Redução de danos como uma prática de cuidado às pessoas que usam drogas

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Quando suportamos a função de cuidador, navegamos por águas escuras e operamos manobras de alta complexidade.

Antonio Lancetti, 2006

O debate sobre RD remonta a meados da década de 1920, na Inglaterra, com a utilização da heroína no tratamento de usuários desta droga, que mantinham relação prejudicial, de modo a minimizar os efeitos prejudiciais da substância injetável e garantir o acesso a direitos básicos. Desta ação, foi produzido e publicado o Relatório Rolleston, em 1926, tornando-se um marco no tratamento do uso prejudicial de álcool e outras drogas (FONSECA, 2005).

Anos mais tarde, em 1980 na Holanda, a RD abriu possibilidade para novos diálogos sobre drogas, após uma ação comunitária perpetrada por um grupo de usuários de substâncias injetáveis (SOUSA; CARVALHO, 2015). À época, havia um número expressivo de usuários de drogas contaminados com Hepatite B, o que desencadeou a mobilização, tensionando o poder público a criar Programas de Trocas de Seringas, que consistia na troca de seringas usadas, por estéreis (FONSECA, 2005). Ainda segundo a autora, além da troca de seringas, o Programa passou a dispor de uma diversidade de insumos (algodão, água potável, bicarbonato de sódio), não somente nos centros de saúde, como também nas cenas de uso (FONSECA, 2005).

Na mesma época, nos Estados Unidos, os primeiros casos de HIV/AIDS começaram a ser detectados. “Com o desenvolvimento dos testes para detectar o HIV, a situação se revelou bastante mais grave: cerca de metade dos UDI (usuários de drogas injetáveis) de Nova Iorque estavam infectados pelo vírus da AIDS” (FONSECA, 2005). Na Europa, chegavam a 30% de pessoas infectadas entre usuários de substâncias injetáveis (TELLES, 2004 apud FONSECA, 2005), e as estratégias de RD foram ganhando força, agora não mais como foco na dependência de drogas, mas como prevenção de doenças infecciosas, como Hepatite B e HIV/AIDS.

Fonte: encurtador.com.br/fnyJL

No Brasil, a primeira tentativa de utilizar estratégias de RD se deu em Santos, em 1989 (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). No entanto, fazer redução de danos na época era tido como crime equivalente ao de traficar drogas, pois os operadores do direito compreendiam como “apologia ao uso”, baseados no argumento legal da Lei nº 6368/76 (FONSECA, 2005).

Em 1995, deu-se início o primeiro Programa de Redução de Danos no Brasil, na cidade de Salvador/BA, como projeto de extensão da faculdade de Medicina na Universidade Federal da Bahia (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). Em 1997, foi criada a ABORDA, constituída por profissionais redutores de danos de diversas áreas, usuários de drogas e pessoas comprometidas com a pauta (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005).

Somente em 2005, as ações de RD foram regulamentadas, por meio da Portaria nº 1028, e mais tarde, foram incorporadas à Atenção Primária, com a Portaria nº 2488/2011, com as equipes de Consultório na Rua (TEIXEIRA et. al., 2017), e compreende enquanto eixos norteadores de atenção integral à saúde: a educação e informação, a assistência e a disponibilização de insumos de proteção à saúde (BRASIL, 2005).

Fonte: encurtador.com.br/elnB6

Desse modo, o artigo 9º da referida Portaria vem “Estabelecer que as ações de redução de danos devem ser desenvolvidas em consonância com a promoção dos direitos humanos, tendo especialmente em conta o respeito à diversidade dos usuários ou dependentes de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência” (BRASIL, 2005).

Contrapondo a Portaria que versa sobre a Política de Redução de Danos, as práticas de recolhimento, vide exemplo da megaoperação policial realizada na cracolândia em São Paulo em junho de 2017, possuem intrinsecamente o propósito de higienismo social, internando involuntariamente usuários de drogas nas comunidades terapêuticas nas quais são submetidos a tortura, trabalho compulsório e punições severas. Os mecanismos de assujeitamento do “novo sujeito manicomial”, o usuário de droga, vincula o tratamento a noção de castigo, com bases em uma moral cristã fundante do Estado brasileiro.

A lógica da abstinência, e a consequente postura de negação do diálogo sobre o uso de drogas, está tão arraigada no discurso e postura dos serviços direcionados para usuários de drogas, que mesmo estes são capturados por esse discurso.

Fonte: encurtador.com.br/hnuE5

A Resolução N 01/2018 do Conselho Nacional de Política sobre Drogas (CONAD), implica em uma mudança significativa no que tange a política sobre drogas no Brasil, enfatizando a abstinência como única estratégia de intervenção e a internação como instrumento para atingir esse fim. Além disso, reforça o financiamento das comunidades terapêuticas, ao passo que propõe o sucateamento dos serviços substitutivos, como os CAPS AD e demais dispositivos de reintegração social sob a ótica da redução de danos.

Na atual configuração dos equipamentos de saúde, embora ultrapassada, em sua maioria agenciada pela lógica da abstinência, a RD busca ativar um movimento de afirmação política, uma vez que inaugura um dispositivo, que opera na prática novas formas de ver, pensar, agir e sentir sobre as drogas (SOUZA, CARVALHO, 2015). Nesse ínterim, a RD não se limita ao binarismo “sim às drogas” versus “não às drogas”, tal qual a abstinência, mas emerge como possibilidade de acolher os indivíduos em suas singularidades, aproximando-se do princípio da Universalidade preconizado pela Lei nº 8080, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS).

Fonte: encurtador.com.br/qCK29

Em contrapartida, a lógica da abstinência entra em desacordo com a lei supracitada, uma vez que condiciona o acesso ao tratamento em saúde somente àqueles que desejam parar de usar drogas. Segundo Petuco (2014), a abstinência pode ser eventualmente alcançada no processo de tratamento, no entanto, não deve ser posta como objetivo final.

Para Souza e Carvalho (2015), a RD pressupõe três conclusões: nem todas as experiências com drogas são danosas; nem todos os indivíduos que têm experiências danosas com drogas desejam parar de usá-las; e os danos podem ser de diversas ordens, devendo as ações de saúde abarcá-las em sua integralidade.

Os trabalhadores que militam pela RD enquanto “trabalhadores afetivos”, tomando emprestado o conceito de Toni Negri e Michael Hardt (2000) são aqueles que fazem parte do território existencial e geográfico, promovem saúde onde a clínica (trans)borda, entram em sintonia com as pessoas e seus processos para, então, tornarem-se alternativa de autonomia e cuidado.

Fonte: encurtador.com.br/fpsEQ

Pensar a RD não é pensar uma prática fechada, reproduzida em estratégias fabris e em série, mas pensar um ethos de cuidado que valoriza a experiência particular dos sujeitos e é construída singularmente. É, portanto, um paradigma ético de experimentação e um dispositivo que opera uma nova prática.

