21 de dezembro de 2022 Glaub Silva dos Santos
Insight
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O Transtorno do Espectro Autista, o Transtorno de Déficit de Atenção, entre outros transtornos e atrasos no desenvolvimento podem ser, e graças ao desenvolvimento científico, são cada vez mais descobertos logo cedo, nos primeiros anos de vida, o que pode impactar de forma significativa na vida, e no desenvolvimento dos indivíduos com estes atrasos no desenvolvimento, ou desenvolvimento atípico.
No entanto, como o diagnóstico se torna cada vez mais comum na sociedade, e encontramos também cada vez mais adultos sendo diagnosticados de forma tardia, os tratamentos mais diversos tem se proliferado em busca de ajudar no desenvolvimento de forma efetiva e eficaz, para dar mais qualidade de vida para estar crianças, e os tratamentos mais encontrados são, fonoaudiologia, tratamento medicamentoso, psicoterapia individual, musicoterapia, terapia ocupacional, fisioterapia, Padovan, e o tratamento intensivo com terapia ABA (Análise do comportamento Aplicada).
Abordando um pouco acerca desta intervenção intensiva onde as crianças têm terapia em geral, todos os dias da semana, cerca de uma a duas horas por dia, a variar de acordo com a necessidade específica de cada criança, de suas necessidades, o ABA é comprovado como a intervenção mais eficaz no desenvolvimento de crianças atípicas. Porém dentro desta ciência existem diversos modelos de abordagens para esse tipo de terapia. Uma delas, é muito utilizada é o treino de tentativas discretas.
O DTT (Treino de Tentativas Discretas) decompõe os comportamentos, para poder ensiná-los de forma isolada (Smith, 2001). A aplicação se dá por meio de um número predeterminado de tentativas, com uma contingência de três termos, antecedente, resposta e consequência, e conforme Ghezzi (2007), o DTT é um procedimento de ensino onde o aplicador tem total controle sob as oportunidades de aprendizado, manipulando variáveis para que se possa estabelecer um aprendizado de novas habilidades.
Além deste modo de intervenção com tentativas discretas, existem os modelos naturalísticos, como o Denver, que ao invés de o aplicador ter controle total do atendimento, no modelo Denver o terapeuta segue a criança e enquanto faz brincadeira da criança, faz a aplicação dos programas, este modelo se baseia em intervenções naturais que em envolvem a rotina familiar, onde o vínculo com a criança é de suma importância, a ponto de que a própria brincadeira seja o reforço da criança, não se fazendo necessário o uso de reforçadores externos, como outros brinquedos, aplausos.
Por ser um modelo de intervenção precoce e que se assemelha a rotina da criança, apresenta também resultados significativos, estas crianças podem ter seus sintomas minimizados, pois a plasticidade cerebral nesta fase é ainda mais latente, e nas últimas décadas foi percebido que as intervenções precoces reduziram a gravidade da linguagem e o comportamento intelectual e aceleraram a aprendizagem das crianças (ROGERS, 2014).
A intervenção Dever pode ser muito eficaz, e com aprendizado que dificilmente as crianças voltem a perder as habilidades adquiridas, por serem associadas a emoções positivas criam conexões neurais muito mais resistentes, e tendem a ter crianças com menos comportamentos inapropriados pelo vínculo terapêutico e forma de trabalho.
Referências
GHEZZI, Patrick M. Discrete trials teaching. Psychology in the Schools, v. 44, n. 7, p. 667-679, 2007.
ROGERS, Sally J.; VISMARA, Laurie. Interventions for infants and toddlers at risk for autism spectrum disorder. Handbook of Autism and Pervasive Developmental Disorders, Fourth Edition, 2014.
SMITH, Tristram. Discrete trial training in the treatment of autism. Focus on autism and other developmental disabilities, v. 16, n. 2, p. 86-92, 2001.
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A Jaula e o poder do condicionamento
2 de dezembro de 2022 Glaub Silva dos Santos
Filme
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O Filme A Jaula é um drama que traz à tona a violência do sequestro de uma criança e todo enredo do filme se trata do desafio da filha nascida em cativeiro. Os personagens, Paula e Simón, que são marido e mulher, encontram no meio de uma rodovia a pequena Clara que estava sozinha andando somente na faixa branca da estrada.
Já de início, chama muito a atenção a criança ver carros vindo em sua direção no entanto em momento algum tenta correr para as extremidades da rua, para evitar ser atropelada por algum carro que a pegasse de surpresa, logicamente, este não é um comportamento seguro. No entanto, Paula e Simón pegam a garotinha e a levam para o hospital, quando a menina acorda, pega no mesmo instante um giz e faz um quadrado e somente ali dentro daquele quadrado ela fica tranquila e sem agitação ou agressividade, comportamento que também foi visto quando ela é levada para a casa dos protagonistas.
A cada momento em que a menina era exposta pela psicóloga a possibilidade de apagarem o quadrado ela se desregulava e o mais rápido possível tentava restituir o seu lugar seguro. Quando Paula pede uma explicação, a criança fala “castigo”, como se certamente fosse ser punida se ousasse sair de dentro daquele quadrado, o que mantinha a criança sempre nestes espaços devidamente delimitados, logo, Clara cria um espaço em toda a casa feito com giz para que a menina pudesse andar pela casa.
Figura 1 – Cena do filme Jaula onde a personagem Clara cria um quadrado feito de giz e fica ali. Fonte: encurtador.com.br/nsuJV
Para entendermos o porque essa criança se comportava desta forma, se faz necessário ressaltar que durante muitos anos, vários estudiosos tentaram entender o comportamento humano, como as pessoas se comportam, por que emitem comportamentos em alguns ambientes e não emitem esse mesmo comportamento em outros ambientes e buscando encontrar uma forma de controlar e modificar comportamentos. Um dos nomes mais conhecidos por fazer estudos e testes com humanos, focado unicamente em observação e modificação de comportamento, foi Watson, que conduziu uma experiência com o pequeno Albert.
Neste experimento Watson desenvolveu um modelo comportamental onde um estímulo é emparelhado com algo seja positivo ou negativo e isto faz com que este estímulo que no início era neutro agora se torna algo agradável, ou algo aversivo, que gera repulsa ao indivíduo.
