Cansaço de ser forte: a saúde mental na geração que não aguenta mais

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“Você é tão forte…” — dizem como elogio, mas não veem o quanto isso pesa.

Vivemos tempos em que a juventude carrega o mundo nas costas — e ninguém parece notar o quanto isso cansa. Por trás das selfies, dos reels e das conquistas acadêmicas, há uma geração exausta. Jovens ansiosos, deprimidos, emocionalmente sobrecarregados, tentando equilibrar estudos, trabalho, autocuidado, vida social, propósito, militância, saúde física e, ainda, parecer bem.

E não é exagero: dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontavam que os transtornos mentais são a principal causa de incapacitação entre adolescentes e jovens adultos. Um relatório do Unicef (2021) revelou que mais de 60% dos jovens brasileiros relataram sentimentos frequentes de ansiedade e nervosismo durante a pandemia. Mesmo agora, com o fim oficial da crise sanitária, esse esgotamento não desapareceu — apenas se disfarçou. Tornou-se algo mais silencioso: o cansaço de ser forte o tempo todo.

Fonte: www.freepik.com

Fadiga emocional como pano de fundo

A maioria de nós cresceu ouvindo que era preciso se destacar, ser resiliente, “dar conta de tudo”. O resultado? Uma juventude que internaliza o ideal da força como sinônimo de valor. Só que essa força, muitas vezes, não passa de resistência silenciosa. É continuar indo à aula mesmo sem dormir. É entregar o TCC com crise de ansiedade. É sorrir no estágio enquanto o corpo grita por pausa.

E é aí que nasce um tipo de sofrimento que nem sempre vira diagnóstico, mas vai corroendo devagar: o burnout emocional. Originalmente associado ao mundo corporativo, o burnout hoje transborda para universidades, escolas e até redes sociais. O culto à produtividade, embalado pela lógica capitalista e performática, transformou o cotidiano em uma maratona sem linha de chegada. Dormir virou luxo. Descansar, motivo de culpa. Ter tempo livre? Suspeito.

Na escuta clínica, não é raro encontrar jovens que dizem se sentir esgotados sem saber exatamente por quê. Não há, necessariamente, grandes traumas. Só a pressão constante de ter que ser tudo — produtivo, saudável, engajado, criativo, alegre, bonito. E se não for? Vem a culpa. Vem a comparação. Vem a sensação de estar ficando para trás.

A geração da saúde mental… e do silêncio

É curioso — e cruel — que esta seja, ao mesmo tempo, a geração que mais fala sobre saúde mental e também a que mais sofre com ela. As redes sociais popularizaram termos como ansiedade, autoconhecimento e autocuidado, o que ajudou a abrir conversas importantes. Mas falar não é o mesmo que ser ouvido. Falta espaço real — principalmente nas instituições — para lidar com o sofrimento psíquico.

Escolas e universidades, muitas vezes, priorizam desempenho em vez de cuidado. Não basta um “Setembro Amarelo” com balões amarelos e posts no Instagram. É preciso política de acolhimento, escuta contínua, suporte real. O cuidado não pode ser episódico, ele precisa estar no centro da experiência formativa.

Outro ponto importante é o modo como o discurso do autocuidado vem sendo apropriado pelo mercado. Passa-se a ideia de que um banho quente, uma vela aromática ou um skin care resolvem tudo. Quando isso não funciona — e, muitas vezes, não funciona — o jovem se sente culpado. O problema parece estar nele. Ignora-se o contexto, a estrutura, as violências cotidianas que atravessam e adoecem.

Fonte: www.freepik.com

Quando ser forte vira armadura

Quantos jovens você conhece que dizem “tá tudo bem” com um sorriso automático? Para muitos, ser forte virou estratégia de sobrevivência. Mas também virou prisão. A ideia de que “precisamos aguentar” impede o pedido de ajuda. A vulnerabilidade ainda é vista como fraqueza — até mesmo em espaços ditos acolhedores.

A romantização da resiliência faz com que muitos sigam sofrendo em silêncio, até que o corpo adoece, a mente colapsa ou o vazio se instala. E, mesmo assim, há quem se sinta culpado por “fracassar”. Como se descansar fosse desistir. Como se pedir ajuda fosse sinal de incapacidade.

Há urgência em resgatar o direito ao cansaço. O direito de pausar. O direito de não dar conta. O cuidado com a saúde mental não pode ser só reativo, emergencial. Precisa ser contínuo, afetivo, coletivo. Precisa ser real.

E agora? O que a Psicologia pode — e deve — fazer?

Como profissionais (ou futuros profissionais) da Psicologia, temos muito a pensar. É preciso escutar, sim — mas também questionar. Ampliar o olhar para além do sintoma e considerar o contexto. A juventude não está adoecida por escolha. Está sobrecarregada por uma sociedade que cobra demais, entrega pouco e recompensa o desempenho mais do que o vínculo.

Falar em saúde mental como direito social é essencial. Isso implica políticas públicas, ações intersetoriais, formação ética e escuta comprometida. Mas implica, também, no cotidiano: uma escuta que não seja apressada, uma presença que não seja mecânica, um cuidado que não seja raso.

A Psicologia não pode se limitar a diagnosticar e prescrever. É preciso construir espaços onde os jovens possam ser frágeis, contraditórios, humanos. Onde possam parar sem se culpar. Onde o cuidado seja um compromisso e não uma emergência.

Talvez a maior força dessa geração esteja justamente em reconhecer seus limites, em nomear suas dores, em pedir ajuda. Talvez, o que mais precisemos ouvir — e dizer — seja: “Você não precisa ser forte o tempo todo. Posso te ajudar a carregar isso.”

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A situação da saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil: um panorama. Brasília: UNICEF, 2021. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/relatorios/saude-mental-criancas-adolescentes. Acesso em: 13 maio 2025.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Mental health of adolescents. Geneva: WHO, 2021. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/adolescent-mental-health. Acesso em: 13 maio 2025.

ROSA, Andréa. Cultura da produtividade e adoecimento psíquico entre jovens universitários. Revista Psicologia & Sociedade, v. 32, e024507, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/8Zrj3FpdgN9vYmGf8LZ6VmG/. Acesso em: 13 maio 2025.

SANTOS, Débora P.; SILVA, Mário L. da. Juventudes e saúde mental: desafios e possibilidades de cuidado. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, v. 14, n. 38, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/article/view/83293. Acesso em: 13 maio 2025.

FERNANDES, Lucas. Burnout entre jovens: quando o cansaço deixa de ser normal. Nexo Jornal, 12 set. 2022. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/09/12/Burnout-entre-jovens-quando-o-cansa%C3%A7o-deixa-de-ser-normal. Acesso em: 13 maio 2025.

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A Dislexia nunca me parou!

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O relato de uma pessoa que mesmo com os desafios de um distúrbio crônico, está concluindo a 2° graduação.

Fonte: pixabay; Segundo a Associação Brasileira de Dislexia, a dislexia é um distúrbio comum e afeta 5% e 17% da população mundial.

Desde criança, sempre tive dificuldades com a leitura e escrita. Lembro-me de ter que me esforçar muito, mais do que meus colegas de classe para entender o que estava escrito em um livro ou para escrever uma redação. Eu sempre fui uma boa aluna, mas muitas vezes me sentia desanimada e desmotivada por causa das minhas dificuldades com a linguagem.  No DSM IV (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), a dislexia é um distúrbio neurobiológico que afeta a capacidade de leitura e escrita do indivíduo. É um problema de processamento de linguagem que pode afetar a fluência de leitura, a compreensão de leitura e a ortografia. Estima-se que é um distúrbio comum e afeta entre 5% e 10% da população mundial. A causa exata da dislexia ainda não é totalmente compreendida, mas estudos sugerem que fatores genéticos e ambientais podem desempenhar um papel relevante.

