Um corpo que sente e é sentido: a experiência de transitar a vida durante e depois de um transtorno alimentar

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Um relato do começo da minha adolescência com anorexia.
Atenção: esse texto contém relatos sensíveis sobre transtornos alimentares.
Autoria anônima

A adolescência é marcada por diversas mudanças fisiológicas e psicológicas, além de ser uma fase em que a influência das redes sociais é notável. Tendo isso em vista, muitas meninas adolescentes são atingidas pelas demandas da sociedade com relação ao corpo. Neste contexto, o desenvolvimento de transtornos alimentares pode ser um risco, uma vez que a cultura da magreza é posta como algo essencial para o valor feminino e isso é acentuado durante a adolescência.
Segundo Silva e Daniel (2020) os transtornos alimentares (TAs) são condições psiquiátricas determinadas por uma alteração crítica do comportamento alimentar, o que pode comprometer a saúde física e psicossocial. O transtorno que será tratado aqui é a Anorexia Nervosa (AN), que pode ser descrita como um distúrbio no qual o indivíduo faz uma restrição na ingestão calórica em relação às suas necessidades diárias, chegando até a parar de comer completamente. O temor persistente com o ganho de peso e a desordem na percepção do próprio corpo é uma característica observada em pessoas que apresentam esse transtorno.

Também existe a bulimia nervosa, que é caracterizada quando o indivíduo tem episódios regulares de compulsão alimentar, desordem na percepção do corpo e comportamentos de compensação pelo alimento ingerido durante a compulsão alimentar. Esses transtornos podem se tornar mais evidentes durante a adolescência devido às mudanças citadas.

Eu fui uma das adolescentes atingidas pela anorexia nervosa, me vi envolvida em demandas que nem sempre foram minhas e recorri ao que estava mais próximo de mim , ou seja, as redes sociais. Quando eu estava no auge dos meus 12 anos comecei a encontrar defeitos no meu corpo e não sabia o que fazer com eles, pra onde levar, como resolver? Vi no Tumblr a saída ideal: parar de comer. Claro que não consegui parar totalmente de um dia para o outro, mas fui aos poucos.

Comecei a não tomar café da manhã, algo que eu gostava tanto, para um sacrifício maior. Tudo o que eu estava fazendo fazia sentido na minha cabeça, se eu não tomar café meu corpo vai ficar com o aspecto mais magro por mais tempo, mas logo isso não foi o suficiente. Depois disso fui procurar dicas em site da internet de como poderia emagrecer mais rápido e encontrei páginas, perfis que além de dar essas dicas postavam fotos de meninas magérrimas (anoréxicas) e de como elas estavam felizes pois conseguiram atingir o objetivo maior, o único que importava, que era o de ser magra.

Parti de não tomar café da manhã para tomar somente água com gelo quando sentia fome e a almoçar sozinha, para que tivesse a cozinha somente para mim e pudesse jogar a maior parte da comida que estava no prato fora. Isso tudo trouxe consequências, me sentia fraca o tempo inteiro, estava irritada, dormia muito e me sentia terrivelmente triste, claro que eu achava que era porque eu não estava magra ainda mas era por falta de nutrientes. Isso não passou despercebido pela minha família.

Meus pais estavam preocupados comigo porque além de estar irritada o tempo inteiro eu estava engordando. Na época isso foi um dos motivos de ter continuado porque pensei como assim não está funcionando? Ficar sem comer por horas e saciar minha fome em “besteiras” parecia o caminho certo, o que mais eu precisava fazer? Recorri novamente à minha fiel plataforma social e procurei mais afundo dicas, formas, jeitos milagrosos de não sentir fome e finalmente emagrecer.

Nisso encontrei novos objetivos para mim que eram como metas, primeiro eu preciso que os ossos da minha clavícula estejam à mostra, depois que minhas pernas não encostem uma na outra, que os ossos das minhas mãos estejam mais acentuados e assim vai. Criei essa rotina de fantasiar meu corpo ideal constantemente quando estava com fome e comer muito pouco quando era obrigada. 

Para as anoréxicas, os limites do corpo quase se apagam diante das circunstâncias em que vivem, do cotidiano de seus relacionamentos, dessa rede de relações concretas e afetivas em que estão submersas. Toda condição e situação que a rigor está matizada nessa imagem disforme que a anoréxica tem de si mesma e que se expressa pela insatisfação com o tamanho do seu corpo e a perda de peso (GIORDANI, 2006).

Depois de um tempo passei a notar pequenas mudanças, meu anel que usava todos os dias não ficava mais no meu dedo, meu cabelo começou a cair, se eu me machucava a ferida demorava o dobro do tempo para cicatrizar, meus ossos da clavícula finalmente começaram a aparecer e o pior de tudo, não conseguia dormir durante a noite. Em meio a essas mudanças, eu sentia vontade constante de não estar viva e não ter que lidar com meu próprio corpo, não queria mais ter os braços que eu tinha, o rosto que eu tinha e os peitos que eu tinha.

Quando aqueles ao meu redor notaram que eu estava mais magra me elogiavam e aquilo alimentava a minha fome, eu pensava que precisava ficar mais magra ainda porque só assim eu seria feliz, eu teria notas boas, eu teria mais atenção dos amigos e vestiria roupas mais bonitas. Além de notar minha nem tão repentina magreza, minha família notou a irritação, os fios de cabelo que eu deixava para trás e a tristeza aos poucos me consumindo.

Em um dia que eu guardei comigo eu fui passear na chácara do meu tio e não tinha me sentido bem daquela forma em muito tempo, peguei sol, tomei banho no lago e fiquei longe do celular. Na volta fui olhando a natureza e sentindo o vento no rosto pensei que talvez a vida não fosse somente sobre o nosso corpo, sobre ser magra, talvez eu poderia pensar em outras coisas. Quando voltei para casa a realidade bateu no peito e senti que estava traindo tudo aquilo que “acreditava” e todas aquelas pessoas que eram da minha comunidade de anoréxicas. 

Enquanto tudo isso acontecia eu já estava mais velha, com 14/15 anos e sentia que estava entrando em um buraco sem fundo, o sentimento de não me encaixar e de ter que emagrecer diminuiu e a tristeza tomou conta. Talvez foi uma consequência do que eu fazia antes ou de onde eu navegava pela internet mas me vi nesse lugar diferente mas muito parecido com antes. 

Minha recuperação só começou porque enquanto eu estava pesquisando sobre como emagrecer ou como não existir mais de forma menos dolorosa eu também encontrava posts que diziam que eu poderia melhorar, que eu precisava de ajuda e que ser magra não é tudo. Procurei ajuda profissional quando senti que não aguentava mais, ou era isso ou não era mais nada. 

Enquanto ia melhorando com a ajuda de medicação, psicóloga e dos meus amigos foi caindo a ficha do dano que eu tinha feito no meu próprio corpo, eu não lembrava de coisas que tinha estudado, não lembrava de acontecimentos importantes e menos cabelo e mais cicatrizes. Apesar de me sentir melhor, ainda existia uma voz na minha cabeça que dizia que eu precisava emagrecer, não era o suficiente ser feliz e me sentir bem, eu precisava daquilo para a minha vida fluir melhor.

Fui crescendo, melhorando, comendo e consequentemente engordando, era uma sensação estranha estar bem e ainda assim não ser magra. Atribui meu peso novo a minha felicidade e ao estar bem com o meu corpo e cheguei a conclusão que quanto mais magra eu era mais triste eu estava e vice versa, isso ia contra tudo o que as pessoas na minha comunidade acreditavam então larguei de vez o aplicativo, exclui todas as fotos de corpos magros que tinham no meu celular e segui a vida. 

Hoje enquanto adulta vejo o real dano que tudo isso fez na minha vida, passei por coisas que ninguém deveria passar e pensei em diversas formas de destruir o meu corpo pouco a pouco, mas ao mesmo tempo me perdoei, porque eu não sabia pra onde jogar a cobrança da sociedade e era muito nova para entender completamente o que estava acontecendo.

A voz que diz que preciso ser magra ainda ecoa dentro de mim, ainda me pego com hábitos alimentares péssimos, me pergunto de onde eles vem e encontro a resposta na adolescente de 15 anos que absorveu tudo o que a cultura da magreza tinha para dar para ela. Mas encontrei pessoas que passaram pelas mesmas dificuldades, aos trancos e barrancos também se recuperaram e hoje temos o que pode ser chamado de rede de apoio para quando tudo isso voltar. 

A influência que as redes sociais tinham sobre mim era imensa, eu estava me vendo como alguém no mundo e me deparei com defeitos e erros que nem sequer existiam visto que eu estava mudando e passando por um processo natural dos seres humanos. Eu me alimentava de ódio pelo meu corpo e por todos aqueles que se pareciam comigo, sem ver o que estava perdendo do começo da adolescência e comprometendo o futuro.