Figura 2 – Imagem do Experimento do Pequeno Albert. Fonte: encurtador.com.br/lBCDI
Skinner(1982), definiu outro modelo de observação e modificação de pensamento, conhecido como condicionamento operante, onde os comportamentos não são somente emitidos porque foram emparelhados, mas os comportamentos são regulados, seja reforçados ou colocados em extinção, por causa das consequências.
Quando vemos Clara se comportar desta forma e ter muito medo de sair de dentro desta jaula feita de giz por estar certa de que algo ruim aconteceria, se dá exatamente porque algo está condicionado em sua mente, de que o único lugar em que ela não seria punida é dentro daquela jaula, provavelmente a cada vez que essa criança saia de dentro daquele cercado de giz era punida severamente, o que fez com que isso se tornasse uma regra para ela, fazendo com que de forma alguma ela se comportasse de forma diferente.
Neste caso específico foi algo provavelmente feito e firmado na mente daquela criança, e somente a medida que, no final do filme, ela dava passos pra fora da jaula que na verdade era apenas uma prisão mental, ela pode perceber que não era como já havia sido condicionado em sua mente, que não seria castigada instantaneamente, que poderia ser livre para se salvar e salvar a Paula.
Para Clara, sair dessa jaula era uma questão de vida ou morte, foi o que a moveu a caminhar para fora, muito provavelmente você também tem suas prisões, traumas e realidades que deixaram marcas profundos que hoje fazem com que tome atitudes que muitas vezes nem consegue compreender por que as faz, simplesmente faz como se nem conseguisse lembrar quando isso começou, ou se realmente essa é a melhor opção a ser feita.
Corremos um grande risco deixando coisas da nossa vida e da nossa história como que um campo minado onde a qualquer momento que alguém pisar, algo explode sem muita explicação, para Clara este condicionamento foi desejado por seu sequestrador como forma de mantê-la sobre seu poder, no entanto conosco muitas vezes nós é que causamos estes condicionamentos pela forma como lidamos com o que nos aconteceu, ou muitas vezes por não termos tido a maturidade necessária para lidar com aquilo naquele momento.
A longo prazo as relações são colocadas em “xeque” por causa deste campo minado que estende pela história de muitos homens e mulheres, é preciso com coragem e disposição, reabrir os processos e reformular e ser cada vez um pouco mais livre diante dos acontecimentos e sofrimentos do passado, diante do horizonte belíssimo que pode vir a ser futuro.
Referências:
SKINNER, Burrhus Frederic. Seleção por conseqüências. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, v. 9, n. 1, p. 129-137, 2007.
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Caos 2022 – Como a redução da carga horária pode promover a saúde mental
21 de novembro de 2022 Glaub Silva dos Santos
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De 21 a 26 de novembro de 2022, o Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP) realizará o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS), que abordará a temática de saúde mental no trabalho, abordando temas como o trabalho plataformizado e a devastação dos sujeitos, uberização do trabalho, a saúde mental dos profissionais que atuam com o foco na violência, trabalho autorrealização e sofrimento, dentre outros temas e atividades.
No dia 24/11 iniciando às 09h00min horas da manhã o Psicologia em debate especial, abordará como a redução da carga horária pode promover a saúde mental, sendo apresentado pela acadêmica de psicologia, Naiane Ribeiro de Oliveira Silva.
Na atualidade temos um modelo de trabalho instituído e que abarca a maior parcela da população, onde o trabalhador empenha suas manhãs e tardes inteiras no seu ambiente de trabalho, desde as primeiras horas do seu dia entra em contato com diversos tipos de demandas, cobranças e exigências de altos níveis de produtividade, em algumas organizações é possível encontrar energético a livre demanda para uso dos funcionários com objetivo de que estas pessoas sejam as mais produtivas possíveis.
Entretanto, quando se trata de saúde mental é sabido que esta depende de diversos fatores, como boa alimentação, atividade física, boas relações interpessoais, uma boa capacidade de lidar com as próprias emoções, entre outros fatores. Para que o indivíduo possua todas essas coisas, é necessário que ele tenha tempo para executar e desenvolver habilidades como inteligência emocional. O que atualmente não é possível devido à carga horária tão exigente que os trabalhadores enfrentam todos os dias.
Em nossa sociedade vivemos diversos níveis de desigualdade social, onde poucos têm muitos bens, e muitos têm pouco, para que aqueles que vivem muitas vezes às margens da sociedade tenham acesso ao alimento, a saneamento básico, eletricidade, e as suas demais necessidades precisam se expor a duplas jornadas de trabalho. Deixando assim o tempo que estes dispõem para suas demais atividades, para suas famílias, para seus entes queridos ou até mesmo para seus hobbies, cada vez mais reduzidos.
No extremo ativismo não há lugar para as demandas pessoais, para realização pessoal, empatia, autocuidado, ou até mesmo validação dos próprios sentimentos e emoções, o que torna o trabalho fonte de adoecimento por privação das demais necessidades dos indivíduos. Faz-se necessário olhar para a dinâmica de trabalho com um olhar crítico, que não vise tão somente o capital, mas que valorize o raspador e sua saúde.
Segundo o levantamento da International Stress Management Association (ISMA) o Brasil é segundo colocado em casos de Burnout, atrás apenas do Japão, a síndrome de Burnout é em grande maioria dos casos ligada ao estresse no trabalho, e é caracterizada como um esgotamento tanto físico quanto mental. Homens e mulheres expostos a trabalho excessivo e com grandes cargas de estresse que entram em sofrimento por demandas de trabalho.
A diminuição da carga horária seria uma saída para esta população que não tem mais tempo para ser e estar em outras realidades da sua vida, quando se fala de reduzir a carga horária, estamos falando de dar qualidade de vida, de promover que o trabalhador ainda tenha energia para ser também um bom pai é uma boa mãe, e ter mais tempo de realizar outros sonhos, mas também para as organizações ter funcionários menos cansados pode ser um grande ganho de produtividade.
A Sociedade está acostumada a viver a dinâmica do “mais trabalho”, que só busca a todo tempo, mais e mais produtividade e mais tempo de trabalho, precisamos olhar mais para as relações de trabalho, para a saúde do trabalhador, física e mental, compreender também as suas relações interpessoais como meios de promoção de saúde. É necessário nos desenvolvermos enquanto sociedade, porém esse desenvolvimento precisa passar também por um olhar mais atento por estes homens e mulheres que são a força do desenvolvimento das nossas realidades cotidianas.
