Estupro culposo não existe!

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Cada vez mais ASSUSTADOR SER MULHER….
Mulheres , VAMOS NOS UNIR! Nesse caso, vocês não precisam se declararem FEMINISTAS para se INDIGNAREM…. Basta SERMOS MULHERES….. eu preciso escrever sobre isso…

E essa nova ABERRAÇÃO do judiciário brasileiro: O ESTUPRO CULPOSO?

QUE NOJO! ESTUPRO é ESTUPRO e ponto final.
Cansada de ser ” atropelada” diariamente por um sistema de convenções sociais que nos IMPÕEM UM MOLDE para que sejamos consideradas MULHERES DE BEM.Porque DECIDI SER INDEPENDENTE, já ouvi cada ABSURDO ” Eu disse para a minha mãe que a senhora é MARAVILHOSA. Mas, ela disse que a senhora tem algum defeito grave porque nunca casou “- Como se o SUCESSO de uma Mulher tivesse diretamente ligado ao casamento. Não casou? Tem defeito! Aff!

” Olá! Tudo bem? Sozinha? Precisando de companhia?”- nas noites que ouso sair para curtir minha solitude. Como se NENHUMA MULHER TIVESSE O DIREITO DE SAIR SÓ PARA FICAR SÓ…

Ouvir Boa música, tomar um bom vinho e se inspirar para escrever….Não Pode? Sempre a mulher tem que estar acompanhada? E se sair só? “Está procurando homem, com certeza!”- pensam muitos.

“A senhora fez reserva só para uma pessoa?”. Respondo ” Sim! Estou só”..
O atendente responde atônito ” A senhora está viajando Sozinha?”..Como se viajar só fosse atributo somente dos homens ” fortes e destemidos”.
” A senhora não tem marido, nem namorado, nem ficante, nem ” peguete” ..nem um ” contatinho”?

Que ABSURDO! Essa é problemática, FATO! .
Como se para sermos completas, temos que ter sempre a presença masculina ao lado…Se não temos, ALGO ESTÁ ERRADO!
Nós, Mulheres, independente da idade, vivemos sob a égide da submissão à presença masculina. Vocês já perceberam?

Já escrevi mil vezes, que MULHER EMPODERADA é aquela que luta e conquista O QUE ELA QUISER SER….Casada…Solteira….Enrolada….Antenada…..Desligada…
Estar acompanhada é Maravilhoso…mas se ” não rolar”…estamos bem! Somos independentes, lembram?

A decisão é nossa! Respeitem-nos!

Nós somos donas do nosso corpo! Aprendam, de uma vez por todas:
1- Ser simpática e educada não significa ” dar mole”…
2- Sair sozinha não significa ” estar disponível”
3- Meu corpo…Minhas regras…
4- NÃO É NÃO!

ESTUPRO CULPOSO NÃO EXISTE!

Cada corpo de mulher violado, sem consentimento, VIOLENTA TODAS NÓS!

Por isso, JAMAIS DEFENDA UM ESTUPRADOR! JAMAIS!

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A busca pela cura e o sofrimento de um novo trauma

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Este texto apresenta uma breve análise do primeiro episódio da série documental Em nome de Deus, do Globoplay, que traz relatos de sete mulheres que foram abusadas sexualmente pelo médium João de Deus. Informo que o texto contém gatilhos sobre violência sexual, violência psicológica e estupro, caso você não se sinta confortável com esses assuntos, talvez não seja uma boa ideia continuar a leitura ou assistir aos episódios. Além de tudo, contém spoiler sobre o primeiro episódio.

João Teixeira de Faria é o nome de registro de João de Deus, ou John of God, que teve a prisão decretada dia 14 de dezembro de 2018 (GLOBO NEWS, 2018). O episódio começa contando a história da Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia no estado de Goiás. A casa Dom Inácio era o local onde João de Deus recebia fiéis do mundo todo, cerca de 3 mil pessoas passavam na casa por dia. As pessoas vinham do mundo todo em busca de cura espiritual, psicológica ou física, eram doenças terminais, transtornos psicológicos, e quem já havia procurado todo tipo de tratamento.

Os fiéis que se atravessavam o Brasil e o mundo até a cidadezinha de Abadiânia, levavam consigo apenas esperança e a fé de que através de João de Deus iriam receber a cura para as suas enfermidades e a paz para suas almas. Pessoas trajando branco, com os pés descalços e em silêncio ocupavam todos os cantos do lugar, o choro era contido e os gemidos ecoavam no volume mínimo, nas mãos terços, bíblias, crucifixos e imagens de entidades religiosas.

Crédito: Alexandre Severo

De acordo com Terrin (1998), as religiões não possuem valor ou serventia se não puderem curar doenças ou fornecer compreensão holística sobre elas. A motivação da cura era o combustível que alimentava a força dessas pessoas que enfrentavam grandes distancias para chegarem na Casa Dom Inácio.

As paredes brancas com azul da casa contrastavam com as roupas brancas dos fiéis, pelas paredes placas em português, inglês e espanhol pediam silêncio e diziam que o silêncio é oração. No meio da multidão surgia a figura emblemática e messiânica de João de Deus, um homem de origem pobre que dizia ser instrumento espiritual que tinha a missão de levar a cura de Deus aqueles que precisavam dela.

