Redução de danos como uma prática de cuidado às pessoas que usam drogas

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Quando suportamos a função de cuidador, navegamos por águas escuras e operamos manobras de alta complexidade.

Antonio Lancetti, 2006

O debate sobre RD remonta a meados da década de 1920, na Inglaterra, com a utilização da heroína no tratamento de usuários desta droga, que mantinham relação prejudicial, de modo a minimizar os efeitos prejudiciais da substância injetável e garantir o acesso a direitos básicos. Desta ação, foi produzido e publicado o Relatório Rolleston, em 1926, tornando-se um marco no tratamento do uso prejudicial de álcool e outras drogas (FONSECA, 2005).

Anos mais tarde, em 1980 na Holanda, a RD abriu possibilidade para novos diálogos sobre drogas, após uma ação comunitária perpetrada por um grupo de usuários de substâncias injetáveis (SOUSA; CARVALHO, 2015). À época, havia um número expressivo de usuários de drogas contaminados com Hepatite B, o que desencadeou a mobilização, tensionando o poder público a criar Programas de Trocas de Seringas, que consistia na troca de seringas usadas, por estéreis (FONSECA, 2005). Ainda segundo a autora, além da troca de seringas, o Programa passou a dispor de uma diversidade de insumos (algodão, água potável, bicarbonato de sódio), não somente nos centros de saúde, como também nas cenas de uso (FONSECA, 2005).

Na mesma época, nos Estados Unidos, os primeiros casos de HIV/AIDS começaram a ser detectados. “Com o desenvolvimento dos testes para detectar o HIV, a situação se revelou bastante mais grave: cerca de metade dos UDI (usuários de drogas injetáveis) de Nova Iorque estavam infectados pelo vírus da AIDS” (FONSECA, 2005). Na Europa, chegavam a 30% de pessoas infectadas entre usuários de substâncias injetáveis (TELLES, 2004 apud FONSECA, 2005), e as estratégias de RD foram ganhando força, agora não mais como foco na dependência de drogas, mas como prevenção de doenças infecciosas, como Hepatite B e HIV/AIDS.

Fonte: encurtador.com.br/fnyJL

No Brasil, a primeira tentativa de utilizar estratégias de RD se deu em Santos, em 1989 (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). No entanto, fazer redução de danos na época era tido como crime equivalente ao de traficar drogas, pois os operadores do direito compreendiam como “apologia ao uso”, baseados no argumento legal da Lei nº 6368/76 (FONSECA, 2005).

Em 1995, deu-se início o primeiro Programa de Redução de Danos no Brasil, na cidade de Salvador/BA, como projeto de extensão da faculdade de Medicina na Universidade Federal da Bahia (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). Em 1997, foi criada a ABORDA, constituída por profissionais redutores de danos de diversas áreas, usuários de drogas e pessoas comprometidas com a pauta (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005).

Somente em 2005, as ações de RD foram regulamentadas, por meio da Portaria nº 1028, e mais tarde, foram incorporadas à Atenção Primária, com a Portaria nº 2488/2011, com as equipes de Consultório na Rua (TEIXEIRA et. al., 2017), e compreende enquanto eixos norteadores de atenção integral à saúde: a educação e informação, a assistência e a disponibilização de insumos de proteção à saúde (BRASIL, 2005).

Fonte: encurtador.com.br/elnB6

Desse modo, o artigo 9º da referida Portaria vem “Estabelecer que as ações de redução de danos devem ser desenvolvidas em consonância com a promoção dos direitos humanos, tendo especialmente em conta o respeito à diversidade dos usuários ou dependentes de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência” (BRASIL, 2005).

Contrapondo a Portaria que versa sobre a Política de Redução de Danos, as práticas de recolhimento, vide exemplo da megaoperação policial realizada na cracolândia em São Paulo em junho de 2017, possuem intrinsecamente o propósito de higienismo social, internando involuntariamente usuários de drogas nas comunidades terapêuticas nas quais são submetidos a tortura, trabalho compulsório e punições severas. Os mecanismos de assujeitamento do “novo sujeito manicomial”, o usuário de droga, vincula o tratamento a noção de castigo, com bases em uma moral cristã fundante do Estado brasileiro.

A lógica da abstinência, e a consequente postura de negação do diálogo sobre o uso de drogas, está tão arraigada no discurso e postura dos serviços direcionados para usuários de drogas, que mesmo estes são capturados por esse discurso.

Fonte: encurtador.com.br/hnuE5

A Resolução N 01/2018 do Conselho Nacional de Política sobre Drogas (CONAD), implica em uma mudança significativa no que tange a política sobre drogas no Brasil, enfatizando a abstinência como única estratégia de intervenção e a internação como instrumento para atingir esse fim. Além disso, reforça o financiamento das comunidades terapêuticas, ao passo que propõe o sucateamento dos serviços substitutivos, como os CAPS AD e demais dispositivos de reintegração social sob a ótica da redução de danos.

Na atual configuração dos equipamentos de saúde, embora ultrapassada, em sua maioria agenciada pela lógica da abstinência, a RD busca ativar um movimento de afirmação política, uma vez que inaugura um dispositivo, que opera na prática novas formas de ver, pensar, agir e sentir sobre as drogas (SOUZA, CARVALHO, 2015). Nesse ínterim, a RD não se limita ao binarismo “sim às drogas” versus “não às drogas”, tal qual a abstinência, mas emerge como possibilidade de acolher os indivíduos em suas singularidades, aproximando-se do princípio da Universalidade preconizado pela Lei nº 8080, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS).

Fonte: encurtador.com.br/qCK29

Em contrapartida, a lógica da abstinência entra em desacordo com a lei supracitada, uma vez que condiciona o acesso ao tratamento em saúde somente àqueles que desejam parar de usar drogas. Segundo Petuco (2014), a abstinência pode ser eventualmente alcançada no processo de tratamento, no entanto, não deve ser posta como objetivo final.

