O Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM) para o tratamento do TEA

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Um novo modelo para a utilização na intervenção precoce para crianças com o Transtorno do Espectro Autista.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado pelo indivíduo apresentar atrasos em várias áreas e habilidades do seu desenvolvimento. É provável que apresente frequentemente padrões repetitivos de comportamento, interesses restritos e atividades. A causa exata do TEA ainda não é totalmente compreendida, apesar de haver pesquisas que indicam que os fatores genéticos e ambientais influenciam este transtorno (Sella e Ribeiro, 2018).

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) categoriza o TEA em três níveis de necessidade de suporte, com base nos déficits observados na comunicação social e nos comportamentos restritos e repetitivos. Esses níveis são designados como: nível 3 (requerendo suporte muito substancial), nível 2 (requerendo suporte substancial) e nível 1 (requerendo suporte).

O DSM-5 categorizou o TEA com três níveis de necessidade de suporte, diagnosticando-o com base nos déficits característicos de comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos. Sendo eles: nível 3 (exigindo suporte muito substancial), nível 2 (requer suporte substancial) e nível 1 (requer suporte).

                                                        Fonte: imagem criada por Sarah Coelho utilizando elementos do Canva

Os sinais e o diagnóstico precoce do TEA

Os pais de crianças diagnosticadas com TEA frequentemente são os primeiros a perceberem discrepâncias no desenvolvimento de seus filhos, notando uma gama de sinais que podem surgir nos primeiros três anos de vida. Esses sinais podem inclusive ser observados desde o período neonatal, caracterizados, por exemplo, pela ausência no estabelecimento de contato visual (Mansur, 2017).

Essa observação inicial por parte dos pais desempenha um papel fundamental no encaminhamento precoce para avaliações clínicas e intervenções terapêuticas, possibilitando assim uma abordagem precoce e apropriada para o manejo do TEA, na qual há a possibilidade de reverter os atrasos e desenvolver determinadas habilidades.

Os estudos acadêmicos destacam fatores que podem contribuir para a demora no diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo a ampla variedade de expressões dos sintomas do TEA que pode dificultar sua identificação, especialmente em crianças em idade pré-escolar, onde as características típicas do desenvolvimento podem sobrepor-se aos sinais de TEA, desafiando a precisão diagnóstica (Mansur, 2017). Destaca-se também a falta de profissionais capacitados para reconhecer os sinais precoces do TEA e realizar avaliações adequadas. A escassez de profissionais especializados em TEA pode resultar em longos períodos de espera por avaliações diagnósticas e intervenções terapêuticas, prolongando o tempo até o diagnóstico e a implementação de tratamentos eficazes.

Outro fator determinante é a disponibilidade limitada de serviços especializados em TEA, especialmente em regiões economicamente desfavorecidas, sendo um obstáculo significativo para o diagnóstico precoce e o acesso a intervenções terapêuticas adequadas. Essa falta de recursos adequados pode resultar em atrasos no diagnóstico e tratamento do transtorno, comprometendo assim o desenvolvimento das crianças afetadas (Santos et al., 2020).

A importância do diagnóstico precoce, especialmente durante o período entre dois e seis meses de idade, é propícia para a implementação de intervenções precoces durante fases de maior plasticidade neural. Isso resulta no potencial de prevenir danos mais significativos no desenvolvimento futuro da criança (Steffen et al., 2020).

A realização de um diagnóstico precoce é de suma importância, pois amplia os benefícios decorrentes da intervenção realizada por uma equipe interdisciplinar, que pode ser composta por professores, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, aplicadores ABA, psicomotricistas, psicopedagogos, entre outros. Além disso, proporciona uma orientação adequada aos pais, o que contribui significativamente para a evolução do tratamento (Silva e Mulick, 2009).

  Fonte: imagem criada por Sarah Coelho utilizando elementos do Canva

O modelo que ganhou grande espaço na Intervenção Precoce do TEA

O Modelo de Intervenção Precoce de Denver (ESDM) é um método naturalista de intervenção que se baseia em atividades que refletem a rotina das crianças. Este modelo abrange um tratamento que se estende de 12 a 36 meses, seguido por uma fase subsequente dos 24 aos 60 meses de idade, com o propósito de reduzir os danos e/ou dificuldades em algumas áreas, e promover o avanço no conhecimento e no desenvolvimento infantil em todos os aspectos, como cognição, habilidades sociais, emocionais e linguísticas (Rodrigues et al., 2021 apud Rogers & Dawson, 2014).

A necessidade de intervenção precoce é uma grande hipótese de solução para proporcionar oportunidades de aprendizagem diversificadas, especialmente para crianças com comprometimentos no desenvolvimento. A intervenção precoce demonstra a capacidade de reduzir a severidade dos sintomas do transtorno do espectro autista (TEA) devido à neuroplasticidade cerebral (Rodrigues et al., 2021 apud Wallace & Rogers, 2010, citado em Rogers & Vismara, 2014).

O Modelo Denver de Intervenção Precoce é caracterizado por possuir um currículo de desenvolvimento específico, onde a criança irá percorrer diversas competências a serem ensinadas. Ele é realizado a partir de práticas que envolvem atividades colaborativas, fazendo uso da ludicidade como elemento central. A brincadeira e o jogo são recursos primordiais para estimular o aprendizado (Mayrink, 2021).

É importante destacar que essa intervenção é naturalística, por isso, a implementação pode ocorrer em uma variedade de contextos, que vão desde o ambiente doméstico da criança até escolas, clínicas e outros ambientes. É fundamental que o terapeuta se torne o foco de atenção da criança, assumindo o papel de um verdadeiro parceiro de diversão. E quanto mais envolvente e divertida for a atividade, maior será o nível de engajamento e processo de aprendizagem da criança (Mayrink, 2021).

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014

DE CARVALHO MANSUR, Odila Maria Ferreira et al. Sinais de alerta para Transtorno do Espectro do Autismo em crianças de 0 a 3 anos. Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos, v. 12, n. 3, 2017. Disponível em: SINAIS DE ALERTA PARA TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO EM CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS | Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos (fmc.br). Acessado em: 13/04/2024

MAYRINK, Izabelle Bastos Ribeiro. A importância do Modelo Denver de Intervenção Precoce no tratamento de crianças com o Transtorno do Espectro Autista: uma revisão bibliográfica. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, [S. l.], v. 9, n. 3, p. 2120–2133, 2023. DOI: 10.51891/rease.v9i3.9086. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/9086. Acessado em: 18/04/2024.

RODRIGUES, Andressa Aparecida; DE LIMA, Maísa Miranda; ROSSI, Jean Pablo Guimarães. Modelo Denver de Intervenção Precoce para Crianças com Transtorno do Espectro Autista. Humanidades & Inovação, v. 8, n. 48, p. 359-375, 2021. Disponível em: MODELO DENVER DE INTERVENÇÃO PRECOCE PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA | Humanidades & Inovação (unitins.br). Acessado em: 18/04/2024.

SILVA, Micheline; MULICK, James A. Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas. Psicologia: ciência e profissão, v. 29, p. 116-131, 2009. Disponível em: SciELO – Brasil – Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas. Acessado em: 19/04/2024.

