A Casa dos Espíritos – paixão, vingança e revolução

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“…Nossa memória é frágil,
Uma vida é um tempo muito breve.
Tudo acontece muito rápido que não dá
Tempo de entender… a relação entre os acontecimentos.”
Blanca Trueba

O filme ‘A Casa dos Espíritos’ é um filme produzido a partir do romance da escritora Isabel Allende, lançado em 1982. O drama de Allende conta os conflitos de três gerações de mulheres e se passa durante as mudanças sociais e os desdobramentos políticos no Chile da década de 1920, até a explosão do golpe militar.

A narrativa começa com a infância de Clara que mantém contato com os espíritos e que, ainda criança, prevê a morte da irmã mais velha. Traumatizada, fica muda por vinte anos. A narrativa segue focando nas mulheres que são figuras principais até chegar a Alba, neta de Clara (Meryl Streep). Mesmo as mulheres assumindo papeis importantes na saga dos Trueba, o pai de família Esteban (Jeremy Irons) assume destaque na narrativa até o final da história.

Quando buscamos simbolicamente a linguagem oculta do cinema, sob o prisma da Psicologia, devemos ter noção da importância destes símbolos para o homem e sua psique, já que esses símbolos são tão explorados pelos recursos cinematográficos. O cinema é uma narrativa que cria e recria as instâncias simbólicas existentes no inconsciente coletivo de cada um de nós; como já dito antes, a capacidade de interpretar cada figura simbólica, depende da experiência, da cultura, da consciência crítica, da ideologia de cada espectador.

A linguagem plástica de A Casa do Espíritos, permite explorar os nossos medos inconscientes. Os símbolos ocultos podem não estar só na psicologia dos personagens, mas no próprio estilo narrativo do filme, nos gestos, nas cores, na nossa predisposição, no ambiente.

Clara ainda menina pressente que Esteban será o homem da sua vida, mesmo ele sendo o noivo de Rosa, sua irmã. Na mesma época Clara prevê a morte de Rosa. Traumatizada pelas forças do destino (inconsciente) e atormentada pelo sentimento de culpa se fecha num mundo envolto a fantasias, um mundo onde nem sempre a lógica e a física podiam ser aplicadas. Atormentada por ter desejado o noivo da irmã e por ter “desejado” a sua morte ela mergulha num silêncio por vinte anos.

O mundo no qual Clara vive é o mistério infinito do desconhecido, comparado ao nosso inconsciente. Assim como Clara, o sujeito tem a capacidade de prever situações, ou seja, desvendar os mistérios que o inconsciente guarda, mistérios que por defesa moral, estética e julgadora é ignorado.

A sexualidade humana é algo polimorfo e complexo, resultando de uma estrutura emocional individual, onde fantasias conscientes e inconscientes entram em jogo. Na terminologia freudiana, a luta constante entre o “princípio do prazer” e o “prazer da realidade” se processa bruscamente na personalidade de Ferula. Ela cresceu sem afeto, com pouquíssimo contato com as pessoas, o que a tornou estranha, fria, amarga, sempre escondida atrás de uma “sombra”, ocultando sua verdadeira personalidade. Na personagem de Ferula pode-se identificar os arquétipos “persona e sombra”. Detalhe importante para se entender esse processo; ela sempre se veste de preto, ocultando sua ira, sua revolta, por ter que cuidar da mãe doente (situação qual ela odeia) estando ela condenada a solidão até que a mãe morra (desejo consciente de Ferula). Num desabafo com irmão (Esteban) diz que gostaria de ter nascido homem, para assim, fugir de casa, já que não teria responsabilidades e não ficaria presa à realidade (consciente).

Depois da morte de Rosa, sua noiva, Esteban resolve ir embora para fazer o seu destino. De um lado se identifica pelo exagero, como uma figura ditatorial e agressiva, em contrapartida com a evolução psicológica do personagem no decorrer da tramam nota-se que o próprio se revolta contra essa figura, expressada nos símbolos de autoridade. Esteban compra uma fazenda, o caráter agressivo expressa através de suas ações, impõe com autoritarismo para os camponeses trabalharem para ele em cima de leis que ele mesmo estabelecera na Fazenda. Ele estupra uma camponesa, e não reconhece legalmente o filho que tem com ela. Pela terminologia freudiana, compara-se Esteban ao “ID” – regido pelos impulsos, instintos, preocupado em buscar satisfações imediatas. Já pelas definições de Jung, sob o prisma do arquétipo “Eu”, devido o seu modo de organizar, dar ordem, unificar seus desejos.

Passados vinte anos, Esteban fez da Fazenda Três Marias, uma fazenda rica e produtiva, mesmo explorando os serviços de outrem, se sentia orgulhoso por estar no comando. Sua mãe morre, ele volta. Ferula propõe ser devota ao irmão, cuidando dele. Esteban vê Clara e fica impressionado por sua beleza e passividade e logo pede a mão de Clara em casamento. Após o pedido, Clara volta a falar.

Ferula fica atordoada com a decisão do irmão. Ela sempre teve em Esteban alguém para cultuar, admirar, tendo então um ciúme possessivo do irmão, não aceitando a ideia dele se casar com Clara, por achar ela doente e louca, insinuando ao irmão que ele merece alguém que o ame de verdade. À luz da psicanálise, a motivação profunda de Ferula para com o irmão se relaciona com problemas edipianos (alguns utilizam a denominação “Complexo de Electra”,  a que o próprio Freud prefere o termo “Complexo de Édipo”), ou seja, Ferula se apega ao irmão (figura do pai) por quem sente uma forte atração, de onde surge forte ciúme e hostilidade contra Clara (figura idealizada da mãe), futura mulher de Esteban.

Ferula almoça com Clara – a figura de Clara não é a de uma heroína, mas propõe um modelo extremamente revelador. Clara diz à futura cunhada para não se preocupar que ela irá morar com eles após o casamento, ela a abraça e a beija no rosto – Ferula que nunca foi tocada por ninguém, fica confusa e aliviada quando Clara o faz, por este gesto comunicativo e carinhoso de Clara, aumenta os problemas básicos de Ferula, fazendo-a “sonhar” e construir seus sonhos em sentimentos que produz um profundo impacto ao tocarem as cordas mais sensíveis das profundidades inconscientes da confusa personalidade de sua futura cunhada.

As confusões de Ferula aumenta porque ela se projeta na pessoa de Clara, passando a admirá-la, idealiza-la… vê na cunhada aquilo que gostaria de ser, que gostaria de ter. Nutre, pois, uma paixão doentia por Clara.

Todos esses impulsos provocam fantasias, mas Ferula sofre com o sentimento de culpa, como na cena em que ela confessa com o Padre. Por outro lado, procurando (inconscientemente) livrar-se do terrível “complexo de culpa”, que se torna um verdadeiro perseguidor interno, diante de suas fantasias, torna-se masoquista (compulsão para o sofrimento, que foi erotizado) como na cena em que ela observa as noites de amor entre Esteban e Clara.