As pessoas se espremiam em filas para o atendimento coordenadas por funcionários da casa, entre eles tradutores que facilitavam a comunicação de estrangeiros. Pelas paredes da casa havia quadros religiosos, em alguns cômodos existiam pilhas de cadeiras de rodas que foram usadas por fiéis que conseguiram a cura e lançaram a cadeira na pilha para simbolizar o poder das mãos de João de Deus.

Fonte: UOL

Instrumentos cirúrgicos estavam distribuídos em bandejas, e eram utilizados para a realização de cirurgias espirituais. João não possuía formação em medicina, tampouco qualquer outro curso, mas através do exercício da sua espiritualidade dizia receber espíritos de médicos do mundo espiritual que usam o seu corpo para fazer cirurgias.

Lemos (2002) descreve que a relação entre a religião e a saúde consistem na utilização e imposição das mãos, benzeduras, rezas e rituais de cura. E na casa Dom Inácio a utilização das mãos do médium para a realização da cirurgia era primordial para que fosse possível alcançar a cura.

Porém, na casa também era muito comum e forte a prática da oração, utilização de águas bentas, e Reimer (2008) aponta essas práticas como parte importante dentro da estruturação das religiões que oferecem a cura. Essas e outras práticas não se originaram na casa Dom Inácio, mas possuem um percurso histórico-cultural que atravessa séculos.

Existia uma hierarquia dos funcionários da casa, aqueles que seguravam a bandeja de instrumentos estavam alguns passos acima de outros. As cirurgias eram realizadas na frente de todos, cortes e retiradas de tumores eram feitos sem a presença de sangue e sem qualquer censura. Boquiabertos e invadidos pela fé, fiéis testemunhavam as cirurgias e todo o processo de cura.

A relação da religião com a cura é antiga, Berlinguer (1988) traz a história dos primeiros hospitais que nasceram em mosteiros. Dessa forma, vemos que a religião e a cura estão interligadas desde a construção da sociedade.

Fonte: Folha Z

João de Deus era visto como uma figura de grande poder, seus olhos azuis e sua pele branca refletiam à luz dos céus sob ele, que para muitos dos fiéis era a reencarnação de Jesus Cristo. A fala mansa e as palavras diretas de João atravessavam aqueles que o procuravam, ele era idolatrado e adorado. João esbanjava humildade, não cobrava nada de seus fiéis, embora recebesse muitos presentes e ofertas voluntárias. Era um homem humilde e santo, a figura perfeita para aqueles que estavam em desespero.

Pessoas em sofrimento e desesperadas se apegam ao incerto, entregam-se àqueles que possam sanar suas dores e aliviar os seus problemas. Esse apego a figura salvadora ou curadora de João de Deus fez com ele construísse um império, tornando-se um dos maiores nomes no Brasil e no mundo.

João de Deus viajou o mundo todo e espalhou sua proposta de cura, recebeu viajantes de diversas parte do mundo e viveu quatro décadas ileso de quaisquer punições ou retaliações. Tudo isso possui influência de frequentadores da casa que tinham poder, tais como políticos, celebridades e autoridades policiais. Esse casulo de proteção ao redor de João de Deus intimidou suas vítimas.

A advogada Camila Ribeiro conta a sua história de sofrimento com o transtorno do pânico, e relatou sua incessante busca por diagnósticos, profissionais e tratamentos que a ajudassem. Sua família concordou com a ida dela para Abadiânia em busca da cura, porém ela foi abusada sexualmente por João de Deus durante a sua consulta mediúnica com ele.

Camila relata dor, sofrimento e medo sobre o abuso que ela sofreu.

Fonte: Globoplay

A fisioterapeuta Marina Brito relata ter ouvido falar sobre João de Deus a partir de uma de suas pacientes, que estava realizando o tratamento espiritual. Naquela época ela estava tentando engravidar, e não possuía nenhum problema biológico de saúde que a impedisse, porém não conseguia engravidar.

Ela viajou em busca do seu milagre, relata não ter pesquisado sobre o médium, tampouco se existiam relatos negativos sobre ele. Ela disse que foi de coração aberto e com muita esperança para encontrá-lo. Marina foi uma das mais de 500 vítimas de João de Deus, foi abusada sexualmente e recebeu ameaças.

Fonte: Globoplay

As vítimas tinham em comum a esperança do milagre e da cura, depositaram toda a sua confiança e força na visita até a casa Dom Inácio, mas voltaram de lá amedrontadas, confusas, violentadas e descredibilizadas. Elas estavam frágeis e vulneráveis, foram vítimas fáceis. A manipulação do abuso através da possibilidade da cura violou essas mulheres.

A publicitária Luana Schnorr foi atrás de João de Deus buscando a cura para a sua irmã que sofria de diabetes. Como as outras vítimas mostradas, Luana agarrava-se na esperança de que receberia a sua graça e que sua irmã ficaria livre da enfermidade. Mas como as outras mulheres mostradas, foi mais uma vítima de abuso sexual.

Reprodução: Globoplay

O padrão exercido por João Teixeira de Faria era o mesmo: quando no meio da multidão ele perguntava sobre o que elas buscavam ali, em seguida dizia para que o esperassem terminar de atender a todos e que fossem até a sua sala, ou salinha. Isso gerava o sentimento de que elas eram importantes e especiais, e que seriam atendidas separadamente, garantindo assim, mais chances de alcançarem suas graças desejadas.

Entretanto, dentro dessa sala os abusos aconteciam. As vítimas eram tocadas, ou eram obrigadas a tocar na genitália dele. Ele tocava o corpo delas e em alguns casos penetrou às vítimas. Nenhuma das ações cometidas por ele eram consensuais, houve o abuso sexual e estupro em alguns casos.

