Viktor Emil Frankl: uma biografia em busca de sentido

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Viktor Frankl nasceu em Viena (Áustria), no dia 26 de março de 1905, em berço judaico, sua família já contava com duas irmãs, seu pai era funcionário público, classe média alta, família vivia uma vida confortável até a chegada da Primeira Guerra Mundial, em 1914, que, assim como outras famílias judias mergulharam na pobreza e passaram depender de esmolas.

Aos 16 anos, enquanto fazia o ensino médio, em meados de 1920, Frankl se mostrava interessado nos estudos da Filosofia e Psicologia ministrou sua primeira palestra com o tema “O sentido da Vida” para o partido socialidade na Universidade Popular de Viena. Nessa mesma época, escreveu seu trabalho de conclusão de ensino médio, sobre a Psicologia do Pensamento Filosófico, publicado em 1923, nisso, começa a se corresponder com o famoso psicanalista Sigmund Freud que não só gosta muito do que lê, como o encoraja a continuar suas pesquisas e estudos.  

Em 1924, cursando o curso de medicina foi presidente do Partido Jovem Trabalhadores Comunistas, onde era membro ainda no ensino médio. Por seu envolvimento político, optou em ficar na Áustria mesmo com a invasão alemã na Segunda Guerra. Aos 19 (dezenove) anos, como estudante de medicina começa a estudar sobre casos de depressão e suicídio, com isso, publica seu primeiro artigo científico na revista International Journal of Individual Psychology. 

Fonte: encurtador.com.br/dopxF

Durante o seu egresso na Medicina desenvolvia lado a lado projetos como a prevenção ao suicídio para jovens estudantes e sempre ligando a filosofia e a psicologia, relacionando-os a vida e seus valores. Em 1926, em um congresso, fala pela primeira vez sobre Logoterapia, que segundo Frankl, seria a terapia focada em buscar o sentido da vida. Em seu livro “Em busca de Sentido” diz que: a logoterapia se concentra mais no futuro, ou seja, nos sentidos a serem realizados pelo paciente em seu futuro. (A logoterapia é, de fato, uma psicoterapia centrada no sentido.) Ao mesmo tempo a logoterapia tira do foco de atenção todas aquelas formações tipo círculo vicioso e mecanismos retro-alimentadores que desempenham papel tão importante na criação de neuroses. Assim é quebrado o autocentrismo (self center edness) típico do neurótico, ao invés de se fomentá-lo e reforçá-lo constantemente. Obviamente esta formulação simplifica demais as coisas; mesmo assim a logoterapia de fato confronta o paciente com o sentido de sua vida e o reorienta para o mesmo. E torná-lo consciente desse sentido pode contribuir em muito para a sua capacidade de superar a neurose (FRANKL, 1985, p. 68).

Para Viktor Frankl, o homem fica de forma centralizada, podendo ser interpretado como o resultado de um conjunto entre o corpóreo, o psíquico e o espiritual, tendo como impulso primário aquilo que chamou de “vontade de sentido”, ou seja, uma disposição a descobrir o sentido da vida, podendo ser encontrado em diversos campos como: a finalização de um trabalho/obra, no amor a si mesmo ou ao outro, na fé, enfim, sentidos diversos e singulares.

Sobre a Vontade de Sentindo, Frankl diz: a busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida, e não uma “racionalização secundária” de impulsos instintivos. Esse sentido é exclusivo e específico, uma vez que precisa e pode ser cumprido somente por aquela determinada pessoa. Somente então esse sentido assume uma importância que satisfará sua própria vontade de sentido. Alguns autores sustentam que sentidos e valores são “nada mais que mecanismos de defesa, formações reativas e sublimações”. Mas, pelo que toca a mim, eu não estaria disposto a viver em função dos meus “mecanismos de defesa”. Nem tampouco estaria pronto a morrer simplesmente por amor às minhas “formações reativas”. O que acontece, porém, é que o ser humano é capaz de viver e até de morrer por seus ideais e valores! (FRANKL,1985, p. 69).

Fonte: encurtador.com.br/cfFY8

Viktor Frankl fala sobre a Frustração Existencial: a vontade de sentido também pode ser frustrada; neste caso a logoterapia fala de “frustração existencial”. O termo “existencial” pode ser usado de três maneiras: referindo-se (1) à existência em si mesma, isto é, ao modo especificamente humano de ser; (2) ao sentido da existência; (3) à busca por um sentido concreto na existência pessoal, ou seja, à vontade de sentido (FRANKL,1985, p. 70).

O sentido da vida é algo a ser descoberto por cada indivíduo com impulsos primários ao longo da sua jornada, buscando encontrar respostas a suas vivencias diárias e colocando significados norteadores profundos. A Logoteria tem como tarefa ou objetivo principal ajudar o paciente a encontrar sentido em sua vida.

Em 1930, Viktor Frankl começou a ser conhecido e reconhecido em toda Europa como um homem à frente do seu tempo com 25 anos, no corrente ano, resolve fazer residência em neurologia e psiquiatria, nisso, assume uma ala conhecida por pavilhão do suicídio num hospital psiquiátrico em Viena (entre 1933 e 1937), ajudando a prevenir casos de suicídio feminino.