Para Souza e Carvalho (2015), a RD pressupõe três conclusões: nem todas as experiências com drogas são danosas; nem todos os indivíduos que têm experiências danosas com drogas desejam parar de usá-las; e os danos podem ser de diversas ordens, devendo as ações de saúde abarcá-las em sua integralidade.

Os trabalhadores que militam pela RD enquanto “trabalhadores afetivos”, tomando emprestado o conceito de Toni Negri e Michael Hardt (2000) são aqueles que fazem parte do território existencial e geográfico, promovem saúde onde a clínica (trans)borda, entram em sintonia com as pessoas e seus processos para, então, tornarem-se alternativa de autonomia e cuidado.

Fonte: encurtador.com.br/fpsEQ

Pensar a RD não é pensar uma prática fechada, reproduzida em estratégias fabris e em série, mas pensar um ethos de cuidado que valoriza a experiência particular dos sujeitos e é construída singularmente. É, portanto, um paradigma ético de experimentação e um dispositivo que opera uma nova prática.

Como se encontra a política sobre drogas atualmente?

Recentemente o Ministério da Saúde lançou uma nota técnica reafirmando a resolução número 01/2018. Nesta, instaura-se que as estratégias de tratamento deverão ser baseada na lógica da abstinência, excluindo qualquer ação voltada para a política de redução de danos.

Diante disso, retoma-se ou porque não dizer, intensifica-se, a conhecida guerra às drogas, que se apresenta como uma guerra desigual e ineficaz. Primeiro, por ter como alvo de seus principais ataques às populações pobres, negras e que “sujam” a sociedade. Segundo, por não levar em consideração a baixa eficiência dos tratamentos que objetivam a abstinência, visto que é alta a reincidência do uso após o período de reclusão em abstinência (SANTOS e COSTA-ROSA, 2007).

Fonte: encurtador.com.br/dwAQV

Outras decisões da nota técnica que não estão diretamente ligadas a política de drogas, mas estão ligadas a política de saúde mental como um todo, adotam a volta dos hospitais psiquiátricos, a volta do uso da Eletroconvulsoterapia, e ainda usa de termos como ´´manicômio“ e ´´superlotação de Serviços de Emergência com pacientes aguardando por vagas para internação psiquiátrica“, deixando claro o quanto a segregação das pessoas que possuem algum transtorno mental se mostra como uma possibilidade.

Tais mudanças representam um enorme retrocesso a todas as correntes quebradas e as que vinham se quebrando desde a Reforma Psiquiátrica, em relação ao oferecimento de tratamentos que enxergassem os sujeitos com um olhar biopsicossocial. Ainda, perde-se aos poucos a liberdade concedida aos pacientes que antes eram “limpados” da sociedade e depositados em instituições de reclusão com a justificativa de um bom tratamento, quando na realidade desejavam excluí-los dos ambientes sociais tradicionais.

Fonte: encurtador.com.br/ivBC9

Diante disso o Conselho Federal de Psicologia (CFP), entende que tal nota técnica representa um regresso às práticas de cuidados punitivas e segregacionistas e que estas vão de encontro ao princípio de respeito à liberdade, dignidade e integridade do indivíduo defendida pelo Código de ética da profissão. Portanto, no dia 8 de fevereiro foi lançada uma nota de repúdio dizendo que “O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vem a público manifestar repúdio à Nota Técnica Nº 11/2019 intitulada “Nova Saúde Mental”, publicada pela Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, na última segunda-feira (4). O teor do documento aponta um grande retrocesso nas conquistas estabelecidas com a Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216 de 2001), marco na luta antimanicomial ao estabelecer a importância do respeito à dignidade humana das pessoas com transtornos mentais no Brasil. (CFP, 2019)”

REFERÊNCIAS:

MANGUEIRA, Suzana de Oliveira et al. PROMOÇÃO DA SAÚDE E POLÍTICAS PÚBLICAS DO ÁLCOOL NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA. Psicologia & Sociedade, Pernambuco, v. 27, n. 1, p.157-168, set. 2014. Disponível em: <http://submission.scielo.br/index.php/psoc/article/view/124187/9061>. Acesso em: 07 maio 2019.

PETUCO, D. R. da S.; MEDEIROS, R. G. Redução de danos: dispositivo da reforma? Boletim Drogas e Violência no Campo, [s.l.], [s.n.], mar. 2009.

SANTOS, Clayton Ezequiel dos; COSTA-ROSA, Abílio da. A experiência da toxicomania e da reincidência a partir da fala dos toxicômanos. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 24, n. 4, p.487-502, dez. 2007. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/29064/S0103-166X2007000400008.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 07 maio 2019.

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(En)Cena teve um semestre de grande engajamento, aponta Amazon

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O (En)Cena está no mesmo padrão de perfil que outros grandes sites nacionais especializados em conteúdos da Psicologia

O Portal (En)Cena apresentou melhoras significativas no quesito engajamento, de acordo com o ranking global Alexa, subsidiária da gigante internacional Amazon. De acordo com o Alexa, o (En)Cena triplicou no último semestre a quantidade de novos usuários, além de ter conseguido manter uma média alta de acessos diários – entre 5 e 7 mil -, com repercussão do conteúdo a partir de compartilhamento nas redes sociais, por parte dos usuários.

O principal serviço do Alexa é medir quantos usuários de Internet visitam um determinado site da Internet. Pela aplicação é possível saber a média de acessos que um site tem e, partindo desses dados, observar sua colocação em um (ranking) global e regional. O (En)Cena está no mesmo padrão de perfil que outros grandes sites nacionais especializados em conteúdos da Psicologia, como o Psicoativo, Mitologia On line, Psicologado e Café com Jung. Os dados são coletados a partir de extensões para navegadores de internet, como seu toolbar, e scripts fornecidos pela própria empresa.