Se você se identificou com esse relato, saiba que é possível se sentir melhor. Busque ajuda e se acolha junto aos seus… você não está só. Abaixo estão as informações sobre como buscar ajuda. Acesse: https://www.wannatalkaboutit.com/br/ e busque por ajuda <3 

Referências

DA-SILVA, Giulia Gomez; DANIEL, Natália Vilela Silva. Relação do uso de redes sociais com risco de transtorno alimentar e insatisfação corporal em adolescentes escolares. Artigo Original,[s. l], p. 1-9, 2020.

GIORDANI, R. C. F.. A auto-imagem corporal na anorexia nervosa: uma abordagem sociológica. Psicologia & Sociedade, v. 18, n. 2, p. 81–88, maio 2006.

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A pós-modernidade e seus impactos na saúde mental

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A transição da modernidade para a pós-modernidade vem sendo uma temática bastante estudada e debatida no âmbito da Sociologia, Filosofia, Psicologia e outras áreas do conhecimento. Esses estudos surgem a partir da perspectiva de compreender o ponto de vista individual e coletivo e as transformações que ocorrem na sociedade.

A pós-modernidade é o nome denominado para o momento histórico que estamos vivendo, tempos de ruptura de fatos socioculturais da modernidade e do surgimento de novos, assim, a modernidade e a pós-modernidade se complementam e se contrapõem. Conforme apresenta Goergen (1997, p.63 apud Gatti, 2005, p. 602), “modernidade e pós-modernidade não se encontram numa relação de superação de uma pela outra, mas numa relação dialética”.

A juventude que passa por esse momento de transição afeta e é afetada por esse novo cenário, cada indivíduo é responsável pelo seu próprio progresso através de maneiras imediatistas. Nesse contexto, surge o “neo-individualismo” pós-moderno, no qual o sujeito vive sem projetos, sem ideais, a não ser cultuar sua autoimagem e buscar satisfação aqui e agora, “admirando-se a si mesmo e amando-se perdido na multidão” (GOMES; CASAGRANDE, 2002, p. 698).

Ainda nesta mesma perspectiva Gomes e Casagrande (2002), apontam que essa transição que os jovens estão passando se dá por circunstâncias pós-modernas de um mundo com pouca segurança psicológica, econômica e intelectual, sendo esse, um dos pontos negativos desta nova era, pois o mundo moderno é um lugar de certeza e ordem.

Fonte: Imagem por rawpixel.com no Freepik

Estamos em um tempo de desvalorização da cultura, novos valores estão se formando enquanto ocorre a desconstrução de valores construídos até então, e algumas dessas mudanças podem ser consideradas desfavoráveis, como por exemplo, o individualismo. Um indivíduo voltado para si próprio poderá ter problemas pessoais e grupais, considerando que a sociedade é multicultural, que considera valores, história, e além disso, vivemos em constante socialização para manutenção da sobrevivência.

Existe uma preocupação acerca da influência do individualismo que está relacionada a perda de laços sociais que acompanha a desconstrução de formas de relacionamentos e as possibilidades de diálogos fruto da redução das identidades sociais e culturais. Por outro lado, a pós-modernidade limita as chances de reconstrução desses laços que foram afetados no decorrer do tempo.

Conforme Lacaz (2001), essas novas características favorecem o capitalismo, pois os pós-modernistas compactuam com a forma de convívio social e modelo político-econômico, e o capitalismo traz uma ilusão de pluralidade, quando na verdade ele procura padronizar e homogeneizar. Lacaz ainda salienta que é importante estudar e ter conhecimento da realidade para o enfrentamento do capitalismo hodierno.

Outro ponto que se originou através do capitalismo e que perpetua no período pós-moderno é o consumo excessivo. Para Santos (2002), nos tempos atuais está havendo a sedimentação de um sistema econômico que afeta a todos e permeia as relações humanas. Pois, o modo como vem sendo cultivado e estabelecido o consumo acaba criando falsas necessidades que alimentam o desejo do indivíduo alienado na busca pelo objeto do consumo. Dessa maneira, todas as vezes que os desejos alienados de consumo forem satisfeitos, logo serão substituídos por outros em razão da frequência incessante do consumismo.

Fonte: Imagem no Freepik

Pode-se notar que a lógica dessa busca pela felicidade imediata não consiste apenas nas relações de consumo, como também nas relações sociais, onde o outro é influenciado cada vez adquirir o aspecto de um objeto também de consumo. Portanto, percebe-se que a felicidade se encontra num produto de consumo, que rapidamente é substituída por outro.

Freud (1930/1974), em sua obra “O mal-estar na civilização” destaca a busca das pessoas pela felicidade, relacionando com o princípio do prazer:

O que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de necessidades represadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possível apenas como uma manifestação episódica. Quando qualquer situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue (FREUD, 1930/1974, p.95).

Nessa passagem, Freud (1930/1974) afirma que a felicidade é de caráter temporário e que esta satisfação se prolonga, sendo mais flexível.

Fonte: Imagem no storyset no Freepik

A pós-modernidade não se resume nas subjetividades e nas relações sociais e políticas, mas, em igual medida, interpõe no modo de vida que interfere diretamente nas dinâmicas culturais, criando um problema que aparentemente é de ordem individual que acomete, sobretudo, os jovens contemporâneos. É preciso pensar, pois, nas gerações futuras, amplamente impactadas por um modo de vida que, de acordo com Bauman (2007), Birman (2013) e Freire Costa (2004), afirmou a autoviolência e a vertigem existencial – falta de perspectiva no futuro – como aspectos aceitáveis.

A saúde mental diante a pós-modernidade é afetada diretamente, pois os sujeitos tendem a ser mais individuais, egocêntricos e movidos por relações de poder, que de alguma maneira traga benefícios para si próprio. Por outro lado, o avanço da tecnologia ganha cada vez mais espaço, com isso as pessoas se aproximam sucessivamente desse movimento que a partir disso surgem as reflexões sobre o desenvolvimento do ser humano e os impactos que isso causam no bem-estar dos usuários.

A pós-modernidade está voltada para a tecnologia e para o presenteísmo, as pessoas têm tido uma necessidade de estar bem o tempo todo, produzindo e consumindo, mas a produção da saúde mental não acompanha esse ritmo a qual a sociedade vem se submetendo. A característica da tecnologia em saúde mental é peculiar, pois ao se cuidar do ser humano, não é possível generalizar condutas, mas sim adaptá-las às mais diversas situações, a fim de oferecer cuidado singular (GONÇALVES, 2009, p. 179).

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmund. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

BIRMAN, Joel. Novas formas de subjetivações. In: CPFL CULTURA – INVENÇÃO DO CONTEMPORÂNEO. Campinas-SP: CPFL, 2013. Disponível em: Acesso em: 22 mai. 2016.

FREUD.S. O mal-estar na civilização (1930). In:_______. Obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: Imago, 1974. v. XXI, p. 37-171. Edição Standard Brasileira.

GATTI, BERNARDETE A. Pesquisa, educação e pós-modernidade: confrontos e dilemas. Cadernos de Pesquisa, [S. l.], v. 35, p. 595 – 608, 1 dez. 2005.

GONÇALES, Cintia Adriana Vieira. Cotidiano de atenção à pessoa com depressão na pós-modernidade: uma cartografia. 2010. Tese de doutorado (Enfermagem) – Aluna, [S. l.], 2009. DOI 10.11606. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7136/tde-11012010-123208/en.php. Acesso em: 25 nov. 2021.

LACAZ, Francisco Antônio de Castro. O sujeito n(d)a saúde coletiva e pós-modernismo. 2001. [S. l.], 2001. DOI https://doi.org/10.1590/S1413-81232001000100019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/YpbcLDxHVmYxsfXmTLV3YQv/?lang=pt. Acesso em: 25 nov. 2021.

SANTOS, L. A. R. dos. Psicanálise e educação: um olhar sobre a criança-consumidora e a escola nos dias atuais. Pulsional Revista de Psicanálise, v. 15, n. 155, p. 74-76, mar. 2002.

SOUSA, Sonielson. L.; MIRANDA, Cynthia Mara. Pós-modernidade e vertigem existencial entre jovens. Revista Humanidades e Inovação v.5, n. 4 – 2018.

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Transições e desenvolvimentos em “Boyhood”

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O presente ensaio tem por objetivo demonstrar as transformações no desenvolvimento ocorridas em um casal divorciado e seus filhos, durante um período de 12 anos, observando aspectos físicos, cognitivos e psicossociais, através do filme “Boyhood”. Sendo assim, a história estabelece um parâmetro de passagem claro do tempo, onde se verifica as mudanças físicas dos personagens, bem como os mesmos vão interagindo, à medida que questões sociais e emocionais aparecem no contexto familiar.

