante a segunda grande guerra por ser judeu, porém, na vida real. Entre os anos de 1942 e 1945, o psiquiatra esteve em vários campos de concentração, entre eles o de Auschwitz. Nesse percurso viu seu pai, sua mãe, seu irmão e esposa serem assassinados ou cremados, apenas sua irmã conseguiu se refugiar na Austrália. Durante sua trágica jornada, doente, Viktor encontrou sentido existencial ao roubar papéis dos escritórios nazistas para escrever um de seus livros. A vontade de rever o restante de sua família e publicar seu livro o motivou a sobreviver até sua libertação, quatro anos após ser preso.

Max vislumbra uma sala completamente lotada de óculos de pessoas assassinadas. Fonte: X-Men: Magneto- O Testamento.

A confluência entre as jornadas de Viktor Frankl e do personagem Magneto é inegável. Ainda que se procure evitar reducionismos ao descrever a grande biografia e teoria do psiquiatra, as semelhanças com a história de Magneto não se resumem apenas nas suas sofríveis trajetórias pelos campos de concentração, mas pelo sentido existencial que ambos encontraram para resistir a elas.

Para Frankl (1991), o ser humano teria uma tendência inata a buscar um significado para dar sentido a sua existência com base em desafios a serem superados, a vontade de sentido. Para tanto, a condição para a saúde mental seria uma tensão entre as possibilidades que podem ser exploradas no presente e a realização de anseios futuros doadores de sentido.

Desse modo, a busca humana por um sentido é a motivação principal da vida, sendo esse sentido pessoal e específico, só podendo ser cumprido pela própria pessoa. Assim a vontade de sentido seria satisfeita, tornado esse indivíduo capaz de empenhar sua vida em função de seus ideais e valores (FRANKL, 1991).

Fonte: https://bit.ly/2R5n6nO

Apesar de todas as adversidades, Magneto encontrou com êxito sentidos para viver. Hora pelo amor por Magda pela sua filha, hora pelo ódio à raça humana. Assim, os porquês do vilão, superaram os mais grandes sofrimentos imagináveis, como perder repetidamente as pessoas que ama. As possibilidades do seu conturbado presente deram significado ao seu futuro. Ainda que o personagem atue como anti-herói lutando lado a lado com os X-Men, sua colaboração nunca anulou seu grande desejo: elevar a raça mutante sobre a raça humana. Magneto somente luta pela sua vida e dos seus aliados contra ameaças cataclísmicas.

Apesar de a tendência da maioria das pessoas seja torcer pelos mocinhos, Magneto é um personagem que deve ao menos causar empatia nas pessoas que conhecem sua história. Alguém que passa por sofrimentos tão grandes, precisa de razões igualmente grandes para viver.

A atriz Lynda Carter, primeira mulher a interpretar a Mulher-Maravilha para a TV, certa vez disse:

“Super-heróis são na verdade apenas uma personificação de quem acreditamos ser: Pioneiros e Heróis.”

Então, talvez, super-vilões sejam a personificação de quem de fato somos: seres que perdem, sentem raiva e sofrem.

Fonte: https://bit.ly/2PILz1P

REFERÊNCIAS:

FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. Vozes, 1991.

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Suicídio, um mal que se alastra entre a Juventude

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A vida sempre foi um tema complicado, não é de hoje que se analisa o valor de tudo que cerca o ser humano, qual o sentido de existir e se há algum objetivo em viver o ciclo eterno de prazer e desprazer que dá significado a passagem do tempo. A maioria das respostas para essas perguntas giram em torno de algo para conquistar, o sentido é chegar a algum lugar, atingir um objetivo, dependendo do subdesenvolvimento do raciocínio, até provar algo a alguém. Independente da resposta, a conclusão é que vale a pena, apesar do ônus, desistir por conta própria da vida é algo impensável.

Então por que cometer suicídio? Por que desistir de algo que apesar da cultura, da religião ou da localização geográfica, é certo que vale a pena? A resposta não reside em apenas um fator, ou uma ideologia, um acontecimento traumático. É preciso considerar o grupo social, o passado, a cultura, as maneiras de se relacionar com o meio, genética em certa proporção.

Fonte: http://zip.net/bwtKZl

Cerca de nove a cada 10 pessoas que cometem suicídio sofrem de alguma patologia de ordem mental, as que figuram com mais frequência nesses casos são os transtornos de humor, os transtornos de personalidade e a dependência de substâncias químicas. A partir destes dados, é completamente derrubada a ideia de que quem comete suicídio, o faz no pleno controle de suas faculdades mentais e no exercício de seu livre arbítrio.