O filho bastardo de Esteban, com ódio, retorna à fazenda (personagem secundário, mas de grade importância ao discernimento desse drama), ou seja, o filho bastardo procura ficar sempre por perto, como se fosse os nossos temores, rondando nossa consciência (medos, seriam conteúdos armazenados no nosso inconsciente que insiste em vir a tona, lembrando os nossos erros,  nossas culpas nossas fraquezas). Esteban flagra sua filha Blanca e Pedro (filho do capataz da Fazenda dos Trueba) brincando no rio. Temendo a aproximação entre as crianças ele a coloca num internato.

Não bastasse a sua insegurança em relação à filha, Esteban expulsa Ferula de casa, querendo não ter a irmã entre ele e a esposa.

No seu delírio inconsciente (agressividade) o faz alterar sua percepção da importância que ele dá a sua ideologia, buscando fortalecer a sua personalidade narcisista afim de satisfazer seu Ego ideal.

Blanca (Winona Ryder) termina os estudos e volta para a Fazenda e se (re)aproxima do revolucionário Pedro (Antônio Banderas) tendo com ele um romance.  Pedro (figura de esquerda), utiliza uma linguagem que pode ser um meio de doutrinação, e que por trás dessa linguagem oculta, há uma ideologia política bem definida, despertando em cada espectador (trabalhador) o senso crítico das leis trabalhistas, dos direitos e deveres de cada um. Os seus ideais fomentam a mudança social ou simplesmente quer desenvolver a consciência crítica política dos trabalhadores (figura de opressão).

Pedro enfrenta o autoritarismo de Esteban procurando despertar nos camponeses um idealismo perante seus direitos e deveres.

Nesse clima de revolução, Esteban vê Blanca e Pedro juntos e jura matar o rapaz. Mas, Blanca é segura o bastante para enfrentar o pai em relação ao amor “proibido” com Pedro. Ela sente prazer nesse enfretamento, talvez por achar a figura paterna intransigente e autoritária.

Rebelando-se contra as atitudes do pai, é como se o Ego rígido de Blanca se sobressaísse num conflito constante, conflito esse que amedronta a personalidade.

Voltando à personalidade fria de Esteban, percebe-se simbolicamente que ele representa a figura do geocentrismo – crença de que o homem é o umbigo do universo – Ele perante o seu modo agressor queria ser o centro desse universo (a Faz três Marias, a sua família). No medo de ser ridicularizado, não permite diálogo, pois se admitisse, correria o risco de perder tal posição.

Clara procura estabelecer afinidades entre o sonho e a morte, a culpa e a vida. Na verdade, é o que todo homem busca: um equilíbrio interior perante os medos que amedronta a nossa personalidade. Sua fascinante personalidade não fica só na dimensão do imaginário, mas se aprofunda até os grandes símbolos e chega a uma inquietante meditação filosófica.

Clara vai embora com Blanca, Esteban fica só, atordoado com seus fantasmas interiores. Seu filho bastardo conta o esconderijo de Pedro, Esteban tenta mata-lo, mas Pedro consegue fugir. Blanca está grávida de Pedro. Esteban se candidata a senador, mas é derrotado nas urnas pelo partido de esquerda e socialista, pede desculpas a Clara e pede para conhecer a neta. Diante desses acontecimentos percebe-se a evolução do protagonista.

Pedro revê Blanca e conhece a filha Alba. Clara morre.

Esteban participa da organização do golpe militar que tiraria os militares dos quartéis, porém, no poder, os generais perseguem até Blanca e ela é presa, de modo que Pedro se entregue. Após o golpe militar têm-se sangue, fuga, desgraça, dor, envolvendo todos os membros da família Trueba, bem como todos os cidadãos chilenos.

Nessa fase da trama, Esteban duela consigo mesmo (inconsciente e consciente) para decidir se ajuda Pedro a fugir do país em nome do amor que ele tem pela filha e pela neta. Blanca sofre na prisão, mas o pai consegue livrá-la. Apesar do sofrimento, Blanca e Esteban procuram explicações para as incógnitas do destino (inconsciente), num desejo de voltar as origens para entender o processo dos acontecimentos, retornam à casa (útero).

Esteban morre, Blanca fica só com sua filha Alba pensando no seu passado e na maneira com que sua mãe entendia o verdadeiro sentido da vida.

“Ela sempre falava do amor como um milagre.
Após parar de falar, 
minha mãe viveu num mundo só dela envolta em suas fantasias.
Um mundo onde nem sempre a lógica e a física podiam ser aplicadas,
rodeadas por espíritos do ar, da água e da terra,
tornando desnecessário para ela falar, por vários anos!” 
Blanca Trueba

No final dessa saga dramática, assim como nossas fantasias inconscientes de voltar ao útero, Blanca busca compreender as forças do destino (inconsciente) e busca no regresso um jeito de começar tudo de novo. Ou pelo menos recomeçar…

Tecendo um paralelo com os personagens da trama, dá para perceber e assimilar a tranquilidade serena do mundo de Clara ao nosso inconsciente mergulhado em mistérios… Esteban seria o outro lado, sempre inquieto, intransigente, buscando sempre satisfação aos seus impulsos… Blanca estabelece o equilíbrio, sensata e crítica, capaz de assumir seus erros de maneira lógica, capaz de enfrentar os medos do nosso próprio EU. Ela nunca se deixa abater, esconde sua fragilidade criando barreiras contra nossos próprios temores.

FICHA TÉCNICA DO FILME

A CASA DOS ESPÍRITOS

Título original: The House of the Spirits
Direção e Roteiro: Bille August (a partir do homônimo de Isabel de Allende
Elenco: Jeremy Iron, Meryl Streep, Glenn Close, Winona Ryder, Antonio Banderas;
Países:  DinamarcaAlemanhaPortugalEUA
Ano: 1993
Gênero: Drama, Romance

REFERÊNCIAS:

BAZIN, A. O Cinema – Ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1991.

JUNG, C. G.. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

SILVA FILHO, A.C.P. Cinema, Literatura, Psicanálise. São Paulo: EPU, 1998.

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A solidão em “Com Amor, Van Gogh”

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Concorre com 1 indicação ao OSCAR:

Longa de animação

um pintor tem que pintar. Talvez exista alguma coisa depois disso.”
Van Gogh


Vincent Van Gogh, que começou a pintar somente aos 28 anos, teve representada em sua obra a solidão que o acompanhou desde criança. O artista tinha uma personalidade depressiva e fazia uso da pintura para sublimar suas dores e angústias, para manter sua sanidade mental.

Seu nome é um dos mais conhecidos na História da Arte e serviu ainda de inspiração para diversas obras cinematográficas, tais como Van Gogh (Van Gogh) Direção: Alain Resnais Ano: 1948, Sede de Viver (Lust for life/A Vida Apaixonada de Van Gogh) Diretor: Vincent Minnelli Ano: 1956, Vincent & Theo (Van Gogh – Vida e Obra de um Gênio) Direção: Robert Altman Ano: 1990, Van Gogh (Van Gogh) Direção: Maurice Pialat Ano: 199, Van Gogh: Pintando com palavras (Van Gogh: Painted with Words) Direção: Andrew Hutton Ano: 2010, Vincent e O Doutor (Vincent and The Doctor) Direção: Jonny Campbell Ano: 2010.

