“Meu Filho, Meu Mundo” e o método Son-Rise

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Método mostra que o respeito e amor são fatores importantes para o aprendizado de uma criança.

“Son-Rise: a miracle of love” ou “Meu filho, Meu mundo” é um filme de 1979 que conta a história real de uma família que nos primeiros anos de vida do filho percebe que ele se comporta de maneira diferente das demais crianças. Sempre com um ar ausente, Raun (filho) foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e, assim, os pais buscam por algum tipo de acompanhamento médico. No entanto, os métodos utilizados na época não foram do agrado da família e, dessa forma, eles foram atrás de leituras e desenvolveram seu próprio método a base de amor incondicional.

O método Son-Rise, nome original do filme, foi desenvolvido na década de 1970 nos Estados Unidos, no qual os pais conduzem o programa, auxiliados por outras pessoas que são chamadas de facilitadoras. Assim o adulto deve seguir os interesses da criança sem direcioná-la para nenhuma outra tarefa, aceitando até mesmo os comportamentos estereotipados. Quando a criança apresentar uma abertura é que são propostas novas atividades para que sejam desenvolvidas novas habilidades.

Assim como no filme, para a utilização do método existe a necessidade da adaptação de um quarto, para minimizar distrações, ter controle sobre qualquer mudança e focar na interação com a criança. Os pais de Raun adaptaram um banheiro, no filme, com uma mesa na altura ideal para o tamanho do filho, sem muitos estímulos visuais e sonoros, com os materiais próximos para que possam ser inseridos assim que houver uma abertura.

Fonte: encurtador.com.br/bdpJN

Quanto ao tempo que se dedica a criança, o Autism Treatment Center of America (ATCA) recomenda acima de 20 horas semanais, enquanto outros profissionais indicam 30 minutos diários e ir aumentando gradativamente, conforme a necessidade da criança. De acordo com Williams e Wishart (2003, apud SCHMIDT et al., 2015, p. 416-417), na maioria dos casos, os pais acabam indo além do tempo indicado, gerando o esgotamento de ambos os lados.

Os pais de Raun, no decorrer do filme, deixam esse esgotamento bem evidente, incluindo até Nancy (babá), que os auxilia em casa, nos treinamentos e inserida, posteriormente, nas atividades com o filho. E, nesse ritmo de trabalho, aos poucos os resultados foram chegando, como expressões novas e interações maiores com os pais. Assim, esse método mostra que o respeito e amor são fatores importantes para o aprendizado de uma criança e, também, que essa relação dos pais como professores/terapeutas do filho, potencializa os resultados.

Nesse sentido, uma formação adequada dos pais e de quem os auxiliará é determinante, pois, existe uma estrutura a ser seguida e adaptada a cada criança, onde as características mudam e com elas a necessidade de modificar o estimulo para que seja eficaz a intervenção. Obter informações sobre estudos do método auxiliam também para que esse tempo investido não seja desperdiçado.

Fonte: encurtador.com.br/npVZ5

O programa visa que a criança melhore sua forma de se relacionar com os outros por meio da forma como se relaciona com os pais. Permitir que ela faça suas escolhas e se expresse da sua maneira e assim resolva os problemas que surgirem. E como os pais são o centro do processo, a forma como se portam diante das situações com o filho é de grande importância, pois, são como espelho para a criança.

Portanto, a intervenção precoce, acreditar na mudança e não mostrar desânimo diante do diagnóstico, são os primeiros passos para se iniciar o programa Son-Rise, que é baseado na aceitação e amor incondicional à forma da criança se apresentar ao mundo.

FICHA TÉCNICA:

MEU FILHO, MEU MUNDO

Título original: Son-Rise: A miracle of love
Direção: Glenn Jordan
Elenco: James Farentino, Kathryn Harrold, Casey Adams, Stephen Elliott;
Ano: 1979
País: EUA
Gênero: Drama

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Meu amigo Totoro e a importância da fantasia na infância

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A fantasia tem um papel fundamental para a criança.

O longa conta a história de Mei e sua irmã Satsuki, que se mudam do campo para a cidade a fim de ficarem mais próximas de sua mãe que está internada em um hospital. Elas acabam conhecendo vários espíritos da floresta, dentre eles Totoro, que só podem ser vistas por algumas crianças. O estúdio Ghibli é responsável por essa e várias outras obras maravilhosas, que tratam de temas da realidade utilizando-se da fantasia.

Texto contém spoilers!!!

O filme mostra o processo de adaptação e de exploração do novo ambiente de moradia, em apresenta diversas criaturas sobrenaturais do folclore japonês e, dentre eles, a criatura Totoro. Mei, a irmã mais nova, é a primeira a interagir com Totoro enquanto explorava o quintal de sua nova casa.

Winnicott (1975) fala sobre a importância do brincar na infância como o início da construção da subjetividade da criança, assim o ambiente tem importância para que a criança passe pela experiência de que existe uma realidade externa similar a que ela fantasia. Mei, enquanto brinca no quintal, explorava por todos os cantos enquanto brincava, e outro fato importante é o da presença do seu pai que a observava deixando que ela exercesse suas fantasias.

