(En)Cena – A Saúde Mental em Movimento

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Você, que está lendo este conteúdo neste Portal, sabe o que é o (En)Cena – a Saúde Mental em movimento? Há 3 anos, comemorados no último dia 18, o projeto de extensão (En)Cena foi lançado pelos cursos de cursos de Psicologia, Comunicação Social e de Sistemas de Informação do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA.

Desde esta data, mais de mil trabalhos foram publicados nos mais diversos formatos: fotografia, desenho, roteiro, relato, entrevista, poesia entre outros. No (En)Cena, as discussões são em torno da temática da saúde mental, porém, com abordagens diferenciadas, não fixando-se apenas a conteúdos teóricos e técnicos.

Em entrevista, a professora doutora Irenides Teixeira fala sobre o projeto (En)Cena e as perspectivas do Portal para os próximos desafios.

 

Irenides Teixeira, coordenadora do (En)Cena, durante a divulgação do portal na EXPRO 2013. Foto: Arquivo (En)Cena

(En)Cena – O (En)Cena surge com o objetivo de discutir saúde mental. Afinal, o que é saúde mental? Por que essa temática foi escolhida para ser discussão?

Irenides Teixeira – Encontramos na literatura inúmeros conceitos para “Saúde Mental” que poderiam ser citados aqui, sem desprezar nenhuma das ciências do conhecimento é que a equipe do (En)Cena parte do pressuposto que Saúde Mental é a capacidade que cada sujeito tem de lidar com as adversidades do cotidiano de forma plena, sem perder a noção de Si e do Outro. A temática da Saúde Mental fez parte desde o início do desenvolvimento do projeto. Inquietações de professores dos cursos de Psicologia, Comunicação Social e de Sistemas de Informação do CEULP/ULBRA, o portal nasce basicamente da ideia de dar visibilidade a experiências que acontecem nos serviços de saúde e de saúde mental. Sabedores de que nem todas as experiências se adéquam a artigos científicos é que a equipe teceu, no coletivo, as seções que fazem parte de sua proposta. Escolhemos o 18 de maio – Dia da Luta Antimanicomial – em 2011, para lançar o portal (En)Cena – A Saúde Mental em Movimento, um espaço de troca de experiências e também um espaço de divulgação do que acontece no campo da saúde mental. O lançamento aconteceu como parte da programação do evento Teares, atividade da disciplina Projeto Experimental II – Ação Comunitária do curso de Comunicação Social cuja proposta foi promover uma campanha de conscientização sobre saúde mental. Na ocasião houve uma mesa redonda que contou com as reflexões do professor Silvio Yasui, psicólogo e doutor em saúde mental, da Universidade Estadual Paulista (UNESP); Mardônio Parente, Psiquiatra e Doutor em Psicologia; pela professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Patrícia Orfila e também pelo secretário de saúde do município de Palmas, Samuel Bonilha.

 

Equipe do (En)Cena no lançamento do portal em maio de 2011. Foto – Arquivo (En)Cena

 

(En)Cena – Qual é a grande vantagem de ser uma mídia colaborativa, em que pessoas de diversas realidades e contextos podem contribuir no desenvolvimento de conteúdos do Portal?

Irenides Teixeira – O (En)Cena já nasceu sob o viés da cultura da colaboração e do compartilhamento que ganha potência com o trabalho que fazemos nas redes sociais. Isso se deve, principalmente, por ele ser desenvolvido por professores e alunos dos cursos de Comunicação Social, Psicologia e Sistemas de Informação e ainda pelas parcerias que foram acontecendo. Para se ter ideia, estabelecemos parcerias com redes de serviços de saúde mental como, por exemplo, os CAPS de Palmas, Porto Nacional e Dianópolis; com as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde do Tocantins, com a Política Nacional de Humanização – PNH e ainda com diversas instituições de ensino.

Essas parceiras se materializam, ao longo desses três anos, na publicação de mais de 1.200 trabalhos no portal, na participação da equipe em eventos nacionais e internacionais, tais como: Encontro Nacional de Psicologia Social –  ABRAPSO, Recife (2011); X Congresso de Saúde Mental e Direitos Humanos, Córdoba, Argentina (2011); I Congresso de Psicologia do Cerrado (CONPCER); 35º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação / INTERCOM. Fortaleza – CE  (2012); Política Nacional de Humanização do SUS. Florianópolis – SC (2012), no I Encontro de Apoiadores em Humanização do Tocantins. Palmas – TO  (2012); II Congresso Internacional de Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial, Porto Alegre/RS (2012); VIII EREP Norte e Nordeste, São Luis/MA (2012). As parcerias permitiram ainda que em maio de 2012 o evento (En)Cena na Praça: Saúde Mental em Rede, em Palmas-TO, fosse um sucesso.

 

Equipe acerta os últimos detalhes do evento (En)Cena na Praça: Saúde Mental em Rede, 2012. Foto – Arquivo (En)Cena

TV Jovem Palmas na cobertura do evento (En)Cena na Praça: Saúde Mental em Rede, 2012. Foto – Arquivo (En)Cena

 

Equipe do (En)Cena comemora o sucesso do evento (En)Cena na Praça: Saúde Mental em Rede2012. Foto – Arquivo (En)Cena

A Coordenadora do (En)Cena em articulação com Terezinha Moreira e Ricardo Teixeira, Consultores da Política Nacional de Humanização – PNH durante o I Encontro de Apoiadores em Humanização do Tocantins, 2012. Foto – Arquivo (En)Cena

Acadêmicos voluntários do (En)Cena atuam na cobertura do I Encontro de Apoiadores em Humanização do Tocantins, 2012. Foto – Arquivo (En)Cena

O portal (En)Cena é apresentado aos participantes do II Congresso Internacional de Saúde Mental e Reabilitação Psicossocial, Porto Alegre/RS, 2012. Foto – Arquivo (En)Cena

O portal foi parceiro da Coordenação Estadual de Saúde Mental do Tocantins na organização do 1º Seminário Tocantinense da Saúde Mental em Movimento com o Intersetor em Palmas-TO (2012) e ainda do Ministério da Saúde e Política Nacional de Humanização – PNH no Seminário Norte de Humanização, em Manaus-AM (2013). Nesses eventos a equipe do (En)Cena foi responsável pelo registro, documentação e divulgação nas redes sociais. A atuação, bem como os resultados, chamou a atenção do Ministério da Saúde que proporcionou que 18 pessoas da equipe fizessem parte da cobertura do evento IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família em Brasília/DF, em março de 2014.

 

Equipe do (En)Cena durante a cobertura do evento Seminário Norte de Humanização em Manaus, 2013. Foto – Arquivo (En)Cena

            Equipe do (En)Cena em momento de descontração durante o evento Seminário Norte de Humanização em Manaus, 2013. Foto – Arquivo (En)Cena

 

Equipe do (En)Cena com o pessoal da PNH que organizou o evento Seminário Norte de Humanização em Manaus, 2013. Foto – Arquivo (En)Cena

Equipe do (En)Cena durante a cobertura do evento IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família em Brasília, 2014. Foto – Arquivo (En)Cena

Integrantes da Equipe do (En)Cena presentes na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica / Saúde da Família em Brasília, 2014. Foto – Arquivo (En)Cena

Nessas oportunidades encontramos pessoas com experiências de vidas diferenciadas que nos proporcionaram relatos que foram transformados em textos, áudios, vídeos, desenhos e fotografias. É muito gratificante ver pessoas de várias partes do Brasil e com várias formações culturais falando sobre loucura, saúde mental.

(En)Cena – O Portal (En)Cena já publicou mais de 1.200 conteúdos em diversos formatos: áudio, vídeo, texto, poesia, fotografia, desenho… Qual é a importância de trabalhar com essa liberdade de linguagens?

Irenides Teixeira – Desde o início do projeto pensamos em diferentes seções que oportunizassem manifestações distintas de pensamento sejam por professores, acadêmicos, artistas, profissionais e usuários dos serviços de saúde. A diversidade de seções bem como a liberdade de linguagens foram essenciais para a riqueza de temas veiculados pelo (En)Cena.

