Infância e aprendizagem: o olhar da neuropsicopedagogia

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Desafios e potencialidades da práxis da neuropsicopedagogia na compreensão e enfrentamento das dificuldades de aprendizagem de crianças. 

(En)Cena entrevista a Pedagoga Jaiana Basia, licenciada em Pedagogia pela Universidade Paulista – UNIP. Jaiana possui pós-graduação em Análise do Comportamento Aplicada – ABA pela Faculdade RHEMA e também em Neuropsicopedagogia. Atualmente está trabalhando em uma clínica que tem como público-alvo crianças, exercendo a função de auxiliar nas avaliações neuropsicológicas. Além disso, realiza também sessões de estimulação cognitiva para crianças.

(En) Cena: Jaiana, você poderia falar de como surgiu o interesse por trabalhar e se especializar em Análise do Comportamento Aplicada?

Jaiana Basia: No início da faculdade, no primeiro período de Pedagogia uma professora querida informou que tinha uma clínica em Palmas que sempre contratava estagiária para trabalhar como AT (Assistente Terapêutica). Enviei meu currículo, fui selecionada e comecei trabalhar nesta área que gosto bastante. A especialização em ABA veio para complementar os atendimentos.

(En) Cena: Atualmente você exerce a função de auxiliar nas avaliações neuropsicológicas e até mesmo no processo de estimulação cognitiva em uma clínica que tem como público crianças. Como a sua formação te auxilia nesse processo avaliativo?

Jaiana Basia: Minha participação nas avaliações é observar a criança. Como ela brinca, como ela fala, como interage com seus iguais. Minha formação me auxilia a intervir, quando preciso ser multiplicadora demonstrar como usar o brinquedo ou fazer uma atividade que a criança está insegura para fazer. Manejar comportamentos inadequados, reforçar comportamentos que esperamos, ensinar tal comportamento esperado.

Fonte: Arquivo Pessoal da entrevistada.

(En) Cena: Diante do seu tempo de atuação, quais foram e ainda são as maiores queixas dos pais quanto ao processo de aprendizagem dos filhos? 

Jaiana Basia: A falta de informação sobre os transtornos, a demora da evolução aparecer.

(En) Cena: Com relação ao meio familiar, como você vê o papel dos pais nesse processo das crianças? Na sua prática, como você percebe no geral o preparo ou até mesmo preocupação dos pais em relação às dificuldades e/ou problemas no processo de aprendizagem das crianças?

Jaiana Basia: Um trabalho alinhado com os pais, os pais estarem engajados no processo de aprendizagem da criança é fundamental. A evolução deles será mais visível quando se tem vários ambientes focados para o mesmo objetivo.  

(En) Cena: Levando em consideração a sua formação em pedagogia, quais limitações é possível identificar quanto ao preparo das escolas e professores no auxílio dos alunos com problemas de aprendizagem?

Jaiana Basia: Inicialmente falta preparo da direção da escola, de como auxiliar os professores quando se deparar com a situação de um aluno com deficiência, precisam de formação destes para melhor incluir esse aluno, como fazer um PEI (plano educacional individualizado). Um ensino estruturado para que esse aluno possa ter o ensino adequado e aprenda da forma dele.

(En) Cena: Somos uma sociedade que vive sempre conectada e exposta a telas em grande parte dos momentos. Você acredita que essa exposição exacerbada a telas que as crianças estão tendo possa prejudicar no desenvolvimento delas? De que forma?

Jaiana Basia: Com toda certeza, já existem vários estudos e livros sobre as crianças e uso exagerado de telas. A criança que é muito exposta às telas, pode apresentar sono desregulado (bloqueio da melatonina), problemas emocionais (depressão, ansiedade, agressividade), prejudica o desenvolvimento do cérebro (atraso cognitivo, distúrbio de aprendizado, aumento da impulsividade, diminuição habilidade de regular suas próprias emoções, déficit de atenção) e pode até causar obesidade infantil (tornam-se sedentárias, pois preferem as telas do que brincar, perdem menos calorias). 

(En) Cena: Apesar de que cada criança possui suas especificidades, você consegue ver algo semelhante nos pacientes que já realizou acompanhamento?

Jaiana Basia: Sim, maioria das crianças que acompanhei e apresentam atraso no desenvolvimento, foram crianças expostas às telas muito cedo, a partir dos 6 meses por exemplo. Chegam sem interesse algum por brinquedos, trocam os brinquedos a cada 5 minutos. Ignoram a presença das pessoas em sua volta.

Fonte: Arquivo Pessoal da entrevistada.

(En) Cena: Em relação às crianças que você já auxiliou ou até mesmo ainda acompanha, já teve algum caso em que você se sentiu desafiada? Como lidou?

Jaiana Basia: Sempre tem algum caso específico que você tem um certo cuidado. Sempre procuro estudar sobre o caso, tenho um ótimo supervisor, tenho colegas de trabalho (Fonoaudiólogos, Terapeutas Ocupacionais, Psicólogos)  que me ajudam sempre que preciso. 

(En) Cena: Perante sua experiência, quais os sinais de alerta que os pais devem atentar-se e buscarem por ajuda aos filhos em relação ao desenvolvimento e processo de aprendizagem?

Jaiana Basia: Sempre pesquisar sobre os marcos do desenvolvimento, o que é esperado para cada idade. Não existe essa que “cada um tem seu tempo”, se observou que a criança apresenta comportamentos não esperados ou que não seja funcional, vai atrás e veja o que pode fazer para ajudar sua criança. 

(En) Cena: Como forma de finalizarmos, o que você gostaria de deixar aos pais, professores e outros profissionais que trabalham diretamente com crianças no contexto de aprendizagem?

Jaiana Basia: Sejam empáticos, cada criança tem um estilo de aprendizagem , e cabe a nós profissionais e responsáveis ensiná-las da melhor forma, sempre respeitando seus limites.

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Entre avaliações: relato de experiência de uma estagiária no contexto da avaliação (neuro)psicológica

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Não sei dizer ao certo o motivo pelo qual escolhi cursar Psicologia, talvez seria o momento de verbalizar a frase clichê “Não fui eu que escolhi a psicologia, foi ela quem me escolheu”? Também não sei dizer com clareza. Ao adentrar na faculdade em 2017 me deparei com um mundo totalmente desconhecido, me vi com medos, dúvidas e até mesmo sentindo-me perdida, ao mesmo tempo em que sentia encantamento diante dos conteúdos trabalhados com alguns professores. Confesso que vivenciei momentos em que simplesmente fui tomada pelo desânimo e a vontade de desistir da graduação, mas com o incentivo dos meus pais, eu permaneci.

Durante a graduação, grande parte do que “vivemos” são as teorias que nos são apresentadas, mas sempre há o lembrete que quando parte para a parte prática, nem sempre é possível seguir as teorias como elas são. Uma dessas vivências “teóricas” que lembro de experienciar durante o percurso, foi com a matéria de estágio básico em que recebíamos profissionais convidados pelas professoras que ministravam a matéria e esses convidados nos relataram sobre suas práticas e como funcionava o sistema em que eram inseridos. Em um desses momentos, ocorreu a visita ao CAPS AD III e que foi uma ocasião ao quão me fascinou e me trouxe uma vontade absurda de querer ter experiências nesse ambiente (estágio ou até mesmo trabalho após formação).