Existe uma senhora que aparece no início do filme e fala que as criaturas que vivem por ali, ela viu quando era criança e um menino que durante a história, parece não ter contato com essas criaturas. Mostrando assim que elas não aparecem ou fazem parte do cenário de todas as pessoas. Quero chegar à ideia de que as criaturas fazem parte da fantasia e tem um papel em auxiliar no momento em que estão passando, desde a mudança de casa até o encontro com a mãe internada no hospital.

Em determinado momento do filme a irmã mais velha (Satsuki) tem seu primeiro contato com Totoro, que até então era apenas visto pela Mei, enquanto esperava seu pai que viria de ônibus do trabalho e não havia levado o guarda chuva. Era um momento que ela estava sozinha, cuidando da irmã que estava dormindo e preocupada com seu pai, necessitando assim de algo ou alguém que pudesse funcionar como suporte.

Fonte: encurtador.com.br/zBKP7

Dessa forma, a fantasia tem um papel fundamental para a criança. Winnicott (1975) aponta que a configuração do mundo interno subjetivo é produto direto da criatividade. Então em diversos momentos de angústia, incerteza e a falta de uma pessoa que a criança possa recorrer, ela acaba por fantasiar para amenizar ou sanar tais sentimentos. Piaget (1968) discorre que quando a criança brinca, ela reproduz sua vida, tentando corrigir os conflitos e reviver os prazeres, completando através da ficção.

As duas irmãs acabam se desentendendo quando precisam avisar ao pai que o hospital entrou em contato, pois a mãe que deveria voltar para casa acabou piorando o quadro da doença. O pai é avisado e nisso Satsuki é auxiliada pelo Totoro a encontrar a Mei que estava perdida, e ganham uma carona para o hospital em um gato-ônibus.

Fonte: encurtador.com.br/mrHOX

Prado (1991) afirma que as atividades lúdicas são formas em que as crianças se apropriam da realidade enquanto recriam usando a fantasia e acabam alcançando um melhor desenvolvimento físico e metal.

Dessa forma, a fantasia é uma maneira saudável e importante do desenvolvimento infantil e acaba refletindo em todas as fases da vida.

Ficha técnica

 

Título original: Tonari no Totoro

Direção: Hayao Miyazaki

Ano: 1988

País de origem: Japão

Referências

PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1968.

PRADO, M. M. R. Des-cobrindo o lúdico. In: Revista de Terapia Ocupacional USP. São Paulo, v. 2, n. 4, 1991.

WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1975.

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“Perdi meu corpo” e a angústia de separação

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A angústia que sentimos diante de uma separação, na verdade vem desde o nascimento, é a primeira experiência de perda do objeto amoroso

O longa francês, Perdi meu corpo (J’ai Perdu Mon Corps) conta a história de uma mão decepada que escapa de um laboratório de dissecação.  Com a fuga ela foca em um só objetivo: retornar para o restante de seu corpo e voltar a fazer parte de um organismo completo. Enquanto ela vaga pelos arredores de Paris, se lembra dos tempos de quando era apenas uma jovem mão no corpo de um apaixonado rapaz.

Texto contém spoilers!!

Logo no início do longa podemos ver uma mão ganhando vida, despertando em um laboratório onde aprende a andar com os dedos e como se de imediato, soubesse o que fazer, iniciando sua busca pelo restante do seu corpo. Aos poucos durante seu trajeto ela vai revendo memórias de quando seu dono era criança. Uma sensação de saudosismo de uma época em que fazia parte de um corpo, um ser completo.

O longa se passa em três linhas do tempo, uma em que a mão está, outra antes do acidente e as lembranças do Naoufel da sua infância.

Naoufel, o dono da mão que até então não foi separada de seu corpo, aparenta ser um jovem preso ao passado, onde seus pais ainda estavam vivos. Ele guarda diversas fitas em que gravava variados tipos de sons, desde sua mãe cantando até o som do vento na grama. Por mais que ele não tenha mais gravado sons após a morte de seus pais, Naoufel nunca se desfez das fitas e parece que as ouve com frequência. Parece pairar uma sombra de culpa, pois quando ele ouve a última fita, mostra momentos antes do acidente em que Naoufel quase cai da janela do carro ao tentar gravar o som do vento do lado de fora e nisso o pai é quem o segura. Nesse momento de distração o acidente ocorre.

Dessa forma, o personagem parece ficar preso nesse passado até que conhece a Gabrielle. Parece que a partir disso, algo se movimenta dentro dele, essa energia que provém das pulsões ou instintos e que afeta nosso comportamento e que Freud (1978) define como libido, passa a ser investido para esse novo objeto amoroso que passa a ser uma obsessão. Ele acaba assim, fazendo várias coisas para se aproximar dela.

A mão, dessa forma, pode ser uma representação desse sentimento de angústia que ele sente. Freud (1926) aponta que essa angústia que sentimos diante de uma separação, na verdade vem desde o nascimento, é a primeira experiência de perda do objeto amoroso. Assim, quando entendemos as linhas do tempo, fica claro que a partir do momento em que ele perde a mão, começa sua jornada para seguir em frente.

Da mesma forma sua relação com Gabrielle é essa tentativa de voltar ao estado de simbiose com um objeto amoroso, porém se frustra e acaba em uma briga na festa do amigo. Freud (1926) afirma que existem defesas com o intuito de evitar novas situações traumáticas. Portanto temos de um lado a busca pela fusão com um novo objeto amoroso e do outro uma busca por algo que o fizesse seguir em frente, que no caso seria ressiginificar essas lembranças que o faziam de refém dessa angústia.