STEFFEN, . F. .; DE PAULA, . F. .; MARTINS, . M. F. .; LÓPEZ, . L. . Diagnóstico precoce de autismo: uma revisão literária. REVISTA SAÚDE MULTIDISCIPLINAR, [S. l.], v. 6, n. 2, 2020. Disponível em: http://revistas.famp.edu.br/revistasaudemultidisciplinar/article/view/91. Acessado em: 19/04/2024.

 

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Educação e Saúde traçam novas medidas para ampliar atendimento de crianças e adolescentes neurodiversos

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Fechando a tarde de trabalho desta última terça-feira, 3, os secretários de Educação e Saúde da Capital, professor Fábio Chaves e a psicóloga Anna Crystina Mota Brito Bezerra, se reuniram na sede da Secretaria Municipal da Educação (Semed) para discutir e alinhar melhorias e novas estratégias para o atendimento das crianças e adolescentes neurodiversos que precisam de cuidados especializados.

Dentre as ações apontadas pelos gestores para ampliar o acolhimento de crianças e adolescentes, será elaborado e firmado um termo de parceria entre as duas pastas com a finalidade de ampliar o número de profissionais, como psicólogos, psicopedagogos e assistentes sociais para o atendimento dessa demanda da população.

Outro investimento da gestão será qualificar profissionais para trabalhar junto aos estudantes com o Transtorno Espectro Autista (TEA), por meio da pós-graduação lato sensu em Transtorno do Espectro Autista na Educação, ofertada por meio da Universidade Federal do Tocantins (UFT), além de capacitações com menor carga horária que profissionalize servidores da educação e também da saúde.

                                                                                                                                     Fonte: agenciapalmas.com

Conforme o secretário da Educação, professor Fábio Chaves, é uma preocupação constante da gestão dar todo o suporte aos alunos que têm necessidades educacionais especiais, além do amparo das famílias em relação ao acompanhamento deste aluno que é feito diariamente no núcleo familiar. “Precisamos compreender as características de cada um dos nossos alunos, para tentar eliminar as barreiras que os impedem de ser inseridos na vida escolar. A Educação que a gente quer precisa garantir a plena aprendizagem e o total acesso a todas as crianças e jovens. Independentemente da situação socioeconômica, do local de nascimento, do gênero e também de ter ou não deficiência, portanto esse momento com a equipe gestora da saúde se faz necessário e oportuno para juntos construirmos uma agenda de ações para melhorar o nosso atendimento a este público”, observou o gestor.

A secretária da Saúde, Ana Crystina, destacou a relevância da parceria com a Secretaria Municipal da Educação, bem como o fortalecimento das ações que já acontecem na rede de saúde, mas que podem aperfeiçoar através de serviços conjuntos entre as áreas. “Proporcionamos acompanhamento de saúde das crianças e adolescentes de toda rede de saúde da Capital, e sabemos que a demanda é muito grande, principalmente nas especialidades ligadas à saúde mental. Essa integração com a educação vai ajudar a melhorar e alcançar um número maior de atendimentos especializados”, citou a secretária, acrescentando que é fundamental que os alunos tenham acesso a toda a rede necessária de profissionais para colaborar com o seu desenvolvimento.

Texto: Redação Semed

Edição: Denis Rocha/Secom

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A invisibilidade do autismo feminino

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Estudo aponta que revelaram índices proporcionais entre homens e mulheres significativamente menores do que se acreditava em relação ao TEA.

 O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta o comportamento, a interação social e padrões de interesses e atividades. O termo espectro é usado porque o TEA engloba uma ampla variedade de sintomas, habilidades e níveis de comprometimento. Comumente referido como autismo, tem sido relatado como algo prevalente em homens desde a série inicial de casos. Tradicionalmente, muitos estudos apresentaram uma proporção de 4 homens para cada mulher diagnosticados com o transtorno (Dworzynski et al. 2012). Porém, estudos epidemiológicos com uma apuração ativa de casos revelaram índices proporcionais entre homens e mulheres significativamente menores (e.g., 2.5:1; Kim et al. 2011). Numa recente análise (Loomes, 2017) concluiu-se que a proporção seja, na verdade, de 3:1.

Assim, numa análise qualitativa dos dados obtidos, é possível observar o movimento de subdiagnóstico de TEA em mulheres, e um número de razões podem ser propostos. Incluindo o predominante uso de amostras exclusivamente masculinas em pesquisas, o que provavelmente levou a uma compreensão tendenciosa de todo o espectro e de suas respectivas manifestações. Lai et al (2015) observaram no contexto clínico que há uma apuração com viés de gênero de até 15:1 em pesquisas de neuroimagem. Além disso, de acordo com os psiquiatras Kopp e Gillberg, o reconhecimento do autismo e os métodos utilizados para o diagnóstico são baseados no estereótipo do autismo como uma condição exclusivamente masculina.

Numa investigação de diferenças comportamentais entre os homens e mulheres autistas feita por Lai et al. (2011) foi possível observar que as mulheres relataram mais sintomas relacionados a questões sensoriais e menos questões relacionadas a dificuldades de socialização em comparação aos homens. Ademais, Gould e Ashton-Smith trouxeram a tona que as mulheres TEA conscientemente tentam copiar as neurotípicas, fenômeno comumente chamado de “Masking” ou “camuflagem”.  A estratégia conhecida como camuflagem ou mascaramento social é uma das teorias aceitas atualmente para explicar por que o diagnóstico de autismo em mulheres é feito mais tardiamente e com menor frequência do que em homens (Begeer et al., 2013; Giarelli et al., 2010).

Uma pesquisa qualitativa conduzida por Dean et al. revela que meninas e mulheres autistas muitas vezes relatam esforços para esconder ou tentar parecer não autistas. Esses relatos indicam que ao imitar o comportamento de pessoas não autistas e controlar suas próprias características, elas tentam lidar com algumas das dificuldades sociais e de comunicação que enfrentam. No entanto, essa pesquisa também evidenciou as graves consequências do uso da camuflagem. O ato de mascarar está associado a altos níveis de estresse, problemas de saúde mental como depressão e ansiedade, exaustão e falta de acesso a suporte ou serviços de saúde especializados, resultantes do esforço em esconder suas próprias dificuldades.

                                                                                                                                    Fonte: Freepik

Meninas e mulheres autistas muitas vezes relatam esforços para esconder ou tentar parecer neurotípicas.

Outro fator muito importante e que deve ser considerado é que historicamente, devido ao machismo, as meninas são socializadas de forma distinta dos meninos ainda na primeira infância. Assim, os papéis para os quais as mulheres são preparadas para exercer exigem mais socialização: cuidadoras, esposas, mães, enfermeiras, professoras etc. Pode-se, então, traçar uma correlação com a camuflagem do transtorno referida acima. Além da distinção do comportamento esperado a partir dos papeis sociais de gênero, por exemplo, a fixação por rotina, organização e arrumação (que pode ser um fenótipo do TEA) tende a ser normalizada quando apresentada em meninas e estranhada em meninos.

