Sua história de amor: padrões que podem levar ao sofrimento

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O livro de Kelly Paim e Bruno Luiz Avelino Cardoso (2022) elenca a terapia do esquema no entendimento de padrões que estão presentes no modo de nos relacionarmos visando compreender a dinâmica do amor. Em algum momento da sua vida você já notou semelhanças entre as pessoas que você se relaciona? Que suas escolhas amorosas te levam a se relacionar com pessoas que têm as mesmas características?  Os autores enfatizam que esse livro contribui tanto para profissionais quanto para o público em geral entender o que nos leva a essas escolhas. 

Os autores ressaltam que as histórias de amor começam a ser escritas na infância, isso porque passamos pela aquisição dos esquemas emocionais que são desenvolvidos quando necessidades emocionais básicas não são supridas ou são supridas em excesso no decorrer do nosso desenvolvimento. 

Ao modo que nossas experiências vão se repetindo e sendo armazenadas, começamos a acomodar informações cognitivamente e emocionalmente, isso acontece precocemente na experiência com nossos cuidadores. Além do comportamento dos nossos cuidadores influenciarem o nosso, é necessário considerar que aspectos socioculturais também influenciam.  

Para os autores, esquemas disfuncionais são construídos a partir da vivência de experiências recorrentes carregadas de altos níveis de estresse e privações na infância e adolescência e que se perpetuam em toda vida da pessoa. Assim, na vida adulta quando deparamos com algo que se apresenta de forma ameaçadora, nos comportamos de três formas como estilos de enfrentamento que estão relacionados às respostas de sobrevivência da nossa espécie: evitação (fuga), hipercompensação (luta) e resignação (congelamento).

Evitação

A evitação é um estilo de enfrentamento que teria como intenção principal a proteção do provável sofrimento causado pelas relações. O indivíduo, por medo da rejeição, desamparo, abandono, abuso, entre outros, fecha-se emocionalmente e foge das relações. Entretanto, mesmo que a intenção seja defender-se de marcas dolorosas da história e memórias de experiências traumáticas de outras relações, o indivíduo revive as dores pelo padrão solitário estabelecido. 

Hipercompensação

Nesse caso, a pessoa tem respostas comportamentais no sentido de impedir que os seus medos se confirmem. Então, o controle, o sufocamento, exigências exageradas sobre a outra pessoa e até mesmo abusos são utilizados, tudo para que as frustrações de vivências de insatisfação um dia já sentidas na sua história de vida não se repitam. Com esse tipo de postura, as outras pessoas não conseguem entender, validar, suprir adequadamente suas reais necessidades emocionais. Em muitos casos, essa estratégia afasta as pessoas do convívio e mantém a solidão.

Resignação

A resignação a padrões nocivos ou insatisfatórios de relacionamentos pode ser uma estratégia para não sofrer ainda mais, acalmando medos profundos de possíveis retaliações, desamparo e abandono. A busca assertiva por direitos e necessidades reais é temida, pois isso poderia gerar incômodo no outro. Contudo, atitudes complacentes e passivas alimentam a subjugação, a insatisfação e a sensação de estar sozinho(a) mesmo acompanhado(a) ou de que não pode ser você mesmo(a) e expressar-se naquela relação. 

Paim e Cardoso (2022) salientam que vivemos em busca de suprimento das necessidades básicas e temos modos de funcionamentos que são ‘acionados’ como se fossem botões para cada tipo de situação, e o modo de funcionar tem a ver com alguma informação que faz lembrar de uma situação do passado, assim, você pode se sentir mais emocional, vulnerável ou inseguro e triste e também zangado e impulsivo. Segundo os autores, existe um modo criança feliz que é muito importante, onde se sente feliz e radiante que é quando você tem as necessidades de segurança, apoio, empatia, validação, cuidado, valorização, respeito, autonomia, limites, desejos e necessidades considerados, lazer, espontaneidade e expressão emocional legítima. 

Os autores abordam um dizer popular que remete a escolhas amorosas frustrantes chamado “dedo podre”, mas explicam que é comum para muitas pessoas, pois a escolha amorosa acontece a partir do que nomeiam de química esquemática, que ocorre mediante ativação dos esquemas mentais e memórias emocionais dolorosas que foram construídos em nossa história de vida.

Ao longo do texto é enfatizado que a repetição dos padrões podem levar ao sofrimento, esclarecendo que pessoas podem escolher umas às outras com base em suas histórias, pois os esquemas são viciantes e resultam em repetições de padrões que culminam em situações angustiantes podendo levar a padrões destrutivos e traumáticos que podem ocasionar negligência, desvalorização, rejeição, violências, abandono, abuso, entre outras. 

Para alento dos leitores, é possível haver uma mudança de rumo da nossa história, ou seja, você pode ter relações saudáveis, às vezes é necessário ajuda de psicoterapia, mas eles deixam algumas dicas essenciais como identificar os esquemas, se atentar as escolhas, assumir suas responsabilidades, transpor medos e romper com ciclos destrutivos, vencer sua crítica interna, ter atitudes mais saudáveis e alimentar a sua criança feliz. 

Durante toda leitura os autores nos levam a reflexão para entendimento da construção da nossa história e dos esquemas que criamos a partir de então e como impactam na hora de escolhermos nossas relações amorosas. Um fator que se mostra indispensável é o autoconhecimento, pois assim poderá conhecer melhor a sua história de amor e aprender estratégias saudáveis para uma nova história onde se sinta acolhido emocionalmente.

Referências

PAIM, K.; CARDOSO, B. L. A. Sua história de amor: um guia baseado na terapia do esquema para compreender seus relacionamentos e romper padrões destrutivos. Porto Alegre: Artmed, 2022.

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O Impacto das redes sociais na saúde mental dos jovens

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Redes sociais, um espelho de imagens distorcidas

Fonte: Imagem de HtcHnm  no Pixabay

Computador Cyberbullying

Ao postar uma foto nas redes sociais, temos intenção de ganhar “likes” e isso faz com que automaticamente seja gerada uma expectativa, que se associa muito frequentemente com a sensação de ansiedade. É bastante comum para quem posta passar horas contabilizando curtidas e comentários, além de comparar o número de interações recebidas com as de outras pessoas, gerando percepção de inferioridade. Nesse cenário, surgem questões: de onde “por que gostam mais dele?”, “o que tem de errado comigo?”, dentre tantas outras inseguranças despertadas por apenas uma postagem do indivíduo ou de uma terceira pessoa desconhecida ou que não faz parte do meu convívio.