FICHA TÉCNICA:

PERDI MEU CORPO

Título original: J’ai Perdu Mon Corps
Direção: Jérémy Clapin
Elenco: Dev Patel (Naoufel), Victoire Du Bois (Gabrielle), Patrick d’Assumção (Gigi);
Ano: 2019
País: França
Gênero: Animação, drama;

REFERÊNCIAS:

FREUD, S. Inibições, sintoma e Ansiedade (1926). In:______. Um estudo auto-biográfico inibições, sintomas e ansiedade a questão da análise leiga e outros trabalhos. Rio de Janeiro: Imago, 1976.

FREUD, S. A Teoria da Libido. In: The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud, v. XVIII. Londres: The Hogarth Press e Institute of Psycho-Analysis, reimpresso em 1978.

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1917 – A jornada de um guerreiro

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Concorre com 10 indicações ao OSCAR:

Melhor filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro original, Melhor Fotografia, Melhor Trilha sonora original, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Direção de arte, Melhor Mixagem de Som, Melhor Edição de som, Melhor Maquiagem e Penteado

O guerreiro é aquele que sabe quando precisa recuar e em momentos críticos consegue contornar a situação, sempre de olho em como atingir seu objetivo.

O longa acompanha dois jovens soldados britânicos, Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman), em uma missão com grande risco de morte. Eles são encarregados de entregar aos aliados uma ordem de abortar um ataque contra tropas alemãs, evitando que 1.600 combatentes caiam em uma armadilha. Então eles cruzam o território inimigo para que esse aviso chegue ao destino.

Texto contém spoilers!!

O filme, apesar de ser em um ambiente de guerra, não é sobre a guerra, inclusive a missão faz com que eles precisem evitar qualquer batalha. A imersão que o filme provoca, faz com que percamos o fôlego em diversos momentos. Mesmo quando existe uma calmaria, permanece uma tensão no ar que nos leva a pensar no que ocorrerá a seguir.

Mesmo após a morte de Blake, o seu companheiro Schofield continua sua missão de uma forma quase inabalável. Isso remete ao arquétipo do guerreiro, onde ele nos convida a avançar com sabedoria, assertividade e com passos firmes. E fica bem claro essas características durante o filme, ele reconhece sua energia masculina e feminina, obtendo um equilíbrio entre as duas, onde seu coração é corajoso ao mesmo tempo que expressa alguma amorosidade.

Moore e Gillette (1993) que são estudiosos posteriores a Jung, caracterizam o arquétipo do guerreiro pela clareza de pensamento, precisão, força e habilidade de ficar sempre em alerta. Mas o guerreiro é aquele que sabe quando precisa recuar e em momentos críticos consegue contornar a situação, sempre de olho em como atingir seu objetivo.

Fonte: encurtador.com.br/gpyFI

Possui uma capacidade de suportar a dor e viver na iminência da morte. Encara os desafios sem temer, com responsabilidade, autodisciplina, distanciamento emocional dos problemas e de questões da vida pessoal. Weber (2004) descreve esse tipo de reação como uma ação orientada pelo sentido, ou seja, é uma reação por reflexo, algo inconsciente que é característica desse arquétipo.

O guerreiro também possui uma tropa, que pode ser interpretado como a família, e no filme ele parece ter medo de retornar para sua família. Mas ele carrega consigo uma caixa que contém fotos da sua esposa e ao que parece, duas filhas pequenas. Assim sendo, ele tem sua tropa e é ela que de certa forma impulsiona o guerreiro a avançar em nível físico, mental, emocional e espiritual.

Dentro do arquétipo existem os desafios e no caso do guerreiro, ele deve usar corretamente essa energia focada para se fortalecer, sendo que durante o filme ele parece sempre atento, por exemplo, quando entra no porão de uma casa para se esconder, mas acaba encontrando uma mulher com um bebê e esta pede para que ele fique. Mas ele logo retoma sua missão mesmo em meio a uma cidade cheia de inimigos.

Outro desafio é que ele mantenha uma comunicação de acordo com a sua verdade, e por mais que surjam oportunidades para o mesmo desistir, ele sempre persiste. Quando ele chega ao seu destino final e precisa entregar a ordem ao General Erinmore, ele escolhe bem suas palavras para que esse o ouvisse. Assim, escolher a forma de se comunicar faz parte do guerreiro, para que este consiga cumprir sua missão.

Fonte: encurtador.com.br/kvwIO

Campbell (1997) fala sobre o papel do guerreiro, onde ele é levado a combater forças opressoras, e durante o filme o personagem não luta apenas contra soldados do exército inimigo que surge pelo caminho. Schofield luta contra si mesmo, contra suas próprias limitações e as diversas possibilidades de desistir.

FICHA TÉCNICA:

Resultado de imagem para 1917

1917

Diretor: Sam Mendes
Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Richard Madden, Benedict Cumberbatch;
Gênero: Drama, Guerra
País: EUA
Ano: 2019

REFERÊNCIAS: 

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. – São Paulo: Cultrix/ Pensamento, 1997.

MOORE, Robert; GILLETTE, Douglas. Rei, guerreiro, mago, amante: a redescoberta dos arquétipos do masculino. Rio de Janeiro: Campus, 1993.