Fonte: https://goo.gl/yPWPHk

A animação “Com Amor, Van Gogh”, primeiro filme inteiramente pintado da história do cinema e um dos indicados ao Oscar 2018, já tem no título uma homenagem a um dos artistas mais influentes de todos os tempos. O filme é revolucionário por misturar a linguagem do cinema e da pintura. Uma equipe de mais de 100 artistas trabalhou por seis anos de produção artesanal; ao estilo do pintor holandês fizeram mais de 65 mil telas a óleo que correspondem aos frames do filme. Assim, vemos diante de nossos olhos os quadros do artista ganharem movimento.

Fonte: https://goo.gl/ycgDAT

Além dos quadros como “Noite Estrelada”, “Terraço do Café à Noite” e autorretratos, as cartas escritas pelo artista serviram de fonte para o roteiro do filme. Dirigido por Dorota Kobiela e Hugh Welchman, a animação retrata os últimos momentos de vida do pintor holandês, mais precisamente a narrativa se delineia um ano após a morte do artista. Isso, quando Armand, filho do carteiro Roulin, assume para si a missão de entregar uma carta à Theo, o já falecido irmão do pintor. E é nesse ponto que a aventura se inicia…

Num tom de investigação, Armand vai conhecendo as pessoas da vila em que Van Gogh viveu seus últimos dias e segue, cada vez mais, se interessando pelo fim trágico do artista, que faleceu em julho de 1890, em Auvers-sur-Oise na França. À medida que ele vai ouvindo estórias a respeito do artista ele se questiona: teria mesmo Vincent se suicidado ou ele foi assassinado?

Inebriados pelas cores vibrantes, marca da obra de Van Gogh, o espectador mergulha numa jornada juntamente com Amand em busca de respostas. O percurso, no entanto, eclode de modo mais fascinante que as próprias respostas.

FICHA TÉCNICA

              COM AMOR, VAN GOGH

Direção: Dorota Kobiela, Hugh Welchman
Elenco: Douglas Booth, Saoirse Ronan, Jerome Flynn, Aidan Turner;
Gênero: Drama
Ano: 2017

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Vestígios artísticos de Sérgio Lobo

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Os traços oblíquos e as cores fortes de Sérgio Lobo dão forma e significado ao que antes era inanimado, acromático, insosso e sem brilho.

Sua obra, pitoresca, sinuosa e – por vezes – agressiva, tem a capacidade de evocar desejos e memorias antes esquecidas. É quando a arte se confunde com a vida, por meio dos contornos, das cores, das combinações, da extensão e dos movimentos.

Uma linguagem nada linear que traduz em emoções a aquarela de sabores que só pintura pode nos proporcionar. Basta um rápido mergulho nesse vasto mundo para experimentarmos uma explosão de sentimentos.

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Trabalho ou autonomia: Desemprego e degradação social

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Na obra “Trabalho ou autonomia” de Cattani, edição de 2000, a discussão versa sobre o trabalho como ato concreto, sendo individual ou coletivo, e é, por definição, uma experiência social. Para o autor, o conceito de trabalho genérico compreende uma atividade de produção de bens e serviços e conjunto das condições de exercício dessa atividade. As transformações econômicas e sociais resultaram na incorporação de um número proporcionalmente crescente de indivíduos na esfera produtiva. De modo que o trabalho se transformou numa espécie de cimento social no fator básico de socialização. Devido a isso, afirma-se que o não-trabalho assume, igualmente, um papel fundamental.

Pelas referências do autor, fica claro que o desemprego não deve ser entendido apenas como ausência de atividade e de relações assalariadas, mas como uma situação de status social, de modo que se transformou num indispensável elemento explicativo dos problemas e das tendências da transformação econômica e social no final do século XX.  Para o autor, o desemprego seria um problema externo, cuja solução dependeria do crescimento econômico. Nas formulações neoliberais, o desemprego deve-se à “falta de capitalismo”. Mesmo a teoria marxista e o pensamento católico e humanista centraram suas críticas no fato de o capitalismo explorar, alienar e desumanizar o trabalhador. Pelo fato de o desemprego permanecer irredutível, num período de estabilidade política e de crescimento econômico, demonstra que o sistema cria e recria constantemente formas variadas de desigualdade e que não consegue proporcionar trabalho para todos. Assim, se o trabalho continua a ser a “experiência social central”, o que acontece com aqueles que são privados dessa experiência?

Cattani (2000) bem coloca que a busca de respostas para as questões supracitadas é dominada pela análise econômica, mas não é suficiente. Para ele, a exclusão provocada pelo desemprego não é um fenômeno passageiro e sim o resultado de um processo permanente. Para se ter ideia, uma em cada três pessoas ativas não dispõe de recursos para assegurar a sua própria sobrevivência. É certo que essa realidade é diferenciada conforme o desenvolvimento socioeconômico de cada país. O trabalho instável, o subemprego, a subcontratação e outras formas de precarização também alteram as características sobre a relação padrão da economia capitalista. Para o autor, o direito do trabalho e as garantias conquistadas ao longo do século definiam condições rígidas de emprego: contrato, representação sindical, em alguns casos estabilidade, limites mínimos e máximos do tempo de trabalho etc. Assim, a diferença entre emprego e desemprego era absolutamente clara, situação essa, que mudou radicalmente em menos de dez anos. O autor acrescenta ainda que as formas precárias dissimulam o desemprego.

Em termos de representatividade, o que tem significado não só econômico, mas sobretudo sociológico, é que de 10 a 15% da população ativa está envolvida em situações de precariedade e de vulnerabilidade. Inclusive o autor coloca que, quando o volume de desempregados começou a crescer, inúmeras políticas foram adotadas: o alongamento da escolaridade, a redução do tempo de trabalho, o repatriamento dos imigrantes, etc. Nada surtiu efeito. Fica claro que aumentada a produtividade do trabalho para um mesmo nível de produção, o número de trabalhadores é cada vez menor. O autor nos apresenta formas de melhor compreender a temática do desemprego. Para tanto, ao abordar o desemprego de longa duração, fica certo que o desemprego repercute também, de maneira diferenciada, sobre grupos mais vulneráveis. Dentre os problemas mais sérios, destaca-se o desemprego de jovens e o desemprego de longa duração. E, dependendo da categoria profissional, o autor afirma que o nível de qualificação influi decisivamente na duração do desemprego.

No que diz respeito ao desemprego de jovens. O autor entende que a situação ocorre na maioria das vezes com a idade menos de 25 anos e com aqueles que possuem escolarização secundária completa, frequentemente complementada por cursos profissionalizantes. Identifica o autor que quanto mais titulado, mais depreciado fica o jovem no mercado de trabalho, pelo fato de demorar pra conseguir em emprego. Frente a essa realidade, a tendência é de agravamento das situações. Quando o autor promove a discussão sobre a precariedade e exclusão, ele nos apresenta que nos Estados Unidos a duração do desemprego é relativamente curta. O fluxo de entradas e saídas é mais rápido. Essa mobilidade representa uma instabilidade crescente e uma deterioração dos status profissionais e sociais. O trabalhador recém-contratado pode ser remunerado pela metade do que recebe o colega fazendo o mesmo serviço. Segundo o autor, nos anos 60, desenvolveram-se a tese de segmentação ou dualismo do mercado de trabalho. Nos Estados Unidos um mercado primário que ofereceria empregos estáveis, bem pagos, com planos de carreira, etc. De outro lado, um mercado secundário, caracterizado por empregos precários, baixos salários e por más condições de trabalho.  O novo paradigma reforça o principio da seletividade e, desta forma, as desigualdades.