Como se encontra a política sobre drogas atualmente?

Recentemente o Ministério da Saúde lançou uma nota técnica reafirmando a resolução número 01/2018. Nesta, instaura-se que as estratégias de tratamento deverão ser baseada na lógica da abstinência, excluindo qualquer ação voltada para a política de redução de danos.

Diante disso, retoma-se ou porque não dizer, intensifica-se, a conhecida guerra às drogas, que se apresenta como uma guerra desigual e ineficaz. Primeiro, por ter como alvo de seus principais ataques às populações pobres, negras e que “sujam” a sociedade. Segundo, por não levar em consideração a baixa eficiência dos tratamentos que objetivam a abstinência, visto que é alta a reincidência do uso após o período de reclusão em abstinência (SANTOS e COSTA-ROSA, 2007).

Fonte: encurtador.com.br/dwAQV

Outras decisões da nota técnica que não estão diretamente ligadas a política de drogas, mas estão ligadas a política de saúde mental como um todo, adotam a volta dos hospitais psiquiátricos, a volta do uso da Eletroconvulsoterapia, e ainda usa de termos como ´´manicômio“ e ´´superlotação de Serviços de Emergência com pacientes aguardando por vagas para internação psiquiátrica“, deixando claro o quanto a segregação das pessoas que possuem algum transtorno mental se mostra como uma possibilidade.

Tais mudanças representam um enorme retrocesso a todas as correntes quebradas e as que vinham se quebrando desde a Reforma Psiquiátrica, em relação ao oferecimento de tratamentos que enxergassem os sujeitos com um olhar biopsicossocial. Ainda, perde-se aos poucos a liberdade concedida aos pacientes que antes eram “limpados” da sociedade e depositados em instituições de reclusão com a justificativa de um bom tratamento, quando na realidade desejavam excluí-los dos ambientes sociais tradicionais.

Fonte: encurtador.com.br/ivBC9

Diante disso o Conselho Federal de Psicologia (CFP), entende que tal nota técnica representa um regresso às práticas de cuidados punitivas e segregacionistas e que estas vão de encontro ao princípio de respeito à liberdade, dignidade e integridade do indivíduo defendida pelo Código de ética da profissão. Portanto, no dia 8 de fevereiro foi lançada uma nota de repúdio dizendo que “O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vem a público manifestar repúdio à Nota Técnica Nº 11/2019 intitulada “Nova Saúde Mental”, publicada pela Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, na última segunda-feira (4). O teor do documento aponta um grande retrocesso nas conquistas estabelecidas com a Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216 de 2001), marco na luta antimanicomial ao estabelecer a importância do respeito à dignidade humana das pessoas com transtornos mentais no Brasil. (CFP, 2019)”

REFERÊNCIAS:

MANGUEIRA, Suzana de Oliveira et al. PROMOÇÃO DA SAÚDE E POLÍTICAS PÚBLICAS DO ÁLCOOL NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA. Psicologia & Sociedade, Pernambuco, v. 27, n. 1, p.157-168, set. 2014. Disponível em: <http://submission.scielo.br/index.php/psoc/article/view/124187/9061>. Acesso em: 07 maio 2019.

PETUCO, D. R. da S.; MEDEIROS, R. G. Redução de danos: dispositivo da reforma? Boletim Drogas e Violência no Campo, [s.l.], [s.n.], mar. 2009.

SANTOS, Clayton Ezequiel dos; COSTA-ROSA, Abílio da. A experiência da toxicomania e da reincidência a partir da fala dos toxicômanos. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 24, n. 4, p.487-502, dez. 2007. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/29064/S0103-166X2007000400008.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 07 maio 2019.

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Hegel: a incessante busca pelo conhecimento refinado

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Hegel foi um importante filósofo da história e, também, grande historiador da filosofia. Foi o primeiro que elaborou sistematicamente o significado da história para a Filosofia (HARTMAN,1990). De acordo com Collinson (2006), Hegel é popularmente conhecido por ter sido um filósofo idealista. Ele acreditava que a mente ou o espirito constituía uma realidade última. Sua filosofia foi embasada em muitas influências importantes, como: Espinosa, Kant, o Novo Testamento, Fichte e Schelling.

Para Hartman (1990), antes de Hegel os outros filósofos envolveram-se na história como pessoas e como portadores de ideias. Nenhum outro sistema filosófico exerceu uma influência tão forte e tão duradoura na vida política como a metafísica de Hegel, não havendo um único grande sistema político que tenha resistido à sua influência (HARTMAN, 1990).

O filósofo Hegel concebia que todos os fenômenos, da consciência às instituições políticas, são aspectos de uma única coisa (pensamento monista) e, acreditando que a realidade era algo não-material, era um idealista. Para ele, a consciência, além de ser algo no qual estamos cientes, ela é um processo em evolução (BURNHAM e BUCKINGHAM, 2011).

A DIALÉTICA DE HEGEL

A dialética hegeliana tem um movimento chamado triático e é nessa ação que ela se desenvolve. A tese é o seu primeiro movimento, quando o ser é, momento de afirmação. E um instante em que essa identidade inicial é manifestada como algo vazio, de negativo, não idêntico. No seu segundo momento ocorre a negação ou antítese, momento em que o ser não é, exteriorização do ser na natureza, nas coisas físicas/orgânicas. A partir daí que se começa a apreender aquilo que a coisa é. A contradição está implícita na tese, e a antítese a explicita. Síntese surge, então, no terceiro momento, ou seja, Espírito que se apresenta como reinteriorização do mundo exterior pelo ser. Todos esses momentos – ser, natureza e Espírito – concebem em si sua negação e superação (FOULQUIÉ, 1978).

Ainda, essa estrutura se aplica a todos os campos,

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desde a aquisição de conhecimento, até os processos históricos e políticos. Hegel acreditava que existe apenas o que se manifesta na consciência, que pode ser sentido ou pensado. É importante ressaltar que Hegel compreende o ser humano como um ser social e, portanto, deve-se considerar seu contexto.

Sobre o surgimento da síntese, e sua importância, Burnham e Buckingham (2011, p. 182) destacam:

Uma consequência desse processo imanente é que, quando nos tornamos cientes da síntese, percebemos que o que havíamos considerado como contradição na tese era apenas aparente, causada por alguma limitação em nossa compressão da noção original.

O pensamento de Hegel se concentra no conceito do espírito absoluto. O que existe é o todo. De acordo com ele, não existe a parte, pois esta só existe quando se integra ao todo (HEGEL, 1988). A corrente hegeliana, posteriormente, foi dividida entre esquerdistas, centristas e direitistas, servindo de suporte teórico para a democracia e para o fascismo, respectivamente (HARTMAN, 1990). Hegel introduz uma noção de que a razão é histórica, ou seja, a verdade é construída no tempo (ARANHA; MARTINS, 2009).