As seções do portal são: Cenas (publicação de trabalhos imagéticos – fotos, desenhos, pinturas e videos), Desterritorialize-se (publicação de textos sobre temas variados, não ligados a seus campos de conhecimento e que tragam a saúde mental como eixo transversal.), Em Cartaz(espaço destinado a resenhas, críticas e reflexões a respeito de obras – tais como: livros, filmes, exposições etc. – e eventos atuais que sejam relevantes para o tema da saúde mental), Entrevistas(divulgação de entrevistas feitas com pesquisadores, autores, gestores e especialistas em saúde, assim como as realizadas com usuários, familiares de usuários e profissionais de serviços de saúde mental, e que digam respeito ao tema de interesse do portal), Escritos (espaço que visa à publicação de narrativas que se deixam moldar em poesias, contos, crônicas, romances e narrativas), Insight (local reservado para textos teóricos, reflexões, críticas e comentários, de autoria da equipe do portal ou não, sobre temas contemporâneos que tragam a saúde mental como eixo transversal), Personagens (ambiente destinado a histórias de personagens, reais ou fictícios, pessoas ou instituições, que têm suas vidas e trajetórias relacionadas de alguma forma à saúde mental ou à loucura), Roteiros (seção onde se pode divulgar relatos de experiências ocorridas em serviços de saúde que, embora fujam do formato acadêmico tradicional, impõem-se por sua necessidade e por sua importância na produção do conhecimento relacionado à área), Trilhas (uma espécie de sarau musical sobre o passado, o presente e o “proto-futuro” da produção discursiva em Saúde Mental e onde se publicam fragmentos de sonoplastia textual datados, mas com reverberação atemporal, e interpretados-dublados sob a estética da peça radiofônica). Temos ainda Notícias e Reportagens que divulgam os eventos e acontecimentos na área e ainda temas de interesse da sociedade.

(En)Cena – Estar imerso no contexto universitário faz do (En)Cena uma plataforma de comunicação mais dinâmica?

Irenides Teixeira – Acredito nas possibilidades que temos de estabelecer redes. Nessa lógica, é inegável que estarmos na Universidade amplia a possibilidade de contatos. Cada colaborador, com a sua rede, se faz importante nessa tessitura subjetiva de conhecimento em prol da temática Saúde Mental. Por exemplo, sou graduada em Processamento de Dados, Comunicação Social e em Psicologia (três áreas de conhecimento distintas), tenho formação em Fotografia, Turismo e Arteterapia, fiz mestrado e doutorado em instituições diferentes. Isso significa conhecer pessoas com olhares distintos acerca do cotidiano. Nessa lógica, um convida o outro e assim tecemos esse projeto que já não faz parte mais de uma equipe de professores e alunos que pensaram o projeto. O (En)Cena é parte de cada um que publica textos, que curte, que comenta, que compartilha, que divulga, que sugere temas – dessa prática é que surgiram as séries temáticas –, que apóia de alguma forma para que ele permaneça no ar. Manter a meta de publicar um trabalho por dia é tarefa árdua que sem esses colaboradores seria impossível continuar.

 

   

   

   

   

   

   

   

   

Séries temáticas lançadas no (En)Cena

 

(En)Cena – No dia 18 de maio, também lembrado o dia da luta antimanicomial, o (En)Cena completou 3 anos de lançamento. Pra você, qual foi ou é a maior conquista do Portal?

Irenides Teixeira – É certo que ultrapassar a marca dos 1.200 trabalhos publicados, de ganharmos dois prêmios regionais e um nacional como melhor portal e de termos em média 12 mil acessos semanais nos deixa envaidecidos, mas não dá a dimensão da importância que o (En)Cena tem na vida das pessoas. Desenvolvemos ao longo desses três anos tecnologias de cuidado para com o outro que seria impossível relatar aqui. Recebemos mensagens com caráter de denúncia por maus tratos em hospitais, de pedido de ajuda para compreender alguns transtornos mentais, de agradecimento por trazer à web temas que os interessam e ainda mensagens de apoio. Isso nos motiva a continuar.

O (En)Cena é ainda espaço de formação, pois são os alunos que desenvolvem as artes visuais que dão vida ao portal, são eles que ilustram as poesias, que fotografam, que editam, que entrevistam, que divulgam nas redes sociais, que desenvolvem a interface. São esses alunos, orientados por seus professores,  que em seus estágios e TCCs pensam melhorias para o portal.

São várias as conquistas que corro o risco de não conseguir elencar aqui. Mas, não podia deixar de citar algumas instituições de ensino que se fizeram presente no portal com a publicação de trabalhos: UNB – UNIFENAS – UFRGS – USP – UDF – UNITINS – UFBA – IF-SC – UNICAMP – UNITRI – UFVJM – UNIMAR ITPAC/PORTO – UFSC – UERJ – UFT UNISINOS – UEL – UFC – UFMG – UFES – UFPB – CESUMAR UNIFOR – UFRJ – UNEB –  UNESP – UFSM – UFPR – IFES – PUC/CAMPINAS – UNI/POTIGUAR entre outras.

Hoje, acessado em mais de 120 países, podemos dizer o portal é um território em que pessoas ligadas ou não aos serviços de saúde militam pela causa.

(En)Cena – Qual a sua expectativa para o projeto?

Irenides Teixeira – O (En)Cena atingiu números muito altos que dá a dimensão de seu crescimento. Para se ter ideia, em 2011 tivemos 39.658 acessos, em 2012 155.342 e em 2013 chegamos a 366.055. Em 2014 esse número vem aumentado progressivamente. Isso só aumenta a nossa responsabilidade com todos os que acreditam na proposta. Quanto as nossas expectativas, posso citar algumas que fazem parte dos nossos planos e que já estão em desenvolvimento: aplicativos para dispositivos móveis, o terceiro layout do portal e tornar o (En)Cena acessível para os deficientes visuais e ainda disponibilizar alguns dos conteúdos em outros idiomas. Sonhos a parte, acredito que mantermos o (En)Cena funcionando já é um desafio que vale a pena.

 

                    

O primeiro layout lançado em maio de 2011 e o segundo layout lançado em dezembro de 2012.

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Roda de conversa online discute “Fóruns”

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Webnário é organizado pela Política Nacional de humanização – Ministério da Saúde (Frente de Mobilização Social, Rede humanizaSUS e Núcleo Técnico)


Amanhã, a partir de 16h, acontecerá a roda de conversa com transmissão online “Fóruns: a produção de encontros e a construção de redes”. O webnário é realização da Política Nacional de Humanização (PNH).

Na oportunidade, o arquiteto, político e ativista social brasileiro Chico Whitaker debaterá sobre a importância e necessidade de produção de redes e mobilização de Fóruns para uma Política Pública de Saúde construída de forma participativa e co-gerida.

O debatedor propõe uma discussão com base no conceito de que Fóruns são “”espaços abertos de encontro horizontal – sem portanto dirigentes, porta-vozes ou hierarquizações – de movimentos e organizações da sociedade civil que visam, autonomamente em relação a partidos e governos, a superação do neoliberalismo”, explica Whitaker.

Para assistir ao debate e participar das discussões, acesse o site www.redehumanizasus.net e encontre a página da sala de eventos da Rede humanizaSUS. O webnário também contará com a presença de Ricardo Teixeira – coordenador da Rede humanizaSUS, Stella Maris Chebli – coordenadora da frente de Mobilização Social da PNH, Rodrigo Presotto – participante do Fórum estadual da Luta antimanicomial de São Paulo e Maria Cristina Silveira Prado Martins (Iyálorixa Cristina d’Osun) da RENAFRO (Rede Nacional de religiões afro-brasileiras e saúde).

Sobre Chico Whitaker

Inspirado na Teologia da Libertação é um dos organizadores do Fórum Social Mundial e um dos idealizadores do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral. Em 2006, ele recebeu o Prêmio Nobel Alternativo por sua luta a favor da justiça social.

*Com informações da Rede Humaniza SUS

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Cofo da leitura e escrita na escola indígena

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Despertar nas crianças o interesse pela leitura e escrita. Com este objetivo, desde o início deste ano, o projeto de extensão Cofo da leitura e escrita é desenvolvido na escola indígena Waikarnãse, localizada na Aldeia Salto, no município de Tocantínia (TO) a 90 quilômetros da capital Palmas.