Em 1938, atendia em seu consultório de neurologia e psiquiatria era reconhecido como o criador do novo método de tratamento terapêutico, baseado em preencher o vazio existencial, mas teve que fechar depois do exército nazista anexar a Áustria. Nessa época, tornou-se chefe do Vienna’s Rothschild Hospital e Salva milhares de judeus da morte recusando-se a recomendar eutanásia aos pacientes com doenças mentais.

Fonte: encurtador.com.br/egKU2

Tilly Grosser, recém esposa de Viktor Frankl é obrigada a abortar o seu primeiro filho pelas tropas nazistas. Em 1942, seus pais, irmãs, esposa e ele próprio são encaminhados aos campos de concentração Theresienstadt e Auschwitz. Morrem: o pai e a esposa de exaustão, a mãe enviada à câmara de gás. A irmã sobrevive e foi refugiada na Itália.

Em 1945, acaba a Segunda Guerra e Viktor é libertado após três anos de trabalho forçado e condições sub-humanas. No mesmo ano, retornou para Viena e se tornou o chefe do departamento de Neurologia da General Polyclinic Hospital, escreveu suas ideias no livro “Em Busca de Sentido” em nove dias e lança em 1946. Casou-se novamente, teve uma filha, obteve o título de doutor em filosofia, tornou-se professor na Universidade de Viena (na qual permaneceu até 1990) e em outras universidades americanas, fundou e presidiu a Sociedade Austríaca de Medicina Psicoterapêutica.

Em 1992 foi fundado um instituto em Viena que carrega o seu nome (The Viktor Frankl Institute), considerada a terceira escola vienense, depois de Sigmund Freud e Alfred Adler e recebeu mais de 25 títulos honorários pelas suas ideias inovadoras e legado eterno transmitido em suas obras: Um sentido para a vida: Psicoterapia e humanismo, A vontade de sentido: fundamentos e aplicações da logoterapia, entre outros.

Em 02 de setembro de 1997, faleceu aos 92 anos, sendo vítima de colapso cardíaco.

REFERÊNCIAS

AQUINO, T. A. V. Viktor Frankl: Para Além de suas memórias. Rev. abordagem gestalt. [online]. 2020, vol.26, n.2, pp. 232-240. ISSN 1809-6867. Disponível em: http://dx.doi.org/10.18065/2020v26n2.10. Acesso em: 22 de abril de 2021.

FRANKL. V. E. Em Busca de Sentido. Edição Norte Americana – de 1985. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/58/o/Em_Busca_de_Sentido_-_Viktor_Frankl.pdf>  Acesso em: 20 de abril de 2021.

OLIVEIRA, K. G. O sentido da vida, a religiosidade e os valores na cultura surda. (Dissertação de Mestrado). João Pessoa-PB, 2013. Disponível em: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/4239/1/arquivototal.pdf Acesso em: 23 de abril de 2021.

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Magneto e o reencontro com o sentido existencial

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“Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como.”
Viktor Frankl

Magneto (Erik Magnus Lehnsherr) é um personagem da Marvel Comics criado por Stan Lee e Jack Kirby, que fez sua primeira aparição na revista em quadrinhos “Uncanny X-Men #1” (Setembro de 1963). O mutante nível Alfa possui poderes extraordinariamente fortes relacionados à manipulação de qualquer tipo de metal e campos magnéticos, e também possui poder de vôo se em sua vestimenta houver componentes metálicos. Suas habilidades são tão fortes que pode manipular até a quantidade de ferro no sangue de qualquer criatura. Magneto também usa um capacete que lhe confere imunidade à intrusões psiônicas.

Fonte: https://bit.ly/2OHIKSu

O personagem se tornou popular no Brasil através da série animada “X-Men: Evolution”, que foi transmitida em TV aberta por vários anos, assim como os filmes live action da franquia X-Men. Tanto na animação quanto na franquia americana de filmes, Magneto atua com frequência como anti-herói, porém tem status de vilão. Suas idéias relacionadas ao futuro da classe mutante o tornam, sem dúvidas, um dos principais vilões dos X-Men, nos quadrinhos, desenhos e filmes.

Dor e ódio

Nascido com o nome de Max Eisenhardt, foi perseguido junto com sua família pelos alemães nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, por serem judeus. Após ver sua família ser assassinada, foi mandado ao campo de concentração de Auschwitz, onde trabalhava como Sonderkommando, uma classe de escravos que fazia os serviços mais indesejáveis, como incinerar corpos e limpar câmaras de gás.

A mãe de Max é morta com um tiro em Auschwitz, após ele não conseguir mover uma moeda com seus poderes. Fonte: Filme “X-Men: Primeira Classe”.