Todos esses fatores citados acima influenciam e evidenciam os motivos de o TEA ser visto como um transtorno predominantemente masculino, de maneira que mulheres muitas vezes não recebem os devidos diagnósticos e, por conseguinte, o necessário tratamento e/ou auxílio tão necessários.

Sendo assim, é importante estarmos atentos aos sinais de autismo em meninas e mulheres, que podem ser identificados ainda na infância. Alguns desses sinais incluem dificuldade em fazer amigos e manter relacionamentos sociais, hiperfoco em interesses específicos, como animais ou personagens de desenhos animados, comportamentos repetitivos ou rotineiros, como contar ou organizar objetos de maneira particular, um comportamento geralmente mais passivo e silencioso em comparação aos meninos com autismo, e dificuldade em interpretar ou expressar emoções e sentimentos.

Já na idade adulta, podem apresentar dificuldade em entender e interpretar as emoções dos outros, ansiedade social e dificuldade em fazer amigos ou manter relacionamentos, interesses intensos e específicos em áreas como história, música ou arte, hiperfoco em rotinas e rituais. Além da disso, foi relatado dificuldades em lidar com mudanças ou imprevistos, dificuldade em se adaptar a ambientes sociais, como festas ou reuniões, preferindo ambientes mais silenciosos e controlados, sensibilidade sensorial elevada, incluindo aversão a certos sons, texturas ou sabores, e dificuldade em entender metáforas e expressões idiomáticas comuns, bem como em compreender o sarcasmo e o humor sutil.

Diante disso, pesquisas indicam que mulheres autistas são mais propensas a desenvolver problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, bem como distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia. Portanto, se entre pessoas do mesmo sexo o autismo se manifesta de formas diferentes, é importante considerar que pode haver ainda mais particularidades em relação ao sexo oposto. Urge-se, então, que novas pesquisas e metodologias de diagnósticos sejam desenvolvidos para diminuir a invisibilidade do autismo feminino.

Referências

 

Milner, V., McIntosh, H., Colvert, E. et al. A Qualitative Exploration of the Female Experience of Autism Spectrum Disorder (ASD). J Autism Dev Disord 49 (2019). Palmas- TO. Disponível em <: https://rdcu.be/dnPId >. Acessado em 05 out. 2023.

LAI, M. C., Lombardo, M. V., Auyeung, B., Chakrabarti, B., & Baron-Cohen, S. (2015). Sex/gender differences and autism: setting the scene for future research. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry. Palmas-TO. Disponível em <:https://doi.org/10.1016/j.jaac.2014.10.0034>. Acessado em 11 out.2023.

BARRETO, Nathalia. Masking no Autismo – O que é . Palmas-TO. Disponível em <: https://br.academiadoautismo.com/masking-no-autismo-o-que-e/ >. Acessado em 11 out. 2023.

GAIATO, M. Mulheres autistas: elas existem e precisam de atenção! Palmas-TO. Disponível em <: https://institutosingular.org/mulheres-autistas/>. Acessado em 11 out. 2023.

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Relações amorosas no TEA

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Sim, pelo contrário do que muitos pensam pessoas autistas podem sim ter relações com outras pessoas

O autismo é um tema que traz muita curiosidade e interesse, mas também muitas dúvidas, como: O que é o autismo? Quais são as suas causas? Se essa pessoa pode se relacionar ou não? Essas são algumas das perguntas relacionadas às pessoas com TEA.

O autismo, ou transtorno do espectro do autismo (TEA), indica uma dificuldade que afeta as áreas da comunicação, socialização e do comportamento. As pessoas com autismo podem apresentar dificuldades para se expressar verbalmente e não verbalmente, para interagir com outras pessoas, para compreender regras sociais e para lidar com mudanças. Além disso, elas podem ter interesses por determinados assuntos ou atividades, e realizar movimentos repetitivos com o corpo ou objetos.

Não se sabe ainda as causas, mas acredita-se que exista uma forte influência genética, além de possíveis fatores ambientais que podem interferir no desenvolvimento cerebral, como uma má gestação, vícios como tabaco também podem influenciar. O autismo não tem cura, mas pode ser tratado com intervenções adequadas que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas com essa condição e de suas famílias.

A palavra espectro autista indica que cada um é único, em sua forma de agir pensar, de interagir com as pessoas e a realidade a sua volta, por isso, é muito importante tratar cada um de uma maneira exclusiva, não generalizando seus comportamentos e sentimentos, pois cada um vê o mundo de maneiras diferentes.

 

Fonte:https://pixabay.com/

A palavra espectro autista indica que cada um é único, em sua forma de agir, pensar, de interagir com as pessoas(…).

Com isso podemos dizer que sim, a pessoa com espectro autista pode sim se relacionar com outras pessoas, tendo em vista que muitos autistas leves são diagnosticados muito posteriormente às vezes sendo confundida com uma pessoa tímida que não gosta de interagir.

O parceiro ou parceira de um(a) TEA tem que estar atento quanto a respeito as suas limitações, como a questão de se expressar sentimentalmente, às vezes pode ter uma dificuldade, mas também pode não ter, podem ter problemas para interpretar os sinais como gestos, expressões faciais os quais são importantes para um relacionamento. Além disso, eles podem ter preferências sensoriais diferentes, como gostar ou não de toques, abraços e beijos, o que pode afetar a forma como demonstram carinho e afeto.

Porém, os autistas possuem qualidades que podem ajudar nos relacionamentos os relacionamentos, como honestidade, lealdade, criatividade e sensibilidade. Eles também podem aprender a desenvolver habilidades sociais e emocionais com o apoio de profissionais, familiares e amigos.

 

Fonte:https://pixabay.com/

O amor é universal, e une perfeitamente todas as coisas.

Uma boa experiência para as pessoas conhecerem mais sobre esse assunto, é assistir um reality show que passa na Netflix, que tem o nome de “amor no espectro”, o que conta a história de casais autistas que procuram sua “alma gêmea”, e fala dos desafios mas também os prazeres dos casais, vale muito a pena conhecer.

Assim o autista sim pode ter seus  relacionamentos, o importante é que haja cooperação de ambas as partes. Cada um tem o seu jeitinho de amar e ser amado, a final o amor é para todos.

 

Referências Bibliográficas:

RELACIONAMENTOS AMOROSOS ENTRE PESSOAS TEA. Autismo e Realidade, 2023. Disponível em: <https://autismoerealidade.org.br/2023/06/12/relacionamentos-amorosos-entre-pessoas-com-tea/>. Acesso em: 29, agosto e 2023;

VARELLA, Dráuzio. POSSIVEIS CAUSAS DO AUTISMO. Uol.com.br, 2014. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/possiveis-causas-do-autismo-artigo/#:~:text=A%20explica%C3%A7%C3%A3o%20mais%20aceita%20para,que%20trafegam%20entre%20os%20neur%C3%B4nios.>. Acesso em: 29, agosto e 2023.

 

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Relações humanas contidas no seriado “The Big Bang Theory”

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As relações humanas são o tecido que compõe a complexa tapeçaria da vida social. Elas são a essência da nossa existência, moldando quem somos e como interagimos com o mundo ao nosso redor. Essas interações variam desde os laços familiares mais íntimos até as conexões fugazes que estabelecemos com estranhos em nossa rotina diária. Neste sentido, temos vários tipos de aprendizagens através de nossa cultura e nada mais cultural na atualidade que filmes e séries televisivas. Para esta reflexão, nos centramos no seriado de humor norte americano de grande audiência no Brasil The Big Bang Theory.