Conforme o tempo foi passando no curso, eu fui sentindo vontade de sair da “bolha” do que é apresentado na graduação, queria ter a experiência da prática de algo vinculado ao curso e até mesmo o fato de precisar de uma ajuda na minha renda, comecei a ir em busca de estágios extracurriculares. Sempre que compartilhavam uma vaga de estágio para acadêmicos de psicologia eu costumava enviar o currículo, até que ao “revirar” um site em que é apenas de vagas de emprego e/ou estágio, eu achei o anúncio de um vaga de estágio em uma clínica que oferta serviços de avaliação neuropsicológica e outras especialidades que a psicologia exerce e encaminhei o currículo. Confesso que foi algo que achei que não daria retorno, seria mais uma vaga sem “sucesso”.

Até que então fui chamada para participar do processo de entrevista e ao perceber que as outras acadêmicas possuíam algum tipo de experiência com crianças ou com outras situações trabalhistas, pensei que não teria “chances” e logo após ser chamada para a parte das avaliações, senti mais confiança de que poderia ser chamada. Ao ser chamada e iniciar o momento de experiências, mais uma vez os pensamentos intrusivos como “não vou conseguir”, “será que estou fazendo certo?”, “será que vou conseguir lidar com os momentos com as crianças?”, pensamentos esses que começaram a gerar medo e bastante ansiedade. Com o passar do tempo, as inseguranças e medos foram desaparecendo e dando espaço ao acolhimento e ensinamentos que os profissionais prestaram e oferecem até hoje. O processo de avaliação neuropsicológica de acordo com o trabalho de Mader (1996), é

“o método para investigação do funcionamento cerebral através do estudo comportamental. Os objetivos da avaliação neuropsicológica são basicamente auxiliar o diagnóstico diferencial, estabelecer a presença ou não de disfunção cognitiva e o nível de funcionamento em relação ao nível ocupacional, localizar alterações sutis, a fim de detectar as disfunções ainda em estágios iniciais.”

Referente a avaliação neuropsicológica infantil, a autora Navatta et al. (2009) traz a visão de diversos autores que expressam que

“A avaliação psicológica infantil é um processo e, portanto, pressupõe alguns passos: entrevista inicial, observações lúdicas, planejamento da avaliação, seleção de instrumentos, análise e integração dos dados, seja esse processo individual ou em grupo A avaliação neuropsicológica na infância pode ser expressa quantitativamente e qualitativamente. Do ponto de vista quantitativo, são utilizados testes psicométricos e neuropsicológicos, organizados em baterias fixas ou flexíveis, os resultados refletem os principais ganhos ao longo do desenvolvimento e têm o objetivo de determinar o nível evolutivo específico da criança”.

No campo do estágio, meu primeiro contato foi com os testes, materiais esses que são infinitos. Foi possível perceber a grande variedade que há para o processo avaliativo, dando assim, uma ampla maneira de planejar e executar o processo de cada paciente, podendo respeitar a subjetividade de cada um deles. Em primeiro momento ao ser apresentada aos testes, foi com o intuito de compreender o que é avaliado, como é feito sua aplicação e posteriormente, a correção e interpretação do mesmo. O teste que tive o primeiro contato foi o WISC-V, um teste que é composto por vários subtestes e que avalia, por exemplo, memória, atenção, funções executivas, raciocínio, além de fornecer o Q.I. da criança avaliada. Além de aprender ele, e sigo aprendendo (levando em consideração que os testes estão sempre se “renovando”), tive contato com o teste SON-R2, Figuras de Rey, entre outros.

Além da parte dos testes, tive (e ainda tenho) momentos de participação nos atendimentos com as crianças, com o objetivo de auxiliar o neuropsicólogo nos momentos precisos ou até mesmo como observadora com o intuito de ver na prática como funciona. Como nunca tive trabalho com crianças, ainda é algo novo e nesse quesito, o meu chefe procura me ajudar a “superar” esse fato e busca meios de me ensinar nesse processo. Quando acompanho os atendimentos, é perceptível que o processo de avaliação vai muito além da aplicação de testes, é de fundamental importância que o profissional tenha um olhar atento e até mesmo humanizado para que possa perceber as limitações que a criança apresenta e compreender que nem todo o planejamento inicial será possível de ser realizado e que isso também poderá ser um dado qualitativo a ser coletado.

Por vezes o processo é perpassado por momentos de complicações, além de imprevistos no momento da aplicação. Nos atendimentos em que já participei, em algumas vezes o planejamento era um, mas quando estava dentro da sala em conjunto com a criança, era percebido dificuldades de compreender os comandos, falta de concentração ou até mesmo o paciente não conseguia realizar a leitura das atividades e isso terminava por “desmontar” a sessão traçada. Nesses momentos sempre via necessário e eficiente o olhar clínico atento e até mesmo empático do profissional, pois além de adaptar algumas atividades ou realizar um momento lúdico com finalidade de estimulação ou aprendizado para a criança, percebia um cuidado essencial em não deixar a criança desconfortável por não conseguir realizar a atividade.

Antes havia a ideia de que um processo avaliativo era composto apenas pelas testagens e contato com os pais, mas ao adentrar nas sessões, é perceptível que vai além disso. É importante observar as crianças, pois o meio em que estamos está a todo momento nos afetando e nós afetando-o. Durante os encontros cada criança porta-se de uma forma, uns são tímidos e mais calados, outros mais falantes, alguns mais desatentos e outras características e cabe a nós dosar esses comportamentos, pois há um risco de que apresente interferências nos resultados, como por exemplo, uma criança que era bastante falante, enérgica quando foi o momento de realizar teste que avaliava sua capacidade de atenção, não apresentou resultados satisfatórios em comparação as tabelas normativas de correção.

Cada paciente e/o família que chegam é possível notar que apresentam características únicas, mas que apesar disso, é possível notar semelhanças em alguns pontos, como por exemplo, já vi pais preocupados com o que pode estar atrapalhando o filho, outros chegam “desesperados” por perceber que o filho não acompanha os colegas de turma ou crianças da idade e não sabe como proceder, há aqueles que chegam por meio de encaminhamento médico e nesse ponto, é notório o quão está crescente a presença do Transtorno de Déficit de Atenção – TDAH, Transtorno do Espectro Autista – TEA e até mesmo casos de ansiedade alta nas crianças.

Em um dos atendimentos em que participei em conjunto com o neuropsicólogo e que me marcou, foi a sessão com um menino de 12 anos em que seria realizado a aplicação do teste Leitura de Palavras e Pseudopalavras Isoladas – LPI, esse teste “tem como objetivo avaliar a habilidade de leitura oral, mais especificamente, a precisão no reconhecimento de palavras e pseudopalavras.” (VETOR, 2013). Na aplicação do teste, é apresentado para o paciente um pequeno livro em que contém diversas palavras, cada vez que é mostrado a palavra, a criança deve realizar a leitura e ao mesmo tempo, observar como ele pronuncia e em caso da pronúncia errada, escrever a maneira que ele verbalizou.