Em relação à perspectiva absolutista de Hegel, Collignson (2006) ressalta que:

Ele foi um filósofo monista ao assegurar que todas as coisas estavam inter-relacionadas em um sistema ou totalidade vasta e complexa, o qual era denominado de absoluto. Sua forma particular de idealismo não implicava numa descrença da existência de objetos materiais. Ao mesmo tempo, ele assegurava que somente o absoluto era inteiramente real e suas partes aparentemente distintas detinham realidade unicamente em virtude de constituírem parte de um todo. (COLLIGNSON, 2006)

Segundo Collinson (2006), a concepção filosófica de Hegel é difícil e extremamente complicada, uma vez que, ao tentar incorporar em seu pensamento intuições filosóficas, e tentar unir pontos de vista conflitantes, os resultados de suas investigações geraram trechos obscuros e contraditórios, o que resultou em várias interpretações por aqueles que arriscaram em discorrer a seu respeito.

A realidade, na visão de Hegel, é entendida como algo não material e produto do espírito (Geist) universal e racional. Sua obra é compreendida como o ponto culminante do racionalismo. Além disso, as estruturas de pensamento são consideradas não-históricas. Outrossim, para compreender a realidade é necessário pensá-la, não só como substância, mas, também, como sujeito, como um movimento, um processo, por fim, um constante dever dialético. A realidade é vista, portanto, como Espírito e, sendo assim, possui vida própria, constitui-se num movimento dialético (PRADO, 2010).

O espírito, para Hegel (1995), passa de abstração para fato quando aparece no episódio histórico, sendo parte concreta na realidade e sendo, também, o espírito regido de particularidades, gerando, assim, uma objeção dialética de indivíduo e povo, e de povo e espírito do mundo.

Fonte: http://bobsoftware.com.br/wp-content/uploads/2014/03/degraus-gestao-conhecimento.jpg

Hegel (1995), fala de liberdade de três formas diferentes: a primeira defende que para o homem tornar-se consciente de si mesmo é preciso ter desenvolvimento espiritual; a segunda, parte da premissa que o homem passa a ser ele mesmo quando ele tem tomada de consciência de si mesmo; e a última é que a essência é o espírito, porém o homem também é parte do espírito e da natureza. Portanto, a história do mundo é o avanço da liberdade, o avanço da autoconsciência do espirito, tornando não apenas o homem livre, mas o espírito em si.

Fonte: http://assets3.exame.abril.com.br/assets/images/2014/10/513802/size_960_16_9_passaros-cabeca.jpg

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A discussão sobre a dialética de Hegel permite entendermos como esse método filosófico, que se apossa de termos como “emergir”, “movimento” e “desenvolvimento”, influenciou a visão filosófica anterior daquela época (primeira metade do século XIX). Naquela época, Hegel via que a filosofia precedente era algo sem vida, tendenciosa e não histórica. Ele, ainda, afirmava que a filosofia está arraigada à história.

Foi perceptível observar que a realidade, para Hegel, é um contínuo devir, na qual um momento prepara o outro, mas, para que esse outro momento aconteça, o anterior tem de ser negado. Compreender a dialética da realidade, segundo o autor, exige um trabalho árduo da razão, que deve se afastar do entendimento comum e se colocar do ponto de vista do total conhecimento adquirido. Percebemos que para Hegel não há acesso à filosofia senão através de sua história, que não é outra coisa senão a manifestação do pensamento humano, conforme a própria compreensão hegeliana de filosofia, ou seja, apreensão da história no pensamento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA;  Maria Lúcia de Arruda, MARTINS; Helena Pires Martins. Filosofando: Introdução à filosofia. Pag. 188. Ed. Moderna. São Paulo. 2009.

BURNHAM, Douglas; BUCKINGHAM, Will. O Livro da Filosofia – As Grandes Ideias de Todos os Tempos. Rio de Janeiro: Editora Globo, 2011.

COLLINSON; Diané. Grandes Filósofos da Grécia antiga ao século XX. São Paulo: Editora Contexto, 2006.

FOULQUIÉ, Paul. A dialética. Trad. Luís A. Caeiro. 3. ed. Lisboa: Publicações Europa-América. 1978.

HEGEL, G. W. F. A razão na história: introdução à filosofia da história universal. Trad. de Arthur Morão. Lisboa: Edições 70, 1995.

HARTMAN, R. S. A razão na história: uma introdução geral à filosofia da história. São Paulo: Editora Moraes, 1990.

PRADO, C. Razão e Progresso na Filosofia da História de Hegel. Revista Mest. Hist., v. 12, n. 2, p. 99-114, jul./dez., 2010. Disponível em: http://www.uss.br/pages/revistas/revistaMestradoHistoria/v12n22010/pdf/005Razao_Progresso.pdf. Acesso em: 04 de abril de 2016

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A arte sustentável como ferramenta de integração da comunidade

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Os resíduos sólidos, desprovidos de sua função original após o consumo e descarte, em mãos artísticas tornam-se brinquedos, utensílios, bancos, papel, etc. com múltiplas formas de significação.

Após entrevista com a artista plástica Sandra Oliveira, formada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Goiás, responsável pelo curso de Reciclagem da Casa da Cultura Professora Maria dos Reis, em Taquaruçu, nos remetemos à reciclagem dos resíduos sólidos produzidos na própria localidade e transformação da matéria-prima em algo inovador. Conforme elucidado pela artista, a proposta do curso é transformar o que seria “lixo” em obras de arte contribuindo, ainda, para a preservação do meio ambiente.

Ao ser questionada sobre a articulação da sustentabilidade ambiental com o trabalho realizado, Sandra afirma: “vejo nesta proposta uma forma de conscientização na mudança de atitudes nas pessoas, em preservar o meio em que vivem e a natureza que os sustenta. Falamos também da multiplicação dessa consciência, dessa atitude, que é através do que construímos, da arte que fazemos, a interação dos alunos com a sua família, escola e comunidade em geral que promovemos uma mudança substancial, dia a dia. Lidar com o meio que convivemos traz uma resposta altamente gratificante.”

No que tange ao envolvimento da comunidade no curso de Reciclagem, é notório a forma como realizam a coleta dos materiais recicláveis a serem utilizados na oficina, convidando pais e responsáveis a praticarem a coleta seletiva em casa, juntando garrafas de plástico para confecção de bonecas, acumulando papéis que seriam descartados no lixo comum para fabricação do papel machê, dentre outros materiais que podem vir a tornar-se o brinquedo de seus filhos.