Deborah Kalume é atriz e buscou a ajuda de João de Deus para seu esposo, que estava em coma há alguns anos depois de um acidente de carro. Deborah relata já ter procurado diversos tipos de tratamento e auxílios religiosos, e que nada havia dado certo, por isso então ela decidiu tentar a última alternativa que era o João de Deus.

Ela foi vítima de abuso sexual no maior momento de vulnerabilidade de sua vida, foi usada e violada pelo médium. Deborah conta que quando o abuso estava acontecendo, ela não conseguia acreditar e assimilar que aquilo estava acontecendo. Aquela era a sua última esperança e acabou sendo seu maior motivo de sofrimento.

Fonte: Globoplay

As mulheres abusadas conseguiram reunir forças para expor seus rostos e dar cara às denúncias a partir do primeiro relato público feito pela coreógrafa holandesa, Zahira Lieneke Mous, que expôs o abuso sofrido através do seu perfil pessoal no Facebook.

Fonte: Globoplay

A produção do programa Conversa com Bial através da jornalista Camila Appel entrou em contato com Zahira na tentativa de que ela pudesse expor na televisão a violência sofrida, e a partir disso que outras mulheres pudessem denunciar também. Zahira concedeu a entrevista e contou sobre o abuso que sofreu. A semelhança nas histórias dessas mulheres é chocante, pois existem os mesmos elementos, apesar de que elas não se conhecem, e moram em lugares diferentes.

Zahira foi a primeira cara da exposição contra João de Deus ao relatar o abuso sexual que ele cometeu. A partir disso, hoje mais de 500 mulheres conseguiram expor também, e João Teixeira de Faria encontra-se preso.

FICHA TÉCNICA

encurtador.com.br/aCDNW

EM NOME DE DEUS

Argumento e criação: Pedro Bial
Roteiro: Camila Appel e Ricardo Calil
Produção musical: Dé Palmeira
Direção de fotografia: Gian Carlo Bellotti e Dudu Levy
Produção: Anelise Franco
Direção de conteúdo: Fellipe Awi
Direção: Gian Carlo Bellotti, Monica Almeida e Ricardo Calil
Produção Executiva: Erick Brêtas e Mariano Boni
(A série documental está disponível para assinantes Globoplay).

Referências:

BERLINGUER, Giovanni. A doença. Trad. Virgínia Gawryszewski. São Paulo: CEBES-Hucitec, 1988.

LEMOS, Carolina Teles. Religião e saúde: a busca de uma vida com sentido. Fragmentos de Cultura, Goiânia, Pontifícia Universidade Católica, v. 12, n. 3, p. 17- 57, 2002.

REIMER, Ivoni Richter. Milagre das mãos: curas e exorcismos de Jesus em seu contexto histórico-cultural. São Leopoldo: Oikos; Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 2008.

TERRIN, Aldo Natale. O sagrado off limits: a experiência religiosa e suas expressões. São Paulo: Loyola, 1998.

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Combatendo a violência contra a mulher

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Na pandemia, houve o triste aumento de casos de violência contra a mulher. Devemos reforçar que violência é qualquer tipo de agressão, seja ela física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral e deve ser combatida.

Alguns fatores como o aumento do consumo de álcool e drogas, problemas financeiros e com a saúde mental, podem ser gatilhos para revelar indivíduos agressivos ou expor mais o lado violento da pessoa. Temos que levar em consideração que o indivíduo não se tornou violento ou agressor durante a pandemia. A violência é um comportamento aprendido em casa ou na sociedade.

Muitos acreditam que no período pós-pandemia as agressões vão diminuir, caso isso ocorra, a queda não corresponde à realidade. Em lares que ocorrem essas agressões, as relações e os laços familiares já apresentam fragilidades, muitas vezes por conta de históricos de violência verbal e até física.

Fonte: encurtador.com.br/artOR

Para combater é importante dar voz e credibilidade a vítima. Muitas vezes, ela fica desacreditada, pois parte dos agressores são sociáveis, bons amigos e prestativos. Isso faz com que estejam acima de suspeitas, mas em seu lar são opressores, violentos e agressores. Também é importante que vizinhos não se calem ao perceber algo, porque a vítima, em geral, sente vergonha ou medo de buscar ajuda.

Alguns serviços acessíveis são a DEAM (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) com atendimento voltado para demanda da violência doméstica, dando o suporte e encaminhando a vítima para a rede de apoio, também às medidas protetivas e aos abrigos sigilosos. Além disso, tem a campanha “sinal vermelho”, que a mulher pode receber auxílio em farmácias imediatamente ao exibir um “X” na mão.

Fonte: encurtador.com.br/gnvI7

No artigo 35 da Lei nº 11.340/06 prevê que a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite de suas competências, centros de educação e de reabilitação para os agressores; e o artigo 45 estabelece que nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor aos programas de recuperação e reeducação. Para casos urgentes, existem o Disque 180, da Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, e o 190, da Polícia Militar.

Dedico parte do meu tempo divulgando esses serviços em minhas redes sociais, sendo voluntária do Projeto Justiceiras, acolhendo, auxiliando, empoderando e fazendo com que essa vítima perceba que pode estar em situação de violência. Para combater a violência precisamos de uma rede de apoio, com medidas e ações educacionais, sociais e jurídicas. Denuncie qualquer tipo de violência contra a mulher.