Um assalariado norte-americano tem dez vezes mais probabilidades de ficar desempregado do que um trabalhador europeu, sobretudo alemão e francês. Mas um desempregado norte-americano tem, também, dez vezes mais chances de reencontrar trabalho do que seus colegas europeus. As alternativas de sobrevivência dos desempregados na Europa são diferentes daqueles dos norte-americanos. Na Europa, o subemprego, o setor informal e os “bicos” legais ou ilegais são extremamente desprestigiados. Os desempregados transformam-se na categoria dos “assistidos” e podem sobreviver durante vários anos graças a complexos sistemas de indenizações, subsídios e ajudas diretas ou indiretas. O emprego ordena as principais clivagens e dinâmicas sociais e modula os status e as capacidades de ações individuais e coletivas. A economia de mercado não promove a homogeneidade. Pelo contrario, as desigualdades são necessárias, tanto quanto a concorrência que facilita a exclusão dos “inadequados”.

Seguindo as idéias do autor, sobre a desagregação social ou degradação humana, o desemprego e a precarização do trabalho não são problemas remanescentes de alguma fase anterior ou ocasionados por problemas externos, facilmente resolvidos pela retomada do crescimento econômico. Também não são problemas secundários que pouco afetam a sociedade. O desemprego e a precarização são abordados, pelo ângulo dos mecanismos econômicos, o que resulta numa árida e interminável discussão sobre as causas do problema: impactos de globalização e da automação, influências da adoção do pós-fordismo, do modelo japonês etc.

O desafio é compreender a lógica de seletividade e de exclusão do mercado de trabalho e o processo de construção social de identidades no contexto da precarização e da exclusão. Com o fim do mito da improdução total da população ativa à esfera produtiva, muitas perspectivas analíticas foram alteradas. Seria ingênuo pensar no desemprego como uma situação provisória ou como uma inadequação pessoal aos postos oferecidos pelas empresas. O trabalho desestabilizado e o desemprego são referências que se constituem socialmente, e que definem novas hierarquias e dinâmicas da população ativa. O autor, frente a tais questões, propõe algumas posições sobre a precarização e o desemprego. Para ele, o trabalho é considerado um serviço que se troca no mercado, regulado por mecanismos absolutamente racionais, eficientes e livres. As empresas “demandam trabalho” e os indivíduos “oferecem trabalho”. As empresas empregam enquanto o trabalho não custar mais do que aquilo que ele contribui para a realização do lucro. Avaliações diferentes entre empresas e trabalhadores encontram sempre um ponto de equilíbrio, cujo saldo pode ocasionar o “desemprego involuntário”. O volume e a extensão do desemprego involuntário não são suficientes para abalar as convicções na eficiência do sistema.  Esse encadeamento traduz práticas empresariais e políticas de Estado e é respaldado nas principais instituições de coordenação do capitalismo internacional.

No pensamento social-democrata, nas suas várias versões, políticas e econômicas, o desemprego é uma das questões mais espinhosas. Apesar de crueza, próximas ao darwinismo social, os neoliberais preocupam-se, com a legitimidade de suas proposições. Busca fundamentação no agenciamento mais eficiente da economia e na melhor integração dos indivíduos à vida social. Na França, para referir-se aos problemas relacionados ao desemprego, cientistas sociais e políticos utilizam a expressão “rompimento do tecido social”. O desemprego estaria, aos poucos, debilitando a coesão anteriormente obtida pelo trabalho. Os valores, as normas e a solidariedade estariam perdendo sua força integradora, e a sociedade entraria, aos poucos, em processo de anomia generalizada. Já nos Estado Unidos o trabalho não seria mãos suficiente para agregar a população, nem para gerar valores que impeçam a degenerescência da cultura e a “decadência do império americano”.

A metamorfose do trabalho está redefinindo profundamente as antigas bases de socialização, mas não a ponto de desestabilizar a sociedade capitalista. As formulações, em termos de “desagregação social”, parecem-nos equivocadas e exageradas. Cattani (2000), no que se refere a processos e situações, busca a clarificação dos conceitos principais e entende que o conceito de desagregação é inadequada. Porque pressupõe a prova da existência de uma agregação previa, isto é, de uma coesão social completa. Não existe comprovação de que o desemprego e a precarização estejam afetando a sociedade como um todo. A “nova pobreza” é um fenômeno parcial, com repercussões que afetam, de maneira grave, os atingidos e, de maneira derivada, o resto da sociedade. Degradação transmite, de forma mais contundente, a ideia de enfraquecimento gradual e contínuo, de passagem progressiva de um nível superior para um inferior.

A nova pobreza caracteriza-se pelo caráter aleatório da participação na vida econômica e social, pela irregularidade, precariedade e incerteza na obtenção de recursos para a sobrevivência, pela insegurança quanto ao futuro imediato. Os indivíduos afetados recentemente pelo desemprego e pela precarização não estão submetidos às mesmas condições econômicas objetivas, não possuem a mesma identidade social e não têm práticas simbólicas e políticas homogêneas. É possível reservar o uso do termo “nova pobreza” para designar aqueles indivíduos que não dispõem de recursos para assegurar a sua própria sobrevivência, e cuja situação de precariedade e fragilidade penaliza, cada vez mais, suas chances de reinserção. Sinteticamente, aqueles que estão “à deriva” (econômica, social e moral). O termo “à deriva”, integrados à corrente que os impulsiona com violência, não têm direção nem controle sobre as próprias ações, e nem estão ancorados num ponto estável. No que concerne à “nova pobreza”, mais importante do que a “construção identitária e social” estabilizada, é a dinâmica de situações e posições.

 Se faz necessário, nesse momento, apontar algumas ideias da obra que discorre sobre a sociedade sem trabalho. Para ele, esse é um dos pesadelos na atualidade. Certo de que o trabalho foi, durante muito tempo, o fator de integração, de produção de identidades coletivas estáveis e modelo de referência suscetível de estruturar o campo social. Entende pois, o desemprego, como fenômeno permanente, é apenas mais claramente vislumbrado nas circunstâncias atuais, caracterizado pela estabilidade política, pela redução das “interferências” estatais e sindicais, enfim, pelo domínio sem concorrência de mercado. Para o autor, o que é mais significativo na precarização do trabalho e no desemprego é que estes constituem um processo, reintroduzindo princípios heterogêneos de seletividade. Os custos humanos e sociais da precarização permanecem diluídos na dinâmica da sociedade norte-americana, e os custos do desemprego e da exclusão a ser contidos politicamente na Europa Ocidental.

Como bem disse o autor: a expansão do capitalismo produziu o Terceiro Mundo.