Simplificando, a dislexia é uma maneira diferente de o cérebro funcionar. Não é um indicador de inteligência. O cérebro disléxico tem dificuldade em reconhecer como sons, palavras e letras são foneticamente colocados juntos. Essa é outra maneira de pensar. Como aluna, não foi fácil ajustar-se a um sistema educacional que não era preparado para alunos com necessidades especiais. Hoje vejo como os testes de ortografia, técnicas de memória baseadas na repetição, leitura em voz alta na sala de aula e testes de avaliação tradicionais poderia ter me auxiliado e lidar a dislexia como vemos hoje, o quanto essas ferramentas são eficazes e contribuem de maneira significativa no ambiente escolar e acadêmico. No entanto, mesmos com todas as falhas e suporte do sistema de ensino, muitos disléxicos ainda prosperam fora da sala de aula tradicional.

Embora as pessoas com dislexia processem informações de maneira diferente, isso também significa que cantamos músicas diferentes quando se trata de alfabetização, memória e concentração. Eu tive que me virar para aprender e passar de ano na escola. Eu sempre tive muita dificuldade em ler palavras em voz alta, entender o que foi lido, soletrar palavras corretamente, escrever com clareza e precisão, dificuldade em aprender rimas e canções, dificuldade em manusear mapas, dicionários e devido todos esses desafios, fui aprender escrever meu nome com uns oito anos de idade, bem mais tarde do que minhas coleguinhas de sala de aula, razões pelo qual me levou a ter sentimentos de inferioridade e baixa autoestima na infância.

Meus primeiros anos na escola foram de constantes desafios, como para qualquer disléxico. Eu era tão má a escrever que na 3ª série, minha professora de língua portuguesa perdia a paciência várias vezes comigo por não conseguir repedir corretamente as letras do caderno de caligrafia.  Outra professora ficou tão frustrada com minha falta de progresso em um problema de matemática que em uma aula jogou o livro em mim e disse: “engole esse livro pra ver se assim aprende”. A dislexia pode afetar a autoestima e a confiança de um indivíduo, bem como o desempenho acadêmico e a capacidade de se comunicar efetivamente, pois essas situações por um tempo me deixaram muito cabisbaixa.

Quando fui diagnosticada com dislexia aos 10 anos de idade pela minha professora no ensino fundamental, finalmente comecei a entender que minhas dificuldades não eram culpa minha. Eu não tive a oportunidade de ser acompanhada por terapeutas, fonoaudiólogos e professores especializados que me ajudaram a desenvolver habilidades de leitura e escrita. Na época meus pais não deram muita importância a esse diagnóstico e acredito que no fundo eles até compreenderam os motivos das minhas dificuldades, mas devido não terem condições financeiras para pagar o tratamento e acompanhamento necessário, eu cresci tendo que me virar e como não tinha noção na época do que de fato era dislexia, toquei minha infância, adolescência, juventude sem levar a sério e aceitar meu transtorno crônico.

O fato dos meus pais não terem se sensibilizado com minhas dificuldades e a escola (minha professora) por mais que tenha mencionado que eu preenchia características de uma criança com dislexia, ambos não tinham informações suficientes, estrutura e estratégias necessários para poder me ajudar a tratar esse um distúrbio comum. Acredito que, meus pais pensaram apenas que “eu não era muito inteligente” e por isso não tentaram encontrar um ambiente de aprendizagem no qual eu me encaixasse. Com isso, as minhas dificuldades foram identificadas, porém negligenciadas e eu acabei concluindo o ensino médio junto com meus amigos do ensino fundamental.

Fonte: pixabay; A dislexia é um distúrbio neurobiológico que afeta a capacidade de leitura e escrita do indivíduo.

Hoje, adulta com dislexia, ainda tenho dificuldades, mas aprendi a lidar com elas. Uso tecnologia assistiva, como um software de leitura de texto, para ajudar com a leitura e tento me comunicar de outras formas quando a escrita é difícil. Considero-me uma boa aluna, trabalhadora e estou orgulhosa das minhas realizações apesar da dislexia. Mas ser disléxico é uma luta constante, e um dos maiores desafios é a dificuldade em ler e escrever. Para mim, ler um livro técnico de psicologia é como decodificar uma mensagem criptografada, e leva muito tempo e esforço para chegar ao fim. A escrita também é um desafio, com problemas de ortografia e de colocação de palavras em ordem e por isso uso muito o dicionário e pesquisa de sinônimos das palavras para me auxiliar nas escritas.

Além disso, vale ressaltar que a dislexia afetou outras áreas da minha vida, não somente a escolar e acadêmica. Às vezes, tenho dificuldade em entender instruções verbais ou em lembrar nomes e datas importantes. Pode ser frustrante sentir como se estivesse sempre um passo atrás das outras pessoas. Outro desafio é o estigma e a falta de compreensão em torno da dislexia. Muitas pessoas assumem que ser disléxico é uma questão de preguiça ou falta de habilidade, o que pode levar a sentimentos de vergonha e inadequação. É importante lembrar que a dislexia é um distúrbio de processamento de linguagem real e que muitas pessoas com dislexia têm habilidades excepcionais em outras áreas.

Apesar desses desafios, a dislexia também pode ter aspectos positivos. Muitas pessoas com dislexia têm uma forma única de pensar e uma habilidade para pensar fora da caixa e encontrar soluções criativas para problemas. É importante lembrar que a dislexia não define quem somos e que podemos superar esses desafios e alcançar nossos objetivos. Todos nós podemos escolher uma carreira diferente, e inclusive se você pesquisar na internet, há muitos exemplos de pessoas com dislexia que teve e tem sucesso profissional. Além disso, o conhecimento sobre o distúrbio ajuda a entender as vantagens de pensar de maneira diferente e passar a se aceitar.

Apesar dos inúmeros desafios de ter dislexia, vale enfatizar que geralmente temos uma imaginação fértil, altos níveis de criatividade, excelentes habilidades de resolução de problemas e habilidades de comunicação inatas, qualidades inclusivas importantes para os empregadores em todos os campos. No entanto, acho que ainda há um estigma em torno da dislexia e outras diferenças de aprendizado. Muitas vezes, as pessoas assumem que é preguiça ou falta de habilidade quando, na verdade, é um problema real de processamento de linguagem. Espero que um dia haja mais compreensão e apoio para as pessoas com dislexia e outras diferenças de aprendizado, para que elas possam alcançar todo o seu potencial.

Morais J.A (1997), menciona que embora a dislexia não tenha cura, é possível levar uma vida normal se você receber apoio especializado desde cedo. O tratamento com fonoaudiólogo e psicólogo pode ajudá-lo a desenvolver estratégias para superar as dificuldades de fala e outros possíveis obstáculos em sua vida diária. A terapia também é importante para tratar possíveis problemas de autoestima, inclusive foi o que me ajudou nessa jornada.

Felizmente no ano de 2020, me tornei estudante de psicologia e em uma das matérias da faculdade, estudamos sobre os transtornos do neurodesenvolvimento, e um deles foi sobre a dislexia, foi aí que a minha ficha caiu. Eu realmente preenchia os critérios de uma pessoa com dislexia, passei a estudar sobre, aprendi estratégias que me auxilia e atualmente apesar dos desafios diários, eu não desisto de lutar.