O uso de aplicativos de “photoshop” tem se tornado cada vez mais comuns em postagens feitas nas redes sociais. Algumas pesquisas afirmam que cerca de 90% dos usuários usam essa ferramenta (SOUZA, 2019), criando a ilusão de corpos perfeitos, gerando obsessão, distúrbios alimentares e uma grande competição pelo corpo mais bonito ou por atenção. Tornando-se um poderoso gatilho mental, além de ser uma grande pressão em pessoas de tão pouca idade, que normalmente se inspiram em corpos que não existem, estão apenas alterados no computador. Outro fator são falsas postagens, contexto em que influenciadores postam fotos tiradas de páginas da internet ou forjam momentos em mostram lugares incríveis, carros, viagens e entre outros. Assim, passam a impressão de vidas badaladas e movimentadas, gerando comparações com quem observa tudo do outro lado da tela.

Um notório fenômeno oriundo das redes sociais é o “cancelamento”, um termo novo que consiste em excluir pessoas ou grupos da sociedade que tiveram posicionamentos e comportamentos incompatíveis com o aceito socialmente. Inicialmente a ideia era “cancelar” piadas de mau tom, racismo, machismo, entre tantos outros, porém, muitos usuários nas redes sociais sociais acabam cancelando qualquer opinião, comportamento e estilo de vida que não pareça válido, dentro de uma perspectiva fechada.

A política do cancelamento ajudou muito a mudar padrões de comportamento, entretanto, tem sido implacável, algumas vezes não permitindo ao “cancelado” a chance de errar e se redimir. É como se não houvesse mais espaço para a margem do erro. O certo é acertar sempre! Os jovens têm cada vez mais receio de errar e ter que lidar com a rejeição e todos esses sentimentos negativos. É fato que as pessoas precisam entender que diversos comportamentos não mais são aceitos, todavia, estamos sujeitos ao erro, pois faz parte da condição humana.

Seguindo esse contexto, temos o ambiente do cyberbullying, onde jovens e adolescentes são perseguidos, humilhados, massacrados, intimidados, difamados e agredidos mentalmente diariamente. Tem sido cada vez mais comum a presença de pessoas que disseminam o ódio em redes sociais e provocam o efeito manada, que consiste em um comportamento humano comum diante de atitudes coletivas, uma tendência apresentada pelas pessoas de replicarem as ações de um determinado grupo, escolhe-se o alvo e a mesma é destruída no mundo virtual. A vítima, por sua vez, desenvolve insegurança, ansiedade, vergonha, além de nutrir sentimentos negativos e por vezes afastamento de familiares e amigos.

Para quem não usa ou se importa com redes sociais pode parecer fútil e insignificante, a solução pode ser simples o ato de apenas deixar de usar essas redes, mas em um mundo cada vez mais tecnológico, afastar-se desse meio é cada vez mais complexo, estando presente diariamente em nossas vidas. Quando falamos de jovens, estes estão cada vez mais conectados e são influenciados diariamente nessas redes, algumas vezes condicionando inclusive sua própria felicidade na validação e aceitação de quem está lá apenas como telespectador.

Marcello Casal jr/Agência Brasil

Para ficar mais claro, é como se a cada postagem fosse necessário curtidas, comentários e reações validando o ambiente, a roupa, a música, as pessoas e tudo que faz parte do contexto, se ninguém gostar ou reagir tudo aquilo foi em vão, invalidando toda a alegria sentida e memória criada naquele momento. É um mundo de ostentação altamente relacionado ao desejo de autoafirmação e, quase sempre, ao medo de rejeição, onde a falta de maturidade emocional dos jovens contribui para o aumento de crises depressivas e de ansiedade.

Você pode estar se questionando “isso não acontece assim”, “está sendo muito radical” ou “ninguém faz isso”, será mesmo que isso não acontece? Quem nunca postou algo e apagou porque não teve tantas curtidas e comentários, ou postou algo que parecia ser um máximo e ficou um pouco frustrado por não ter chamado a atenção de outras pessoas, parece pequeno, mas é a partir de ações insignificantes que nascem expectativas, inseguranças e aos poucos perde-se a liberdade e autenticidade. Assim, chega um determinado momento em que paramos de postar o que realmente gostamos ou que nos interessa e passamos a postar o que as outras pessoas gostariam de ver.

O professor e pesquisador brasileiro Cristiano Nabuco (ABREU, 2020), que estuda sobre redes sociais, fala que as pesquisas existentes não têm nenhuma prova de que redes sociais são benéficas para a autoestima, a maioria dos resultados tem conclusão ambígua ou deletérias. Muitas vezes tendo um efeito contrário, dentro das redes sociais as pessoas têm corpos perfeitos, casas incríveis, emprego dos sonhos, viagens mensais, famílias de comercial de televisão, é como se todo mundo fosse feliz e quem está acompanhando tudo isso tivesse a pior vida do mundo, talvez esse seja o mais grave dos gatilhos mentais, porque no fundo nós sabemos que não existe vida perfeita, mas de tanto ver fotos e vídeos passamos a acreditar em uma realidade que não existe, o nosso cérebro passa a desejar algo impossível.

Quando se tem um pouco mais de idade e experiência de vida, consegue-se discernir melhor essas realidades dentro de redes sociais, apesar de algumas vezes ainda assim sermos afetados, mas a pessoa jovem que ainda não viveu muito e não passou por tantas situações, não tem essa capacidade de discernimento, esse jovem é facilmente conduzido a acreditar na vida perfeita de desconhecidos em redes sociais, tendo a ilusão de que tudo precisa acontecer “agora” no tempo presente, passando a comparar a própria vida e os acontecimentos, fazendo com que tudo pareça tão monótono e pacato, uma vida que por vezes não tem nada de errado, mas parece não ser interessante quanto a das outras pessoas.