Na entrevista, a professoraMaria Aparecida da Rocha Medina, mais conhecida como Cidinha, conta ao (En)Cena sobre o despertar do projeto desenvolvido pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA) e como são esses encontros com as crianças Xerente.


Professora Maria Aparecida da Rocha Medina, coordenadora do projeto Cofo da leitura e escrita na escola indígena. Foto: Arquivo do Projeto

 

(En)Cena – Para entendermos, o que é o cofo? Por que o projeto tem esse nome?

Maria Aparecida – O Cofo é um artefato indígena, confeccionado com folhas de buriti. Ele é utilizado no transporte de mandioca, milho, banana e outros alimentos da roça para a aldeia. Quando cheio, passa-se a alça do cofo na testa é assim que é transportado.

Considerando o valor cultural e utilitário do cofo, colocamos o nome do projeto de “Cofo de leitura”. Isso porque o cofo está sendo pouco utilizado, uma vez que a maneira dos indígenas não desenvolve mais as atividades tradicionais: plantar roça e transportar os alimentos. Muitos que antes viviam do cultivo da roça exercem  funções que ocupam grande parte do tempo, como cargo de funcionários públicos, prestação de serviço em outras funções. Acabam por comprar grande parte dos  alimentos consumidos na aldeia em supermercado das cidades de Tocantínia.

 


Professora Maria Aparecida apresentando o Cofo da Leitura às crianças indígenas. Foto: Arquivo do Projeto

Entretanto, para ressignificar o sentido do cofo e a sua importância no contexto cultural do povo Xerente, pensou-se em colocar esse nome do projeto, atribuindo ao tradicional cofo o artefato de transportar livros. Durante o momento de leitura na aldeia, a professora enche o cofo de livros e passa entre as crianças para que elas escolham o livro que desejam ler.

 


Cofo utilizado para guardar literaturas. Foto: Arquivo do Projeto

(En)Cena – E por qual motivo escolheu-se trabalhar com as crianças Xerente da escola indígena Waikarnãse?

Maria Aparecida – Nos 18 anos que estou em Palmas, o primeiro povo que tive contato foi com os Xerente. Embora tenha admiração e carinho pelos demais povos: Karajá, Javaé, Krahô, Apinajé, Krahô kanela, por meio do trabalho no Magistério Indígena. Mas é com os Xerente que o contato é mais freqüente e a cada ano a nossa convivência se fortifica. Talvez seja por ser mais próximo a Palmas e a gente está sempre se encontrando. Seja em trabalho na aldeia com os alunos da Ulbra, seja em atividades culturais que venham desenvolver na universidade. Em nível de universidade, já são quase 10 anos de parceria. Nós levamos acadêmicos à aldeia, e de vez em quando, vem um professor indígena para vivenciar praticas didáticas e metodologias na universidade.

 


Aluna da escola Waikarnãse procurando livros no Cofo. Foto: Arquivo do Projeto

 

Além da estreita relação com o povo Xerente, por meio dos projetos e trabalhos acadêmicos, também passei um tempo na aldeia Salto Kripre, desenvolvendo minha pesquisa de mestrado. Esse contato mais direto de permanência convivendo com eles proporcionou-me rica experiência e grandes descobertas, antes eram apenas superficiais.

Durante a pesquisa com os professores e as observações em sala de aula, vi o desafio que é alfabetizar um Akwe, uma vez que as crianças são falantes da língua materna, portanto, alfabetizadas nas duas línguas.


Contação de histórias desenvolvida pelo projeto. Foto: Arquivo do Projeto

 

A educação dos povos indígenas, tradicionalmente ágrafos era um atributo dos mais velhos que transmitiam os conhecimentos oralmente aos mais novos. Na cosmologia tradicional Xerente, segundo Medina (2013), ler era uma ação cotidiana de decifrar os sinais da natureza, o movimento das coisas e a relação destas com os espíritos protetores que os ajudavam a compreender ao menor sinal da natureza e interpretar os seus significados.

Com o acesso à sociedade ocidental e a intensa relação de contato fez-se adentrar a escrita e a leitura na cultura a partir da catequização, depois, como estratégia para dialogar com os brancos. E, atualmente, o acesso à leitura e a escrita são direitos garantidos da Constituição de 1988, por meio de uma educação diferenciada, bilíngue e intercultural.

A leitura e a escrita, como em todas as modalidades e níveis de ensino é essencial para o desenvolvimento de habilidades e competências na formação de leitores e escritores, bem como no exercício de cidadania. Dessa maneira, é um processo em construção.


Crianças escolhendo livros no Cofo. Foto: Arquivo do Projeto


Atividade de desenho e pintura com crianças Xerente. Foto: Arquivo do Projeto

 

Na escola Xerente, as crianças são alfabetizadas na língua materna. Só a partir do 3º ano inicia-se o processo de construção da letro- escrita da Língua Portuguesa, embora o contato com a 2ª língua é uma constante na aldeia. Ao acessar os textos da 2ª língua no livro didático, elas deparam com leituras extensas e descontextualizadas da realidade sociocultural, dificultando ainda mais a compreensão, conforme declarou um professor indígena durante a minha pesquisa.


Encontro do projeto na Aldeia Salto. Foto: Arquivo do Projeto

 

Diante do exposto, uma maneira de contribuir com essa comunidade, a qual me acolheu e sempre está aberta às ações pedagógicas dos cursos de licenciaturas da ULBRA, foi desenvolver esse projeto em parceria com o cacique e diretor da escola e a e a equipe de professores. Sem eles é impossível alguém de fora desenvolver um projeto, principalmente quando se trata da leitura, considerando a língua e a cultura diferentes dos atores principais.

 


Atividade do projeto de extensão. Foto: Arquivo do Projeto

 

Segundo os PCNs (1998), a leitura tem como finalidade formar leitores competentes, capazes de compreender o mundo e descrevê-lo por meio da escrita, em diferentes contextos socioculturais, onde o uso do texto tem o seu significado. Na sociedade ocidental, historicamente letrada, o exercício da leitura e da escrita sempre foram vistos como atributos de poder da classe dominante. Enquanto o “outro” conformava-se apenas com a codificação das frias letras do seu nome, desenhadas para legitimar o poder dos dominadores por meio do voto. Para os indígenas, apropriar dessas habilidades é escrever a sua própria história.


Alunos buscando livros no Cofo. Foto: Arquivo do Projeto


Criança concentrada fazendo leitura. Foto: Arquivo do Projeto


Crianças durante atividade desenvolvida pelo Cofo. Foto: Arquivo do Projeto

(En)Cena – De quais formas o projeto alcançará o objetivo de desenvolver a habilidade da leitura e escrita nestas crianças? Quais são as metodologias utilizadas?

Maria Aparecida – Sabemos que é na relação com a comunidade social que a criança desenvolve as múltiplas linguagens: corporal, verbal oral e não verbal e a escrita. A linguagem corporal e verbal é bem aflorada nas crianças, o que facilita a escrita e a leitura. As crianças gostam de livros. Elas se encantam os livros, principalmente com relação às produções recentes de histórias e mitos na língua Akwen, escritos pelos próprios professores e lideranças Xerente. Essas produções estão inseridas na sala de aula e fazem parte do processo de formação de leitores.

Na 2ª fase do ensino fundamental são cobradas dos alunos a leitura e a escrita escolarizada. Como estes têm planos de prosseguirem os estudos, de certa maneira isso os estimula o envolvimento no projeto.


Aluna da escola indígena Waikarnãse em momento de produção textual. Foto: Arquivo do Projeto

Por isso, acreditamos que esse projeto na escola indígena pode colaborar no desenvolvimento dessas competências, principalmente com as crianças do 4º e 5º anos, os quais são mais exigidos quanto a leitura, a compreensão e interpretação de textos nos anos seguintes. Nesse caso é necessário articular metodologias e técnicas de leitura, partindo da experiência e expectativa de mundo das crianças indígenas, envolvendo diferentes gêneros literários contextualizados, textos verbais e não verbais produzidos por eles próprios, pois a competência linguística e a prática discursiva se constroem produzindo e lendo textos significativos.

