“Beleza Americana” e o ideal de felicidade

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Beleza americana, filme ganhador de cinco oscars no ano de 2000, (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia), inicialmente nos deixa em conflito, ficar ao lado do Lester, personagem interpretado por Kevin Spacey, um pai de família “fraco” que se sente atraído pela amiga adolescente da filha, essa sendo o típico estereótipo adolescente: insegura, irritada e confusa, ou ao lado de sua esposa Carolyn, interpretada por Annette Bening, que é extremamente controladora, gananciosa e mãe ausente, formando uma família americana comum e feliz, com certeza o sonho de todos os jovens apaixonados.

Logo no começo, Lester se encanta por Angela, vários fatores contribuem para isso, a insatisfação com seu casamento, a monotonia da rotina, o desejo de se arriscar, a saudades da sua juventude. Esse novo sentimento o faz perceber que nunca é tarde demais para recomeçar, em busca disso, ele pede demissão, começa a se exercitar, compra um carro.

Época conhecida na Psicoterapia Junguiana como processo de Individuação, onde o adulto intermediário reconhece que a vida tem fim e tenta dar voz as atividades que uma vez teve que negligenciar, envolvendo momentos decisivos para o self, e ao contrário das metas do relógio social, não são impostas pela sociedade.

Fonte: https://bit.ly/2D0kIf7

De acordo com a Teoria da personalidade de Sigmund Freud, o Id são os instintos irracionais, as punções selvagens que nascem com o indivíduo, o Ego é responsável por satisfazer esses instintos de forma racional e menos imediatista, o Superego são esses instintos se adequando a vivência em sociedade, percebe-se esses três aspectos no maior conflito do protagonista: o relacionamento com uma adolescente menor de idade, sendo considerado moralmente errado, e para piorar ele é um homem casado e pai de família, esse também foi o motivo de tanto fascínio e inquietação por parte do público. Tal dilema de fazer o que eu quero versus o que a sociedade impõe que eu faça, não afligem somente Lester mas todos os demais personagens.

Lester tem 42 anos, nessa idade, a maioria das pessoas costumam pensar que já viveram tudo que tinham para viver, só resta auxiliar os filhos na jornada deles e esperar a morte. Contudo, Lester foge do padrão socialmente estabelecido para a idade dele, busca reestruturar sua vida e reconstruir projetos, cenário exemplificado na frase de Simone de Beauvoir: “Um futuro limitado e um passado a ser resgatado”. Como também, não há problema algum em seguir o padrão, o problema é quando começa a acreditar que esse é o único caminho, e você não será feliz se não o alcançar.

Fonte: https://bit.ly/2R7L5mw

Angela, amiga da filha de Lester, é o estopim para mudança de vida dele e consequentemente de toda a família. Ao contrário da imagem de popular, destemida e conquistadora que tenta passar, Angela, como a maioria das adolescentes, é inexperiente, insegura com o corpo, e seu maior medo é ser uma garota comum. Carolyn, esposa de Lester, parte do mesmo princípio de Angela: viver uma vida à espera da aprovação alheia, tentando vender uma imagem de suas vidas pessoais, vivendo de aparências e transformando suas vidas em uma grande propaganda.

A personagem Carolyn reveza entre momentos do puro autocontrole, contendo seus sentimentos, á momentos de surtos emocionais. Ela busca fugir da sua própria representação de falsa felicidade, ao ter um caso com um corretor de imóveis famoso, que oferece o que ela aspira: liberdade e identificação, por ele ser alguém ambicioso como ela.

Fonte: https://bit.ly/2CwEIoJ

Filme criado em 1999, à 19 anos atrás, mas não deixa de ser atual. Visto que tal situação vivenciada por Angela e Carolyn é uma característica marcante das relações da sociedade contemporânea. É imensamente perigoso fazer escolhas baseadas no consentimento alheio, isso nos coloca dentro de uma caixa, limitando e oprimindo, ficando cada vez mais longe da autossatisfação e autoestima adequada.

Outro exemplo dentro do próprio filme, e ouso dizer o mais surpreendente ao mesmo tempo que é obvio­, é sobre o vizinho Coronel Fitts, sua frieza e crueldade são uma máscara para esconder seus desejos, sua homofobia uma capa para esconder sua homossexualidade. O que reforça a ideia que aquilo que você odeia nos outros é o que você reprime, Sigmund Freud chama isso de Projeção, um mecanismo de defesa no qual você, inconscientemente, se reconhece no outro e passa a repudiar tal característica, retirando uma carga que seria originalmente sua e projetando no outro.