E finalizo deixando um conselho para os pais: “Se o seu filho está constantemente sendo orientado a esforçar-se mais, a escrever melhor ou a deixar de ser preguiçoso, então talvez seja necessário levá-lo a fazer os testes para o distúrbio de aprendizagem mais comum do mundo.”

Referências

American Psychiatric Association. DSMIV: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais.  Lisboa: Climepsi Editores; 1996

PAULA, Teles. Os efeitos psicológicos da covid-19. Palmas-TO. Disponível em <: https://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/10097/9834 >. Acessado em 22 fev. 2023.

MORAIS J. A arte de ler, psicologia cognitiva da leitura. O ensino da leitura. Lisboa: Edições Cosmos; 1997. p. 241-72.

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Procrastinação: as causas psicológicas camufladas

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A procrastinação, conhecida como adiamento das atividades ao qual devem ser feitas, pode trazer uma sequência de episódios que possuem questões ambientais, cognitivos, comportamentais e pessoais. Se tratando de algo presente no cotidiano de um acadêmico espera-se que seu desempenho seja prejudicado, tanto quanto um misto de sentimentos decorrentes das circunstâncias advindas pelo processo de acúmulo de tarefas que vão só aumentando, tendo relação das tarefas deixadas para depois e dos sentimentos desagradáveis que a pessoa sente concomitantemente. 

Para que fique claro, procrastinar não significa fazer nada, mas fazer algo menos importante que não seja necessário naquele momento. Nem tudo o que parece é; para algumas pessoas pode caracterizar-se somente como um desleixo e falta de zelo, mas por trás desse desinteresse em realizar tarefas do dia a dia, esconde a temida procrastinação. No entanto, o que é procrastinar? Conforme Dicio (2021), procrastinar significa “adiar ou deixar alguma coisa para depois; não fazer o que precisa ou se programou para fazer no tempo estipulado.” 

A prática dessa atitude poderá revelar possíveis transtornos mentais, como a ansiedade, depressão e problemas com baixa autoestima. Segundo Brito e Bakos (2013) é notável o efeito da procrastinação relacionado à qualidade de vida dos indivíduos, afetando assim o bem-estar; provocando apreensão pela busca de conhecimento a respeito dos motivos de estar agindo de tal forma, e, de como deveria tratá-la. 

 

Fonte: Free pick

 

Falta de interesse, desânimo, rotina estressante, desorganização, dificuldade para chegar no horário são alguns aspectos que precisam ser observados com mais atenção.  Aquela olhadinha de mais de uma hora no Instagram, necessidade de abrir a todo o momento o WhatsApp para ver se recebeu algo interessante, em detrimento ao serviço e aos estudos também não podem passar despercebidos, algo que tem se agravado na pandemia, atual situação que estamos passando, devido ao aumento exagerado do uso de dispositivos eletrônicos.

Conforme a professora de psicologia da Universidade do Rio Grande do Sul, Ana Cristina Garcia Dias, o comportamento de procrastinar pode estar associado a inúmeras consequências negativas, como maiores níveis de estresse, depressão, níveis baixos de bem-estar- físico e mental. Segundo ela, a pandemia piorou a situação com o isolamento, bem como o aumento de atividades nos lares tenha provocado maior índice de procrastinação.

 

Fonte: encurtador.com.br/eqtxK

 

Já Marcos Vinícius Santoro (2019), em seu trabalho de conclusão de curso, na Universidade de Brasília (UNB) destaca que a falta de tempo é um dos motivos que leva o indivíduo a ter a procrastinação como comportamento. Segundo ele, a gestão de tempo é uma alavanca propulsora para vencer a procrastinação, tendo como necessidade acabar com a desorganização e estabelecer prioridades para que a pessoa não fique adiando todas as tarefas que tem para fazer.

Para não procrastinar segue algumas dicas com o intuito de ajudar nas atividades do cotidiano: Não tente resolver tudo de uma vez, ao invés disso, faça uma tarefa de cada vez, além disso tenha o hábito de usar uma agenda para gerenciamento de tempo, como mencionado. Vale ressaltar que essas dicas não substitui a importância de procurar um profissional de psicologia, o qual é capacitado para entender melhor o quadro mental de cada indivíduo. Não seja vencido pela procrastinação, procure ajuda.

Referências

Brito, Fernanda de Souza e Bakos, Daniela Di Giorgio Schneider. Procrastinação e terapia cognitivo-comportamental: uma revisão integrativa. Rev. bras. ter. cogn. vol.9 no.1. Rio de Janeiro. jun. 2013. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872013000100006 Acesso em: 20 set. 2021.

DIAS, Ana Cristina. Como lidar com a procrastinação?. Departamento de Psicologia e do Desenvolvimento da Personalidade da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 9 de julho de 2020. Disponível em https://www.ufrgs.br/jornal/como-lidar-com-a-procrastinacao/. Acesso em: 15 set. de 2021.

PROCRASTINAR In.: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2021. Disponível em: https://www.dicio.com.br/procrastinar/ Acesso em: 20/09/2021.

SANTORO, Marcos Vinícius. Relação entre a procrastinação e as dificuldades encontradas pelos alunos de ciências contábeis da Universidade de Brasília na produção do TCC. 2019. Disponível em https://bdm.unb.br/bitstream/10483/24091/1/2019_MarcosViniciusPiresSantoro_tcc.pdf. Acesso em:15 set. de 2021.

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Influência psicossocial pode causar cardiopatias, aponta especialista

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29“Os problemas pessoais, emocionais podem fazer com que em determinados momentos o indivíduo piore ou desenvolva algum tipo de doença cardiológica em função dos problemas psicossociais dele”, diz profissional

A Psicossomática se trata do estudo da influência psicológica nas patologias somáticas e a relação mente-corpo. Em uma transcrição da linguagem psicológica dos sintomas corporais, os principais métodos investigativos desse fenômeno estão no campo da Psicanálise, em função do inconsciente na atividade terapêutica. Freud foi um dos grandes expoentes dessa teoria (FREUD, 1913). As doenças psicossomáticas podem se instalar por meio de um transtorno neurótico e uma lesão orgânica, mas também existem considerações com base em sintomas de origem psicogênica, estudados por meio de um grupo de neuroses dentro da classificação de transtornos mentais ou de comportamentos. Esses acometimentos são denominados transtornos somatoformes.

As principais características dos transtornos somatoformes consistem na apresentação contínua de sintomas físicos com solicitações persistentes de investigações médicas, porém, com achados negativos e reasseguramentos pelos médicos de que os sintomas possuem base biológica. Esses transtornos podem ser acompanhados de acometimentos em qualquer parte ou sistema do corpo, sendo comuns sensações gastrintestinais, cutâneas anormais, queixas sexuais e menstruais bem como depressão e ansiedade.

Existe também uma variável, chamada Disfunção Autônoma Somatoforme, na qual os sintomas são apresentados pelo paciente como se fossem decorrentes de um transtorno físico de um sistema ou órgão que está sob inervação de controle autônomo do sistema nervoso, como no sistema cardiovascular, gastrointestinal e sistema respiratório. O curso do transtorno pode ser crônico e flutuante, podendo estar associado ao rompimento do envolvimento social, interpessoal e familiar.

Para elucidar as principais dúvidas sobre o assunto, foi entrevistado o médico Cardiologista Genildo Ferreira Nunes. Genildo graduou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte no ano de 1998. Especializou-se em cardiologia e ritmologia cardíaca, em cardiologia e eletrofisiologia clínica e invasiva. Possui habilitação em Estimulação Cardíaca Artificial (Marcapasso). Atualmente atua como coordenador do serviço de eletrofisiologia do Hospital Geral de Palmas e professor do curso de Medicina da Universidade Federal do Tocantins. Atua nas áreas de cardiologia, eletrofisiologia clínica/invasiva e implante de marcapassos.