Para a coordenadora do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra e coordenadora geral do (En)Cena, Dra. Irenides Teixeira, este posicionamento do portal reflete o posicionamento de toda a equipe, que é comprometida a produzir e publicar conteúdos relevantes para a Psicologia e afins, sobretudo pelo viés da saúde mental.

Mais sobre (En)Cena

(En)Cena: a saúde mental em movimento”, idealizado pelos cursos de Comunicação Social, Psicologia e Sistemas de Informação do CEULP/ULBRA, é um portal para o qual convergem produções textuais, imagéticas e sonoras referentes ao tema da loucura. Contudo, além de ser um banco dessas produções visa também estimulá-las, em especial nos serviços de saúde, pois a proposta partiu do pressuposto que há muitas experiências vividas em serviços de saúde que condizem com a proposta da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial, mas que não são publicizadas. Dizendo de maneira mais direta, as experiências gestadas em serviços na rede de atendimento em saúde compõem um instrumento necessário para a mudança do modelo de atenção à saúde e, se não se transformam em memórias, em história, perdem parte do potencial que possuem em produzir novas práticas.

Fonte: http://ribeirao.usp.br/?p=16140

A principal problemática pela qual se orienta o (En)Cena é resumida pela seguinte questão: como vivenciar, em nível comunitário, a arte e a desinstitucionalização do sofrimento mental? O estímulo à vivência da arte tem sido o método inicial e principal do (En)Cena. É possível visualizar essa característica pela linguagem usada em nosso layout que, por sua vez, possui qualidade visual e comunicacional elaborada em meio à interdisciplinar relação entre a Psicologia, a Comunicação Social, os estudos acerca dos Sistemas de Informações, a Psiquiatria, o estudo da Fotografia e a prática do desenho como representante transversal da arte plástica em nossa composição.

No sentido de debater e praticar a desinstitucionalização, desde o 18 de maio de 2011, data de seu lançamento, o (En)Cena articulou parcerias importantes com a rede de serviços de saúde mental com, por exemplo, os CAPS de Palmas, Porto Nacional e Dianópolis; com as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde; com a Política Nacional de Humanização (PNH).

O (En)Cena já publicou mais de 2.300 trabalhos de pesquisadores, acadêmicos, profissionais e usuários do sistema de saúde, artistas, entre outros. Com uma média de 45 mil acessos semanais, o (En)Cena já foi Destaque na Rede Humaniza SUS http://www.redehumanizasus.net/, recebeu carta de apoio do Conselho Federal de Psicologia e Política Nacional Humaniza SUS, recebeu em 2012 o Prêmio EXPOCOM Norte (1º lugar na categoria portal) e o Prêmio INTERCOM Nacional (1º lugar na categoria portal). Em 2013 recebeu o Prêmio EXPOCOM Norte (1º lugar na categoria portal).

Fonte: https://goo.gl/pR2cBv

O (En)Cena já esteve presente em eventos nacionais e internacionais, tais como: Congresso Internacional de Saúde Mental, Rio de Janeiro (2017); Encontro Nacional de Psicologia Social – ABRAPSO, Recife (2011); X Congresso de Saúde Mental e Direitos Humanos, Córdoba, Argentina (2011); I Congresso de Psicologia do Cerrado (CONPCER); 35º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação / INTERCOM. Fortaleza – CE (2012); Política Nacional de Humanização do SUS. Florianópolis – SC (2012), no I Encontro de Apoiadores em Humanização do Tocantins. Palmas – TO (2012). II Congresso Internacional de Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial, Porto Alegre/RS (2012); VIII EREP Norte e Nordeste, São Luis/MA (2012). Seminário Norte de Humanização, Manaus/AM (2013).

Em maio de 2012 organizou o evento (En)Cena na Praça: Saúde Mental em Rede em Palmas-TO (2012). Foi parceiro da Coordenação Estadual de Saúde Mental do Tocantins na organização do 1º Seminário Tocantinense da Saúde Mental em Movimento com o Intersetor em Palmas-TO (2012). Foi parceiro do Ministério da Saúde e Política Nacional de Humanização – PNH no Seminário Norte de Humanização, em Manaus-AM (2013). Foi parceiro do Ministério da Saúde e esteve presente com uma equipe de 18 pessoas na cobertura do evento IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família em Brasília/DF (2014).

Desde agosto de 2012 articula e participa de todas as reuniões do Fórum Permanente de Saúde Mental do Tocantins. Em parceria com a Secretaria Municipal e Estadual, o projeto “Curto-circuito (En)Cena de fotografia” foi selecionado pela III chamada para seleção de projetos de Reabilitação Psicossocial: trabalho, cultura e inclusão social na rede de atenção psicossocial, do Ministério da Saúde (2012). O Portal acredita que o compartilhamento de experiências é prática importante na formação profissional e pessoal daqueles que se envolvem com a saúde mental.

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Experiências que o SUS me ofertou

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Minha última experiência com o Sistema Único de Saúde – SUS aconteceu no dia dezoito de maio do corrente ano, fui até a unidade básica de saúde- UBS para apresentar a médica o resultado de exames realizados e obter nesse retorno um diagnostico, me deparo com o não funcionamento da UBS pelo fato da médica tirar uma sexta-feira por mês de folga, o que ficou subentendido que estava apenas atendendo urgência e emergência no plantão do Hospital de Pequeno Porte- HPP da cidade.

Levando em conta que apenas nesse dia da semana pude comparecer ao postinho de saúde, pois havia me programado com antecedência, mais não tendo nenhuma notificação previa sobre a falta de atendimento saí dali sem saber quando poderia retornar, devido às possibilidades de coincidir o dia de consulta com o dia que eu pudesse ir, tive que retomar a rotina com os mesmos hábitos e possíveis patologias, não obtendo uma explicação clara do motivo do não atendimento.

