Maisa Carvalho: Consultório na Rua, Políticas Públicas e Cidadania

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O conceito de cidadania é discutível em relação às pessoas em situação de Rua, pois, ter uma certidão de nascimento é dado como o ponto principal de cidadania. Quem não viu a propaganda que passava na TV “Eu tenho nome e quem não tem? Sem documentos eu não sou Ninguém, eu sou Maria, eu sou João, com certidão de nascimento, sou cidadão”?!. A falta de documentos pode ser um empecilho para o exercício da cidadania, acerca disso os profissionais do Consultório na Rua tem como objetivo a busca por Cidadania daqueles que estão em situação de rua. É importante diferenciar a cidadania do direito à dignidade, onde o MPDF (2018) menciona a Constituição Federal quanto ao dever de promoção do bem-estar de todos sem quaisquer tipos de preconceitos com foco na redução das desigualdades sociais.

Nesta entrevista para o (En)Cena, a Assistente Social Maisa Carvalho nos traz um conteúdo muito enriquecedor acerca do trabalho com as pessoas em situação de rua e a prática das políticas públicas na busca pela cidadania dessas pessoas. Ela é graduada pela Universidade Federal do Tocantins – UFT (2016), especialista em Gestão de Redes de Atenção à Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (2018), especialista em Saúde Mental pelo Centro Universitário Luterano de Palmas e Fundação Escola de Saúde Pública, através do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental – ULBRA/FESP (2020), Responsável Técnica do Programa Piloto de Justiça Terapêutica do Tribunal de Justiça do Tocantins, atualmente atua na equipe de saúde Consultório na Rua e é pesquisadora nas temáticas voltadas para Saúde e Direitos Humanos: saúde mental, população em situação de rua e feminização de substâncias psicoativas.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena: A questão da cidadania em relação aos documentos, quando não há esse documento e às vezes é muito difícil correr atrás e o paciente precisa ser atendido em alguma unidade, é negado? Como funciona?

É atendido sim, até porque não conheço nenhum protocolo ou uma lei que impeça que a pessoa seja atendida na saúde se ela não tiver documento. No entanto, se ela for encaminhada para a atenção especializada, se for cirurgia, um exame específico, acredito que dificulta mais. Isso vai depender de quem atende, do protocolo do local, vai depender de qual que é o procedimento, porque o primeiro passo é ter o cartão do SUS. A pessoa tendo um cartão do SUS, ela vai ser atendida independente de ter documento ou não.

Até hoje não tivemos negativa nenhuma, quando tem uma situação assim a gente acompanha, procura explicar “olha é um paciente em situação de rua, ele é acompanhado pelo Consultório na Rua, que é um serviço que atende esse público, que faz parte da Rede, etc.” Porque tem pessoas que não conhecem o serviço e a gente tem que chegar nos lugares explicando o que fazemos, quem somos, para dar mais visibilidade também. O nosso serviço deveria ter literalmente portas abertas em todas as unidades, porque nós somos um ponto da Rede de Atenção Básica, as unidades de saúde elas o nosso apoio. Exemplo, se a gente precisa imprimir documentos, precisa pegar a medicação na farmácia, precisa de atendimento, inclusive de consulta, esse serviço não deveria ser burocratizado, porque a gente faz parte da rede, não somos um outro serviço de fora, mas em algumas unidades ainda não é tão facilitado esse acesso, no entanto isso vem melhorando muito. As unidades que já conhecem, são super abertas, tem atendimento rápido, dão prioridade para os pacientes.

É um serviço de formiguinha que dá essa abertura muito tranquilo, agora quanto a outros serviços realmente não tem acesso. Se você precisa de uma matrícula escolar você precisa de documento, se você precisa fazer um título de eleitor, fazer uma carteira de trabalho, de identidade, se você precisa acessar habitação, você precisa de documento, infelizmente não conseguimos dar prosseguimento sem documentação. E é onde os pacientes ficam de fora se eles não tiverem. Já encaminhei vários ofícios de solicitação de isenção de certidão de nascimento aos cartórios, somando aos enviados e aos documentos que já chegaram, somam-se uns 20 documentos.

O contexto das ruas é de vários tipos de exposição e um deles é a deterioração desses documentos ou até mesmo percas, furtos, eles estão ali alguém vai rouba essa pessoa, leva a carteira, alguma bolsa com dinheiro e leva tudo junto. A certidão de nascimento é um documento que não há necessidade de você andar com ele, você não apresenta em qualquer lugar, você apresenta o RG, que também é fácil para tirar de novo. O que é mais difícil é o registro nascimento, então a gente sugere deixar com uma pessoa confiável, um familiar, um amigo ou uma pessoa próxima, ou então a gente tem também um acordo com o CREAS que é o Centro de Referência Especializado de Assistência Social. Caso a pessoa não tenha ninguém para deixar, nenhum local, deixamos o documento lá até que a pessoa em situação de rua volte para casa, ou se restabeleça, ou caso ela precise, tenta pegar quando é em último caso porque é um documento que você pode não conseguir de novo, para liberar uma vez o cartório libera, mas duas vezes pode ser que não, e aí já foge da nossa governabilidade.

Fonte: encurtador.com.br/nCDHX

(En) Cena: Como funciona a questão do custo desses documentos? O governo arca com isso?

Depois que eu entrei no serviço, construí juntamente com a equipe um fluxo com os cartórios para acessar a segunda via de registro de nascimento, porque para tirar a certidão de nascimento a gente precisa entrar em contato com os cartórios, onde essa pessoa foi registrada e fazer a solicitação. Para que o cartório seja ressarcido desse valor, é necessário que seja encaminhado um ofício e uma declaração de hipossuficiência assinada pelo usuário.Com esse documento, a gente traz todo o histórico da pessoa, que ela mora em situação de rua, quanto tempo, qual é o problema dela, que é acompanhado pelo Consultório na Rua e faço uma breve contextualização do que é esse serviço, trago também algumas partes da lei, onde garante que ela tenha acesso a esse documento, se ela não tiver como pagar, no entanto, ela não consegue chegar lá e simplesmente dizer “então eu preciso da certidão, me ajudem, eu não tenho dinheiro”. Ela não vai conseguir, a gente sabe que não é assim, mas ela tem esse direito. Faço este ofício, o mesmo é enviado para a secretaria de saúde e é assinando é o secretário de saúde, eu faço o documento, ele assina e encaminha para o cartório via Correios juntamente com a declaração. Recebendo, lá eles protocolam e mandam o documento pelo mesmo endereço que a gente encaminha, sendo paga essa ida e a volta do documento. Então, a cidade consegue gratuitamente, não tem nenhum problema, é só mandar um ofício com essa declaração de onde a pessoa declara que não tem condição de pagar que o cartório é ressarcido posteriormente.

Quanto à carteira de identidade que já é um outro processo em outro local que é o Instituto de Identificação aqui em Palmas, as vezes conseguimos, as vezes não, então a gente tenta na conversa “Olha fulano precisa para fazer tal coisa, ele foi contemplado com a unidade habitacional, com algum outro serviço que possa trazer benefício, se não conseguir documento ele não vai conseguir ter acesso a esse benefício.” Tentando sensibilizar quanto a essa necessidade, às vezes liberam, às vezes não. E aí, quando não liberam há uma taxa de 25 reais, mais as fotos que é em torno de 20 reais, vai dar 45 reais no total para ter acesso a identidade. Então, quando eu já peço o documento ou a certidão eu deixo claro “Olha procura se organiza, procura tirar a parte do auxílio que você recebe, para custear a identidade”, porque para poder tirar tem esse custo que é de 25 reais, muitas vezes eles conseguem, porque sabem o preço que é, da certidão, já teve valor próximo de   300 reais, devido ser de outro estado, de longe, que realmente é caro. Então, eu falo “olha, a gente conseguiu um documento de 120,200…e só precisa de 25 para conseguir outro”. É mais na base da conversa, quando a pessoa não tem documento aqui no Estado, e nunca tirou, é de graça, não precisa pagar. Mas, se já tirou a primeira via aqui no Estado, a segunda via precisa pagar. É difícil conseguir de graça, consegue, mas nem sempre, é um trabalho que a gente faz, o “não” a gente já tem, corremos atrás do “sim”, mas é isso, a gente trabalha priorizando o acesso.

(En)Cena: Sendo Palmas a capital, vocês têm acesso a dados do Estado, há uma ligação com os outros municípios no Estado? As políticas públicas que se aplicam aqui em Palmas, se aplicam em Araguaína ou em Gurupi? Como funciona?