Essa sensação de monotonia gera frustrações e decepções, por vezes jovens se veem infelizes e insatisfeitos, enxergando a realidade de forma distorcida, a partir daí surgem as doenças mentais, desde ansiedade, estresse, depressão até distúrbios alimentares e comportamentais. A busca pela perfeição leva milhares de jovens a se invalidarem, muitos passam a viver de forma falsa, a fingir gostar de algo por estar na moda, frequentar lugares que não o cabe, cercam-se de pessoas sem vínculo afetivo, tudo para ter uma vida aparentemente mais interessante ou chamativa dentro das redes sociais e se igualar as pessoas que parecem ser perfeitas e tão felizes nesse meio.

A felicidade momentânea provocada por estar fazendo parte desse meio nas redes sociais alivia a sensação de ansiedade e promove a autoafirmação, mas apenas temporariamente, em casa sozinho, o jovem na sua intimidade não se reconhece, se questiona sobre o que ele realmente gosta, a sensação de vazio por não saber o que é real e o que é apenas fingimento para as redes sociais passa a estar presente em seus pensamentos, levando mais uma vez a frustração e às vezes ao isolamento.

Aos poucos o indivíduo não tem mais autenticidade, abrindo espaço para a criação de pensamentos, crenças e pressupostos disfuncionais, o jovem passa a ter uma visão negativa e pessimista sobre si mesmo. O jovem passa a não dar mais importância para os acontecimentos da sua vida, tudo fica condicionado a vida de um desconhecido, quem nem se conhece, mas acompanha em redes sociais, por exemplo “só vou ser feliz se eu fizer uma viagem igual à que meu amigo postou”, ou “só vou me sentir bonita se eu tiver o corpo da blogueira musa fitness”. O poder das redes sociais sobre os jovens em geral tem invalidado a individualidade de cada um, é como se fosse proibido ser você mesmo, ser quem te faz bem.

 Ansiedade, depressão, crises de pânico, isolamento, dentre tantas outras doenças psicológicas podem ser causadas pelas redes sociais, a internet passou a ser impiedosa. Os jovens estão cada vez mais expostos, olhar para si mesmo no espelho tem sido cada vez mais doloroso e vazio. Assim, é necessário que pessoas próximas saibam identificar esses sintomas, seja no núcleo familiar, no escolar ou no de convívio direto, é fundamental identificar esses distúrbios no início para que possam ser tratados e danos irreversíveis sejam evitados ainda na juventude.

Por outro lado, as redes sociais também têm se tornado importantes redes de apoio, páginas de pessoas que defendem o amor próprio têm crescido cada vez mais, diversos grupos buscam postar e propagar a vida real, isso tem sido fundamental, não só para os jovens, mas para toda a sociedade que precisa se familiarizar novamente com o cotidiano comum. Precisa ser normalizado, não estar bem todos os dias, que está tudo bem em ter um dia chato, um dia sem fortes emoções, só uma vida comum.

Encontrar esse tipo apoio em redes sociais que buscam melhorar a saúde mental das pessoas é um alívio, ver pessoas comuns, com vidas comuns, com problemas e perceber que tudo isso está dentro da normalidade e entender que isso faz parte da vida, que toda e qualquer experiência boa ou ruim forma quem eu sou. Ao aceitar quem somos de verdade, olhar-se no espelho passa a ser prazeroso, assim conseguimos viver melhor, amar verdadeiramente e ter compreensão com o próximo (ABREU, 2020).

Se não soubermos como é a tristeza, jamais vamos saber como é a alegria, se todos os dias vivemos, fortes emoções isso vai se tornar monótono com o passar do tempo. Tudo precisa de equilíbrio, precisamos sentir um pouco de tudo o que a vida tem a nos proporcionar. Ter gratidão por cada experiência, cada oportunidade de viver o novo independente do que for.

É necessário aprender a administrar o tempo dentro das redes sociais, escolher o que se vê dentro desses meios, visualizar apenas o que realmente vai me acrescentar e excluir de vez tudo o que pode me deixar doente mentalmente, se necessário buscar ajuda de um profissional, todo esforço é válido para buscar a liberdade da perfeição postada nas redes sociais.

Do ponto de vista profissional,  a terapia nos dias de hoje deveria estar presente na vida de todos, principalmente dos jovens, em um mundo onde as redes sociais pregam perfeição, é necessário cuidar da saúde mental, por mais fortes que as pessoas pareçam ser, ter uma rede de segurança emocional é fundamental, em um mundo onde as pessoas dizem o tempo todo como eu devo ser, buscar a minha auto aceitação é garantir a sanidade, quando sabemos quem somos e temos conhecimento da nossa capacidade conseguimos nos blindar de realidades distorcidas (SOUSA; CUNHA, 2019)

Os jovens hoje precisam conhecer e ter consciência do seu valor, porque os conflitos internos sempre vão estar presentes, as inseguranças e o medo da rejeição não vão sumir, eles fazem parte do ser humano, porém, quando conhecemos o nosso valor deixamos de ser influenciados. Porque a partir do momento em que nos conhecemos verdadeiramente e sabemos do que realmente gostamos, fica fácil saber quais ambientes queremos frequentar, quais são os hobbies e atividades preferidos. Assim, finalmente passamos a ter a vida interessante que tanto desejamos, neste momento a vida que as outras pessoas postam nas redes sociais não irá interessar mais, porque temos a certeza de quem somos e o que realmente agrada.

Quando aceitamos a vida real e que as adversidades fazem parte do processo, passamos a saber que as postagens tão perfeitas das redes sociais são falsas e as mesmas deixam de ser gatilhos para ansiedade, depressão e tantos outros problemas. Os jovens que têm sido tão afetados podem viver melhor e evoluir sem medo do julgamento. Porém, é necessário desconstruir as redes sociais, esse ambiente e tudo que nele é postado, postagens e vídeos tóxicos precisam ser vistos como problemas, só assim é possível mudar a percepção sobre a influência das redes sociais na vida dos jovens e o quanto isso tem sido prejudicial em suas vidas (SOUSA; CUNHA, 2019)

Precisamos promover a aceitação positiva. Deve-se pensar sobre o tempo gasto em redes sociais e o impacto dela em nossas vidas, a prioridade deve ser o tempo de qualidade que temos com nós mesmos, o primeiro passo para mudanças sempre vai ser o mais difícil, mas a partir da primeira ação a jornada fica mais fácil. As redes sociais reforçam o nosso comportamento de comparação. Contudo, sempre que nos comparamos com outro sujeito, nós perdemos. Todos temos nossa singularidade, e isso é o que nos torna diferentes e  também, únicos.