The Big Bang Theory é uma sitcom americana que foi ao ar entre 2007 e 2019. Criada por Chuck Lorre e Bill Prady, a série segue um grupo de amigos detentores de altos títulos acadêmicos, mas desajustados socialmente. A trama começa com os dois amigos, Físicos, Leonard Hofstadter e Sheldon Cooper que vivem em um apartamento em Passadena na Flórida. Eles trabalham em uma Universidade, a Caltech e são apaixonados pela cultura nerd. O grupo de amigos é completado por Howard Wolowitz, um engenheiro aeroespacial e Rajesh Hoothrappali, um astrofísico indiano que não consegue falar com mulheres a menos que tenha consumido álcool.

A vida do grupo começa a mudar quando Penny, uma aspirante a atriz que trabalha como garçonete, se muda para o apartamento vizinho de Sheldon e Leonard. Logo Leonard desenvolve uma paixão por ela, o que cria uma dinâmica cômica entre eles devido às suas personalidades opostas. Sheldon, por sua vez, se desagrada pela nova vizinha que de certa forma veio “mudar” a rotina do prédio, uma vez que ele é avesso a mudanças, mas ao longo da história os dois desenvolvem uma bela relação de amizade. Futuramente, se juntam ao grupo mais duas personagens: Bernadette Rostenkowski que se tornará par romântico de Howard e Amy Farrah Fowler que desenvolverá uma relação com Sheldon.

Antes de tocarmos no foco principal deste texto: as relações contidas na série é necessário conhecer um pouco os principais personagens e entender a complexidade que foi atribuída a cada um deles

Sheldon Cooper é um dos personagens principais da série, é uma figura icônica conhecida por suas peculiaridades, inteligência excepcional e falta de habilidades sociais. Sheldon é um gênio em Física teórica, com um QI extremamente alto. Seu conhecimento é vasto e frequentemente desdenha aqueles que ele considera menos inteligentes. O personagem é muito ligado a rotinas e rituais, ele tem uma programação meticulosamente planejada, desde os horários para refeições até os momentos específicos para realizar certas atividades. Qualquer desvio de sua rotina pode causar desconforto e ansiedade para ele. Outra característica marcante é sua dificuldade em compreender e participar de interações sociais. Ele muitas vezes não entende sarcasmo, ironia e nuances nas conversas. Seu estilo de comunicação é muito direto e muitas vezes inapropriado. Sheldon muitas vezes coloca suas próprias necessidades e desejos acima dos outros, exibindo um grau limitado de empatia em relação aos sentimentos dos outros. Embora não seja explicitamente mencionado na série, muitos fãs e especialistas especularam que Sheldon pode ter características do Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), devido às suas características de personalidade e comportamento.

Leonard Hofstadter é outro personagem principal da série. Ele é um Físico experimental altamente inteligente e o melhor amigo de Sheldon e assim como seu amigo, Leonard é um cientista brilhante, com doutorado em Física experimental, trabalhando como pesquisador em uma a Universidade e lida com experimentos e estudos práticos, em contraste com a abordagem teórica do colega. Diferente de Sheldon, Leonard é mais sociável e tem um comportamento mais empático, ele é conhecido por ser um bom amigo, alguém disposto a ajudar os outros e fazer concessões para manter a harmonia no grupo. Leonard compartilha muitos dos interesses nerds do grupo, como quadrinhos, ficção científica e jogos de vídeo. Ele é um membro ativo dos encontros semanais de quadrinhos e jogos.

Howard é conhecido por suas excentricidades, estilo de vida peculiar e seu trabalho como engenheiro aeroespacial talentoso trabalhando na mesma Universidade que os colegas Leonard e Sheldon, sua especialidade é em sistemas de navegação e é alvo constante de piadas sobre ser Engenheiro e não possuir doutorado. Seu estilo de se vestir de modo considerado chamativo e muitas vezes extravagante combina com sua personalidade extrovertida. Outra característica marcante de Howard é seu flerte constante e suas tentativas de se apresentar como um “homem das senhoras”. Ele frequentemente faz comentários ousados e piadas de teor sexual, o que muitas vezes resulta em situações cômicas, uma vez que, para os atuais padrões de beleza masculina, ele não é considerado um modelo de beleza.

Rajesh Koothrappali, também conhecido como Raj, completa o quarteto de amigos da série. Raj é um astrofísico e trabalha no mesmo departamento da Caltech que seus amigos Leonard, Sheldon e Howard. Ele é conhecido por suas dificuldades em se comunicar com mulheres, especialmente quando está sóbrio, sofrendo de uma forma de mutismo seletivo que o impede de conversar com mulheres, exceto quando está sob a influência de álcool. Isso leva a situações cômicas e momentos constrangedores ao longo da série. Raj é frequentemente retratado como um indivíduo sensível e gentil. Ele valoriza a amizade e se preocupa com os outros, muitas vezes oferecendo apoio emocional a seus amigos em momentos difíceis. Se destacando, também, sua vida religiosa, pois Raj é de origem indiana, e sua cultura e religião são abordadas em vários episódios, isso inclui suas relações com sua família na Índia e como ele navega entre as expectativas culturais e a vida nos Estados Unidos. Assim como os outros personagens, Raj compartilha interesses nerds, como quadrinhos, ficção científica e videogames. Ele também tem um gosto pela moda e pelo luxo, muitas vezes exibindo roupas extravagantes e caras.

Sendo a primeira personagem feminina da série, Penny é uma garçonete aspirante à atriz e se torna vizinha de porta de Leonard e Sheldon. Ela é conhecida por sua personalidade extrovertida, carisma natural e senso de humor. Penny é amigável, acessível e em muitas ocasiões serve como uma figura de equilíbrio entre os personagens mais nerds e introvertidos.  Ela é uma personagem crucial para equilibrar a comédia da série, proporcionando um contraste entre o mundo acadêmico e a vida cotidiana. Sua jornada e interações adicionam camadas de humor e emoção à trama. Penny passa por uma jornada de autodescoberta e amadurecimento ao longo da série enfrentando desafios em sua carreira e vida pessoal, mas também desenvolve uma maior confiança em si mesma e toma decisões significativas em relação ao seu futuro.

Bernadette é introduzida na série como a namorada de Howard, eventualmente se tornando sua esposa. Ela é uma Microbiologista e é conhecida por sua voz aguda e aparência delicada. Bernadette é em muitas ocasiões subestimada devido à sua aparência fofa, mas ela frequentemente revela uma personalidade forte e assertiva. Mesmo sendo conhecida por sua doçura, também tem um lado sarcástico e até mesmo explosivo. Ao longo das temporadas, Bernadette passa por mudanças pessoais e profissionais, avançando em sua carreira, enfrentando desafios no trabalho e conciliando com a vida doméstica e a maternidade.