Esta temática aprofundada e muitos outros temas relacionados ao trabalho e a saúde mental serão abordados no CAOS 2022.
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Caos 2022 – Uberização do Trabalho é tema de Psicologia em Debate
16 de novembro de 2022 Glaub Silva dos Santos
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O Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS), neste ano de 2022, abordará a temática de saúde mental no trabalho, o congresso conta com diversos minicursos, palestras, momentos artísticos, psicologia em debate, sessões técnicas, tudo aprofundando a saúde mental no trabalho como via de promoção de saúde e sendo este um espaço de extrema necessidade de atuação do profissional de psicologia, podendo favorecer com que as dinâmicas de trabalho sejam cada vez mais inclusivas, abertas ao diálogo, sem relações de poder, e mantendo-se produtivas para o desenvolvimento da sociedade.
No dia 24/11 iniciando às 09 horas da manhã o Psicologia em debate especial, tratará da Uberização do trabalho, sendo apresentado pela acadêmica de psicologia, Evellyn Cristina F. Pinho.
A Uberização do trabalho se trata desta nova forma de trabalho com horários mais flexíveis, dando a oportunidade ao trabalhador que o mesmo faça as escolhas de seus horários de trabalho e trabalhe de acordo com as demandas do serviço, porém inseridos na dinâmica de acúmulo de capital em que vivemos na nossa sociedade e também com um olhar para a classe trabalhadora que não tem grande poder aquisitivo, corre-se um grande risco nesta mudança na forma de trabalho.
Uma vez que o trabalhador trabalha de acordo com as demandas e com sua disponibilidade podemos pensar que estes indivíduos podem trabalhar menos e ter mais tempo para as demais atividades de suas vidas, no entanto o que na maioria das vezes acontece é que a remuneração para este novo modelo de trabalho não é alta e para que o trabalhador consiga suprir as necessidades básicas, sua e de seus dependentes, precisa trabalhar muito mais horas do que trabalharia em uma empresa como CLT.
Diante disto será que estamos realmente diante de um avanço na dinâmica de um trabalho ou em um retrocesso para o regime escravagista? Na dinâmica do capital o bem mais precioso do trabalhador é sua força de trabalho, seja ela intelectual ou física, quando percebemos que estes homens e mulheres entram nesta dinâmica de vender a sua força de trabalho muitas vezes mais do que 12 horas de um dia, sem horários regulares de almoço, descanso, e convívio familiar, faz referência a história do nosso país que ao declarar todo aquele que era escravo, como a agora um cidadão livre, no entanto pagava pouquíssimo pelo trabalho deles, não lhe dava a dignidade devida pelo seu empenho, e muitas vezes por sua saúde perdida enquanto trabalhava.
No Brasil existem normas e leis de trabalho pensadas para dar dignidade aos cidadãos trabalhadores, seja estes de melhor ou pior condição de vida, seja em trabalhos mais intelectuais ou em trabalhos braçais que envolvam riscos à saúde, no entanto ainda não se legislou sobre esta forma nova de trabalho, o que deixa brechas para que se gerem condições análogas à escravidão, enquanto alguns poucos enriquecem, a classe trabalhadora entrega sua força de trabalho, juventude, sua suade física e psicológica para ter o mínimo.
Há lugar na sociedade para encontrarmos formas novas de trabalho para serem mais produtivas e benéficas a sociedade como um todo, que amplie o desenvolvimento, no entanto se faz necessário termos muito cuidado quanto à forma como empregamos o tempo e nossas potencialidades sem deixar que causem prejuízos às demais áreas da vida dos indivíduos que dela fazem parte.
Esta temática aprofundada e muitos outros temas relacionados ao trabalho e a saúde mental serão abordados no CAOS 2022.
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Tratamento de Depressão e o Preconceito contra os Antidepressivos
26 de outubro de 2022 Glaub Silva dos Santos
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Vivemos em um tempo onde cada vez mais se torna comum termos contato com o adoecimento psíquico, seja porque nós mesmos estamos vivenciando, ou temos pessoas próximas que passam por estes desafios e assim afetam também a vida dos que os rodeiam, gerando muitas vezes busca por conhecimento acerca do que são os transtornos, como se manifestam, como podem ser tratados, e nos perguntamos qual o melhor tipo de tratamento para cada um, se realmente precisa de remédio, ou às vezes se basta somente tratar com remédio.
Um dos transtornos mais comuns que se vê na atualidade é a depressão, onde temos como características mais comuns o humor deprimido, a falta de interesse em atividade cotidianas, isolamento, e em casos mais graves pode levar até a ideação suicida. A depressão coloca o indivíduo em um sofrimento que pode chegar a níveis extremos, que pode dificultar a vivência das relações, trabalho, estudos, todas as realidades daqueles que a vivenciam.
Para falarmos sobre o tratamento mais adequado e eficaz para este adoecimento, precisamos compreender como ele acontece, suas causas, e como se dá o aprofundamento dos sintomas, e um consenso de que a depressão pode se desenvolver por diversos fatores, sendo alguns deles a predisposição genética, acontecimentos traumáticos, personalidade, sociais e de relacionamentos interpessoais, não pode ser atribuída a uma única (BARROSO, 2018).
No nosso cérebro por algum ou mais um destes motivos os neurônios para de produzir um ou mais dos seguintes neurotransmissores: serotonina, noradrenalina e dopamina, conforme Lage (2011), e com a diminuição na produção desses neurotransmissores começa a diminuir a quantidade de sinapses realizadas, e os neurônios vão sendo cada vez menos estimulados, a partir deste momento já aparecem os primeiros sintomas. É importantíssimo que desde os primeiros sintomas procure ajuda, pois a tendência é de que com o passar do tempo os sintomas se aprofundem, os neurônios que estão sendo pouco estimulados, param de produzir uma vitamina chamada BDNF, vitamina que é alimento dos neurônios, e passam a diminuir a quantidade de suas conexões, e chegando ao ponto destes neurônios deixarem de existir.
Figura 1 – Esquema de neurônios com e sem a vitamina BDNF que só é produzida em neurônios que são frequentemente estimulados.