REFERÊNCIAS

ABREU, C. N.. Psicologia do Cotidiano 2: Como a ciência explica o comportamento humano. Artmed Editora, 2020.

SOUZA, K.; CUNHA, M. X. C. Impactos do uso das redes sociais virtuais na saúde mental dos adolescentes: uma revisão sistemática da literatura. Revista Educação, Psicologia e Interfaces, v. 3, n. 3, p. 204-2017, 2019.


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CAOS 2022 – Trabalho, Sofrimento e Autorrealização é tema de mesa redonda

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Aconteceu no terceiro dia do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS, na manhã de 23 de novembro, a mesa redonda “Trabalho, Sofrimento e Autorrealização” com a presença dos Psicólogos Rafael Rodrigues de Souza, Tássio de Oliveira Soares e o mediador Caio Cesar Brum.

Após apresentação dos participantes, o Me. Rafael Rodrigues de Souza, destacou que o sentido do trabalho na realização pessoal é uma troca equivalente, serve para si e para a sociedade, não tendo somente função financeira, apenas o objetivo de ter uma renda gera um processo de sofrimento em decorrência da auto exploração e ausência de sentido. Para o Me. Rafael para a instituição o empregado doente significa prejuízo e para tentar solucionar procura incluir palestras, treinamento, essa não é a solução, o que se faz para tratar o sofrimento no trabalho, o retroalimenta. A empresa não deve existir somente com a função de lucratividade, mas também deve haver um sentido de servir. Portanto, a existência de um equilíbrio financeiro, cultural e social colabora para o reequilíbrio entre instituição e sujeito saudável.

O Psicólogo Tássio, evidenciou que as relações de trabalho têm se tornado uma demanda frequente nos consultórios psicológicos, pois é uma pauta do nosso dia a dia. Para Tássio no trabalho o elemento que procuramos é a autorrealização, tem um sentido de utilidade, funcionalidade, identificação. Trabalhar para a sociedade é uma questão de pertencimento, nível de organização e remuneração, não ter um lugar no trabalho também significa algo para a sociedade, é uma lógica excludente. O trabalho tem uma função estrutural na vida do sujeito, fazer o que deve ser feito é o problema desse arranjo, esse elemento estruturante se torna a única coisa a qual pertence, sendo assim o que era para ser funcionalidade, rouba energia e resulta no sofrimento, portanto é necessário transitar através de outras áreas da vida, ir além do trabalho.

O trabalho gera sofrimento quando o sujeito não se reconhece, a ampliação do olhar para a pluralidade da vida, vislumbrar além das demandas da instituição, do financeiro e da autocobrança, buscar uma colaboração visando não somente a função da lucratividade, mas um equilíbrio entre os vários setores da vida pessoal e profissional, dando sentido ao que se está fazendo e tendo função social, pode ser o caminho para melhorar a questão da saúde mental no trabalho.

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Psicólogo Rafael Rodrigues participa de Mesa Redonda no CAOS

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A edição do CAOS de 2022 contará de diversas apresentações e, dentre estas, teremos uma Mesa Redonda que discutirá o tema Trabalho, Sofrimento e Autorrealização, que contará com os psicólogos Rafael Rodrigues de Souza (CRP 06/81640), Tássio de Oliveira Soares (CRP 23/000660) e terá como mediador o psicólogo Caio Cesar Brum (CRP 23/2370). 

Em entrevista concedida ao portal (En)Cena, o palestrante Rafael respondeu algumas perguntas sobre sua participação no evento.

Fonte: Arquivo pessoal

 

 

En (Cena) – O trabalho acompanha a humanidade desde seus primórdios. Pode dissertar sobre a evolução do trabalho e suas conexões modernas com o sofrimento e como tudo se conecta com a autorrealização? 

Rafael Rodrigues – Eu exploro o histórico do trabalho especialmente no quarto capítulo do meu livro, nele eu explico que o trabalho é, na verdade, uma das formas que a sociedade contemporânea se organizou, sendo as empresas pequenas células sociais que compõem uma teia relacional e econômica que influencia a vida da grande maioria das pessoas a ao redor do globo. Em termos pragmáticos, o trabalho evoluiu no sentido de maior especialização, maior segurança física aos trabalhadores (pelo menos nos trabalhados regulamentados) e maior necessidade do uso de capital intelectual. Por outro lado, a concorrência entre pessoas estimuladas pelas empresas, o excesso de horas de trabalho e as pressões psicológicas diversas, criaram ambientes propícios a criação de condições socioemocionais ruins. Com isso, fica patente o aumento de doenças tais como depressão, ansiedade e transtorno do pânico decorrentes do trabalho. Mas isso não se conecta à autorrealização. Na verdade, autorrealização é poder encontrar sentido e significado no trabalho, de forma que ele sirva a si e à sociedade, em vez de ser apenas um produtor de sofrimento e prol de um suposto enriquecimento financeiro ou da geração de renda que garanta a biossobrevivência. No sentido junguiano, precisamos nos desapegar das personas para se entregar ao trabalho, integrando-o à nossa vida.

En (Cena) – Como fica a autorrealização para um trabalhador que desempenha uma atividade automatizada em uma mega indústria? Qual a principal distinção entre a autorrealização de um profissional liberal e um empregado assalariado? 