(En)Cena –  Dentro de uma visão ampla, como poderia descrever a relação existente entre Transtorno Psicossomático e Sistema Cardiovascular?

Genildo Ferreira – Obviamente como em todos os sistemas, no cardiovascular existe uma possibilidade, uma incidência grande de problemas psicossomáticos. Os problemas pessoais, emocionais externos podem fazer com que em determinados momentos o indivíduo piore ou desenvolva algum tipo de doença cardiológica em função dos problemas psicossociais dele. Posso dar exemplo também aqui no caso de pacientes psicossomáticos que desenvolvem um transtorno de pânico e tem queixas freqüentes, por exemplo, de muitas palpitações. Na cardiologia, palpitações está relacionada à arritmia cardíaca mas nem sempre isto acontece, então a gente vai buscar ou vai tentar gravar este evento e observa através de exames como Holter e Looper. Em alguns casos aquelas palpitações que o paciente está referindo não está se traduzindo em arritmias, ou seja, ele tem o sintoma emocional e de fato não é arritmia, este é o exemplo do paciente psicossomático.

(En)Cena –  Algumas pesquisas apontam a raiva como um fator desencadeante à doença Psicossomática com impacto no sistema cardiovascular. Concorda com esta afirmação?

Genildo Ferreira – Não necessariamente apenas a raiva, mas um quadro de estresse que gera uma angústia que pode predispor o indivíduo a este quadro psicossomático. No meu ponto de vista o indivíduo que desenvolve a psicossomática é o perfil de um indivíduo que tem problema psicológico. Uma pessoa que não apresenta nenhum tipo de problema emocional, psicológico, que esteja estável emocionalmente (não sei como vocês psicólogos traduziriam este princípio, esta condição), mas o que quero dizer que dentro de condições que não desviam de uma normalidade a pessoa não apresenta problemas psicossomáticos, porque estes são característicos de pessoas ansiosas.

(En)Cena –  Poderia contribuir com alguma característica sobre o diagnóstico e o prognóstico do paciente? Quem ou qual o grupo de pessoas que estaria mais vulnerável a ter doenças psicossomáticas?

Genildo Ferreira – Quem está mais predisposto são as pessoas que tem problema de ansiedade e depressão, que tem um transtorno ou um distúrbio. Sobre a forma de diagnosticar vai depender da queixa do paciente; por exemplo, a pessoa pode ter uma queixa psicossomática de dispneia, que é a sensação de falta de ar, essa dispneia pode ser apenas de origem psicogênica, mas pode ser de origem cardiológica. Então eu tenho que investigar lançando mão de métodos que investigam dispneia de origem cardiológica, por exemplo o eletrocardiograma. Vou analisar a função estrutural do coração como que está, para afirmar ou descartar a hipótese de doença psicossomática. Posso pedir um teste de esforço também para ver se o indivíduo durante a atividade física e esforço realmente apresentará a dispneia. Também lanço mão de exames complementares específicos para aquela determinada queixa que o profissional possa estar suspeitando que seja algum sintoma psicossomático. Então a dispneia, palpitações e dores torácicas podem ser exemplos de sintomas psicossomáticos.

(En)Cena – Sobre tratamento, o que poderia dizer que tem maior resultado atualmente?

Genildo Ferreira – Não se trata a doença e sim a ansiedade, por exemplo. Mesmo porque não existe a doença, é o psíquico, mimetizando o somático; o paciente não está mentindo, ele está sentido palpitações ou, por exemplo, aquela dor torácica não é originada por problemas cardiovasculares ou físicos é apenas psíquico. Ao descartar as possibilidades de disfunções cardiológicas a orientação é que o paciente busque tratar o psicológico dele, o psíquico.

(En)Cena – No dia-a-dia da sua atuação, tem se deparado com muitos pacientes com doenças psicossomáticas? Conhece dados que mensuram o aumento dos números de casos nos últimos anos? E qual a faixa etária predominante e o gênero?

Genildo Ferreira – Tem bastante. Acredito que 30% das queixas podem ser de origem psicossomática. Hoje em dia o hábito de vida, o modo de vida das pessoas tem uma tendência muito grande a gerar problemas psicossomáticos relacionados a ansiedade, depressão e acredito que todo este contexto que gera a psicossomática está relacionado com indivíduos que têm problemas com a ansiedade. O paciente acredita que tem um problema e acaba sentindo este problema sem ter. Não aprofundei neste assunto, não observo dados em literaturas sobre a faixa etária e gênero. Considero não ser inerente a sexo ou idade, todos apresentam o quadro de psicossomática.

(En)Cena – Como o paciente reage quando percebe que é uma doença psicossomática? E sobre a aceitação deste diagnóstico?

Genildo Ferreira – É o primeiro passo do tratamento. Tentar convencer ele que aquele problema que ele tem, aquela arritmia, aquela dispneia ou a dor torácica não é um problema orgânico, mas algo mais específico, está mais relacionada a um quadro psicológico de ansiedade, de estresse, isto está fazendo com que ele perceba este sintoma sem necessariamente ele ser uma alteração orgânica. A indicação para este paciente é em algumas situações tratamento farmacológico para ansiedade e acompanhamento psicológico. Sobre a aceitação de fazer um tratamento psicológico depende do perfil da pessoa, não necessariamente o paciente tem esta aceitação. Depende muito também da relação ética estabelecida com o paciente, da confiança que o paciente vai ter em relação ao profissional e do próprio perfil do profissional. Tem pessoas que são difíceis de entender, tem pessoas que tem maior facilidade de aceitação, quando descobrem que o problema é psicossomático eles conseguem aceitar e a maioria deles melhora. Melhora porque a pessoa faz vários exames e quando ela descobre que não existe alteração física, um quadro físico determinante dos seus sintomas, esta descoberta leva a um relaxamento por parte do paciente, a notícia para ele é boa, e acredita que acabou a doença e que nunca mais vai sentir aquela dor… ele não fez uso de nenhum medicamento, apenas teve conhecimento dos resultados dos exames constatando que não tinha nada detectado em seu organismo. Isto ocorre de forma muito acentuada.

(En)Cena – Gostaria de comentar sobre algum caso em especial, que foi mais difícil, mais angustiante ou mais intenso de cuidar? Por quê?

Genildo Ferreira – Os casos mais clássicos que tenho são relacionados à minha especialidade, as arritmias, pessoas com queixas de muitas palpitações, pessoas com anotações de 10 a 15 vezes nos diários de Holter que teve palpitações e quando a gente analisa os horários e as queixas o exame não detectou palpitações, não foi registrada nenhuma arritmia durante 24 horas. E a abordagem para com este paciente sobre suas palpitações é que não houve registro, é um quadro psicológico! Também pode ocorrer o que chamamos de hipertensão de avental branco. Diante do médico ou indivíduo que vai aferir, a pressão aumenta a ansiedade do paciente, aumenta a frequência cardíaca e a pressão sobe ali momentaneamente. E ao sair do hospital e da clínica a pessoa volta ao normal, este é um componente do psicossomático muito grande, um exemplo muito clássico da psicossomática. A pressão sobe apenas naquele momento que está ali sob o exame clínico. Isto ocorre muito no exame de Monitorização Ambulatorial de Pressão Arterial (MAPA), onde a pessoa vem na clínica, coloca o aparelho e a pressão sobe, sai da clínica a pressão normaliza, volta no dia seguinte para tirar o aparelho e a pressão sobe novamente, é o exemplo de hipertensão do avental branco.