Com esse paciente em questão, desde a primeira palavra que havia sido apresentada, ele não conseguiu realizar a leitura. Como uma tentativa de continuar com o teste, foi tentando trabalhar juntamente com a junção silábica, mesmo assim foi necessário encerrar e partir para uma atividade lúdica para trabalhar as letras alfabéticas e até mesmo os numerais. No momento de trabalhar as letras e números, pedi para ele tentar organizar da maneira que ele sabia, era perceptível o quão desconfortável e envergonhado o paciente estava. Confesso que foi algo que também me deixou sem jeito, mas que era preciso fazer para poder avaliar até onde ele sabia. Aos poucos que ele ia acertando, costumava verbalizar palavras como “isso mesmo, parabéns”, “acertou” e podia perceber sorrisos de canto que ele expressava.

Fico pensando se fosse em um outro lugar, com outra equipe que focasse apenas nos testes e seus resultados e não levasse em conta todo o histórico e contexto em que aquela criança vive? E parando para pensar, será que o certo seria vive ou sobrevive? Não sei dizer ao certo. Mas até o momento atual esse atendimento “passeia” pela minha memória. E esse acontecimento só reforça o que sempre ouvi desde os primeiros momentos na graduação e até mesmo no início do estágio, é importante compreender o ambiente em que o paciente está inserido, como são as relações familiares e sociais que ele faz parte, condições financeiras (vivemos em um país em que isso pesa bastante em relação ao tipo de alimentação, educação e vida que o sujeito leva), se é uma criança que é estimulada ou não, se a escola que estuda possui recursos para auxiliá-lo e o principal, como a família lida com as dificuldades relacionadas à criança.

Além de estar tendo acesso ao mundo da avaliação neuropsicológica infantil, também estou inserida no campo das avaliações organizacionais (confesso que tem sido minha parte preferida). É algo que percebo que vem me auxiliando na minha timidez, pois tenho dificuldades em falar bem ou até mesmo explicar algo com alguém desconhecido ou lugares que possuem muitas pessoas.

O motivo pelo qual escolhi falar sobre minha experiência enquanto estagiária? Bom, está sendo algo delicioso e ao mesmo tempo desafiador de vivenciar. Percebo mudanças em alguns pontos de vista, estou trabalhando a capacidade de observação, tentando melhorar a oratória e o principal, estar ao lado de profissionais humanos, qualificados e que acreditam na minha capacidade de aprender e evoluir, trazendo até mesmo mudanças na forma como eu costumo me ver.

 

REFERÊNCIAS

MÄDER, Maria Joana. Avaliação neuropsicológica: aspectos históricos e situação atual. Psicologia: ciência e profissão, v. 16, p. 12-18, 1996. Disponível em:< https://doi.org/10.1590/S1414-98931996000300003> Acesso em: 19 abr. 2023.

NAVATTA, Anna Carolina Rufino et al. Triagem diagnóstica no processo de avaliação neuropsicológica interdisciplinar. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 22, p. 430-438, 2009. Disponível :< https://doi.org/10.1590/S0102-79722009000300014> Acesso em: 21 abr. 2023

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“O amor não tira férias” – de que forma as relações amorosas impactam no bem-estar dos indivíduos?

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As relações amorosas saudáveis são fonte de proteção à saúde mental e promovem maior satisfação entre parceiros. 

O filme “O amor não tira férias” está inserido na categoria de comédia romântica e traz a história de duas mulheres que possuem uma vida completamente diferente. Enquanto Amanda Woods é uma empresária bem-sucedida, produtora de trailers, Iris Simpkins é uma jornalista que escreve colunas sobre casamentos na revista em que trabalha. O ponto em comum entre as duas se dá a partir do momento em que é exposto nas cenas como ambas apresentam relações embaraçosas com pessoas do sexo oposto, demonstrando processos de decepções dentro de suas relações amorosas.

Enquanto Amanda Woods descobre que seu parceiro estava sendo infiel e reage sob o efeito da raiva, Iris Simpkins fica sabendo em uma reunião realizada no ambiente de trabalho que o homem com o qual se relacionava irá casar-se com outra mulher. Após isso, ela experiencia misto de sentimentos como a tristeza, raiva e até mesmo episódios depressivos. De acordo com os autores trazidos por Nascimento et al. (2021), os relacionamentos amorosos podem ocasionar várias adversidades para os sujeitos que estão inseridos naquela relação, além dos fatores que surgem durante o relacionamento. O fim de um relacionamento é uma situação que todos sabem que um dia poderão vivenciar e que está associado com a experiência de sentimentos dolorosos, níveis altos de sofrimento e estresse.

Cada sujeito experimentará o momento do término de maneira diferente. De acordo com Francoeur (2020),  trazido por Nascimento et al. (2021), cada indivíduo entrará em um processo de sofrimento diferente: uns poderão experienciar sofrimentos mais intensos e com maior frequência, o que pode acabar gerando um quadro depressivo, baixa estima e outros fatores que poderão impactar na saúde mental do sujeito que está vivenciando. Isso pode ser percebido no filme na diferença em como as personagens lidam com suas decepções amorosas, enquanto Iris se mostra bastante emotiva e até mesmo com pensamento e atitude breve de ligar as chamas do fogão para morrer inalando o gás, Amanda deixa transparecer apenas o sentimento de raiva, contexto em que a personagem não apresenta choro. Neste sentido, conseguimos identificar uma reação mais inibida em Irís.

De acordo com Bruno et al. (2022) que referencia os estudos de Borges (2015), o indivíduo quando está experienciando o amor, sendo esse correspondido e saudável, experimenta sensações que podem ser comparadas com o momento de ingestão de substâncias como a anfetamina, trazendo ao sujeito, sensações de prazer. Por outro lado, quando ocorre o processo de desilusão e rompimento dessa relação, há a ausência das sensações prazerosas que antes eram geradas, levando o indivíduo vivenciar um humor deprimido juntamente com o sentimento de perda, instigando o surgimento de sentimento de culpa, angústia, solidão e momento de carência. 

O sujeito que esteja vivendo essa situação dolorosa, de acordo com Bruno et al. (2022), com o passar dos dias, a pessoa pode se engajar na criação de estratégias para enfrentar esse momento. Essas estratégias visam diminuir o “peso” que o término proporcionou ao sujeito, sendo uma tentativa de tornar mais suportável como escreveu o autor. No filme, o meio de estratégia utilizado pelas personagens Amanda e Iris é por meio de um intercâmbio de casas, onde ambas demonstram ter necessidade de afastarem-se de suas rotinas e lugares que residem durante o período difícil em que estão vivendo, servindo como uma espécie de mecanismo de fuga.