A preocupação em retratar as mudanças de forma mais próxima à realidade é sem dúvida, a maior riqueza técnica do filme, que apesar de trazer questões comumente evidenciadas em um contexto familiar provoca uma reflexão acerca das mesmas, observando um cotidiano que pode ser devidamente analisado, observando as diferenças que acontecem no desenvolvimento humano, no decorrer de um determinado período.

O filme inicia com o ator principal ainda na fase da infância, demonstrando como este se relaciona com os pais divorciados, que ainda se encontram no início da fase de adulto jovem, com dificuldades em absorver responsabilidades na criação dos filhos. Com as passagens do tempo, a história tem desdobramentos que são demonstrados tanto pelas mudanças ocorridas nos pais, como também nos filhos.

Fonte: https://bit.ly/2NgmT3N

A maturidade sendo construída nas diversas dimensões é algo bastante relatado no filme. As novas relações familiares, a busca pelo aperfeiçoamento profissional, a interação com os filhos, os novos papéis que se estabelece, o ninho vazio são aspectos vivenciados pelos pais.

Enquanto que a adaptação dos filhos a realidade socioeconômica dos pais, os novos padrões de relacionamento com os mesmos, amigos, irmão, bem como o aparecimento de relacionamentos íntimos, as primeiras atividades laborais, a linguagem diferenciada, as transformações físicas como a puberdade, entre outras, e ainda, o distanciamento dos pais e a saída de casa, como marco de passagem para a fase de adulto jovem são mudanças que ocorrem na vida dos filhos e que vem a ser enfatizadas no filme.

Desenvolvimento físico

Pode-se destacar como mudança importante na fase da adolescência relatada no filme, a transição marcada pela chegada da puberdade. Segundo Papalia (2013) a “puberdade é desencadeada por mudanças hormonais. Ela dura cerca de quatro anos, normalmente começa mais cedo nas meninas e termina quando a pessoa é capaz de reproduzir” (PAPALIA, 2013, p.418). A transição para puberdade acontece de forma clara nos atores mirins, porém é perceptível que existe uma diferença na transição realizada pela menina, em relação ao menino, que interpretam os filhos do casal, confirmando, portanto, o que elucida Papalia na citação acima.

Fonte: https://bit.ly/2QxaIgV

Ainda observando, aspectos relacionados ao desenvolvimento físico, a maturidade sexual chega no momento em que as alterações hormonais acontecem, e desencadeia mudanças nas características sexuais primárias, como os testículos e o pênis nos meninos, ovários e útero nas meninas, assim como pelos no corpo e mudança de voz, em ambos (BEE, 1997). Também marcadas pela menarca nas meninas e espermarca nos meninos. No filme percebemos essas transformações acontecendo em todo o período dos 12 anos retratados, aonde também os relacionamentos afetivos vão surgindo e são demonstrados em seus pares.

As transformações que ocorrem no cérebro do adolescente são evidenciadas no filme pela relação dos filhos com os pais, onde eles “tendem a fazer julgamentos menos precisos e menos racionais” (PAPALIA, 2013, 418), sendo assim observado em uma passagem, o segundo divórcio da mãe acontecendo e os filhos questionando aspectos familiares e mudanças do seu cotidiano, porém aceitando a situação imposta.

Desenvolvimento cognitivo

Ao se observar as alterações que ocorrem sob o ponto de vista cognitivo, Piaget define como o nível mais alto do desenvolvimento, o operatório formal, que se caracteriza pela capacidade de pensar em termos abstratos, pela compreensão dos aspectos relacionados ao tempo histórico e ao espaço extraterrestre, e assim proporcionando uma maneira mais flexível no processo de manipulação das informações e possibilitando também, o surgimento das implicações emocionais no desenvolvimento. (PIAGET apud, PAPALIA, 2013, 404).

Fonte: https://bit.ly/2OqLVtE

No filme, o que está acima mencionado é observado na cena, em que o adolescente é obrigado a cortar seu cabelo, por uma imposição do padrasto, ocasionando em um comportamento questionador com sua mãe, ao mesmo tempo em que as questões emocionais são também demonstradas, quando este se recusa a ir até a escola, por se sentir triste e envergonhado pela sua aparência.

Ainda sobre essa fase, e de acordo com os níveis e estágios de moralidade de Kohlberg, citados por Papalia (2013), observamos que os adolescentes no filme se encontram no nível II da moralidade convencional ou moralidade de conformidade com o papel convencional, onde “internalizam os padrões das figuras de autoridade” (PAPALIA, 2013, p.408).

Desenvolvimento psicossocial

Dentro dos aspectos psicossociais, temos a busca pela identidade como o foco principal na adolescência, que tem como componentes, as questões ocupacionais, sexuais e de valores (PAPALIA, 2013, p.422). Nesse sentido, o filme destaca o surgimento dos relacionamentos afetivos, do distanciamento dos pais e aproximação dos amigos, exposições aos riscos, das primeiras atividades de trabalho, início da autonomia e processos de escolhas.

Fonte: https://imdb.to/2Nj29bP

Em umas das passagens do filme, o adolescente passa a conviver mais com os amigos, em ambientes com alta exposição a bebidas e outras drogas, iniciando também sua vida sexual. Os pais em contrapartida são obrigados a se adaptarem as mudanças e passam a orientar quanto aos possíveis riscos.

O adolescente também nessa fase experimenta as responsabilidades do primeiro emprego, porém ainda se reconhece certa imaturidade e dependência de seus pais, mas já se constata o início de conquistas em relação à maturidade, podendo ser observado, na cena em que o adolescente está trabalhando em uma lanchonete e seu patrão chama a sua atenção, pelo fato de não está conduzindo o trabalho de maneira satisfatória.

Ao final da adolescência retratada no filme temos a presença da recentralização, ou seja, a “mudança para uma identidade adulta” citada por Papalia (2013) segundo Erikson, onde o jovem aparece em processo de saída de sua casa rumo à universidade, iniciando seu processo de autonomia e escolha profissional, aperfeiçoando as relações sociais e familiares, sendo também retratada a questão do ninho vazio vivenciado, especificamente por sua mãe, em uma cena clara no filme, onde ela aparece preocupada e entristecida pela saída dos filhos de casa.

Fonte: https://imdb.to/2NfvJP3

Vale ressaltar ainda, que o posicionamento dos pais interfere diretamente no processo de amadurecimento dos filhos, sendo observada no filme em algumas cenas a relação democrática existente entre a mãe e os filhos, enquanto o pai inicialmente se apresentou com características negligentes, porém ao longo do filme passou a demonstrar amadurecimento e características mais democráticas. Já em relação ao primeiro padrasto, as atitudes eram bastante autoritárias, principalmente na adolescência. Tal contexto reflete diretamente no comportamento dos filhos.

Considerações finais

O filme “Boyhood” narra a vida de um casal de pais divorciados, que cria seus filhos de acordo com as condições da família daquele momento. Apesar de a mãe usufruir de conhecimento da ciência psicológica, não conseguiu ressignificar a própria história diante das adversidades impostas. O relato percorre, especialmente, a vida do menino durante um período de doze anos, da infância à juventude, e analisa sua relação com os pais conforme ele vai amadurecendo.

O ensaio é dividido em três aspectos do desenvolvimento: o físico, que compreende as alterações físicas decorrentes dos processos hormonais, desencadeando crescimento e maturação cerebral, bem como, o aperfeiçoamento das habilidades motoras e sensoriais; o cognitivo, que passa pela aprendizagem, atenção, memória, linguagem e raciocínio; e o psicossocial, que respalda nas relações sociais, nas emoções e na própria personalidade.  A análise é realizada, através da relação entre os três domínios.

Fonte: https://bit.ly/2NfwmrT

Por fim, o presente ensaio traz um repertório de conhecimento e percepção sobre a importância da ciência psicológica para o indivíduo. Esse estudo possibilita uma reflexão, acerca de aspectos significativos que envolvem saúde mental, revendo conceitos de vida e analisando como poderia ser ressignificada a história daqueles personagens. É por meio também de trabalhos como este, que o acadêmico pode aprimorar constantemente o seu conhecimento, envolvendo a interação entre questões da teoria e da prática, o que proporciona um avanço necessário, no que se refere ao desenvolvimento crítico relacionado aos processos de ensino e aprendizagem.

 Referências Bibliográficas

BEE, Helen. O ciclo Vital.Porto Alegre. Artmed, 1997.

PAPALIA, Diane E. e FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. 12 edição, Porto Alegre/RS. Artmed, 2013.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

BOYHOOD

Diretor: Richard Linklater

País: EUA

Ano: 2014

Classificação: 14

 

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A passagem do eu: o medo de crescer

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Todo adolescente gosta de acreditar que a vida pós ensino fundamental, chegada no ensino médio e conectando á entrada da faculdade será igual a de filmes americanos. Bom, eu também adorava fantasiar com armários, participar do time de líder de torcida, contribuir para o jornal da escola ou até mesmo conhecer o primeiro amor. Acontece que o país em que vivemos não nos proporciona tais experiências tão parecidas com as dos filmes.