Nessa perspectiva inicialmente fizemos um diagnóstico para saber o nível de leitura e de escrita que se encontram os alunos da escola para assim, selecionarmos e confeccionarmos livros e histórias correspondentes a cada nível, sendo estimulados a potencializá-los gradativamente. Pretendemos, com isso, desenvolver uma prática que favoreça a reflexão crítica e a lógica do pensamento sistêmico das crianças, estabelecendo relações com as atividades culturais, os mitos, as histórias e crenças da cosmologia Xerente.


Leitura e contação de histórias com crianças Xerente. Foto: Arquivo do Projeto

Para melhor dinamizar o trabalho, atendemos os alunos em horário contrário ao da aula. Os alunos do turno vespertino participam do turno matutino do Cofo de Leitura e os alunos da manhã, participam do no período vespertino. Há momentos em que se envolvem todos os alunos daquele turno, como também, momentos com atividades específicas aos alunos.

O trabalho consta da estimulada a oralidade com contação de histórias dos antepassados pelos pais e anciãos da comunidade. Algumas dessas histórias serão gravadas e transcritas na língua materna, o que vai depender da disponibilidade de tempo de algum professor para escrever em Akwen. Com isso, pretendemos manter a tradição de sentar-se nos terreiros para ouvir e contar histórias como acontecia até alguns anos, antes da chegada da televisão e demais tecnologias na aldeia, como lembra um professor.

Esperamos que as crianças da escola Waikarnãse, na aldeia Salto, envolvidas nesse projeto sejam despertadas para o prazer da leitura e da escrita, significando as histórias tradicionais e desenvolvendo competências que levem a mudanças sociais e intelectuais no processo de ensino e aprendizagem.

(En)Cena – Como têm sido o contato entre vocês? A escola recebeu bem o projeto e as práticas dele? Há alguma resistência?

Maria Aparecida – A minha relação com o diretor que é também cacique da aldeia e com os professores é boa, respeitosa. Com eles tenho aprendido muito. Inclusive a compreender e respeitar o tempo deles.   Enquanto na nossa sociedade capitalista, a correria é desenfreada, na sociedade Akwe o tempo é vivenciado com qualidade, o suficiente para manter as relações comunitárias entre os clãs.


Troca de experiências entre alunos da escolaWaikarnãse. Foto: Arquivo do Projeto


Crianças Xerente durante atividade do projeto. Foto: Arquivo do Projeto


Alunos produzindo textos e ilustrações. Foto: Arquivo do Projeto

(En)Cena – Qual é a reação das crianças da escola Waikarnãse durante os encontros? Elas gostam das atividades do Cofo?

Maria Aparecida – As crianças Xerente são extremamente curiosas. Quando o carro do Cofo de Leitura chega à aldeia, elas saem correndo, carregando os irmãos menores.  É aquela correria. Às vezes nem esperam organizar o cofo e o material do projeto.  Elas pegam aleatoriamente os livros. E passam rapidamente as folhas, logo trocam e se deixar, passa todos os livros e gibis. Com jeito e ajuda de um professor que fala na língua, as crianças se acalmam e organizamos o trabalho que sempre inicia com uma leitura de história por professor ou ancião. Depois é que iniciamos com a leitura de contos, histórias, mitos. Ao final as crianças espontaneamente recontam a história do seu jeito.


Chegada da equipe do projeto Cofo à escola indígena. Foto: Arquivo do Projeto


Alunos participando das atividades de leitura e produção de texto. Foto: Arquivo do Projeto


Crianças lendo durante momento do projeto. Foto: Arquivo do Projeto

 

(En)Cena – Por causa do projeto Cofo de Leitura e Escrita, o povo da Aldeia Salto vive novidades e novas práticas de leitura e escrita. Você acredita que esse projeto é também uma maneira de reforçar as tradições deste povo?

Maria Aparecida – Esse é um dos objetivos do Cofo: envolver a comunidade, e estamos trabalhando para que isso ocorra. Para tanto, foram distribuídos livros para as crianças lerem em casa com a família. O livro foi colocado em uma bolsa reciclada. Ela assinou uma ficha de locação do livro. O intuito é a criança ter esse contato individual e familiar por meio do livro. Assim conhecerá diferentes gêneros literários. E, posteriormente essa prática ajudará a crianças descobrir o gênero predileto é mais atrativo para sua leitura pessoal. No próximo encontro cada criança fará um comentário do livro que levou para casa. Vamos ver como será esse processo!


Projeto Cofo da Leitura e Escrita. Foto: Arquivo do Projeto


Crianças que participam do Cofo. Foto: Arquivo do Projeto

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EXPRO – Exposição das Profissões

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Escolher a profissão não é tarefa fácil. Alunos de ensino médio, por vezes, têm dúvidas sobre qual curso de graduação optar, qual área seguir. Em alguns casos, adolescentes e jovens têm visões limitadas sobre a área de atuação dos cursos e os possíveis caminhos da profissão. Pensando nesta realidade, o Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA) realiza, há 16 anos, a Exposição das Profissões – EXPRO.

A EXPRO, como é conhecida, é um evento institucional que acontece em três dias. Durante esse período, os cursos de graduação do CEULP/ULBRA se dispõem em stands no hall da instituição e expõem, aos visitantes, o que cada área faz, como atua no mercado de trabalho, com o que pode trabalhar, quais habilidades desperta no acadêmico. E essas explicações são feitas por alunos universitários dos respectivos cursos.

Em entrevista ao (En)Cena, a professora e coordenadora de Extensão do CEULP/ULBRA Cristina Filipakis explica como esta exposição acontece e como consegue atingir os objetivos propostos para o evento.

 

cristina
Professora Cristina Filipakis, coordenadora de extensão do CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – Os alunos de ensino médio que chegam à EXPRO normalmente já têm em mente a profissão a seguir no futuro?

Cristina Filipakis – A maioria não. Eles chegam com muitas dúvidas, sem conhecer as opções que são oferecidas e o que de fato cada profissional faz. Os poucos que já possuem um curso em mente geralmente escolhem algum dos “cursos da moda”, como Medicina, Engenharia Civil e Direito, sem avaliar aptidão e perspectiva do mercado de trabalho para os próximos 4 ou 5 anos, prazo médio para que eles concluam um curso superior.


Curso de Educação Física na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Estética e Cosmética na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Enfermagem na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Ciências Contábeis em exposição. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Psicologia na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – Você acha que o contato entre aluno de ensino médio e acadêmico de ensino superior atinge de forma melhor o objetivo da EXPRO?

Cristina Filipakis – Sim, pois o objetivo da EXPRO é a divulgação das diversas áreas que cada profissional pode atuar e o contato dos alunos de ensino médio com os acadêmicos de ensino superior permite que estes últimos transmitam-lhes a experiência da escolha de uma profissão, os desafios da educação superior e as vivências obtidas nas disciplinas teóricas e práticas do curso escolhido.

 


Curso de Serviço Social em dinâmica na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Direito na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

Curso de Estética e Cosmética em atividade na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – A movimentação que a EXPRO desencadeia na universidade também pode ser considerada um dos benefícios da Exposição?

Cristina Filipakis – Sim, os benefícios são evidentes, pois a Exposição permite que os visitantes conheçam o ambiente universitário e vislumbrem a possibilidade de fazer parte dele e o CEULP tem a oportunidade de mostrar à comunidade em geral e público interno (não só aos alunos de ensino médio) todas as áreas de formação que oferece.


Curso de Administração expondo na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Engenharia de Minas expõe maquete itinerante na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – E qual é o benefício da EXPRO para os acadêmicos que expõem os respectivos cursos? O que a Exposição acrescenta na formação universitária deles?

Cristina Filipakis – Os acadêmicos veteranos dos cursos têm a oportunidade de repassar experiências vividas na universidade, de prestar auxílio a jovens que estão passando por um momento de indecisão (momento esse que foi há pouco tempo passado pelos próprios acadêmicos), de conhecer melhor a sua própria escolha e de até mesmo repensar a escolha feita, pois eles também têm a possibilidade de conhecer os outros cursos e suas especificidades.