Após a troca de residência, Iris se depara com uma realidade totalmente oposta da que vive, uma casa grande e luxuosa, enquanto Amanda apresenta um choque de realidade, sendo que estava acostumada com sua casa grande e cheia de espaços. Ao estar na casa de Amanda, Iris apresenta formação de novos vínculos, sendo estes constituídos com o vizinho idoso e com Miles que é compositor de cinema. Já Amanda experimenta momentos a sós, até o momento em que ela conhece Graham (irmão de Iris). Iris inicia uma relação de amizade com o vizinho e com Miles e Amanda uma relação casual com Graham. 

Com o decorrer da trama, é notável o momento de afloração de sentimentos partilhados entre os personagens principais, o envolvimento maior entre Amanda e o irmão de Iris começa a tornar-se mais forte, momento em que ela tem contato e vivência com as filhas de Graham, desenvolvendo afeto também pelas crianças. 

Já Iris estabelece de início uma relação de amizade com Miles, que vai tornando-se mais forte e íntima, dando espaço para o surgimento da paixão. De acordo com Almeida (2013), às pessoas, quando estão vivenciando um estado de paixão, apresentam uma maior quantidade da substância feniletilamina, assim como o aumento na produção do neurotransmissor dopamina em que auxiliará em proporcionar sensação de alegria, felicidade, bem-estar, aumento da sensação de prazer e impacta também na redução do apetite. 

Muitos estudos afirmam que casais que permanecem juntos (por exemplo, em casamentos) estão aparentemente protegidos contra eventos adversos da vida, ou ainda, situações como doença, pobreza, ou a perda de familiares. (…) Neste sentido, os parceiros que se amam acabam atuando como uma equipe em sinergia para o bem em comum. Dessa forma, segundo alguns autores, relacionamentos de longo prazo atuam como um recurso social e psicológico que ajudaria as pessoas a resistirem melhor possíveis perdas e adversidades (ALMEIDA, 2013, p.s/p)

Schlosser (2014) utiliza dos trabalhos realizados por Murray e Seligman, referente a relacionamentos amorosos, para expor que atitudes entre parceiros como a de dar importância às forças e virtudes do outro, auxilia no “sucesso” daquela relação amorosa. Quando os casais cultivam o hábito de observar e dar relevância mais as características que são geradoras do bem-estar e consequentemente geram sensação de satisfação, maior será a probabilidade de terem facilidade no ato de perdoarem-se durante os conflitos que surgirão, abranger o olhar sob o parceiro e identificar mais forças e virtudes no sujeito e desencadeará uma relação mais saudável.

Diante dos autores utilizados por Schlosser (2014), evidencia que o sentir-se satisfeito com o relacionamento e com a qualidade do vinculo que é estabelecido nele, se dá por meio da subjetividade dos sujeitos que estão vivenciando essa relação, sendo que se faz necessário a presença de alguns pontos como a forma de comunicação que o casal utiliza, os atos que geram e fortificam a intimidade, o comprometimento, o sentir amor e até mesmo o sexo. 

Essa satisfação se fortifica a partir do momento em que o envolvimento e comprometimento vão se tornando mais visíveis, o que gerará no sujeito a confiança, fidelidade, carinho, melhora na comunicação, interdependência entre outros fatores. No filme “O amor não tira férias”, é possível de notar esses pontos a partir do momento em que Amanda aceita seu sentimento, percebe no outro o desejo de levar a relação adiante, gerando um fortalecimento no vínculo entre ela e Graham, consequentemente ao passo que ambos “acertam” a relação, vai criando confiança, há a presença de uma comunicação clara e aberta e é possível perceber a satisfação mútua. Assim como é percebido entre Iris e Miles.

“A satisfação com o relacionamento é um preditor fundamental na avaliação do bem-estar psicológico do indivíduo, considerando que indivíduos satisfeitos em seus relacionamentos amorosos tendem a vivenciar de maneira positiva os demais contextos da vida” (Wachelke et al., 2004 apud Schlosser, 2014). Outro ponto expressado por Schlosser (2014), é de que a satisfação conjugal não impactará no bem-estar físico e mental apenas do casal que está naquela relação, em caso de casais com filhos, esses benefícios chegará a eles também. No filme, Graham possui duas filhas menores com quem Amanda construiu um vínculo de cuidado, carinho, respeito e de diálogo entre os personagens. 

Conforme os autores trabalhados por Carvalho (2019), quando os sujeitos estão inseridos em uma relação afetiva que gera segurança,  satisfação, confiança,  percepção de compromisso, durabilidade e maneiras assertivas de interagir, os conflitos que podem gerar mal estar e até separação podem reduzir. Paralelamente, o casal pode experienciar sentimento de felicidade e confiança no relacionamento, com predisposição em desenvolver relacionamentos longos, satisfatórios e com comprometimento no decorrer da relação. 

Fonte: Foto de Redação Quem. l1nk.dev/lDrdg

Seguindo ainda com o trabalho de Carvalho (2019), em relações que evidenciam qualidade dentro desse relacionamento, impactará diretamente no bem-estar dos parceiros, apresentando-se como meio de satisfação com a vida, aumento no sentimento de felicidade e sensação de segurança. Por sua vez, resultará em melhora na saúde física e também psicológica, tendo como possível efeito a longevidade e qualidade de vida. 

Fonte: encr.pw/5t6xJ

No filme é notório como o desenvolver e manutenção das relações afetivas das personagens geram bem-estar nelas, fica evidente a satisfação com a vida, sentimento de pertença, satisfação e segurança com o parceiro e na relação, surgindo até mesmo o desenvolvimento de relações sociais (amizade) entre os personagens principais.

De acordo com Carvalho (2019), o sentimento e sensação de satisfação de bem-estar é algo que se dá no campo subjetivo, onde cada sujeito irá analisar por meio de uma autoavaliação, podendo até usar as experiências passadas com as atuais como forma de parâmetro, sobre sua vida e as relações em que está inserido ou já viveu. Essa autoavaliação (que pode ser realizada pelo telespectador) é visível no filme, a partir do momento em que há exposição dos personagens e como estão no presente, onde no início Amanda e Iris demonstravam relações desgastantes e geradas de mal-estar, mas que quando comparado, estão vivenciando relações que são vistas como saudáveis, acolhedoras é percebido a mudança de paradigma das quais estavam inseridas. 

Trazendo a relação que a personagem Iris apresentava no início do filme, uma relação onde apenas um lado fazia o “investimento” no relacionamento e sofria com a falta de reciprocidade e comprometimento pelo outro parceiro, evidencia o que Carvalho (2019) traz em seu estudo. Neste sentido, quando casais vivenciam um relacionamento que não proporciona segurança, é possível que ocorra “níveis elevados de vulnerabilidade cognitiva, presença de sintomas psicopatológicos e problemas relacionais” (Granja & Mota, 2018 apud. Carvalho, 2019), assim como “níveis elevados de sofrimento psicológico e/ou emocional, hostilidade afetiva, presença de sintomas depressivos e níveis baixos de bem-estar psicológico” (e.g., Collins, 1996; Simpson, Rholes & Philips, 1996; Pietromonaco & Feldman-Barrett, 1997; Wei et al., 2004 apud. Carvalho, 2019). 