Isolamento social também tem uma parcela de culpa considerável pela decisão de autoextermínio. O homem é um ser social e isso não vai mudar tão cedo, a interação saudável com o grupo e com o meio são necessidades que não podem de maneira alguma ser negadas, uma vez que isso acontece a pessoa se sente deslocada, e aos poucos, suas ideias do sentido ou objetivo da vida começam a ser alteradas. A certeza de que o bônus é maior que o ônus começa a desmoronar, contribuindo imensamente para o surgimento de ideias suicidas.

Fonte: https://4.bp.blogspot.com

É impressionante o fato de o grupo com maior índice de suicídios ser o de jovens de 15 a 29 anos. Parece contraditório que o suicídio, um impulso originado de sensações de impotência, insatisfação com o próprio corpo ou personalidade, possa atingir com mais frequência quem passa pela época da vida tida como o auge da disposição e felicidade. O jovem tem energia para tudo, trabalha, estuda, sai aos finais de semana com os amigos, chega em casa depois do amanhecer. No entanto, estas mesmas pessoas são cercadas de responsabilidades e expectativas que excedem em muito o tolerável para um ser humano saudável.

O que dizem as estatísticas

Segundo a Organização Mundial da Saúde, dependências química ou psicológica, abusos, acontecimentos traumáticos e transtornos mentais, são os maiores contribuintes para os altos índices de suicídio entre os jovens. Ainda segundo a OMS, mais 800 mil pessoas no mundo morrem vítimas de suicídio todos os anos, o que resulta em uma média de 11,4 suicídios a cada 100 mil habitantes. O Brasil por sua vez tem índices bem mais baixos do que a média mundial, 6 para cada 100 mil habitantes, no entanto antes de comemorar é necessário lembrar que aqui os dados são mais incertos. No Brasil ainda há casos em que a certidão de óbito de um suicida é preenchida constando acidente de trabalho ou doméstico, até mesmo homicídio em alguns casos. Em algumas regiões o corpo é velado sem sequer um médico legista para assinar a certidão de óbito.

Fonte: http://zip.net/bptL42

O suicídio representa 1,4% das mortes no mundo, mas lidera o ranking de mortes violentas com 56% do total. Apesar de atingir com mais frequências pessoas acima de 70 anos, é com preocupação que se constata que essa é a causa de morte de 8,5% das pessoas que tem de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas de mortes no trânsito, o que representa 6 vezes a média de todas as faixas etárias. Para ter uma noção mais clara de como o suicídio se distribui e preciso olhar para números absolutos e proporções. 75,5% dos suicídios registrados ocorrem em países de renda média ou baixa, porém em países de renda alta, o suicídio representa 81% das mortes violentas.

O sociólogo polonês Zygmund Bauman traz em seus livros “Amor Líquido” e “Modernidade Líquida”, um conceito que define segundo ele a instabilidade da sociedade pós-guerra fria. Onde os valores adquirem uma plasticidade cada vez maior, e as relações seguem este mesmo caminho, se tornando algo mais adaptável e ao mesmo tempo superficial. É uma época de imediatismo, trocas rápidas, relacionamentos do tipo “macarrão instantâneo” (rápido para fazer, rápido para consumir, rápido para jogar fora). Há uma ausência de padrões nos quais as pessoas possam se apoiar, e o gozo desse novo nível de liberdade traz consigo a insegurança e o vazio de não ter nada sólido para recorrer em tempos de crise. Mas este estilo de vida é necessário para que a máquina capitalista funcione a todo vapor.

Os jovens indígenas

Segundo uma pesquisa do Estadão de 07/06/2014, “nos últimos dez anos, entre 2002 e 2012, o Amazonas foi o estado onde o suicídio de jovens mais cresceu (134%)”. No Amazonas a população indígena segundo as pesquisas da folha representa 4,9% da população em geral, ou seja, 20,9% dos suicídios foram praticamente indígenas, a folha ressalta que no Mato Grosso do Sul a situação não é diferente, afirma que “onde a proporção de índios entre os que se mataram é sete vezes maior do que a fatia deles na população”. Mas porque isso acontece? Infelizmente, em muitos países a população indígena esta desgarrada, afastada de sua cultura, pois não possui espaços ou terra para praticar seus costumes e ritos, um grande exemplo é os Estados Unidos, por conta do progresso acabou matando e expulsando os índios de suas terras.

Fonte: http://zip.net/bxtMjs

No Brasil ainda não chegamos a essa realidade, mas há várias notícias de confronto entre fazendeiros e índios pela posse de terra. Os jovens indígenas muitas vezes optam por uma vida urbana, longe de suas aldeias, pois muitas vezes ficam encantados com as cidades, quando isso a aldeia passa a vê-los como não-índios, como alguém que cresceu e participou de sua cultura, mas a população urbana não é dessa forma, muitas pessoas discriminam esse “ex-indígena” e por consequência ele mesmo acaba tendo um pensamento de não pertencer a lugar algum.