A última personagem fixa anexada à série, Amy é uma Neurobióloga que se torna amiga próxima do grupo de nerds. Sua profissão a coloca em um campo relacionado ao dos outros personagens e ela frequentemente se envolve em conversas acadêmicas com eles, sendo conhecida por sua personalidade peculiar e às vezes excêntrica. Inicialmente aparece como alguém com dificuldades em entender e expressar emoções, mas ao longo da série, ela se desenvolve emocionalmente e se torna mais conectada com seus sentimentos e com as pessoas ao seu redor. Amy passa por um notável desenvolvimento pessoal, aprendendo a expressar suas emoções e a se tornar mais independente. Ela cresce como cientista, amiga e a pessoa que consegue se manter ao lado de Sheldon mesmo em seus momentos mais difíceis.

                                                                                                                                          Warner Bros Company

 Poster de Divulgação: Warner Bros.

            A série conta ainda, com vários personagens secundários que adicionam momentos dramáticos e humorísticos às histórias individuais. As relações de amizades, amores românticos, conjugalidade, maternidade, trabalho, relações parentais. Tudo isso sendo distribuído entre os próprios dramas pessoais.

            As relações de amizades entre os rapazes que, em alguns momentos percebemos amor, mas também hostilidade e agressividade, piadas que envolvem a relação de trabalho, sexismo, etnia e religião foram bastante exploradas durante a história, de modo geral, sempre, ou quase sempre resolvidas através do desenvolvimento de conversas que acrescentaram seriedade à série.

Sheldon e Leonard, por exemplo, são melhores amigos, dividem o mesmo espaço e precisam se adequar um ao outro, sendo o primeiro uma pessoas com poucas habilidades sociais e rigidez em suas rotinas sendo necessário descrever tudo em “acordos escritos” para que nada fuja ao seus padrões de normalidade o que faz com que Leonard tenha que desenvolver cada vez mais sua tolerância. Tolerância essa que aprendeu desde a infância por ter sido criado por uma mãe exigente e nada carinhosa. Durante a história, percebe-se que a carência afeto e afago materno é permanente sendo “resolvido” em uma das últimas cenas do último episódio da série em que o filho finalmente consegue um abraço afetuoso de sua mãe.

            Em se tratando de relações parentais, observa-se que são diversos tipos de construção de maternidade, a mãe de Leonard sendo fria e distante o que se destoa totalmente da mãe de Howard, que mesmo nunca tendo aparecido em pessoa na história, desenvolve uma relação de codependência com o filho sendo justificado pelo fato de ter sido abandonado pelo pai na infância. Mesmo que sua mãe traga elementos de humor para a história é nítido como ela manipula o filho para que sempre fique junto a ela. Já a mãe de Sheldon é uma cristã praticante e também superprotetora que não aceita o fato do filho ser um cientista e não comungar de suas crenças religiosas. A mãe de Amy é a típica “mãe devoradora” que quer dominar a filha. Os pais de Raj não aceitam muito bem o fato de ele ter saído do país e se envolver com mulheres de outra etnia.

            As relações amorosas também são desenvolvidas no decorrer da história com toques de humor e drama mas que nos ensinam sobretudo que estas relações são construídas com base em tolerância e trocas. Algumas situações nos deixam a impressão que um “lado” sai perdendo, mas analisando o contexto geral vemos que existe sim uma relação de trocas. O relacionamento entre Sheldon e Amy é um exemplo disso.

            Sheldon é uma pessoa de padrões rígidos, tem aversão à mudanças, o contato físico é dispensável e relações sexuais são para ele é algo banal e desnecessário. Já Amy, embora tenha sido construída pelo estereótipo da “inteligente e esquisita” é muito mais pessoal, pensa e deseja sexo. Os dois se juntam em relação inicialmente de amizade e trocas científicas e desenvolvem a relação amorosa através do tempo. Amy faz tudo para agradar Sheldon que raramente retribui como ela gostaria, mas retribui como ele mesmo consegue devido às suas limitações. Após anos juntos ele finalmente se rende ao sexo e ao casamento, sem contudo, deixar de ser quem ele é.

            Leonard e Penny formaram o casal menos provável mas de muito carisma. Ele, cientista e sem traquejo social, ela garçonete e extrovertida. Os dois desenvolveram a relação com idas e vindas durante todo o percurso da série provando para o público que duas pessoas tão diferentes conseguem se dar bem em relacionamento amoroso. Ao contrário da união Amy/Sheldon entre Penny e Leonard é ele quem mais tende a ceder no relacionamento, embora tenham um final previsível com a gravidez de Penny que já havia deixado claro ao longo da história não ser um grande sonho.

            Já o relacionamento de Howard e Bernadette foi marcada pelos problemas habituais da conjugalidade. Inicialmente, pela influência da mãe dele, já que mantinham uma relação disfuncional e não queria que o casal vivesse em outra casa. Após, o fato de ela ganhar bem mais que ele e ainda ter que ser a responsável por toda a manutenção das tarefas domésticas, algo que a sobrecarrega. Mesmo assim, ela sempre demonstra admiração pelo marido e sempre estava ao seu lado quando ele sofria com as piadas dos amigos por ser o único que não tinha doutorado.

            Raj foi o único do grupo a não conseguir uma relação duradoura, mostrando que relacionamento amoroso nem sempre fará parte da vida. Ele é um imigrante com uma extrema timidez e tem muitas dificuldades até mesmo para falar com mulheres até chegar a ponto de concordar com um casamento arranjado por seus pais como é costume em sua cultura, algo que não deu certo e Raj terminou a história sozinho.

            Estas histórias nos mostram que relacionamentos são difíceis e necessitam, além de amor, tolerância e o diálogo constantes. Algo que foi mostrado durante o desenvolvimento de todos os relacionamentos contidos no decorrer da história. Em alguns momentos, podemos não concordar com certas atitudes e pensar que um saia ganhando em decorrência do outro, o que não se constitui como uma verdade, já que em todas as ocasiões de conflitos os personagens conseguem dialogar e resolver as questões que geravam estes conflitos.

            Enfim, relações humanas são de extrema dificuldade e esta série nos mostra, com muito humor e sensibilidade que se relacionar com outras pessoas é complexo e que conflitos e desajustes sempre irão ocorrer, e que manter relacionamentos, de qualquer natureza, há uma necessidade de utilizar uma das maiores armas que o ser humanos possui, a comunicação.

Referências:

ANAZ, S. A. L. CERETA, F. M. Ciência e tecnologia no imaginário de The Big Bang Theory: das imagens arquetípicas à atualização de mitos e estereótipos na “Era do Conhecimento”. Revista FAMECOS Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 647-674, maio-ago. 2014. Disponível em:  https://www.redalyc.org/pdf/4955/495551016013.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

FRANCO OLIVEIRA, A. C. TONUS, M. Bazinga! Uma Análise Neotribal Da Sitcom The Big Bang Theory. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – São Paulo – SP – 12 a 14 de maio de 2011. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2011/resumos/R24-0340-1.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

SOUSA, V. d. A Construção da Identidade Feminina no Texto Digital Transmédia de The Big Bang Theory. ENTRELETRAS, Araguaína/TO, v. 9, n. 2, jul./set. 2018 (ISSN 2179-3948 – online). Disponível me: https://run.unl.pt/bitstream/10362/65045/1/5915_Texto_do_artigo_28741_1_10_20181028.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

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Sobrecarga emocional dos cuidadores de crianças com TEA

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Os altos e baixos da criação e do cuidado são muitos, especialmente para os pais de filhos TEA .