Foto: Ana Carolina Peixoto

Ademais, é realizada uma espécie de “aula” nas escolas do distrito para sensibilizar os funcionários, alunos e professores a acumularem os resíduos sólidos consumidos ali para, posteriormente, serem destinados a Casa de Cultura. Tal como é exposto pela artista: “Os materiais que utilizamos no curso são coletados através dos próprios alunos, em seu lixo caseiro, como também de doações da comunidade já sensibilizada com o projeto”.

Além da sensibilização por meio da interação da professora com seus alunos, e destes com seus familiares, a oficina proporciona ao final de cada semestre uma mostra didática onde são expostos os trabalhos confeccionados pelos alunos e o reconhecimento decorrente serve de combustível para a energia criativa deles, pois trata-se de uma oportunidade de mostrarem sua capacidade criativa e o resultado de sua arte. Também são utilizadas técnicas de dinâmicas de grupo focando no desenvolvimento de técnicas artísticas e é disponibilizado também um banco de imagens e trabalhos realizados anteriormente para estimular a transformação da capacidade inata em arte genuinamente criativa.

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Circonsciente – sustentabilidade no circo

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A coleta seletiva, conforme Cartilha do Ministério Público do Estado de São Paulo (2014)  é um processo de separação dos resíduos sólidos que seriam descartados como “lixo” e auxilia na destinação correta desses materiais. A partir desta separação, portanto, é possível reciclar os resíduos que não são de origem orgânica e transformá-los em outros produtos ou fabricação da própria matéria-prima. Os materiais separados são divididos em: papéis, plásticos, vidros e metais.

Além da coleta seletiva para a reciclagem, existem materiais que são separados para terem sua destinação apropriada, chamada logística reversa (MPSP, 2014), por apresentarem risco à saúde ou provocarem contaminação do solo, eles são: pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, medicamentos e lixos hospitalares.

Foto: Ana Carolina Peixoto – Lixeiras produzidas pelos alunos do curso de arte circense.

Existem muitos locais que servem de ponto de coleta destes materiais, como indústrias e farmácias. A lei federal n° 12.305/2010 “tem como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e população para gerenciamento adequado de um dos maiores problemas do mundo hoje: o lixo urbano” (MPSP, 2014, p. 10). Esta lei visa incentivar a coleta seletiva e utilizar-se da participação direta de cooperativas de catadores, transformando o cenário do lixo urbano, bem como auxiliando na economia nacional, gerando empregos para milhares de pessoas.

A prática diária da coleta seletiva começa na base, dentro de nossas casas, e se constitui como algo de extrema importância para o meio ambiente, diminuindo a contaminação dos rios e solos. E é essa iniciativa que o curso de arte circense da Casa da Cultura Professora Maria dos Reis, em Taquaruçu (Palmas/TO), vem promovendo junto a seus alunos, abrangendo também toda a comunidade. O ministrante, professor Kadu Oliviê, artista oriundo de Goiânia – GO, traz como objetivo em seu curso mostrar a arte do circo para as crianças da comunidade, a fim de integrá-las no mundo artístico e potencializar habilidades que são inerentes às crianças, tais como a criatividade e a espontaneidade. Precursor desta proposta, Kadu inovou ao trazer para seus alunos uma forma diferente de aprender circo; “confeccionar”, a partir de materiais recicláveis, lixeiras coloridas de coleta seletiva.

Essa proposta visa, além da conscientização dos alunos, promover a sustentabilidade ambiental a partir da base, através das crianças que serão “professores” dos pais e familiares na busca de uma comunidade mais sustentável. É importante evidenciar o envolvimento de toda a comunidade na construção de um saber ecológico, haja vista todos serem responsáveis pelo que produzem e pela sua destinação. As lixeiras para coleta seletiva confeccionadas pelos alunos de Arte Circense contaram com materiais como jornais, garrafas PET e papelão, que seriam descartados ou reaproveitados em outra oficina presente no mesmo local, a de Reciclagem, ministrada pela artista plástica Sandra Oliveira.

Ao produzirem o material, os alunos são orientados acerca do que é a coleta seletiva e é promovida uma reflexão acerca da importância de realizá-la, ao mesmo tempo em que fazem malabarismos, acrobacias e pintam-se de palhaços. Trata-se, assim, de uma ferramenta recreativa para produzir a sensibilização das crianças da comunidade de Taquaruçu e, a posteriori, atingir também seus familiares.

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“O Lorax” e a moral da sustentabilidade

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O filme O Lorax em Busca da Trúfula Perdida é uma obra do conhecido Theodor Seuss Geisel, Dr. Seuss, autor de inúmeros contos infantis, entre os mais conhecidos estão “Como Grinch roubou o Natal”, “O Gato da Cartola” (também adaptado ao cinema no clássico filme O Gato) , dentre outros. Suas obras são conhecidas por tenderem ao exagero para chamar a atenção para moral que se quer passar e por, normalmente, serem bem coloridas e alegres.

O filme se passa em uma cidadezinha chamada Thneedville, onde não existem árvores de verdade, pois estas foram completamente destruídas, e consequentemente o ar que respiram é artificial e comercializado pela empresa O’hare, e logo na abertura os personagens desta história cantam uma canção, demonstrando o quão felizes são em morar em Thneedville. Desde as árvores coloridas e dos mais diversos modelos, até mesmo os alimentos, são fabricados com plástico e o ar vendido pelo vilão da história, Sr. O’hare, é distribuído em galões próprios para se encaixarem em uma espécie de “respirador” que exala o ar puro dentro das casas.

Apesar do nome do filme, o personagem principal não é o Lorax, mas sim um jovem absolutamente comum chamado Ted, apaixonado por uma garota, Audrey, que sempre desejou ter uma árvore de verdade. Em seu desejo por demonstrar seu amor, Ted burla as regras e sai da cidade, em busca do Umavez-ildo que, segundo as histórias de sua avó, saberia lhe dizer o que aconteceu com todas as árvores.

O cenário fora da cidade é outro; triste, destruído e devastado, não existe nada além de cinzas e um cheiro podre e o ar irrespirável. Ted encontra, então, o Umavez-ildo morando em uma casinha afastada e solitária, com várias placas pelo caminho demonstrando que visitas não são bem-vindas. Umavez-ildo conta sua história, quando há muito tempo era um jovem ambicioso procurando inspiração para sua obra-prima, uma criação banal, para provar seu valor à sua família e ao mundo.

Em sua busca, encontra um lugar repleto de trúfulas coloridas (espécie de árvore parecida com algodão-doce) e animais alegres que o recebem com uma música de boas-vindas. Sem pensar nas consequências de sua atitude, e desejando o material para sua criação, Umavez-ildo derruba a primeira trúfula, e libera uma criatura mágica, o guardião da floresta chamado Lorax, uma criatura laranja decidida a proteger a floresta da ganância do homem.