Sobre um exemplo que considero complacente a este assunto e especificamente em um atendimento sobre quadro de dor pós-cirúrgica. Na ocasião a equipe revisou toda a cirurgia, fizemos todos os procedimentos de analgesia potencialmente eficaz e a dor não passava. Mas percebíamos que ela tinha um quadro de ansiedade muito forte. Descrevia que a dor vinha e ela ficava agitada, “correndo dentro de casa” com as mãos na cabeça desesperada e nos relatou após os vários procedimentos de analgesia que começou a tomar uma água ionizada e a dor melhorou… Não tenho conhecimento de propriedades antiinflamatórias cientificamente comprovadas de nenhum tipo de água. Pode ter sido um sintoma psicossomático muito grande ou, ao contrário, a parte emocional da paciente pode até ter tratado a queixa orgânica dela. Isto também pode acontecer, por questões de Fé, onde a Fé cura por desencadear mecanismos neuro-hormonais. Tenho consciência que a gente não conhece tudo, mas a fé pode até modificar a fisiologia do corpo. A força cerebral da paciente, de acreditar no consumo daquela água em beneficiar a sua dor, pode ter sido tão grande que desencadeou antiinflamatórios endógenos, ter feito a liberação destes antiinflamatórios com respostas neuro-hormonais, em todo processo antiinflamatório, isto pode acontecer.
Outra observação sobre a psicossomática num contexto geral, trago para a discussão o caso de mulheres que tem uma vontade imensa de engravidar e cresce a barriga, desenvolve uma mama lactante, ou seja, desencadeou no seu organismo mecanismos fisiológicos que teoricamente só seriam desencadeados durante o ciclo gravídico dela, gerando a gravidez psicológica.

(En)Cena – Poderia nos descrever alguma ocorrência de psicossomática sobre o impacto emocional da cirurgia cardíaca?

Genildo Ferreira – Especificamente trazer a psicossomática neste quadro não seria um diagnóstico exclusivo, no entanto é sabido que se trata de uma situação delicada. Imagina você que o indivíduo vai passar por um procedimento, que vai abrir o peito, que vai cortar o coração, o coração dele vai parar de bater, vai colocar uma válvula, uma ponte safena, ele vai ficar morto durante aquele período, o coração dele vai ficar sendo uma bomba externa que vai ficar circulando. O pulmão vai ficar artificial e o coração dele também vai ficar artificial. Os órgãos pulmão e coração dele vão ficar lá funcionando literalmente como máquinas. Entendo que a pessoa vai ter um medo muito grande de morrer durante o procedimento. Então geralmente resulta em pânico, transtorno e medo, sintomas muito acentuados nos pacientes. Cada paciente absorve isto de uma forma diferente, a gente sente que a pessoa passa a ficar muito pensativa, passa por um abalo emocional muito grande.

REFERÊNCIAS:

DE MELLO FILHO, JULIO ; BURD, MIRIAM. Psicossomática hoje. SÃO PAULO: Artmed Editora S.A., 2010.

FONTES NETO, Paulo T. L. et al. A dermatite atópica na criança: uma visão psicossomática. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul, PortoAlegre, v. 28, n. 1, p. 78-82, Apr.  2006 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082006000100010&lng=en&nrm=iso>. acessoem 21  Maio 2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S0101-81082006000100010.

MOAL, M. Le. Psicossomática (doença). In: DORON, Roland; PAROT, Françoise. Dicionário de Psicologia. Pesses Universitaires de France: CLIMEPSI EDITORES, 1991.

RIECHELMANN, José Carlos et al. Medicina Psicossomática e Psicologia da Saúde: Veredas Interdisciplinares em Busca do “Elo Perdido”. In: ANGERAMI, Valdemar Augusto et alPsicologia da Saúde. Câmara Brasileira do Livro: Pioneira Thomson Learning, 2000.

SARTORIUS, N. AT AL. F45 Transtornos somatoformes. In: WORLD HEALTH ORGANIZATION. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10. Porto Alegre – RS: ARTMED EDITORA S.A., 1993.

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Discursos desconexos de crise em Estamira

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O Documentário

No ano de 2000, o diretor e fotógrafo Marcos Prado se dedicava havia seis anos a documentar em fotos o cotidiano do aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. Lá encontrou a senhora Estamira Gomes de Souza e resolveu então fotografá-la, ela concordou, mas com uma condição, ele teria que conversar com ela depois. Marcos Prado cumpriu o combinado e ficou encantado com o discurso desconexo, diferente, que ora fazia sentido, ora não fazia sentido algum. Eles ficaram próximos. Então, em uma de suas conversas, após Estamira desvendar que ele tinha a missão de revelar a verdade dela, Marcos decide fazer o documentário: ESTAMIRA, lançado em 2006, que retrata a vida dessa senhora (JUHAS; THIAGO, 2011).

O documentário participou do festival de Cinema do Rio de Janeiro, em setembro de 2004. Desde esta data o filme começou a aparecer com frequência na imprensa. Em 28 de julho de 2006, o documentário estreou no circuito de cinemas do Rio de Janeiro e São Paulo tendo presença nos jornais até 2007, ano de lançamento da película em formato de DVD. Foram quatro anos de filmagem, três Natais registrados, ou seja, muitas idas ao lixão (CARVALHO, 2010).

A Biografia

Nas palavras de Estamira:

“A minha missão, além de eu ser Estamira, é revelar a verdade, somente a verdade. Seja mentira, seja capturar a mentira e tacar na cara, ou então ensinar a mostrar o que eles não sabem, os inocentes… Não tem mais inocente, não tem. Tem esperto ao contrário, esperto ao contrário tem, mas inocente não tem não”.

Segundo Szabô et al (2013), Dona Estamira narra sua história de 62 anos de vida, sendo que 20 deles foram vividos no aterro sanitário. Os filhos ajudam a construir a sofrida e inóspita trajetória da mãe. Hernani, Carolina e Maria Rita contam a respeito do passado, da convivência e da percepção a respeito do quadro clínico da mãe. Estamira ficou sob os cuidados de sua mãe e do avô após o falecimento do pai, sua mãe sofria de transtornos mentais e o avô além de abusar dela sexualmente, a levou para um bordel, quando tinha apenas 12 anos de idade, ficou lá por cinco anos, até conhecer o seu primeiro marido, com quem teve o primeiro filho.

O casamento não durou muito, pois o marido era mulherengo e agressivo. E passado algum tempo depois, Estamira conhece seu segundo marido. Após casar-se novamente com um emigrante italiano, tem um segundo filho.  Confessa que amava o companheiro, porém o relacionamento também era conflituoso. O novo marido insistia em internar sua sogra em um hospício, Estamira relutou bastante, mas acabou cedendo e sua genitora foi para o Hospital Psiquiátrico Pedro II.

O relacionamento fracassou por motivos comuns ao casamento anterior. Estamira é expulsa da casa do italiano e então, recomeça sua vida no Jardim Gramacho e é de lá que retira o sustento da família. Assim que se instalou ali, foi buscar a mãe no sanatório psiquiátrico, que era famoso até meados da década de 80, pelos maus tratos a seus pacientes (SZABÔ et al, 2013).

Carolina conta do recomeço no lixão depois da separação dos pais, disse que a rotina de Estamira como catadora era muito desgastante, chegando a dormir várias noites na rua ao relento, aquela realidade insalubre descontentava os filhos que convenceram a mãe de procurar um novo emprego. No novo trabalho tudo parecia favorável até que um certo dia, voltando de uma confraternização da firma, foi estuprada no caminho. E outro episódio de violência sexual aconteceu próximo a sua casa. Mais ou menos nessa época que Estamira começa a apresentar distúrbios psíquicos (CARVALHO, 2010).