Uma breve analogia para entendermos este processo natural do organismo é quando praticamos alguma atividade física, e nosso corpo vai ganhando mais músculos nas áreas mais estimuladas e vai se fortalecendo, no entanto quando deixamos de fazer atividade física tudo aquilo que havia sido adquirido de massa muscular e preparo físico logo desaparecem, dessa mesma forma se dá no cérebro humano, a medida que uma parte deixa de ser estimulada ela começa a diminuir e por fim os neurônios vão deixando de existir. Assim é possível observar os casos mais profundos de depressão que os indivíduos apresentam muita dificuldade de melhora, se dá justamente por esta perda de massa cerebral.
Partindo deste entendimento da depressão, como traçar a melhor forma de tratamento? Para este, como para muitos transtornos não há uma resposta certa que contemple todos as pessoas, cada pessoa que vive com este transtorno o experimenta de uma forma, apresenta sinais e sintomas diferentes, e isto afeta suas realidades também de formas diferentes. Por isso o tratamento para cada paciente é único, mas podemos aqui trazer aspectos essenciais para o tratamento, como ao perceber os primeiros sintomas já buscar ajuda profissional, procurar terapia para trabalhar suas questões de sofrimento e fazer psicoeducação aprendendo a identificar e lidar com os sintomas, percebendo a necessidade buscar o tratamento medicamentoso, procurar criar hábitos saudáveis, tanto em nível de alimentação quanto a atividade física, e contar com o apoio da rede de apoio, pessoas próximas com se tem bom vínculo de confiança.
Como falado para cada pessoa existe um tratamento específico, estes aspectos citados são os basilares de qualquer tratamento deste transtorno, e para além deste entram as estratégias específicas para cada realidade encontrada. E aqui nesse processo de tratamento podemos encontrar muitos desafios relacionados à adesão ao tratamento, tanto a resistência das pessoas em buscarem a terapia para trabalhar suas questões pessoais, quanto o preconceito quanto ao tratamento medicamentoso quando ele é evidenciado como necessário no caso em questão.
Trazemos ainda como marca da sociedade media certa resistência quanto a terapia, que por gerações foi tido como coisa para ‘loucos’, comportamento este que expõe os indivíduos a se permitirem sofrer muito mais do que precisam e por vezes esperar que seus sofrimentos cheguem a níveis que já atrapalham todas as áreas de suas vidas para só neste momento buscarem ajuda para lidar e manejar seus problemas.
Outro grande problema frequente no tratamento da depressão está no preconceito ligado ao uso do medicamento, que pode se dar por diversos motivos como por não ser bem explicado aos indivíduos que começam este tipo de tratamento que ele demora certo tempo para começar a apresentar o efeito desejado de melhora nos sintomas da depressão, e que, no entanto os efeitos adversos podem começar no dia seguinte ao início do tratamento.
Questão comum também ligada ao tratamento medicamentoso no tratamento é o medo de se tornarem dependentes pelo resto de suas vidas do remédio, no entanto não a menor parte das pessoas que fazem tratamento com antidepressivos acaba tendo que fazer uso por tempo muito mais prolongado do medicamento, justamente por estar vivenciando uma depressão mais profunda com perda de massa encefálica, o que dificulta a recuperação do indivíduo.
Faz-se necessário compreender o porquê da demora do medicamento em trazer a melhora em relação a velocidade em trazer seus efeitos colaterais. Como visto a depressão altera o processo de produção de um ou mais dos neurotransmissores, serotonina, noradrenalina e dopamina, então a maioria dos antidepressivos age nos neurônios impedindo que ele recolha os neurotransmissores que ainda não se uniram aos receptores do outro neurônio fazendo que estes neurotransmissores passem mais tempo na fenda e possam se ligar e produzam assim a quantidade normal de sinapses (comunicação elétrica entre neurônios), com a quantidade baixa que está sendo produzida pelos neurônios.
No entanto, os mesmos neurotransmissores importantes na depressão, também estão diretamente ligados a outros processos no corpo humano, como olhos, glândulas salivares, intestino, pâncreas, rins, fígado, coração, pênis. O remédio que faz efeito nas sinapses cerebrais também faz nestes sistemas, pois usam os mesmos neurotransmissores, o que explica os efeitos colaterais dos medicamentos, algo importante a ressaltar é que estes efeitos são considerados efeitos leves que o organismo do indivíduo a curto prazo ou deixam de existir ou são assimilados pelo organismo e o indivíduo encontra meios para lidar com os efeitos no cotidiano, como a sensação de boca seca, que faz com que a pessoa passe a tomar mais água em vista de diminuir esta sensação.
Mas por que o antidepressivo não tem ação rápida, e eficaz já no primeiro dia? O cérebro tem seu sistema de segurança e Feedback, cada neurônio tem uma estrutura que analisa a quantidade de neurotransmissores lançados na fenda sináptica e envia um Feedback para o próprio neurônio, ou indicando que esta tudo normal ou esta estrutura percebe que tem um volume muito elevado de neurotransmissores e começa a agir diminuindo ainda mais a produção de neurotransmissor e diminuindo a quantidade que é lançada na fenda, só depois de alguns dias ou semanas fazendo o uso da medicação é que esta estrutura desiste de inibir a produção e as sinapses voltam à normalidade e assim a pessoa passa a sentir a melhora com o uso do remédio.
Figura 2 – Neurônio serotoninérgico, auto receptor é destaque em roxo.
Com o passar de alguns meses fazendo o uso corretamente da medicação o neurônio que foi muito estimulado, voltou a produzir sua vitamina e pode voltar a produzir em quantidade normal os neurotransmissores que estavam sendo produzidos em baixos níveis, paralelo a este tratamento medicamentoso que trata os sintomas, se o indivíduo buscou a terapia tratou também as possíveis causas do transtorno, podendo fazer com que estes níveis de neurotransmissores não voltem a diminuir, e se organizou em relação a hábitos saudáveis, esta pessoa tem grandes chances de ter uma vida melhor sem sofrer com sintomas de depressão, e poderá deixar de fazer o uso do medicamento, fazendo o desmame de forma correta junto ao profissional competente.
Portanto, diante da percepção dos sintomas, se faz necessário buscar ajuda, fazer terapia, buscar hábitos saudáveis, e se necessário viver o processo de tratamento medicamentoso para que tão logo quanto possível o organismo possa voltar a normalidade e que possa bem viver cada aspecto da vida.