Contudo, tive o privilegio de alcançar oportunidades ofertadas em parceria ao SUS, de participar ainda na minha adolescência de um curso voltado a promoção de saúde “sexualidade e drogas”, permeando assuntos que além de muito esclarecer sobre a temática, tinha como principal foco resguardar sobre os suscetíveis riscos existentes nesse contexto. Recebendo visitas no colégio, onde eram propagadas palestras e intervenções, e também, programas temporários onde a população obteria qualidade de vida e até mesmo alguns membros alcançariam a forma curativa de suas doenças.

No demais, as outras vezes que procurei os principais serviços oferecidos, fui bem acolhida. A maioria das consultas médicas, vacinas, coleta de exames laboratoriais e encaminhamentos foram atendidos com êxito. Compreendendo a complexidade no desempenhar de um sistema integrado de grande abrangência, são entendidos certos contratempos, porém a partir do momento que se torna repetitivo e sem justificativas cabíveis é gerado descontentamentos, que vemos frequentemente ser relatado por vários usuários, ao qual acreditam existir um mau gerenciamento nas vezes que surge incompetências de alguns profissionais.

Nesse contexto, os transtornos são efeitos da falta de uma gestão, de fato, competente, gerando um valor pejorativo perante a sociedade. Não sendo este o objetivo das proporções que o SUS busca alcançar, que muito tem contribuído com a vitalidade e promoção da saúde em todas as áreas da vida dos brasileiros. Sinto-me feliz em saber que não estou só, e que, sempre que preciso posso utilizar desse serviço, que muito tem somado com o quadro de saúde alcançado nos dias atuais pela maioria da população, que tem tomado decisões próprias de, a cada dia, buscar melhorar seus hábitos de vida.

Em virtude do que foi mencionado, pude perceber que, o comportamento saudável das pessoas que atualmente vem se tornando constante na preocupação de costumes melhores para a saúde, é resultado do desenvolvimento e esforço que o SUS tem feito para propagar cada vez mais informações e atuações de prevenção, melhoria de vida e cuidados específicos. Tanto que, reconheço esse beneficio ao qual venho participando no programa “academia da saúde” há tempos, e vejo o constante crescimento conquistado através das adesões e ajuda que tem me favorecido, satisfazendo assim as necessidades dos usuários desse sistema.

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O psicólogo Jonatha Nunes fala do Dia Nacional da Luta Antimanicomial

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No dia 18 de maio ocorreu no Parque Cesamar, em Palmas/TO a comemoração pelo Dia Nacional da Luta Antimanicomial. O evento contou com piquenique, rodas de conversa, sarau musical, testagem rápida e aconselhamento e estava na programação entre outros eventos que ocorreram durante o mês de maio em celebração a data. Essa programação foi elaborada por um coletivo de usuários, trabalhadores e gestores de Palmas.

Dentre eles está Jonatha Rospide Nunes, graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2003), com práticas nas ênfases de Psicologia Clínica e Comunitária. Mestre pelo Programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (2010), tendo como tema de pesquisa a execução de políticas sociais direcionadas à garantia de direitos de crianças e adolescentes em situação de rua. Experiência profissional na área de Psicologia, com ênfase em Psicologia Educacional no Ensino Superior (ensino, pesquisa e extensão) e Clínico-Institucional (consultório particular, matriciamento em álcool e outras drogas e supervisão clínico-institucional). Tutor do Programa de Saúde Mental do Programa Integrado de Residência Multiprofissional de Palmas/TO, supervisor da equipe de Consultório na Rua do Município de Palmas. Membro do Colegiado Gestor do Conselho Regional de Psicologia do Tocantins, com participação na Comissão de Direitos Humanos e Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas.

O (En)Cena entrevistou Jonatha, que fala que a despeito da condição de saúde, todas as pessoas têm os mesmos direitos.

(En)Cena: Qual o objetivo do encontro de hoje?

Jonatha: O objetivo de hoje é comemorar a luta antimanicomial, a garantia de direito para as pessoas que tem transtorno mental, para elas terem direito como qualquer outra pessoa, a ser cidadãs. Então é comemorar, é a gente sair do modelo do manicômio e ir para o modelo dos serviços substitutivos de garantia de direito para essas pessoas.

(En)Cena: O evento está ocorrendo durante todo o mês, mas que atividades estão sendo realizadas no dia de hoje?

Jonatha: Hoje na verdade a gente está fazendo as atividades aqui no Parque Cesamar porque hoje é o dia da luta. Dia 18 de maio de 1987 foi o primeiro encontro de vários movimentos da saúde e onde se iniciou a proposta de um modelo psiquiátrico alternativo ao manicômio. Então esse encontro de hoje ele vem para a gente comemorar e celebrar essa data. Para isso a gente juntou vários serviços aqui: o Palmas que te Acolhe, o Consultório na Rua, a Fundação da Juventude, a Fundação Escola de Saúde Pública, o Centro de Saúde da Comunidade, tem também o pessoal da vigilância, da Secretaria Municipal de Saúde, os residentes da Residência Multiprofissional, com o intuito de confraternizar junto com os usuários e familiares esse momento que para nós é um momento importantíssimo, de garantir direitos para essas pessoas.

(En)Cena: O que ainda precisamos alcançar em relação à saúde mental e à luta antimanicomial?

Jonatha: Se formos pensar em termos mais amplos, seria essa dimensão cultural, pois ainda temos muitos preconceitos culturais em relação ao transtorno mental, ao sofrimento psíquico, enfim, em relação à saúde mental. As pessoas que fazem tratamento psicológico ou psiquiátrico não falam para ninguém, porque isso traz preconceito, as pessoas acham que o fazem porque são loucos, desequilibrados. E na verdade qualquer um de nós pode em algum momento da vida ter algum tipo de transtorno ou sofrimento psíquico. Então acho que a maior batalha que a gente tem atualmente é essa mudança na cultura, porque se a gente tiver essa mudança na cultura, não vamos ficar tão fragilizados à essas mudanças de governo, como aconteceu agora. Muda o governo, aí começa a interferir na política, começa a modificar. Tendo essa mudança na cultura a gente fica forte e não fica tão vulnerável a esses governos aventureiros que vem por aí, como esse atual.