Ela reage de forma muito negativa quando o assunto é Deus ou Jesus Cristo, manifesta crises de raiva, euforia e delírios de grandeza. Até se coloca como superior a Deus, nos seus delírios, mas nem sempre foi assim, segundo a filha Carolina a mãe era uma mulher religiosa antes dos distúrbios mentais e acreditava que todo aquele sofrimento pelo qual estava passando era uma provação divina (CARVALHO, 2010).

Segundo Carvalho (2010), o filho Hernani já contou com a ajuda do padrasto italiano para levar a mãe do aterro imobilizada, em busca de uma internação, em algum hospital psiquiátrico do Rio de Janeiro, essa atitude a deixou revoltada e inconformada. O filho é protestante e diz que evita a mãe porque ela blasfema contra religiões e principalmente contra a dele. Evita também por ela ser “clinicamente completamente louca”. Também coloca que “espiritualmente falando ela tem influências demoníacas”. Ele confessa o desgaste da relação e se diz cansado, o que justifica o distanciamento dos dois. Já Carolina não concorda com as internações e prefere as coisas do jeito que estão sem a necessidade da mãe ser amarrada e dopada.

Conforme Sousa (2007), Estamira não mede as palavras e sua indignação vem à tona, acompanhada de delírios, que por sua vez tem a coerência e a lucidez de abarcar os valores falidos de nossa sociedade, uma verdadeira denúncia social de nosso tempo. Um exemplo tem haver com a burocratização do saber referindo-se aos doutores, como: “copiadores de receita”. Questiona, portanto, os automatismos das prescrições e expõe uma falta de originalidade nos atendimentos do serviço de saúde mental, a maneira ainda preponderante de enxergar o quadro clínico do paciente pautado no modelo médico, ou seja, isolando a singularidade do sujeito.

Outra problemática levantada pela protagonista é o consumismo exacerbado de nossa cultura, ela se refere ao lixo dizendo: “Isso aqui é um depósito de restos. Às vezes é só resto. E às vezes vem também descuido. Resto e descuido”. O homem se apega ao desnecessário e precisa frequentemente recorrer à compra numa ilusória busca de prazer, que é imediato e que não preenche as lacunas existenciais pendentes, dessa forma, o desperdício é inevitável, até porque há uma constante substituição, ou seja, é um ciclo vicioso.

O documentário e a personagem problematizam o desamparo humano, seja ele, biológico, familiar, também social, econômico e político. E Estamira não só vivencia todos os dias esse descaso, como aproveita a oportunidade de ser ouvida para estampar sua revolta, mostra o que faz-se questão de ser ignorado, esquecido, deixado de lado. Mostra que além dos rótulos ela tem identidade própria, ela tem sentimentos, história, sabedoria e traumas. (JUHAS; THIAGO, 2011).

Ela fala, grita, pensa, demonstra, faz, olha, argumenta. Sua voz é o fio condutor de toda a narrativa do documentário, e revela o quanto o poder narrar e expressar um sofrimento faz a vida resistir, mesmo no meio dos escombros e dos detritos” (SOUSA, 2007, p.52).

Estamira morre no dia 28 de julho de 2011, no Hospital Miguel Couto, Rio de Janeiro, mais uma vez negligenciada, vítima do caos da Saúde Publica precária de nosso País. Faleceu em decorrência de uma septicemia (infecção generalizada).

Relação entre o documentário e o tema crise

Os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), NAPS (Núcleos de Atenção Psicossocial) e CERSAMs (Centros de referência de Saúde Mental) são os então “serviços de atenção à crise” que propõem outra intervenção que não a asilar/hospitalocêntrica preponderante antes da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial, houve uma reformulação da assistência em Saúde Mental. (FERIGATO; CAMPOS; BALLARIN, 2008).  Mas será que depois dessa reformulação o sujeito que sofre psiquicamente tem o suporte que necessita? Sente-se acolhido? Reconhece aquele espaço como um apoio, o qual pode confiar?

No documentário o que fica claro pela personagem é uma contundente crítica ao atendimento prestado pelo serviço, como mencionado anteriormente, refere-se aos médicos como “copiadores de receita”, não compreende a rapidez com que se chega a um quadro clínico, numa breve conversa, e como logo uma medicação universal é prescrita, sem o cuidado de pensar se aquela seria a melhor opção para o seu caso em específico.

De acordo com Ferigato; Campos e Ballarin (2008), a medicação não pode ser vista como a única e suficiente solução para o paciente, no que tange o rebaixamento da sintomatologia, mas de ser ministrada no intuito de estabelecer condição de relação diferente entre paciente e seu problema, equipe e meio ambiente.

[…] cada decisão de uma intervenção farmacológica deve estar incluída dentro de uma estratégia geral que tem em seu centro o projeto terapêutico singular do usuário e não a simples eliminação dos sintomas. Caso contrário, da mesma forma que os psicotrópicos podem representar um importante meio de trabalho e de comunicação dentro e fora da instituição, facilitando a relação entre o paciente e a vida, quando mal administrado, podem também representar o maior obstáculo desta mesma relação. (SARACENO et al., 2001, apud FERIGATO; CAMPOS; BALLARIN, 2008, p. 39)

Agressões conjugais, estupros, traições, miséria e outros, segundo Portella, Bueno e Nardi, (2001 apud CARVALHO, 2010) são possíveis estressores ambientais causadores de distúrbios mentais. Porém estes fatores ambientais psicossociais devem pressionar uma vulnerabilidade específica, como genes ou hereditariedade. O filme traz estes dois fatores – hereditariedade e ambiente.

A crise, elucida Ferigato; Campos e Ballarin (2008) pode emergir de uma situação imprevisível, por exemplo a morte, ou previsível como gravidez e envelhecimento. “Nesta perspectiva o adoecimento é entendido como uma forma de adaptação e de reação do sujeito frente aos estímulos internos ou externos ao organismo” (p. 24).

O documentário proporciona um espaço de escuta a Estamira e dessa forma ela aproveita a oportunidade para jogar para fora tudo que a muito tempo se acumulava. Segundo Carvalho (2010), mesmo em um lugar tão insalubre e fétido, Dona Estamira encontra formas de driblar uma realidade aparentemente intolerável, ela se distrai e interage com os colegas de trabalho e naquele lugar ela se vê livre dos preconceitos que seus distúrbios e a própria sociedade lhes traz.

REFERÊNCIAS:

CARVALHO, H. E. Loucura no Cinema e no Jornal: olhar da divulgação científica com análise fílmica e de repercussão do documentário Estamira na mídia impressa brasileira. 2010. 76 f. Monografia (Especialização em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde) Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2010.

FERIGATO, Sabrina; CAMPOS, Rosana Teresa Onoko; BALLARIN, Maria Luisa GS. O atendimento à crise em saúde mental: ampliando conceitos. Revista de Psicologia da UNESP, v. 6, n. 1, 2008.

JUHAS, Thiago Robles; SANTOS, Niraldo de Oliveira. Ainda em cartaz, “Estamira”: A Psicanálise nas telas do Cinema. Estud. psicanal.,  Belo Horizonte ,  n. 36, p. 157-164, dez.  2011 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372011000300015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em  09  maio  2016.

RICARDO VILLELA (Rio de Janeiro) (Ed.). Morre Estamira: personagem-título de premiado documentário brasileiro. 2011. Disponível em: <http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/07/morre-estamira-personagem-titulo-de-premiado-documentario-brasileiro.html>. Acesso em: 10 maio 2016.