O Consultório na Rua só existe em Palmas. Ele não tem em outro lugar (do Tocantins), devido a questão populacional mesmo. Para ter o Consultório na Rua depende do número mínimo de pessoas na cidade, também de investimento da prefeitura. Até onde eu sei só tem em Palmas, quanto aos números de pessoas em situação de rua é impossível saber precisamente, mas em Palmas, passa de 100 pessoas. Não me recordo precisamente. Mas esse número pode ser maior, mas, para ser incluído como um usuário, acompanhado pelo Consultório na Rua, tem que estar cerca de 3 meses em Palmas, é preciso estar acompanhando ele durante 3 meses, porque ele pode estar aqui e ir para outro lugar no mês que vem, ele pode estar em Araguaína, em São Paulo, em outro lugar. Então, não tem como incluir essa pessoa dentro do nosso cadastro de atendimento, por isso não temos um número exato. No entanto, essa pessoa não deixa de ser atendida, ela vai ser atendida normalmente.

Tem a população em situação de rua que é flutuante, ela pode ir para a rua somente quando ela está alcoolizada, somente quando tem uma briga com a família, ela fica 2 ou 3 dias, ela não é uma pessoa considerada moradora de rua, ela tem uma casa, ela tem um vínculo, só que por algum motivo ela está na rua. Já os andarilhos são pessoas que também estão em situação de rua, mas eles estão aqui, daqui a pouco podem não estar mais. Há uma oferta de atendimento também. No entanto, eles não entram no cadastro por isso, porque é um número que vai ficar flutuando muito, muitas vezes estão mesmo de passagem pois estão sempre andando, mas também fazem parte do nosso público.

Quanto ao contato, fazemos também, as vezes os serviços de outros municípios entram em contato pedindo informações de pacientes, há essa troca sim.

Fonte: encurtador.com.br/ajCM2

(En) Cena: Você entrou em 2019 no consultório na rua, sendo que o mesmo foi implementado em Palmas somente em 2016, de forma mais tardia, por assim dizer. Nesse Período, o que você percebeu de mudanças significativas? Houve aspectos positivos e negativos com essas pessoas em situação de rua?

No trabalho da saúde mental, o Consultório na Rua é um dos pontos da Rede de Atenção Psicossocial, é um trabalho de formiguinha, talvez o que eu falar como evolução, seja visto pelas pessoas como “só isso?” Mas que na realidade podem ser grandes evoluções, para nós e para quem se beneficia dessas mudanças, é um trabalho que não é somente a pessoa parar de usar álcool, ou ela ficar organizada mentalmente, a gente trabalha muito com a redução de danos, existe uma política que rege toda a nossa atuação em cima disso. Então, por exemplo, se a pessoa está em uso durante a vida toda ou passou esse ano todo fazendo uso de álcool e outras drogas sem pausa, ela já está bem emagrecida, a pessoa já tem alguns problemas de saúde em decorrência do uso dessas substâncias, ela já não trabalha mais, ela já não tem vínculo familiar mais, ela está literalmente prejudicada por causa desse uso de substâncias, se a gente consegue com que essa pessoa diminua esse uso já é um avanço muito grande, se a gente consegue que a pessoa, mesmo usando a droga, ela consiga se cuidar, ela consiga por exemplo, buscar uma unidade de saúde, ela consiga se hidratar, se alimentar, ela consiga talvez tomar um banho, já é um avanço muito grande. Agora avanços significativos de mudanças radicais de vida, temos também vários, poderia ter mais?! Poderia! Mas esse contexto de uso de álcool e outras drogas não é bem o contexto do que as pessoas esperam, uma pessoa sair daqui contente da rua, morar numa casa, passar a trabalhar, ter uma vida “bonitinha”, ser uma pessoa aceita. Então assim, esse padrão aí pode ser que não seja alcançado sempre. A gente trabalha com pequenas coisas, com pequenos passos, mas sim nós temos pacientes que moravam de baixo de árvore, por exemplo, que hoje têm acesso a moradia, passaram a ter essa vivência do que é pagar uma água, pagar uma luz, desses compromissos de morar numa casa, e por mais que ela passa a morar numa casa a gente atende até hoje, porque o nosso público não é quem mora em casa, nós trabalhamos com moradores de rua, pessoas em situação de rua, no entanto essa transição é uma fase também de difícil adaptação, e a equipe participa disso.

Tem um casal no qual eles ganharam uma casa, não foi uma conquista de quando eu estava no Consultório na Rua, mas eu já estava como residente, eu pude acompanhar o processo de adaptação e quando eles moravam na rua também eu já era residente. Então eu tive esse acompanhamento, não como profissional da equipe, mas como residente. Eles moravam em uma casa de papelão, quando chovia caia tudo, estavam no relento, e quando eles passaram a ter a casa tiveram dificuldades, por exemplo, de fazer comida, dificuldade de tomar banho, dificuldade de dormir numa cama, porque não é o contexto deles, parece algo tão natural, dormir na cama, usufruir de tudo. Mas a gente as vezes chegava lá eles estavam cozinhando sebo de fazer, por exemplo, porquê era a realidade que eles tinham lá fora, de comer qualquer coisa, de comer qualquer hora, de não ter essa responsabilidade de pagar água, luz, parcela da casa, por que não é 100% dada para as pessoas, ela tem um valor pequeno, geralmente uns 80 reais. Tem os apartamentos que são 100% de graça, mas que para eles não era o ideal, tudo isso foi avaliado em discussões de caso, inclusive com outros serviços, então o melhor seria uma casa, um espaço mais tranquilo e reservado.

 Então eles passaram a ter alguns compromissos e isso foi muito engraçado porque a equipe viabilizou o acesso da casa, entrar com processo para receber Benefício de Prestação Continuada (não recebem ainda), mas tiveram acesso ao auxílio emergencial, e assim que eles receberam o dinheiro ficaram sem saber o que fazer, e aí a gente orientou “olha você precisa pagar esse valor aqui que é da água, você precisa pagar essa energia, você precisa pagar esse valor que é da prestação da casa” e tudo isso para eles era muito estranho, e se a gente não participasse desse processo, correria o risco deles voltarem para a rua novamente, mesmo tendo a casa.

Fonte: encurtador.com.br/fFVW5

O trabalho não é muito fechado, não é somente trabalho in loco, ali com a pessoa na rua. A gente vai além disso. Além desses, tiveram outros casos que foram beneficiados com unidade habitacional com o apoio da equipe, porquê tem que montar todo um dossiê, tem que ter relatório, tem que ter tudo isso. A gente apoia, acompanha os pacientes nesse processo, quando sai por exemplo nome deles na lista eles não tem acesso à internet, telefone, como é que vão saber?! A gente que acompanha também, se sair o nome pra gente ajudar com a documentação e ir atrás.

Temos pacientes que voltaram para casa, às vezes estavam em situação de rua por uma desorganização mental, em surto, e a gente entra em contato, muitas vezes com familiar de outro Estado, caso seja preciso a pessoa ser internada no HGP, também com a gente articulando, é um avanço muito grande, talvez estava na rua somente por um surto psicótico. Às vezes deu uma desorganizada, está sem usar medicação e acabou indo para a rua.

Acesso ao trabalho, com paciente que voltou a ter essa vida ativa no trabalho, às vezes não é um trabalho formal, mas uma venda de picolé, trabalho artesanal, um trabalho de garçom. Infelizmente não são muitas opções ofertadas para essas pessoas. Para as pessoas com formação, já é difícil, imagina quem não tem estudo, informação ou vive nessas condições?  os trabalhos deles são quase sempre subempregos, é uma verdade, trabalhos informais, mas que são trabalhos, que antes as pessoas não tinham, então a gente tem que incentivar isso também. E, tem pessoas que já estão nesse processo do mercado de trabalho, seja autônoma ou seja inserido mesmo com carteira assinada.

A gente tem um paciente que morou muitos anos na rua, que foi acolhido pelo “Palmas que te acolhe” que era um projeto que tinha aqui na cidade, mas que já finalizou, o qual que acolhia a população de rua em um espaço, com dormida, com incentivo a emprego e renda etc. Era uma equipe multidisciplinar que dava esse suporte aos pacientes em situação de rua. Na época, ele foi acolhido por esse serviço e também acompanhado pelo Consultório na Rua. Logo depois, ele foi contratado pela prefeitura, e até hoje ele continua. Ou seja, um paciente que saiu da rua, do consumo abusivo de álcool e mora numa casa, consegue pagar aluguel, se alimentar melhor, ele saiu desse contexto de uso abusivo de álcool, porque a gente sabe que o uso em si as vezes é decorrente de outros problemas.