(En)Cena: Há algumas exposições no evento realizadas pelos usuários. Como foi o processo de construção e qual o significado disso para eles?

Jonatha: Temos ali vários produtos dos grupos do CAPS, então temos ali os cordéis que o pessoal fez, temos ali as fotografias do cotidiano no CAPS, algumas fotografias foram eles que fizeram, outras foram os profissionais. Temos a atividade que eles fizeram das caixas de remédios em que eles mudaram as tarjetas e colocaram outras ideias. E os panos que eles pintaram, em que a ideia era o que a luta antimanicomial significa para eles. Então tem um coração, um símbolo do Yin Yang que é o que representa para eles. Tudo isso foi preparando para esse momento aqui. Teve um conjunto de atividades que foram anteriores a esse momento.

(En)Cena: Quais as principais dificuldades que vocês encontraram para conseguir fazer esse evento todo durante o mês?

Jonatha: As principais dificuldades é a participação dos profissionais, dos trabalhadores, dos usuários. O pessoal participar nesse tipo de atividade não é uma coisa comum e isso também está na cultura e modificarmos essa cultura não é fácil. Mas em Palmas a gente já tem um movimento há tempos, então é mais difícil conseguirmos operacionalizar coisas concretas como ônibus, comida do que conseguirmos mobilizar as pessoas, que são os trabalhadores, profissionais e usuários, porque elas já são mobilizadas, já entendem o sentido desse movimento e desse tipo de ação.

(En)Cena: Você tem alguma mensagem para aqueles que não compreendem o movimento?

Jonatha: O que eu diria para a sociedade é que é preciso se dar conta de que não é porque as pessoas são diferentes ou porque tem algum tipo de problema, algum tipo de sofrimento que elas não tenham valor, não tenham dignidade ou não tenham direitos como qualquer outra pessoa. Acho que estamos num momento muito dicotômico, ou tu é contra ou é a favor, ou tu é bom ou tu é ruim e precisamos entender que isso é muito simplista, na verdade existe uma complexidade, existe uma multiplicidade de possibilidades. Se a gente fica só nos extremos a gente fica muito limitado. Eu posso ser bom e ruim ao mesmo tempo. Então o que eu diria para as pessoas é isso, a despeito da condição de saúde, todas as pessoas têm os mesmos direitos. Isso é fundamental e é um marco civilizatório para a sociedade.

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Visita ao IPUB e as Novas Abordagens em Saúde Mental

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Dos dias 01 a 03 de Junho, juntamente com os demais membros da equipe do (En)Cena, tive a oportunidade de cobrir o III Fórum Internacional Novas Abordagens em Saúde Mental, na capital do Rio de Janeiro. O evento, em parceria com a UFRJ, contou com congressistas internacionais, diversos palestrantes e também usuários dos serviços.

O último dia do Fórum foi realizado no IPUB/UFRJ (Instituto Psiquiátrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e consistiu principalmente em apresentações de trabalhos. O (En)Cena apresentou quatro trabalhos em diferentes ambientes durante o dia, todos com recepções muito positivas por parte dos ouvintes, que se demonstraram surpresos com o tamanho do Portal e seus conteúdos.

Foi intensamente gratificante ouvir um comentário de uma das participantes do evento, nos dizendo que o Portal é parte das novas abordagens às quais o Fórum se dedicou. Esse tipo de reação nos confirmou o que acreditamos para o nosso trabalho: trabalhar com Saúde Mental de forma inovadora, promissora e criativa. Após uma de nossas apresentações, cujo tema foi o “Impacto da Pós-Modernidade na Saúde Mental de Jovens”, pudemos discutir com psicólogos de vários estados, questões psicológicas e sociológicas da atualidade e sua influência nos indivíduos.

Ao assistir a apresentação do trabalho “A Assembleia do CAPS como dispositivo de Reabilitação Psicossocial”, apresentado pela psicóloga paranaense Dafne Boni, não pude deixar de me lembrar dos meus estudos em Psicologia Comunitária e me surpreender com o vigor da psicóloga ao instaurar a assembléia com os usuários do CAPS onde trabalha. Medidas como a adotada por Dafne são fundamentais para se pensar Saúde Mental, pois valorizam os usuários com projetos pensados de acordo com suas demandas, e construídos com as suas vozes.

Conversar com profissionais da Saúde Mental de todo o país e notar seu engajamento foi muito proveitoso, pois em nossas conversas ocorreram trocas de ideias, sugestões, compartilhamento de demandas e conhecimentos. Saber das diferentes realidades de outros lugares nos possibilita vislumbrar o panorama nacional e formular objetivos conjuntos. Ver as pinturas e ilustrações nas paredes do IPUB e ter contato com os usuários e profissionais com realidades tão diversas, me fez pensar quantas vozes já haviam passado e passarão por aquele lugar. Creio que todas devem ser ouvidas, e fico feliz em saber que elas têm muito a dizer.

Essa viajem e experiência foram de grande importância para minha formação profissional e pessoal. A equipe do Portal conseguiu apresentar os trabalhos de forma harmônica e competente, pudemos aprender várias novas técnicas, e acima de tudo nos propor novos desafios. Minha visita ao IPUB me proporcionou novos conhecimentos e emoções, e certamente não será esquecida.

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A imersão no hospital-dia do IPUB/UFRJ

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Nos três primeiros dias do mês de junho de 2017 ocorreu o III Fórum Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental, na capital carioca do Brasil. O terceiro dia foi destinado às apresentações de trabalhos, provenientes de diversos estados brasileiros e até internacionais, no hospital-dia do IPUB/UFRJ.