SOUSA, Edson Luiz André de. Função: Estamira. Estud. psicanal.,  Belo Horizonte ,  n. 30, p. 51-55, ago.  2007 .   Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372007000100007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em:  09  maio  2016.

SZABÔ, Alexandre ET al. VII JORNADA DE SOCIOLOGIA DA SAÚDE. ISSN: 1982-5544, 2013, Curitiba. OS DELÍRIOS DE ESTAMIRA: DA INVISIBILIDADE À EXCLUSÃO SOCIAL. Núcleo de Estudos e Pesquisas em Bioética – NEB. Faculdades Pequeno Príncipe. Curitiba, 2013.

FICHA TÉCNICA DO FILME: 

ESTAMIRA

Diretor: Marcos Padro
Elenco: Estamira
Pais: Brasil
Ano: 2006
Classificação: Livre

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“Vamos falar sobre Suicídio?” é tema do 1º Encontro sobre Saúde Mental em Palmas

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Nesta sexta-feira, dia 22 de setembro de 2017, aconteceu o 1º Encontro sobre Saúde Mental na Universidade Federal do Tocantins – Campus Palmas. Promovido pela Secretaria Municipal de Saúde (Semus), faz parte da programação “Setembro Amarelo: Prevenção ao Suicídio”, sendo o segundo evento incluído na programação.

O encontro foi realizado em dois momentos. O início se deu no auditório da Universidade da Maturidade (UMA), que faz parte da UFT, com a Mesa de Abertura composta pelo psiquiatra Flávio Dias Silva e os psicólogos Camila Brusch, Tássio de Oliveira Soares e Johnatan Rospide. Este último abordou o suicídio a partir de um posicionamento ético e político, como um sintoma da sociedade, e defendeu a tese de que o atual processo de subjetivação está produzindo subjetividades que são solo fértil para o suicídio.

A psicóloga Camila Brusch introduziu sua fala detalhando os temas que seriam tratados nas rodas de conversa, como orientação sexual, identidade de gênero, violência sexual, violência doméstica e abuso infantil. Camila também alertou sobre o índice de suicídio ser oito vezes maior na comunidade LGBT.

Mesa de Abertura. Foto: Laryssa Araújo.

Tássio trouxe à mesa a perspectiva do suicídio indígena, que é constantemente vivido por estas comunidades e que possui um significado cultural distinto ao do que os profissionais da saúde estão mais habituados a trabalhar, isto é, o da cultura não indígena. Além disso, indicou que o papel do psicólogo, quando inserido nesses grupos, é de dar voz para esses povos e amenizar a ação do governo sobre os mesmos.

E o psiquiatra Flávio Dias Silva comentou a sua atuação baseada na medicina centrada na pessoa, onde o cuidado é primordial. Explanou que atualmente as áreas provedoras de cuidado estão sendo insuficientes e, ainda, as pessoas estão acumulando raiva, esta se generaliza de tal modo a ponto de voltar-se para si mesma, como o suicídio. Nisso, é essencial que os profissionais da saúde trabalhem desenvolvendo a resiliência nessas pessoas.

O segundo momento foi realizado no Bloco C, da universidade, em três salas que contemplavam as rodas de conversa com temas distintos. Foram eles “Suicídio, automutilação e transtornos mentais”, que teve o psiquiatra Flávio Dias Silva como facilitador; ”Suicídio e sexualidade”, com os mediadores o psiquiatra Luís Prestes e a psicóloga Camila Brusch; e “Suicídio e cultura”, com os mediadores – psicólogos – Johnatan Rospide e Tássio de Oliveira Soares.

Para Isabelle Rabelo, acadêmica de Enfermagem do CEULP, a roda de conversa sobre suicídio e automutilação lhe propiciou, como futura profissional, uma visão mais humanizada no que se refere à saúde mental. Ademais, afirma que se alegrou ao ver a diversidade de profissionais presentes que buscam formação humanista para tratar dessa problemática.

Nesse contexto, o evento contribuiu com o objetivo proposto. Favoreceu diálogos entre a comunidade e profissionais da saúde sobre os saberes acerca do suicídio, sua prevenção, diagnóstico e intervenção. É válido ressaltar que o “Setembro Amarelo: Prevenção ao Suicídio” ainda tem mais duas atividades, no IFTO e no Parque Cesamar, até o dia 10 de outubro de 2017. Clique aqui para acessar a Programação na íntegra.

Setembro Amarelo. Fonte: https://goo.gl/PX4Y6K

Vamos falar sobre Suicídio?

Um problema de saúde pública que vive atualmente a situação do tabu e do aumento de suas vítimas é o suicídio. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer. Tem sido um mal silencioso, pois as pessoas fogem do assunto e, por medo ou desconhecimento, não veem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas. A esperança é o fato de que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 9 em cada 10 casos poderiam ser prevenidos. É necessário a pessoa buscar ajuda e atenção de quem está à sua volta.

Saiba mais sobre o Setembro Amarelo

Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio, com o objetivo direto de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo e suas formas de prevenção. Ocorre no mês de setembro desde 2015, por meio da identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela e ampla divulgação de informações.

CVV – Centro de Valorização da Vida (uma das principais mobilizadoras do Setembro Amarelo) é uma entidade sem fins lucrativos que atua gratuitamente na prevenção do suicídio desde 1962, membro fundador do Befrienders Worldwide e ativo junto ao IASP – Associação Internacional para Prevenção do Suicídio), da Abeps (Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio) e de outros órgãos internacionais que atuam pela causa.

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Lançamento de Mentes Depressivas desmistifica a doença do século

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Escrito pela médica psiquiatra e escritora best-seller Ana Beatriz Barbosa, o livro aborda a depressão e será lançado em novembro pelo selo Principium

“De simples, a depressão não tem nada. Tudo nela tem o selo da complexidade humana.”

A Globo Livros lança, pelo selo Principium, Mentes depressivas – As três dimensões da doença, de Ana Beatriz Barbosa, autora dos best-sellers Mentes Perigosas – o psicopata mora ao lado, Mentes consumistas: do consumismo à compulsão por compras, Bullying: mentes perigosas nas escolas e Mentes Inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Com mais de 2 milhões de livros vendidos, a aclamada escritora é referência nacional no tratamento dos transtornos mentais e realiza palestras e consultorias em todo o país.

Baseada em sua ampla experiência clínica em comportamento humano e psiquiatria, além de estudos e pesquisas recentes, Ana Beatriz Barbosa desmistifica a doença considerada um problema de saúde pública. Com linguagem envolvente e acessível a um público amplo, a autora aborda a depressão de maneira inovadora por meio das dimensões que a estruturam, a física, a mental e a espiritual.

Pesquisas comprovam que os índices de pessoas acometidas por quadros de depressão clínica aumentam a cada ano. Contudo, a falta de informação sobre o assunto impede o diagnóstico e impossibilita o tratamento adequado e eficaz contra o sofrimento crônico.

Os capítulos de Mentes depressivas abordam as diferentes faces da depressão, suas causas, sintomas e tipos, como a depressão infantojuvenil, aquelas que acometem pessoas na terceira idade e a depressão feminina, que acontecem principalmente durante o período pós-parto ou na menopausa. Na obra, Ana Beatriz ajuda a compreender a fundo o problema e apresenta estratégias para a recuperação e os tratamentos existentes.

Estudos científicos atuais revelam que 90% dos casos de suicídio estão associados a transtornos mentais que, se fossem corretamente diagnosticados e adequadamente tratados, evitariam um número significativo de perdas vitais. Por esse motivo, a autora dedica parte do livro para analisar o assunto, que ainda é considerado um tema tabu e tratado com preconceito e ignorância.