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As redes sociais e a autoestima

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Homens e mulheres nunca estiveram em tanto “pé de igualdade”. Isso se deu, pois, entendemos melhor que a cultura se utilizava de um discurso social da desigualdade de gênero como algo natural, o que mantinha as diferenças entre homens e mulheres. As mulheres sempre estavam em lugares menos privilegiados e os homens como os detentores de poder, podiam ocupar qualquer lugar na sociedade.

Apesar de hoje as mulheres terem conseguido galgar um lugar respeitoso na sociedade, ainda são muito julgadas e enquadradas em múltiplos estereótipos. Por conta dessa pressão cultural para que sigam padrões impostos, acabam sofrendo muito mais com problemas de autoestima. Elas aprendem desde crianças que “devem estar sempre bonitas, magras e apresentáveis, caso contrário, não ninguém as irá querer” ou “mulher mandona nenhum homem gosta, você tem que ser meiga”. 

Observado o cenário acima, várias garotas, ao acessarem as redes sociais, como o Instagram, por exemplo, buscam se sentirem aceitas, amadas e reconhecidas. Muitas vezes, num resultado contrário, acabam ficando completamente arrasadas e frustradas ao “não receberem o mesmo número de curtidas que aquela amiga popular” ou sentem-se horríveis ao notarem a barriga de tanquinho de uma blogueira fitness que elas não têm. 

Fonte: encurtador.com.br/lsBC2

Com isso, as redes sociais se tornam uma armadilha para as mulheres e um campo minado para a sua autoestima. Essas plataformas digitais se transformam em um campo de disputa entre perfis e uma lembrança eterna de que “eu poderia estar/ser mais bonita, mais rica, mais competente”.

As pessoas que têm dificuldades de desenvolver um amor próprio e uma autoestima, em geral, são aquelas que já passaram por situações como, por exemplo, negligência ou castigos frequentes na infância; abuso constante, pais severos, autoritários ou superprotetores; ausência de confiança nos filhos; intimidações constantes; contextos violentos ou estressantes; falta de elogios; e ambiente preconceituoso. 

Quem passa por isso cresce num ambiente tóxico. Geralmente, são pessoas que passam a se comparar com outros constantemente, coloca-se em relacionamentos abusivos ou permite abusos no campo profissional, sempre se diminuindo. Tudo isto prejudica ainda mais o amor próprio, tornando-o praticamente inexistente. 

A baixa autoestima pode gerar inúmeros problemas psicológicos como, depressão, ansiedade, fobias, transtornos de personalidade, compulsões e transtornos alimentares, TOC (transtorno obsessivo compulsivo), vícios em geral (dependência química, vícios em jogos), entre outros. Basicamente, a autoestima baixa pode ser um dos fatores envolvidos para o surgimento de quase todos os principais problemas e transtornos psicológicos. 

Fonte: encurtador.com.br/cI347

O momento ideal de procurar ajuda psicológica é quando a pessoa começa a perceber diversos problemas em sua vida devido à baixa autoestima, atrapalhando até mesmo na sua rotina diária e de seus relacionamentos. Começa-se a notar situações como, por exemplo, o hábito de não assumir responsabilidade pelos seus erros; a ausência de respeito dos seus próprios limites; a necessidade de sempre agradar os outros e o perfeccionismo; a procrastinação, entre outros sinais. 

Hoje em dia, já existe até uma expressão para quando deixamos de seguir pessoas que não têm nada a ver conosco, perfis que sugerem o seguimento de um padrão ou que não nos trazem um bem estar, é o que se chama de “unfollow saudável”.

Deixar de ter esses perfis no seu “feed” pode ser bastante positivo para sua autoestima, formação de identidade e autoaceitação. Além disso, indica também uma observação crítica daquilo que consumimos “contra” o que queremos e valorizamos. Fazer uma faxina nas redes sociais pode indicar uma saúde mental em dia e uma autoestima “em ordem”.

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“Coringa”: cultura cosplay e copycat gerou o Palhaço do Crime

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Concorre com 11 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Ator, Fotografia, Figurino, Direção, Edição, Cabelo e Maquiagem, Trilha Sonora Original, Edição de Som, Mixagem de Som e Roteiro Adaptado.

Criado pela indústria do entretenimento, é chegado o momento dessa própria indústria fazer uma metalinguagem do poderoso arquétipo que gestou por todos esses anos.

Para muitos pesquisadores em Sincromisticismo, desde que o Coringa surgiu em 1940 nas HQs, o personagem transformou-se em uma forma-pensamento autônoma, um arquétipo que paira sobre o tempo. Mas como produto da indústria do entretenimento, ele também reflete o espírito de cada época, do Coringa bufão de Cesar Romero nos anos 1960 psicodélicos à inteligência sinistra do Coringa de Heath Ledger. Em “Coringa” (Joker, 2019) o Príncipe Palhaço do Crime ganha uma atualização, dessa vez um “spin off”: as origens do Coringa numa Gotham City vintage, mas que pode muito bem ser o espelho da nossa época. O Coringa de Joaquim Phoenix (numa interpretação assustadora onde, mais uma vez, um ator pagou o preço psíquico para encarnar o personagem) reflete a atual onda de ódio e ressentimento articulados pela Deep Web, fóruns e chans na Internet e pelo populismo de direita. Coringa é a persona da cultura copycat e cosplay atual dominada por um ciclo de feedback de identificações equivocadas que fogem do controle.