 


Alunas no stand do curso de Biomedicina na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Fisioterapia na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Arquitetura e Urbanismo na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


(En)Cena expondo o projeto na Exposição. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Psicologia expondo na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

(En)Cena – Você também é professora dos cursos de Ciência da Computação e Sistemas de Informação do CEULP/ULBRA. No stand desses cursos, quais são as reações dos alunos que visitam e conhecem um pouco da realidade da profissão?

Cristina Filipakis – A curiosidade sobre tecnologias e assuntos relacionados é comum e no stand destes cursos as mais diversas formas de se aplicar a tecnologia são demonstradas. A computação é uma ciência ampla, que pode ser aplicada a todas as outras áreas de conhecimento e este fato faz com que os visitantes percebam que poderão atuar não só na computação, mas sim em outras áreas que talvez também tenham interesse.

 


Alunas participando de dinâmica desenvolvida pelo curso de Sistemas de Informação na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Stand do curso de Sistemas de Informação na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Alunos do ensino médio conhecendo stand do curso de Sistemas de Informação na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

(En)Cena – Há resultados de alunos que visitaram a EXPRO e, a partir dela, decidiram em qual curso de graduação ingressar?

Cristina Filipakis – Sim, temos relatos de vários acadêmicos que fizeram suas escolhas a partir da EXPRO e hoje fazem questão de trabalhar de forma voluntária na Exposição, pois entenderam a importância de um evento destes para a informação dos jovens sobre as profissões e o mercado de trabalho que os espera.

 


Curso de Ciências Contábeis em exposição. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Direito na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Biomedicina em atividade na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Engenharia de Minas na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA


Curso de Educação Física na EXPRO. Foto: ACS – CEULP/ULBRA

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Informática e Sociedade

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“Proporcionar contato direto com a tecnologia da computação a pessoas que, pela exclusão social, ficaram as margens deste avanço tecnológico”. Este é o objetivo do projeto Informática e Sociedade, iniciativa dos cursos de Sistema de Informação e Ciência da Computação do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP).

O projeto existe desde 2004 e atende, por meio de cursos ministrados pelos universitários, em média 200 pessoas por ano. Entre esse público, estão idosos do Centro de Convivência dos Idosos, jovens carentes de escolas públicas de Palmas e alunos da APAE; e para cada grupo, há um formato diferente de atuação.

O (En)Cena entrevistou o professor doutor Edeilson Milhomem, um dos coordenadores do projeto Informática e Sociedade. Na entrevista, Edeilson fala sobre os impactos do projeto na realidade das pessoas atendidas e também sobre os trabalhos desenvolvidos pelos acadêmicos como forma de sensibilização para causas sociais.

 


Professor Edeilson Milhomem, um dos coordenadores do projeto Informática e Sociedade

 

(En)Cena – Qual é a importância deste projeto, que promove inclusão digital?

Edeilson Milhomem – O projeto Informática e Sociedade possui duas vertentes de atuação:  (1) inclusão digital de pessoas carentes, com necessidades especiais, idosos, em situação de risco social ou que, por algum motivo, não têm acesso à tecnologia da informação; e (2) a qualificação profissional de jovens e adolescentes de comunidades carentes, que visa despertar o interesse dos jovens pela TI, visto que há um mercado vasto a ser explorado no que tange a Inovação Tecnológica, com amplas possibilidades de negócios e trabalho. Assim, este projeto contribui diretamente para a redução da exclusão digital de pessoas e o aprimoramento pessoal e profissional.

Além disso, como o projeto possui uma participação ativa dos discentes dos cursos de Computação do CEULP, estes têm a oportunidade de exercitar o conhecimento tecnológico adquirido em sala de aula em prol de uma causa social (um exemplo prático de exercício social), aproximando duas realidades em que o próprio conhecimento tecnológico é tido como um fator de distanciamento social.

 

Crianças da APAE familiarizando-se com o computador, a internet e com jogos educativos
Foto: Arquivo do Projeto

(En)Cena – Este processo de democratização do acesso às tecnologias da informação é necessário na capital tocantinense? Por que vocês escolheram os três públicos (idosos do Centro de Convivência dos Idosos, jovens carentes de escolas públicas de Palmas e alunos da APAE) para o desenvolvimento do projeto?

Edeilson Milhomem – Um dos fatores que contribuíram para a evolução desta nossa sociedade moderna em um espaço de tempo tão curto foi, com toda certeza, o surgimento de novas tecnologias, a facilidade que as pessoas têm de comunicar-se, de ter acesso às diferentes fontes de conhecimento, de interagir entre elas, de produzir conhecimento. Nesta direção, na nossa capital e nem tampouco em no estado não há diferença. Precisamos de pessoas que estejam seguindo a mesma direção que o mundo segue: o que “respira” tecnologia.

O público do projeto foi escolhido por dois motivos: propiciar aos idosos e às pessoas com necessidades especiais a possibilidade destes terem um contato direto com um “mundo” antes desconhecido por eles, que é o baseado em novas tecnologias; e despertar o interesse dos jovens carentes pela área de TI, uma vez que estes, hoje, têm muitas possibilidades (por exemplo, a partir de iniciativas do governo brasileiro) de ingressarem em um programa de graduação. Além disso, a área vem “ganhando” um destaque cada vez maior, já que as necessidades do mercado aumentam constantemente e a quantidade de profissionais que são formados atualmente não supre as necessidades do mercado.

 

Idosa em momento de aprendizado por meio do projeto informática e Sociedade
Foto: Arquivo do Projeto

(En)Cena – Quais são as abordagens para esses três públicos? O que eles aprendem nos encontros/cursos?

Edeilson Milhomem – Aos idosos e alunos da APAE são oferecidos cursos de microinformática básica, tais como, Microsoft Word, Microsoft Excel, Pesquisa na Internet e Redes Sociais, além de atividades lúdicas realizadas através do computador. Já aos jovens que buscam uma qualificação profissional, são oferecidos cursos de Introdução à Programação; Arduino e Desenvolvimento para Dispositivos Móveis.

 

Curso profissionalizante para alunos do ensino médio de colégio de Palmas – TO
Foto: Arquivo do Projeto

(En)Cena – Os acadêmicos dos cursos de Sistemas de Informação e Ciência da Computação são instrutores dos cursos, certo? Além do aspecto técnico, como o projeto Informática e Sociedade pode contribuir para a formação desses universitários?

Edeilson Milhomem – Sim, são estes alunos que ministram os cursos: ora de forma voluntária, ora como bolsistas. Assim, eles desenvolvem naturalmente, habilidades como organização e sistematização de conteúdo para treinamento em grupo, além da preocupação com o impacto de uma ação social da natureza deste projeto.

 

Acadêmico ministrando curso
Foto: Arquivo do Projeto

 

Acadêmico ministrando curso
Foto: Arquivo do Projeto

Eles desenvolvem também a habilidade da prática docente, trabalhando conceitos de didática e metodologia e colocam em prática o conhecimento adquirido em sala de aula em prol de uma causa social.

(O (En)Cena publicou, recentemente, o relato de Leandro Andrade como instrutor de curso no Projeto Informática e Sociedade. Confira também a experiência dele)

(En)Cena – Que impactos o projeto Informática e Sociedade promove na vida da comunidade atendida? A autonomia pode ser um dos resultados?

Edeilson Milhomem – Os principais impactos causados pelo projeto à sociedade são a redução da exclusão social e o desenvolvimento de habilidades baseadas em tecnologias em jovens carentes sem oportunidades.
Com o exercício e a prática em despertar o interesse destes pela área de tecnologia da informação naturalmente, estes conseguem autonomia para o desenvolvimento de novos conhecimentos, uma vez que passarão a ter discernimento de como buscar as diferentes fontes de conhecimentos que atualmente estão disponíveis através da internet.