Os vários desafios que os cuidadores de TEA tem que enfrentar.

Arthur Gabriel  (Acadêmico de Psicologia) – arthur.gabriel@rede.ulbra.br

Cuidar de filho não é fácil, não tem um manual, uma vídeo aula, um curso… Com certeza é um grande desafio para todos, pois envolve pensar na vida financeira, vida conjugal, ciclo de apoio, saber em qual escola a criança vai estudar, com quem vai ficar, quem vai cuidar, e inúmeras outras coisas, isso tudo traz uma sobrecarga muito grande para os cuidadores de crianças típicas, e ainda mais para os cuidadores de crianças atípicas.

Um dos principais desafios para esses cuidadores é a falta de informação sobre o TEA ou até mesmo as ideias erradas, essas ideias erradas levam a uma discriminação e preconceitos, algumas dessas ideias são: Todas as pessoas com autismo não falam, pessoas com autismo não conseguem se relacionar, e muitas outras ideias que acabam por excluir essas pessoas. Por esses e vários outros motivos é preciso buscar informações sobre o assunto, buscar conversar e interagir com grupo de pessoas que passam pela mesma questão.

Primeiramente para ser diagnosticado com espectro autista, o indivíduo deve ter dificuldades em duas áreas: eles devem ter problemas duradouros na comunicação e interação social. Isso inclui dificuldade em empatia, linguagem corporal, expressão facial e contato visual; Em segundo lugar, eles devem exibir padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades, como insistência em rotinas rígidas, fixação em certos tópicos, hipersensibilidades sensoriais como sensibilidade ao ruído e às vezes hipersensibilidade como um alto limiar de dor.

Sempre buscando a ajuda de um profissional, pois é ele quem pode dar o diagnóstico, visando que existem transtornos que afetam também a linguagem e o desenvolvimento verbal, como por exemplo, a pessoa/criança que não se desenvolve verbalmente por ter dificuldades auditivas, outro exemplo é a hiperlexia que traz consigo uma alta capacidade de ler mesmo sendo a criança muito nova, ou também problemas de processamento sensorial ou até mesmo o TDAH, pois muitas dessas características apresentadas nesses transtornos podem também estarem presentes no espectro do autismo.

Visando isso os cuidadores de crianças com TEA podem procurar instituições de apoio que oferecem suporte como o site Autismo e Realidade, que disponibilize uma lista de instituições e entidades que oferecem apoio gratuito às famílias de pessoas com autismo ou a ONG espaço azul que oferece suporte aos pais; esses cuidadores podem buscar um suporte na psicoterapia que é muito importante, pois ajuda-os a lidar com seus sentimentos e dificuldades em lidar com a criança, sendo que a intervenção para os pais e cuidadores é tão necessária quanto à intervenção para os pacientes. A regra vale tanto para a intervenção individual quanto para os grupos de pais oferecidos pelos serviços que acompanham os pacientes. Este é o espaço para que pais e cuidadores sintam-se à vontade para abordar suas angústias, incertezas e experiências. Além disso os cuidadores de autistas possuem uma série de direitos que vale a pena buscar conhecê-los também.

                                                                                                                         https://pixabay.com/

É necessário que os cuidadores de TEA procurem ajuda de profissionais da área, para auxilia-los.

Outra dificuldade muito relevante é a de que os pais precisam lidar com a perda do filho imaginado e aceitar o filho real, sendo isso comparado a um luto, pois quando se espera um filho, é comum alimentar expectativas e sonhos sobre como será a criança, como ela vai se desenvolver, brincar, engatinhar, falar e se relacionar com os pais, parentes, amigos e pessoas próximas. Quando estes sonhos e expectativas são atravessados pelo diagnóstico de TEA, há um processo de luto a ser vivenciado. É preciso perder o filho imaginado para que seja possível aceitar o filho real e lidar com o novo dia a dia que se apresenta, visando que o filho possa ter necessidades especiais e requerer maiores cuidados, e a terapia ajudará muito nisso.

Entre muitas outras dificuldades que os cuidadores apresentam, tem também a falta de cuidado consigo mesmos e perdendo assim sua identidade. Eles podem se sentir sobrecarregados e perder o equilíbrio entre suas responsabilidades como cuidadores e suas próprias necessidades e passam a viver integralmente para o filho, para evitar isso é preciso continuar o ciclo de amizade que antes tinham, e também separar dias na semana em que possam priorizar as suas preferências.

Lembre-se de que o diagnóstico de TEA não define uma pessoa. Cada pessoa é única e tem habilidades e talentos únicos, por isso que é chamado de espectro, por abranger uma variada série de diferenças e com o suporte certo, as pessoas com TEA podem viver vidas plenas e significativas.

Em conclusão, ser pai ou mãe de uma criança autista apresenta desafios únicos. A necessidade de compreender o autismo, a busca por terapias adequadas, a luta por direitos na educação e saúde, e o gerenciamento do estresse diário são apenas algumas das dificuldades enfrentadas. No entanto, apesar desses desafios, muitos pais encontram alegria e satisfação em suas jornadas parentais. Eles veem o crescimento e o progresso de seus filhos, celebram suas conquistas, por menores que sejam, e se tornam defensores apaixonados do autismo. É uma jornada de altos e baixos, mas é também uma jornada de amor incondicional e aprendizado constante.

 

 

Referências:

 

Verdades e Mitos sobre o autismo. Neurosaber.2021. Disponível em:

https://institutoneurosaber.com.br/. Acesso em: 06/09/2023

Luto pelo Filho Idealizado: Pais de Crianças com TEA   | Lima | Revista Eletrônica da Estácio Recife (emnuvens.com.br)

LIMA, Jonata. Luto pelo filho idealizado: pais de crianças com TEA. Revista Eletrônica da Estácio Recife. V.20, n.1,P. 1-12,novembro 2021. Disponível em: https://reer.emnuvens.com.br/reer/article/view/636. Acesso em: 12/09/23

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Saúde mental dos cuidadores de autistas

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É frequente que os pais e cuidadores de crianças com TEA passem a vivenciar emoções de solidão e autorrecriminação.De acordo com a estimativa dada pelo IBGE, no Brasil existem cerca de 2 milhões de autistas(2023)

Nas famílias que têm crianças diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), é comum que os pais e cuidadores comecem a experimentar sentimentos de isolamento e culpa. Esses sentimentos surgem devido à pressão associada ao diagnóstico e à autocobrança de tentar acompanhar e aliviar os sintomas do TEA. Outra característica frequentemente observada é o isolamento social, que se torna necessário para garantir os cuidados adequados à criança, intensificando a sensação de impotência e, consequentemente, a culpa.

De acordo com Cadman et al. (2012), após a detecção inicial de sinais e sintomas ou comportamentos atípicos, os familiares e cuidadores de crianças com TEA tendem a experimentar níveis elevados de estresse em comparação com as famílias de crianças com desenvolvimento típico, o que, por sua vez, afeta a qualidade de vida familiar.