Eu diria que um trabalhador que desempenha uma atividade automatizada em uma mega indústria ainda goza de algum privilégio no sentido de ter algumas garantias, como segurança do trabalho ou até mesmo ter a possibilidade de migrar para outras áreas dentro da empresa, uma vez que as grandes empresas têm estrutura e visibilidade. Muitos industriais do ABC Paulista dos anos 80 e 90 ofereceram condições dignas para suas famílias, dando formação universitária aos seus filhos, algo que mudou especialmente dos anos 2010 em diante (entre 2002 e 2010 houve um expressivo aumento real nos salários dos operários, mas paralelamente muitas faixas salariais mais baixas foram criadas – nesta época eu trabalhava na indústria automobilística). Mas temos milhares de trabalhadores que trabalham em empresas com menor visibilidade e em condições de trabalho quase análogas à escravidão – não quero dizer com isso que empresas grandes são melhores que as pequenas empresas, pois existem muitas empresas de porte pequeno e médio que são sérias e éticas. Contudo, as grandes corporações têm mais exposição e por isso são fiscalizadas mais de perto. E a autorrealização, tal como descrevo em meu livro, nada tem a ver com a natureza do trabalho em si. A questão é que deve haver dignidade para qualquer pessoa, em qualquer atividade que ela desempenha, com uma remuneração adequada para que ela consiga ter uma vida com qualidade. Nos países nórdicos, por exemplo, conseguiu-se chegar num patamar em que as diferenças de classe foram bastante reduzidas, tendo um trabalhador de atividades menos qualificadas uma diferença salarial menos significativa versus aqueles que performam atividades que exigem maior qualificação, algo bastante diferente quando olhamos para a realidade do Brasil, onde as diferenças são patentes. Todo trabalho é importante, por isso os critérios de diferenciação salarial deveriam ser profundamente debatidos em sentido psicossocial e não apenas em sentido econômico-financeiro. Imaginemos o que seria de qualquer cidade sem o honroso e imprescindível trabalho dos garis. Mas precisamos lembrar que em países como o Canadá, por exemplo, muito do que é feito manualmente aqui no Brasil se faz com máquinas na hora da recolha do lixo. E o que pensar dos países que não investem em pesquisas sociais, tecnológicas, humanas? A pesquisa é o caminho para criar alternativas de trabalho e de repensar o mundo em que vivemos (não apenas no sentido do trabalho). A dignidade no trabalho é uma construção que passa pelo investimento em segurança física e psicológica, oferecimento de remuneração condizente com as necessidades alimentares, educacionais, sociais e culturais de uma pessoa, além de trazer a tecnologia como aliada. Ao conseguirmos atingir este patamar, o processo de autorrealização é a conquista maior que deve ser buscada pelo indivíduo, que é o defendido no meu livro com a “Obra Alquímica” no sentido junguiano. Nesse sentido, não há qualquer diferença entre um trabalhador assalariado ou profissional liberal. A construção de um trabalho digno pode (e deve) se dar em qualquer atividade. O trabalho a meu ver, deveria ser um meio para o indivíduo se autorrealizar enquanto serve à sociedade; é um paradoxo, ele serve a si mesmo, enquanto serve ao outro. É o que Jung chama de contrapartida da individuação, que por ser uma jornada individual e interna, deve ter sua contraparte no mundo externo.

En (Cena) – O sofrimento debatido, é uma etapa predecessora à realização pessoal do indivíduo? 

Colocar o sofrimento como uma etapa predecessora da autorrealização me parece um reducionismo, pois se assim o fosse, todo mundo que passasse pelo sofrimento no trabalho chegaria à autorrealização, mas na prática muita gente apenas sofre, e nada muito além disso. O que posso dizer, em sentido psicológico, é que o sofrimento faz parte da condição humana. Mas com a ampliação de consciência, especialmente por meio da análise junguiana, é possível dar um novo sentido para este sofrimento, de forma que ele possa se transformar, simbolicamente, em algo imbuído de sentido e significado.

En (Cena) – O processo para a satisfação pessoal é árduo, pode dar alguma dica para aqueles que ainda irão percorrer esse trajeto para não desistirem no meio do caminho? 

Eu não tenho qualquer pretensão de concordar que o processo de satisfação pessoal é árduo, pois isso pode variar conforme a experiência e condições de vida de cada pessoa. Toda generalização é genérica, e em si, se distancia do que é realmente humano. Podemos até suspeitar que isso seja uma verdade em termos estatísticos, mas muita gente é satisfeita consigo ou ao menos tem uma fantasia de satisfação. Para uma ou para outra parte, o que sugiro é que faça da vida um palco de descoberta de si, buscando a análise, a cultura, conhecendo outra cidade, outro país, lendo muitos livros – sou um entusiasta da cultura e ela é parte essencial da construção de autoconhecimento de uma sociedade. E o autoconhecimento não tem data e hora para acabar. Começa no dia que nascemos e nos acompanha, pelo menos até onde a consciência pode afirmar, até o nosso último suspiro. Se autoconhecer é o habilitador para a compreensão de muitas coisas na vida, até mesmo o encontro da satisfação na insatisfação e a descoberta da insatisfação na fantasia de satisfação.

En (Cena) – Qual a sua expectativa com esse debate, o que pretende alcançar e qual mensagem deseja passar para os que estarão presente? 

Eu tenho um falar comum: não tenho pretensão de transformar as pessoas numa fala de alguns minutos, mas se eu conseguir ao menos incomodar, gerar alguma emoção em quem me escuta, não importando qual tenha sido essa emoção, boa ou ruim, me darei por satisfeito. O incômodo é capaz de sensibilizar as pessoas a buscar algo diferente, mesmo que seja para contrapor ou para dizer que vociferei um monte de bobagens. É melhor assim do que a indiferença, essa sim é muito ruim, pois não sensibiliza, não transforma, não movimenta. Claro que ficarei entusiasmado se conquistar aliados nas perspectivas que apresento, mas isso é apenas parte do processo. Cabe lembrar que entusiasmo vem do grego “en theos” que se refere a algo como “animado pelo divino”. Por isso valorizo o entusiasmo compartilhado, pois ele pode ser um grande catalisador das grandes mudanças que queremos ver no mundo.

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Melancolia com doses de solidão

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Quando abri os olhos, vi somente a escuridão, meus braços e pernas não reagiam aos comandos, meu corpo inerte me deu a sensação de estar presa em um cadáver que já não anda mais. Busquei minha voz, mas esta não veio, tentei ouvir os sons, mas a cidade estava silenciosa.

Depois de horas, recuperei o controle sobre meu corpo, consegui levantar e me dirigir ao banheiro, me olhei no espelho e não reconheci o corpo que me encarava, era uma pessoa amargurada, solitária, abandonada, não havia marcas de expressões felizes, tudo em seu corpo acentuava a tristeza de sua mente.