Após uma longa conversa, e depois de muita confusão, Lorax convence Umavez-ildo a não derrubar mais árvores. No entanto, em uma ida a uma cidade, Umavez-ildo consegue lucrar vendendo sua obra-prima e fica cego de ambição, esquecendo-se da promessa feita a Lorax e derrubando todas as árvores existentes. Os animais que ali habitavam começam a ir embora, pois suas casas e alimentos foram roubados e destruídos, e Umavez-ildo fica sozinho em um ambiente devastado, pois não tinha mais matéria-prima para fazer sua obra e não tinha mais amigos e família, que só queriam estar com ele por interesse em seu dinheiro.

 

Após contar sua história, Uma vez-ildo entrega a Ted a última semente de trúfula, e o incube de plantá-la no meio de Thneedville, onde todos possam ver e relembrar-se do quão importante é a natureza para nossa subsistência. Após muita luta e muitas dificuldades, pois, ao saber dos planos de Ted, o Sr. O’hare sentiu que seu negócio de lucro estaria ameaçado com a volta das árvores para a cidade e impediu que este feito fosse realizado, Ted conta com a ajuda de Audrey e finalmente conseguem plantar a árvore na praça central da cidade e conscientizar os moradores da importância em preservar a natureza.

Com um enredo de fácil compreensão, o filme O Lorax agrada às crianças com seu cenário colorido e criatura mágicas, e aos adultos através da moral da história, que vem para demonstrar a importância da natureza para os seres humanos como pertencentes ao meio ambiente, e o que a ganância do homem pode acarretar. Podemos pensar, também em um contexto mais amplo, na industrialização irresponsável e consequente desmatamento desenfreado, que tem tornado o ar cada vez mais poluído e ocasionado doenças respiratórias cada vez mais graves.

Não é à toa pensar que logo teremos uma empresa multinacional vendendo “ar puro” para gerar lucros às custas de nossa saúde e bem-estar e construindo mais fábricas para tornar o ar cada vez mais rarefeito, de modo a induzir o consumo de seu produto. O Lorax é, sem dúvida, um filme para todas as idades e, quem sabe, as crianças possuam uma capacidade de absorver melhor a moral que o filme desejou transmitir e possa perpetuar para as próximas gerações.

FICHA TÉCNICA

O LORAX: EM BUSCA DA TRÚFULA PERDIDA

Direção: Kyle Balda, Chris Renaud
Música composta por: John Powell
Duração: 95 minutos
Anos: 2012

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O Endomarketing na produção da Sustentabilidade Ambiental em empresas

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Não é atual a preocupação acerca da preservação ambiental, no entanto, é absolutamente perceptível o crescente número de propagandas nas mídias de massa, ações voluntárias e/ou mutirões que chamem a atenção para a questão ambiental. Nesta maratona, as empresas também voltaram seus olhos para esta demanda, utilizando de estratégias cada vez mais sustentáveis e vendendo ideias econômicas para seus clientes e, é claro, para seus funcionários. Ora, para convencer os consumidores, é preciso contar com o apoio de seus próprios integrantes e, para isto, estes também devem comprar a ideia.

 

 

O que é o marketing ambiental?

Para Melo e Campos (2009), o marketing ambiental é voltado para a venda da ideia ou cultura sustentável da empresa através de mensagens sustentáveis e os benefícios decorrentes do uso de determinado produto ou serviço de caráter sustentável. A aplicabilidade do endomarketing visando a conscientização ambiental está voltada para a disseminação de uma cultura interna das empresas que produza estratégias que reduzam o desperdício e gerem educação ambiental. “Enfim, o endomarketing busca trabalhar de forma eficaz atos que necessitam de informação para se concretizarem” (MELO; CAMPOS, 2009).

Por que as empresas utilizam-se de estratégias para promover a sustentabilidade ambiental?

Conforme a Lei Nº 12.305 de 2 de agosto de 2010, institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que possui em seu Capítulo I, do Objetivo e do Campo de Aplicação:

§ 1º Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indiretamente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos sólidos (Presidência da República, Casa Civil, 2010).

Por definição, entende-se por lei que os geradores de resíduos sólidos são aqueles que gerem resíduos sólidos por meio de suas atividades, incluindo o consumo, e seu gerenciamento se dá através do conjunto de ações que incluem a coleta, o transporte, tratamento e destinação final dos rejeitos, de acordo com o plano de gerenciamento de resíduos sólidos exigidos nesta mesma lei. Vale mencionar ainda a definição de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, citado na mesma lei, que diz:

[…] conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta lei (Presidência da República, Casa Civil, 2010).

 

O que é o endomarketing?

Segundo definição de Bekin (2005) o endomarketing “é o marketing voltado para dentro das organizações, o qual auxilia a venda não somente de produtos e serviços oferecidos pela empresa ao primeiro cliente – o empregado, como também a venda da cultura, objetivos e metas” (apud MELO; CAMPOS, 2009). Desta forma, este pode ser meio, também, de divulgação de ideias sustentáveis e conscientização ambiental dentro da empresa, utilizando-se de simples argumentos como, por exemplo, a redução de desperdícios dos recursos físicos oferecidos aos funcionários, como papel, luz elétrica, água. Podemos inferir, pois, que “vender” um produto ou ideia para os próprios funcionários é tão ou quanto mais importante quanto vendê-lo para o cliente externo.

O endomarketing vem a ser uma estratégia muito válida ao pensarmos que o ambiente de trabalho, no caso da maior parte da população, torna-se o local onde passamos a maior parte de nosso tempo, e é também o lócus de produção dos nossos valores enquanto cidadãos. Conforme elucidado por Brum (2000), “sempre que uma empresa começa a fazer endomarketing, deve colocar-se diante do empregado da maneira como ambiciona ser percebida por ele” (apud MELO; CAMPOS, 2009).

 

 

Como o endomarketing pode ser trabalhado nas empresas?

Orientar quanto à compatibilidade dos processos produtivos da empresa, aplicar campanhas institucionais com destaque a ações de conservação e preservação da natureza, disponibilizar materiais informativos que demonstrem o empenho e compromisso empresarial com a área ambiental (MELO; CAMPOS, 2009).

Desde ferramentas de divulgação como, por exemplo, a utilização do e-mail corporativo para enviar a todos os integrantes mensagens ambientais, além de não gerar desperdícios (no caso de divulgação em panfletos impressos), é útil na ocupação das turbulentas atividades cotidianas, a estratégias mais criativas e dinâmicas, tais como intervenções em forma de teatro. A fim de exemplificar, podemos citar a empresa de saneamento do Estado do Tocantins, a Foz Saneatins, que realiza os Diálogos Diários de Segurança (DDS’s), e neste espaço os integrantes abrangem diversos temas pertinentes ao ambiente de trabalho, dentre eles a preocupação com a sustentabilidade ambiental.