No campo de concentração, conheceu uma cigana chamada Magda. Ambos se apaixonaram e conseguiram escapar de Auschwitz com muito custo. Max assume então o nome de Magnus, para viver em anonimato. Magnus e Magda se estabeleceram em uma vila russa, e apesar de terem que pagar para se manterem lá, tinham uma vida normal e tiveram uma filha, chama Anya. Porém, quando Magnus se recusou a continuar pagando a alta taxa para viver na vila, teve sua casa incendiada e viu sua filha morrer queimada. Tomado pelo ódio, revela seus poderes pela primeira vez e os usa para matar todos os moradores da vila, exceto Magda, que foge para as montanhas sem antes ter revelado que estava grávida. Magda então tem filhos gêmeos, que foram criados por ciganos e ganharam o nome de Wanda e Pietro Maximoff.

Fonte: https://bit.ly/2q6IMEz

Em suas viagens, Magnus conhece Charles Xavier, o fundador dos X-Men, e o ajuda em uma missão. Porém, rompe sua amizade com Charles por acreditar que a única maneira de salvar os mutantes dos ataques dos humanos é fazendo uma revolução. Magnus assume o nome de Magneto e passa então a dedicar sua vida a recrutar e treinar mutantes para dominar a humanidade, se tornando um dos maiores inimigos dos X-Men.

Um encontro existencial

“No campo de concentração todas as circunstâncias conspiram para fazer o prisioneiro perder seu controle. Todos os objetivos comuns da vida estão desfeitos. A única coisa que sobrou é “a última liberdade humana” – a capacidade de escolher a atitude pessoal que se assume diante de determinado conjunto de circunstâncias. […] Os prisioneiros eram apenas cidadãos comuns; mas alguns, pelo menos, comprovaram a capacidade humana de erguer-se acima do seu destino externo ao optarem por serem “dignos do seu sofrimento”.”

O fragmento de texto acima foi retirado do prefácio do livro Em Busca de Sentido escrito pelo psiquiatra austríaco Viktor Frankl (1905-1997). Frankl, assim como o personagem Magneto, foi capturado pelas tropas nazistas durante a segunda grande guerra por ser judeu, porém, na vida real. Entre os anos de 1942 e 1945, o psiquiatra esteve em vários campos de concentração, entre eles o de Auschwitz. Nesse percurso viu seu pai, sua mãe, seu irmão e esposa serem assassinados ou cremados, apenas sua irmã conseguiu se refugiar na Austrália. Durante sua trágica jornada, doente, Viktor encontrou sentido existencial ao roubar papéis dos escritórios nazistas para escrever um de seus livros. A vontade de rever o restante de sua família e publicar seu livro o motivou a sobreviver até sua libertação, quatro anos após ser preso.

Max vislumbra uma sala completamente lotada de óculos de pessoas assassinadas. Fonte: X-Men: Magneto- O Testamento.

A confluência entre as jornadas de Viktor Frankl e do personagem Magneto é inegável. Ainda que se procure evitar reducionismos ao descrever a grande biografia e teoria do psiquiatra, as semelhanças com a história de Magneto não se resumem apenas nas suas sofríveis trajetórias pelos campos de concentração, mas pelo sentido existencial que ambos encontraram para resistir a elas.

Para Frankl (1991), o ser humano teria uma tendência inata a buscar um significado para dar sentido a sua existência com base em desafios a serem superados, a vontade de sentido. Para tanto, a condição para a saúde mental seria uma tensão entre as possibilidades que podem ser exploradas no presente e a realização de anseios futuros doadores de sentido.

Desse modo, a busca humana por um sentido é a motivação principal da vida, sendo esse sentido pessoal e específico, só podendo ser cumprido pela própria pessoa. Assim a vontade de sentido seria satisfeita, tornado esse indivíduo capaz de empenhar sua vida em função de seus ideais e valores (FRANKL, 1991).

Fonte: https://bit.ly/2R5n6nO

Apesar de todas as adversidades, Magneto encontrou com êxito sentidos para viver. Hora pelo amor por Magda pela sua filha, hora pelo ódio à raça humana. Assim, os porquês do vilão, superaram os mais grandes sofrimentos imagináveis, como perder repetidamente as pessoas que ama. As possibilidades do seu conturbado presente deram significado ao seu futuro. Ainda que o personagem atue como anti-herói lutando lado a lado com os X-Men, sua colaboração nunca anulou seu grande desejo: elevar a raça mutante sobre a raça humana. Magneto somente luta pela sua vida e dos seus aliados contra ameaças cataclísmicas.

Apesar de a tendência da maioria das pessoas seja torcer pelos mocinhos, Magneto é um personagem que deve ao menos causar empatia nas pessoas que conhecem sua história. Alguém que passa por sofrimentos tão grandes, precisa de razões igualmente grandes para viver.

A atriz Lynda Carter, primeira mulher a interpretar a Mulher-Maravilha para a TV, certa vez disse:

“Super-heróis são na verdade apenas uma personificação de quem acreditamos ser: Pioneiros e Heróis.”

Então, talvez, super-vilões sejam a personificação de quem de fato somos: seres que perdem, sentem raiva e sofrem.

Fonte: https://bit.ly/2PILz1P

REFERÊNCIAS:

FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. Vozes, 1991.

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