Foto de Natália Lippo.
encr.pw/5dw5I

Já como finalização do filme, é exposto os personagens partilhando a noite de Natal. É evidenciado as mudanças ocorridas nas relações, em que se expõe o fortalecimento dos vínculos e os efeitos que uma relação saudável trouxe para os personagens, sentimento de pertencimento, acolhimento, respeito, amizade e o bem-estar tanto físico quanto psicológico. Sendo assim, se faz importante ressaltar o cultivo, manutenção e cuidado nas relações amorosas. 

Referências

BRUNO, J. N.; SANTOS, D. da S. dos.; SANTOS, A. M. dos.; SOUZA, J. C. P. de. Strategies for coping with grief after the end of a love relationship. Research, Society and Development, [S. l.], v. 11, n. 14, p. e264111436144, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i14.36144. Disponível em: <https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/36144.>Acesso em: 14 mar. 2023.

CARVALHO, Bárbara da Silva. Olhar sistémico sobre casais interculturais: vinculação amorosa, qualidade relacional percebida e satisfação com a vida. 2019. Tese de Doutorado. Universidade de Lisboa (Portugal). Disponível em: <http://hdl.handle.net/10451/41579> Acesso em: 19 mar. 2023.

DE ALMEIDA, Thiago. Relacionamentos amorosos: o antes, o durante… e o depois vol. 3: Capítulo 4 Os processos de apaixonamento e de enamoramento: curso, evolução e benefícios físicos e psicológicos para o ser humano. Disponível em: <https://www.thiagodealmeida.com.br/site/wp-content/uploads/livro/relacionamentos_antes_durante_depois_v1/cap4.pdf> Acesso em: 14 mar. 2023

NASCIMENTO, R.B., Araujo Filho, E.S., Cerqueira, G.L., Carneiro, D.G., & 

Carmo, E.S.S. 2021. Após o fim de um relacionamento amoroso: uma revisão narrativa. Pubsaúde, 7, a233. Disponivel em: <https://dx.doi.org/10.31533/pubsaude7.a233> Acesso em: 14 mar. 2023

SCHLOSSER, Adriano. Interface entre saúde mental e relacionamento amoroso: um olhar a partir da psicologia positiva. Pensando fam.,  Porto Alegre ,  v. 18, n. 2, p. 17-33, dez. 2014. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-494X2014000200003&lng=pt&nrm=iso> Acesso em:  17 mar.  2023.

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Como as relações sociais influenciam no desenvolvimento humano?

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É consenso entre os teóricos e pesquisadores a correlação entre felicidade e saúde com a manutenção de boas relações sociais.

Sabe-se que todos os seres humanos passam por diversas situações, que desde a concepção ou até mesmo antes, influenciam em seu desenvolvimento. Ao buscar por produções bibliográficas, a autora Gonçalves (2016) descreve que os acontecimentos que precedem uma gestação poderão intervir durante todo o desenvolvimento da vida que será gerada. Fatos como por exemplo, a aceitação ou não da gravidez, se houve um planejamento, expectativas geradas em relação ao sexo da criança e em caso de não ter sido o esperado, como reagiram diante da situação frustrada. 

Ainda sob a perspectiva de Gonçalves (2016), a autora lembra que as fases que marcam o desenvolvimento da vida humana perpassam por diversas formas e épocas que podem sofrer alterações diante do meio no qual a pessoa encontra-se inserida, mas que apesar disso, o início do ciclo da vida é um processo em que ocorre de uma única forma em todos os seres humanos. O fator inicial para esse acontecimento se dá por meio da ocorrência da fecundação do espermatozoide com um óvulo, sendo assim, o marco inicial para uma nova vida ser gerada e com o decorrer do tempo, passará por diversas transformações até chegar o momento em que estará pronto para o nascimento. 

Após o nascimento, a vida que foi gerada passa por diversas transformações até o fim de sua existência. Trazendo o ponto de vista de Papalia e Feldman (2013), no primeiro ano de vida as crianças apresentam um crescimento mais acelerado, mas tendem a delongar esse crescimento durante os três primeiros anos de vida. As autoras ainda enfatizam que a fonte de maior “vitamina” para que esse crescimento ocorra de forma mais saudável, é por meio do aleitamento materno, pois além de auxiliar no crescimento, ajuda no desenvolvimento cognitivo e nos processos sensoriais. 

Voltando para Gonçalves (2016), a autora utiliza-se dos estudos de Papalia, Olds e Feldman e da autora Bee, onde expõe a divisão da infância em três etapas, sendo a primeira de 0 a 3 anos de vida, onde ocorre esse crescimento e desenvolvimento de forma mais acelerada e é nesse momento em que a criança começa a apresentar o processo inicial da fala e começo de sua locomoção, iniciando esse, por meio do engatinhar até conseguir dar os primeiros passos. A segunda fase se inicia dos 03 anos aos 06 anos de vida, é exposto que nessa fase as crianças começam a apresentar um ganho na sua coordenação motora, enquanto no crescimento apresenta uma queda no processo. Apresenta também a capacidade de imaginação, onde exerce por meio de brincadeiras, começam a interagir com outras crianças e adquirir o conhecimento de diferenciação dos gêneros (meninas e meninos).

Ao partir para a terceira e última fase da infância, sendo essa de 06 anos aos 11 anos de idade, ainda de acordo com Gonçalves (2016) sob a perspectiva de Papalia, Olds e Feldman, o desenvolvimento físico continua de forma mais lenta, mas a criança sofre mudanças em sua estatura e peso, as relações de amizades ganham mais espaço e importância nesse momento e explica que essas aproximações se dão com crianças que são semelhantes a si, como por exemplo, em idade, classe social, cor e sexo. As amizades nessa fase exercem a função em auxiliar no desenvolvimento das habilidades sociais daquela criança, ajuda no processo de separação de valores em que ela tem conhecimento advindo do ambiente familiar, contribuindo no processo de autoconhecimento e identidade de gênero.

Após a fase da infância, passa-se para a adolescência, sendo essa segundo a Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, que discorre sobre o Estatuto da Criança, que são considerados adolescentes pessoas com 12 anos até os 18 anos de idade. De acordo com Papalia e Feldman (2013), essa fase se dá início por meio do surgimento da puberdade, momento em que há a produção de diversos hormônios sendo produzidos no corpo daquele sujeito. Hormônios esses que darão origem ao surgimento dos pelos pelo corpo, alteração na voz dos meninos, crescimento dos seios nas meninas e outras diversas mudanças físicas.  Além das mudanças físicas, nesse período é possível notar, ainda referindo-se ao livro Desenvolvimento Humano de Papalia e Feldman (2013), os adolescentes em busca de suas identidades, sentimento de pertença, descobertas envolvendo questões sexuais, mudanças nas relações familiares.