Sobre a autora:

Ana Beatriz Barbosa Silva é médica graduada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É professora honoris causa pela UniFMU – SP e diretora da clínica ANA BEATRIZ BARBOSA SILVA – Comportamento Humano e Psiquiatria (RJ). Nascida na cidade do Rio de Janeiro, Ana Beatriz é referência nacional no tratamento dos transtornos mentais. Realiza palestras, conferências e consultorias em todo o país sobre variados temas do comportamento humano e é autora de diversos livros, entre eles Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado, Mentes consumistas: do consumismo à compulsão por compras, Bullying: mentes perigosas nas escolas e Mentes Inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade, todos publicados pelo selo Principium.

FICHA TÉCNICA

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MENTES DEPRESSIVAS – AS TRÊS DIMENSÕES DA DOENÇA DO SÉCULO

Autor: Ana Beatriz Barbosa Silva

Páginas: 288

Formato: 16x23x1,7 cm

Gênero: Não ficção

ISBN:  978‑85‑250-6292‑5

Editora: Principium

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Medicina Chinesa: Tai Chi Chuan previne e auxilia no tratamento de transtornos mentais

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De acordo com o Mestre Woo, qualquer um pode praticar o Tai Chi, inclusive aquelas pessoas debilitadas por alguma doença.


Imagem IV Mostra

Mostre Woo é conhecido nacionalmente pela sua atuação na medicina preventiva 1

Foi um sucesso a oficina do médico e mestre em Tai Chi Chuan, Moo Shong Woo, taiwanês que mora em Brasília há 40 anos e é conhecido nacionalmente pelas suas aulas abertas e gratuitas em Brasília.

O (En)Cena conversou com Mestre Woo, como é tratado, depois de sua participação na oficina da Academia da Saúde, na manhã desta quinta, 13, durante a IV Mostra Nacional de Experiência em Atenção Básica. O objetivo é conhecer um pouco mais desta arte marcial chinesa de alto impacto terapêutico, que auxilia no tratamento de vários transtornos como ansiedade, insônia, falta de disposição física, dentre outros.

De acordo Mestre Woo, o Tai Chi Chuan “é uma cultura de interiorização que remete a milênios, faz bem à saúde do corpo e da mente, e tem que ser praticado com calma, observando a respiração e o próprio corpo”. Para o médico, qualquer um pode praticar o Tai Chi, inclusive aquelas pessoas debilitadas por alguma doença. “Pelo simples fato de experimentar os suaves movimentos, a pessoa cria as condições para aos poucos fortalecer a saúde”, explica, ao dizer que a prática atua na desobstrução dos “meridianos”, os canais de energia que são estimulados pela já amplamente conhecida acupuntura, e que são a base da constituição psicofísica dos seres, pela tradição chinesa.

De forma geral, o Tai Chi consiste de uma série de movimentos coordenados, com o uso de alongamentos e observação da respiração. Neste processo de “tomada de consciência” do próprio corpo e das construções mentais, o praticante aos poucos altera a forma como vê o mundo e a si mesmo, num típico exemplo de que “corpo e mente podem atuar juntos para o bem-estar. Ou seja, o Tai Chi é uma espécie de manifestação física de um percurso espiritual, interno, que amplia nossa visão do mundo”, destacou Mestre Woo, ao reforçar que a prática constante leva a pessoa a fortalecer o sistema imunológico, experimentar uma melhora do condicionamento físico e, assim, evitar uma série de doenças, sobretudo aquelas de ordem mental.

Imagem IV Mostra

Mostre Woo é conhecido nacionalmente pela sua atuação na medicina preventiva 2

A estudante de Fisioterapia Wanessa Moreira de Brito, de 22 anos, disse que sempre teve curiosidade em conhecer um pouco mais sobre a antiga técnica, no entanto ainda não havia encontrado a oportunidade de participar de uma aula. “Esta breve explanação me estimulou a procurar alternativas de especialização e aprofundamento nesta área, pois além de envolver o corpo, de ter um movimento, há o componente da meditação, um grande diferencial para aquelas pessoas que não apenas têm que mudar a sua postura física, mas também a mental”, disse.

Mestre Woo foi um dos fundadores da Associação Being Tao, nos anos 80, e desde aquela época oferece uma série de serviços para a comunidade brasiliense. No começo, nem o Ministério da Saúde nem os pesquisadores de práticas complementares se interessavam pela arte. Hoje, o Tai Chi Chuan (juntamente com a yoga e a acupuntura) é amplamente recomendado tanto pelo Ministério quanto pela própria Medicina como um componente importante na recuperação de diversos pacientes.

SERVIÇO

Na capital federal, as aulas abertas ocorrem na Praça da Harmonia Universal de segunda a sábado, às 7h30; às segundas-feiras e quartas-feiras, também há aulas a partir das 19h.

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tristeza

Sofrer está na moda

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Conversava com um amigo sobre coisas rotineiras do dia a dia, quando ele afirmou categoricamente, “O problema é que sou bipolar, sempre começo as coisas e não as termino…”.

Eu me ri, e disse: “Acho que você quis dizer que você é inconstante, não?”.

Ele retrucou: “Mas é que bipolar é mais bonitinho…”.

E começamos a rir juntos.

Quem diria… Houve um tempo em que sofrer de um transtorno mental era vergonhoso. Por séculos a sociedade escondeu “o diferente” em asilos psiquiátricos. Mas hoje me dia as pessoas não se importam, e vestem-se do sofrimento mental porque é bonitinho, e está na moda.

Há um consenso coletivo das massas de que: Depressão, Transtorno Bipolar, Estresse, Transtorno Compulsivo Obsessivo (TOC) e Síndrome do Pânico estão em alta. É elegante e chamativo sofrer de um ou mais desses transtornos.

E o que falar das Psicopatias e da Esquizofrenia? Viraram sinônimo de comédia e divertem centenas de pessoas em forma de piada e/ou jargões na boca de comediantes da TV aberta.

A Hiperatividade por sua vez, é o mal do século desse ano… Quem é que não tem um filho, sobrinho, enteado ou filho do vizinho que sofre desse mal?

As pessoas ficam se diagnosticando a bel prazer, quem sabe já até não se medicam? Afinal, não é difícil ver na teledramaturgia um personagem ou outro que exibe uma cartela de comprimidos que precisa tomar para dormir, assim mesmo, como um troféu!

É uma carência generalizada meu povo, e tudo é válido só para receber atenção.

A quem devemos culpar?

Mas deve-se culpar alguém?

É o movimento das massas, do grupo. E nas palavras do celebre pai da psicanálise:

Um grupo é impulsivo, imutável e irritável. É levado quase que exclusivamente por seu inconsciente […] não pode tolerar qualquer demora entre seu desejo e realização do que deseja. Tem um sentimento de onipotência: para o individuo num grupo a noção de impossibilidade desaparece. (CORRÊA e SEMINIOTTI, 2005, p. 144, apud Freud, 1921:101).

O Simão Bacamarte de nosso tempo certamente iria interditar o ser crítico. Afinal quem é louco de questionar o sistema? Fica aqui a reflexão e o convite a repensar nossa postura como sujeitos ativos e cheios de vontade frente à sociedade, para além de um idealismo, a fim de alcançarmos a real construção do mundo que queremos.

Referência:

CORRÊA, Juliano; e SEMINIOTTI, Nedio. Contratransferência do psicólogo coordenador de grupos. Psic. Clin., Rio de Janeiro, vol. 17,nº2, p.141- 155, 2005.

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