Falar de ‘’tudo’’ o que se passa na escola é uma experiência que te faz pensar tanto em como você era, nos amigos que continuaram com você, os professores que mais contribuíram na sua caminhada e principalmente nas lembranças que ficaram e que por um bom tempo não serão esquecidas. Mudei de escola na metade do ano de 2011, o que é assustador porque você vira o centro das atenções sejam elas boas ou ruins.

O problema maior não é nem a adaptação com as novas regras ou os novos professores, e sim na questão de amizades, pensem comigo você convive com certo grupo há muito tempo e de repente você tem que analisar observar e esperar ser aceito. O que até hoje me embrulha o estômago… Tenho medo de não ser aceita, e depois não ter ninguém para socializar. Mas da mesma maneira que tenho medo em não ter amigos, acabo não tendo vergonha de procurar os mesmos, eu poderia dizer que foi difícil conseguir me encaixar em grupo, mas felizmente não foi o pessoal era muito unido na época, o que facilitou muito.

Fonte: encurtador.com.br/msyO6

Continuei com a mesma turma até o primeiro ano do ensino médio, o que poderíamos dizer que vai ser a parte mais trágica desse relato, bom pelo falo de ser ‘’sem vergonha’’ demais, acabei me desleixando nos estudos com as matérias que não tinha afinidade, reneguei muitos professores que eram muito bons e competentes e acabei me aproximando de outros que felizmente continuam contribuindo na minha caminhada hoje. Acabou que, as provas finais chegaram, as notas vermelhas vieram e logo em seguida a recuperação acabou que fiquei devendo notas em muitas matérias, acabei reprovando… O que hoje eu entendo que foi uma das maiores maravilha que me aconteceu, vão por mim… Uma pena na época não ter entendido.

A reação da minha família não foi nada agradável, o que claro é ‘’normal’’, estudava em escola particular, não tirava da cabeça que determinada quantia de dinheiro teria sido ‘’jogada no lixo’’ pelo fato de eu ter tido preguiça de estudar, cem por cento culpa minha. O que nisso acabou deixando a viagem de final de ano em um clima muito pesado e chato de se lidar.

Revivi todo aquele processo de criar novos laços mais uma vez, porque encontrar meus amigos da antiga sala no recreio é uma coisa, ter um grupo X para fazer trabalho é uma coisa totalmente diferente. Continuei com a facilidade de fazer amigos, algumas amigas também na época repetiram o ano, o que tornou a experiência menos dolorosa… Analisei a turma inteira durante um mês, dai soube quem seriam as minhas ‘’panelinhas’’, entre os dois primeiros anos e o segundo ano não teve muita diferença e nem detalhes significativos para ser relatado aqui.

Fonte: encurtador.com.br/qLSZ7

Era 2017, último ano escolar, dessa vez tinha que dar tudo certo. Chega aquele momento de fazer as camisetas e colocar o curso desejado na costa, eu já tinha certeza do que queria, fazia questão de falar para todos que queria ser psicóloga, mas como a maioria dos vestibulandos outros cursos passaram pela minha cabeça: relações internacionais e moda, mas nesses eu não me via futuramente, não tinha imagens na cabeça nessas áreas de atuação já com psicologia sim, as vezes eu me pegava olhando modelo de vestidos para a formatura…

As melhores experiências com certeza em que vivi foi no ano de 2017, o destino me proporcionou conhecer pessoas maravilhosas onde eu pude absorver um pouco de cada pessoa, o que acabou contribuindo para a minha personalidade. Amizades que jurei que para sempre seriam eternas acabaram perdendo a essência.

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Fonte: encurtador.com.br/dEF37

Depois disso os vestibulares vieram e consequentemente aprovações vieram juntas, escolhi em que faculdade ficar, e estou me descobrindo cada dia mais no curso em que infelizmente nesse ano perdi uma pessoa que me motivou e me incentivou a entrar, mas o fato de essa pessoa hoje não estar mais aqui, é o que me da mais força de vontade para continuar. Não me arrependo de ter escolhido o curso de psicologia e todos que me falam que tem vontade de fazer ou que me perguntam como é tenho o maior prazer de explicar as experiências que tive até agora.

Sou muito de acreditar em destino, tudo o que passamos na vida é porque existe um propósito, então não me envergonho de falar que repeti um ano na escola, o que me fortaleceu bastante como pessoa e me moldou muito, passei de ‘’a problemática da turma’’ para a ‘’que lida melhor em questões de liderança’’, então ponderando os prós e os contras, foi uma experiência necessária.

Não tenham medo de errar, não tenham medo de se expressar, muito menos tenham medo de tomar decisões, vão por mim a vida hora ou outra vai cobrar esses preceitos de vocês. Porém não exijam tanto de vocês, não se sobrecarreguem simplesmente viva um dia de cada vez.

Fonte: encurtador.com.br/inuCS

 

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Uma jornada de amadurecimento e autoconhecimento

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No ano de 2012 chegava um jovem ao ensino médio, esse por acaso era eu que vos escrevo. Neste ano lembro de sofrer para me adaptar ao novo modelo de relacionamento professor-aluno e também as novas matérias, muito mais complexas que as do ensino fundamental, mas minha experiência no primeiro ano não foi apenas sofrimento, graças a um novo colega tive contato com uma série de livros chamada Percy Jackson e os olimpianos e por isso passei de uma pessoa que não tinha prazer nenhum na leitura e que só lia “obrigado´´ pela escola, para um leitor frequente que apreciava de 3 a 4 livros por mês tranquilamente, o que considero ser a maior evolução que tive naquele ano.

Para o segundo ano resolvi mudar de escola, logo tive que passar por toda uma adaptação novamente e no meio deste processo acabei me desviando dos estudos e de fato tive o que posso considerar o ano mais irresponsável de minha vida até agora, onde não estudava para absolutamente nada e a minha maior evolução do ano anterior de certa forma me ajudou no desastre que estava por vir, pois sempre lendo para meu prazer, até mesmo em sala de aula, não “sobrava´´ tempo para os estudos, o resultado de tamanha irresponsabilidade foi que acabei reprovado.

Agora em 2014, volto para a escola onde sempre estudei e já sou de certa forma adaptado para então cursar o segundo ano do ensino médio mais uma vez e uma coisa eu tinha certa na minha cabeça, agora eu iria levar os estudos a sério e seria muito mais responsável. O que de fato aconteceu, matérias que eu nunca estudava como física e química acabaram se tornando muito mais fáceis graças ao esforço que apliquei aos estudos. É obvio que não virei um aluno perfeito, ainda tinha minhas dificuldades, principalmente em matemática que com todo o esforço que fiz não deixou de ser difícil nunca, mas consegui ser ao menos mediano nesta matéria e assim passei pelo meu segundo segundo ano.

Fonte: https://bit.ly/2ztdnlf

Já no terceiro ano junto a mesma turma do segundo, pela primeira vez comecei um ciclo completamente adaptado a tudo que me esperava, conhecia meus colegas e professores e já tinha firme um ritmo de estudo que seria necessário para enfim sair do ensino médio. A única coisa que me faltava era chegar a uma ideia final de qual graduação fazer no ano seguinte e com o apoio de vários professores, amigos e também de minha família decidi que iria fazer artes cênicas.

Aqui começa minha jornada de transição da escola para a faculdade. Assim que deixei o ensino médio já entrei no curso de teatro da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e também entrei em um cursinho pré-vestibular, pois meu objetivo seria passar em uma universidade com mais tradição nas artes cênicas. Dessa forma durante um desgastante período conciliei o cursinho pela manhã e a universidade pela noite, mas foi necessário apenas o 1° período na UFT para que eu abandonasse de vez o teatro.

Após largar a faculdade passei cerca de 3 meses sem nenhuma atividade e no começo de 2017 me mudei com um grande amigo para a Argentina, onde nós dois faríamos medicina e essa é uma parte de minha vida na qual eu tive um grande amadurecimento com toda a experiência de morar sem os pais, ter que me virar de qualquer jeito em outro país, ter contato com diversas culturas diferentes e tudo mais, isso de fato foi maravilhoso porém durou novamente só um período, pois enquanto estava morando fora, por algum motivo eu me vi no futuro como um psicólogo e não como um médico.

De volta a minha cidade tive uma conversa com meus pais e os convenci que a psicologia era o melhor para mim e no primeiro vestibular que abriu me inscrevi e passei, podendo iniciar nesse ano de 2018 a graduação que, ainda cursando apenas o segundo período posso afirmar com certeza que me encaixo e que enfim tenho um prazer em estudar.