Por quê que a gente trabalha tentando resolver algumas questões e não em cima do parar de usar drogas, da abstinência? Porque talvez possibilitando o acesso aos direitos sociais básicos, ao reestabelecimento dos laços, ofertando cuidados em saúde em geral, a pessoa pode parar de usar por si só. Não é uma regra, trabalhamos com possibilidades.  Se a gente consegue restaurar o vínculo familiar, se a gente consegue ter acesso a moradia, acesso ao trabalho, já são conquistas que contribuem para a reinserção social. Essa pessoa pode diminuir o uso e o prejuízo sem a gente fazer “nada” especificamente sobre o uso. O mais difícil é essa questão trabalho e renda, porque são casos bem específicos, ainda mais agora que estamos em um contexto de desemprego com níveis talvez nunca antes vistos, tem o contexto de pandemia, contexto social e econômico que o país vive. Para eles não é diferente, para eles é até pior essa questão do acesso ao trabalho, realmente é um desafio que a gente tem muito grande. Mas tem pessoas que estão no mercado de trabalho ou que estão com trabalho autônomo, por isso é importante o acesso a moradia, educação, até mesmo a redução em si do uso de álcool e outras drogas, redução de danos.

REFERÊNCIA

MPDFT – Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Direitos Das Pessoas Em Situação De Rua. Brasília-DF, julho de 2018. 1ª Edição. 2018.

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REIKI – energia e acolhida durante a pandemia

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Você conhece o REIKI?

Trata-se de uma terapia integrativa, na qual o profissional estende suas mãos sob partes do corpo do paciente para canalizar energia vital universal, com a finalidade de reestabelecer o equilíbrio físico (orgânico), regularizar suas funções vitais e equilibrar o campo mental e emocional.

Segundo o site, www.minhavida.com.br, o REIKI é reconhecido como “técnica pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e também é aplicado no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil, através do projeto de Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, que contempla outros tratamentos alternativos, como meditação, arteterapia, musicoterapia, tratamento naturopático e quiropraxia”.

Durante a pandemia da COVID 19, a clínica Espaço Acolher de Palmas-TO vem desenvolvendo um trabalho gratuito de REIKI presencial, por agendamento, ou à distância, toda terça feira, das 21 às 21:30. O trabalho apoia pessoas a reequilibrar seus chacras e a fortalecer sua energia vital nestes tempos adoecedores. Para participar da iniciativa, basta acessar o instagram da @espacoacolherto ou o whatsapp (98111 5373), colocar seu nome na lista disponível no feed e se preparar para relaxar e se reenergizar.

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A Normalização da Dor

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O Sistema Único de Saúde (SUS) foi instituído no Brasil com o intuito de promover e regular em todo território nacional acesso integral, universal e gratuito à serviço de saúde. Na sua lei de criação, nº 8.080 /90 no art. 2º diz que a “saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. Assim, a criação do SUS também representa uma mudança na relação e conceito de saúde, que até então era relacionado ao tratamento de enfermidades e quadros de não-doença. Com o SUS a saúde e a prevenção passaram a ser promovidas e fazer parte do planejamento de políticas públicas, incluindo ações de vigilância sanitária, epidemiológica, saúde do trabalhador e assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica.

O número de usuários é cada dia mais crescente e as condições estruturais e de utensílios de saúde nem sempre correspondem a necessidade e a demanda da população, fazendo o labor do profissional de saúde um desafio diário. Contudo, segundo Guimarães (2020), entre desafios e contradições, os pesquisadores não têm dúvida do saldo positivo de se ter um sistema público e universal de saúde antes, durante e depois de uma crise sanitária como a que se está vivendo.

A Lei 8.080 que criou o SUS é uma referência mundial. No entanto, o êxito da sua aplicabilidade e a satisfação do usuário é diretamente relacionada a maneira pela qual os profissionais que a representa, sejam eles governantes ou profissionais de saúde, a aplicam. Neste contexto, sobre a aplicabilidade da Lei e a experiência do paciente, segue relato de uma usuária do Sistema:

Em 2015, eu, Ana Paula Batista Ferreira da Silva, tive minha segunda gestação, foi uma gravidez planejada, fiz pré-natal antes e depois para que tudo ocorresse bem. O meu parto foi programado para dia 30/09/2015 onde fui internada pelo meu médico, no Hospital Maternidade Dona Regina em Palmas/TO, fiz uma cesárea, o bebê nasceu saudável e eu aparentemente estava bem.

Porém, no dia seguinte, eu percebi alguns hematomas na minha cirurgia, além de muito desconforto ao sentar, levantar e me movimentar, dores essas que eu não senti na minha primeira experiência de parto cesáreo. Questionei a médica se aquelas dores eram normais e segundo ela estava tudo dentro da normalidade. Mesmo com tanta dor e hematomas, o abdômen e a vagina pareciam querer expulsar algo de dentro de mim; eu recebi alta com três dias de internação, segundo a equipe médica eu estava com o quadro dentro da normalidade de um parto cesáreo.

Infelizmente depois de oito dias de alta hospitalar retornei ao hospital com muitas dores, logo meu médico já tinha orientado alguém para me atender.  A médica que me atendeu no dia 07/10/2015 olhou minha cirurgia, fez um procedimento de drenagem em dois pontos da cesárea e falou que tinha um pouco de sangue acumulado, mas que com aquele procedimento tudo ficaria bem. Essa drenagem gerou muita dor, não sei nem descrever, ao terminar me liberou para casa. Retornei, mas no dia seguinte as dores continuaram, a cirurgia estava com sangramento pelos pontos. Eu me preocupei, mandei fotos para médico, e ele logo falou: “vai agora mesmo para hospital”.

Eu estava passando muito mal! Muita dor, tontura, palidez e inchaço na barriga. Chegando ao hospital logo fui atendida, por um médico que já estava me aguardando a pedido do meu obstetra. Ao me avaliar o médico falou que minha cirurgia estava ótima e que iria fazer a retirada dos pontos. Porém ao retirar os pontos da cesárea, ele levou um susto, a metade da cirurgia estava aberta, e com muitos hematomas. O médico logo falou que iria precisar fazer minha internação, para que eu pudesse refazer a cirurgia. Segundo ele, eu estava com infecção de parede e o tratamento iria demorar alguns dias.

Todas as vezes que eu tentava levantar, desfalecia, não conseguia ficar em pé, fiquei passando mal a noite inteira, parecia que eu estava com uma melancia dentro de mim, de tão grande que a minha barriga estava. Quando foi por volta das 5h da manhã o médico falou para me organizar e me levaram para fazer um ultrassom.

Quando o médico introduziu o aparelho na minha vagina, ele gritou: “meu Deus essa mãe está chocando[1]”. O médico ficou desesperado, ali naquele momento eu percebi a gravidade da minha situação. Imediatamente o médico pediu socorro, o maqueiro me colocou na cadeira de rodas, o médico falou para ele me levar direto para o centro cirúrgico, o maqueiro fez isso, porém ao chegar à porta de entrada do centro cirúrgico, a médica falou aqui ela não pode entrar, pediu para esperarmos um pouco, eu já estava perdendo as forças, a fala, muito fraca, muitas dores, pálida, já não conseguia levantar a mão. Então eu fiquei ali no corredor, à espera do socorro. A médica veio falar comigo, eu peguei na mão dela e falei me ajuda, me ajuda, me socorre. Logo me levaram para emergência do hospital onde começou meus primeiros socorros.

Os médicos pediram para me darem 3 a 4 bolsas de sangue, isso tudo porque eu tinha que ir para o centro cirúrgico, mas no momento estava muito debilitada, então passados umas 4 horas eu fui para centro cirúrgico, mas antes disso, ainda ali naquela sala eu ouvia minha mãe gritar e chorar lá fora.

Fonte: encurtador.com.br/kwEM9

O médico então chamou meu esposo e conversou comigo e com ele, explicando que eu precisava fazer uma curetagem urgente pois estava com muito sangue coagulado e que existia o risco de perder meus órgãos do sistema reprodutor. No dia seguinte quando acordei restabelecida na emergência, o médico que realizou o procedimento foi até mim e disse “ mãezinha em vinte anos de profissão eu nunca vi tanto sangue coagulado em uma só pessoa, mas deu tudo certo, não sei a que Deus você serve, mas esse Deus te salvou. Agora é só recuperar para realizar a outra cirurgia de fechar cesárea”. Então comecei o tratamento com antibióticos para tratar da infecção de parede e me preparar para a outra cirurgia.

Quando chegou o dia da outra cirurgia, tomei a primeira anestesia na coluna, porém ela não pegou, quando o médico foi cortar a cirurgia eu senti e falei para o doutor. Ele imediatamente parou e tivemos que aplicar outra anestesia. Já no quarto com um dreno na cirurgia, estava doendo muito. O médico olhou a cirurgia, ela estava cheia de sangue, ele cortou um pedaço do dreno, fez limpeza e a dor diminuiu, mas não passou. Com o passar dos dias me recuperei e recebi alta, podendo voltar para casa e criar uma rotina de cuidado com meu filho recém-nascido”.

