Com grande participação nos movimentos estudantis e sociais que envolvem a Saúde Mental, Dann Toledo fala sobre sua experiência como estudante e militante dos temas da Psicologia, e também do Blog que mantém com a colaboração de estudantes de todo o Brasil, o “Psicoquê? Ajudando a Construir a Psicologia”.
Foto: Arquivo Pessoal
Dann Toledo, idealizador e editor chefe do Blog Psicoquê? Ajudando a Construir a Psicologia. Acadêmico (Concluinte) de Psicologia da Faculdade da Amazônia (FAMA) de Vilhena – RO. Representante do Conselho Nacional dos Estudantes de Psicologia (CONEP) no Estado de Rondônia, e do Coletivo Organizador do Encontro Regional de Estudantes de Psicologia (COEREP) das Regiões Norte e Nordeste.
(En)Cena – O que lhe atraiu para o curso de psicologia?
Dann Toledo – Quando criança, assim como várias pessoas, eu queria ser pediatra. No ensino médio graças a um professor de química que eu tinha, eu coloquei na cabeça que seria biólogo. Queria ser como aquele cara, as aulas dele eram incríveis. Mas, aqui em Vilhena, não tem Biologia e dos cursos que eram oferecidos aqui, Psicologia me parecia o melhor. Isso que eu tinha somente aquela visão pseudo psicanalista do que é Psicologia. Ao longo desses anos meu caso com ela, foi e tem sido repleto de idas e vindas. Paixões e decepções.
(En)Cena – Como graduando concluinte, você acha que ao final do curso, a academia forma profissionais preparados para exercer a profissão?
Dann Toledo – Um profissional não é forjado somente num banco universitário, pois somos um constructo de um todo e do meio no qual estamos inseridos. O psicólogo é formado levando em conta todo o seu meio e as influências que ele sofre. Somente a faculdade não preparará o profissional. Em qualquer curso, ainda mais em psicologia, somos muito mais do que o que aprendemos, e somos formados por tudo isso. Se eu sair do curso somente com minha bagagem universitária eu não estarei preparado para atuar profissionalmente, pois serei somente teórico, e a psicologia é muito mais do que apenas teoria.
(En)Cena – Qual a importância do envolvimento de acadêmicos nas discussões sobre Saúde Mental?
Dann Toledo – Em 2010 fui delegado regional na Conferencia estadual de saúde mental que teve em Porto Velho e fui suplente para a nacional. Lá pude ficar mais por dentro da realidade dos CAPS e da saúde mental. Resultado: Me apaixonei. Creio que seja de suma importância que venhamos a conhecer mais sobre essa realidade, sobre como tratar o louco, sobre o que é ser louco e sobre como ser louco é normal e lindo. Saúde mental, assim, como outras políticas públicas devem fazer parte do cotidiano de qualquer estudante de psicologia.
(En)Cena – O que você acha que falta no acadêmico de Psicologia hoje em dia?
Dann Toledo – Acredito que falta vivência, falta conhecimento de movimentos sociais, falta compromisso social, compromisso estudantil, lutas sociais. A universidade não nos ensina isso, não nos ensina a sermos militantes, coisa que todos nós deveríamos ser.
(En)Cena – O Blog Psicoquê nasceu como?
Dann Toledo – Eu estava na biblioteca da faculdade durante uma aula vaga e vi um cartaz com o link de um blog de serviço social que tinha sido criado por um aluno. Entrei no blog e achei interessante a ideia. Resolvi criar um de psicologia. Sem muita pretensão. Era pra ser algo interno, para o pessoal da faculdade mesmo. Com textos produzidos por nós mesmos e nó máximo algo sobre a psicologia em Rondônia. Porém, graças ao desinteresse do restante dos estudantes da faculdade, eu convidei alguns colegas de outros estados que faziam parte da COEREP para que pudessem escrever.