Fonte: https://bit.ly/2xGKssF

Essa é a minha nada curta jornada de transição do ensino médio para a universidade, onde pude viver muita coisa e tive o prazer de me conhecer nesses anos. De fato, apesar de ter passado muito tempo para me encaixar em uma área de estudo eu não mudaria nada nessa trajetória pois ela me trouxe a um ponto onde eu posso dizer que estou feliz.

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Em um relacionamento sério com o futuro: do ensino médio para a faculdade

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Durante muito tempo, os alunos desde pequenos vão sendo preparados para ingressar no mercado de trabalho, principalmente no ensino médio, então, comigo não foi diferente. A adolescência é marcada por um período de grandes transformações no tripé de nossas vidas: o biológico, o psicológico e o social, além disso, nessa fase também é o momento de tomar uma decisão de enorme magnitude entre incontáveis opções que levam a diferentes caminhos: a escolha de um curso profissionalizante.  

Diante disso, há várias incógnitas à serem solucionadas, o desejo de realizar minhas próprias vontades ou satisfazer as expectativas dos meus pais. Seria egoísmo escolher a primeira opção? Ou eu não tenho perseverança o suficiente para fazer o que eu gosto, assim, seguindo os sonhos dos meus pais? Conciliar os dois parece impossível.  Ademais, a ideia que será desempregado quando concluir o ensino médio, nos faz ansiar por resultados, então começa a luta contra o tempo, e a preparação para o temido ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). 

Entretanto, simples conteúdos não aprendidos da maneira certa e no momento em que foi passado, que na hora parecia coisa pequena, no terceiro ano vira uma bola de neve, pronta para te soterrar ao menor sinal da palavra vestibular. Pensando que, se eu pudesse escolher, voltaria para o ensino fundamental e faria tudo de novo, com um novo olhar. Como o vira-tempo de Harry Potter ainda não existe, isso não foi uma opção, a única saída foi correr atrás do tempo perdido e fazer uma escolha.  

Fonte: https://bit.ly/2DvfJnQ

Para fazer tal escolha, enquanto concluía o ensino médio e fazia cursinho, tive que lidar com o medo do fracasso, com o medo de não me encaixar no curso, o medo de não ter sucesso depois de graduada. Tentando me autoconhecer quando todo mundo já me dizia quem sou e o que devo fazer. 

Adultos olham para os adolescentes e dizem: “Isso é frescura, quero ver quando chegar na minha idade”. Adolescentes olham para crianças e dizem: “Você já está achando difícil? Espere quando chegar ao segundo grau”. Quando foi que nos tornamos insensíveis a dor do outro? O que nos faz humanos não é nossa capacidade de empatia? Seus problemas não faz os problemas dos outros menores. Cada ser sente de uma maneira, sua subjetividade o faz único.  

Fonte: https://bit.ly/2QVNQYJ

Quando escolhi Psicologia, a base da eliminação dos outros cursos, esses medos foram embora, porque agora eu tenho um propósito, e estudar faz sentido porque sei onde quero chegar.  E cheguei, ao entrar no Ceulp/Ulbra fiquei surpresa, definitivamente é bem diferente do ensino médio. É uma mudança que obrigatoriamente requer maturidade, porque os professores nem ninguém vão insistir que você faça o que tem que ser feito, se você não faz, você arca com as consequências.  Tudo na vida tem dificuldades, é a maneira que você olha para elas que irá definir seu futuro. Como disse Charles Chaplin: “A vida é maravilhosa quando não se tem medo dela”. 

Infelizmente, nesse texto não tem como colocar as entrelinhas, os altos e baixos, os choros e as noites sem dormir, os momentos felizes, as pessoas que me apoiaram ou as que me disseram para desistir. Mas a verdade é uma só: vale a pena. Tudo que você faz para seu crescimento individual, em qualquer área é importante, desde que seja uma pequena coisa como ler um artigo em uma revista ou tirar um ano sabático na Índia. Ainda estou no começo, mas a minha dica para você e para mim mesma é: não desista!

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Os desafios de Ser mulher – (En)Cena entrevista a Psicóloga Lauriane Moreira

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Em entrevista ao Portal (En)Cena, a Psicóloga  Lauriane Moreira, que é mestre em Desenvolvimento Regional e atualmente é professora de Psicologia no Ceulp/Ulbra, expõe sua opinião sobre os desafios e conquistas das mulheres em relação à Psicologia.

Lauriane tem experiência em Saúde Pública e Saúde da Família, atuando nos temas de Políticas Públicas de Saúde Mental, Psicologia Social e Comunitária e Análise do Comportamento e Cultura.

Profa Me. Lauriane Moreira – Fonte: Aquivo pessoal.

(En)Cena – A psicologia ainda tem poucas mulheres teóricas. Que mudanças poderiam ser feitas para alterar esse quadro? 

Lauriane Moreira – A Psicologia se tornou uma ciência reconhecida academicamente ao final do século XIX, tendo Wundt e o famoso laboratório de Leipzig como marcos simbólicos desse momento de transição. Até a primeira metade do século XX as correntes teóricas que fundaram a Psicologia como ciência já existiam, quais sejam: Estruturalismo, Funcionalismo, Gestalt, Behaviorismo e Psicanálise. Se considerarmos que nesse contexto histórico as mulheres estavam, especialmente, dedicadas à vida doméstica, podemos entender a ausência delas na história da Psicologia, o que também é comum noutras áreas do conhecimento. Cito o chamado Clube dos Experimentalistas, formado nos Estados Unidos da América (EUA), tendo Titchener como organizador, no qual não era permitido a entrada de mulheres com o argumento de as protegerem do palavreado descuidado de homens quando se juntam, do cheiro da fumaça de charutos etc. Obviamente, a questão de fundo se refere ao sexismo do período e à exclusão de mulheres do âmbito acadêmico, uma vez que deveriam estar cuidando dos seus lares. Os experimentalistas se encontravam anualmente para compartilhar suas pesquisas laboratoriais sob a lógica da corrente estruturalista, tudo isso nas primeiras décadas do século XX, mas excluíram deliberadamente a participação das poucas mulheres que conseguiam estudar Psicologia na época.

Outro ponto de vista mostra que várias mulheres participaram ativamente da construção da Psicologia como ciência. Na corrente Behaviorista, fundada por Watson, é atribuída a uma mulher, Mary Jones, a utilização dos princípios do condicionamento respondente na prática da Psicologia Clínica, isso na década de 1920. Na mesma época, Melanie Klein desenvolvia importantes trabalhos na área da Psicanálise Infantil. Nise da Silveira, que era psiquiatra, mas influenciou sobremaneira psicólogos que atuavam (e atuam) na área da saúde mental, ousou no cuidado ofertado em hospitais psiquiátricos, ao incluir a arte como estratégia terapêutica. Silvia Lane, importante pesquisadora da Psicologia Social, a partir da década de 1970 revolucionou esse campo de atuação ao criticar o modelo norte americano de se fazer Psicologia, que não cabia para a realidade social da América Latina. Ou seja, sempre houve mulheres, as quais faziam importantes trabalhos, mas por muito tempo não havia espaço para sua divulgação, pois ficavam na sombra masculina. Esse cenário começa a mudar de 1960 em diante a partir dos movimentos de contracultura. Então, precisamos lançar luz sobre a história da Psicologia e resgatar esses nomes importantes, para que outras mulheres se inspirem nesses exemplos.

(En)Cena –  Qual a sua avaliação da interação da mulher no cotidiano da psicologia?

Lauriane Moreira – No Brasil a Psicologia é predominantemente feminina, possivelmente pela representação social dessa profissão estar atrelada a características que costumam ser atribuídas exclusivamente à mulheres, como falar sobre sentimentos, dar conselhos, acolher o sofrimento, ser boa ouvinte, dentre outras. Essa imagem sobre a Psicologia é, em muitos aspectos, equivocada, pois restringe sobremaneira o rol de possibilidades de atuação profissional e afasta os homens dos cursos de graduação. Como exemplo, o curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, local em que atuo como docente, tem em número muito maior estudantes do sexo feminino, o que também é verificado no quadro de professores. Somente 11% dos egressos do curso são do sexo masculino, considerando 27 turmas que já concluíram a graduação. Dito isso, a interação da mulher no cotidiano da Psicologia é, via de regra, confortável, pois socialmente essa profissão traria como principais habilidades àquelas já atribuídas às mulheres, como citado anteriormente. Por outro lado, práticas de psicólogas que problematizem a ordem social, questionando o hegemônico, como a defesa da liberdade de cada mulher e homem de fazerem escolhas autênticas de vida pode levar a rotulação dessa profissional como “rebelde” ou “revoltada”, porque se afasta do papel de mansidão, benevolência e passividade que se espera de uma mulher em nossa sociedade.