O Palhaço do Crime; O Príncipe Palhaço do Crime; O Flagelo de Gotham; Arlequim do Ódio; O Bobo do Genocídio; O Ás de Valete. Ou simplesmente “Joker” ou Coringa, supervilão criado por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane e que apareceu pela primeira vez em Batman #1, de abril de 1940.

De acordo com o plano inicial, o Coringa deveria ter morrido na sua primeira aparição, mas foi providencialmente poupado por uma decisão editorial, permitindo que fosse progredindo até se tornar não apenas um palhaço psicopata. Coringa tornou-se o arquétipo do psicopata: no ranking das mais populares formas-pensamento do século XX, ele é praticamente um deus.

Fonte: página oficial do filme

Numa espécie de “top of mind” das marcas dos personagens das HQs feita durante a produção de Batman do diretor Tim Burton, a pesquisa apontou que a bat insígnia ocupava a segunda colocação, logo após a imagem do sorridente rosto do Coringa – hoje o Coringa ocupa o segundo lugar no Top 100 dos vilões das HQs.

Como poderoso arquétipo ou forma-pensamento com forte energia psíquica capaz de influenciar não só as mentes como as próprias ações, o personagem acumula um histórico de estranhos efeitos nos atores que o encarnam, assim como inúmeros relatos de efeitos copycats – ataques e atiradores figurando como cosplayers assassinos na vida real – veja os links ao final.

Criado pela indústria do entretenimento, é chegado o momento dessa própria indústria fazer uma metalinguagem do poderoso arquétipo que gestou por todos esses anos.

Fonte: página oficial do filme

Coringa (Joker, 2019), do diretor Todd Phillips (Se Beber, Não Case e Escola de Idiotas), é uma incursão ao mesmo tempo vintage e realista, bem diferente das versões cinematográficas do Coringa: sem aspirações artísticas vanguardistas de Jack Nicholson, ou a inteligência cínica e sombria de Heath Ledger, ou ainda a comprometedora versão de Jared Leto, na qual o Coringa parecia mais um tipo de MC ostentação.

O logotipo retro da Warner Bros. que abre o filme indica que estamos em algum lugar entre as décadas de 1970 e 80. Os planos de câmera e a direção de arte que reconstroem a Gotham City emulam a estética do novo realismo Hollywood daqueles tempos em filmes como Taxi Driver (1976) e O Rei da Comédia (1982) – filmes protagonizados por anti-heróis perdedores em sociedades duras e violentas.

Coringa é um estudo triste, lento e caótico das origens do icônico vilão das HQs. Alguém que não é visível, anônimo numa cidade em crise econômica e imersa em sacos de lixo causada por uma greve dos serviços públicos.

Enquanto até aqui todas as histórias com o vilão o figuram como um personagem (caricato sempre em tons fortes sem muitas sutilezas), aqui Todd Phillips, ao lado do roteirista Scott Silver, estão mais interessados na composição mental, moral, emocional e física de um homem simples e esquecido e que se tornou o Coringa

Isso exigiu um tour de force do ator Joaquim Phoenix (e, como sempre, o arquétipo do Coringa cobrou-lhe o preço emocional e psíquico para encarná-lo, clique aqui): a atmosfera é sempre acinzentada e os planos de câmera sempre fechados no ator – tanto seu rosto como seu corpo são minuciosamente observados por nós, assim como sua lenta transformação no palhaço do crime.

O filme até aqui provocou críticas divididas em torno do debate de como Coringa representa temas sombrios atuais (principalmente a desigualdade e intolerância ao lado do crescimento do ressentimento e ódio), além de cadeias de cinema nos EUA proibirem a entrada de cosplayers do personagem – clique aqui.

Nesse ponto é que Coringa se torna ainda mais interessante: ficção e realidade se tocam quando o próprio Coringa figurado no filme é um produto da mídia que, afinal, não resiste a um personagem com uma boa storyline e punchline. Tirando do anonimato um perdedor que repentinamente vira um símbolo político de explosão da revolta e ressentimento, criando um gigantesco efeito copycat – aproximando-se da realidade.

Fonte: página oficial do filme

O Filme

Gotham City. Os moradores estão imersos em montes de sacos de lixo na frente de cada porta, sob um céu sempre de cor chumbo. Os tempos são difíceis: há desemprego, pobreza e falta de perspectiva. E um novo candidato a prefeito: o milionário Thomas Wayne (Brett Cullen), que apenas desperta o ressentimento outrora latente.

Alheio a tudo isso, encontramos Arthur Fleck (Joaquim Phoenix), um cara aparentemente gentil que gosta de fazer as pessoas sorrirem. Ele é um palhaço profissional com uma relação problemática com seus colegas da agência de clowns e um aspirante a comediante de stand-up.

Ele é uma das vítimas de “tempos malucos”. Ele próprio é um ex-interno de um hospital psiquiátrico vivendo à margem da sociedade tentando ter um emprego regular – sobe escadarias sem fim, passa por corredores mofados em uma vida de cortiços sombrios, caixas de correios vazias e elevadores quebrados.

Ele é espancado, zombado e abusado. Não se envolve com o mundo. A vida cotidiana para ele é difícil, pois as regras e os códigos que estruturam a sociedade permanecem desconhecidas para Arthur. Sua condição é de alienação, em grande parte devido a uma condição mental que causa risadas incontroláveis (geralmente nas piores situações) enquanto os olhos estão cheios de dor e tristeza.