 


Idosos em momento de curso desenvolvido pelo projeto informática e Sociedade
Foto: Arquivo do Projeto

 

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Akádemo – uma lição de vida

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Trote solidário e de forma voluntária. Essa é a proposta do projeto de extensão Akádemo, realizado pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA). Também chamado de gincana solidária, o Akádemo é uma forma diferenciada de recepcionar os acadêmicos ingressantes no CEULP/ULBRA. Sem humilhação, constrangimento ou agressividade, o trote solidário busca colocar o acadêmico em contato direto com a sociedade para despertar nele o senso de responsabilidade e compromisso social. A cada início de semestre, os calouros da instituição são convidados e motivados a participar do trote que já está na 16ª edição.

 

Em parceria com órgãos públicos e particulares, o Akádemo desperta no calouro o interesse de, desde o início da vida acadêmica, auxiliar a comunidade que lhe cerca na necessidade que tem, explica o professor Antonio Cesar Mello, coordenador do projeto. O trabalho em equipe também é um dos aspectos cultivados no Akádemo e é por meio dele que todo o projeto é desenvolvido, completa Cesar.

Em entrevista ao (En)Cena, o professor Antonio Cesar Mello, coordenador do Akádemo, conta sobre os benefícios de um projeto de extensão nesse formato e os resultados obtidos com o trote solidário.

 


Professor Antonio Cesar Mello, coordenador do projeto Akádemo

 

(En)Cena – Por que o CEULP/ULBRA escolheu recepcionar o calouro com o Akádemo, e não da forma tradicional?

Antonio Cesar Mello – Infelizmente não são raras as notícias de violência nos trotes universitários. Os trotes “tradicionais” levam o calouro a situações de humilhações, seja física, psíquica ou social.  A cada semestre temos noticias das humilhações que os calouros são submetidos em outras instituições de ensino.  Buscar pintar a cara e parar nos semáforos pedindo dinheiro para depois financiar a festa dos veteranos é no mínimo degradante ao ser humano e àquele que busca mudar, por sua postura e conhecimento, o mundo ao qual faz parte para melhor.

O CEULP/ULBRA adotou uma política de vanguarda na Capital ao assumir para si a responsabilidade do “Trote” retirando do meio universitário as condutas deploráveis de submissão dos calouros a ações desmedidas e violentas.


Calouros e veteranos em momento de descontração

 

(En)Cena – O Akádemo também é conhecido como ‘gincana solidária’. Os calouros aderem a essa ideia?

Antonio Cesar Mello – Temos notado que os calouros vêm aderindo a cada edição com mais afinco e responsabilidade. Todos temos dentro de nós uma semente do bem. Quando demonstramos o “Trote Solidário”, a adesão destas pessoas que buscam um mundo melhor é imediata.

 


Prova da música


Bandeira feita por participantes do Akádemo


Aluna da APAE em apresentação aos calouros no Akádemo

 


Calouros no Akádemo


Professor Antonio Cesar Mello em momento de reflexão com calouros

 

(En)Cena – Os alunos veteranos também participam do Akádemo? De que forma?

Antonio Cesar Mello – Os veteranos desenvolvem um papel fundamental para a existência e êxito do projeto.  Além do auxilio na execução e formatação do Projeto, eles são o pilar de divulgação e sustentação do Projeto Akádemo.

 


Veteranos do Akádemo


Veteranos do Akádemo

(En)Cena – De que forma a comunidade palmense é beneficiada com o projeto? A quem o Akádemo abraça?

Antonio Cesar Mello – Além de proporcionarmos aos acadêmicos a possibilidade de um crescimento subjetivo tremendo, os aproximamos de instituições a fim de que efetivamente verifiquem suas funções, e estas instituições são nossos parceiros permanentes, são elas: Organização Jaime Câmara, 22 BI – Exército Brasileiro, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), Polícia Militar, Hemocentro, Corpo de Bombeiros,  Fazenda da Esperança, ATTM, DISMICO’s, Banco de Leite Humano. Estas são as que demonstram o interesse em serem realmente conhecidas por aqueles que um dia serão os formadores de opiniões.


Café da manhã na APAE, oferecido por calouros


Prova no 22º Batalhão da Infantaria – Exército


Calouros conhecendo o 22º Batalhão da Infantaria – Exército


Prova do Corpo de Bombeiros no Akádemo


Calouro fazendo doação de sangue no Akádemo

(En)Cena – E durante os dois dias de evento, o que o Akádemo pretende mostrar aos alunos que recém ingressaram no ensino superior? Qual é a importância de ações como essas na realidade deles?

Antonio Cesar Mello – Muitas vezes buscamos ações quantitativas para demonstrarmos benefícios e resultados. O Akádemo vai além disso.  Quando levamos os calouros a conhecerem a sociedade que os circunda, as instituições e suas pessoas e peculiaridades, passamos a desenvolver nestes estudantes uma transformação emocional tremenda, vinculando-os à sua comunidade e motivando-os a colaborar para a solução dos problemas levantados. Este é o real papel de uma universidade. Trabalhar a pessoa como um todo, e nada melhor do que começar esta transformação no ingresso destas pessoas a uma nova e fascinante vida, a vida acadêmica.

 


Prova do adesivaço, em campanha sobre Lei Seca


Café da manhã na APAE


Prova da dança


Prova da dança


Prova do Corpo de Bombeiros com calouros


Blitz educativa realizada no Akádemo

 

(En)Cena – Pra você, como coordenador do projeto, qual é o melhor resultado que o Akádemo traz?

Antonio Cesar Mello – Olha, como Coordenador, e acima de tudo como pessoa que gosta de pessoas, tenho aprendido a cada edição; a cada desafio, a cada sorriso, a cada lágrima, a cada emoção, a cada grito, que vale muito a pena ajudar as pessoas a verificarem que o mundo vai muito além dos livros e que a superação com amor, companheirismo,  respeito e fé  fica tudo muito mais fácil.


Calouros festejando a vitória no Akádemo

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Fisioterapia Aquática na APAE de Palmas – TO

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Alongamentos, fortalecimento muscular e treino funcional no meio aquático são algumas das práticas realizadas no projeto de extensão Fisioterapia Aquática na APAE de Palmas – TO do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA). Coordenado pela professora fisioterapeuta Luciana Furtado, o trabalho do projeto com a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) teve início em 2010, quando o CEULP/ULBRA construiu uma piscina terapêutica especial para este tipo de modalidade na Associação. Desde esta data, os alunos apaeanos são atendidos semanalmente por acadêmicos do curso de Fisioterapia e supervisionados por docentes da mesma área.

O (En)Cena entrevistou a professora Luciana Furtado, coordenadora do projeto Fisioterapia Aquática na APAE de Palmas – TO, para conhecer como essas atividades promovem qualidade de vida às crianças apaenas.

 


Professora Luciana Furtado, coordenadora do projeto Fisioterapia Aquática na APAE de Palmas – TO

 

(En)Cena – Em quê consiste a fisioterapia aquática? Essa atividade terapêutica exige preparação de algum recurso para a realização dela, como, por exemplo, uma piscina específica ou material diferenciado?

Luciana Furtado – A fisioterapia aquática consiste na prática de técnicas fisioterapêuticas específicas para o meio aquático utilizadas para a promoção da reabilitação física e funcional de pacientes. Os atendimentos devem ser realizados num espaço destinado a atividades aquáticas que seguem normas da vigilância sanitária e contam com uma piscina com estrutura e temperatura da água específica para esses atendimentos.

Criança sendo atendida por acadêmicos do projeto

 

(En)Cena – Por que vocês escolheram a comunidade apaeana para as práticas do projeto e por que a escolha da fisioterapia aquática?

Luciana Furtado – A maioria das crianças da APAE tem deficiência física que compromete seu desenvolvimento motor adequado e consequentemente causa prejuízo na deambulação e realização de suas atividades funcionais. Certos princípios físicos da água associados a manejos fisioterapêuticos específicos conferem maior liberdade e funcionalidade aos movimentos que seriam difíceis de serem executados no solo, o que permite, de acordo com a doença de base, estimular o ganho progressivo de flexibilidade, força, equilíbrio e de habilidades funcionais.

A instituição APAE conta uma piscina terapêutica e a disponibiliza para profissionais fisioterapeutas de instituições parceiras para que possam atender a grande demanda de crianças com deficiência encaminhadas pelos médicos para esse atendimento.