 

FICHA TÉCNICA

 

TRABALHO OU AUTONOMIA

Editora: Vozes
Autor: Antonio David Cattani
Ano: 2000

 

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Impactos psicossociais do desemprego de longa duração

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O desemprego é fonte de graves problemas psíquicos e sociais. As autoras Lima e Borges (2002) iniciam as discussões afirmando que essa situação promove não apenas a ruptura do vínculo do sujeito com seu trabalho, mas também com as principais referências que estruturavam seu cotidiano, ou seja, com tudo aquilo que o permita sentir-se parte integrante de seu meio. Por isso, para ele, vínculos familiares e sociais ficam também fortemente abalados. O desemprego prolongado é entendido, neste estudo, como uma condição que coloca a pessoa mais de um ano fora do mercado formal de trabalho, obrigando-a a sobreviver de “biscates” ou levando-a ao desalento, situações muitas vezes classificadas como desemprego oculto.

O estudo como um todo revelou as especificidades do sofrimento mental vivenciado em situações de desemprego, sugerindo que sua gravidade tende a aumentar com o passar do tempo, devido à desestruturação dos laços afetivos e sociais, causando impactos profundos na auto-estima dos indivíduos.  De modo a elucidar as questões das especificidades do desemprego na atualidade, consta-se um aumento significativo do número de desempregados em todo o mundo. Para as autoras, com a aceleração do processo de globalização da economia capitalista, a partir dos anos oitentas, o mundo do trabalho vem passando por intensas modificações, observando-se a reestruturação de alguns setores produtivos, a adoção de novas tecnologias e estratégias de gestão, a imposição de normas internacionais de qualidade e produtividade, além de exigências cada vez maiores de redução de custos.

É certo que o Capitalismo tem transformado o trabalho formal em um privilegio acessível a um número cada vez menor de pessoas, acentuando os processos de exclusão, as desigualdades e miséria humana. A ampliação da informalidade nas relações de trabalho revela uma desqualificação do emprego referente à remuneração, estabilidade, proteção e aos benefícios sociais, o que significa maior instabilidade dos vínculos com o trabalho e insegurança para muitos indivíduos.

As autoras propõem uma “psicopatologia do desemprego”, para elas, o desemprego prolongado pode criar uma situação propícia à emergência de distúrbios mentais característicos. A simples possibilidade de perda do emprego já pode desencadear um processo patogênico, sugerindo que a compreensão dos impactos psicossociais do desemprego deve ter início no momento em que o indivíduo percebe o risco de ser demitido. O indivíduo passa a viver em um universo de incertezas quanto ao seu futuro profissional, torna-se alvo de discriminações, podendo ser mesmo excluído do convívio social. A desestruturação dos laços sociais e afetivos é bastante comum e se agrava à medida que avança o tempo de desemprego. O isolamento social que ocorre com freqüência aumenta o sofrimento e o sentimento de solidão, contribuindo para a evolução dos distúrbios.

Com base nesses apontamentos não fica difícil compreender que há um aumento de quadros de suicídio. O alcoolismo, a dependência de outros tipos de drogas, o suicídio, a desestruturação dos laços familiares, entre outros problemas graves, têm sido tratados como manifestações dramáticas do sofrimento psíquico provocado pelo desemprego. A forma pela qual evoluem os quadros psicopatológicos dos desempregados. Eles apontam para vivencias de impotência, ausência de perspectivas, sentimentos de desconfiança e de frustração, isolamento social, sentimentos de inferioridade e de despersonalização, quebra de identidade ocupacional, sentimento de culpa e de autodesvalorização.

Para Lima e Borges (2002), os distúrbios psicossociais podem ser melhores entendidos mediante o estudo das rupturas dos laços de sociabilidade construídos no trabalho. Neste sentido, a sociabilidade estaria, sobretudo, ligada aos vínculos que se constroem no trabalho e sua ruptura, provocada pelo desemprego, levaria ao surgimento de distúrbios mentais. Para entender a evolução do sofrimento mental de um desempregado metalúrgico, as autoras nos apresentam um caso clínico que merece atenção nessa investigação sobre a temática. Para elas, deve-se investigar sua trajetória pessoal e ocupacional, com o intuito de compreender e de delimitar o processo evolutivo de sua doença. No caso citado, o sujeito teve uma infância tranquila e foi uma criança sociável e inteligente. Ele formou-se em auxiliar de desenho mecânico, mas integrou mais cedo no mercado de trabalho (por volta dos 15 anos). Surgiu a oportunidade de participar do concurso de “menor aprendiz”. Após ser submetido a diversos testes psicotécnicos, entrevistas e outros instrumentos de avaliação, foi aprovado no processo seletivo. Tal experiência foi gratificante e fundamental para decidir seu futuro profissional. Desse modo, aos 17 anos de idade, afirmou sua identidade e melhora a autoestima, visto que, ao exercer suas atividades, sentia-se como alguém útil e capaz.

Toda a segurança que sentia começou a ficar abalada após as sucessivas demissões. Devido às pressões no ambiente de trabalho e à ameaça de desemprego, começou a sofrer de insônia. Este momento foi a primeira fase do processo de adoecimento de Marcos, sob a forma de intensa irritabilidade, alterações do sono, fadiga mental e física, decorrentes das pressões sofridas no trabalho, mas, sobretudo, da constante ameaça de demissão. Um ano e meio após a demissão, desistiu, definitivamente, de procurar emprego, o que aumentou ainda mais sua angustia. As primeiras manifestações de um distúrbio mais grave (“esquizofrenia paranoide”, segundo os profissionais de saúde mental que o atendem) foram a restrição dos contatos sociais, o embotamento da afetividade e o surgimento de reações agressivas, caracterizando, para nós, a segunda fase do desenvolvimento de sua patologia. Ele se tornou desanimado, triste e desenvolveu um “tique” nervoso nos olhos. Às mudanças afetivas somaram-se as alterações comportamentais, que parecem caracterizar a terceira fase de sua patologia, já com um ano e seis meses de desemprego. Intensificação das agressões verbais, afastamento definitivo dos amigos. Começou a fumar, a beber e a dizer que usava drogas, alem de faltar a algumas sessões psicoterápicas. Comportamentos bizarros. Seus banhos eram excessivamente demorados.

Episódios estranhos tornaram-se uma rotina na vida do casal e só não ocorreu desestruturação total dos laços familiares e conjugais, porque ele contou com o apoio incondicional da família e da esposa.

A angústia pelas perdas sofridas, um luto difícil de ser elaborado. A quarta fase do adoecimento de Marcos caracterizou-se pela condição de total dependência, já que se tornou incapaz de sair de casa sozinho. Após algum tempo desempregado, ele encontrou na doença uma forma de refúgio. Talvez porque a identidade de “doente” traga menos constrangimento e seja menos estigmatizante socialmente do que a de “desempregado”.

Ao entrevistarem o psiquiatra e a psicóloga que o acompanhavam. Acreditavam, portanto, que Marcos já deveria estar apresentando alguns sinais da doença e que o momento da sua eclosão apenas “coincidiu” com o desemprego, pos era o problema que o ocupava, mais intensamente. Esses profissionais não viam uma relação direta entre o desemprego e o desenvolvimento do seu distúrbio.