Logo após, entra-se na fase adulta, denominada por Papalia e Feldman (2013) como adultos jovens. Essa etapa é marcada por uma maturidade no modo de pensar, nomeado pelas autoras com Pensamento Pós-Formal, complexidade dos julgamentos morais, entradas em faculdade e consequentemente no ramo trabalhista, independência de sua família de origem, saindo de casa e como resultado, gere uma nova reestruturação nas relações familiares, escolhas de parceiro e início da família que será construída por aquele adulto jovem, criando assim, seu próprio padrão familiar. 

Seguindo adiante, Papalia e Feldman (2013) descrevem a vida adulta intermediária incluindo pessoas de 40 anos aos 65 anos de idade. Fatores como gênero, classe social, saúde e raça influenciam nos aspectos vividos por esse público. Em relação a características neurológicas, é possível experienciar declínios cognitivos nessa fase, ocasionando como consequência, algumas doenças neurológicas. Além disso, ocorre mudanças físicas que passam a serem percebidas com o passar do tempo, mudanças na vida sexual, problemas de saúde. Pessoas nessa faixa etária experienciam o início da saída do ambiente de trabalho e apresentam um novo papel na sociedade, tendo os filhos longe de casa, trazendo um possível sofrimento, o momento em que se tornam avós e um novo relacionamento com os filhos. Apesar disso, ainda é possível vivenciar outras formações de relacionamentos e estilos de vida.

O último aspecto do ciclo vital se dá ao adentrar na fase denominada de velhice.

“O envelhecimento primário é um processo gradual e inevitável de deterioração física que começa cedo na vida e continua ao longo dos anos, não importa o que as pessoas façam para evitá-lo. Nessa visão, o envelhecimento é uma consequência inevitável de ficar velho. O envelhecimento secundário resulta de doenças, abusos e maus hábitos, fatores que em geral podem ser controlados (Busse, 1987; J.C. Horn e Meer, 1987). Essas duas filosofias do envelhecimento podem ser comparadas ao conhecido debate natureza-experiência, e como sempre, a verdade está em algum ponto entre os dois extremos” (PAPALIA; FELDEMAN, 2013, p. 573).

Nesse período é possível notar cabelos grisalhos e em alguns casos, ocorre até mesmo a perda dos cabelos, pele com menos elasticidade, presença de rugas e outras mudanças físicas notáveis. Pessoas que estão vivenciando essa fase podem apresentar baixa no seu sistema imunológico e problemas cardíacos. Em relação ao envelhecimento cerebral, este pode sofrer variações de acordo com o estilo de vida que aquele idoso levou ao decorrer de sua vida, assim como os seus processos cognitivos.

Após uma breve exposição sobre o ciclo vital, passemos ao contexto das relações sociais. De acordo com Rodrigues (2018), se faz necessário a ocorrência das relações, pois são por meio delas que o homem consegue desenvolver-se, obtém a comunicação, sendo essa colocada pelo autor como uma necessidade básica da humanidade e também  a concepção das relações interpessoais. A primeira experiência e contato de interação social ocorre no meio familiar, onde o sujeito tem o contato com regras sociais, costumes e valores morais daquele meio em que encontra-se inserido. Conforme vai crescendo, esse sujeito amplia suas relações sociais e afetivas, sendo necessário também, a presença de qualidade nessas relações. Essa ampliação ocorre por meio do ambiente escolar, formação de amizades, trabalho e relações afetivas. 

Ilustração de uma idosa e um homem adulto jovem.
Fonte: Imagem de Mohamed_hassan no Pixabay.

“Vivemos rodeados de pessoas, mas não necessitamos apenas da presença de outros; carecemos também da presença de pessoas que nos valorizem, em quem possamos confiar, com quem possamos comunicar, planear e trabalhar em conjunto. Não surpreende, portanto, que a investigação realizada nesta área tenha revelado que as relações sociais, em quantidade, mas especialmente em qualidade, são importantes para manter o bem-estar físico e mental ao longo da vida” (RODRIGUES, 2018, p. 1).

 Resende et al. (2006), expõem que uma boa interação social traz o benefício de auxílio no aumento da competência adaptativa e essa ocorre por meio manuseio das emoções, orientação afetiva e cognitiva e por meio da ocorrência de feedback. Ao utilizar os estudos de Erbolato, os autores pontuam que as relações interpessoais trazem regulação ao longo do ciclo vital, trazendo mudanças e adaptações independentemente da fase em que o indivíduo encontra-se vivendo, além disso, “aumento do senso de bem-estar em adultos, bem como melhora no funcionamento físico” (EVERARD et al., 2000 apud RESENDE et al. 2006).

Outras obras trazidas por Resende et al. (2006) enfatizam outros aspectos positivos como fortalecimento da saúde, obtenção do significado de vida, auxílio na redução de estresse, criação do cultivo de hábitos saudáveis e aumento do controle pessoal, o que irá impactar positivamente no bem-estar psicológico daquele sujeito. 

“Um aspecto essencial do bem estar psicológico é a capacidade de acomodação às perdas e de assimilação de informações positivas sobre o self, um sistema composto por estruturas de conhecimento sobre si mesmo e um conjunto de funções cognitivas que integram ativamente essas estruturas ao longo do tempo e ao longo de várias áreas do funcionamento pessoal” (NERI, 2001a apud RESENDE et al. 2006).

Entrando na fase da vida adulta tardia, as autoras Papalia e Feldman (2013) trazem dados de pesquisas achadas em que evidenciam resultados de que mesmo quando ocorre a diminuição da rede de amizade de pessoas mais velha, essas tendem a apresentar um círculo de relações mais íntimas de suma importância, trazendo benefícios como a ajuda em manter a mente e a memória funcionando de uma boa forma, essas relações se dão por meio dos amigos íntimos e de membros da família. As autoras ainda expõem que quando as pessoas nessa fase recebem apoio emocional advindo dessas redes de relacionamentos em que estão inseridas, tendem a apresentar uma satisfação na vida, mesmo quando estão vivenciando situações estressoras ou alguma traumática. As relações positivas melhoram a saúde e o bem-estar do sujeito.

Por outro lado, Papalia e Feldman (2016) colocam que sujeitos em que vivem uma vida de forma isolada, estão propícios a viverem de forma solitária, sendo a solidão um fator de risco, pois de acordo com as autoras, pode intensificar o processo de declínio físico e até mesmo cognitivo. Rodrigues (2018) evidencia que o viver em solidão dos idosos se dá em sua maioria devido aos acontecimentos que geram como resultados percas, como é o caso do momento em que aposentam-se, filhos saem de casa e vão construir suas famílias, morte do cônjuge ou separação, sendo necessário nesses momentos, um amparo maior aos idosos por parte de sua rede de apoio e também da criação de projetos sociais em que deixem-os engajados nos processos sociais, pois como complementa Papalia e Feldman (2016), ao receber apoio emocional advindo das relações sociais, é possível perceber que o sujeito experimenta sentimentos de utilidade, sente-se valorizado e pertencente ao grupo em que está sendo inserido.