Fonte: https://bit.ly/2JeP3a3

A única beleza da vida é mostrada através do namorado da filha de Lester, que passa seu tempo livre filmando as pessoas, tentando captar sua vulnerabilidade, através das lentes de uma câmera. Ele apresenta uma nova maneira de ver a arte, um olhar peculiar sobre a beleza, que está em coisas simples e até mesmo consideradas feias. Quando ouvimos que temos que aproveitar os pequenos momentos, e admirar a beleza da vida, ainda somos superficiais, por isso há estranheza quando o filme mostra que a real beleza está no vento, na morte de um pássaro, na morte de alguém. Lester percebe isso no momento de sua morte, o sorriso do personagem principal ao saber que a filha estava bem, transmite como ele poderia ter sido feliz se tivesse escolhido ser feliz e não só se deixar levar pela maré.

O que causa maior identificação do público com o filme é o fato de não ter a típica divisão de mocinhos e vilões, representando a realidade nua e crua, com alguns exageros para ressaltar o aspecto cômico e dramático do filme, mostrando que todos têm defeitos e acertos. Através da letargia envolvente sobre a história da vida de Lester, o filme expõe defeitos humanos, como egoísmo, vaidade, mentiras, preconceito, traição, e dramas comuns, sem tentar florear a realidade.

FICHA TÉCNICA DO FILME

Fonte: https://bit.ly/2yX7ETb

Direção:  Sam Mendes
Roteiro: Alan Ball
Elenco:  Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Wes Bentley, Mena Suvary
Ano: 1999

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(En)Cena recebe oficina de produção textual

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Prof de Psicologia e Editor do (En)Cena ministra oficina aos voluntários do portal

Na tarde de 25 de setembro, no Ceulp, o Prof. Me. Sonielson Luciano de Sousa, ministrou oficina de produção de texto aos acadêmicos de psicologia que são voluntários no portal (En)Cena, com o objetivo de aprimorar as habilidades e informá-los sobre o estilo desse projeto. 

Foto: Irenides Teixeira.

De acordo com o Prof. Sonielson, é de suma importância estabelecer um padrão tanto linguístico como estético para definir a imagem que o portal quer passar e principalmente envolver os leitores no texto e melhor acolhê-los. 

Foto: Irenides Teixeira.

A primeira oficina para os novos voluntários do (En)Cena, além de capacitá-los para atuar no portal, irá auxiliar na futura produção de artigos acadêmicos 

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Em um relacionamento sério com o futuro: do ensino médio para a faculdade

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Durante muito tempo, os alunos desde pequenos vão sendo preparados para ingressar no mercado de trabalho, principalmente no ensino médio, então, comigo não foi diferente. A adolescência é marcada por um período de grandes transformações no tripé de nossas vidas: o biológico, o psicológico e o social, além disso, nessa fase também é o momento de tomar uma decisão de enorme magnitude entre incontáveis opções que levam a diferentes caminhos: a escolha de um curso profissionalizante.  

Diante disso, há várias incógnitas à serem solucionadas, o desejo de realizar minhas próprias vontades ou satisfazer as expectativas dos meus pais. Seria egoísmo escolher a primeira opção? Ou eu não tenho perseverança o suficiente para fazer o que eu gosto, assim, seguindo os sonhos dos meus pais? Conciliar os dois parece impossível.  Ademais, a ideia que será desempregado quando concluir o ensino médio, nos faz ansiar por resultados, então começa a luta contra o tempo, e a preparação para o temido ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). 

Entretanto, simples conteúdos não aprendidos da maneira certa e no momento em que foi passado, que na hora parecia coisa pequena, no terceiro ano vira uma bola de neve, pronta para te soterrar ao menor sinal da palavra vestibular. Pensando que, se eu pudesse escolher, voltaria para o ensino fundamental e faria tudo de novo, com um novo olhar. Como o vira-tempo de Harry Potter ainda não existe, isso não foi uma opção, a única saída foi correr atrás do tempo perdido e fazer uma escolha.  

Fonte: https://bit.ly/2DvfJnQ

Para fazer tal escolha, enquanto concluía o ensino médio e fazia cursinho, tive que lidar com o medo do fracasso, com o medo de não me encaixar no curso, o medo de não ter sucesso depois de graduada. Tentando me autoconhecer quando todo mundo já me dizia quem sou e o que devo fazer. 