Corpo de docentes do Ceulp/Ulbra – Fonte: https://goo.gl/1nKmKP

(En)Cena – Quais são seus principais desafios na sua atuação profissional? E as conquistas? 

Lauriane Moreira – Meu principal desafio profissional se refere a considerar (e ganhar adeptos à causa) a influência de fatores sociais na saúde mental das pessoas, isso em qualquer contexto de atuação, pois ainda vigora a lógica biologicista como causalidade dos ditos problemas psicológicos. Ou seja, trabalhar como psicóloga é nadar constantemente contra a maré social, que é imediatista, pouco reflexiva, sem memória histórica e que busca soluções simplistas para problemas complexos. O resultado desse funcionamento social é o aumento dos números de casos de ansiedade, depressão, abuso de substâncias, suicídio, dentre outros, costumeiramente explicados como culpa do indivíduo (por questões orgânicas ou por ser fraco), excluindo os fatores sociais da análise. Isso empurra as pessoas que sofrem emocionalmente para os consultórios de psiquiatria tradicional, para serem anestesiados por psicofármacos. Ou seja, eu sou a mulher, psicóloga e “rebelde” que comentei anteriormente. Por outro lado, tenho tido bastante sorte na carreira, pois desde que me formei ao final de 2006 nunca me faltou um bom trabalho, tanto dentro de políticas públicas quanto na iniciativa privada, contextos em que tenho podido discutir esses assuntos que tanto me inquietam. As psicólogas da minha geração tem tido muito espaço para atuação, e as principais publicações e congressos nacionais contam com maior número de mulheres, bem como nos departamentos de Psicologia em universidades pelo país.

(En)Cena –  Você teve alguma mudança de perspectiva profissional ao se deparar com movimentos que buscam o empoderamento feminino? 

Lauriane Moreira – Até alguns anos atrás eu olhava com bastante preconceito para os movimentos de mulheres, achando que feminismo era sinônimo de “mulher feia mal amada”. Pessoalmente, eu tive a oportunidade de ser criada em um contexto que me deu bastante liberdade para fazer escolhas, tanto pessoais quanto acadêmicas, isso desde muito pequena. Então, equivocadamente, acreditava que todas as mulheres tinham história semelhante a minha e que a luta feminista era uma bobagem. Quando sinceramente comecei a conhecer tais movimentos com empatia é que pude mudar minha perspectiva, e hoje me envergonho do meu posicionamento anterior, pois percebo que a objetificação da mulher, fruto da cultura machista, é um pilar que construiu minha identidade, me fazendo ter receio de andar sozinha pelas ruas da cidade, me causando sofrimento ao querer me adequar a um determinado padrão de beleza e, influenciada pelo machismo, me fez oprimir outras mulheres ao longo da minha vida. Depois que passei a conhecer melhor o movimento feminista, tenho percebido o quanto essa luta deve ser de todas as pessoas, homens e mulheres, pois a violência contra as mulheres causa não só danos psicológicos, mas físicos, levando muitas à morte rotineiramente. Enfim, tenho aprendido.

(En)Cena –  O que você tem a dizer para as mulheres que precisam ser empoderadas para ampliar suas perspectivas profissionais e de vida? 

Lauriane Moreira – Primeiro compreender o possível machismo que predomina dentro delas para desconstruir as limitações sociais que lhe foram impostas sobre modos de ser. Essa tarefa é extremamente difícil, dolorida, pois se questiona muitas supostas verdades propagadas pelas instituições sociais, desde a família, perpassando pela escola, ambiente de trabalho, igrejas etc, tendo cada pessoa como um soldado que fiscaliza os demais que destoam da ordem social. Ou seja, se uma mulher pretende fazer escolhas pessoais que fujam do que é tido como “natural” para mulheres, ela será julgada por boa parte das pessoas e instituições. Então, conhecer de onde vem essa lógica é o primeiro passo para o empoderamento.

(En)Cena – Como a psicologia pode ajudar no processo de emancipação das mulheres numa perspectiva social/comunitária?

Lauriane Moreira – A discussão que apresentei na pergunta n° 3 é bem a perspectiva da Psicologia Social Comunitária que eu trabalho, que busca a influência da cultura no modo como indivíduos e coletividades atuam no mundo e como fazer para exercer o contracontrole sobre elas, incluindo aí as questões que permeiam as mulheres e sua busca por emancipação, conforme também mencionado acima.

(En)Cena – Para você, o empoderamento feminino é um tema que pode ser trabalhado nas escolas? 

Lauriane Moreira – Certamente. Se uma lógica social se mostra produtora de adoecimento, violência etc., desde o contexto escolar (e também o familiar) cabe a discussão, o que provavelmente diminuiria o número de mulheres, adolescentes e adultas, com problemas relacionados à ansiedade, depressão, transtornos alimentares, ideação suicida, dentre outros. Essas problemáticas são fruto do contexto em que tais mulheres estão inseridas, permeados pela objetificação feminina e machismo. No entanto, é preciso também empoderar as professoras e professores para discutir essa pauta, caso contrário será mais do mesmo.

 

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Transições nos papéis dos indivíduos em comunidades ao longo do desenvolvimento

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O texto do qual estamos comentando – A Natureza Cultural Do Desenvolvimento Humano, de Rogoff – tem por objetivo nos orientar como se refere às transições de papéis dos indivíduos em suas comunidades ao longo do desenvolvimento. Uma questão central na psicologia do desenvolvimento tem sido identificar a natureza e o ritmo das pessoas, de uma etapa de desenvolvimento para a próxima, da primeira infância até a idade adulta.

As transições no desenvolvimento costumam ser retratadas pelos pesquisadores como algo que pertence aos indivíduos, como nos estágios de desenvolvimento cognitivo descritos por Piaget.  Muitas vezes as etapas do desenvolvimento são identificadas em termos de desenvolvimento de papéis comunitários por parte da pessoa. Assim pode se ver como exemplo, o desenvolvimento até a maturidade no modelo navajo é um processo de aquisição de conhecimento para ser capaz de assumir responsabilidade por si e por outros.

Muitas comunidades marcam as transições no desenvolvimento com cerimônias. Algumas cerimônias de transição marcam eventos e realizações valorizados, tais como o primeiro sorriso, a primeira comunhão, a formatura ou inicio da menstruação. Já outros reconhecem essas passagens baseadas na idade. Essa pratica cultural explicitam muitas vezes o desenvolvimento individual em relação a expectativas sociais e culturais, marcando as transições, não apenas para os indivíduos, mas para gerações.

Fonte: http://googleshortener.com/W7UuGhIQ

Com tudo percebe-se que no desenvolvimento em algumas comunidades, as etapas não se baseiam em idade cronológica ou em mudanças físicas. Em lugar disso, são centradas em eventos socialmente reconhecíveis, tais como a identificação das coisas pelo nome. Assim como dar nome a uma criança marca o começo de sua condição de pessoa. As crianças cumprem uma função espiritual, estabelecendo ligação com ancestrais que deixaram o mundo dos vivos, mas não foram muito longe. É interessante como podemos analisar esse texto de forma ampla, pois dentro de cada cultura que é mostrada pode se observar como é visualizado o desenvolvimento de um individuo de maneiras distintas.

Em todo o mundo, as distinções nas etapas do desenvolvimento costumam ser definidas segundo o começo da participação da criança, de uma nova forma, na família ou na comunidade. Então são citadas como exemplo as famílias euro-americano de classe média, muitas vezes distinguem quando um bebê dá um sorriso social pela primeira vez, ou começa a falar, condições importantes em suas relações com seus cuida dores. Isso levando á uma grade percepção de que a interação da criança com o meio é muito importante onde às etapas do desenvolvimento também fazem referencia ás relações das crianças com outras pessoas e com a comunidade.

Atribuindo um status social único aos bebês

Em algumas comunidades, os bebês e as crianças pequenas tem atribuído a si um status social único, no qual seus atos e suas responsabilidades são considerados como sendo de um tipo diferente daqueles das crianças mais velhas e dos adultos. Assim fazendo com que vejamos a importância de cada individuo. O desenvolvimento de bebês e crianças pequenas é apoiado dirigindo-os ao comportamento adequado, de forma que entendam, pois a transição envolve descontinuidade nas normas especificas de compartilhamento, da primeira infância á infância, em contraste com a coerência da aplicação das regras a crianças pequenas e mais velhas que se encontra em comunidades euro-americano de classe média. “Supõe-se que as regras sociais não possam ser aplicadas a menos que a criança subjetivamente pronta para entendê-las e aceita- lãs, ou segui-las voluntariamente”.