No relato acima, percebe-se que os princípios da Lei 8.080 como aqueles que encontramos no art. 7 incisos II, III e V que tratam da integralidade da assistência, da defesa da integridade física e moral e do direito à informação, foram subtraídos no atendimento recebido por Ana Paula Batista. A paciente, mesmo relatando dores incomuns antes da alta, foi liberada, sendo seu estado considerado “dentro da normalidade”. Ao retornar à primeira vez ao hospital, recebeu o mesmo parecer médico, sem que em nenhuma das circunstâncias fosse oportunizada a ela o acesso a um exame de sangue para verificar alguma possível infecção ou mesmo a um ultrassom. Exames esses que poderiam ter evitado o avanço da infecção e agravamento do seu quadro.

Na Portaria nº 2.436 de 21 de setembro de 2017, é exposto que a atenção básica considera a pessoa em sua singularidade e inserção sociocultural, buscando produzir a atenção integral, incorporar as ações de vigilância em saúde – a qual constitui um processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise e disseminação de dados sobre eventos relacionados à saúde – além disso, visa o planejamento e a implementação de ações públicas para a proteção da saúde da população, a prevenção e o controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde.

No relato da paciente Ana Paula, essa assistência da Unidade de Atenção Básica na qual ela teria direito em seu território residencial, com os cuidados da equipe multidisciplinar perto da sua casa, durante o período de oito dias em que esteve de alta, também foi falho, pois não teve nenhuma visita domiciliar dessa equipe para orienta-la da maneira correta de agir em seus cuidados para a melhor assistência a sua saúde nesse processo curativo.

Como estudantes de psicologia, aprendemos sobre as subjetividades dos indivíduos e a importância desse olhar individual e contextualizado do profissional com seu paciente. Quando o médico normaliza a dor, sem considerar o histórico de cada paciente, neste caso uma mulher que já passou pela experiência da cesárea e possui um referencial de pós-parto, ele retira dela o direito à dúvida, à possibilidade de diagnóstico diferente do tido como “normal” em um pós-parto e com isso não lhe permite acesso a possíveis exames, cobertos pelo SUS e tem a necessidade de ser indicado por ele. Portanto esse processo de assistência a saúde teve varias atos falhos tanto da equipe médica quando do direito que essa paciente teria se tudo tivesse sido realizando de forma correta.

[1] chocando: o choque é um estado de hipoperfusão de órgãos, com resultante disfunção celular e morte. Os mecanismos podem envolver volume circulante diminuído, débito cardíaco diminuído e vasodilatação, às vezes com derivação do sangue para não passar pelos leitos capilares de troca.

REFERÊNCIAS

SUS completa 30 anos da criação, publicado em 21 /09 /2020 em: <https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2020/setembro/sus-completa-30-anos-da-criacao> (Acessado em 15 /11 /2020)

LEI nº 8.080 de 19 de setembro de 1990, Presidência da República, Casa Civil, disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm

GUIMARÃES Catia – A importância de um sistema de saúde público e universal no enfrentamento à epidemia – EPSJV/Fiocruz | 25/03/2020 17h20 disponível em:

http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/a-importancia-de-um-sistema-de-saude-publico-e-universal-no-enfrentamento-a

Integralidade na atenção à saúde: um olhar da Equipe de Saúde da Família sobre a fisioterapia < http://bvsms.saude.gov.br/bvs/artigos/mundo_saude/integralidade_antecao_saude_olhar_equipe.pdf > (acessado dia 16/11/2020)

 PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017 file:///C:/Users/User/Downloads/portaria-n-24367d291e65f4602ace1eb1460c16d9b283.pdf ( acessado em 16/11/2020)

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Seis dias de atendimento: do socorro à alta

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Esse relato descreve a experiência mais traumática pela qual minha família passou: o meu marido (Andréia Nunes), caiu de uma altura de seis metros, no dia 22 de outubro de 2018, por volta das 11h40min, na região norte da cidade de Palmas -TO.

Fernando estava terminando um trabalho de manutenção de um ar condicionado em cima do telhado de um edifício quando, de repente, o telhado abriu debaixo de seus pés e ele caiu por esse buraco que foi aberto, quebrando o gesso, até cair em pé, de uma altura de 6 metros de altitude. Ao cair, outras pessoas que estavam no local, acionaram o serviço do corpo de bombeiro. Após 15 minutos, o resgate chegou e Fernando foi levado para o Hospital Geral de Palmas – (HGP).

Eu o esperava para o almoço, o qual ele não apareceu e nem avisou.  Mal sabia eu que horas depois seria informada, pela nossa filha, de que ele não foi almoçar porque havia caído de uma altura de seis metros e estava todo “quebrado” no pronto socorro do HGP. Quando recebi essa notícia, já era por volta das 15h e me locomovi de imediato ao HGP, me recordo muito bem da maca amarela.

Como relatado anteriormente, ao chegar na ambulância, Fernando deu entrada no Pronto Socorro e, após procedimento de internação, começaram os exames, iniciando com uma tomografia. Bem, tomografia feita e as surpresas dolorosas começaram: fraturas com esmagamento de calcâneo, fraturas com achatamento de uma vertebra e fraturas nas demais vertebras. Assim, foi internado em quatro setores: neurocirurgia, ortopedia, cirurgia geral e clínica. Na maioria do tempo estava sob efeito de fortes remédios para aguentar a dor e acabava dormindo. O medo de que ele ficasse paralítico foi tomando conta do meu ser e o choro insistia em permanecer. Era um misto de aflição, angústia, de pavor mesmo, mas eu não deixava ele perceber.

Fonte: encurtador.com.br/BGV24

Permanecemos no Pronto Socorro por 24hs, e por várias delas ele ficou em cima da maca amarela da ambulância do Corpo de Bombeiro, e eu em uma cadeira de “macarrão” emprestada, temporariamente, por uma acompanhante. Depois, conseguimos uma cama e a maca foi devolvida para a ambulância. Mesmo com os corredores lotados de pacientes em suas macas, os procedimentos eram feitos pelos médicos e guerreiros profissionais da enfermagem.

Em seguida fomos para outra internação, dessa vez na neurologia, até saber se ele iria fazer a cirurgia na coluna ou se o tratamento seria tradicional com uso de coletes e medicamentos. Então, permanecemos por mais quatro dias, seguindo com todos os protocolos e exames: dos mais simples, como medir a temperatura e a pressão arterial, aos mais complexos e de ponta, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizadas.

O que mais me chamou a atenção no HGP foram os vários profissionais envolvidos no seu atendimento – equipe multiprofissional: a assistente social que nos acolheu muito bem, a nutricionista que trocava o cardápio ou colocava algumas frutas que ele gostava, a alimentação é um grande diferencial para os pacientes e era realmente muito saborosa, as enfermeiras e técnicas em enfermagem foram de um cuidado, atenção e carinho com o meu marido que em alguns momentos me deixava emocionada. Finalizamos a temporada nesse setor com a alta e a indicação do tratamento prescrito pelo médico neurocirurgião.

Apesar da graça de Deus e sabendo que realmente foi um milagre, pois meu marido não veio à óbito e nem ficou paralítico, as notícias ainda continuavam preocupantes. O medo e a ansiedade tomaram conta do meu ser, pois sabia que, quando chegasse a hora da internação no setor ortopédico, as coisas iriam se complicar. Naquele momento tinha uma lista de 162 pacientes esperando para fazer cirurgias ortopédicas e o nome do Fernando nem estava na lista ainda, frequentemente eu ouvia: “os ossos vão calcificar, terão que quebrar novamente, pode demorar meses”. Andando pelos corredores para me acalmar depois que ele dormia, resolvi subir mais um andar até chegar na ortopedia para saber como estava o nível de internação no setor e, mais uma vez fiquei preocupada, pois havia macas nos corredores com pacientes por todos os lados.

Fonte: encurtador.com.br/ADJS8

Após mais uma alta de internação e início da internação na Ortopedia, resolvemos com ajuda de colaboradores não aguardar a cirurgia ortopédica no HGP e recebemos alta total. Uma ambulância foi acionada para levarmos para casa e após três dias em casa a cirurgia no calcanhar (onde foi colocado sete parafusos e uma placa) foi realizada em um hospital particular. De volta para casa, uma equipe da atenção primária do Centro de Saúde da Comunidade do meu território, passou a atendê-lo com trocas de curativos por um longo período. (PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017. Diretrizes: cuidado centrado na pessoa, resolutividade, longitudinalidade do cuidado e coordenação do cuidado). Enfim, todo o processo de cura, entre cadeira de banho, coletes, cadeira de roda e muletas, durou aproximadamente um ano.