Adultos olham para os adolescentes e dizem: “Isso é frescura, quero ver quando chegar na minha idade”. Adolescentes olham para crianças e dizem: “Você já está achando difícil? Espere quando chegar ao segundo grau”. Quando foi que nos tornamos insensíveis a dor do outro? O que nos faz humanos não é nossa capacidade de empatia? Seus problemas não faz os problemas dos outros menores. Cada ser sente de uma maneira, sua subjetividade o faz único.  

Fonte: https://bit.ly/2QVNQYJ

Quando escolhi Psicologia, a base da eliminação dos outros cursos, esses medos foram embora, porque agora eu tenho um propósito, e estudar faz sentido porque sei onde quero chegar.  E cheguei, ao entrar no Ceulp/Ulbra fiquei surpresa, definitivamente é bem diferente do ensino médio. É uma mudança que obrigatoriamente requer maturidade, porque os professores nem ninguém vão insistir que você faça o que tem que ser feito, se você não faz, você arca com as consequências.  Tudo na vida tem dificuldades, é a maneira que você olha para elas que irá definir seu futuro. Como disse Charles Chaplin: “A vida é maravilhosa quando não se tem medo dela”. 

Infelizmente, nesse texto não tem como colocar as entrelinhas, os altos e baixos, os choros e as noites sem dormir, os momentos felizes, as pessoas que me apoiaram ou as que me disseram para desistir. Mas a verdade é uma só: vale a pena. Tudo que você faz para seu crescimento individual, em qualquer área é importante, desde que seja uma pequena coisa como ler um artigo em uma revista ou tirar um ano sabático na Índia. Ainda estou no começo, mas a minha dica para você e para mim mesma é: não desista!

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Homem da sociedade ou da natureza?

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Com a rápida urbanização advinda do início do século XX, muitos utensílios foram criados para deixar o dia a dia mais prático, entretanto, ao invés das pessoas terem mais tempo livre e de qualidade, elas estão mais apressadas, preocupadas e ansiosas.

O homem na sua época de agricultor tinha que ter paciência para esperar o tempo da colheita, ficar atento aos sinais da natureza, já o homem urbano é muito imediato, consegue o alimento pronto com menos da metade do esforço que antes era feito, isso também o faz projetar essa praticidade e pressa em outras áreas de sua vida e deixa de estar conectado à assuntos relacionados a natureza pois não a reconhece como seu hábitat, deixando de se importar com o desenvolvimento sustentável e esquecendo suas origens.

Fonte: encurtador.com.br/aDNWZ

O crescente uso dos recursos naturais em prol do desenvolvimento tecnológico e econômico, é visto como algo bom, porque aparentemente traz benefícios a todos, mas é tudo um conto de fadas?

Com a ajuda da tecnologia o número de mortalidade infantil diminuiu, a medicina ficou mais eficiente, a comunicação mais acessível, mas, também contribui para o aumento da probabilidade de surgimento de transtornos psicológicos devido a correria, a necessidade de buscar sempre mais, cumprir prazos e responsabilidades, conciliar um emprego, cuidar da família, vida doméstica e se sobrar tempo, tomar uma cerveja depois do expediente.

Crises de ansiedade, pânico, depressão, estresse pós-traumático são patologias cada vez mais comuns e características desse século, causado em parte por esse novo modo de se relacionar, sendo consequências do meio em que se vive. Vendo a situação por essa perspectiva, o problema deixa de ser individualizado e passa a ser social, sendo questão de saúde pública.

Fonte: encurtador.com.br/chloC

Um ambiente equilibrado depende do bem-estar físico, mental e social, então o impacto do meio ambiente, muitas vezes subjugado nessa equação, é de suma importância à saúde mental.

Marquês de Sade, um escritor francês disse: “Antes de ser um homem da sociedade, sou-o da natureza”. Como exemplificação dessa frase, a Costa Rica é considerada o povo mais feliz do mundo, visto do ponto de sintonia com a natureza e sustentabilidade, e não sobre progresso econômico.

Apesar de parecer, esse texto não é um incentivo para abandonar a vida urbana e se isolar em alguma caverna, mas para valorizar o meio ambiente e preservá-lo, depois de termos usufruído por tanto tempo, afinal, é de onde viemos, onde estamos e o único lugar onde podemos ir.

Referências

Quem disse. Disponível em: <  https://quemdisse.com.br/frase/antes-ser-um-homem-da-sociedade-sou-o-da-natureza/55428/ >. Acesso em: 4 Ago. 2018.

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