Então o blog começou a ter mais visibilidade e graças à página no Facebook e a equipe maravilhosa (vou “puxar o saco” para que continuem conosco), hoje ele conta com cerca de 2000 visualizações diárias. O Blog completou um ano em junho e hoje conta com cerca de 15 colunas, e com algumas outras que estrearão em breve. A ideia do blog sempre foi popularizar a psicologia, e pra isso procuramos não nos prender a uma única linha. Temos colunas sobre Comportamental, Humanista, Social, Psicanálise, Gestalt, Saúde Mental, Comunitária, Logoterapia entre outras.
(En)Cena – Como você percebe o cenário de Saúde Mental em Vilhena – RO, como são os serviços e como os profissionais atuam?
Dann Toledo – Minha experiência no CAPS daqui foi pequena, o CAPS daqui ainda é pequeno, mas, faz um excelente atendimento. Eu atendi uma paciente por quatro meses. Ela tinha depressão, síndrome do pânico com agorafobia. Estava encostada pelo INSS porque não tinha como trabalhar, mas queria porque queria voltar a trabalhar.
Foram quatro meses para trabalharmos questões como o fato de que ela dava os medicamentos dela pros outros. Quando o filho ficava triste, por exemplo, ela automedicava ele com Ritalina. Levou um tempo para ela entender que se desse pra alguém ela ficaria sem e seria prejudicada.
Bem, quatro meses depois ela chegou na terapia dizendo que tinha conseguido fazer pão e ido vender na feira, coisa que ela não fazia a muito tempo, e também foi sozinha, até a terapia. O filho tinha que trazê-la porque ela não conseguia sair nem na frente de casa sozinha, mas então conseguiu ir a feira vender pão. Foi gratificante.
(En)Cena – Os encontros de psicologia, hoje, trazem que temas à discussão?
Dann Toledo – No Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia – ENEP (último encontro que fui), as discussões giraram em torno de diversas frentes, dentre elas: Ato médico – tema que vai ser conteúdo de cartilha que vamos lançar; Tivemos grupos de trabalho sobre LGBT, Negros e Negras, Mulheres e Políticas públicas sobre educação.
Fizemos também um ato em favor da educação pública de qualidade. Então, creio que hoje, os temas girem em torno disso. E aquelas discussões essenciais que devem fazer parte de qualquer encontro: Saúde Mental e Luta antimanicomial.
Dann Toledo em atuação no ENEP Foto: Arquivo Pessoal
(En)Cena – Sua trajetória nos conselhos e outros grupos de representação começou quando e porque?
Dann Toledo – A história é um pouco engraçada. Em 2008 o EREP Norte e Nordeste aconteceu em Rondônia. O pessoal da Coerep veio divulgar na minha faculdade o encontro e algumas colegas minhas começaram a se organizar. A priori, eu não cogitei a hipótese de ir, pois eu estava namorando e seria bem em um feriado que eu poderia ficar mais tempo com ela. Porém no dia da viagem, levei um pé na bunda e com o coração partido comprei minha passagem e fui pro meu amado EREP. Lá, fui mordido pelo bichinho chamado movimento estudantil e cá estou.
Ato público em favor da educação pública de qualidade JÁ! ENEP
Foto: Arquivo Pessoal
(En)Cena – A atuação como representante no CONEP traz quais responsabilidades?
Dann Toledo – Essa entrada na CONEP é muito recente, mas vejo que as responsabilidades que tenho, não são devido o fato de eu estar fazendo parte da CONEP, mas sim ao fato de eu ser um estudante de psicologia, e um cidadão que tem por direito e dever brigar por nossos direitos. Sendo assim a CONEP trás um respaldo maior, e também um maior cuidado da minha parte, tendo em vista que hoje eu também represento um coletivo muito maior do que eu. Faço parte também da COEREP – Coletivo Organizador do Encontro Regional de Estudantes de Psicologia das Regiões Norte e Nordeste – e recentemente ingressei no Coletivo Barricadas Abrem Caminhos. Creio que isso tudo venha agregar muito a mim e espero poder estar condizendo com tudo isso que me propus.