Fonte: encurtador.com.br/fuBLX

Tive pena daquela pessoa, quando me dei conta de que eu me encarava, o sofrimento atingiu meu peito de maneira. Busquei meu celular, minhas redes sociais é o único lugar que encontro pequenas doses daquilo que algumas pessoas entendem como felicidade.

As afirmações e os elogios registrados nos comentários de minhas publicações me deixavam mais animada, porém, hoje, nada parecia me animar. Larguei o celular e voltei para a cama, fechei os olhos e implorei para perder o controle sobre meu corpo novamente e cair em sono profundo.

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“Uma questão de vida e morte”: a dança finita da vida

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O casal americano Irvin D. Yalom e Marilyn Yalom escrevem, juntos, essa magnífica obra retratando os últimos momentos de uma vida compartilhada embasada em um amor incondicional.  Ambos os escritores, já renomados e reconhecidos mundialmente, decidem redigir juntos um livro impactante, abarcando os seus sentimentos mais profundos e reais, tornando-os palpáveis para nós, leitores. O título por si só já nos impulsiona a refletir: “Uma questão de vida e morte: Amor, perda e o que realmente importa no final”, publicado pela editora Paidós.

Fonte: encurtador.com.br/ijlyL

Essas figuras emblemáticas, sustentadas de muita coragem e sinceridade, nos convidam a entrar na dança de suas vivências mais difíceis, porém mais humanas também. Relatam as experiências e lembranças de mais de 60 anos de matrimônio com muito afinco. No meio de uma situação complicada, decidem iniciar o registro escrito, para servir como fonte de inspiração; para deixar que o livro em si perdure contando essa história, mesmo após suas vozes se silenciarem – após o fim. E claro que conseguiram tal objetivo, com maestria. É um livro para ser lido e guardado na prateleira com um zelo especial. É uma leitura inesquecível que merece ser lida ativamente, sublinhando as partes comoventes e que tanto ensinam sobre uma vida bem vivida, as relações, as adversidades que chegam e o arsenal de sentimentos que advém de cada episódio.

Após Marilyn ser diagnosticada com uma doença terminal que coloca em risco a continuação de sua existência, os dois começam a jornada de detalhar os passos seguintes e cada sensação que surgem nos dias subsequentes, bem como os pensamentos, memórias e questionamentos que vão surgindo a cada consulta médica, nos diálogos compartilhados e nos momentos finais divididos com a família e amigos.

Fonte: encurtador.com.br/JKYZ1

A cada novo capítulo mergulhamos em palavras que conseguem elucidar as emoções mais complexas que um ser humano pode chegar a experienciar. Deparamos-nos com duas perspectivas distintas inteiramente conectadas pelo amor dos dois, que se completam e dão uma força inesgotável ao relato: de um lado temos Irvin, perdendo sua esposa; e do outro, temos Marilyn, sobrevivendo – e vivendo! – os seus últimos meses ao lado do seu marido e outras pessoas importantes.

Apesar de não ser uma leitura fácil, pode ser considerada necessária, pois entramos em contato com temas que na rotina trivial, temos o hábito de ignorar e evitar. Realmente é um assunto que pode alimentar certos medos e receios, mas a finitude é uma certeza implacável que temo. Mesmo que insistamos em carrega-la em absoluto silêncio, fugir pode ser uma opção inapropriada. É fato que iremos nos deparar com um fim, então por que não nos preparamos aprendendo a desfrutar uma vida com mais significado? Esse livro, com certeza, abre nossos olhos e acalenta o coração, servindo como um meio para se encontrar respostas à questionamentos que não ousamos dizer em voz alta.

De alguma maneira, todos nós passaremos por momentos assim. Sentiremos as mesmas dúvidas, os mesmos temores, as mesmas dores, os mesmos sentimentos de gratidão, as mesmas alegrias… Então talvez, após finalizarmos a leitura, estaremos mais preparados para viver a vida até o último suspiro – seja o nosso ou de alguém especial. Estaremos preparados para dançar no ritmo da vida até a última música tocar e as cortinas se fecharem. E então conseguir estar presente, seguir existindo, nas memórias daqueles que ficam, nas fotografias guardadas com carinhos, nas palavras que ousamos escrever ainda respirando…

Por fim, um trecho do livro, para avivar a curiosidade de leitura: “Quanto estamos dispostos a suportar para permanecer vivos? Como podemos terminar nossos dias da forma mais indolor possível? Como podemos delicadamente deixar este mundo para a próxima geração? (…) Escreveremos este diário do que está por vir na esperança de que nossas experiências e observações forneçam significado e socorro não apenas para nós, mas para nossos leitores.”

REFERÊNCIAS

YALOM, I. D.; YALOM, M. Uma questão de vida e morte. São Paulo: Planeta, 2021.

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Jurassic World – acampamento jurássico e o Transtorno do Estresse Pós Traumático

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Jurassic World é um seriado de animação que remonta à era jurássica onde são trazidos à vida os dinossauros já extintos a milhares de anos, no enredo do seriado um grupo de crianças é selecionado para participar de um acampamento jurássico, conhecendo todas as instalações do parque jurássico, onde ficam confinados todos os dinossauros que foram trazidos à vida, porém um incidente nos primeiros momentos de abertura do Jurassic World faz com que os dinossauros escapem e comecem a atacar os turistas, e ordenaram a evacuação de toda a ilha, no entrando o grupo de crianças foi deixado para trás e precisaram lutar e se organizar para sobreviver rodeados das mais variadas espécies de dinossauros.