Esse relato de experiência é um dos muitos que vivi como consumidora dos serviços do SUS, desde o meu nascimento até os dias de hoje. Eu e minha família sempre usamos os serviços do SUS. Resolvi relatar essa experiência, pois foi a mais traumática e a que me fez ter a maior esperança que já vivi.  Me fez refletir sobre a magnitude do atendimento prestado por aquele hospital para com os seus usuários. Infelizmente, algumas pessoas, não sabe ou que nunca precisou dos serviços do HGP, tem uma ideia muito negativa dos serviços prestados ali. Pois, recebe informações somente através da mídia, que geralmente denigre sem saber realmente da articulação e oferta de atendimento para quem de fato precisa.

Todos os exames e procedimentos possíveis foram realizados, mesmo não esperando a cirurgia do calcanhar, em nada ficamos desamparados. Minha família e eu fomos atendidos de acordo com os princípios de universalidade, integralidade e equidade, estabelecidos na Lei Federal nº 8.080/90. Todos os profissionais envolvidos no tratamento do meu marido enquanto permaneceu internado no HGP foi de muita ética e compromisso. Tenho certeza que o trabalho em equipe e o seu engajamento dos profissionais envolvidos trouxe tranquilidade para nós dois e principalmente fazendo com que a estadia no HGP transcorresse de uma forma mais amena, apesar do trauma que envolveu essa situação.

Muitos criticam o atendimento do HGP, mas foi lá que descobri que ele é um hospital de portas abertas e, talvez por isso, não conseguimos a cirurgia em tempo hábil.  Tendo esse formato de atendimento, ele não atende somente a população de Palmas e dos municípios do Tocantins. Vários estados circunvizinhos procuram e usam as suas estruturas para socorrer a população que precisa do seu atendimento, impossibilitando cumprir a diretriz da Territorialização (Lei Federal nº 8.080/90).

De fato, é um grandioso hospital e, por esse motivo, parabenizo a todos aqueles que trabalham arduamente para tentar atender a todos e todas da melhor maneira possível e seguindo todos os preceitos e práticas preconizadas por esse grande Sistema Único de Saúde – SUS, que é referenciado e elogiado mundialmente.

Fonte: encurtador.com.br/frBY5
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Nasce uma estrela: relato de um atendimento pelo SUS

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A chegada de um filho é sempre eivada de expectativas, insegurança e, até mesmo de receios e medos quanto à assistência médica/hospitalar. Considerando as diretrizes e os princípios do SUS, de assistência a todos os brasileiros, indiscriminadamente, partamos para o caso do nascimento do bebê de Rafaela:

Recém Nascida (Rn): Luíza Rafaeli Miranda Curi Lopes
Mamãe: Rafaela Alves Miranda
Papai: Luiz Gustavo Curi Lopes

Luíza Rafaeli Miranda Curi Lopes, nasceu em Palmas- Tocantins, no dia10/03/2017, no  Hospital Maternidade Dona Regina.

Do pré-natal: o pré-natal fora assistido na Unidade Básica de Saúde da 712 Sul, próximo à residência da gestante, como declina a descentralização em UBS, para assistência social da população próxima. Assistida a partir do teste positivo para gravidez. Fora oportunizado à mãe fazer os exames dos mais simples, como exames de sangue aos mais complexos, como ultrassonografia, sendo atendida preferencialmente, bem como, orientada que o parto ocorreria no Hospital Maternidade Dona Regina. As consultas do pré-natal foram feitas pela médica obstetra, mensalmente e, após a 38ª semana a assistência à gestante passou a ser quinzenalmente.

Da internação ao parto: quando a mãe entrou em trabalho de parto, seguiu direto para o Hospital Maternidade Dona Regina, como dantes orientada. Lá chegando, recebeu atendimento prioritário, sendo encaminhada para a triagem, bem como, com fito em fazer os exames para avaliar a saúde do bebê, com resultados imediatos, fora colhido material para exames de Sífilis e HIV, este último, se a mãe for soro positivo, não poderia amamentar, sendo–lhe explicado e informado nos mínimos detalhes, a razão de tal zelo. Fato novo para a mãe que em seu primeiro parto, não houve esses prestimosos e essenciais cuidados.

Ato contínuo, Rafaela fora imediatamente internada em virtude da maturação do bebê, sendo encaminhada para centro cirúrgico, face ao parto ser uma cesariana. O parto ocorreu de forma tranquila, mãe assistindo à chegada de seu bebê, o qual fora colocado sobre ela, para que mãe e bebê, pudessem tocarem-se para promoção das primeiras trocas de energias e afeto entre ambas.

Após o parto, mãe e bebê ficaram em observação na sala de recuperação por aproximadamente 3 horas, para depois acomodarem-se no quarto.

Cuidado e zelo para com o bebê fora notório, no decorrer dos dias de internação, período de 3 (três) dias, desde o incentivo ao aleitamento até aos exames de controle e prevenção `a saúde do bebê, foram de excelência.

No segundo dia de nascimento, nas dependências do hospital, fora feitos os exames da orelhinha, os exames do ouvido, olhinho, pezinho e sangue, para saber o tipo sanguíneo, foram colhidos na UBS, onde ocorrera o pré-natal.

Enquanto ainda na maternidade, o bebê tomou algumas vacinas como a BCG e Hepatite B. Sempre era avaliada pelos médicos, tais como dentista, fonoaudiólogo, nutricionista, pediatra e até assistente social. Um detalhe importantíssimo, cartório de registro de nascido vivo dentro das dependências do Hospital, nenhuma criança recebe alta se não registrada.

Fonte: encurtador.com.br/pQS15

Do incentivo ao aleitamento:     

Desde o momento do nascimento, Luiza já fora incentivada a alimentar-se com o leite materno, porém, não conseguia sugar, uma enfermeira estava sempre a postos para, de 3 em 3 horas, motivar e ensinar como retirar o leite da mãe, para ofertar ao bebê, explicando-lhe a importância do aleitamento materno, ensinando-lhe como amamentar seu bebê  sem uso de mamadeiras e similares, usando o dedo indicador envolto em uma gaze e umedecido com o seu próprio leite e, às vezes que Rafaela não tinha leite o suficiente, não era problema, a maternidade é preparada para não faltar leite materno ao recém nascidos, assim,  a enfermeira trazia-lhe do banco de leite, existente nas dependências da própria maternidade, leite que são doados pelas lactantes fartas na produção desse líquido poderoso e oferecia à Luiza.

Outro fato muito peculiar, na maternidade há fraldas descartáveis para os bebês. Alimentação balanceada e preparada por nutricionista.

Para receber alta, a pequena Luiza fora, mais uma vez, avaliada pelo Pediatra com a certeza que ela já havia desenvolvido a sucção, sendo a sua mãe também, pela última vez, avaliada pelo o obstetra. E assim, finaliza este relato com as hosanas à equipe do Hospital Maternidade Dona Regina.

A pequena estrela: agora que tudo está perfeitamente bem, já consigo sugar o leite da mamãe, é hora de partirmos para casa, conhecer meus irmãos, explorar e experienciar todas as novidades desse universo que acabei de chegar.

Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!

Hasta La vista , baby!!!

Fonte: encurtador.com.br/bdpIM
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SUS sob SUSpeita? Percepções pessoais e sociais

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É um equívoco tratar o que é pessoal como régua de medir o mundo, mas, numa perspectiva pessoal, falar sobre o Serviço Único de Saúde (SUS) é falar sobre o período em que estive na barriga da minha mãe, é falar sobre meu nascimento há quase vinte e sete anos, sobre injeções e vacinas e tudo que esteja relacionado ao âmbito da prevenção e promoção de saúde e, sobretudo, à saúde propriamente dita, a qual envolve todo um contexto biopsicossocial – acrescento ainda o aspecto espiritual.

Acontece que me vejo numa posição empobrecida visto que guardo poucas memórias de experiências pessoais que tive com este sistema, das quais a maioria ocorreu durante minha infância. Noutras palavras, ultimamente tenho tido pouca necessidade de frequentar o hospital. Porém, uma reflexão acerca do meu presente estado já permite-me deduzir a importância que tal sistema teve para meu desenvolvimento, ou, caso contrário, eu não estaria aqui com disposição para escrever este texto.

Não quero dizer que uma boa saúde é exclusivamente decorrente do fato de se frequentar serviços de saúde excelentes, trata-se de uma falácia reducionista. Digo que frequentar um sistema de saúde e acatar as prescrições de seus agentes – como médicos, enfermeiros… – é parte de um sólido fundamento da saúde. Contudo, quando falamos de um sistema público falamos muito do aspecto de todo um país no quesito saúde.