Mas diante das fortes evidências da relação entre os distúrbios de IMAN e sua condição de desempregado, não podemos deixar de reagir à posição adotada por esses profissionais. Uma das primeiras repercussões de sua nova condição de desempregado foi a perda do convívio social, levando à solidão e ao isolamento. O desemprego teve um peso determinante no surgimento dos seus distúrbios, embora não possamos negar a importância de suas experiências anteriores. É uma história de cada um (e a personalidade forjada por essa história) que nos permite entender o impacto diferenciado que as vivências, como a da perda do emprego, têm para os sujeitos, visto que nem todos são atingidos da mesma forma.

Com base nesse caso, as autoras nos apontam algumas considerações finais sobre o mesmo. Para elas, existem várias teorias conflitantes a respeito da gênese da doença mental. Algumas defendem a tese de uma origem predominantemente psíquica, decorrente apenas da dinâmica dos afetos e das representações do indivíduo, em que os acontecimentos da primeira infância seriam determinantes no transtorno mental que este apresenta. Outras argumentam que sua origem é predominantemente orgânica e que os fatores endógenos são os maiores responsáveis por esses transtornos, admitindo os fatores exógenos apenas de forma secundaria. Há aquelas que afirmam a determinação social dos distúrbios mentais, sendo que as dimensões psíquicas e orgânicas seriam, evidentemente, admitidas, mas percebidas como ontologicamente subordinadas à dimensão social. Desse modo, as situações de trabalho são suscetíveis de gerar distúrbios graves, mesmo admitindo que a vivência de tais situações não possa ser vista pelo indivíduo.

 

Referência:

LIMA, Maria Elizabeth Antunes e BORGES, Adriana Ferreira. In: GOULART, Íris Barbosa (org.). Psicologia Organizacional e do Trabalho: teoria, pesquisa e temas correlatos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

 

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As marcas do tempo

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Vejo algumas fotografias e me pergunto quantas histórias podem estar ali embutidas. Reparo nos detalhes, nas cores, nos reboques, nos desgastes e penso nas inúmeras vidas que já compuseram tais cenas. Muitas dessas vidas pensadas se foram tão rápido quanto meu pensamento. Mas alguns feitios (ou resquícios deles) ainda permanecem, tal qual a minha escrita. Cada parede descascada me diz de mãos que por ali passaram, pintaram, consertaram, coloriram e restauraram existências enquanto puderam. Cada telha quebrada me diz que além da vida há e sempre haverá o tempo e as marcas que ele, indubitavelmente, nos deixa. O tempo é um moldador. Escreve-nos, apaga-nos. Marca-nos. As cenas a seguir mostram algumas marcas feitas pelo tempo. As cenas a seguir são marcas que alguém ao tempo deixou.

Ângela Marques

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Quase Deuses: as intersubjetividades e os sentidos dos sujeitos

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A morte é uma coisa modesta pra se viver com ela dia após dia.
Vivien Thomas

Vemos a morte todos os dias e mesmo assim ela nos assusta sempre.
Dr. Alfred Blalock

O filme “Quase Deuses” é baseado em uma história real e traz reflexões importantes no campo das ciências humanas, pois esboça as contradições de uma sociedade, as relações de trabalho e capital, a questão racial, o espaço urbano, o antagonismo rico e pobre numa sociedade de classes, o poder do conhecimento (ciência).

“Quase Deuses” se passa em Nashville na década de 1930 e narra a história de amizade de Vivien Thomas (1910-1985), afro-americano e hábil marceneiro e do Dr. Alfred Blalock (1899 – 1964), norte-americano e habilidoso cirurgião.

Eles são duas pessoas diferentes em níveis de classes sociais e cor. Os caminhos deles se cruzam quando Thomas é demitido com a chegada da Grande Depressão. Ele foi demitido porque estavam dando preferência para quem tinha uma família para sustentar. Com a crise, os bancos faliram e isso o fez perder as economias de sete anos, que ele guardou com sacrifício para fazer a faculdade de seus sonhos, Medicina.

Na década de 1930, a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque (em 1929) gerou uma grande depressão econômica, o que contribuiu para aumentar a segregação (econômica e social), devido às altas taxas de desemprego e uma grande queda na produção industrial.

 

 A luta por condições iguais do trabalhador perpassa de forma explicita o enredo do filme, a exemplo dos professores negros que querem ganhar igual aos brancos, bem como, um dos protagonistas – Vivien Thomas – que recebe seu salário inferior à sua função técnica. No filme há evidências de que as afinidades entre as pessoas são determinadas pelas suas condições de vida, classe, etnia entre outros. Como expõe o irmão de Thomas, “só os pobres têm uns aos outros” fazendo alusão que mesmo perdendo todas as suas economias, o que lhe restava é a família a sua condição de pobre (classe).

Em todo enredo do filme a segregação racial é apresentada de forma bem determinante na sociedade americana.

Os negros sentavam-se na parte detrás dos ônibus; além disso, nos bares, lanchonetes, bairros, banheiros, espaço público entre outros, havia a marca da segregação. O conflito racial está presente e é muito forte no filme, ainda que essa temática não seja a sua premissa principal. Permite-nos inferir que, o conflito ou o preconceito racial, impediram muitos americanos de demonstrarem que poderiam fazer a diferença, caso tivessem tido uma chance como a do personagem Thomas.

O Dr. Blalock conhece Thomas no Hospital, lugar em que conseguiu emprego para ser zelador no Laboratório de Cirurgias Experimentais Vanderbilt. Esse laboratório utilizava de cães para experimentos médicos e a atividade de Thomas era manter o canil limpo e os cães bem tratados. Mas, ele não abandonou a sua paixão pela medicina e curioso, em busca de conhecimento, ele, entre um afazer e outro, devorava os muitos livros de medicina que se encontrava no laboratório.

Isso atraiu a atenção do Dr. Blalock que observava, atentamente, a vontade de Thomas em aprender. Com isso, o Médico pediu que Thomas pinçasse os tubos de ensaio. Primeiro com a mão direita e depois com a esquerda. Ele, com segurança, além de pinçar os tubos, conseguiu colocá-los em seus devidos lugares. Foi promovido. Thomas passou a ser assistente nas cirurgias experimentais do Dr. Blalock.

O Cirurgião percebe em Thomas mais que um simples homem negro, mas uma pessoa de grande talento e de fácil aprendizagem. Quando Blalock se tornou cirurgião-chefe do Johns Hopkins Hospital, levou consigo Vivien por causa de sua paixão por medicina e habilidade com os instrumentos cirúrgicos.A relação dos dois extrapola a profissional e começa uma forte amizade.

Onde você vê riscos, eu vejo oportunidades.
Dr. Alfred Blalock

Na América racista de sua época, Thomas, que era negro, causava reações de indignação nos médicos do Hospital ao circular de jaleco branco. Afinal ele não passava de um faxineiro. Ele, por ser negro e não diplomado, não podia nem mesmo entrar no centro cirúrgico. Usar branco era sinônimo de conhecimento, de poder. Tornavam esses médicos “quase deuses”.  Thomas, autodidata, por meio da observação, estudo e dedicação, aprendeu e contribuiu com técnicas inovadoras na medicina. A parceria de Thomas e o Dr. Blalock resultava em desenvolvimento e aperfeiçoamento de instrumentos para cirurgias cardíacas.