Em entrevista com Diogo (segunda-feira vou procurar saber o sobrenome dele e demais informações), responsável socioambiental da empresa FOZ Saneatins, do grupo Odebrecht Ambiental, ao ser perguntado sobre a preocupação da empresa com o meio ambiente: “A Foz Saneatins preocupa-se em dar a destinação ambientalmente correta aos resíduos aqui produzidos. Encaminhamos o que pode ser reciclado para a empresa de reciclagem parceira.” Outrossim, podemos exemplificar esta preocupação com uso do e-mail corporativo como ferramenta de divulgação de mensagens com caráter sustentável, a fim de produzir a educação ambiental de seus funcionários.

 

 

 

E o que é a educação ambiental?

Desde a criação da lei Nº 9.795 de 1999, a educação ambiental tornou-se exponencialmente um elemento crucial na educação de forma geral.

Educar tem por caráter geral a definição de ser a partilha do conhecimento com o propósito que o recebedor ou educando aplique este conhecimento na vida real como forma de progressão da humanidade, de modo a melhorar a sociedade através do desenvolvimento do ser humano (MELO; CAMPOS, 2009).

 

Através da educação ambiental busca-se tornar o ser humano como responsável direto na preservação do meio ambiente, tornando-o parte deste. Objetiva promover uma reflexão nos indivíduos, levando-o a repensar conceitos e comportamentos destrutivos que ocasionam os desastres “naturais” que, na verdade, são consequência da ação humana. A lei supracitada institui, ainda, em seu Capítulo I:

V – às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente (Presidência da República, Casa Civil, 1999).

Em suma, entende-se que a preservação ambiental é responsabilidade de todos, pessoa física ou jurídica, e cabe às empresas a educação ambiental de seus funcionários através de estratégias criativas e interessantes, que despertem a atenção para a importância de realizar a coleta seletiva, bem como a destinação correta dos resíduos sólidos produzidos no ambiente de trabalho, visto que deve ser o lócus de disseminação de determinadas práticas cruciais para nossa sobrevivência, enquanto espécie pertencente à natureza, haja vista o tempo que nos dedicamos ao labor para proporcionar bens à nossa família. A proposta é, pois, chamar a atenção para a importância do endomarketing no trabalho como ferramenta para mudança de hábitos e conscientização ambiental, bem como educar os funcionários das maneiras corretas de servir a este fim.

 

Para saber mais:

MELO, J. G.; CAMPOS, I. S. Conscientização Ambiental nas Empresas através do Uso do Endomarketing.

PLANALTO, Presidência da República, Casa Civil. Lei Nº 12.305 Política Nacional de Resíduos Sólidos. 2 de agosto de 2010.

PLANALTO, Presidência da República, Casa Civil. Lei Nº 9.795 Política Nacional de Educação Ambiental. 12 de fevereiro de 1999.

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“Wall-E” e o sentimento de responsabilidade ecológica

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Vencedor do Oscar de Melhor Filme de Animação em 2008

Através da magia do cinema infantil, Wall-E agrada também aos adultos, evocando em nós uma reflexão acerca o tema da Sustentabilidade Ambiental . Por meio de uma comunicação acessível, o longa também explora o despertar dos sentimentos: amor e carinho, entre duas máquinas de inteligência artificial.

Em 2110, época em se passa o filme, o planeta Terra tornou-se inabitável, tamanha a poluição causada pela sociedade. O ar tornara-se irrespirável, o sol desaparecera, haviam pilhas e mais pilhas de lixo, obrigando-os a abandoná-la e partir em uma nave para o espaço por cinco anos, deixando robôs Wall-E para trás para “limpar a bagunça”. Entretanto, passam-se setecentos anos desde a partida da nave e, neste espaço de tempo, resta apenas um único exemplar de Wall-E vagando pelo planeta, realizando a atividade que fora incumbido. Neste interím, Wall-E desenvolve sentimentos a partir de suas experiências, passa a colecionar artefatos humanos e cria laços de amizade com o único ser vivo restante, uma barata.

 

 

Ao ser lançada em um cruzeiro, a nave seria incumbida de voltar à Terra assim que se tornasse habitável novamente e, portanto, eram enviados robôs periodicamente para realizar uma revista e encontrar exemplares de seres vivos que comprovassem a possibilidade de prosperar novamente no planeta. Desta forma, é enviada EVA, um modelo de robô moderno enviado à Terra para cumprir a missão de procurar formas vegetais de vida. Ao vê-la, Wall-E que passou anos na solidão, demonstra toda sua afetividade e propõe-se a mostrar-lhe de tudo, sua coleção de objetos humanos, sua “casa”. No entanto, ao encontrar um espécime de planta, EVA entra em estado de hibernação até que a nave a recolha de volta ao espaço. Wall-E, no entanto, não desiste de ficar com EVA e, quando a nave vem buscá-la, ele agarra-se a turbina e vai para o espaço com ela e os seres humanos que lá residem.

 

 

Ao chegar à nave, o cenário é completamente diferente. Um ambiente completamente limpo, digital e, aparentemente, “agradável”. Todos os seres humanos que ali habitam ficam sentados constantemente em uma cadeira toda equipada com acessórios modernos e eletrônicos para se moverem sem precisar andar, comunicarem-se sem precisar olhar no olho do outro, comer tudo o que quisessem. Por outro lado, porém, eram todos obesos e alienados e suas gerações subsequentes sequer sabiam o que era Terra ou vida fora daquela nave. Estavam todos adaptados e condicionados àquela forma de vida uniforme e moldada conforme a “tendência da moda”, ilustrada através da cor da roupa que todos usavam e mudavam quando surgisse uma propaganda que os dissesse que a nova moda era outra cor.

 

 

Entre as várias confusões em que Wall-E se mete para conquistar EVA, há um segundo cenário onde o comandante da nave, responsável por levá-la de volta à Terra quando encontrassem vida vê-se fascinado pela plantinha que EVA trouxera e passa, então, um dia inteiro buscando em seu computador ultramoderno os significados de diversas palavras que foram esquecidas por estes longos anos fora de “casa”; Terra, árvore, mar, água… É neste momento que desperta nele a vontade de voltar, no entanto, o comandante percebe que a nave tem “vida própria”. O que ele achava que antes controlava, a nave, agora tem o controle de tudo e todos que estão ali e não permite que o comandante dê o comando para voltarem à Terra. Inicia-se, assim, a luta pelo bem da humanidade, entre máquinas e pessoas, tendo como aliados dois robôs ajudando o comandante a recuperar o controle da nave e retornar à Terra para reconstruírem o bem maior que possuem.

 

 

Através do filme Wall-E, são abordados temas relacionados as novas tecnologias de comunicação, que unem pessoas que estão distantes e, por outro lado, separam as que estão próximas, deixando de notar o que está em volta e distanciando-se do real; a facilidade de acesso à informação através do comando oral e divulgação em massa do que se deseja e, além de tudo, a aproximação das máquinas com o homem, passando a expressar sentimentos e adquirir personalidade, mostrado através do protagonista do filme. O filme transcorre com a sensibilização dos telespectadores através do romance e afetividade entre robôs de gerações distintas, deixando-nos propensos a captar sua mensagem intrínseca que é a sustentabilidade ambiental.