Parte da equipe na porta do IPUB

Muito além do conhecimento que adquiri ao decorrer do evento, tive experiências transformadoras dentro deste local. Logo de início, ao procurar no IPUB o auditório que eu apresentaria meu trabalho, fui tomada por uma ansiedade tamanha. Ao cumprimentar uma senhora com um simples “bom dia”, recebi dessa desconhecida um abraço e um beijo no rosto, ato este que me fez acalmar instantaneamente. QUANTA AUTENTICIDADE!!! Ela era uma das pacientes internadas naquele local e acredito que não fez isso por apenas uma convenção social, mas porque essa demonstração de afeto era parte dela mesma e o que a receptora dos atos necessitava, no caso, eu.

Até então eu nunca havia tido contato com um hospital psiquiátrico, o ambiente por mais que tinha aspectos de construção antiga, ainda era perceptível os alguns traços físicos que lembravam a um ambiente hospitalar. Porém, o que me chamou a atenção neste ambiente foram as obras produzidas pelos pacientes que estavam em todos os cômodos. Que magníficas! E que excelente trabalho deixar aquele ambiente com a cara de quem usa os serviços. Sinceramente, pude me sentir imersa na realidade deles.

Uma das obras feitas pelos usuários do hospital-dia

Quantos ouvidores de vozes tinha ao meu redor, cada um com suas peculiaridades. Cumprimentavam, falavam, ouviam e viviam. E assim, eu percebi que a frase que Oryx Cohen tanto dizia durante o evento “precisamos aprender a ouvir” se aplicava perfeitamente naquele recinto. Não menos importante, no primeiro dia do evento, também foram citados e apresentados por alguns usuários os grupos: Comunidade da fala e Voz dos usuários. Tais grupos são destinado

Ainda nesse contexto, fui solicitada por outra desconhecida para fotografá-la numa das frondosas arvores do hospital-dia. Consegui capturar uma imagem simplesmente fantástica: um frecho de luz apareceu em sua direção, enquanto pousava juntamente com um dos membros da equipe do (En)Cena, o professor Sonielson Luciano Sousa. Após este momento, conseguimos conversar um pouco com ela, ou melhor, ouvi-la com atenção, ter uma escuta ativa sobre o quão significativo era, para ela, tirar a fotografia com a árvore e sobre a surpresa em relação à luz que apareceu em seu rosto.

“Um mergulho no inconsciente”

Só houve uma coisa que me desagradou naquele mar de experiências, foi o fato de que os pacientes internados estavam uniformizados, fato este também foi bastante enfatizado e desaprovado pelo holandês Martjin Kole. Entretanto, após ouvir a explicação disso acontecer fiquei mais aliviada. De acordo com uma das organizadoras do evento em virtude de o hospital-dia ser aberto, com entrada e saída livres, às vezes, os pacientes internados saiam do hospital, sem terem recebido “alta”. Desse modo, para facilitar a identificação destes optaram pelo uso de uniformes. Ainda acredito que encontro outro modo de identificação, mais discreto com uma pulseira ou cordão, diminuiria os aspectos estigmatizantes que esses pacientes podem enfrentar ou já enfrentam.

Além disso, tive ainda a oportunidade de apresentar o trabalho “Promoção de Saúde Mental Online – Experiências do Portal (En)Cena”, elaborado por Rísia LimaLaryssa Araújo (eu) e Irenides Teixeira. Como havia dito anteriormente, passei por momentos ansiolíticos, mas consegui apresenta-lo com muita empolgação e mais tranquilidade. Posso afirmar que foi uma conquista de grande relevância na minha vida acadêmica.

Apresentação de trabalho que realizei

Nesse contexto, este dia me proporcionou novas perspectivas de olhar, ouvir e sentir no se tange à saúde mental e ao cuidado com outro, com os usuários. Essas experiências me causaram anseios por buscar mais a vivência nessa área, além do que o próprio portal (En)Cena me possibilita. Para concluir só posso reconhecer uma coisa: que experimento extraordinário! Estou pronta para os próximos!

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Luíz Eduardo Mendonça: vozes que empoderam em Saúde Mental

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Entre os dias 1 e 3 de junho de 2017 ocorreu, no Rio de Janeiro, o III Fórum Internacional – Novas Abordagens em Saúde Mental. Contando com a participação de vários profissionais e usuários de serviços voltados para a saúde mental, o evento proporcionou a todos a oportunidade de relatar suas experiências nesse campo.

Entre os participantes estava Luíz Eduardo Mendonça, formado em Psicologia e usuário dos programas Comunidade da Fala e Voz dos Usuários, criados com o intuito de possibilitar com que aqueles que usufruem desses serviços possam se expressar, falar o que pensam, o que desejam de mudanças e de realizações, além de relatar se estão com algum problema, em busca de ajuda para solução desse.

Luíz Eduardo relata que é um ouvidor de vozes (diagnóstico de esquizofrenia) e que uma de suas realizações é ter conquistado a formação em Psicologia. A equipe (En)Cena o entrevistou no segundo dia do evento (02/06/2017).

(En)Cena – Como você acha que poderia acontecer o processo de empoderamento com pessoas estereotipadas e estigmatizadas que possuem um transtorno mental? 

Luíz Eduardo – Eu acho que quanto as pessoas estereotipadas, a gente tem que lutar para mudar esse estigma. A pessoa deve ser aceita do jeito que ela é, com a fraqueza dela, ser acolhida da melhor maneira possível. A pessoa não pode ser jogada de lado só porque tem um problema, ela deve ser acolhida pelo grupo e pela sociedade da melhor maneira possível.

(En)Cena – Quanto aos projetos citados, como A Voz dos Usuários e A Comunidade da Fala, você participa dos dois? 

Luíz Eduardo – Sim, participo dos dois.

(En)Cena – Como você acha que esses projetos podem ajudar essas pessoas que são estigmatizadas? 