 Numa época cheia de preconceitos e dificuldades, o processo da pesquisa e da cirurgia cardíaca foi um marco na medicina moderna. Isso porque o coração, naquela época, era considerado intocável e inoperável. O Dr. Alfred assumiu a missão de pesquisar uma solução para uma doença conhecida como “Síndrome do Bebê Azul”. Essa síndrome também é conhecida como Tetralogia de Fallot, onde o coração da criança possui um defeito que acarreta grande dificuldade de oxigenação do sangue, com isso o bebê adquire uma cor arroxeada (cianose) e sofre de falta de ar. Thomas, movido por sua paixão, desafiou a ciência e o preconceito dos médicos e contribuiu com as suas ideias para a resolução do problema.

 

Ao lado do Dr. Blalock foram os primeiros a realizar cirurgias no coração de pessoas vivas no maior Hospital dos Estados Unidos, o conceituado Hospital Hopkins. O Dr. Blalock repetiria o procedimento em outros pacientes, mas com Thomas de pé num banquinho atrás do médico, vendo tudo por sobre seu ombro e dizendo-lhe o que fazer.

Mesmo assim, o reconhecimento de suas conquistas/descobertas no campo científico, que deveria ser irrestrita e acima de tudo não discriminada, ecoou com as marcas simbólicas no homem que era negro, de periferia, sem curso superior. O reconhecimento para sociedade, americana, burguesa, obviamente deveria ser branca e “civilizada”.

Como era de se esperar, os créditos pelo sucesso das intervenções cirúrgicas ficaram somente com o Dr. Blalock. A parceria de Thomas e o Médico perdurou por quase 40 anos e só muitos anos depois o trabalho de Thomas foi reconhecido. Após a morte do Dr. Blalock, em 1964, Thomas permaneceu Hospital por mais 15 anos trabalhando no Laboratório. Somente em 1976, Thomas foi condecorado com um título de Doutor Honorário, mas  devido a restrições, ele recebeu um título de Doutor em Direito e não em Medicina. Thomas também foi nomeado para o corpo docente da Johns Hopkins Medical School como Instrutor de Cirurgia.

Além de narrar a trajetória de Thomas e do Dr. Blalock, o filme toca num ponto que merece a nossa atenção: o modo como a  religião lida com o avanço da ciência. Esse é um conflito da época que perdura até hoje. Temos religiões que não permitem que a ação do homem interfira na vida (a exemplo de uma transfusão de sangue). Ainda, temos os grupos fundamentalistas, que a partir de uma “guerra santa” explodem a si e aos outros em nome de “Deus”. Além disso, temos o crescimento e expansão das “doutrinas” religiosas são cada vez maiores. Mas qual é a causa desse crescimento? Talvez, pudéssemos pensar se este crescimento é advindo da fé e religiosidade ou uma opção pela ausência de perspectivas na vida, pela falta de referência, entre outros motivos que podem ser oriundos de uma estrutura social desigual, excludente, racista, machista etc.

 

 De modo geral, o filme traz elementos significantes que vão além de uma grande lição de humanidade, pois é baseado na história real de duas pessoas que são bem distantes no tocante à formação cultural, política e econômica, mas que tem como princípio usar do conhecimento para salvar vidas.

”Quase Deuses” nos faz refletir sobre as nossas atitudes, nossas ações, nosso comportamento em relação aos “outros” e ainda em como ler a realidade a partir de um contexto específico, mas que não está deslocado do geral. Assim, observamos as relações políticas, econômicas, culturais, sociais, religiosas e principalmente no campo científico, sem perder de vista as dimensões do particular (individual) e do coletivo (sociedade). Ou seja, um esforço qualitativo para ver e ler os fenômenos sociais, as intersubjetividades e os sentidos dos sujeitos.

 

FICHA TÉCNICA:

QUASE DEUSES

Título original: Something the Lord Made
Gênero: Drama
Elenco: Alan Rickman, Mos Def, Mary Stuart Masterson, Kyra Sedgwick, Merritt Wever
Direção: Joseph Sargent
Duração: 01h50
Ano: 2004

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As faces da guerra nas lentes de Robert Capa

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“Para mim, Capa vestia os trajes de luz de um grande toureiro, mas nunca para matar;
como grande guerreiro, ele embatia generosamente por si próprio
e
pelos outros em meio a um furacão.
Quis a fatalidade que fosse derrotado no auge de sua glória.”
Henri Cartier-Bresson

Robert Capa em Paris, 1952. Foto: Ruth Orkin

O testemunho visual do fotógrafo Robert Capa confirma a sua própria fé na capacidade do homem em persistir e triunfar. Obstinado, buscava superar seus limites quando o assunto era a documentação fotográfica. Obsessivo, queria a imagem mais verossímil possível e não media esforços para atingir seus objetivos. No campo de batalha, ia além do que a capacitação técnica dos aparelhos fotográficos da época permitia… Capa chegava perto, se aproximava da sua “presa”.

Robert Capa em atividade de documentação fotográfica

De posse de uma Leica 35mm, seus movimentos eram rápidos e discretos, a sagacidade com que se mobilizava o permitia focalizar rostos e gestos, o que nos permite, a cada mergulho em sua obra, experimentar uma sensação de envolvimento, como se estivéssemos presentes com ele na guerra. Uma das fotografias mais famosas de Capa mostra um combatente voluntário do governo espanhol sendo baleado. Sentimos a morte chegar com essa imagem. Caímos antes dele. Em 1936, quando foi publicada, ninguém jamais tinha visto uma imagem que transmitisse a tragédia com tanta proximidade, simultaneidade, verdade.

A morte de um legalista, próximo ao cerco de Muriano (fronte de Córdoba),
por volta de 5 de setembro de 1936.

Em 1938, então com 25 anos, Robert Capa foi consagrado pela revista britânica Picture Post como “o melhor fotógrafo de guerra do mundo”. Passados mais de 70 anos, críticos de fotografia acreditam que a cobertura de cinco guerras e a força de seus registros não tiram dele esse título. Sua obra é marcada por imagens que expressa um lirismo delicado e momentos decisivos que mostra a face da guerra como ela realmente foi. A guerra para o fotógrafo não possuía máscaras. Suas imagens, revestidas de sensibilidade, impressionam pelo verismo fotográfico.

Soldado americano morto por franco-atiradores alemães, Leipzig, 18 de abril de 1945

Capa tinha aversão da guerra e o que ela provocava nos indivíduos surpreendidos por ela – como ele próprio o foi. Embora fosse um homem corajoso, que se adaptava com facilidade aos rigores da vida militar nos campos de batalha, era um pacifista e não se achava capaz de se tornar um fotógrafo de guerra.  Da mesma forma que detestava os conflitos, Capa acreditava intensamente que, se a guerra tinha de ser a realidade do momento, era fundamental que o lado vencedor fosse o do bem, o da justiça.