 

 

No final do filme, os seres humanos voltam à Terra com a esperança renovada de prosperar e cuidar do que tinham de mais precioso, e deixar como herança para seus filhos e netos, e ensinar àquelas que nasceram no espaço sobre como era viver na Terra.

 

 

Deixo, então, a questão: Será preciso destruir tudo para valorizarmos o bem mais precioso, não que possuímos, mas que podemos usufruir para viver bem?

ASSISTA O TRAILER


FICHA TÉCNICA

WALL-E

Direção: Andrew Stanton
Roteiro: Andrew Stanton e Jim Reardon
Música: Thomas Newman
Gênero: Ficção Científica
Estúdio: Pixar Animation Studios
Distribuição: Walt Disney Pictures e Buena Vista International
Ano: 2008

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O uso de psicofármacos no campo da saúde mental

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Muito se tem debatido acerca do tema Medicalização e Uso de Psicofármacos, e após pesquisa foi possível encontrar diversos textos que abarcam o assunto e trazem críticas pertinentes ao campo da saúde mental. A banalização dos psicofármacos evidenciou-se na contemporaneidade, no qual a felicidade é vendida em embalagens plastificadas e coloridas, com rótulo vermelho ou preto, que são fortemente reforçadas pela sociedade capitalista que lhe impõem o modelo de normalidade, que busca transformá-los em indivíduos domesticados para consumir e aprisionar no padrão pré-estabelecido. Reduzimo-nos ao neurobiológico, deixamos de ser indivíduos biopsicossociais e tornamo-nos bipolares, depressivos, neuróticos, e outros. E, para transtornos/doenças, medicam-se remédios.

O problema reside na prescrição indiscriminada e precoce de medicamentos para soluções rápidas de patologias ou de sentimentos que por nós são vistos como “ruins” e esquecemo-nos de que faz parte do processo natural do homo sapiens, de sentir e viver.E quando o remédio torna-se ou produz o problema? Ora, sua principal função é solucionar os males que ameaçam nosso organismo a nível psico-biológico. Estamos marcados constantemente pela terrível ideiado adoecer, o que consequentemente ocasiona o uso abusivo de medicamentos.

Na geração em que vivemos, no qual os transtornos psíquicos são diagnosticados indiscriminadamente, tendemos a fazer uso dos psicofármacos de maneira abusiva, podendo assim, chamá-los literalmente de drogas.Conforme explicitado por Oliveira (2013) necessitamos “entender até que ponto a vida humana deixa de ser natural e passa a ser controlada por substâncias que prometem uma paz e um conforto que acaba em questão de horas, caso a medicação não seja novamente administrada”.

A promessa de findar nossos problemas através de medicamentos é tentadora e somos acometidos por uma insegurança ao fim de seu efeito, partindo da lógica que nossa saúde deriva-se do efeito daquele que fizemos uso.Por outro lado, podemos concordar com o inferido pela autora quando diz que “não se pretende a abolição dos medicamentos, uma vez que é de extrema importância o uso de remédios como fator benéfico e auxiliar na qualidade de vida do indivíduo” (OLIVEIRA, 2013).

Nota-se, ainda, que as propagandas e mídias que prometem fórmulas milagrosas para combater ansiedade, insônia, hábitos indesejáveis entre uma infinidade de problemas, são inúmeras. Um exemplo pode ser encontrado em uma matéria de capa da revista veja de 2004 que promete remédios para conter esses indesejáveis problemas.

As pessoas hoje já chegam a um consultório do médico ou do psicólogo com o nome do medicamento que elas querem e que acreditam ser a solução de seus problemas. Com as indústrias farmacêuticas cada vez mais crescentes e a influência cada vez maior dos recursos da mídia que alcançam mais pessoas a cada dia,criou-se uma geração que precisa de um medicamento para todo tipo de angústia, ou seja, uma geração incapaz de suportar sofrimentos.

Em decorrência do uso indiscriminado dos psicofármacos estão sendo criados trabalhos que buscam a conscientização tanto de profissionais da saúde quanto da população em geral. Como por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2006, o programa de saúde mental da SMS/ Rio de Janeiro que tem como objetivo o uso racional dos benzodiazepínicos.

Vale citar, também, o quanto é corriqueiro encontrar diversos pressupostos críticos, inclusive, relativo ao DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais), que se encontra na 5° edição. É interessante evidenciar que nesse manual estão listados os diversos transtornos psicológicos e suas sintomatologias, objetivando uniformizar a linguagem utilizada no que tange à classificação das perturbações mentais.

O DSM teve um papel importante ao tornar a linguagem referente à classificação dos transtornos mentais consensuais, a princípio  nos Estados Unidos e, por consequente, em outros países. No decorrer dos tempos ocorreram mudanças, pertinentes ao contexto histórico e transformações sociais, termos foram modificados ou retirados e diversas patologias pertinentes aos comportamentos foram acrescidas.

Os conflitos fundamentam-se no fato de comportamentos até então tido como “normais” tornarem-se patológicos e, por conseguinte, ser necessário o uso de psicofármacos. Nesse ínterim, questiona-se sobre o lobby da indústria farmacêutica que tem interesse nesse processo por ter um aumento na demanda do uso de medicações; há uma preocupação dos profissionais que trabalham com enfoque na Saúde Mental, em relação ao limite de enquadramento de comportamentos sendo anormal ou desviante, ocasionando assim, um aumento exacerbado no que é considerado transtorno. De acordo com (Martins, 1999) citado por (Burkle, 2009) qualquer sinal de dor é vista como ultrajante e, portanto, devendo ser aniquilado; qualquer diferença em relação a um ideal é vista como um desvio, um distanciamento maior, e insuportável, da perfeição colimada, devendo ser ‘corrigida’.

A título de exemplo do uso exacerbado de medicamentos, tem-se o pressuposto do sofrimento ocasionado pelo luto,um conflito pertinente à vida,ser diagnosticado como transtorno.A princípio o luto passa por diversos processos de elaboração de acordo com diversos estudiosos.Não há consenso com relação à sua duração, mas a partir dos comportamentos desencadeados é que se observa a necessidade ou não de uma atenção especializada, e o que preconiza o DSM V, é que a partir de três meses de sofrimento já se torne patológico. Segundo (Zisook; Shear, 2009), referenciado por (Manfrinato, 2011), o processo de reorganização do luto acontece de diferentes modos e intensidades a depender da pessoa e da cultura a qual ela pertence, não é apenas “aprender como” se separar da pessoa falecida; é também procurar maneiras novas de manter o laço que existia.

