Você sabia que, em 2019, a final da Copa do Mundo de Futebol Feminino teve mais espectadores do que a final masculina do torneio de 2018? Apesar desse feito impressionante, a cobertura da mídia e o investimento no esporte feminino continuam em patamares muito inferiores. Essa disparidade revela um paradoxo curioso: enquanto as mulheres conquistam visibilidade em competições de alto nível, ainda lutam contra um sistema que insiste em ignorar seus feitos.
Vivemos em uma sociedade que, por muito tempo, relegou as mulheres a um segundo plano, e no âmbito esportivo essa realidade é ainda mais evidente. O esporte masculino sempre teve mais visibilidade, dominando os canais de televisão, as redes sociais e as pautas da mídia. Enquanto isso, o esporte feminino é frequentemente ignorado, limitando o acesso das atletas a reconhecimento e oportunidades. Essa disparidade não é apenas uma questão de falta de atenção, mas um reflexo profundo de preconceitos enraizados na nossa cultura.
Desde a infância, as meninas são frequentemente condicionadas a acreditar que o esporte é uma atividade destinada aos meninos. Na prática, isso significa que as meninas são afastadas de competições e atividades esportivas, sendo vistas apenas como torcedoras. Esse estereótipo prejudicial não apenas diminui a autoestima das jovens atletas, mas também perpetua a ideia de que o esporte é uma forma de validação da masculinidade. Como mencionado em um estudo do Senado, a “cultura da competição e do desempenho esportivo é associada à masculinidade”, contribuindo para a sub-representação das mulheres no esporte (Senado, 2020).
Contudo, as mulheres têm se mostrado resilientes, conquistando espaços de direito no esporte, apesar de todos os desafios. Muitas atletas enfrentam preconceitos não apenas de homens, mas também de outras mulheres, em uma sociedade que frequentemente perpetua a rivalidade entre os gêneros. Como discutido em uma pesquisa da Fiocruz, “a visibilidade do esporte feminino é fundamental para a desconstrução de estereótipos e para a promoção da equidade de gênero” (Fiocruz, 2018). Esse avanço é um passo importante, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Para realmente mudar essa realidade, é fundamental que a mídia e as instituições esportivas se comprometam a dar mais visibilidade ao esporte feminino. Não se trata apenas de uma questão de justiça, mas de reconhecimento do talento e do esforço de mulheres que, dia após dia, superam barreiras para competir em igualdade de condições. A falta de cobertura é um obstáculo que impede muitas atletas de alcançarem seu potencial máximo. Um exemplo disso pode ser observado na diferença de investimentos e patrocínios, que são frequentemente direcionados para eventos masculinos, relegando as competições femininas a um segundo plano (Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, 2014).
Dessa forma, é imprescindível que a sociedade reconheça que o esporte não é uma atividade exclusiva dos homens, mas sim um campo onde todos, independentemente de gênero, podem brilhar. Promover o esporte feminino é um passo fundamental para garantir que meninas e mulheres se sintam encorajadas a praticar esportes, permitindo que elas vejam que têm um lugar na arena esportiva. A mudança começa com uma nova narrativa, uma que celebre as conquistas das mulheres e inspire futuras gerações a lutar por seus espaços.
Em resumo, a falta de holofotes para o esporte feminino não é apenas uma questão de visibilidade, mas de igualdade e respeito. Para que possamos avançar rumo a uma sociedade mais justa, é essencial que reconheçamos e apoiemos as mulheres no esporte, quebrando estereótipos e promovendo um ambiente onde todos possam prosperar. A batalha pela equidade de gênero no esporte ainda está longe de ser vencida, mas cada passo conta.
REFERÊNCIAS
OBSERVATÓRIO BRASIL DA IGUALDADE DE GÊNERO. Revista do Observatório. Brasília: [s.n.], 2014. Disponível em: https://www.gov.br/mulheres/pt-br/acesso-a- informacao/observatorio-brasil-da-igualdade-de-genero/revista-do-observatorio- 1/RevistadoObservatrio2014.pdf#page=54. Acesso em: 15/09/2024.
SALLES-COSTA, Rosana et al. Gênero e prática de atividade física de lazer. Cadernos de Saúde pública, v. 19, n. suppl 2, p. S325-S333, 2003.
SENADO FEDERAL. Mulheres no esporte: pesquisa sobre equidade de gênero. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/materias/pesquisas/mulheres-no- esporte-pesquisa-sobre-equidade-de-genero. Acesso em:16/09/2024.
AUTORES:
Wilana Nunes Paiva
Luiz Gustavo Santana