Além das emoções e desafios mencionados, a falta de informação também desempenha um papel significativo. Muitas vezes, a falta de conhecimento leva a buscas desesperadas, levando os cuidadores a submeterem as crianças a tratamentos não regulamentados e/ou exaustivos na esperança de reduzir os sinais e sintomas. A ignorância também pode resultar na recusa dos responsáveis em seguir o tratamento recomendado, criando assim um ciclo de impactos negativos na saúde e bem-estar da criança e da família.

É notável que houve avanços significativos na identificação precoce e no diagnóstico do TEA no Brasil. No entanto, ainda se observa uma lacuna considerável em relação ao apoio oferecido às famílias após o diagnóstico. Como mencionado anteriormente, as crianças com TEA exigem mais atenção e cuidados de seus responsáveis devido às suas dificuldades em realizar tarefas comuns para suas idades e estágios típicos de desenvolvimento. Isso resulta em um alto nível de dependência por parte dessas crianças.

                                                                                                           Fonte: seguireaba

Ainda se observa uma lacuna considerável em relação ao apoio oferecido às famílias após o diagnóstico.

Conforme destacado por Ebert, Lorenzini e Franco da Silva (2015) e Bosa (2006), o diagnóstico de TEA muitas vezes representa uma reviravolta na vida da família, exigindo uma reorganização para atender às necessidades específicas do filho. Muitas vezes, os planos e expectativas anteriormente estabelecidos pelos pais são deixados de lado.

De acordo com os autores Bronfenbrenner e Morris (2006), os pais se tornam uma parte crucial de uma equipe multifacetada, desempenhando papéis de cuidadores, modelos, disciplinadores e promotores da socialização de seus filhos. Eles ocupam uma posição central na estimulação do desenvolvimento dos filhos. Portanto, não é surpreendente que o diagnóstico de TEA seja reconhecido como uma fonte de estresse para os pais, que geralmente experimentam níveis mais elevados de estresse em comparação com pais de crianças com desenvolvimento típico e atípico de acordo com as pesquisas de Cadman, Hayes e Watson (2012).

Além disso, Sá e Rabinovich (2006) ressaltam a importância do apoio às famílias após o diagnóstico para facilitar os estágios previsíveis de luto. Inicialmente, ocorre o choque, acompanhado de choro, sentimentos de desamparo e desejo de escapar da realidade. Em seguida, vem a fase de negação e questionamento sobre o diagnóstico. Posteriormente, surgem sentimentos de tristeza e raiva, seguidos pela aceitação da condição e, por fim, pela reorganização da família, que implica na reintegração e reconhecimento da situação do filho.

Jerusalinsky (2007) também aborda esse aspecto do luto após o diagnóstico, que ocorre devido à quebra das expectativas de ter uma criança típica, muitas vezes concebida antes mesmo do nascimento – uma criança completamente saudável, sem deficiências ou necessidades especiais. Isso pode causar sentimentos de fracasso e culpa nos pais.

Pesquisas de Gomes (2015) destacam, ainda, uma diferença de gênero nesse contexto, com as mães apresentando níveis mais elevados de estresse em comparação com os pais de crianças com TEA. Schmidt e Bosa (2007) também revelaram que o alto nível de estresse está relacionado com a demanda intensiva de cuidados à criança, isolamento social e falta de apoio. Essas autoras identificaram que as tarefas cotidianas, como vestir-se, higiene pessoal, sair de casa e as barreiras de comunicação da criança, estão entre os fatores que contribuem para a sobrecarga materna.

                                                                                                         Fonte: gettyimages

Pesquisas apontam níveis mais elevados de estresse em mães em comparação com os pais de crianças com TEA. 

Em um estudo epidemiológico, Lecrubier et al. (2002) encontraram taxas elevadas de depressão (68%) e ansiedade generalizada (28%) em cuidadores de crianças com autismo na Europa Ocidental e em países em desenvolvimento. Essas taxas estavam relacionadas a desafios sociais significativos e eventos estressantes. Resultados semelhantes foram observados em Taiwan por Shu, Lung e Chan (2000), com uma prevalência de 33% de transtornos psiquiátricos entre as mães de crianças com TEA. Os autores consideram a condição autista da criança como uma fonte de sobrecarga emocional, física e financeira para as mães e para a família.

Essas situações frequentemente deixam as mães em uma posição de vulnerabilidade, em que são responsáveis por dedicar-se integralmente às crianças, além de cuidar da casa e da família. O tempo que sobra para o autocuidado, interações sociais e carreira pessoal é escasso. Além disso, essas mães vivem em constante preocupação sobre o futuro de seus filhos quando não puderem mais desempenhar o papel de cuidadoras. Conforme afirmado por Nunes e Santos (2010), até mesmo o tempo em que as crianças estão na escola ou em clínicas especializadas é frequentemente dedicado às tarefas domésticas, o que resulta em isolamento social e limitações significativas em suas vidas.

Referências

EBERT, M., LORENZINI, E. F. Mothers os children with autistic disorder: perceptions and trajectories. (2015)

BACKES, Bárbara; Identificação dos primeiros sintomas do autismo pelos Pais. Disponívell em <https://www.scielo.br/j/ptp/a/9VsxVL3jPDRyZPNmTywqF5F/?format=pdf&lang=pt>. Acesso em: 16 de maio de 23.

MINETTO, M. de F., CREPALDI, M. A., BIGRAS, M., & MOREIRA, L. C.. (2012). Práticas educativas e estresse parental de pais de crianças pequenas com desenvolvimento típico e atípico. Educar Em Revista, Disponível em <: https://doi.org/10.1590/S0104-40602012000100009 >. Acessado em 12 set. 2023.

OLIVEIRA, Isaura Gisele de; POLETTO, Michele. Vivências emocionais de mães e pais de filhos com deficiência. Rev. SPAGESP,  Ribeirão Preto ,  v. 16, n. 2, p. 102-119,   2015 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-29702015000200009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  13  set.  2023.

SILVA, D. F. D.; ALVES, C. F.. Aceitação Familiar da Criança com Deficiência: Revisão Sistemática da Literatura. Disponível em <: https://doi.org/10.1590/1982-3703003209337>. Acesso em 13 set. 2023

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Intervenção naturalística à neurodiversidade

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O Transtorno do Espectro Autista, o Transtorno de Déficit de Atenção, entre outros transtornos e atrasos no desenvolvimento podem ser, e graças ao desenvolvimento científico, são cada vez mais descobertos logo cedo, nos primeiros anos de vida, o que pode impactar de forma significativa na vida, e no desenvolvimento dos indivíduos com estes atrasos no desenvolvimento, ou desenvolvimento atípico. 

No entanto, como o diagnóstico se torna cada vez mais comum na sociedade, e encontramos também cada vez mais adultos sendo diagnosticados de forma tardia, os tratamentos mais diversos tem se proliferado em busca de ajudar no desenvolvimento de forma efetiva e eficaz, para dar mais qualidade de vida para estar crianças, e os tratamentos mais encontrados são, fonoaudiologia, tratamento medicamentoso, psicoterapia individual, musicoterapia, terapia ocupacional, fisioterapia, Padovan, e o tratamento intensivo com terapia ABA (Análise do comportamento Aplicada). 