Soldados perto de Nápoles, setembro de 1943

Em suas fotografias percebemos traços da personalidade de Capa. Com unanimidade, amigos que conviviam com ele o consideravam um homem extraordinário: generoso, perspicaz, detalhista, bem humorado. Desprezava hipocrisia e pretensão e jamais se considerou um artista. Embora suas fotografias sejam lembradas como um registro visual definitivo de acontecimentos decisivos, como o cerco de Madri, o bombardeio japonês em Hankou e a chegada dos aliados no Dia D, muitas das imagens de Capa são de uma qualidade eterna e universal, que transcendem os limites da história.

Tropas dos EUA desembarcando no Dia D em Omaha Beach, costa da Normandia, 6 de junho de 1944

Além de documentar a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), Capa passou seis meses na China em 1938 para registrar a resistência à invasão japonesa, e mais tarde prosseguiu com a cobertura da segunda Guerra Mundial (1941-1945), a Guerra de Independência de Israel (1948) e a Guerra da Indochina (1954). Enquanto fotografava as manobras francesas no delta do Rio Vermelho (Red River), Capa avançou sobre uma mina antimilitar e foi morto, em 25 de maio de 1954, aos 40 anos. A sua morte foi uma conseqüência revestida de ironia se pensarmos em seu próprio legado: “Se as fotografias não são suficientemente boas, é porque não se está suficientemente perto”.

No caminho de Namdinh a Thaibinh, 25 de maio de 1954. Uma de suas últimas fotos que Capa tirou antes de ser morto num campo minado.

Curiosidades:

  • Endre Erno Friedmann, verdadeiro nome de Capa, nasceu em Budapeste em 22 de outubro de 1913. Ativista de esquerda, foi obrigado a sair da Hungria, indo morar na Alemanha onde começou a trabalhar como assistente de revelação da Agência Dephot. Logo tomou gosto pela fotografia e começou se expressar por meio dessa linguagem.
  • O “fotógrafo americano” Robert Capa foi criação de Gerda, talentosa fotógrafa e o amor de sua vida, quando decidiu, com ela, partir para a Espanha, para apoiar a causa republicana. Lá ficou amigo de Ernest Hemingway, Martha Gellhorn e Herbert Matthews, correspondente do “New York Times”.
  • Durante a primavera e o verão de 1936, Capa cobriu o tumulto das passeatas, manifestações e ocupações de prédios parisienses durante a eleição da coalizão de liberais, socialistas e comunistas, conhecidas como Frente Popular, formada para combater o surgimento do fascismo.


Gerda Taro por Robert Capa

  • Depois que Gerda Taro, refugiada alemã que ele conheceu em 1934 foi morta por um tanque, em julho de 1937, Capa foi para Nova York visitar seus familiares e depois, em 1938, passou seis meses na China. Após seu retorno, em outubro de 1938, instalou-se em Barcelona, então bombardeada pelas tropas fascistas em rápido avanço. Algumas de suas fotografias mais emocionantes registram o êxodo da cidade para a fronteira francesa, no final de janeiro de 1939. Madrid resistiu até março, quando sua queda culminou com a vitória fascista.
  • Dos seus romances mais famosos, o mundo acompanhou o seu namoro com a atriz Ingrid Bergman (do filme Casablanca), com quem passou conturbado período. Bergman pediu que Capa a acompanhasse em Hollywood, onde ele trabalhou por algum tempo fazendo fotografias do set de filmagens de “Interlúdio” (1946), de Alfred Hitchcock.

Set de filmagens de ‘Interlúdio’ com Ingrid Bergman e a direção de Alfred Hitchcock

  • Hitchock acabou observando de perto a relação de Robert Capa e Ingrid Bergman e usou o romance como fonte de inspiração para o seu “Janela Indiscreta” em 1954. Ela, uma das mulheres mais cobiçadas da época, estava disposta a deixar o marido se ele se casasse com ela. Capa não quis. Um boêmio assumido,  prezava a liberdade a ponto de perder Ingrid para não se sentir preso.

Ingrid Bergman por Robert Capa

  • O roteirista Arash Amel vai adaptar o romance inédito “Seducing Ingrid Bergman”, escrito por Chris Greenhalgh. A obra irá retratar o tórrido e clandestino romance entre a belíssima atriz e Capa, que provocou uma mudança na imagem que o mundo tinha de atriz. A trama irá mostrar as decisões apaixonadas que fizeram Ingrid ser denunciada pelo Senado americano por causa de seu comportamento imoral. Acusada de adúltera e de mau exemplo para as mulheres americanas, ela ficou anos sem filmar nos Estados Unidos.
  • Na primavera de 1942, Capa havia percorrido os Estados Unidos de costa a costa, mas, para um fotógrafo que documentara com brilhantismo a Guerra Civil Espanhola e a invasão japonesa na China, esses trabalhos eram desestimulantes. Para ele, faltava emoção.
  • No Dia D, 6 de junho de 1944, Capa fotografou a chegada por mar das tropas americanas na costa francesa da Normandia, cujo codinome era Omaha Beach. Ele alcançou a terra com as primeiras tropas, um pouco antes do amanhecer, e fotografou os soldados enquanto avançavam numa praia fortemente protegida.
  • Com exceção de onze negativos de Capa, todos os outros foram danificados por um funcionário demasiadamente imprudente da câmara escura do escritório da Time Inc., que deixou o secador em temperatura muito alta no momento de secar os negativos.

Tropas dos EUA desembarcando no Dia D em Omaha Beach, costa da Normandia, 6 de junho de 1944.

  • As fotos de Robert Capa do Dia D inspiraram o diretor Steven Spielberg para o filme o Resgate do Soldado Ryan.
  • Em 1947, com seus amigos Henri Cartier-Bresson, David Seymor (“Chim”), George Rodger e William Vandivert fundou a famosa Magnum, uma agência cooperativa de fotografia. Foi presidente da agência de 1950 a 1953, época que dedicou seu tempo ao recrutamento e formação de jovens fotógrafos.
  • Em 1955, a revista Life e Overseas Press Club criaram o prêmio anual Robert Capa “para exímios fotógrafos com coragem e atuação excepcionais no exterior”.
  • Capa produziu em torno de 72 mil negativos e muitas imagens nunca foram publicadas. Parte de seu acervo está disponível para consultas no Robert Capa Archive localizado noInternational Center of Photography.

As balas abriam buracos na água a minha volta,
e eu corria em direção da proteção de aço mais próxima
.”
Robert Capa

Tropas dos EUA desembarcando no Dia D em Omaha Beach, costa da Normandia, 6 de junho de 1944.

Ainda era muito cedo e bastante escuro para conseguir boas fotos,
mas a água e o céu cinzas fizeram daqueles homens,
que se esquivam por entre o design surrealista antiinvasão
montado por especialistas de Hitler, uma imagem muito forte
.”
Robert Capa

Robert Capa em ação no Dia D

Referências:

CAPA, Robert.Images of Wart. Nova York: Grossman, 1964.
CAPA, Cornell e WHELAN, Richard. Children of War, Children of Place: Photographs by Robert Capa. Boston: Bullfinch Press/Little, Brown, 1991.
WHELAN, Richard. Robert Capa: A Biography. Nova York: Knopf, 1985.
KERSHAW, Alex. Sangue e Champanhe: A Vida de Robert Capa. Rio de Janeiro: Record, 2002.

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