Para Papalia e Feldman (2016) as relações de amizade ganham um papel de suma importância para os idosos, pois com o passar dos anos, essas amizades tendem a se tornarem mais saudáveis e felizes, como consequência, apresentam uma melhor capacidade em lidar com as mudanças que ocorrem com o envelhecimento, aumento na perspectiva de vida e finalizam informando que o vínculo íntimo para os idosos proporciona bem-estar a partir do momento em que o sujeito se sentirá valorizado e querido mesmo passando por situações de perdas (envelhecimento, queda nos processos cognitivos, entre outros ocorridos).

Ilustração representando uma interação social entre idosos.
Fonte: Imagem de RosZie no Pixabay.

Dessa forma, se faz necessário um olhar humanizado e acolhedor para com as pessoas que estão vivenciando o processo de envelhecimento, se faz necessário a manutenção e fortalecimento das redes de apoio em que estão inseridos, criação de projetos que gerem valorização e participação ativa desses idosos e principalmente a mudança nas perspectivas da velhice, sendo essa fase possível de mudanças, aprendizagens e ressignificações.

Referências

BRASIL. Lei nº 8.060 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Brasília. Disponível em <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 22 fev 2023. 

PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento humano [recurso eletrônico] / Diane E. Papalia, Ruth Duskin Feldman, com Gabriela Martorell; tradução: Carla Filomena Marques Pinto Vercesi… [et al.] ; [revisão técnica: Maria Cecília de Vilhena Moraes Silva… et al.]. – 12. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: AMGH, 2013.

PERES GONÇALVES, J. (2016). CICLO VITAL: INÍCIO, DESENVOLVIMENTO E FIM DA VIDA HUMANA POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES PARA EDUCADORES. Revista Contexto & Educação, 31(98), 79-110. Disponível em: <https://doi.org/10.21527/2179-1309.2016.98.79-110> Acesso em: 22 fev. 2023.

RODRIGUES, R. M. Solidão, Um Fator de Risco. Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, [S. l.], v. 34, n. 5, p. 334–338, 2018. DOI: 10.32385/rpmgf.v34i5.12073. Disponível em: <https://www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/view/12073>. Acesso em: 5 mar. 2023.

RESENDE, Marineia Crosara de et al . Rede de relações sociais e satisfação com a vida de adultos e idosos. Psicol. Am. Lat.,  México ,  n. 5, fev.  2006 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1870-350X2006000100015&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  05  mar.  2023.

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Henri Paul Hyacinthe Wallon: vida e obra

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Ana Carla Olímpio Soares- anacarlaolimpio@rede.ulbra.br

Henri Paul Hyacinthe Wallon, nascido no dia 15 de junho de 1879, em Paris, França. Wallon foi um filósofo, médico, psicólogo, exerceu a docência no Departamento de Psicologia do College de France e desempenhou até mesmo papel político, seguindo os passos de seu avô. No ano de 1899, de acordo com Frazão (2018), teve seu primeiro contato com a Escola Normal Superior, onde formou-se em filosofia, logo após, no ano de 1908, formou-se em sua segunda graduação, sendo medicina. Seguindo a carreira de médico, em 1914 prestou serviços como médico durante o período da Primeira Guerra Mundial.

Com o passar dos anos, Henri Paul Hyacinthe Wallon empenhou-se em seu trabalho na área da medicina no ramo da psiquiatria dando foco principal crianças portadoras de deficiência mental ou problemas em suas habilidades motoras. A partir de 1920, conforme Frazão (2018), Wallon se torna encarregado pelas conferências sobre Psicologia da Criança em algumas universidades. No ano de 1925, ele realiza a publicação de sua tese de doutorado intitulada de “A criança turbulenta”, sendo esse, de acordo com informações bibliográficas, um marco em suas produções de artigos direcionadas à área da Psicologia da Criança.

Fonte:

O interesse de Wallon pelas crianças com problemas motores ou deficiência mental, se fortalece por meio da sua atuação na linha de frente com o exército ao ficar lidando com os soldados que apresentavam lesões cerebrais como consequência da guerra enfrentada. De acordo com Cavalcante (2018), Wallon acreditava “a atividade mental tem sua sede em um órgão que depende de sua higidez, ou seja, de um estado de saúde perfeito”. Além disso, “afirma que a emoção é formada por reações orgânicas, controladas por centros cerebrais específicos, e caracterizada por transformações corporais visíveis. Essas transformações são os resultados da interação entre as funções tônica e clônica, onde ao mobilizar o meio social, possibilita o nascimento da consciência” (Silva, 2007 apud Cavalcante, 2018).

Enquanto isso, no ano de 1925, Henri Paul Hyacinthe Wallon é nomeado a diretor do laboratório de psicobiologia da criança na “Escola Prática de Estudos Avançados”, sendo esse, um meio de continuar com as pesquisas e o ensino. Cavalgante (2018) coloca que Wallon deu foco na psicomotricidade e nos mecanismos da memória ou capacidade de julgamento moral na área infantil. Ainda realiza o lançamento de obras que se tornaram grandiosas, como é o exemplo de “A evolução psicológica da criança”, “Do ato ao pensamento” e “As origens do pensamento na criança”. Ao mesmo tempo em que estava dedicando seus estudos à área da Psicologia da Criança, conforme Silva (2007) apud Cavalcante (2018), apesar de suas evoluções em seus estudos, Wallon viveu em uma época marcada de conflitos no campo social e vivenciando períodos de guerra.

Silva (2007) apud Cavalcante (2018) descreve momentos de conflitos, pois Henri Wallon ao viver os períodos das guerras, devido aos seus ideais políticos mais humanizados e antifascista, levou Wallon a ser perseguido pela Gestapo nazista. Como consequência, precisou viver de forma clandestina, vivendo em lugares em que o deixava em situação de risco, não podia usar seu próprio nome, sendo necessário o uso de um pseudônimo, René Hubert, de acordo com os autores, tudo isso com o intuito de tentar fugir do governo de Vichy e os policiais de Hitler.

Fonte:

Assim como seu avô, Wallon também foi uma personalidade ativa no campo político. Filiou-se ao Partido Comunista, que de acordo com Cavalcante (2018), era admirador. Após esse momento, em 1944, foi nomeado secretário geral do Ministério da Educação Nacional e instituiu na França a área da Psicologia Escolar. Quando em 1945, ao lançar a obra “As origens do pensamento na criança”, buscou defender, de acordo com a autora, que as diferentes etapas do desenvolvimento das crianças se dão em forma de alternância e preponderância funcional, sendo dividida entre aspectos emocionais e cognitivos.

No ano seguinte, Henri Wallon tornou-se eleito a deputado em Paris, onde ao ter espaço na Assembleia Constituinte, de acordo com Cavalcante (2018), buscou evidenciar uma nova visão política, em que existisse uma educação que se adequasse ao perfil de uma sociedade democrática, como trazida pela autora, uma educação mais justa. Essa tentativa se deu por meio do trabalho realizado nos anos de 1945 a 1947, onde procurava meios de rever o sistema educacional da França baseados nos princípios da justiça e dignidade. Cavalcante (2018) coloca que o projeto proposto por Wallon e outras personalidades ligadas a ele, apresentava valorização à cultura e destaque na educação, onde se faz necessário ter em primeiro momento uma orientação escolar para apenas depois ter a profissional.