WEBER, Max. Economia e Sociedade – Vol. 1. Brasília: UnB, 2004.

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“O farol” e a fragmentação de uma personalidade

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Concorre com 1 indicação ao OSCAR:

Melhor Fotografia

A água é uma representação do inconsciente, dessa forma, no filme os personagens se encontram cercados como se não pudessem escapar.

O filme O farol (The lighthouse) conta uma história de Ephraim, que é levado a uma ilha para substituir o ajudante do faroleiro Thomas, em atividades diárias. Sendo que o acesso ao farol fica vetado a Ephraim e isso acaba despertando nele uma enorme curiosidade. O filme foi indicado ao Oscar na categoria de Melhor Fotografia e carrega em si muitos símbolos e referências à mitologia grega.

O longa é uma linha tênue entre a realidade e a loucura, e fica em aberto para a imaginação de quem assiste. Ambos os personagens dividem o espaço da ilha, onde no início Ephraim é submisso a Thomas em uma tentativa de agradar e/ou conquistá-lo, e acaba desempenhando as funções mais pesadas. Mas com o passar do tempo essa relação se torna uma disputa de poder tendo o farol como objeto de disputa. Este símbolo na visão lacaniana é um objeto fálico, e o psicanalista francês (1999) lembra que na antiga Grécia, o falo não tinha um formato do órgão, mas tinha uma representação de desejo e poder.

No início do filme Ephraim tem uma função semelhante ao do Superego, que conforme Freud (1976) atua como um juiz, um órgão psíquico da repressão, particularmente da repressão sexual. Dessa forma, ele estabelece uma censura nos impulsos que a sociedade e a cultura interpretam como errado, impossibilitando o sujeito de se satisfazer plenamente. Então agindo de tal forma ele segue à risca o código do faroleiro, se nega a dar vazão aos seus desejos reprimidos e acaba em seus devaneios.

Já Thomas pode ser encarado como o ID, que no mesmo texto Freud afirma ter a função de descarregar as tensões biológicas e é regido pelo princípio do prazer. Nesse sentido, Thomas afirma ser o próprio código do faroleiro e que as regras que segue são as suas, dando asas aos seus desejos e pulsões, onde faz um grande consumo de bebida alcoólica e nega o acesso ao farol para o seu novo ajudante.

Além de suprimirem seus passados, os dois personagens parecem fugir o tempo todo de quem são, acabam buscando algum tipo de conforto na relação que estabelecem ali na ilha, porém ocorre o contrário, ambos começam a ter um contato com tudo àquilo que estavam negando. Em uma entrevista no site Huffpostbrasil, o diretor Robert Eggers fala sobre um homoerotismo presente no filme e que fica mais evidente na cena da dança, na qual termina em socos, como se em mais de um momento eles negassem seus desejos.

Fonte: encurtador.com.br/ghmL3

Devido a isso, desde o início o filme apresenta uma relação de dominação em que Thomas se refere a Ephraim como cachorro, mas existe um medo de ambas as partes de chegarem a quem são de verdade. Enquanto Thomas tem o prazer de enlouquecer e parece ser culpado pela morte do antigo ajudante, Ephraim diz que era lenhador e está ali fugindo de um acidente de trabalho que mais parece ter sido um assassinato, tanto que está presente em seus devaneios a presença desse colega.

O filme, por ser em preto e branco, luz e sombra, também é a representação de que nenhum indivíduo é totalmente bom ou ruim. Assim como aponta Jung (2011), a sombra é um problema de origem moral e tomar consciência dessa sombra é reconhecer aspectos obscuros da personalidade. Por isso o personagem de Pattinson fica obcecado em alcançar essa luz do farol, que poderia vir a iluminar seus aspectos sombrios que o acompanham desde o início do filme.

Fonte: encurtador.com.br/mtCD1

A água é uma representação do inconsciente, dessa forma, no filme os personagens se encontram cercados como se não pudessem escapar e acabam imergindo em algo que sai do controle. Assim, as defesas do Ego são rompidas aos poucos diante das provocações de um com o outro. Fora que anteriormente ele sonha que entra na água em meio a toras de madeira enquanto mantém fixo o olhar em um corpo que flutua. E é a partir desse momento, no qual o barco não vem buscá-lo, que ele rompe de vez com a realidade, onde no filme parece ser justificado pela bebedeira incessante com Thomas.

Outro momento intrigante do filme é quando Ephraim revela que seu nome também é Thomas, num jogo de projeções de mal entendidos. Isso ocorre, em certa medida, porque as personas (JUNG, 2011) vão sendo deslocadas, e determinadas atuações, sobretudo de Ephraim, começam a colapsar, numa clara demonstração, no decorrer do filme, de fragmentação da personalidade.

O filme apresenta muitas outras coisas a se analisar, como a cena em que Ephraim mata Thomas com um machado, assim como provavelmente ele pode ter matado seu ex-colega de trabalho. Podemos pensar na ilha e em todos os integrantes, inclusive os pássaros, também como parte de uma personalidade fragmentada. Isto tudo em meio a uma pessoa em busca de uma iluminação acerca de seus medos e incertezas, movimento metafórico quando, no longa, Ephraim abre o farol e é tomado por aquela luz. Uma luz que é sedutora, redentora… mas, também, perturbadora. Como o próprio filme!