Essa transição envolve descontinuidade nas normas específicas de compartilhamento, da primeira infância á infância, que é de onde se estabelece o desenvolvimento e em contraste a coerência da aplicação das regras desde então. Papéis responsáveis na infância vêm demonstrar qual a contribuição de cada criança em seu patrão de idade, em muitas partes do mundo entre os cinco e sete anos de idade é uma época importante de transição nas responsabilidades das crianças e em seus status na comunidade.

Fonte: http://googleshortener.com/V1449phb

Assim este texto vem também com o intuito de nos mostrar como outras culturas visam de forma diferente o desenvolvimento, como por exemplo, a sociedade ocidental burocrática muda seu tratamento das crianças nessa idade considerando as capazes de distinguir o certo e o errado, de participar de trabalhos e de começar uma educação seria em instituição fora de casa. A pesquisa sobre o desenvolvimento muitas vezes observa uma descontinuidade nas habilidades e no conhecimento em torno dos cinco e sete anos. Muito interessante percebermos como é a etnografias de 50 comunidades em todo o mundo onde indicam uma mudança muito difundida em torno dos cinco e sete anos, nas responsabilidades e expectativas com relação às crianças.

É importante que compreendamos assim como o texto mostra as diversidades da cultura no mundo com relação ao desenvolvimento e ainda mais com relação às crianças, pois as expectativas com relação às crianças de cinco e sete anos ou de qualquer outra idade tem alguma base geral, mas é importante não atribuir especificidade exagerada a expectativas de idade para atividades determinadas, pois ampla variação ocorre com relação à idade em que se espera que as crianças desenvolvam complexas e valorizadas.

Papeis de gênero

As amplas diferenças de crianças no mundo estão intimamente relacionadas aos papéis de gênero dos adultos em suas comunidades. Então vejamos que geralmente, à medida que os seres humanos continuam a transformar suas práticas culturais, os papéis de gênero mudam ao mesmo tempo em que se mantêm longas tradições. Então nota-se que os papéis de meninos e meninas são estabelecidos paralelamente aos de mulheres e homens em suas comunidades à medida que começam a seguir os padrões dos mais velhos.

Compreender as mudanças biológicas e culturais dos papeis de gênero ao longo de gerações pode nos ajudar a ir além das limitações das dicotomias, possibilitando-nos que determinamos nosso rumo. Não é de surpreender que as diferenças de gênero entre crianças sejam coerentes com os papéis. Muitos autores caracterizam as práticas culturais euro-americanas a partir de uma ênfase no individualismo e na independência. Entretanto, há amplas diferenças culturais na visão da maturidade como algo que leve á independência da família de origem ou vínculo e responsabilidade renovados com relação a essa família.

Fonte: http://googleshortener.com/0PSb

Na vida cotidiana, assim como na pesquisa cultural, as questões das relações sociais trazem a nossa atenção como às pessoas consideram que os interesses próprios coletivos operam. No processo, cada geração pode questionar e revisar as pratica de seus predecessores, especialmente quando praticas diferenciada de comunidade distinta.

Independência versus interdependência com autonomia

As práticas de educação de criança em muitos grupos culturais contrastam com a formação voltada à individualidade separada, privilegiada pela classe euro-americano. Em muitas comunidades, as crianças são socializadas para serem interdependentes. Assim são estimuladas a interagir de forma multidirecional com grupos de pessoas. Então o que podemos observar é que em algumas comunidades nos quais a interdependência é enfatizada, o contato físico próximo é necessariamente parte de envolvimento com o grupo com isso mostrando como é interessante como esse processo de interdependência ocorre de maneira natural em que o contato físico próximo, a interdependência implica estar voltado ao grupo.

Onde esse envolvimento, todavia, pode simultaneamente dar ênfase a autonomia individual, podendo ser baseada em escolha individual e voluntária. Em algumas comunidades, a provocação por parte de adultos ou pares é uma maneira de informar indiretamente as pessoas esta fora dos limites, ou indicar a elas a forma adequadas de agir, essa é uma forma de controle social que não exige forçar as pessoas a se adaptar a hábitos culturalmente adequados, especialmente em pequenas comunidades inter-relacionadas. Em algumas comunidades, o constrangimento é tanto um método para ajudar as crianças a aprender preceitos morais quanto uma virtude a ser desenvolvida.

Assim pode se ver que a pesquisa sobre o desenvolvimento moral em diferentes comunidades envolveu, muitas vezes testes de raciocínio moral. As respostas aos dilemas morais em diferentes comunidades se enquadram em várias posições nessa escala, com um desempenho “inferior” nas comunidades em que não aquelas em que a escala foi elaborada.

 Alguns preceitos obrigatórios no código moral de qualquer sociedade, entre os quais a ideia de que obrigação de ordem mais elevada tem precedência à preferência individual ou o arranjo de grupo principia de se evitar danos e o principio da justiça, segundo o qual os casos devem ser tratados de forma semelhante. Ao mesmo tempo, certas características facultativas são afirmadas por algumas sociedades.

Fonte: http://googleshortener.com/B8TYi

Podemos ver que em muitas comunidades os pressupostos culturais com relação às prioridades individuais ou de comunidade, ou seu caráter mutua, são levados aos relacionamentos habituais da vida cotidiana. Então podemos concluir em nosso entendimento que as realizações individuais podem ser buscadas e reconhecidas de modo a priorizar a competição, ou podem ser apreciadas como contribuições ao funcionamento da comunidade. Por meio dessas questões nas relações sociais dos seres humanos, a autonomia e a interdependência são negociadas segundo tradições culturais e renegociadas á medida que novas gerações avaliam posturas alternativas.

REFERÊNCIAS: 

ROGOFF, B. A Natureza Cultural Do Desenvolvimento Humano. 1 ed. Brasil: Artmed, 2005.

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neoliberalismo

Redemocratização “lenta, gradual e segura” e neoliberalismo: aquela como farsa essa como tragédia

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“O presente e o futuro pertencem à Nação, não à minoria no poder”.
Florestan Fernandes

A conjuntura da década de 1980 segundo Melo (2005) é também condicionada pela crise econômica sistêmica do capitalismo nos anos 70, que segundo Diehl (2014) só é sentida no Brasil no final da referida década, prova disse foi o aumento das greves. É a partir deste momento que entra “em cena” o projeto neoliberal como “alternativa” a crise capitalista no Brasil.

Segundo Sales de Melo apud Melo (2005), e Mariani (2007), o neoliberalismo tem com premissas básicas a apologia a liberdade individual, acumular capital e propriedades, a liberdade de produzir, de possuir, sendo o mercado a instancia mais importante, elevação da taxa de juros, redução de impostos sobre os rendimentos altos, criação de níveis de desemprego massivo, critica a “qualquer” intervenção do Estado, pois o mesmo, segundo os teóricos neoliberais tem a tendência de favorecer indivíduos e grupos particulares.

É durante a década de 1980 que os organismos financeiros – com influência principal dos Estados Unidos da América do Norte – como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial começam condicionar empréstimos aos países subdesenvolvidos da América do Sul – não só – com o intuito de implementar o arremedo do neoliberalismo, Melo (2005).

Cabe aqui destacar como nos diz Boron e Anderson apud Melo (2005), que o grande resultado do projeto neoliberal “não foi” econômico, mas sim ideológico e cultural!

É a partir dessa conjuntura que a ditadura empresarial-militar brasileira começa a entrar num processo de “decomposição com formol”, mas como as formulações teóricas e análises de conjuntura não são instrumentos só da esquerda, os “intelectuais” de direita iniciaram o que Saviani (2012), chama de recomposição dos mecanismos de hegemonia da classe dominante.

É por isso que Trajtenberg (2013) Fernandes (1989), nos dizem que na segunda metade dos anos 70 a ditadura que já durava mais de uma década deu inicio a mais um “golpe durante golpe”, percebendo que as condições tanto nacionais quanto internacionais começavam a ser desfavoráveis – como demonstramos anteriormente – tentou imprimir um “verniz democrático” às suas arcaicas formas de dominação. Mas o interesse implícito era a continuação das frações da classe dominantes no poder.

Com o intuito de não perder o poder o regime ditatorial que perdurou 21 anos a frente do Estado brasileiro por alguns momentos tentou esconder suas intenções de continuar mantendo a exploração/opressão para com o povo brasileiro, tanto que segundo Trajtenberg (2013) o presidente  Geisel disse que a saída da ditadura seria “lenta, gradual e segura”. Só esqueceu-se de dizer para quem e para que era a segurança?!

Podemos comprovar esse processo lento, gradual e seguro com a não aprovação – com articulação direta do então senador Sarney[1] – da emenda Dante de Oliveira, a qual propunha eleições diretas para presidente da republica, Morais (S/D).