Assim, entra a perspectiva social, quando falar do SUS é falar de um sistema sucateado, lentíssimo e revoltante. A mídia denuncia hospitais com pacientes deitados no chão de corredores, ratos perambulando perto de doentes, profissionais com comportamentos antiéticos etc etc. A pandemia de COVID-19 propiciou momentos de extremo drama, aos olhos da grande mídia e população, no que tange ao SUS. Bem, quando se vê de longe parece haver uma maior percepção de um caos institucional e ético. Se pessoalmente me parece que o serviço público de saúde é adequado, quando ponho as lentes de outras percepções vejo o oposto. Como entender isso?

Fonte: encurtador.com.br/duBD0

De modo geral, falar do SUS inevitavelmente envolve impressões nutridas por sensações de polos distintos, a grosso modo, de satisfação ou desaprovação, e não raro o debate alcança o patamar das ideologias políticas. Além disso, trata-se de um sistema que tem sido parte de toda a vida de milhões e milhões de brasileiros, seria impossível não haver uma carga emocional intensa. – Tudo o que muito importa ao homem lhe é tão forte como tudo o que o aborrece. – Certamente o adoecimento torna o indivíduo mui sensível à forma como é tratado por quem está ao redor, de modo que suas percepções tendem a ser ou muito negativas ou muito positivas.

Difícil saber até que ponto essas sensações são fidedignas à realidade do sistema e seus serviços. Mas, talvez essa seja forma de deslegitimar o sentimento do sujeito como usuário do sistema, em prol de se alcançar uma suposta objetividade, o que nos leva inevitavelmente a considerar o ponto de vista de quem recorre ao serviço.  Então, convém revelar alguns dados estatísticos. Recente pesquisa Datafolha, ano 2018, encomendada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) revela que 77% dos brasileiros consideram o atendimento no SUS bom, ótimo ou regular. Sob minha ótica e experiências pessoais, me vejo nesse grupo.

97% já procuraram a rede pública nos últimos dois anos, sobretudo as Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde são oferecidas vacinas e consultas médicas. Apenas 22% desaprovaram o sistema prestado, o qualificando como ruim ou péssimo. Contudo, dados demonstram que, muitas vezes, o SUS é pior avaliado por quem menos usa o sistema, logo, tendo maior desconhecimento do funcionamento deste (BRUNET, 2018).

Retomando o tópico no qual citei minha posição limitada por causa de poucas lembranças de experiências pessoais com o SUS, ressalto que, se grande parte da nossa infância já não está em nossa memória, não há fonte melhor a recorrer do que nossos cuidadores e pessoas mais velhas que presenciaram nossos anos iniciais. Assim sendo, busquei informações.

Fonte: encurtador.com.br/djBLU

Minha mãe, que me conhece desde que eu mal existia, óbvio, disse-me não se recordar direito de fatos de vinte e seis anos atrás, quando estava grávida de mim – e quando o SUS tinha apenas seis anos desde sua fundação – Ela revelou, entretanto, que “o negócio foi mal feito, que o primeiro exame ultrassom ocorreu já muito perto do meu nascimento – e por iniciativa dos meus pais, não do médico”. Não me recordo desses fatos, mas sou levado a pensar que muita coisa melhorou de lá pra cá.

Lembro-me que, por volta dos, meus dez anos de idade passei por uma cirurgia na qual foi removida uma verruga de minha sobrancelha. Há alguns anos atrás também passei por processo semelhante. Ambos foram rápidos e não apresentaram complicações. Durante este último processo recordo-me de ter tido a impressão de que as pequenas cirurgias dos outros pacientes se davam de modo eficiente. Apesar disso, já presenciei longas filas e queixas de usuário do sistema.

Um exemplo frequente dos serviços prestados pelo SUS à minha família é a agente comunitária de saúde que frequentemente nos visita com sua pasta de papéis e seu chapéu,

atualizando a ficha de visita colada na porta de nossa cozinha. A agente de saúde comumente está percorrendo o distrito de Taquaruçu de bicicleta fazendo seu trabalho. Ela mostra que não apenas recorremos ao sistema como também o sistema vem até nós.

O trocadilho no título do presente texto me veio há muito tempo, por acaso. Mas, se de fato vejo o SUS sob suspeita? Penso ser uma questão muito limitada que não merece a resposta que requer. Creio que dizer que o sistema não funciona é ilógico, caricatural, e, se representasse a realidade, implicaria um caos social absoluto. Nosso sistema público de saúde funciona muito bem em alguns aspectos e algumas localidades, mas, tem sérias deficiências noutros âmbitos e centros urbanos.

Dois pontos cruciais, o processo de aperfeiçoamento da gestão dos serviços de saúde e da aplicação de recursos financeiros é laborioso e demanda muito tempo. A conscientização da população quanto à abrangência e níveis do sistema também é essencial para que todos recorram ao sistema adequadamente. Em uma última instância, isso depende muito de uma ética e compromisso enraizados na população, dois aspectos que se constroem com o tempo ao longo de gerações.

Fonte: encurtador.com.br/afwE8

Referências:

BRUNET, Daniel. 77% dos brasileiros aprovam o atendimento do SUS. Disponível em: <https://www.conass.org.br/77-dos-brasileiros-aprovam-o-atendimento-do-sus/>. Acesso em 14 de novembro de 2019.

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AbraSUS

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Existem muitos brasileiros que não se importam com o SUS como deveriam, porque acreditam que não são usuários do sistema. Pensam que, pagar por um plano de saúde e não se consultar no posto do bairro, significa não utilizar o SUS. Mas, para esses, eu tenho uma novidade: TODOS os brasileiros que habitam este território que chamamos Brasil fazem uso e se beneficiam do SUS.

Em primeiro lugar, se você pode se dar ao luxo de morrer aos 80 anos em decorrência das complicações do Alzheimer, é porque não morreu de diarréia antes de 1 ano de idade, de sarampo aos 5, de tétano aos 9, de surto de meningite aos 13, de cólera aos 20, em decorrência de HIV ou sífilis aos 25, de acidente de trabalho aos 30, de picada de cobra ou escorpião aos 35, de tuberculose aos 40, de câncer de boca ou pulmão aos 45, de sequela de tênia aos 50, de infecção alimentar aos 55, de dengue aos 60, de câncer de colo de útero aos 65 ou de gripe aos 70. Todas essas doenças citadas, precisam ser principalmente tratadas no campo do que chamamos de “saúde coletiva”, coisa que nenhum plano de saúde seria capaz de fazer, simplesmente porque os planos de saúde só atendem os seus clientes e, geralmente, com medicina preponderantemente curativa. Ou seja, nenhum plano de saúde, por mais caro que você possa pagar, teria como cuidar de uma epidemia de tuberculose, por exemplo. O controle ou a erradicação da tuberculose é a única medida eficaz para combater, de fato, a doença – que é altamente contagiosa – para isso, os que podem ou que não pode pagar, deverão ser igualmente vacinados ou mantidos sob cuidado para não transmitirem a doença. No caso da tuberculose, assim como no de muitas outras doenças, o tratamento não tem o efeito desejado se for para apenas para um ou outro caso.

A dengue também é boa para entender a importância do SUS, gosto de chamá-la de “doença para ensinar cidadania”. Não adianta você cuidar da água parada do seu quintal e nem se isolar no seu maravilhoso condomínio com porteiro 24 horas, se não houver um trabalho coletivo – trabalho este feito pelo SUS e seus agentes sanitários e de saúde – a doença vai chegar até você e sua família. Duvido que um plano de saúde se dispusesse a vigiar a limpeza da casa do seu vizinho, que não paga como você.

Fonte: encurtador.com.br/aeDEW

A Pandemia de COVID 19 tem dado aula de saúde pública pro mundo. Todas as formas de prevenção e combate da doença só funcionam e funcionarão no âmbito coletivo, e a vacinação em massa é a única solução real para superar o problema.

O SUS regula nosso sistema de água potável e esgoto por causa das verminoses, regula a qualidade da carne que você come, a higiene do restaurante que você frequenta e os medicamentos que você usa (a ANVISA faz parte do SUS). Nosso sistema de saúde está sempre atento à “chegada” ou avanço de novas doenças, evitando que elas se alastrem, cuida das fronteiras, evitando doenças que venham de outros países, exige sistemas de proteção e legislações que reduzam acidentes, epidemias e riscos à saúde, e cria campanhas de massa para educação e prevenção de doenças e agravos. Só para dar outro exemplo, o SUS conseguiu, em poucos anos, mudar completamente a cultura do cigarro (tabaco) no Brasil e tornou-se referência mundial. Sem proibição da droga, apenas com campanhas educativas e legislações restritivas para propaganda e locais de uso, o número de fumantes passou de cerca de 35% em 1989 para menos de 15% em 2013. Tal mudança de cultura, que acaba refletindo nas gerações seguintes, só foi possível organizada por um sistema público, forte e universalizado.