Luíz Eduardo – Bom, eu acho que esses projetos que dão voz aos usuários favorecem um melhor tratamento para eles, um tratamento mais humano. Esses dois projetos, Comunidade da Fala e A Voz dos Usuários, estão dando voz a eles, para que eles não fiquem sofrendo calados, para que eles tenham voz da melhor maneira possível e possam ser ouvidos e respeitados. Se tem algum problema, eles abrem a boca e são orientados da melhor maneira possível para serem respeitados, ouvidos, assim “eu tenho voz, eu existo, eu sou respeitado, eu tenho direitos, eu não posso ficar sofrendo calado e rejeitado”.

(En)Cena – Como você se posiciona em relação à questão da  medicalização excessiva com os pacientes que sofrem de transtornos mentais? 

Luíz Eduardo – Eu acho que o tratamento não está só no remédio, é preciso trabalhar o emocional da pessoa da melhor maneira possível. O tratamento não está só em remédio, dar remédio para pessoa ficar dopada e ficar jogada de lado. Tem que se trabalhar as questões dos desafios para que tudo possa ser resolvido e as questões possam ser trabalhadas emocionalmente, não simplesmente dar um remédio e dopar a pessoa.

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Programa “Crack, é possível vencer” em Palmas

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No último mês de maio, o Governo Federal, junto ao Ministério da Saúde, lançou o programa “Crack, é possível vencer” que irá destinar R$ 230 milhões para a construção de novos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS) e unir Saúde, Segurança Pública, Ministério da Educação e Assistência Social em prol do melhor atendimento para usuários do crack.

 “Este é um avanço na reorganização do SUS que a gente precisa fazer para aliviar o sofrimento das vítimas da dependência química e de seus familiares. Estamos ajudando a construir uma rede e oferecer tipos de atendimento diferentes para situações diferentes. Terão Consultórios na Rua para abordagem e cuidados dos usuários que moram na rua; teremos centros como este para acompanhamento não só do usuário como da família e teremos ainda as Unidades de Acolhimento para internações mais prolongadas e leitos também em hospitais”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante a inauguração no Centro de Atenção Psicossocial 24 horas (CAPS) do Boqueirão, em Curitiba – PR.

No Tocantins, ações do programa serão iniciadas em setembro e para isso a Prefeitura de Palmas investirá R$ 600 mil para os trabalhos que serão desenvolvidos ainda este ano. Na capital, o CAPS AD III, que atende 24 horas por dia e tem, em média, 300 atendimentos por mês, espera-se que o programa “Crack, é possível vencer” traga melhorias significativas.

“O programa sendo efetivado será muito bom para nós, pois humaniza o atendimento e faz com que os usuários percam o medo de procurar ajuda, já que há casos de usuários que são agredidos por policiais”, disse Márcia Nascimento, coordenadora do CAPS AD III.

Márcia falou ainda sobre a importância da união de vários setores públicos para o sucesso do programa.“Atualmente, o atendimento varia de acordo com cada setor. Não adianta o Ministério da Saúde ver o paciente de uma forma e a Polícia, por exemplo, tratar de forma ríspida ou inadequada. E a Educação será importante também para conscientizar a população, principalmente os jovens nas escolas”, completou.

O investimento no programa não será apenas para os CAPS, mas também para a criação das Unidades de Acolhimento (UAs) e CREAS POP (Centro de Referência Especializado de Assistência Social para a População em Situação de Rua) que têm como objetivo atender nas ruas e/ou nos locais onde se encontram os usuários. O atendimento não será apenas motivacional, mas também médico, tratando de possíveis ferimentos do paciente.

“A unidade móvel do CAPS irá auxiliar na abordagem, no atendimento e primeiros cuidados com usuários, já que muitos chegam aqui com queimaduras nas mãos por causa da latinha utilizada para o uso do entorpecente e ferimentos nos pés por causa dos locais onde é feito o consumo”, concluiu a coordenadora.

Para saber mais:

VÍDEO – Anúncio da ampliação do investimento para os CAPS: http://www.youtube.com/watch?v=y6jJBOtBI84

VÍDEO – Programa “A Liga”. Tema: Rede CAPS: http://www.youtube.com/watch?v=7CClVbqt7wY

INFOGRÁFICO – O poder do crack (efeitos e diferença das outras drogas):http://veja.abril.com.br/infograficos/efeitos-crack/

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CAPS: atendimento com cuidado intensivo, comunitário, personalizado e formador de vida

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Creuza Ribeiro de Oliveira é natural de João Pessoa (PB),  graduada em Enfermagem pela Faculdade Santa Emília de Rodat, pós graduada em Saúde Publica, Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana pela ENSP/FIOCRUZ.

Creuza Ribeiro  atuou como coordenadora do CAPS de Dianópolis, de 2007 a 2011. Desde outubro de 2011, coordena o CAPS II de Palmas.

Foto: Michelle Souza

(En)Cena –  O que é o CAPS?

Creuza Ribeiro – A sigla CAPS significa Centro de Atenção Psicossocial, é um espaço de referência no tratamento de pessoas que sofrem de transtornos mentais. Tem como objetivo oferecer atendimento a população em um cuidado intensivo, comunitário, personalizado e formador de vida, realizando acompanhamento clínico, terapêutico e de reinserção social dos usuários através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

(En)Cena –  Quando surgiu  esta unidade de atendimento?

Creuza Ribeiro – Consta nos registros do CAPS II que o serviço foi implantado em 1997 e em 10 de janeiro de 1998 foi inaugurado como Núcleo de Atenção psicossocial, NAPS, e logo após ampliado para CAPS I , atualmente é CAPS II.

(En)Cena –  Qual a diferença entre Naps e Caps, e ainda como o segundo pode se enquadrado como I, II, III, AD e Infantil?