Influência do sistema socioeconômico no suicídio

Hoje em dia, sabemos que o sistema geopolítico e socioeconômico hegemônico no mundo, é baseado no acúmulo gradativo de capital e no consumo das massas, ele é chamado de neoliberal. Por mais que muitos teóricos defendam que este modelo garanta liberdade individual, vemos que cada vez mais os indivíduos se prendem a valores e práticas superficiais para preencherem seus vazios existenciais ou para se sentirem aceitos: uso de drogas, o consumismo e adesão aos padrões estéticos, são exemplos de comportamentos que podem levar os sujeitos a sentimentos depressivos.

Fonte: http://zip.net/bqtMq5

Segundo o banco Credit Suisse, em 2015, 1% da população mais rica do mundo concentrou metade de toda riqueza do planeta. Tal fato só se tornou possível graças ao modelo de consumo desenfreado que sustenta a economia. As pessoas procuram no ato de comprar uma alegria rasa e momentânea. Para aqueles que transferem aos objetos a condição para serem felizes, isso é extremamente perigoso, pois nunca irão se sentir saciados e plenos. Além disso, os meios de publicidade bombardeiam pessoas de todas as idades com ideias superficiais sobre o sentido da vida, restringindo seus horizontes e determinando o modelo de que nosso valor é medido pelo que possuímos. Numa sociedade onde se vale o que se tem, quem tem pouco tende a se sentir inferiorizado.

A publicidade influencia a vida dos indivíduos em sociedade de várias formas, tudo para leva-los a consumir os milhões de produtos disponíveis no mercado. No que se trata de estética, a padronização de modelos de beleza determina que tipos de pessoas sejam mais aceitas, com seus rostos ou corpos. Acontece que a grande maioria da população não atende a esses quesitos e então, procuram formas de se moldarem nos padrões, comprando produtos que se dizem milagrosos e regulando suas práticas de alimentação e exercícios. Cuidar da saúde e do corpo não é algo negativo, o problema é que existem aqueles que se sentem extremamente tristes por não atenderem aos valores estéticos e a não aceitação em sociedade pode levar á casos mais graves, como a depressão e até mesmo ao suicídio.

As drogas são um dos fatores que também aumentam a chance de suicídio na vida de alguém, boa parte dos países possuem políticas de proibição e repressão a alguns tipos destas, acontece que as legalizadas também contribuem para este fator, por exemplo, o álcool. 15 a 25% dos suicídios no mundo são causados por esta droga, porém as políticas de controle são mínimas por parte dos governos, mesmo que seja sabido que 11,2% da população mundial é alcoólatra. Antidepressivos e tranquilizantes não ficam de fora, pois alteram comportamento, humor e cognição dos usuários, tornando-os dependentes químicos e agravando seus quadros depressivos.

Fonte: http://zip.net/bmtLl2

Vimos exemplos de problemas que contribuem para ansiedade, depressão e sentimentos autodestrutivos, os pilares que sustentam um possível suicídio. Todos eles possuem raízes na dinâmica econômica e social do sistema capitalista neoliberal, nos mostrando que por mais que hoje tenhamos avanços tecnológicos e conforto para viver nossas vidas, é necessário também que se rompam os agentes de controle que afastam o ser humano de sua plenitude existencial e o mergulham numa ilusória e superficial realidade.

Considerações Finais

A partir deste estudo foi possível analisar a amplitude do suicídio, e como se torna complexo estudá-lo, principalmente tratando-se do adolescente. Trabalhar o suicídio é um assunto delicado, já que a temática é um tabu e desperta medo nas pessoas. Ao estudar os livros “Amor e sobrevivência”, “Viver é a melhor opção” e “O suicídio”, ampliamos nossos conhecimentos sobre a temática e compreendemos que é necessário amparar a saúde mental nas pessoas com profissionais que possuam mais capacitação para esse cuidado.

Fonte: http://zip.net/bstLN5

As internações com os profissionais de saúde, considerando a importância da enfermagem em saúde mental, são cruciais, para proporcionar o cuidado ao ser humano e atender suas necessidades psicossociais, servem como uma ferramenta para disseminar informações aos pacientes e também aos familiares e agir na sociedade, fornecendo orientações sobre o suicídio e assim poder identificar riscos e preveni-los. Para que isso ocorra, é necessário não somente estar baseado nos recursos técnicos e teóricos, mas sensibilizar e humanizar nossos sentidos. Os preconceitos e até mesmo as dificuldades pessoais fazem com que o profissional da área da saúde, apresente dificuldades em manejar estes casos. Ocorrendo com certa frequência até menosprezo para com o jovem suicida.

REFERÊNCIAS:

DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 513 p., il.

MENDES, André Trigueiro. Viver é a melhor opção. 3. ed. São Bernardo do Campo, SP: Correio Fraterno, 2017. 190 p., il.

ORNISH, Dean. Amor & sobrevivência: a base científica para o poder curativo da intimidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 263 p., il.

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