Referências
BARROSO, Sabrina Martins; BAPTISTA, Makilim Nunes; ZANON, Cristian. Solidão como variável preditora na depressão em adultos. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, v. 9, n. 3, p. 26-37, 2018.
LAGE, Jorge Teixeira. Neurobiologia da depressão. 2011.
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Processo de adicção a nível celular e o vício em pornografia
19 de outubro de 2022 Glaub Silva dos Santos
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Vamos falar sobre vício? Quando se trata de vício vem logo a nossa mente algo relacionado a álcool, cigarro, maconha, crack, LSD, morfina, entre outras drogas; porém não nos lembramos somente da existência destes tipos de drogas com as quais indivíduos dia após dia se viciam, e degradam sua dignidade humana e outros que reconhecendo os estragos causados em seus corpos, mentes e relacionamentos, tentam desesperadamente desistir destes vícios. Temos sempre alguém próximo que passou ou passa por este processo de adoecimento, e por vezes são nossos pais, mães, tios, irmãos, sobrinhos, parceiros, amigos, e quão desafiante é para estas pessoas e para os que estão próximos delas, de permanecerem próximos e os ajudarem a vencer este vício.
Mas o quê explica estes homens, mulheres, jovens e até mesmo crianças, terem contato com drogas se viciarem e não conseguirem largar com a mesma facilidade com que iniciam em um vício? Para isto precisamos entender um pouco do funcionamento do nosso cérebro e o que estes mais diversos tipos de drogas causam no nosso cérebro. O nosso sistema nervoso central é um sistema complexo cheio de funções e sistemas de feedback que regulam a forma como experimentamos a vida. Para compreender o comportamento de adicção (vício), é necessário compreender um sistema muito importante no nosso dia a dia, que faz com que continuemos a fazer coisas que reconhecemos como apetitosas e prazerosas nas nossas vidas.
Este sistema importantíssimo é chamado de sistema de recompensa. Mas como assim sistema de recompensa? Sim, existe uma parte do nosso cérebro que foca exatamente em reconhecer experiências que para nós foram marcantes positivamente e gerar aquela sensação prazerosa, gostosa das coisas, por exemplo uma ida ao parque, ver uma bela paisagem ou obra de arte, experimentar uma comida muito boa, ver um bom programa de TV, uma série preferida, no sexo, etc.
Imagem do sistema/circuito de recompensa em destaque.
Este circuito de recompensa é composto por três áreas muito importantes do nosso cérebro que são responsáveis também pela tomada de decisão, que são o córtex Pré-Frontal, o Núcleo da Accumbens e a Área Tegmentar, e há pouco tempo foi descoberto que o Núcleo Caudato também integra este sistema, sendo seu papel ajudar na detecção e percepção de uma recompensa, discernir entre recompensas e escolher uma recompensa particular a outra, além de antecipar uma recompensa e esperar uma recompensa (BORGES, 2015).
Já vimos onde ele fica no nosso cérebro e o que ele faz, mas como ele funciona e como as pessoas se viciam? O circuito de recompensa como todo o nosso cérebro é formado por uma quantidade enorme de neurônios que se comunicam a partir de sinapses, que são impulsos elétricos, que são produzidos pela comunicação destes neurônios, que se de diversas formas, mas nesta área específica os neurônios comunicam a outros neurônios um neurotransmissor chamado Dopamina, que é o responsável por sentirmos o prazer e a satisfação.
Imagem de uma sinapse dopaminérgica.
Então toda vez que fazemos algo agradável estas sinapses dopaminérgicas acontecem no nosso cérebro, e aqui entra o fator chave para o comportamento de adicção, estas mesmas sinapses de dopamina acontecem em pessoas que entram em contato com drogas, o que acontece no cérebro quando entra em contato com esse tipo de estimulação, é que essa quantidade de neurotransmissores na fenda sináptica, aumenta em níveis altíssimos, gerando uma sensação de prazer muito grande no indivíduo. Mas há um grande problema neste volume elevado de neurotransmissores, pois o excesso de dopamina gera uma maior flexibilidade no córtex pré-frontal, e prejudicar a capacidade de concentração (HUBNER, 2022).
O cérebro humano é sistema muito complexo e inteligente, e traz em si sistemas de feedback para a manutenção de suas funções, logo ao perceber que está acontecendo uma irregularidade na quantidade de dopamina lançada nas fendas sinápticas, ele age diminuindo a produção do neurotransmissor e o neurônio que iria receber este neurotransmissor também diminui a quantidade de receptores, que são como janelas abertas onde os neurotransmissores se ligam e geram as sinapses. Este processo natural do cérebro produz duas grandes consequências, uma a curto e a outra a longo prazo, a curto prazo, ainda que o indivíduo faça a ingestão da mesma quantidade de droga ela não produzirá mais o mesmo efeito no cérebro.
Então, em resumo a pessoa entra em contato com a droga e a partir deste momento o cérebro imediatamente começa a tomar medidas para se proteger de outra descarga tão grande de dopamina. Não aprofundaremos aqui as motivações que levam uma pessoa a entrar no uso de drogas, mas por muitas vezes as motivações que levam a usar pela primeira vez, podem levar a pessoa a procurar uma segunda, ainda não como um comportamento de vício, mas por vezes como comportamento de fuga dos seus sofrimentos, por incentivo de seus grupos sociais, etc.
No entanto, o que acontece nesta segunda vez não chega nem perto do que aconteceu na primeira, o cérebro em modo de sobrevivência, não permite uma sobrecarga novamente e a sensação de prazer e recompensa diminuem drasticamente, para que tenha uma sensação de prazer maior será necessária uma ingestão ainda maior, ou de uma droga mais pesada, o que explica o comportamento de muitas pessoas que começam com o álcool, cigarro, maconha e podem gradativamente fazendo o uso de drogas cada vez mais pesadas.