Fonte:

Seguindo avanços, Wallon fundou  no ano de 1948 a revista nomeada de “Enfance”, essa apresentava cunho científico, onde ele realizava publicações de artigos referentes a psicologia e educação, Cavalcante (2018) traz que Wallon tinha o intuito de fornecer materiais aos pesquisadores ligados aos assuntos na época, esses materiais consistem em conteúdos próprios e trabalhos em conjuntos com outros autores. A autora traz alguns exemplos de publicações realizadas por Wallon, como “As Etapas da Sociabilidade na Criança”, escrito em 1952, que fizeram parte da coletânea “Psicologia e Educação da Infância” e os artigos: “A Evolução Dialética da Personalidade”, escrito em 1951, e “As Etapas da Personalidade na Criança”, de 1956, publicados na coletânea “Objetivos e Métodos da Psicologia”.

“Wallon se aposentou em 1949, mas manteve suas atividades científicas em seu laboratório até 1953. Posteriormente, continuou as investigações na sua residência devido a um acidente que o deixou paraplégico. Faleceu em 1 de dezembro de 1962, aos 83 anos, quando preparava seu último artigo “Mémoire et raisonnement” [Memória e]. Deixou uma vasta obra sobre a aprendizagem e o desenvolvimento humano. Sua teoria demonstra que a vida psíquica é consequência dinâmica da interação do indivíduo com o meio geográfico e humano” (Cavalcante, 2018).

Cavalcante (2018) traz em seu estudo diversos outros autores em que trazem que a entrada de Wallon na psicologia encontra-se bastante ligada ao contexto escolar. “Considerava que entre a psicologia e a pedagogia deveria haver: uma relação de contribuição recíproca” (Galvão, 2014 apud Cavalcante, 2018), Henri Wallon visualizava a pedagogia como um campo amplo de observação e investigação para a psicologia. Ao contrário, a autora traz que a psicologia servia como meio de oferecer melhora para a prática educacional.

Referente aos estudos produzidos por Wallon, ele propõe em sua teoria do desenvolvimento que crianças durante o desenvolvimento perpassam por 05 estágios de desenvolvimento, onde cada um desses estágios apresentará características próprias da criança e até mesmo dependerá do meio em que ela está inserida. O primeiro estágio, Wallon nomeou de “Impulsivo Emocional”, esse destaca-se no momento em que compreende a etapa do nascimento ao primeiro ano de vida. De acordo com Francelino (2022), a comunicação efetuada com o bebê ocorre por meio do emocional afetivo, em que contará com uma interação entre a criança e o meio social e se dará por meio de gestos que por vezes, o autor coloca que será desordenado e de total dependência desse meio.

Ao passar para a segunda etapa, Francelino (2022) traz o Sensório-Motor e Projetivo, em que consiste em uma maior aproximação da criança com o meio em que está habitando. Nesse estágio, ocorre uma maior percepção da criança com os objetos que estão próximos, inicia movimentos mais coordenados o que irá permitir os primeiros passos dados pelo bebê. “O pensamento projeta-se em ‘atos motores’. O domínio funcional é cognitivo, exteroceptivo, voltando para o meio social. Desenvolvimento da linguagem e predomínio das funções cognitivas.” (Francelino, 2022). “A aquisição da marcha e da preensão possibilitam-lhe maior autonomia na manipulação de objetos e na exploração de espaços” (Galvão, 1995, p. 44 apud Francelino, 2022).

Referente a terceira etapa, Francelino (2022) traz o Estágio Personalista, nesse momento ocorre a formação da personalidade da criança. Começa a desenvolver a consciência de si própria, essa será efetivada por meio das relações sociais, junto com esse desenvolvimento, ocorre o surgimento de conflitos, pois será o momento em que a criança buscará por independência. Após, vem o quarto estágio, nomeado de Categorial ou Escolar. Nesse momento poderá ser observado o surgimento da capacidade da criança em nomear as coisas, objetos e até mesmo os sentimentos, começa o desenvolvimento de classificar e diferenciar as coisas.

Ao passar para a última fase, o autor Francelino (2022) traz o Estágio da puberdade ou adolescência. Ocorrência de mudanças químico-físicas que dará mais ênfase aos conflitos internos relacionados à afetividade. O autor ainda expõe que é o momento em que há o surgimento da autoafirmação de si, estruturação do raciocínio lógico, predomínio da afetividade e até mesmo o surgimento da “rebeldia”.

Além de propor os cinco estágios, conforme exposto por Francelino (2018), Wallon dava bastante importância ao campo afetivo no processo de aprendizagem. Ademais, a interação com o meio ambiente também é de fundamental importância para esse processo de desenvolvimento. “O indivíduo é um ser social que se desenvolve de acordo com a convivência e interação com indivíduos da mesma espécie no decorrer da sua vida, por isso é importante estabelecer uma boa relação entre professor/aluno. Também é por meio dessa relação que o indivíduo desenvolve o cognitivo e intelectual” (Cavalcante, 2018).

De acordo com o que é relatado por Cavalcante (2018), Wallon, no ano de 1949, passou a dar continuidade em seus estudos e produções científicas de casa, pois havia sofrido um acidente que como consequência, deixou-o paraplégico. Em 01 de dezembro de 1962, Wallon morreu com 83 anos de vida e de acordo com a autora, estava trabalhando no seu último artigo produzido. Apesar de ter morrido há bastante tempo, Henri Paul Hyacinthe Wallon ainda é presente até o momento atual com seus estudos nos âmbitos acadêmicos, servindo como base para uma melhor compreensão e ponto de vista diferente sobre o processo de aprendizagem, desenvolvimento humano e como o meio social é um fator importante nesse processo também.

 

Referências

CAVALCANTE, Raquel Maria Santos. Henri Wallon, afeto e aprendizagem: um percurso teórico. Tese (Mestrado para a obtenção do grau de mestra em Teologia) – Faculdades EST. Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Teologia. Linha de Pesquisa: Ética e Gestão. São Leopoldo, p. 60. 2018. Disponível em: <http://dspace.est.edu.br:8080/jspui/handle/BR-SlFE/921> Acesso em: 24 mar. 2023.

FRANCELINO, Ricardo. Emoções e sentimentos no processo de ensino e aprendizagem: contribuições da teoria de Henri Wallon. Editora Dialética, 2022. Disponível em < https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=zkFnEAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT5&dq=henri+paul+hyacinthe+wallon+teoria+desenvolvimentista&ots=1XonM_R7I2&sig=k0LHI0paBh9xtLzy84EyrIZqEQE#v=onepage&q&f=false> Acesso em: 01 abr. 2023.

FRAZÃO, Dilva. Biografia de Henri Paul Hyacinthe Wallon. eBiografia: biografias de famosos, resumo da vida, obras, carreira e legado. 2018. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/henri_paul_hyacinthe_wallon/> Acesso em: 24 mar. 2023.

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