FICHA TÉCNICA:

O FAROL

Título Original: The Lighthouse
Direção: Robert Eggers
Elenco: Robert Pattinson, Willem Dafoe e Valeriia Karaman;
Gênero: Drama, Fantasia e Terror
País: EUA
 Ano: 2019

REFERÊNCIAS:

JUNG, C. G. Aion – Estudo sobre o simbolismo do si-mesmo. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

FREUD S. O ego e o id. Rio de Janeiro: Imago; 1976.

JACOBS, Matthew. Decodificando o homoerotismo em ‘O Farol’. 2019. Disponível em: <https://www.huffpostbrasil.com/entry/o-farol_br_5db72026e4b006d49172e589>. Acesso em: 21 jan. 2020.

LACAN J. (1999) O Seminário 5 – As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

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História de um casamento: uma análise psicanalítica

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Concorre com 6 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora Original.

A maturidade de cada sujeito é que determina a capacidade de superação, onde devem separar os conflitos internos dos conflitos externos que foram compartilhados

O filme História de um casamento (Marriage Story) problematiza o fim do relacionamento e o processo de separação de um casal e a briga pela guarda do filho. Podemos ver Adam Driver como Charlie e Scarlett Johansson como Nicole dividindo cenas emocionantes de todo esse processo e o desgaste físico e emocional enfrentado pelo casal no decorrer do filme.

Texto contém SPOILERS!!!

Nicole, apesar de aparecer menos durante o filme, é a personagem que permite mais nos aproximar de sua história. Ela vem de uma família neurótica obsessiva que Freud (1907) define como pessoas que realizam algum tipo de ato obsessivo sem compreender o sentido principal ou mesmo sem perceber o que faz. Isso fica evidente na forma como a mãe é imparcial com suas regras, querendo impor sua visão sobre a filha. As duas filhas não ficam muito atrás, ambas têm dificuldade em mudar a forma como operam no mundo, um exemplo disso é quando Nicole pede a sua irmã que entregue o papel da intimação do divórcio ao Charlie, e elas acabam ensaiando a entrega desses documentos, mas acabam sendo interrompidas pela chegada dele na casa.

Ela diz no filme que se apaixonou por Charlie dois segundos após vê-lo e não deixaria de amá-lo mesmo que não fizesse sentido. Roudinesco (2000) fala que o sujeito contemporâneo busca de uma forma desesperada vencer o vazio sem tirar um tempo para refletir sobre a origem dele. E como no filme mostra que Nicole se sentiu bem inicialmente, mas ela passou a viver pelo Charlie, isso pode ser ligado a um medo de um abandono ou ansiedade de separação, que de acordo com a American Psychiatric Association (APA, 2000) essa ansiedade é algo exclusivo da infância e adolescência. É um estado de regressão em que ocorre uma ansiedade excessiva pelo afastamento de pessoas com quem existe um vínculo, ou alguém que represente essa figura.

A mãe de Nicole relata sobre brigas e a separação do marido, na tentativa de dar alguma dica para a filha, mas esta também parece viver um processo de preencher um vazio, pelo fato de manter amizade com ex-namorado da outra filha Cassie. Lemaire (2005) narra que alguns sujeitos buscam desesperadamente um modelo fusional presente nas primeiras etapas da vida, ou seja, manter-se unida as figuras que ocupam o lugar de cuidadores na nossa infância, para assim evita entrar em contato com o luto do rompimento.

Roudinesco (2000) relata também sobre um indivíduo depressivo, que faz de tudo para fugir do seu inconsciente e se preocupa em retirar de si a essência de qualquer conflito. Charlie se comporta assim em quase todo o filme, ele evita falar sobre a família, onde sabemos que existia violência e álcool. Há um comodismo da parte dele, uma zona de conforto que faz com que ele evite entrar em contato com conteúdos conflitantes. E ele dialoga se defendendo que tudo o que está fazendo é pelo bem do filho, enquanto mal houve o que a criança tem a dizer.

Fonte: encurtador.com.br/gkqIV

Durante o filme fica bem claro essa relação que Charlie tem com o filho, sempre distante, não sabe o que o filho gosta, o que ele quer, tomando decisões precipitadas. Por sua vez a criança apresenta diversas dificuldades, até mesmo a de ir ao banheiro. Mostrando que ele já vem herdando as neuroses familiares e como aponta Corrêa (2000) esses aspectos transgeracionais mostram a importância e o impacto da família na vida dos sujeitos. E de acordo com Granjon (2000) a transmissão psíquica transgeracional é a que apresenta aspectos traumáticos e sintomáticos, onde anteriormente não existiu uma chance de mudança, pois essas situações passadas foram ignoradas pelos pais.

A maioria das cenas em que foca o casal mostra uma distância e um vazio que ambos carregavam em si e o relacionamento aponta que era praticamente uma fonte de escape para isso. A cena em que eles estão conversando no novo apartamento parece ser uma crítica quanto a isso, pois as cores e a complexidade do ambiente são mínimas. O diálogo maior ocorre apenas no final do filme, onde eles saem das sombras de seus advogados e põem para fora tudo o que não colocaram antes, até a tensão do filme parece diminuir após isso.