À medida que o tempo foi passando a pequena equipe enfrenta inúmeros desafios para se manter vivos diante da ameaça de grandes predadores como o tiranossauro rex, carnotauro, e até mesmo espécies híbridas criadas pelos cientistas. Ter a vida em risco a cada instante e presenciar tantas mortes, torna a mente dessas crianças muito suscetível a desenvolver transtornos psicológicos, como o Transtorno do Estresse Pós Traumático. O TEPT se desenvolve em duas partes, que são: o evento traumático, a reação da pessoa ter sido de grande medo, terror ou horror. Sendo o ponto principal do desenvolvimento do transtorno a forma como a pessoa reage a situação, as impressões causadas na mente no do indivíduo, pois nem todos os indivíduos que passam por eventos traumáticos desenvolvem o transtorno de estresse pós-traumático, mostrando que a resistência emocional do indivíduo conta muito mais que o evento traumático em si. (FIGUEIRA, 2003)

Imagem de Jurassic World Acampamento Jurássico. Fonte: divulgação Netflix

Percebesse logo que a Yasmina se vê em uma situação em que precisará entrar em contato com dinossauros carnívoros começa a reviver os flashbacks da situação traumática, isto se dá por causa dos estímulos que foram emparelhados com o evento traumático, e na vida real podemos trazer como coisas do ambiente do momento traumático, como a soldados que voltavam das guerras e não suportam ouvir o barulho de aviões passando, por este estímulo ter sido emparelhado com o seu evento traumático (a guerra no exemplo em questão).

Ao assistir podemos nos perguntar por que a Yasmina que era uma atleta e melhor corredora de todas as crianças que ali se encontravam, ao se encontrar em uma situação de perigo real e iminente a sua vida ao invés de correr fica paralisada diante do predador? Isto se dá porque o indivíduo não consegue mais naquele momento lidar com aquele estímulo aversivo e começa a apresentar sintomas do transtorno ansioso em questão, que são taquicardia, pensamento acelerado, flashbacks do evento traumático, etc. Por vezes, transtornos ansiosos geram sintomas de paralisia, enrijecimento da musculatura.

 Algo que ainda podemos ressaltar acerca da  Yasmina em relação ao desenvolvimento do transtorno, que aparece como marca da sociedade, a falta de inteligência emocional, o fechamento em si mesmo para não expor suas fraquezas, assim como Yasmina no primeiro momento não tem coragem de contar para seus amigos que estava passando por problemas e que estava conseguindo lidar com tudo que estava acontecendo dentro e fora de si. Assim como a personagem reage instintivamente não contando aos seus amigos, pessoas mais próximas que ela tinha naquele momento, da mesma forma inúmeros homens e mulheres na nossa sociedade se percebem precisando de ajuda para lidar com os próprios sentimentos e tem como primeiro movimento não assumir, e ir se escondendo da rede de apoio com a qual poderiam contar.

Imagem por storyset no Freepik

Na maioria das vezes dificuldades que enfrentamos não são como as de acampamento jurássico, que nos colocam sempre em situações de vida ou morte, no entanto ainda que não representem um perigo real e iminente, à saúde mental tem papel essencial para a qualidade de vida, para manter boas relações, para a vida profissional. É preciso questionar qual a função deste esconder as nossas fraquezas diante do outro, as consequências disso na vida de cada um e nas relações sociais como um todo. Nos falta empatia para com os nossos próprios problemas e assim como ter um olhar ao outro que também passa por dificuldades.

No acampamento jurássico os amigos percebem que Yasmina não está bem e passam a colocá-la em situações com menos risco de exposição aos predadores, nós enquanto sociedade temos tido esta mesma atenção com aqueles que estão ao nosso redor? Faz-se necessário sairmos do lugar de preconceito e dos lugares de julgamento dos indivíduos que vivenciam transtornos psicológicos, e tomarmos uma postura de acolhimento do sofrimento de cada indivíduo e mudarmos as estruturas existentes para que a  saúde mental possa ser favorecida.

Referência:

FIGUEIRA, Ivan; MENDLOWICZ, Mauro. Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 25, p. 12-16, 2003.

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Coletivo Junguiano promove palestra sobre “Trabalho, sofrimento e autorrealização: uma leitura junguiana”

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O coletivo Quíron promoverá uma palestra aberta ao público com o tema: Trabalho, sofrimento e autorrealização: uma leitura Junguiana. O evento será no dia 13/10/2022 às 19h. O palestrante convidado é o Psicólogo Rafael Rodrigues. Rafael é formado em psicologia e é mestre em comunicação pela Universidade Paulista, especialista em psicologia Junguiana e psicossomática pelo IJEP e especialista em Adm de empresa pela FGV. Rafael também tem formação em curso intensivo no Instituto no CG JUNG Institut na Suíça e hoje é membro analista do IJEP, onde também é professor nos cursos de especialização em psicologia Junguiana. Atualmente atende em seu consultório de psicologia em São Paulo.

As inscrições ocorrem pelo link no formulário do Google Forms. Os interessados podem se inscrever gratuitamente para a palestra no link:  https://forms.gle/Y1Lce9NW5MXL1RDd9 O evento terá Certificação pelo Ceulp/Ulbra e o mesmo será gratuito. O link será enviado no dia do evento, por e-mail.

O Quíron – Coletivo Junguiano do Tocantins, é formado por alunos de Psicologia do Ceulp/Ulbra e egressos de Psicologia da Ulbra e de outras instituições adeptos da abordagem junguiana. No momento, é composto por cerca de 30 integrantes (entre alunos e psicólogos). Realiza atividades semanais, como grupos de estudos sobre as obras junguianas históricas e atuais, além de palestras e mesas-redondas. As palestras e grupos de estudos do Quíron são abertas e gratuitas, e recebem em média 150 pessoas por evento. O objetivo do coletivo é ser referência estadual nos estudos e produção de pesquisa científica tendo como base a Psicologia Analítica/Junguiana.

O coletivo Quíron mantém uma parceria com o curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, rede de livrarias Leitura, Editora Vozes (RJ) e alunos do Instituto de Psicologia Social da USP (IPUSP), além de professores do IJEP (Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa – SP), e professores do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Analítica da UNIP (Universidade Paulista).

As atividades do Quíron são realizadas a partir de mediações rotativas, em que cada integrante tem uma função no coletivo. Além dos parceiros supracitados, está em andamento a efetivação de novas parcerias, sobretudo com professores de Psicologia Analítica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

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Setembro amarelo: crescer precisa doer?

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Dentre as várias experiências que tive na faculdade, uma das mais ricas foi quando tive oportunidade de fazer uma intervenção com um grupo de jovens entre 14 e 17 anos, através deles, todo o conhecimento que havia absorvido a cerca de desenvolvimento humano pôde ser comprovada ali frente aqueles adolescentes contando suas vivências. Seus relatos me aproximaram de tudo que exaustivamente havia estudo, para ter sucesso em minha empreitada.