A Farmácia Popular, outro programa do SUS, também não beneficia apenas os que têm acesso à medicação gratuita, ao impulsionar a expansão do mercado, promove também a queda dos preços para os demais consumidores, além de quebrar as patentes das indústrias farmacêuticas e movimentar pesquisas e a produção de medicamentos com custo mais baixo.

O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo, tem um programa de imunização de doenças que é um sucesso, sendo o responsável pela erradicação de várias delas. O impacto do SUS na redução da mortalidade infantil no país é indiscutível. O Brasil tem um sistema de tratamento e prevenção de HIV/aids exemplar e é o sistema público que mais faz transplantes e hemodiálises no mundo todo, incluindo a manutenção de uma rede de doadores de sangue e órgãos, com excelência em tecnologia. Todas essas e outras intervenções de alta complexidade ficam a cargo do SUS, pelo fato de serem muito dispendiosas e inviáveis para o sistema privado, que obviamente, tem como interesse primeiro, lucrar. Sabe aquele procedimento que você precisa de autorização e seu plano não libera? Pois é…

Fonte: encurtador.com.br/KLW79

O SAMU atende acidentes de trânsito, domésticos, urgências e emergências cardíacas ou quaisquer outras que ofereçam risco de morte. Tendo plano ou não, recursos ou não, o atendimento do SAMU é universal. Ninguém nunca deixará de ser atendido por causa da sua condição financeira, talvez pelo estrangulamento do programa que, como muitos outros, vem sendo progressivamente sucateado. Então, mesmo que você esteja assegurado por uma ambulância particular, o SUS atende a vítima do acidente de trânsito que você provocou ou do pedreiro que se feriu na sua obra, ainda que eles não estejam assegurados por um plano privado como você.

Outro dado importante, estamos num sistema capitalista, e nele, o que rege é a lei da oferta e da procura. Portanto, se todos tiverem que pagar seus planos privados, por causa da falência do nosso sistema público, esteja certo que você terá que pagar muito mais caro do que paga hoje.

A idealização do SUS tem raízes numa concepção de saúde integral, solidária, humanitária, democrática e que não seja objeto das leis do mercado. Saúde não tem preço e não pode estar a venda. Esse diferencial já seria suficiente para defendermos o SUS como patrimônio nacional, estabelecendo com ele uma noção maior de pertencimento e agregando-lhe o valor que realmente merece. Entender que “o SUS é nosso” se faz fundamental para militarmos em sua defesa, a fim de lhe garantir mais recursos e financiamentos e não o seu desmonte, como o governo atual vem fazendo. As deficiências do SUS são decorrentes do que não se investe nele e não por quem ele é.

O SUS é um sistema para o Brasil e não uma espécie de caridade para os pobres. O SUS está em toda parte; está literalmente no ar que respiramos e na água que bebemos.

O SUS é nosso!
Defenda o SUS!

Fonte: encurtador.com.br/jyVX2
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A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Fonte: Arquivo pessoal.

Essa tem sido eu nos últimos três meses. Me encontro com a sombra da morte quase todos os dias passando por esses corredores, mas também com a intensidade da vida que pulsa em cada um, com a vontade de vida de cada um.

“A cabeça pensa onde os pés pisam”. Eu, psicóloga, 24 anos, negra, brasileira, proletária, trabalhando numa UTI pediátrica, num hospital público no norte do país, no meio de uma pandemia. Hoje estou em solo de guerra, é assim que sinto muitas vezes. Isso me faz valorizar e reconhecer a paz quando encontro.

Vida e morte intensamente ligadas. Me atravessam, mudam minhas perspectivas, minhas prioridades, meus argumentos.

Fiquei em silêncio desde então por aqui. Me deixei levar pelo não saber, não saber o que dizer. Também não sei se tenho dito algo com essas palavras, mas deixo sair porque hoje elas estão aí para sair.

Eu não tenho a pretensão de chegar em algum lugar com essas palavras. Elas são mais para mim do que para outro alguém. São um lembrete.

Quero dizer que ainda há esperança. Que relações significativas existem, que a paz vem de dentro. Que a vida vale a pena, mesmo quando não é fácil, até porque ela é mais difícil do que fácil. Que cada história importa, que cada pessoa que tocamos é o amor da vida de alguém. Que o solo do nosso coração precisa ser fértil para crescer afeto. Que a dureza da dor não precisa ser o que dita nossa postura.

A vida é feita de histórias, o que temos feito com a nossa?

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Diálogo sobre o SUS no contexto pandêmico e análise do ponto de vista teórico da Saúde, Bioética e Sociedade

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No dia 27 de maio de 2020, foi feita entrevista referente a disciplina de Saúde Bioética e Sociedade I (SBS I), da instituição de ensino do CEULP/ULBRA com o entrevistado Alexandre Elias Chagas Achcar, estudante de Jornalismo na Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus Palmas. Ele foi comunicado acerca da entrevista que circundaria a temática do Sistema Único de Saúde (SUS), ao qual foi realizada dez perguntas totais, com objetivo de analisar suas respostas de acordo com o que fora estudado em SBS I, como forma de aprendizado, e elucidação dos conteúdos ministrados. Todas as suas falas foram escritas na íntegra. A seguir, a entrevista em questão.

(En)Cena – Gostaria que você me dissesse se você vê o SUS aplicando formas efetivas de promoção à saúde, tanto quanto na cura dos doentes.

Alexandre Achcar – Eu acredito que o Sistema Único de Saúde é fundamental para a sociedade brasileira, principalmente porque, já está aí a bastante tempo, se eu não me engano ele é de 1988; não sei, posso estar errado, perdão; o Sistema Único de saúde ele é necessário justamente porque outros países comparando por exemplo com Estados Unidos, não tem essa gratuidade na saúde, a população não tem acesso a esse benefício… Por mais que o SUS seja falho justamente porque tem muitas verbas que não chegam para ele, isso é uma questão governamental né? Ministério da Saúde… ainda assim, ele consegue atender de forma eficaz, principalmente agora, na época da COVID-19. Se a gente não tivesse o SUS, seria um grande desastre, por isso eu sou muito adepto, acho que ele é fundamental.

(En)Cena –  Quais os mecanismos do SUS que você lembra de ter usado e usufruído, anteriormente ou atualmente?

Alexandre Achcar – Então… eu cheguei a usar o Sistema Único de Saúde, se eu não me engano, a última vez foi em 2018, no finalzinho de 2018 eu peguei uma infecção, e fiquei muito mal, com muita febre. Fui parar no SUS, e eu não tinha o cartão na época, lembro até hoje, tive que fazer um número, e eu não tinha também… não deram o cartão, então a infraestrutura é algo a si pautar né? Mas que seja um lugar que tenha saúde gratuita para as pessoas, ainda assim, tem que se atualizar, ter uma organização. Mas, eu cheguei a usar, lembro que na época cheguei a tomar uma injeção de benzetacil e uma outra que não lembro o nome, e depois de eu ser medicado e consultado, o médico me passou alguns antibióticos também, eu comprei, tomei, estava sozinho em casa, fiz uma alimentação saudável como ele disse para fazer, e melhorei, foi um bom tratamento.

(En)Cena – Qual a importância do SUS para você?

Alexandre Achcar – Como eu disse anteriormente, a gratuidade e a acessibilidade para as pessoas mais carentes, eu acredito na importância do SUS nesse quesito.

(En)Cena – Você acredita que o SUS alcança todos os recortes populacionais, como um todo?

Alexandre Achcar – Eu acredito que não, porque… por mais que o SUS tente ser o máximo acessível, ainda assim alguns postos de saúde podem estar localizados em um bairro, e aquele posto de saúde pode ser o único da região e a pessoa pode estar passando mal e precisa se locomover, geralmente por uma série de questões econômicas, talvez de saúde mesmo claro… porque a pessoa está procurando um postinho pra resolver uma eventualidade, por N’s motivos essa pessoa pode não ter acesso ao SUS e preferir se tratar em casa, sem nenhum auxílio médico, nem nada do tipo.

Também tem o problema governamental, das verbas não chegarem para o Sistema único de Saúde e não serem convertidas em remédios, e muitas vezes essas pessoas que estão no SUS, querem esse remédio de graça porque não tem condições financeiras para adquirir o remédio recomendado pelo médico. E no próprio Sistema Único de saúde eles oferecem remédio de graça, mas ainda assim tem uma falta muito grande, uma carência muito grande de certos medicamentos.