“Só não quero mais me sentir tão mal”, sussurra Arthur para a assistente social que o acompanha: ele quer mais remédios, além dos sete prescritos. Logo mais não terá nenhum, com a política de austeridade da prefeitura que está cortando todos os serviços sociais.

É um sistema que agora não tem mais tempo ou recursos para gente como ele. Isso será simplesmente o início da descida do caminho para encontrar o Coringa dentro de si mesmo.

Fonte: página oficial do filme

Mas tudo muda quando, com muita relutância, aceita um revólver de um companheiro de trabalho para se proteger dos assédios de um palhaço que trabalha nas ruas. Em um metrô barulhento, sujo e pichado de grafites pela primeira vez Arthur revida e atira em três jovens yuppies grosseiros de Wall Street – depois do assédio malsucedido em uma mulher, resolvem descontar sua raiva no pobre palhaço.

Após essa primeira explosão de violência brutal, Arthur adquire autoconfiança. Seus movimentos se tornam elegantes, seu corpo magro e arqueado agora é ágil, gracioso. As mortes no metrô ganham as manchetes na TV, desencadeando um gigantesco efeito copycat: centenas de pessoas saem às ruas com máscaras de palhaço para se levantar contra os ricos.

Não era o tipo de reação que Arthur queria… mas é uma reação e ele aceita. Afinal, faz ele saber que existe e que suas ações significam algo para alguém. Cria-se então um ciclo de feedback de identificações equivocadas que fogem do controle – manifestantes nas ruas usam a máscara do palhaço, incitando Arthur a dar continuidade a sua nova persona. Aos poucos, Arthur descobre que o seu talento não é o humor, mas a expressão da raiva multiplicada.

No final, humor e explosão da raiva e violência são a mesma coisa: é tudo uma questão de timing.

Fonte: página oficial do filme

O Coringa do nosso tempo

Arthur sonha em sair do anonimato de humilhações da vida de um zé-ninguém, até descobrir que o talk show de Murray Flanklin (Robert de Niro, numa perfeita alusão aos filmes Rei da Comédia e Taxi Driver) apenas o convidou para mais uma vez ser humilhado – um vídeo de um show de stand up bizarramente sem graça de Arthur foi o motivo da produção convida-lo.

O Coringa desse filme definitivamente tem algo a dizer sobre o nosso tempo. O Coringa de Christopher Nolan em O Cavaleiro das Trevas era uma agente do caos que queria provar que no final as pessoas são terríveis e cruéis e escondem tudo isso com hipocrisia. Mas Nolan mostrou que Gotham se recusava à explosão de uns contra os outros.

Mas em Coringa temos o contrário: Arthur é perturbado e violento e todo mundo ao redor dele é cínico e paranoico. Os ricos e as estrelas da mídia são terríveis e as pessoas comuns ainda piores – uma multidão de saqueadores, assassinos que está apenas em busca de um pretexto para entrar na selvageria.

Fonte: página oficial do filme

Cada Coringa refletiu o espírito da sua época: o Coringa de Cesar Romero da década de 1960 era um bufão engraçado e sintonizado com a psicodelia da era hippie. O Coringa de Jack Nicholson aspirava ser um vanguardista que transformava o crime em arte – releitura de Tim Burton associada à estética dark de seus filmes. O coringa de Heath Ledger era cerebral e adulto. Ao contrário de Jared Leto, sintonizado com a cultura jovem contemporânea.

E o Coringa de Joaquim Phoenix reflete a atual onda de ódio e ressentimento bem sucedidamente articulados tanto pelo populismo de direita internacional quanto pela Deep Web, fóruns e chans na Internet: “Incels” (Celibatários Involuntários), “Hominis Sanctus”, PUA (Pick-up Artists), formas violentas de socialização masculina (macho alpha etc.) e uma variedade de pseudociências e conspirações LGBTs e feministas contra os homens.

O príncipe do Crime de Coringa é a persona da cultura copycat e cosplay atual – uma máscara ou persona (assim como foi o efeito copycat da máscara do Anonymous nas manifestações de rua) que empodera o ressentimento de uma massa de excluídos da globalização. Só que levados a autodestruição e anomia, bem ao gosto da atual extrema-direita, a “alt-right”.

Se Nolan ainda buscava um fio de resistência humanista em Gothan City contra a pegadinha macabra do Coringa, aqui a dupla Todd Phillips e Scott Silver joga literalmente o Coringa nos braços das massas que reconhecem nele sua própria crueldade e selvageria.

O resultado do filme Coringa é a resposta do porquê o sombrio supervilão bufão é tão fascinante e sedutor quanto Batman: ambos são movidos pelo ódio e ressentimento, porém com os sinais trocados.

FICHA TÉCNICA:

CORINGA

Título original: Joker
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquim Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz, Frances Conroy;
Ano: 2019
País: EUA, Canadá
Gênero: Drama/Suspense

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CAOS2019: Girassol – um caso de recomeço pós multi violências intrafamiliares

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Girassol é uma mulher que vivenciou um relacionamento abusivo e se sentia culpada por ter práticas sexuais sem concordância e sem coerência com suas crenças e preferências pessoais.

Na tarde desta sexta, 24/05, no auditório central do Ceulp/Ulbra, aconteceram os Seminários Clínicos, como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – Caos.  A abertura ficou por conta da coordenadora do Serviço de Psicologia do Ceulp – SEPSI, psicóloga Lorena Dias de Menezes Lima.