Pois bem, foram oito encontros de muita emoção, conhecimento, integração, união, diversão e entretenimento.  Foi neste clima de aprender que me dei conta que este universo de adolescer é complexo e difícil de lidar para quem o vive, e que gostaria de levar ao conhecimento do leitor o que se passa no mundo psíquico desses jovens.

Minhas percepções diante da experiência e minha análise diante dos relatos me dão conta de que a adolescência é marcada por uma fase de muitas transformações, tanto físicas, quanto psicológicas. O corpo sofre um processo muito grande de transformações, e em um ritmo acelerado.

As incertezas, dúvidas, as mudanças físicas e emocionais, se tornam problemas grandes demais para serem assimilados. É um processo de preparação de quem ainda há pouco era criança, e se vêm como quase adultos, num piscar de olhos. Estas transformações na mente e no corpo causam grandes instabilidades.

Fonte: Imagem por pikisuperstar no Freepik

Com estas mudanças pungentes e ao mesmo tempo conflitantes, os adolescentes podem se sentir pressionados a definir suas identidades sem ainda estar preparados, o que pode causar ansiedade, depressão, e o uso de drogas para entorpecer os sentimentos.

De acordo com o apontado na pesquisa de Grolli, Wagner, Dalbosco (2017), durante este processo de busca pela identidade, tornam-se frequente conflitos e desentendimentos familiares, podendo ser um momento de bastante dificuldade para o adolescente.

Salientar que é necessário que se tenha uma atenção diferenciada, a estes grupos, seria desnecessário, pois, ao deixar a infância os jovens se deparam com uma série de situações de difícil entendimento.

Ao entrar na puberdade as mudanças se apresentam, assim como uma pressa nas formas de fazer, de demonstrar conteúdos e capacidades, um novo despertar para o pensar e o agir.

Tudo ao redor é difícil de compreender, algumas decisões e vontades das outras pessoas não fazem sentido, não conseguem enxergar com clareza que profissão seguir, de quem gostar ou de como gostar desse alguém. Sentem também dificuldades na compreensão dos conflitos enfrentados pelos outros. Nem sempre a família se apresenta como um ponto de apoio; os pais sempre sobrecarregados, não se dão conta dos conflitos que os filhos estão enfrentando.

Sobre esta aparente indiferença dos pais e da sociedade, Foucault (1967) afirma que, “Em uma sociedade frequentemente surda, cega e muda, voltada para a ótica do ter, sob o manto da liquidez, a família se apresenta como uma política em dificuldade” (FOUCAULT, 1967, n.p).

Fonte: Imagem por pch.vector no Freepik

É nesta fase que podem surgir problemas tais como, a depressão, o uso de drogas ilícitas e ideações suicidas.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) conferiu à depressão o quarto lugar entre as vinte doenças de maior AVAD (anos de vida perdidos por morte prematura e “incapacidade”) e a projeção é de que ela alcance o segundo lugar nos próximos 20 anos (Zavachi e cols., 2002).

Ainda segundo a OMS, (World Health Organization [WHO], 2001), quase metade de todas as mortes violentas são em decorrência do suicídio, traduzindo-se em quase 1 milhão de vítimas ao ano, e entre 10 a 20 milhões de pessoas tentam suicídio por ano. As estimativas realizadas apontam que, em 2020, as vítimas poderiam ascender a 1,53 milhões, e de 10 a 20 vezes mais pessoas realizarão intento suicida (Baptista, 2004; Psic, 2011; L. D. de M. Souza et al., 2010).

Percebi ao estar em contato com aqueles jovens, e através de seus relatos, o quanto é tênue seus sentimentos, que bailam entre as incertezas de estarem bem, e a vontade de desistir, por não se sentirem com capacidade bastante de enfrentamento.

Desde aquela experiência que minha bandeira é astiada no sentido de que temos enquanto sociedade, pais e educadores achar a ponta desse iceberg, precisamos com urgência desenvolver nossos sensos críticos, termos um aprofundamento dessas estruturas e despertar nos jovens suas capacidades, a fim de favorecer reflexões, afastar a solidão, leva-los a ter outras visões sobre a interação social, e a aquisição de repertórios sociais e que é de suma importância neste estágio da vida.

Fonte: Imagem por Freepik

Conforme Campos, Del Prette, Del Prette, “Apresentar bom repertório de habilidades sociais facilita o enfrentamento de eventos estressantes que, de maneira geral, funcionam como gatilhos para o desenvolvimento de transtornos depressivos. (CAMPOS, DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2014).

Sabemos de inúmeras receitas e soluções, não tem dado certo, como ajudar, quem pode ajudar efetivamente, onde temos falhado?

Existem serviços públicos suficientes para atender essas demandas, são de fácil acesso, temos profissionais capacitados para atender, entender, e intervir antes que o processo se dê?

Os profissionais que a cada seis meses invadem os mercados de trabalho estão prontos para de fato acolherem e dar significado a todas as particularidades desses sintomas?  Vamos nos conscientizar que precisamos de ferramentas eficazes para prevenir um mal tão alarmante e que causa tanta dor.

Sim, porque uma coisa é se falar de setembro amarelo, outra e entender na íntegra o que o movimento propõe de fato. A conscientização sempre será uma ótima aliada, mas diante de dados tão exorbitantes, necessitamos ampliar as redes de apoio, precisamos de um trabalho de mãos dadas.

Enquanto escola, família, sociedade temos que procurar soluções. Não podemos minimizar o sofrimento, jogar para debaixo do tapete, é necessário procurar ajuda, precisamos nos envolver, sair de nossa plácida e cega visão de que o sofrimento do outro é menor. Não vamos chorar pelo leite derramado, vamos levantar das nossas poltronas macias, desligar nossos celulares e prestar atenção nos pedidos de socorro. Basta de banalizar as relações, vamos dar as mãos em prol de uma luta que é nossa. O jovem de hoje é nossa esperança para um futuro melhor, vamos cuidar deles com carinho e atenção que merecem.

Vamos decorar a máxima de Delores:

Aprender a ser; Aprender a conhecer; Aprender a conviver; Aprender a fazer. Jacques Delors (1998).

Afinal, crescer não precisa doer.

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