Fonte: encurtador.com.br/jRUY2

O filme consegue nos levar para a pele do casal, onde quase sentimos como se vivêssemos uma separação. Além de diversas outras críticas, o filme mostra a importância do diálogo claro e aberto dentro do relacionamento. Segundo Cleavely (1994), a maturidade de cada sujeito é que determina a capacidade de superação, onde devem separar os conflitos internos dos conflitos externos que foram compartilhados.

O término de uma relação demanda uma grande energia psíquica, é como um processo de luto, e como tal deve ser enfrentado. Freud (1917) escreveu que o amor é o que faz os vivos se apegarem a vida, que uma pessoa se torna forte ao se sentir amada. Dessa forma, buscar se conhecer faz parte do processo de amar, pois assim deixamos de amar somente na fantasia para amar também no real. Para finalizar, Erich Fromm (1996) aponta que o amor verdadeiro tem por características o cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento, e somente pessoas maduras conseguem, de fato, amar.

FICHA TÉCNICA: 

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HISTÓRIA DE UM CASAMENTO

Título original: Marriage Story
Direção: Noah Baumbach
Elenco: Scarlett Johansson, Adam Driver, Laura Dern, Merritt Wever, Azhy Robertson; 
Ano: 2019
País: EUA
Gênero: Drama

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV-TR) (4a ed). Porto Alegre/RS: Artes Médicas, 2000.

CLEAVELY, E. Relationships: interaction, defences, and transformation. In: Ruszczynski, S. (org.). Psychotherapy with couples: theory and practice at the Tavistock Institute of Marital Studies (pp. 55-69). 2ªed. London: Karnac Books, 1994.

CORREA, O. B. R. (Org.). O legado familiar: a tecelagem grupal da transmissão psíquica. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2000.

FREUD, S. (2006). Atos obsessivos e práticas religiosas. Obras completas, ESB, v. IX. Rio de Janeiro: Imago Editora. (Trabalho original publicado em 1907).

_______. Luto e melancolia. Obras completas. São Paulo: Companhia das Letras, 1917.

FROMM, Erich. A Arte de Amar. Belo Horizonte: Itatiaia, 1996.

GRANJON, E. A elaboração do tempo genealógico no espaço do tratamento da terapia familiar psicanalítica. In: O. B. R. Correa (Org.), Os avatares da transmissão psíquica geracional (pp. 17-43). São Paulo: Escuta, 2000.

LEMAIRE, J.-G. Comment faire avec la passion. Paris: Payot & Rivages, 2005.

ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

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A sombra coletiva: uma reflexão sobre a representação do Coringa

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A sombra humana não é composta apenas de coisas moralmente repreensíveis, ela é também composta por boas qualidades como: instintos normais, reações adequadas, impulsos criadores entre outros.
Jung

Recentemente foi lançado o trailer oficial do filme solo do Coringa. Interpretado por Joaquin Phoenix como Arthur Fleck, o personagem é descrito como louco e com uma inocência macabra. Ele trabalha como palhaço durante o dia e tenta a sorte como comediante de stand-up à noite, mas não se dá muito bem. Assim, o personagem encontra dificuldades na interação com a população de Gotham City, e fica oscilando entre o que é real e a fantasia, seus problemas psicológicos são evidentes, tanto que a psicóloga do filme parece desistir de acompanhar o caso.

O Coringa tem uma personalidade ambivalente, não podendo ser caracterizado nem como negativo nem como positivo, assim ele é designado como anti-herói. Possuindo seu próprio jeito de fazer as coisas, com um aspecto geralmente atraente e/ou sedutor, um tanto ingênuo e sempre representado em forma de palhaço. Essas são características em comum que se faz presente em todos os filmes e animações da DC Universe.

Usando das diversas mitologias pode-se fazer um comparativo entre Coringa e o Trickster, onde ele é representado de diversas formas conforme o costume de cada povo. Geralmente são personagens egoístas e que cobram um preço por sua ajuda, conduzem a aventura de uma forma mais perigosa. Porém o desenvolvimento de quem interage com ele é sempre maior, devido à necessidade de ir além dos seus limites conhecidos para superar essas situações. Outro exemplo no cinema é o pirata Jack Sparrow; em todos os seus filmes, o personagem está sempre no limite do certo e do errado levando seus companheiros para muitos perigos.

Esses personagens representam o tipo de comportamento que em geral as pessoas escondem ou temem demonstrar, deixando apenas na sombra. O termo Sombra ou Arquétipo da Sombra na psicologia analítica, de acordo com Franz (2008), é a representação de qualidades e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos que pertencem à esfera pessoal. Ela se desenvolve naturalmente em todas as pessoas na medida em que o indivíduo identifica e deposita na Sombra características que não são aceitáveis de acordo com a sociedade.

Nesse sentido, o Trickster pode ser considerado uma personificação da Sombra Coletiva, essa que contém tudo o que não é aceitável pela cultura. Essa sombra é o lado obscuro do ideal coletivo. Zweig e Wolf (2000) apontam que as manifestações da Sombra devem ser imaginadas como camadas, uma sobre a outra, na qual a parte pessoal dela se armazena dentro da Sombra familiar, da Sombra cultural e da Sombra coletiva. Então o Coringa/Trickster transita por essa Sombra, de forma que as imposições da sociedade pouco lhe importam.