A longo prazo, precisamos lembrar que o neurotransmissor que gera esse efeito de prazer e recompensa no uso das drogas, é o mesmo neurotransmissor do dia a dia, das coisas prazerosas da vida, como uma boa comida, uma bela paisagem, uma convivência com a família ou amigos, porém o cérebro neste momento está focado em continuar mantendo as suas funções, sem sofrer sobrecargas de dopamina, já diminuiu a produção e já fechou algumas “janelas”, então atividades simples como estas não terão mais o mesmo sabor, passarão a ser consideradas “chatas” ou tediosas, pois elas normalmente já não produziam tanta dopamina, e agora produzem menos e geram muito menos sinapses.
Pessoa em sofrimento pela adicção
Um pessoa inserida na adicção já está vivendo em profundo sofrimento, e esta mesma pessoa que por muitas vezes busca na droga uma forma de esquecer, de fugir um pouco do seu sofrimento, começa não sentir prazer nenhum na vida exceto no momento em que entra em contato com a droga a qual está viciado, e cada vez mais procurando drogas cada vez mais fortes. E aqui entra todo sofrimento familiar, perda de relações afetivas, perda de trabalho e vida desta pessoa é reduzida ao seu sofrimento.
Como foi visto no início é possível se viciar em drogas lícitas, ilícitas de diversas formas, mas há um tipo de vício que a nossa sociedade incentiva e se utiliza para enriquecimento de algumas classes, que é o vício em pornografia, ele acontece da mesma forma que todas as outras drogas, este mesmo processo de adicção que acontece em todos os tipos de droga também acontece na pessoa viciada em pornografia, a única diferença é que a “droga” a qual os homens e mulheres se viciam na atualidade com grande frequência é que é de graça, de fácil acesso e amplamente estimulado pelas novelas, filmes, séries e até mesmo propagandas de produtos de consumo, como carros, cerveja e etc., onde o sensualismo é lançado como fetiche para induzir o desejo de consumo de homens e mulheres.
Este problema social que afeta uma quantidade incontável de pessoas, alguns em grau mais leve e em outros muito elevado, tem ganhado um pouco mais de atenção porém ainda forma tímida, em 2019 o CID adota uma novo diagnóstico de transtorno que é o 6C72 Transtorno de comportamento sexual compulsivo que consiste principalmente na incapacidade persistente de controlar impulsos sexuais, sendo eles ligados ao sexo de fato, ou comportamentos como sexo virtual, pornografia e masturbação.
Um problema muito grave no processo de vício em pornografia é que a pessoa é bombardeada por estímulos que servem como “gatilhos” para que ela consuma mais e mais pornografia, e uma grande dificuldade relacionada é a naturalização deste tipo de comportamento, certamente ou você, ou algum conhecido seu já recebeu em algum grupo de Whatsapp um conteúdo pornográfico, quantas notícias já vimos de pessoas que foram demitidas por enviarem este tipo de conteúdo em grupos de trabalho, e entre os jovens é reforçado ingressar neste tipo de comportamento.
É muito importante lembrar que temos campanhas contra o uso abusivo de drogas, tanto as ilícitas como as licitas, como o álcool, o tabaco, no tabaco por exemplo temos na caixa do cigarro o que o vício nele pode causar, com imagens reais de casos gravíssimos que aconteceram por causa do uso de cigarro, mas e quanto à pornografia? Você é capaz de contar a quantidade de vezes que teve acesso a conteúdo de cunho sexual nesse mês, por meio de propagandas, séries, filmes, novelas, músicas? Há uma naturalização deste tipo de produtos sociais.
Propagandas utilizadas para venda de bens de consumo, reflexo da hipersexualização.
Umas das consequências desta naturalização e de não informarmos às pessoas os riscos de ingressarem em consumo de pornografia, é que a pessoa vive esse processo achando que está vivendo algo saudável e quando se percebe já não está mais conseguindo conter impulsos sexuais em seus mais diversos ambientes, já não está tendo mais prazer nas suas relações familiares e afetivas, no seu trabalho, passa a viver desanimado e tomado pelo tédio, por que nada mais é capaz de motivá-lo de fazer com que se sinta vivo, a não ser entrar em contato mais um vez com conteúdo pornográfico, e da mesma forma que com outras drogas passa a precisar de estímulos mais poderosos para que sinta aquele pico de dopamina, pois o cérebro já foi se protegendo fechando receptores e produzindo menos dopamina.
Logo esta pessoa pode passar a procurar tipos de sexo diferentes, com animais, mais violentos, com crianças, com cadáveres, etc. E assim a nossa sociedade estimula a produção deste tipo de conteúdo, em sua grande maioria proibidos por lei. Temos uma sociedade que incentiva o desejo sexual a todo tempo, somos bombardeados por este tipo de conteúdo, e como ficam as pessoas que tentam deixar este comportamento abusivo? Sofrem constantemente com recaídas e vão se sentindo cada vez mais incapazes de ter controle de seus impulsos sexuais.
Aqui temos o relato de uma pessoa que não quis se identificar que passou por este sofrimento, segue na íntegra o relato:
“ Tive contato pela primeira vez com conteúdo pornográfico, aos 11 ou 12 anos, por meio de um amigo que chamei para jogar no computador da minha casa, e em um dado momento da brincadeira este amigo me falou que queria me mostrar um tipo de jogos ‘diferentes’, foi quando ele abriu um site de jogos pornográficos, e ao me deparar com aquilo eu percebia que havia algo errado, mas ao mesmo tempo não fazia ideia da existência do tipo de coisas que eu estava vendo ali pela primeira vez, e até hoje tenho dificuldade de me perdoar por ter me deparado com aquilo e não ter fugido, mandado fechar, saindo dali, ou ter dito que não queria ver aquilo.
Ainda hoje, depois de passar mais de metade da minha vida tendo vivido como um viciado, é difícil olhar pra trás e acolher que eu era uma criança, que não entendia nada do que eu estava sentindo ao ver aquelas coisas. Depois desse dia não me lembro de quando foi a segunda vez em que tive contato a final fazem muitos anos, só me lembro que pornografia e masturbação fizeram parte da minha vida constantemente ano após ano, tempos com menos frequência e outros com muito mais frequência, eu não sei dizer hoje quando foi a primeira vez em que tentei parar e que não durou muito tempo, mas ao longo tempo comecei a perceber que sempre que me frustrava eu acabava mais uma vez buscando a pornografia.