No que se referem aos benefícios do uso desses recursos bioquímicos, estes não isentam os efeitos colaterais, como dependências químicas, físicas bem como psicológicas. O que verifica é que os psicofármacos ora podem ajudar, ora atrapalhar as pessoas que necessitam fazer uso desse tipo de remédio. Logo, tudo dependerá de cada caso, tanto a necessidade do uso, bem como sua dosagem, ou seja, cada pessoa é um ser individual e traz consigo uma situação especifica.

Por fim, cabe ressaltar que há quem aprecie os efeitos dos psicofármacos e não leve tão em conta seus efeitos colaterais, o que seria importante, tendo em vista que o uso destes podem tanto ajudar como atrapalhar na recuperação de quem faz seu uso. É de grande valia levar em consideração se os diagnósticos foram feitos de maneira adequada e precisa, assim como se as prescrições dessas substâncias foram de maneira correta e ilesa. Devemos colocar na balança: o risco versus o benefício.

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Uma Mente Brilhante: a linha tênue que separa a loucura da sanidade

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“É somente nas mais misteriosas equações do amor que nenhuma lógica ou razão real podem ser encontradas
John Nash em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel

 

O filme Uma Mente Brilhante vem nos mostrar a linha tênue que separa a loucura da sanidade. Lançado em 2001, tem como ator principal Russel Crowe que interpreta o ilustre John Nash.

John Nash, um exímio matemático de pensamento não convencional que deixa a desejar em suas habilidades de interação social, consegue uma bolsa de estudos na Universidade de Princeton, em meados da década de 1940, onde trava uma constante busca por uma ideia original, que lhe rendesse prestígio e reconhecimento pela comunidade científica, e tem como conflito principal uma luta mental entre a fantasia e a realidade causada pela descoberta de seu quadro esquizofrênico.

O convívio social com os colegas de faculdade era mínimo, haja vista que John possuía delírio de grandeza, se julgando superior aos demais. A única pessoa com quem mantinha relação mais estreita era seu colega de quarto, e posteriormente amigo, Charles.

Em sua ânsia por provar sua genialidade, John deixa de frequentar as aulas, e consequentemente, apresentar resultados de sua pesquisa. É somente depois, em uma mesa de bar, que Nash encontra sua grande ideia: a teoria dos jogos não corporativos, contradizendo anos de economia moderna. Este insight lhe possibilitou investimentos em sua pesquisa e o reconhecimento tão esperado; é convidado para ministrar aulas na Universidade e possui papel fundamental no Pentágono, decifrando mensagens codificadas para o governo dos Estados Unidos.

Neste interím, John conhece William, militar do serviço secreto que delega a ele missões de cunho sigiloso que, segundo o agende, podem comprometer sua vida e de quem o rodeia. Por outro lado, Nash que antes não possuía talento algum para o contato social, se vê apaixonado por Alicia, então sua aluna na época. Ao se casarem, os grandes dramas da real condição de John vêm à tona. Os quadros alucinatórios, já existentes, começam a se revelar e tomar maiores proporções quando, a medida que Alicia toma conhecimento da situação patológica do marido, seus delírios já afetavam seu convívio com os demais, principalmente com a família.

Ao ministrar uma palestra na Universidade de Harvard onde, a propósito, conhece Marce, a sobrinha de Charles, John se vê “perseguido” por um grupo de homens que, em seu delírio, tratava-se dos militares russos que estavam caçando-o, nada mais eram do que um grupo de homens do hospital psiquiátrico acompanhados do médico que iria interná-lo a pedido de sua esposa.

É neste momento, então, que se inicia o verdadeiro drama do personagem que é diagnosticado com esquizofrenia e descobre, paulatinamente, que muitos momentos vividos e pessoas conhecidas nunca existiram, não eram reais. Valemo-nos de ressaltar a forma como o filme foi produzido, utilizando-se da cronologia para perpassar as fases e conflitos que o personagem experimentou, até nos ser apresentada a esquizofrenia paranoide. Ao tratar da psicopatologia em questão, concomitante aos tratamentos oferecidos em 1950, a saber: a internação, medicamentos e insulinoterapia, é cabível notar que estas formas de tratamento enfatizam a doença e culpabilizam o indivíduo, reduzindo-o a si, desconsiderando suas esferas psicossociais.

O uso da medicação e as sessões de insulinoterapia afetavam seu convívio com a esposa e o faziam sentir-se inferior.Apesar das teorias e abordagens psicológicas já existentes, não há relato de tratamento psicoterápico com John. Pela recente descoberta e utilização dos fármacos, acreditava-se que a internação e os medicamentos eram as melhores e mais eficazes intervenções para aquela época.

Não obstante, no momento que John expõe seu filho a uma situação de perigo surge-lhe um insight que o faz perceber que suas alucinações, as pessoas que acreditava ser reais, Charlie, Marce, William, não coabitavam no mundo real. Este momento foi crucial para John criar suas próprias estratégias de lidar com o surto psicótico, haja vista que os efeitos colaterais produzidos pelos medicamentos influenciavam diretamente em sua capacidade cognitiva e afetava seu relacionamento com a esposa. A partir de então, John volta a dedicar-se aos estudos, tornando-se professor e, desta forma, desenvolvendo sua capacidade, então escassa, em criar vínculos interpessoais, utilizando-se do diálogo para diferenciar o real do imaginário e, a posteriori, ganha o Prêmio Nobel da Economia.

É notório ressaltar que a participação de sua esposa Alicia foi fundamental para sua recuperação, pois foi com o apoio familiar que John propôs-se a superar seus monstros, quando a destruição de sua família, aquilo que conquistou, foi posto em cheque. Conforme supracitado anteriormente, ao falarmos dos métodos de tratamento da época, os quais colocavam em destaque o indivíduo unicamente, trazemos aqui a crítica a estas formas, haja vista que, tal como seres sociais que somos e, podemos inferir que as patologias surgem nas interações negativas que mantemos com outrem, é somente na relação com o outro que podemos encontrar a solução, é compreender a dinâmica e complexidade do ser humano, a nível biológico-psicológico-social, que poderemos auxiliá-lo em sua busca por ser completo.

FICHA TÉCNICA

UMA MENTE BRILHANTE

Gênero: Drama
Direção: Ron Howard
Roteiro: Akiva Goldsman
Elenco: Russell Crowe (John Forbes Nash Jr.), Ed Harris (William Parcher), Jennifer Connelly (Alicia Nash), Paul Bettany (Charles), Josh Lucas (Hansen), Christopher Plummer (Dr. Rosen)
País: EUA
Ano: 2001

 


Nota: Esse texto é resultado de um trabalho elaborado como demanda da turma de Psicofarmacologia do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA, turma de 2014/1, sob a orientação Prof. MSc. Domingos de Oliveira.

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