Alunos da APAE recebendo atendimento

(En)Cena – Como é a aceitação dos alunos da APAE? Eles demonstram gostar das atividades desenvolvidas pela fisioterapia aquática?

Luciana Furtado – É visível o bem estar e a alegria das crianças durante os atendimentos, o que motiva os acadêmicos voluntários a se interessarem por essa área de atendimento.

 

(En)Cena – Que resultados o projeto obteve no que diz respeito à saúde física e psíquica das crianças atendidas? Houve melhora de qualidade de vida?

Luciana Furtado – Nesses anos de realização do projeto temos observado resultados de melhora física, funcional e até mesmo relatos de melhora do bem estar psíquico pelos professores cuidadores dessas crianças, aspectos esses, fundamentais na garantia de uma boa qualidade de vida a essa população.

 

(En)Cena – Os pais e cuidadores das crianças atendidas também acompanham o processo terapêutico desenvolvido na APAE? Qual é a importância desse acompanhamento? Eles são orientados sobre cuidados ‘pós-hidroterapia’?

Luciana Furtado – A maior parte das crianças vai até a escola através do ônibus escolar e passam o dia inteiro na instituição enquanto seus pais trabalham. Assim há pouco contato desses pais com os profissionais da saúde atuantes nessa instituição, mas muitas vezes passamos orientações destinadas aos pais através dos professores cuidadores dessas crianças, e quando os pais podem comparecer, assistem aos atendimentos e recebem orientações e são esclarecidos quanto a seus questionamentos no cuidado à suas crianças. Já o contato e orientações com os professores cuidadores é pontual a cada atendimento.


Acadêmicos atendendo alunos apaeanos

(En)Cena – Na grade curricular do curso de Fisioterapia existe alguma disciplina específica sobre hidroterapia? Como têm sido a participação dos acadêmicos como voluntários nesse trabalho?

Luciana Furtado – Há no curso de Fisioterapia do CEULP-ULBRA a disciplina de Fisioterapia Aquática onde há teoria e prática dos princípios e técnicas que regem esses atendimentos. Os voluntários mostram-se motivados, participativos e atuantes em todo o processo de reabilitação proposto pelo projeto de extensão.

 


Alunos voluntários do projeto Fisioterapia Aquática na APAE

 

(En)Cena – A vivência ‘universidade e comunidade’, na Fisioterapia Aquática na APAE de Palmas, é geradora de bons resultados?

Luciana Furtado – Os resultados são uma via de mão dupla: tanto as crianças beneficiam-se da reabilitação pela fisioterapia aquática, quanto os acadêmicos, professores e a instituição CEULP-ULBRA em si, beneficia-se das atividades filantrópicas realizadas na APAE, construindo nos acadêmicos a responsabilidade social, humanística e ética embasada no conhecimento científico e vivenciada no vínculo terapeuta-paciente.

 


Atendimentos hidroterapêuticos na APAE

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TERRAQUARIUM – Educação e Meio Ambiente

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“Fomentar educação ambiental vai muito além de abraçar árvores e plantar mudas”. É com este pensamento que o projeto de extensão Terraquarium: Educação e Meio Ambiente, do Centro Universitário Luterano de Palmas (CEULP/ULBRA), se desenvolve. Sob coordenação da professora pesquisadora Conceição Previero, há 13 anos o Terraquarium atua no desenvolvimento e elaboração de ações voltadas para a conscientização de problemas ambientais. Essa atuação abrange a comunidade universitária e a população palmense por meio de atividades tangíveis e de forma interdisciplinar.

Por meio de práticas diversificadas para públicos diferentes entre si, o Terraquarium propõe ações com o intuito de adotar a filosofia dos 3 Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Também aposta no fomento da educação ambiental junto a escolas do ensino público e privado do município e na revitalização de espaços não utilizáveis.

Em entrevista ao (En)Cena, a professora doutora Conceição Previero fala sobre o projeto, as ações desenvolvidas e os desafios de trabalhar o tema de educação ambiental com a comunidade acadêmica e a sociedade a qual o Terraquarium atende.

 

Coordenadora do projeto Terraquarium, professora Conceição Previero.
Foto: Michel Rodrigues

(En)Cena – Há quanto tempo o projeto Terraquarium é realizado? Em qual contexto ele surge?

Conceição Previero – O projeto Terraquarium foi iniciado em 2001, quando da construção da Usina Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães. Na ocasião o CEULP/ULBRA foi responsável pelo resgate dos animais silvestres no enchimento do lago da Usina. O Terraquarium foi o centro de recepção dos animais feridos ou localizados em locais inadequados (residências, locais públicos etc), para posteriores cuidados, quando necessários e retorno ao seu habitat. Também foram resgatadas espécies da família Orchidaceae (as orquídeas), estas foram “fixadas” nos caules das plantas conforme suas afinidades. Após o término do resgate alguns animais permaneceram por um período nesse espaço e em 2009 foram destinados os últimos espécimes para outros Centros de Recepções. O Terraquarium foi um marco para o CEULP/ULBRA frente à importância do trabalho realizado. Até os dias de hoje somos contatados para recepção de animais silvestres. No ano de 2011 foram retomadas as atividades, com foco na Educação Ambiental. Hoje, a equipe de estagiários que fazem parte desse projeto, realizam trabalhos diretos ou complementares, são eles: Ícaro Gonçalves Santos, Filipe Cabral Lima Ferreira, Tatiana Gomes Cesar, Lucivania de Sousa Santos, José Adailton Rodrigues de Sousa, Daniella Martins Pimenta, João Guilherme Teixeira e o biólogo Pedro Henrique Campelo.

 


Espécies resgatadas – Foto: Solange Alves

Visita monitorada– Foto: Solange Alves

 


Animais silvestres apreendidos – Foto: Solange Alves

 


Tratamento de animais silvestres – Foto: Solange Alves

 

(En)Cena – O Terraquarium, em seu objetivo principal, promove Educação Ambiental. Qual é esse conceito?

Conceição Previero – A promoção da Educação Ambiental é vista como consequência das práticas desenvolvidas. É um trabalho permanente, contínuo e transversal. É um conceito que vai além do modismo que a mídia impõe sobre ser politicamente correto no que tange a questão ambiental. Não adianta abraçar uma árvore em protesto a sua permanência e no dia a dia não incorporar práticas que venham a condizer com o seu discurso.

(En)Cena – “Terraquarium”, além de ser o nome do projeto, é um espaço físico e área verde no campus do CEULP/ULBRA. De que forma esse local é utilizado e qual o diferencial dele no contexto palmense?

Conceição Previero – A cobertura vegetal na área do Terraquarium é uma parcela preservada do Bioma Cerrado. A fisionomia da vegetação mostra uma grande riqueza em números de espécies, como: pequi, murici, cajuí, mangaba, ipê, jatobá, araçá, grudento, folha larga, puçá, fava de bolota, etc. A especulação imobiliária tem colocado o Cerrado no chão. No entorno do campus do CEULP/ULBRA fica evidente referida prática. As imagens de satélite evidenciam os fatos. Dentro deste cenário se verifica a importância deste espaço, não somente para a comunidade acadêmica da Instituição, mas para toda a comunidade no seu entorno.  Há de se considerar que a área preservada tem sido refugio para algumas espécies de animais do Cerrado, frente aos desmatamentos no entorno.

 


Imagens do Terraquarium e entorno no ano de 2009

 

Imagens do Terraquarium e entorno no ano de 2014

 

(En)Cena – Por meio de quais atividades práticas o projeto atinge os objetivos da educação ambiental?