Nesse contexto, o movimento das diretas-já, que poderia propiciar uma saída límpida e radical, submergiu numa composição conservadora, que decidiu a partir de cima atravessar o Rubicão através do Colégio Eleitoral. Aliaram-se os chefes militares “civilizados”, o PMDB através de suas cúpulas dirigentes e os “democratas” recém-saídos do ventre do regime em decomposição. Isso significa que a oscilação foi detida por uma nova conspiração, que se crismou como um ato de conciliação política. Ela também endossou a fórmula político-militar de uma transição democrática lenta, gradual e segura! A ordem ilegal atravessou a crise letal, que se esboçara, e protegeu o nascimento da “nova República”. (FERNANDES, 1989, p. 03).

Segundo Fernandes (1989) e Trajtenberg (2013), a transição da ditadura empresarial/militar teve vários momentos – greves, anistia, “diretas já”, etc. – mas destacamos aqui o processo da Constituinte de 1988 como o mais central para entendermos o desenrolar da democracia brasileira na atualidade.

Como afirma Fernandes (1989), em toda constituição existe um projeto político subjacente da classe dominante da época, logo no caso da Constituição brasileira de 1988 o projeto político em voga era/é os da classe dominante herdeira da ditadura empresarial-militar que tanto nos oprimiu/oprime.

A partir destes precedentes foi instaurada pelo então presidente – não eleito pelo povo – José Sarney o Congresso Constituinte de 1987/88 a partir do congresso – senadores e deputados federais – que já estava posto, em sua grande maioria umbilicalmente amordaçados pelos militares, empresários, banqueiros e latifundiários, Diehl (2014).

O Congresso Nacional Constituinte que se convencionou chamar de Constituinte de 1988 segundo Trajtenberg (2013), foi um processo de transição política sem alterar as bases do projeto de sociedade altamente excludente, elitista e autoritária, configurando-se como um instrumento de produzir consenso numa aceitação acrítica da “ordem” estabelecida em 1964.

Segundo Fernandes (1989) na constituinte de 1988 existia um afã ultraconservador e ultrareacionários encabeçados pelo PMDB e o antigo PFL hoje DEM, pois a principal ideia era fazer apenas uma revisão constitucional institucionalizando “legalmente” a ordem ilegal dos novos e antigos “donos do poder”.

É dentro desta conjuntura política Fernandes apud Diehl (2014), ao analisar a Constituição Federal de 1988 concluída denomina a mesmo como “Constituição inacabada”, pois os “avanços” na Carta Magna são barrados dentro da própria carta Magna.

No entanto, a ação do famoso “Centrão” impediu que a Constituição também estabelecesse os instrumentos de factibilidade para concretizar esses direitos e princípios. E de fato estes instrumentos não existem até hoje, já que na prática instituiu-se apenas uma democracia formal (e não uma democracia participativa) com a obrigação de cumprir com os compromissos de uma dívida pública contraída por um regime político ilegítimo, e sem a possibilidade de questionar privilégios (como da midiocracia ou do Poder Judiciário) ou de implementar mudanças sociais efetivas (como é o caso da reforma agrária e outras reformas estruturais exigidas pelo povo). (DIEHL, 2014, p. 81).

Assim sendo, finda-se a década de 80 com a eleição de Fernando Collor de Melo para presidência da república e inicia-se a implementação ainda débil do projeto neoliberal. Mas para isso antes de qualquer outra coisa Collor promoveu algumas reformas na recém concluída Constituição Federal, pois mesmo com todas as limitações expostas a constituição continha elementos que dificultariam a implementação do projeto neoliberal, Melo (2005).

Com o impeachment de Collor, Itamar Franco assume a Presidência da Republica e tenta dar continuidade as políticas neoliberais de Collor, mas segundo Melo (2005), é no governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso – FHC – que as bases econômicas, políticas, culturais e sociais do projeto neoliberal são implementadas efetivamente com a privatização de bancos e empresas públicas, acordos da dívida externa.

É no governo de FHC também segundo Melo (2005), que é implementado um ministério que tinha a exclusividade de fazer reformas no aparelho estatal, em suma para expropriar as riquezas estratégicas como foi o caso a privatização da Vale do Rio Doce, esse ministério foi nomeado de Ministério da Administração e Reformas do Estado (MARE).

Essa política de “neoliberalismo tardio” tem seria repercussão nas lutas de massa na América do Sul, mas especificamente no Brasil, a reestruturação produtiva, acumulação reflexível e por consequência desemprego em massa, condição de miséria crescente  condicionou a um descenso nas lutas de massa, as manifestações dos movimentos sociais que durante toda a década de 80 chegou a ter nas ruas 1 milhão de pessoas ficou restrita basicamente as marchas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST.

Segundo Melo (2005), entramos o século XXI com todas as debilidades possíveis do projeto neoliberal, pois continuamos a morrer de gripe, diarréia, cólera, dengue etc.

A entrada do Partido dos Trabalhadores – PT – na pessoa de Lula e Dilma a frente da presidência não alterou essencialmente a política neoliberal implementada nos meados da década de 90. Os motivos são vários, destacamos cinco: o Partido dos Trabalhadores passou a centralizar a tática eleitoral deixando de lado o trabalho de base, o segundo, deixou o Projeto Democrático Popular para trás como se nunca tivesse o defendido, terceiro, à herança deixada pelos governos essencialmente neoliberais de FHC, quarto, alianças para com os “partidos da ordem” e quinto, o equívoco na análise de que chegar ao governo federal em um governo de composição/conciliação de classe seria a mesma coisa que a tomada do poder.

Os motivos supracitados nos trazem elementos que demonstram a inexistência das possibilidades de mudanças estruturais tendo como força dirigente o Partido dos Trabalhadores, Harnecker (2004). Mas isso não deve nos impedir de admitir que a vida de uma quantidade significativa do povo brasileiro mudou para menos pior.

As primeiras medidas de combate à fome e à pobreza constituíram um círculo virtuoso de fortalecimento do mercado interno. Os principais programas sociais do governo Lula, continuado pelo de Dilma Roussef foram o Bolsa Família, o Credito Consignado, o Programa Universidade para Todos (ProUni), que oferece bolsas de estudos em universidade privadas trocadas por impostos, o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), e o Programa Luz para Todos. Garantiu-se também um aumento real do salário mínimo (de cerca 55%, entre 2003 e 2011, conforme Dieese). Os classificados em ‘condição de pobreza’ diminuiu sua representação de 37,2% para 7,2 nesse mesmo período. (MARICATO, 2013, p. 22).

Isso demonstra um pouco, que, o que se demonstrava em termos teóricos/práticos do PT durante a década de 90, foi implementado a partir de 2002, ao mesmo tempo em que fortalece as relações com os países da América Latina – Venezuela, Bolívia, Cuba, Equador – mantém as tropas brasileiras no Haiti desde 2004.

Portanto explicita-se um pouco as diferenças de um governo neoliberal/conservador/reacionário para um governo de composição/conciliação de classe de caráter neodesenvolvimentista, reformista que não faz reforma, que não irá cumprir as demandas históricas do povo brasileiro, mas que para atual conjuntura é menos nocivo para uma parcela significativa da sociedade brasileira e para os lutadores e as lutadoras do povo brasileiro.

Referências:

DIEHL, Diego Augusto. A constituição inacabada e a reforma política: aportes desde a política de libertação. In Constituinte exclusiva: um outro sistema político é possível. 2014. Disponível em <http://www.plebiscitoconstituinte.org.br/> Acesso em 20/05/2014.

FERNANDES, Florestan. A Constituição como projeto político. Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 1(1): 47-56, 1.sem 1989.

HARNECKER, Marta. Estratégia e Tática. 1° ed. Expressão Popular, São Paulo, 2004.

MARIANI, Édio João. A trajetória de implementação do neoliberalismo. Disponível em <http://www.urutagua.uem.br/013/13mariani.htm> Acesso 16/07/2012.

MELO, Marcelo Paula de. Esporte e juventude pobre: políticas públicas de lazer na Vila Olímpica de Maré. – Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

MIRICATO, Ermínia. É a questão urbana, estúpido! In MIRICATO, Ermínia [et al.]. Cidades rebeldes: passe livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 1° ed. São Paulo: Boitempo: Carta Maior, 2013.

MORAIS, João Quartim de. Amobilização democrática e o desencadeamento da luta armada no Brasil em 1968: notas historiográficas e observações críticas. Disponível em<http://www.fflch.usp.br/sociologia/temposocial/site/images/stories/edicoes/v012/a_mobilizacao.pdfAcesso em 05/05/2012.

TRAJTENBERG , Marília El-Kaddoum.A constituição de 1988 e a transição. Disponível em<http://www.uff.br/niepmarxmarxismo/MM2013/Trabalhos/Amc312.pdf> Acesso em 05/05/2012.

SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. – Campinas, SP. Autores Associados, 2012.

[1]O pior é saber que o mesmo continua como senador cometendo os mesmos tipos de atos reacionários quanto naquela época.

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