Abordando um pouco acerca desta intervenção intensiva onde as crianças têm terapia em geral, todos os dias da semana, cerca de uma a duas horas por dia, a variar de acordo com a necessidade específica de cada criança, de suas necessidades, o ABA é comprovado como a intervenção mais eficaz no desenvolvimento de crianças atípicas. Porém dentro desta ciência existem diversos modelos de abordagens para esse tipo de terapia. Uma delas, é muito utilizada é o treino de tentativas discretas. 

O DTT (Treino de Tentativas Discretas) decompõe os comportamentos, para poder ensiná-los de forma isolada (Smith, 2001). A aplicação se dá por meio de um número predeterminado de tentativas, com uma contingência de três termos, antecedente, resposta e consequência, e conforme Ghezzi (2007), o DTT é um procedimento de ensino onde o aplicador tem total controle sob as oportunidades de aprendizado, manipulando variáveis para que se possa estabelecer um aprendizado de novas habilidades.

Além deste modo de intervenção com tentativas discretas, existem os modelos naturalísticos, como o Denver, que ao invés de o aplicador ter controle total do atendimento, no modelo Denver o terapeuta segue a criança e enquanto faz brincadeira da criança, faz a aplicação dos programas, este modelo se baseia em intervenções naturais que em envolvem a rotina familiar, onde o vínculo com a criança é de suma importância, a ponto de que a própria brincadeira seja o reforço da criança, não se fazendo necessário o uso de reforçadores externos, como outros brinquedos, aplausos.

Por ser um modelo de intervenção precoce e que se assemelha a rotina da criança, apresenta também resultados significativos, estas crianças podem ter seus sintomas minimizados, pois a plasticidade cerebral nesta fase é ainda mais latente, e nas últimas décadas foi percebido que as intervenções precoces reduziram a gravidade da linguagem e o comportamento intelectual e aceleraram a aprendizagem das crianças (ROGERS, 2014).

A intervenção Dever pode ser muito eficaz, e com aprendizado que dificilmente as crianças voltem a perder as habilidades adquiridas, por serem associadas a emoções positivas criam conexões neurais muito mais resistentes, e tendem a ter crianças com menos comportamentos inapropriados pelo vínculo terapêutico e forma de trabalho.


Referências 

GHEZZI, Patrick M. Discrete trials teaching. Psychology in the Schools, v. 44, n. 7, p. 667-679, 2007.

ROGERS, Sally J.; VISMARA, Laurie. Interventions for infants and toddlers at risk for autism spectrum disorder. Handbook of Autism and Pervasive Developmental Disorders, Fourth Edition, 2014.

SMITH, Tristram. Discrete trial training in the treatment of autism. Focus on autism and other developmental disabilities, v. 16, n. 2, p. 86-92, 2001.

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Uma Advogada Extraordinária e a socialização de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo

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A série sul-coreana “Uma Advogada Extraordinária”, lançada em julho pela Netflix, se tornou uma das mais vistas da plataforma no Brasil e no âmbito global e já está com sua segunda temporada confirmada pelo streaming, com lançamento previsto para 2024. Com uma memória fotográfica que impressiona o público, alto QI de 164 e um amor infinito por baleias que caracterizam uma função essencial no seu processo de pensamento, a trama apresenta ao telespectador o mundo das baleias de Woo Young Woo, uma advogada de 27 anos que foi diagnosticada com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) na infância.

Caracterizado como um transtorno neurológico associado ao desenvolvimento, o TEA causa prejuízos na comunicação, interação social e comportamental. Segundo SCHWARTZMAN, “o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por alterações qualitativas e quantitativas na comunicação, interação social e no comportamento, em diferentes graus de severidade (SCHWARTZMAN, 2003, 2011; SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2013; APA, 2013).

O K-drama conta a história de Woo Young Woo, que se formou em Direito com o destaque de melhor aluna na renomada Universidade Nacional de Seul e, após vivenciar obstáculos e preconceitos para conseguir um emprego, começa a trabalhar em um renomado escritório de advocacia da Coreia do Sul e passa a enfrentar as dificuldades características do TEA no processo de socialização. No escritório, começa a ser vista como estranha, solitária, fraca e incapaz, sendo alvo de discriminação e perseguição.

Fonte: Divulgação Netflix

Ainda que siga uma característica romantizada das produções coreanas, a série busca explanar de forma respeitosa, sensível e educativa as características do TEA, como a repetição, seletividade alimentar, aversão ao toque, comportamentos repetitivos e restritivos, dificuldade em interações sociais e aversão à exposição ao barulho. Woo Young Woo possui inteligência elevada na área do Direito, sabe todas as leis e seus artigos na ponta da língua e tem obsessão por baleias, sendo, por muitas vezes, o único assunto que lhe interessa conversar, características da Síndrome de Asperger, um estado do espectro autista.

No desenrolar da série, a brilhante Woo Young Woo, à sua maneira com seu mundo de baleias e conhecimento esplêndido em assuntos que são suas especialidades, torna-se uma profissional essencial no escritório pela sua inteligência e seu olhar único para a resolução dos casos, geralmente percebendo detalhes que os outros advogados não constatam, o que a torna peça fundamental para a resolução dos casos, fazendo com que a empresa os ganhe nos tribunais.

A adaptação funcional da protagonista também está ligada à sua relação com o pai que a série retrata. Conforme ASSUMPCAO E SPROVIERI (2001), a forma como a família lida será influenciada pela aceitação, interpretação e pela maneira com a qual os indivíduos lidam com os desafios aos quais são submetidos. Um bom funcionamento psicossocial representa um bom quadro de equilíbrio na coesão e adaptabilidade. Ou seja, uma boa capacidade de adequação da família frente às situações potencialmente estressantes.

Temple Grandin / Fonte: encurtador.com.br/xFJN2

Baseada em fatos reais, a trama jurídica foi inspirada na cientista americana, zootecnista e psicóloga, Temple Grandin, que também foi diagnosticada com TEA na infância e ficou reconhecida mundialmente por revolucionar as práticas para o tratamento de animais em fazendas e abatedouros que sofrem com a agropecuária, lutando e contribuindo para maior bem-estar deles. Em uma entrevista, Temple Grandin disse: “eu penso em imagens, eu não penso em linguagem falada. A mente autista se prende aos detalhes” e defendeu que o mundo precisa de todos os tipos de mentes.

A adaptação pessoal e profissional da protagonista que a série explana conquista e envolve o público, causando um misto de emoções acerca das revelações e descobertas sobre a mãe, o amor e as relações. A mensagem que passa é que o maior objetivo é desconstruir preconceitos de forma empática, pedagógica e promover reflexão em relação a imprescindibilidade da inclusão.

Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” – Paulo Freire

Referências

SPROVIERI, M. ASSUMPÇAO JR, F.B. Dinâmica familiar de crianças autistas, Arquivos da Neuropsiquiatria, São Paulo, vol. 59(2-A): p. 230-237, 2001.

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