Fonte: encurtador.com.br/uAGU6

Jung (1986) afirma que a sombra humana não é composta apenas de coisas moralmente repreensíveis, ela é também composta por boas qualidades como: instintos normais, reações adequadas, impulsos criativos entre outros. O arquétipo da sombra é enganosamente associado ao mal, e se faz necessário compreender o sistema complexo que não pode ser reduzido ao nome ou uma figura que o representa.

No filme do Batman – Cavaleiro das trevas, quando o Coringa encontra o promotor Harvey Dent no hospital, existe uma fala marcante, onde ele diz que “é na hora da morte que conhecemos verdadeiramente o caráter das pessoas”. A hora da morte é quando, como ilustrado em histórias, se passa um filme sobre toda nossa vida e com isso podemos ter acesso a partes que antes ignorávamos. Nesse sentido, o Trickster em nosso psiquismo nos impulsiona para uma morte simbólica para que saibamos do que somos feitos.

Dessa forma, o Coringa/Trickster propõe um encontro com a Sombra, e com isso media um processo de conhecimento de si próprio sobre as partes que anteriormente estavam ocultas ou eram negadas. Isso favorece a individuação, que é um processo em que o indivíduo assume sua própria identidade, reconhecendo e aceitando partes de si que inicialmente parecem negativas. Toda esta lógica arquetípica pode ser vista no Coringa. É, portanto, um filme de primeira ordem.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

CORINGA
Diretor:Todd Phillips
Elenco: 
Joaquin Phoenix; Zazie Beetz; Marc Maron;
Gênero: 
Drama; Suspense.
País: EUA
Ano: 2019

REFERÊNCIAS:

FRANZ, Marie-Louise von. O processo de individuação. In: JUNG, Carl Gustav; et al. O homem e seus símbolos. 2 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

JUNG, C.G. Aion – Estudos sobre o simbolismo do Si-mesmo, Petrópolis, RJ, 1986.

ZWEIG, Connie; WOLF, Steve. O jogo das sombras: iluminando o lado escuro da alma. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

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A dependência afetiva nas redes sociais

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Quando se vive em demasia no virtual, as habilidades sociais são perdidas ou não aprendidas e a tolerância e empatia com o diferente acabam não se desenvolvendo.

Pode-se observar claramente uma dependência que fica evidente nas redes sociais, onde usuários buscam que outros façam uma averiguação, avaliação e validação de suas vidas e isso pode demonstrar, em alguns casos, que apenas não estão convencidos do que são virtualmente ou da forma como vivem no real. Essa fragilidade pode ser anterior ao uso da internet e, com esta, apenas eclodiu com o uso das ferramentas de redes sociais que, implicitamente, mostram a insatisfação e a insegurança das pessoas consigo mesmas.

Vê-se todos os dias pessoas fazendo postagens onde exibem algo da sua vida no intuito de buscar uma auto-afirmação: “eu tenho o melhor carro”, “eu tenho amigos importantes”, “eu sou uma pessoa religiosa”, “eu sou uma pessoa linda”. Esse ego exagerado tem a função de compensação que acaba criando uma pessoa com fixação em agradar e ser agradada o tempo todo e que busca nos “likes” uma gratificação e exaltação de que ela aparentemente tenta construir nas postagens.

Dessa forma as redes sociais podem funcionar como um escudo protetor que na verdade nos priva de ter um real contato com a vida, pois podemos ser quem idealizamos ao mesmo tempo que falamos o que queremos, podendo apenas bloquear o perfil daquele que vai contra nosso ego. Bauman (2001) fala que tudo o que era sólido se liquidificou, o que reverberou também nas relações sócio/afetivas, agora regidas a partir de acordos temporários, passageiros, válidos até uma segunda ordem.

Fonte: encurtador.com.br/glnIL

Neste sentido, quando ocorre uma frustração com algo ou alguém, ao invés de ter um diálogo, as pessoas recorrem às redes para despejar palavras na intenção de achar outro que apóie seu discurso que acaba sendo apenas um eco da própria voz – as chamadas bolhas políticas. Então quando se vive em demasia no virtual, as habilidades sociais tendem a ser perdidas ou não aprendidas e a tolerância e empatia com o diferente acaba não se desenvolvendo.

A rede social Instagram retirou a quantidade de “likes” na tentativa de resgatar o que foi proposto no início, que era mostrar momentos da sua vida sem a importância da popularidade. A idéia é que os usuários possam buscar por conteúdos que realmente sejam atrativos e não porque determinado perfil é famoso, se desprendendo desse mundo de números e recompensas.

Na psicanálise existe o conceito de gozo imagético que está relacionado com a imagem que o sujeito constrói de si, e o tipo de prazer que a pessoa sente com isso. Mas quando se fala de gozo, na psicanálise, acaba se remetendo a Lacan que fala que o gozo vai além do prazer, pois a pessoa deseja ser mais especial que todas as outras.

Fonte: encurtador.com.br/stwP3

Portanto, o uso de qualquer rede social deve ser um ponto de reflexão, se estamos usando ou sendo usados a fim de perceber se o prazer que temos ali é real. Se existe espaço para autenticidade e aceitação das diferenças como algo comum e assim preservar a saúde mental. Compreendendo que o virtual não é de todo mal, mas não deve ser substituto das relações fisicamente próximas, pois é com o embate de ideias e com o diferente que se aprende.