Creuza Ribeiro – O Naps, Núcleo de Atenção Psicossocial surgiu juntamente com o CAPS através da portaria 224, os quais visam à substituição do hospitalocêntrico, onde houve um avanço muito grande na superação do modelo centrado nos hospitais psiquiátricos. A partir de 2002 esses serviços passaram por várias mudanças, entre elas a alteração da denominação NAPS, que deu lugar às subdivisões do nome CAPS.

O Caps I realiza um serviço aberto para atendimento diário de adultos com transtornos mentais severos e persistentes em municípios entre 20 mil e 70 mil  habitantes, CAPS II atende a mesma clientela em municípios com mais de 70 mil habitantes e o CAPS III realiza um serviço aberto diário e noturno durante os sete dias da semana em cidades maiores. Já o CAPS AD é voltado para usuários de álcool e outras drogas, com atendimento diário a população com transtornos decorrentes destas substancias. O CAPS infantil atende crianças e adolescentes. Veja mais,portaria MS 336-02

(En)Cena –  Como é feito o primeiro atendimento? Tem que ter encaminhamento?
Creuza Ribeiro –   Sim, o fluxo de atendimento no CAPS, funciona em rede da seguinte forma: o paciente é atendido pela unidade de saúde de sua preferência, em seguida encaminhado para o ambulatório psiquiátrico e de lá referenciado pelo psiquiatra para o CAPS, evitando assim, um atendimento ambulatorial no CAPS. Chegando ao CAPS, o paciente é acolhido por um profissional (convivente) que encaminha para a equipe para diagnóstico e elaboração do plano terapêutico. Para tanto, o CAPS dispõe de uma equipe interdisciplinar acolhedora humanizada, facilitando assim a adesão e tratamento da pessoa com transtorno mental.

(En)Cena –  Como é feito o controle do acompanhamento do paciente? Há a utilização de terapia medicamentosa?

Creuza Ribeiro –  É feito através de um atendimento qualificado, acolhedor e humanizado por uma equipe interdisciplinar composta por: fisioterapeuta, psicólogo, assistente social, terapeuta ocupacional, médico psiquiatra, clínico geral, enfermeiro, farmacêutico, técnico em enfermagem, artesão e equipe administrativa. Onde o tratamento e o acompanhamento são realizados conforme o plano terapêutico do individuo, instituído pela equipe de acordo a necessidade. A terapia medicamentosa faz parte do tratamento, onde sua distribuição é realizada no próprio CAPS, sob a responsabilidade da farmacêutica, para uma pessoa da família responsável pelo usuário. A medicação é garantida de acordo com a pactuação na tripartite. O município compra a medicação extra rede, ou seja, fora da pactuação da assistência farmacêutica para todos os usuários.

(En)Cena –  A verba destinada ao cuidado da saúde mental é suficiente para demanda? O Caps fornece então todos os medicamentos necessários aos pacientes

Creuza Ribeiro – Sim, o município recebe recurso federal através da produção de Autorização de Procedimentos de Alta Complexidade/Custo – APACS onde garante alimentação, transporte (para usuários que necessitam), materiais para oficinas terapêuticas e medicação, ou seja, os recursos pactuados oriundos das esferas de governo suprem sim às necessidades de nossa demanda, pois atendemos cerca de 180 pacientes.

(En)Cena –  Quando se fala de medicamentos, então, o paciente não tem nenhum custo?

Creuza Ribeiro – Isso mesmo, de acordo com normatização do Ministério da Saúde o paciente não tem nenhum custo, toda medicação preconizada, pactuada na tripartite é distribuída no CAPS através da Secretaria Municipal de Saúde,como também o município compra toda medicação extra rede conforme prescrição medica.

(En)Cena –  Mas essa não é a única maneira de se cuidar dos pacientes no Caps. De que outras formas os pacientes são acompanhados?

Creuza Ribeiro – É verdade, a terapia medicamentosa faz parte do tratamento de pessoas com transtornos mentais. Porém, existem os grupos terapêuticos, operativos, oficinas terapêuticas como as de pintura em telas, bijuteria, enfeites de natal, artesanatos, visitas domiciliares, o atendimento a família, atividades de suporte social, atividades comunitárias  atividade física,entre outras.

(En)Cena –  Qual a faixa etária dos pacientes, e quais os horários de atendimento?

Creuza Ribeiro – O atendimento é realizado à pessoas a partir de 18 anos, e a média de idade dos usuários varia entre 20 e 50 anos. O acompanhamento é realizado conforme plano terapêutico. No sistema intensivo, o usuário freqüenta o Caps todos os dias, no sistema semi-intensivo três vezes por semana e o não intensivo, uma vez por semana. Sendo que o atendimento é realizado de  segunda a sexta-feira no horário das 7h às 18horas.

(En)Cena –  Como é feito o controle da presença dos pacientes, há uma busca ativa?

Creuza Ribeiro – Sim, é feito através de uma freqüência assinada por todos, tendo em vista que os recursos federais só serão gerados mensalmente mediante a freqüência dos usuários. Na falta do usuário, realizamos a visita domiciliar, contato por telefone, utilizamos todos os recursos necessários com o objetivo de evitar a  evasão.

(En)Cena – Qual tem sido pra você o grande desafio de coordenar uma unidade do Caps?

Creuza Ribeiro – Na verdade não é um desafio, são vários. Mas como já trabalho há quatro anos na área da saúde mental, pois coordenei por três anos o Caps de Dianópolis,  e comecei a trabalhar nesta unidade como enfermeira antes de assumir a coordenação, já pude adquirir um pouco de experiência, claro, tenho muito que aprender ainda. Mas ainda vejo como desafio principal o fortalecimento do trabalho em rede com uma maior interlocução entre a estratégia de saúde da família e o CAPS através de matriciamento. A inserção da família no CAPS é outro desafio, entre outros, acredito na valorização do ser humano numa sociedade sem preconceito e na inclusão social destes usuários; para mim esse é o caminho para vencermos esses desafios, trabalhar no CAPS é muito gratificante, pois cresço com os pacientes a cada dia.

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