A psicóloga Gleycielle Magalhães, egressa do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra, apresentou o estudo de caso “Girassol: um caso de recomeço pós multi violências intrafamiliares”. Na perspectiva sistêmica, Gleycielle, juntamente com a Professora Mestre Cristina D`Ornellas, que na época era sua supervisora, falaram de Girassol (nome fictício).

Girassol é uma mulher que vivenciou um relacionamento abusivo e se sentia culpada por ter práticas sexuais sem concordância e sem coerência com suas crenças e preferências pessoais. Tem um filho, cujo sofreu abuso do próprio pai, o que posteriormente, gerou uma ação judicial contra o ex-parceiro pela a disputa da guarda da criança. Girassol passou por um intenso julgamento e exposição, o que ocasionou mais sofrimento.

Como possibilidades de intervenção para o caso, Gleycielle utilizou as técnicas de acolhimento, escuta qualificada e perguntas reflexivas, para a ampliação do foco para as relações. Foram realizadas 28 sessões, sendo uma delas em conjunto com a criança. a Psicóloga pontuou que foi possível perceber uma evolução, pois foi observado uma maior estabilidade emocional,  uma perspectiva de futuro e de novos relacionamentos (algo que não acontecia no processo inicial da terapia).

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#CAOS2019: A realidade mascarada de ser jornalista

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Jordana trouxe um pouco sobre as faces da violência em que as mulheres que trabalham dentro do jornalismo acabam sofrendo.

Nesta quinta, 23, na sala 221 do CEULP, ocorreu uma das seções técnicas com o tema Violência Contra a Mulher no Ambiente Profissional do Jornalismo ministrada por Jordanna de Sousa Parreira, psicóloga e atualmente mestranda em comunicação e sociedade pela UFT. Essa sessão técnica dentre outras quatro, fez parte da programação da quarta edição do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS).

Jordana trouxe um pouco sobre as faces da violência em que as mulheres que trabalham dentro do jornalismo acabam sofrendo.

Dados estatísticos de uma pesquisa que durou 5 meses que tem como fonte principal a Abrajj foram explanados para quem estava presente e isso chocou muito os espectadores pois dos 5 tipos de violência que a pesquisa continha, a violência física foi a que mais se destacou

A conclusão da pesquisa foi a de que infelizmente as mulheres jornalistas são vítimas de violências psicológicas na mesma quantidade que as violências no aspecto contra o corpo, não deixando de lado os outros tipos.

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Articulação entre SUS e PM no combate à violência contra a mulher é tema de mesa redonda

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A mesa redonda é parte da programação do CAOS 2018 que acontece no Ceulp até o dia 24 de maio.

Ocorre na manhã desta quarta-feira (22) nas dependências do CEULP/ULBRA, a mesa redonda “Sexualidade e Sistema Único de Saúde: da atenção primária ao cuidados de vítimas de violência sexual” como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2019. As atividades foram conduzidas pela psicóloga Raphaella Pinheiro e pela capitã da Polícia Militar Flávia Roberta de Oliveira, com mediação da psicóloga Izabela Almeida Querido.

Na mesa redonda foram discutidos casos de violência doméstica e sexual atendidos pelo Sistema Único de Saúde em articulação com a Patrulha Maria da Penha, da Polícia Militar, através do NUPAV (Núcleo de Prevenção de Acidentes e Violência, Promoção da Saúde e Cultura da Paz). Foram apresentadas as principais características e o perfil de vulnerabilidades das mulheres que estão em situação de violência doméstica e sexual, entre elas a dominação patriarcal, a dependência financeira e a comunicação violenta.

Fonte: encurtador.com.br/dmzNY

A Patrulha Maria da Penha é um policiamento especializado e preventivo, que atua através de visitas preventivas, evitando que agressores descumpram as medidas protetivas. As atendidas podem entrar em contato com a Patrulha, que realiza rondas nas regiões específicas onde as atendidas residem e trabalham. Além disso, a Patrulha realiza palestras em escolas com o objetivo de conscientizar crianças e adolescentes acerca de possíveis violências no âmbito doméstico.

Raphaella Pizani Castor Pinheiro é psicóloga, possui formação em psicanálise, psicologia hospitalar e terapia sistêmica, é mestre e especialista em saúde. Flávia Roberta de Oliveira é bacharel em direito e em segurança pública, Capitã QOPM, comandante da Patrulha Maria da Penha de Palmas-TO.

Mais informações podem ser obtidas no site do evento.

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“Animals” – Multidão solitária em busca de aprovação social

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Com cenas de nudez e violência gráfica combinada com o tom do humor negro, não é uma animação para corações mais sensíveis.

Um dia como outro qualquer de pessoas comuns viajando em um trem. Cada um perdido em seus próprios pensamentos e preocupações. Até que surge o inesperado: a porta do vagão não abre, e o trem permanece em movimento para as próximas estações.  Aquelas nove pessoas começarão a fazer uma rápida descida para o caos, a irracionalidade e, por fim, a selvageria – tudo registrado por um smartphone de um passageiro que apenas se preocupa em postar o vídeo em redes sociais, ao invés de tomar uma atitude de ajuda. Esse é o curta-metragem “Animals”(2019), trabalho de conclusão do “Animation Workshop” do animador dinamarquês Tue Sanggaard. Seis minutos que resumem as principais teses clássicas da psicologia social sobre o comportamento do homem na multidão. Porém, no século XXI, turbinadas pelas novas tecnologias.