(En)Cena – Quais seriam as maiores vantagens do SUS enquanto órgão de Saúde para você e para a população, na sua visão?

Alexandre Achcar – Acho que ele é um serviço gratuito, como eu já disse, que é uma grande vantagem, os Sistemas Únicos de Saúde oferecem remédio né? De graça, que é outra vantagem que eu já citei anteriormente… terceiro, a urgência dentro do SUS, também é algo a se pautar porque, da última vez que eu fui lá inclusive, eles têm uma tabela ao qual você se adequa a certo tipos de cores, e essas cores determinam seu lugar na fila de espera. As vezes uma pessoa que está passando muito mal, que tem que ter o atendimento no momento, ela vai na sua frente porque ela tem prioridade, eu acho fundamental ter prioridade nesse quesito, eu acho muito importante…

Entre outras coisas, o SUS é acessível, por mais que ele ainda não seja né, em todos os locais, em todos os bairros, ainda assim ele consegue atingir um nível de acessibilidade considerável, a gente tem que levar em consideração também, eu já disse anteriormente sobre transporte público. E é isso… dentre outras milhares de coisas, o SUS é muito importante para a melhoria da saúde coletiva, e da ciência no Brasil.

(En)Cena – Como você acredita que seria o contexto de pandemia caso não houvesse o SUS?

Alexandre Achcar – Ah… com certeza desastroso! A gente tem que considerar também a má gestão dos órgãos governamentais quanto a alertar da COVID- 19, sem o SUS então, não sei como seria feito… Já há muitos hospitais particulares mesmo, com camas lotadas com pessoas com caso de COVID e sem profissional da saúde, sem o Sistema Único de Saúde também, a gente estaria muito pior do que a gente está, a gente já está em segundo lugar na tabela mundial, acho que com 3.000 casos, não tenho certeza, talvez 4000, tenho que averiguar, mas, estaríamos muito pior, com certeza (a entrevista ocorreu no ápice da primeira onda da Covid-19).

(En)Cena – Se você pudesse implementar mecanismos no SUS, para seu aperfeiçoamento, quais seriam?

Alexandre Achcar – Unidade móvel de atendimento iria resolver um pouco do problema do transporte público, por mais que o SUS tenha, já vi que eles têm algumas campanhas nos bairros, levam a unidade móvel para ajudar a população, geralmente em regiões mais carentes, se essa unidade móvel trabalhasse também, 24 horas, seria fundamental porque as pessoas que estão necessitando do SUS ao invés de ir até ele, o SUS poderia ir até essas pessoas, e resolver parte do problema, entende? Equipe especializada para isso.

Acho muito interessante também, talvez na Polícia Federal, órgãos regulamentadores, que a verba que seria destinada ao Brasil, principalmente ao SUS, passasse por um filtro. O que seria esse filtro? O filtro iria evitar com que esse dinheiro, seja vítima de corrupção passiva, desvio de verba, dentre outros problemas que a gente sabe que ocorre no Brasil, que já é um problema crônico do nosso país.

(En)Cena – Qual a reflexão mais pertinente sobre o SUS e a pandemia que vem te acometendo durante esta fase que se instaurou aqui no Brasil?

Alexandre Achcar – Acredito que sem o SUS seria bem pior, por exemplo… a gente está vendo estádio de futebol sendo lotado por pacientes com COVID- 19, porque dentro do SUS não está tendo mais maca, não está tendo mais espaço para atender o tanto de doente que está tendo no país entende? Sem o SUS seria muito mais complicado, a gente não teria mais lugar dentro dos estágios, e a onde a gente iria colocar essas pessoas?

Por mais que seja um cenário caótico, o SUS está fazendo um papel excelente durante a pandemia, e fundamental sabe? O SUS só não faz um papel melhor, justamente pelos desvios de dinheiro, má gestão governamental, falta de remédio, falta de incentivo cientifico dentro do país, e falta de… eu acredito que é um problema também, falta de reconhecimento das universidades e dos cursos de ciências biológicas e na área de saúde no Brasil

(En)Cena – Você acredita que o momento histórico em que estamos vivendo tem contribuído para uma reflexão sobre a necessidade de se fazer uma saúde para a comunidade e para os indivíduos como um todo, no sentido de saúde como coletividade?

Alexandre Achcar – Com certeza… se a gente para pensar que o SUS hoje em dia, está lotado de gente, tem gente precisando de atendimento e não está tendo como atender porque não tem lugar para as pessoas ficarem, porque não tem respirador o suficiente, porque não tem investimento na tecnologia na saúde dentro do pais, a gente começa a enxergar o tanto que isso é importante sabe… o tanto que investir na saúde, que é um dos pilares da sociedade bem-sucedida, é primordial sabe…

Isso vale para as pessoas que são contra o Sistema Único de Saúde porque se todo mundo se unir para melhorar esse atendimento e reivindicar da saúde pública um atendimento mais eficaz e transparente também, dentro da saúde pública do Brasil, talvez esse seja até o estopim para a elite, utilizar um sistema que é de graça… e ter acessibilidade para todo mundo sabe… porque todo mundo precisa de qualidade quando se trata de saúde, todo o ser humano necessidade de transporte, saúde e educação. É o mínimo que as esferas públicas têm que oferecer para a população.

(En)Cena – E sobre as pessoas que ainda assim, não valorizam e não dão importância para o SUS, qual a visão que você tem sobre elas, e por que você acredita que as pessoas pensam dessa maneira? Você tem alguma opinião sobre o assunto?

Alexandre Achcar – Então, se a gente analisar as pessoas que falam mal do SUS, elas não precisam do SUS, geralmente são pessoas da elite brasileira da “classe A”, e elas tem acesso a saúde particular, elas têm acesso à educação, tem acesso a transporte de qualidade… é um pensamento muito egoísta, você dizer que o Sistema Único de Saúde não deve existir, por causa da situação econômico do país. Se hoje o brasileiro paga um dos maiores impostos do mundo, esse dinheiro volta para ele, o problema não está na quantidade de dinheiro que a gente paga, e sim, na quantidade de dinheiro que volta para a gente como benefício da população.

Reflexão a partir da fala do entrevistado:

É possível observar através das colocações do Alexandre, que ele tem conhecimentos tanto numérico quanto da própria vivência como usuário do SUS. Dentro de sua perspectiva as vantagens do SUS corroboram em se fazer saúde de forma descentralizada, que é um dos quesitos de regionalização pertinentes nas diretrizes do Sistema de Saúde, que visa espalhar os serviços pelos municípios, que tem suas próprias estratégias e demandas.

É perceptível que ele, por sua vez, não compreende a hierarquização vigente, que diz respeito da referência e contra- referência, que se estabelece na rede que se subdividem em funções, que visam o atendimento de piso da Atenção Básica  (PAB), que tem sua importância, mas não atende casos extremamente complexos, cabendo desta maneira a necessidade de referência da rede municipal para a regional, e assim sucessivamente, ao qual quando há a resolutividade da demanda, acontece a contra-transferência. Toda essa questão está vigente no princípio de descentralização político- -administrativo, que se subdividem na esfera: União, Estado e Distrito Federal.

Apesar disso, é importante ressaltar a fala que lista a vulnerabilidade socioeconômica, a inacessibilidade de transporte, e/ou a auto medicalização por falta de informação, o que é uma realidade pertinente que dificulta a universalidade do acesso à saúde. Que é um dos fatores que ele acha pertinente e íntegro do Sistema.

Pôde-se observar que ele busca ter criticismo através de uma visão sócio-política, buscando a justiça social ao qual o SUS faz referência, pondo culpabilização do fracasso ou da não obtenção da força máxima enquanto órgão público pela má gestão política, falta de investimento e o sistema corrupto que o circunda. Pois, assim como ele disserta, existe a falta de recursos, para pesquisa, medicamentos que vai de contramão ao Título III do CAP III sobre “Planejamento e Orçamento” da Lei Nº 8.8080, que fala que deve haver orçamento compatível a necessidade de saúde da localidade, ao qual é necessário planejamento, organização que são aspectos citados por Alexandre, para que haja um plano de saúde efetivo.

Dentro de suas vivências foi possível ver que ele acredita que deva mudar questões da logística, mas que admira a organização e priorização de urgências, que se refere ao princípio de equidade, ao qual pretende-se ter atendimento justo, com a análise da demanda, de acordo com suas necessidades prioritárias.

Nota-se que apesar de ver questões para se aperfeiçoarem no SUS, principalmente em decorrência as responsabilidades governamentais por faltas éticas e administrativas, ele o vê como essencial, principalmente por conta da COVID-19 ao qual essas necessidades ficam ainda mais evidentes, que devem intervir no princípio da integralidade, com articulação coerente e rápida na prevenção e cura da população doente.

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