Via sempre meus colegas falando sobre vídeos pornográficos que tinham visto, e algumas vezes até abrindo sites assim na escola, e então parecia algo cada vez mais natural, que todo mundo vivia, e cada vez mais via mais vídeos, fotos, e como foram anos vivendo assim, cada vez mais foi se tornando mais frequente, mas fui me percebendo cada vez mais mal, as coisas começavam a perder a cor, eu não conseguia mais me sentir tão bem quando estava com os amigos, não me sentia feliz, comecei a pesquisar e descobrir que tantas pessoas haviam ficado muito mal também por causa deste vício, e comecei a tentar sair mas sempre vinha alguma coisa, que me lembrava de algo que eu tinha visto, as vezes nas conversas, em séries que assistia, me faziam ter recaídas, não conseguia de forma alguma conter os impulsos, por mais que tentasse, por vezes corria pra lugares da casa onde tinha gente pra não ir ver pornografia, ajudava mas quando ficava sozinho recai de novo, e de novo e de novo…
Você não sabe o quanto é difícil viver assim, se sentindo incapaz de se controlar, de não fazer algo que você sabe que faz mal pra você mesmo, que cada vez mais vai te tirando a graça de viver bem com as pessoas que você tá perto. E cada vez que recaía me sentia cada vez mais culpado e envergonhado por não conseguir. Procurei ajuda mas mesmo assim tive muitas dificuldades de conseguir enfim parar, mas ainda hoje é muito difícil permanecer sem recaídas, porque direto aparece alguma coisa que me lembra, que me faz querer voltar pra aquelas coisas. As vezes só penso o que eu não daria para mudar aquele primeiro dia, o quanto minha vida poderia ter sido melhor se eu não tivesse sido apresentado a pornografia, me tornando como que um prisioneiro de mim mesmo, mesmo vivendo limpo as vezes acho que nunca voltarei aquele normal da infância que não sentia vontade de ver aquelas coisas.”
Precisamos repensar o que estamos fazendo com as nossas crianças, com nossos adolescentes e jovens, e conosco, com essa hipersexualização da vida, é primordial que questionemos este padrão social de pegar qualquer que seja o produto e colocar uma pessoa ali sensualizando como forma de vender aquele produto. E conscientizarmos que há riscos seríssimos a saúde mental e física de cada indivíduo, como em qualquer outro tipo de adicção, ainda que pareça em grau menor que outras drogas, é tão possível que uma pessoa que inicia o vício em pornografia possa acabar se viciando em drogas ainda mais pesadas.
Referências
BORGES, Maria. O amor no cérebro. Princípios: Revista de Filosofia (UFRN), v. 22, n. 38, p. 125-135, 2015.
HUBNER, Luiza Johanna et al. Papel da Dopamina e Motivação para o Esforço e Fadiga Mental. 2022.
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Jurassic World – acampamento jurássico e o Transtorno do Estresse Pós Traumático
Jurassic World é um seriado de animação que remonta à era jurássica onde são trazidos à vida os dinossauros já extintos a milhares de anos, no enredo do seriado um grupo de crianças é selecionado para participar de um acampamento jurássico, conhecendo todas as instalações do parque jurássico, onde ficam confinados todos os dinossauros que foram trazidos à vida, porém um incidente nos primeiros momentos de abertura do Jurassic World faz com que os dinossauros escapem e comecem a atacar os turistas, e ordenaram a evacuação de toda a ilha, no entrando o grupo de crianças foi deixado para trás e precisaram lutar e se organizar para sobreviver rodeados das mais variadas espécies de dinossauros.
À medida que o tempo foi passando a pequena equipe enfrenta inúmeros desafios para se manter vivos diante da ameaça de grandes predadores como o tiranossauro rex, carnotauro, e até mesmo espécies híbridas criadas pelos cientistas. Ter a vida em risco a cada instante e presenciar tantas mortes, torna a mente dessas crianças muito suscetível a desenvolver transtornos psicológicos, como o Transtorno do Estresse Pós Traumático. O TEPT se desenvolve em duas partes, que são: o evento traumático, a reação da pessoa ter sido de grande medo, terror ou horror. Sendo o ponto principal do desenvolvimento do transtorno a forma como a pessoa reage a situação, as impressões causadas na mente no do indivíduo, pois nem todos os indivíduos que passam por eventos traumáticos desenvolvem o transtorno de estresse pós-traumático, mostrando que a resistência emocional do indivíduo conta muito mais que o evento traumático em si. (FIGUEIRA, 2003)
Imagem de Jurassic World Acampamento Jurássico. Fonte: divulgação Netflix
Percebesse logo que a Yasmina se vê em uma situação em que precisará entrar em contato com dinossauros carnívoros começa a reviver os flashbacks da situação traumática, isto se dá por causa dos estímulos que foram emparelhados com o evento traumático, e na vida real podemos trazer como coisas do ambiente do momento traumático, como a soldados que voltavam das guerras e não suportam ouvir o barulho de aviões passando, por este estímulo ter sido emparelhado com o seu evento traumático (a guerra no exemplo em questão).
Ao assistir podemos nos perguntar por que a Yasmina que era uma atleta e melhor corredora de todas as crianças que ali se encontravam, ao se encontrar em uma situação de perigo real e iminente a sua vida ao invés de correr fica paralisada diante do predador? Isto se dá porque o indivíduo não consegue mais naquele momento lidar com aquele estímulo aversivo e começa a apresentar sintomas do transtorno ansioso em questão, que são taquicardia, pensamento acelerado, flashbacks do evento traumático, etc. Por vezes, transtornos ansiosos geram sintomas de paralisia, enrijecimento da musculatura.
Algo que ainda podemos ressaltar acerca da Yasmina em relação ao desenvolvimento do transtorno, que aparece como marca da sociedade, a falta de inteligência emocional, o fechamento em si mesmo para não expor suas fraquezas, assim como Yasmina no primeiro momento não tem coragem de contar para seus amigos que estava passando por problemas e que estava conseguindo lidar com tudo que estava acontecendo dentro e fora de si. Assim como a personagem reage instintivamente não contando aos seus amigos, pessoas mais próximas que ela tinha naquele momento, da mesma forma inúmeros homens e mulheres na nossa sociedade se percebem precisando de ajuda para lidar com os próprios sentimentos e tem como primeiro movimento não assumir, e ir se escondendo da rede de apoio com a qual poderiam contar.