Século XIX foi o século do aparecimento das multidões na História. Depois dos adensamentos populacionais em vilas, burgos, aldeias e cidades medievais, surge a novidade das metrópoles, as multidões e as massas. Mais especificamente, o surgimento do “homem-massa”, anunciado pela sociologia e pela nascente psicologia social de Gustave Le Bon e Freud: na multidão o indivíduo assume uma outra personalidade, bem diferente daquela apresentada nas relações familiares e interações pessoais.

Mas muito antes de cientistas tentarem entender essa novidade, artistas como escritores e pintores já faziam uma radiografia desse “homem-massas”. Por exemplo, Edgard Allan Poe antecipou as discussões da sociologia no conto “O Homem da Multidão” de 1840 – com as metrópoles ficou impossível as pessoas manterem relacionamentos mais íntimos, de conhecimento entre elas mesmas. O ser humano não tem tempo para estreitar laços sociais, nem para se conhecer melhor, muito menos ter tempo para se permitir conhecer os outros. 

Ou o quadro “O Grito” do pintor Edvard Munch no qual um homem (o próprio pintor) sente melancolia, ansiedade e grita: a solidão no meio da multidão. A situação paradoxal no qual os grandes aglomerados humanos produzem crescente solidão ao invés da proximidade e relações de amizade.

Fonte: https://goo.gl/5onyb8

O curta-metragem de animação dinamarquês Animals, de Tue Sanggaard, explora exatamente esse tema da modernidade: a transformação de nove pessoas presas em um vagão de trem em movimento. O que parece ser mais um dia normal rapidamente começa a tomar um rumo estranho quando as portas da composição se recusam a abrir quando para nas estações. 

As tentativas fracassadas em tentar abrir as portas fazem aqueles passageiros descerem da frustração ao caos, perdendo toda a racionalidade e fazendo-os retornar aos mais baixos instintos como animais na natureza lutando pela sobrevivência.

São pessoas normais com as quais cruzamos no dia-a-dia. Pessoas que vivem perdidas em seus próprios pensamentos e não tentam fazer contato com os outros. A não ser que algo extraordinário aconteça. Então a paranoia e a loucura lentamente começam a tomar conta de todos e pessoas aparentemente civilizadas se transformam em animais. É a regra da selva: matar ou ser morto.

Com cenas de nudez e violência gráfica combinada com o tom do humor negro, não é uma animação para corações mais sensíveis. Sanggaard se inspirou na observação do comportamento humano no cotidiano: “Espero fazer as pessoas sentirem uma vasta gama de emoções e levantar uma série de questões de como a nossa sociedade está estruturada, para onde estamos indo como civilização e como tratamos uns aos outros nesse caminho”, afirmou o diretor em entrevista para o site “Short of The Week” – clique aqui.

Fonte: https://goo.gl/y5xb8G

A multidão solitária

A princípio Animals explora esse tema clássico da Psicologia Social: a solidão humana na massa – cada passageiro ensimesmado e perdido em seus próprios pensamentos e preocupações. Um músico entra no vagão para uma pequena apresentação em troca de moedas. Mas a música não é o suficiente para criar algum tipo de senso comunitário.

O ponto importante na animação é o papel do smartphone. Laranjas caem no chão e o esfomeado músico tenta pegá-las, sendo atraído depois pelo cheiro de um frango assado que gulosamente um passageiro saboreia. Com o celular um passageiro filma a bizarra cena do músico no chão, de joelhos, implorando por um pedaço do frango.

O pânico toma conta com a porta que não abre e o trem em movimento. Um passageiro quebra sua cabeça na janela tentando abri-la e cai numa poça de sangue. Tudo filmado pelo celular de um passageiro. Ao invés da colaboração, o primeiro impulso é filmar o início do caos.

Fonte: https://goo.gl/8WN8v5

Ponto de inflexão importante na narrativa que nos faz lembrar das ideias clássicas, e ainda atuais, do pesquisador David Riesman no livro “A Multidão Solitária”: a multidão cria um novo tipo de ego: o “alter dirigido” – o critério que nos orienta é o que os outros pensam de nós, pois só existimos na multidão. 

Paradoxalmente somos sociais como nunca fomos. Riesman previu lá na década de 1950 que a multidão solitária cria um tipo de orientação na qual o nosso comportamento visa a aprovação da opinião da multidão. O passageiro do celular não pensa em ajudar o outro que se arrasta no piso do trem: pensa em gravar um vídeo para postar nas redes sociais a situação bizarra. Prefere criar muito mais relações virtuais do que reais com o próximo.

O grande insight de Animals é figurar como essa sociabilidade mediada pelo disposto móvel de alta tecnologia desemboca no comportamento mais selvagem – todos se tornam animais destituídos da sua persona social e das próprias roupas. Retornam aos instintos mais básicos da Natureza como predadores caçando na floresta ou na savana africana. 

As imagens são propositalmente irônicas: lembram aqueles planos de câmera de canais como National Geographic ou Discovery Channel, mostrando em slow motion a ação dos predadores nas planícies africanas.  

O resultado da animação 3D é impressionante e realista. E nos faz pensar em como no século XXI os temas clássicos da sociologia novecentista continuam não só atuais. Mas também potencializados pelas novas tecnologias.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

ANIMALS

Título: Animals (curta-metragem)
Diretor: Tue Sanggaard
Produção: Charly Märtensson
Ano: 2019
País: Canadá
Gênero: Comédia Negra

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