Conceição Previero – O lúdico é o que mais evidencia a atividade. Por exemplo: ao explanarmos sobre a fava de bolota, espécie símbolo do Tocantins, a uma criança, onde ela poderá tocar as sementes, receber uma muda para plantio e na sombra da árvore da mesma espécie, haverá uma percepção diferenciada. Outro exemplo: Fazemos uso de animais silvestres taxidermizados (empalhados), onde espalhamos exemplaresao longo de uma trilha que percorre o interior da mata em questão e as crianças os localizam e os identificam. A resposta é espetacular frente à fantasia que as crianças criam diante do cenário.  Sob estas condições falamos sobre a importância da preservação e o porquê dos animais taxidermizados. Para conhecimento do comportamento de espécies nativas do Cerrado, quanto a armazenabilidade das sementes, germinação, crescimento das plantas, desenvolvemos pesquisas científicas, cujos resultados são apresentados em eventos técnicos-científicos e socializados nos diferentes grupos sociais. Na campanha “Adote uma árvore” distribuímos em 2013 aproximadamente 3000 mudas de espécies nativas e frutíferas em parceria com a Prefeitura de Palmas. Ao adotar uma muda a pessoa recebe orientação sobre o plantio e um certificado se comprometendo a zelar pelo desenvolvimento da espécie. O espaço também tem sido utilizado pelo Exército e Corpo de Bombeiros em provas do projeto Akádemo: Uma lição de vida e eventos institucionais.

 


Tirolesa realizada pela equipe do Corpo de Bombeiros

 

Falsa baiana realizada pela equipe do Corpo de Bombeiros

 


Pista de orientação realizada pelo Exército

 

Clínica sobre comportamento humano e meio ambiente


Clínica sobre resíduos da construção civil

 


Pesquisa com espécies nativas – Fava de bolota e orelha de macaco

 


Caroço do pequi para extração da semente

 

Sementes de pequi

 

Mudas de pequi – Pesquisa

 

Mudas de cajá – Pesquisa

 

Frutos de murici para extração das sementes

 


Plântulas de cupuaçu – Pesquisa

 

Educação Ambiental Alunos do SESC- Ensinando como plantar espécies de hortaliças

 


Plantio de mudas dentro do Projeto Akádemo

 

Campanha distribuição de mudas AGROTINS 2013 – Projeto “Adote uma Árvore”

 


Mudas para doação – Projeto “Adote uma Árvore”

 

Campanha do Projeto “Adote uma Árvore”

 


Campanha do Projeto “Adote uma Árvore”

 


Promoção da Educação Ambiental com animais taxidermizados – AGROTINS 2013

(En)Cena – Qual a importância de discutir ‘relação do indivíduo com o meio ambiente’ na universidade? Há dificuldades para tratar do assunto com acadêmicos e a comunidade em geral?

Conceição Previero – A transversalidade do tema meio ambiente perpassa em todas as áreas de conhecimento. A maioria dos acadêmicos envolvidos no projeto é do curso de Ciências Biológicas, mas temos percebido um despertar em outras áreas, como o Direito Ambiental, Psicologia Ambiental, Mídia Ambiental, Saúde Humana e Ambiente. Impossível pensar no indivíduo isolado do meio ambiente e onde esta o indivíduo há problemas ambientais. É lamentável, por exemplo, nos depararmos com resíduos sólidos e jogados no chão quando as lixeiras estão do lado. Basta ter olhos para ver que isto acontece também nos espaços da nossa Instituição. Fizemos uma coleta de resíduos na Instituição e depositamos em local de fácil visibilidade, na expectativa de que mexeria com os cidadãos, mas a resposta não veio. Não acredito em respostas em curto prazo no que tange a EDUCAÇÃO + Ambiental. Sempre nos questionamos o que fazer??? A resposta é continuar e fazer das práticas um novo despertar. Educar dá trabalho, por isso que eu acredito que a promoção da Educação Ambiental Infantil é mais promissora.

 


Resíduos sólidos coletados nos estacionamentos e jardins do CEULP/ULBRA

 

(En)Cena – Enfim, qual é a expectativa do Terraquarium? O que ele pretende despertar no âmbito acadêmico e social?

Conceição Previero – Parto do pressuposto que é preciso vivenciar o nosso discurso, o que nem sempre é fácil. Não estamos prontos e o trabalho deve ter sensatez. Há uma discussão entre ambientalistas, por exemplo, que a divulgação de uma lista de espécies ameaçadas pode ajudar na extinção, com fotos, locais em que ocorrem, e seus hábitos de vida. Isto nos põe em xeque sobre determinadas práticas. É preciso reavaliar sempre. Acredito que parte da comunidade acadêmica do CEULP/ULBRA desconhece a existência da área nativa e preservada que temos dentro do campus e no desenvolvimento do projeto “Terraquarium: Educação e Meio Ambiente”. Um grande desafio é deixar/fazer com que as pessoas conheçam o projeto. A promoção da catálise diante das práticas será em resposta ao catalisador – indivíduo.

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Renato Di Renzo – TAMTAM na arte, inclusão e humanização

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O poder transformador da arte é capaz de projetos simples e renovadores. Habilidades que, por vezes são tidas como secundárias em cada indivíduo, têm força para modificar realidades coletivas em novos mundos.

Renato Di Renzo tem paixão por esse conceito: qualidade de vida para todos sem restrições.  Arte educador e pedagogo, é um dos idealizadores e presidente da Associação Projeto TAMTAM, de Santos – SP. Sociedade inclusiva e diversa permeia a proposta de trabalho e de vida de Renato que há 25 anos começou o trabalho no Projeto.

Foto: Adriano Marinho Ribeiro

Com início em 1989, o TAMTAM surgiu com uma intervenção pública municipal na extinta Casa de Saúde Anchieta, em Santos. O objetivo da ação era humanizar o espaço em nome da dignidade humana. Ricardo relata que os pacientes da Casa eram extremamente maltratados, malcuidados. Havia 180 leitos para mais de 600 pessoas. Não havia atendimento decente. O eletrochoque punitivo era seguidamente utilizado por qualquer pessoa, sem motivo. Muitos morriam. “Era discabível”, conta. Então, há 25 anos, houve uma grande injeção para a luta antimanicomial: “o TAMTAM foi um arranque na história da saúde”, conclui Di Renzo.

“Viemos para resgatar o homem enquanto desejo de voltar a viver na sociedade, família, trabalho. Enfim, a viver loucamente junto com os outros loucos da cidade”

O projeto articulou o que todos os loucos, de todas as áreas e estilos, sempre almejaram: começou dentro do hospício mas foi além das grades físicas e sociais que cercam esse universo.  O projeto, como explica Renato, é um eco na sociedade. Não há trabalhos somente com pacientes diretos, diagnosticados com determinadas especificidades. TAMTAM trabalha com o quê esses agentes provocam em outras pessoas. Então, “estamos formando redes”.

Ao longo dessa história, atendimentos diversos foram realizados nas áreas de saúde mental, prevenção às doenças, educação, acesso a arte e cultura, diversidade e inclusão social. O Projeto lida com formas de expressão que, de acordo com o arte educador, trazem benefícios físicos e psíquicos. “Você dizer, de alguma forma ,o que te incomoda, é terapêutico”, afirma. Dentre as atividades já realizadas pelo grupo, Renato sempre (se) afirmou no conceito de que o trabalho na educação e na saúde são uma aposta ‘no outro’ e por vocação. Esse argumento explica a perseverança do trabalho no TAMTAM.

As pessoas entendem ‘comunidade’ como “morar em determinado bairro”. Isso é diminuir o conceito que ela representa.

Atualmente, o projeto atende diretamente cerca de 200 pessoas. Além deles, o TAMTAM auxilia a família de cada paciente e lida com todos os universos do sujeito. Humanismo, inclusão e diversidade são trabalhados fora do universo ‘clínica’, inseridos no dia-a-dia e vivência diária. Explicam que é “um trabalho calcado na troca, na cumplicidade e no brilho outrora escondido/apagado em diversas pessoas”.

Muitas pacientes do TAMTAM são chatos, dizem. Di Renzo explica esse julgamento pelos resultados já obtidos. Os trabalhos, oficinas e cursos desenvolveram e potencializaram habilidades por meio de uma formação muito mais ampliada, que incluía as atividades da ONG. Os pacientes são chatos porque são politizados, buscam argumentos, discutem e são cidadãos ativos.

O projeto promove ações inclusivas em áreas do conhecimento que vão de dança à reciclagem e o desafio do manejo nas mais diversas áreas é nítido. Renato Di Renzo tem resposta instantânea para a provocação: todo projeto pode acontecer. A questão é: como vai acontecer.

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