Imagem por storyset no Freepik
Na maioria das vezes dificuldades que enfrentamos não são como as de acampamento jurássico, que nos colocam sempre em situações de vida ou morte, no entanto ainda que não representem um perigo real e iminente, à saúde mental tem papel essencial para a qualidade de vida, para manter boas relações, para a vida profissional. É preciso questionar qual a função deste esconder as nossas fraquezas diante do outro, as consequências disso na vida de cada um e nas relações sociais como um todo. Nos falta empatia para com os nossos próprios problemas e assim como ter um olhar ao outro que também passa por dificuldades.
No acampamento jurássico os amigos percebem que Yasmina não está bem e passam a colocá-la em situações com menos risco de exposição aos predadores, nós enquanto sociedade temos tido esta mesma atenção com aqueles que estão ao nosso redor? Faz-se necessário sairmos do lugar de preconceito e dos lugares de julgamento dos indivíduos que vivenciam transtornos psicológicos, e tomarmos uma postura de acolhimento do sofrimento de cada indivíduo e mudarmos as estruturas existentes para que a saúde mental possa ser favorecida.
Referência:
FIGUEIRA, Ivan; MENDLOWICZ, Mauro. Diagnóstico do transtorno de estresse pós-traumático. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 25, p. 12-16, 2003.
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Transtorno do Espectro Autista: abordagem histórica e social
1 de setembro de 2022 Glaub Silva dos Santos
Insight
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A neurodiversidade que hoje compreendemos de forma mais ampla, ainda que não tão conhecida pela sociedade por completo, por tempos fora taxada como doença mental, homens, mulheres e crianças que não se encaixavam nos padrões de comportamento da sociedade eram enviados a manicômios para viver alheios à sociedade, perdendo seus direitos, cerceando sua liberdade e as forçando a viver sem o mínimo de dignidade, tudo isso alicerçado no discurso médico da época que “subtrai a totalidade subjetiva e histórico-social a uma leitura classificatória do limite dado pelo saber médico […] uma leitura produtora da redução, exclusão e morte social” (CARVALHO, 1995).
Após a luta do movimento antimanicomial, esses homens e mulheres que eram encarcerados com o rótulo de doentes mentais começaram a ter sua dignidade restituída, e passou-se a encontrar novas formas de tratamentos e diagnóstico de transtornos mentais de forma correta, para o melhor tratamento destes indivíduos. Dentre estes encontramos o transtorno do espectro autista que apresenta os seus sintomas já na primeira infância, sendo caracterizado como uma neurodiversidade que pode apresentar diferentes formas de manifestação de sintomas.
Em 1943 foi diagnosticado pela primeira vez em 11 crianças o transtorno do espectro autista, que na época fora denominado pelo Dr. Leo Kanner como um “distúrbio inato do contato afetivo”, ainda que condições idênticas tais como a destes casos.
Para Kanner essas crianças nasciam com um desinteresse pelo contato social, apresentando também resistência a mudança, caracterizou as como portadoras de uma “insistência nas mesmas coisas” pois apresentavam comportamentos de pânico e séria perturbação gerada pela desordem ou mudança de rotina, podendo também apresentar rigidez quanto ao tipo de roupa e comida, comportamentos motores aparentemente sem função específica, conhecido como estereotipias, bem como comportamentos de repetição de fala tardia ou imediata, ou até mesmo a emissão de apenas uma parte da ecolalia com a alteração no restante do conteúdo da fala, a ecolalia mitigada.
Fonte: Autoria de José Nicolas, Crianças em hospital psiquiátrico no Líbano em 1982
Para Kanner, o diagnóstico de autismo se dava por meio de duas grandes características, sendo eles em primeiro lugar o isolamento social, e em segundo os “comportamentos anormais” e a insistência nas mesmas coisas (DO AUTISMO, Federação Portuguesa. Autismo. 2017.).
A medida que os anos foram passando, o nosso conhecimento enquanto sociedade foi se aprofundado acerca dos mais diversos temas, entre eles o conhecimento sobre o TEA, já em 1970 chegou-se ao consenso de que o autismo era caracterizado por déficit no desenvolvimento social de um tipo muito diferente em comparação ao das crianças típicas; déficit na linguagem e em habilidades de comunicação; resistência à mudança, rigidez comportamental atrelada a rotinas, estereotipias; início nos primeiros anos de vida. (DO AUTISMO, Federação Portuguesa. Autismo. 2017)
Durante muito tempo foi acreditou que todos os autistas apresentavam também deficiência intelectual o que na realidade mostrou-se falso, e que o que realmente se apresentava como fator determinante para o desenvolvimento cognitivo desses indivíduos é a adesão precoce a intervenções que estimulem as áreas que apresentem atraso, proporcionando o desenvolvimento esperado para cada marco do desenvolvimento.Por outro lado, a mídia por vezes buscou fortalecer a mentalidade de que todos os indivíduos autistas têm capacidades cognitivas acima do esperado para atividades específicas, como música, desenho, memória, ou até mesmo calcular calendário para eventos do passado ou futuro, como podemos perceber no filme Rain Man. No entanto, este tipo de habilidade é rara entre os indivíduos com TEA.
Atualmente com a evolução das nossas descobertas científicas, e estudos mais aprofundados e conscientização social, é possível perceber que os indivíduos com autismo passam a ter lugar de fala na sociedade, já não há mais a sensação de que é algum tipo de fenômeno que acontece longe de nós, e que estas crianças, homens e mulheres, apenas apresentam uma forma diferente da nosso de estar no mundo, o sentem e respondem a ele de uma forma diferente, a sua neurodiversidade por vezes os fará capaz de ter compreensões mais profundas sobre algumas realidades que mundo enfrenta, como a crise ecológica que vivemos e tão bem interpretada por Greta Thunberg e passa a lutar pelo nosso meio ambiente, buscando a preservação da vida no nosso planeta.
Faz-se necessário compreender mais e acolher estes indivíduos neurodiversos, promover políticas públicas que auxiliem as famílias que não conseguem arcar com o tratamento para gerar dignidade para estes indivíduos, fortalecendo as redes de apoio, preparando as escolas para que possam ter oportunidades como os indivíduos considerados como típicos.
Referências
CARVALHO, Andréa da Luz; AMARANTE, Paulo. Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. In: Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no Brasil. 1995. p. 143-143.