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

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Chico Xavier e a Data limite: O que a psicologia diz sobre as profecias?

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A capacidade de profetizar é algo que chama atenção desde os povos antigos até os mais modernos; existem diversos fatores psicológicos que influenciam o fenômeno, de forma inconsciente.

Em 1971 Chico Xavier, em uma entrevista para o programa Pinga Fogo da TV Tupi, afirmou que o dia 20 de julho de 2019 seria uma data limite para a humanidade passar por uma grande mudança. Segundo ele, quando o homem pisou na lua em 20 de julho de 1969, algumas entidades do mundo espiritual se reuniram e deram um prazo de 50 anos para a humanidade, e caso ela não se destruísse em uma terceira guerra mundial, alcançaria uma nova era.

Dessa forma, essa nova era segundo Pozati (um dos autores do livro Data limite – Segundo Chico Xavier) se trata de um processo de transição planetária que nos convoca a uma conexão com novas energias para que possamos descobrir nosso papel nesse mundo. O autor defende a teoria apontando para outras que se cumpriram, como encontrar água na lua.

Assim, esse assunto tem sido comentado na internet nos últimos dias, fazendo com que muitas pessoas começassem a relatar algum tipo de sensação física ou experiência sensorial. A notícia de que seres extraterrestres estariam agora autorizados a vir para Terra e fazer um contato direto, uma recomendação de não ficar acordado na madrugada do último dia 20 e uma comoção de muitos que acreditam fielmente nesse evento, ficaram evidente nas redes sociais, principalmente no Twitter.

Segundo Alvarenga (1996-2006), em seu livro O segredo das profecias, este fenômeno está além da lógica, indo para uma dimensão simbólica que ganha contornos arquetípicos – imagens primordiais – e estão contidos no inconsciente coletivo. Neste sentido, o temor do homem diante do desconhecido faz com que ele busque por alguma previsão que possa amenizar essa angústia. Na Psicologia Analítica, o desconhecido é o que não está na linha do consciente. Então ao se aprofundar no mar de informações guardadas no inconsciente, o ser humano paulatinamente diminui o medo e passa a viver de modo mais autêntico. O medo dos fenômenos naturais – como contato com eventuais civilizações extraterrestres – ocorre predominantemente em estruturas psicológicas ainda em estado de participação mística (estado de indiferenciação entre o eu e o outro, com ressalvas sobre os fenômenos naturais).

Fonte: encurtador.com.br/bvwW6

Jung, após estudar o livro I Ching, escreveu juntamente com o físico Wolfgang Pauli, o livro Sincronicidade: Princípio de Conexão A-Causal, onde procuraram explicar as coincidências em geral, como também os motivos pelos quais o livro I Ching poderia funcionar. De modo geral, sincronicidade foi um conceito desenvolvido pelo autor para se referir a quando uma construção/percepção interna de um indivíduo está de acordo com o fenômeno externo natural que se revela.

Então a capacidade de profetizar é algo que chama atenção desde os povos antigos até os mais modernos, mas que existem também diversos fatores psicológicos que influenciam este processo de forma inconsciente. Os relatos das experiências de usuários na internet é a prova de que existe uma identificação não apenas da pessoa com a profecia, mas também entre as pessoas que acabam por compartilhar sentimentos e sensações parecidas. Em relação aos estados alterados de consciência que Chico Xavier experimentava, a Psicologia Transpessoal vem estudando e contribuindo para uma compreensão maior.

Stanislav Grof (1978), um dos principais autores da Psicologia Transpessoal, fala sobre como esse fenômeno ocorre. Existe um rompimento e expansão da nossa mente sobre os limites do espaço-tempo onde é possível perceber fenômenos que vão além dos conhecidos, podendo vir de vidas passadas, sendo capaz de ocorrer uma identificação ou fusão com outro indivíduo, o que o autor chama de união dual. Assim também podendo ocorrer uma fusão coletiva, como por exemplo, com todas as pessoas de determinada religião ou crença, animais, plantas, planeta e todo o universo.

Fonte: encurtador.com.br/mrDM0

Jung (1978) aponta que a ligação com essa imagem de divindade, através da religião ou de profecias, vem de um contato indireto com o Self, que é o princípio que regula a personalidade e que reflete a potencialidade desse indivíduo, e dessa forma proporciona encontros e sonhos que o levam a encontrar um significado para a vida.

A idéia do texto não é dizer que tal fenômeno é de fator apenas psicológico, mas que existe uma contribuição para que isso se reverbere com tamanha proporção. Assim como em várias crenças, as profecias estão presentes, existindo uma relevância das mesmas na construção do coletivo e da subjetividade, podendo nesse sentido promover saúde mental.

REFERÊNCIAS:

ALVARENGA, Luiz Gonzaga de. O segredo das profecias. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/segredoprofecias.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2019.

GROF, Stanislav. Variedades das experiências transpessoais: observações da psicoterapia com LSD. in. WEILL, Pierre (org.) Experiência cósmica e psicose. vol 5 / IV Pequeno tratado de psicologia transpessoal. Rio de Janeiro, Vozes, 1978.

JUNG, C. G. Psicologia e Religião. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1978.

POZATI, Juliano; CASAGRANDE, Rebeca. Data Limite – Segundo Chico Xavier. Citadel, 2015.

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